Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
7 CRAMATICATRANSFORMATIVA Não desceremosa muitospormenoresemnossoexame da gramáticatransformativa.1;:contudoimpossívelcompre- enderasconcepçõesmaisgeraisde Chomskya propósitoda filosofiada linguageme do espírito,a menosquesetenha algumconhecimentodascaracterísticasprincipaisdo sistema dedescriçãogramaticalporelefundadohácercadequinze anose que,desdeessaépoca,vemsofrendodesenvolvimentomaisou menoscontínuo. O primeiropontoa seracentuadoé decarátertermino- lógico.Enquantoumagramáticadeestruturade frasecom- põe-seexclusivamentede regrasde estruturade frase,uma gramáticatransformativa(tal comooriginalmenteconcebido por Chomsky)nãosecompõeapenasde.regrastransforma- tivas. Inclui,também,umconjuntode regrasde estrutura de frase.As regrastransformativasdependemda prévia aplicaçãodasregrasde estruturade frasee têmo efeito não apenasde converterumasucessãode elementosem outra,mastambém,emprincípio,o de alteraro marcador de fraseassociado.São,alémdisso,formalmentemaishete- rogênease maiscomplexasdo que as regrasde estrutura de frase.Daremosalgunsexemplosde regrastransforma- tivas. Serápreciso,entretanto,introduzir,antesdisso,um adequadoconjuntode regrasde estruturade frase. Utilizaremoso queé propostoporChomskyemSyntac- tie Structures(p. 111),com uma ou duasalteraçõesde menorimportância,tal comosegue: 64 (1) Sentença-+NP+VP (2) VP -+verbo+NP SNPsing (3) NP-+t NPpl (4) NPsing-+T+N (5) NPpl-+T+ N + s (6) T-+o, a (7) N -+ ~homem, bola, porta, cão, livro, ...} (8) Verbo-+Aux+V (9) V-+{chutar,tomar,morder,comer,...} (10) Aux-+Tempo(+M) (+ter+ado (ou ido» (+ estar+ ando(ou endo» SPresente (11) Tempo-+t Passado (12) M-+{poder,dever} Observe-seque esse conjuntode regraspermite uma gama de escolhasmaisampla do que as indicadasno ca- pítulo anterior.As frasesnominais,singularese plurais.são explicadaspela regra(3); e um grandenúmerode tempos e modosé introduzido(em vez do puro e simplestempo passadode o homemchutoua bQla) por meiodo elemento Aux e seusubseqüentedesenvolvimento.A regra (10) im- plica que toda sucessãopor ela geradadeve contero ele- mentotempoe po~econter,além disso,uma ou mais das outrassucessõesde elementosentreparênteses.(Elementos comos na regra(5), ado (ido), ando(endo). na regra(10) são antes morfemasdo que palavras. Em verdade, ter, estar,o, a e todosos elementosrelacionadosdo lado direito das regras(7), (9) e (12) tambémpodemser considerados morfemas.Contudo,não é necessárioque nos detenhamos para examinara diferençaque se faz, em teorialingüística, entre uma "palavra"e um "morfema"). Admitindoque as relaçõesque figuramnasregras(7) e (9) sejamconsideravelmenteampliadas,estesistemade regras de estruturade frase geraráextenso(mas finito) número daquiloque poderíamoschamarsucessõessub;acentes.Im- porta cnfatizar que.uma sucessãosubjacentenão é uma 65 J sentença(como,aliás,sedepreendedasregrascitadasacima). As regrastransformativasaindaestãoporseraplicadas.Uma dassucessõesgeradaspelasregrasé: o +homem+Presente+pode+estar+indo+abrir +a +porta(a qual,dadasasregrastransformativasde SyntacticStructures,estánabasetantoda sentençaativao homempodeestarabrindoa porta,comodasentençapassiva correspondente,a portapodeestarsendoabertapelohomem). O leitorpodedesejarverificarqueessasucessãoé realmente geradapelasregras,construindoo marcadorde frasea ela associado. Em SyntacticStructures,Chomskyderivouassentenças passivasde sucessõessubjacentesvalendo-sede umaregra opcionalque pode ser apresentada,semmuitorigor, da maneiraseguinte: Antes de tudo, ilustraremoso que ficou enunciadofa- zendo referênciaa um exemplopuramenteabstrato.Dada a sucessãoa + d -I- e +b + f + c +g +h, geradapor um conjuntode regrasdeestruturade frasequea ela atribui o marcadorde fraseque aparecena figura3 (o leitor pode facilmentereconstruiressasregras),tal sucessãoseconverterá, por meio da regra transformativaB +D+ E-E +B, na sucessãoc +g +h +a +d +e, como marcadorde frase associadoque a figura 4 ilustra. (13) A 11\, D ~. d /\ ,,;fh NP1+Aux+V +NP2~ NP2 +Aux+estar-I- endo +V +por +NP1 Difereessaregra,sobváriosaspectos,dasregrasde estru- turadefrase.Não apenasumelemento,masumasucessão de quatroelementosapareceà esquerdadaseta;a operação queé executadaporforçadaregraassumecarátercomplexo - envolvendoa permutadedoisNP (o queé indicado pelosíndicesinferiores)e a inserçãodoselementosestar, endoe por,emdeterminadospontos. Há, entretanto,umadiferençaaindamais importante entreasregrasdeestruturade frase(1) - (12) e a regra transformativa(13) e tal diferençadiz respeitoà maneira comointerpretamosos símbolosque ocorremnas regras. Numaregradeestruturade frase,umdeterminadosímbolo designaum e somenteumelementoda sucessãoa que a regraseaplica.Contudo,naaplicaçãode umaregratrans- formativa,um determinadosímbolopodereferir-sea uma sucessãode maisde um elemento,contantoque a suces- sãoemcausasejadominadapor (istoé,derivadade- ver página57) tal símbolono marcadorde fraseassociado. Nestesentido,costuma-sedizerqueasregrastransformativas operamsobremarcadoresde frasee nãosimplesmentesobre sucessõesde elementos. FIGURA3 A E/ 11\ : J ,c g h FIGURA 4 66 67 Em palavrasdiferentes,como a sucessãode símbolos terminaisconstituiparte do marcadorde frase, podemos dizer quea regraconverteum marcadorde fraseem outro; e essaé a propriedadecaracterísticadas regrastransforma- th'as. A regra por nós apresentadatem o efeitode afastar tudo quantoé dominadopor D (inclusiveo próprio D) e permutarB e E. matendo-Ihesintacta a estruturaintema. O marcadorde frase referidona figura 3 e o marcadorde fraseque aparecena figura4 podemser chamados,respec- tivamente,subjacentee derivado,com referênciaà trans- formaçãoem causa. (Afirmando que o marcadorde frase derivadotema formaparticularque lhe atribui na figura4. contorneiimportantequestãoteóricaà qual voltareirapida- mentelogo abaixo.) Se olharmosagorapara a sucessãosubjacenteque vem servindode'exemplo(o +homem+Presente+pode + estar+indo +abrir +a +porta) e ao marcador de frase associado(que deixei a cargodo leitor), verificaremosque o +homemé inteiramentedominadoporNP ; Presente+ pode+estar+ indoé dominadopor Aux;V é dominado porV (trata-sedeumcasode"autodomi.nação")e a+porta é dominadopor NP. Significaissoque a regratransformativa (13) é aplicávele, se aplicada(trata-sede uma regraopcio- nal), converteráa sucessãosubjacenteem (13a) como mar- cadorde frase derivadocorrespondente. (13a) a +porta+Presente+pode+estar+endo +abrir +por +o +homem Que é, entretanto,o marcadorde frase derivadocorrespon- dente? A questãoé difícil. Admitido que NP:!transforma-se no sujeito da forma passiva,que estar ~etransformaem parte de Aux, de maneira semelhantea como dele são partesser +endooupode(isso,comoveremos,é necessá- rio para permitir a operaçãode regras subseqüentes)e que por se liga a NP1 para formaruma frase.continuama permanecerobscurosnumerosospontosrelativosà estrutura do marcadorde frase derivado. Dois'possíveismarcadores de frase aparecemnas figuras 5 e 6. Observe-seque tais marcadoresdiferemporqueum tomapor +NP1 comoparte da frase verbal.enquantooutro o trata como constituinte imediatoda sentença.equivalenteemstatus.por assimdizer. a NP:!e VP. (Note-se,ainda.quecoloqueiumainterrogação onde seriacolocadoo rótulo para a fraseentre parênteses por + NPd Sentença NP~VP TAN Verbo~? !. pLa AuAv ~NP A ,L 1/"'1 Presentepodeestarserendo '0 homem FIGURA5 Sentença NP~? TAN vetbo PO~NP ! poLLx~v T/"-N A .L! 1m Presentepodeestarserendo FIGURA6 Abordamosaqui importanteproblemateórico.A suces- sãoderivada.produzidapor umaregratransformativa,pode servir como sucessãosubjacentep;:traoperaçãoda regra transformativasubseqüentee necessitará,em conseqüência, ter a si associadoo apropriadoma.rcadorde frasederivado. 68 69 Chomskye seus seguidoresdedicaram-seao estudo desse problemaetentaramestabelecerum conjunto de conven- çõesde acordocom o qual se definiriaparticularespéciede operaçãoformal(e.g. omissão,permutação,ou substituiçiio) para alcançardeterminadoefeitosobrea topologiado mar- cador de frase que ela transforma;nós observamosessas convençõesaodecidirmosqueo efeitoda regraB +D +E- E + B, operandosobreo marcadorde frasesubjacente mostradopela figura 3 era o marcadorde frase derivado que aparecena figura 4. Tratava-sede exemplo muito simplesdo ponto de vista das operaçõesenvolvidase da forma do marcadorde frase a que elas se aliavam;além disso,tratava-sede exemplopuramenteabstrato,nãoafetado por quaisquerconsideraçõesempíricas. O leitor compre- enderá que a situaçãose altera inteiramentequando vem ao caso formular um conjuntode regras transformativas para descriçãodo inglêsou de algumaoutralíngua natural. Introduziremosagora,e asdiscutiremosbrevemente,duas outras regras transformativas(ligeiramentediferentesem forma das correspondentesregrasque figuram em Syntac- tie Structures,mas sobre elas baseadas.etendo o mesmo efeito geral). A primeira é a "transformaçãonumérica" obrigatória: { 8 / NPsing (14) Presente- 0/ em outroscasos Trata-sede uma regrasensível-ao-contexto,estabelecen- do que o Presentedeveser reescritocomo 5, se e somente se for precedido,na sucessãosubjace~te,por umaseqüência de um ou mais elementosdominadospor NP no mar-SIq cadorde fraseassociado,masque deveser reescritoem todososoutroscontextoscomo"O", "zero"(istoé, indicando a ausênciade um sufixo).Trata-seda regraqueexplicaa "concordância"entreo sujeitoe o verbo,manifestaem sentençastais comoo homemfoi vs . e homemforamou o homemé vs . o hoinemsão. Seaplicadasa (13a), teremos1: (1) At~estepontoos tradutoresprocuraramadaptaros exemplos dadoseminglês,transpondo-osparao portuguêsdemodoa üustrarosenun. 70 I (14a) a+porta+s+pode+estar+sendo+ aber- ta+ por+ o + homem Observe-sequeaquiloquepoderiaserchamadosufixo verbal"abstrato"s é aquiintroduzidonafrentedoelemento a quesubseqüentementese liga (à semelhançade endoe indo,introduzidospelaregradeestruturade frase(10),na frentedoelementoa queposteriormenteseligam).A esses sufixosdenominamos"abstratos"porque,tal comoveremos, assumem,emcontextosdiversos,formasvariadas,inclusive "zero". ciadosdo texto.No casopresente,surgedificuldadeespecialqueprecisa de esclarecimento.SegundoLyons,as regraspermitemgerara seqüência seguinte: the+ man+ Present+ may+bave+ en + open+ the+door queé subjacente(de acordocomasregrasfixadasnaobrade O1omsky) h duassentençasseguintes: The manmaybaveopenedthe door The doormayhavebeenopenedby theman Chomskyderivaas sentençaspassivasmediantea regra(13) que,sem minúciasdesnecessárias,assumea forma: (13) NP1+ Aux+ V + NP..- NP2+ Áux+ be+ en+ V + by+ NP1 Essaregrade transformaçãopodeseraplicadaà seqüênciasubjacentedo exemplo,convertendo-aem: (13a) The+ door+ Present+ may+-bave+ en + be + en+ open+ by + the+ man A regrade"Transformaçãode número"(obrigatória),fixadoem(14), transforma(13a) em: (14a) the+ door+ s + may+ bave+ eo+ be+ eo+ opeo+ by+ the+ man Tem-se,eminglês,umasituaçãosimples,já queapenas"door"vai para o plural(passaa "doors"),permanecendoinvariáveisasdemaispalavras. Compare-se,comisso,a situaçãomaiscomplexado português: i) The doormaybavebeenopenedby the man ü) The doorsmayhavebeenopenedby the man emcontrastecom: i') a portapodeestarsendoabertapelohomem ii') as portaspodemestarsendoabertaspelohomem Para evitarcomplicadasnotações,os tradutorespreferirammanter(14a) emsuaformasimples(correspondenteaoinglês),comosedefatoapenas "porta"fosseafetada(como 's' - plural.Maso leitorM deconsiderar as sentençasà luz da advenênciaaqui feita (NT). 71 A regrapela qualessessufixos"abstratos"sãocolocados após os radicais apropriados(a "transformaçãoauxiliar"), pode, em inglês,ser apresentadodestaforma: VTase modernasem uma sucessãode fonemas.Tais regras levariama reescrever: (15a) The +door +may+s +have +be +en +open+en +by +the +man may+s comorepresentaçãofonêmicado que é soletrado may; assimcomolevariama reescrever open+en comoo que é soletrado opened; (assimcomobe + s é soletradois, run + en é soletrado run, e assimpor diante). Chegamosdessaforma,como deveríamoschegar,à re- presentaçãofonêmicade: The doormayhavebeenopenedby theman Os leitoresque não estavampreviamentefamiliarizados com o sistemade gramáticatransformativade Chomskypo- demter julgadoenfadonhocaminharatravésdestaderivação, passo a passo, de uma única sentença. Contudo, terão, agora,adquiridocompreensãosuficienteacercada maneira comoa gramáticaé concebidae opera,de modoa poderem apreciara significaçãode alguns dos pontos mais gerais introduzidosnestee em posteriores.capítulos. A estaalturade nossoexameda gramáticatransforma- tiva, serátalvezconvenienteapresentarum diagramapondo em evidênciaa maneiracomo a gramáticaesboçadaem SyntacticStructuresse organizou(Ver figura 7). (15) I Tense } 1 M } 1 M ) I Tense I ~n + have ~ have + ~m mg be be mg V V Diz essaregraque qualquerpar de elementos,o pri- meiro dos quais seja Tense,en e ing, sendoo segundoM, have,be ou V, devemser (obrigatoriamente)permutados, permanecendoinalteradoo restoda sucessão,tantoà direita quantoà esquerda.Se tal regrafor aplicadaa (14a), cuja forma,em inglês,é: (14a) The +door+s +may+have+en +be+ en +open.+by +the +man ela implicaráa permutaçãodes +may(istoé,Tense+ M); deen+ bee deen+ open(en+ V) sucessivamente; da esquerdapara a direita, conduzindoa: Mais umaregratransformativadeveaindaser aplicada, que colocaum símbolode fim-de-palavra(usaremoso es- paço) entre qualquerpar de elementos,dos quais o pri- meiro não seja M, haveou V e o segundodos quais não sejaTense,en ou ing. Aplicadaa (15a), essaregraproduz: (16 a) The door may + s have be + en open + en by the man Tal é a após terem vantes. Finalmente, numa gramáticado tipo esboçado por Chomskyem $yntactic Structures,surge um conjunto de regras"morfofonêmicas"que convertema sucessãode pala- forma que nossasucessãoilustrativaassumiria operado todas as regrastransformativasrele- Componente !deeslrulura deIrase COIJIPonente Iransformalilo Componente mortofonemlco FIGURA 7 Aquilo sobre que a gramáticatrabalhaé o elemento inicial (tal como explicadono capítulo anterior),que gera um conjuntode sucessõessubjacentespor força das regras 72 73 o homemabriu a porta o homemnão abriu a porta o homemabriu a porta? o homemnãoabriu a.porta? a portafoi abertapelo homem a porta não foi abertapelo homem foi a porta abertapelo homem? não foi a portaabertapelo homem? passivoe interrogativo;(viii) teve aplicadasas transforma- çõespassivo,negativoe interrogativo. Dessasoito sentenças,a primeira (uma sentençasim- ples. ativa, declarativa)é definida por Chomsky,em Syn- tadie Struetures,comouma sentençanuclear. Importa su- blinhar (e isso se torna claro a partir do pormenorizado exameque acima fizemosda derivaçãode uma sentença passiva)quesentençasnãonucleares,taiscomo(ii) - (viii) não sãoderivadasde sentençasnucleares,tal como (i), mas de uma sucessãosubjacentecomum. Equivale isso a dizer que não há sentençasgeradas sem a aplicaçãode pelo menosum reduzidonúmerode transformaçõesobrigatórias, incluindoregrasde efeitocomparávelao das regras(14) e (15), acimareferidas. Sentençascompostas,nasquaisduascláusulassãocoor- denadas,(e. g. "O homemabriu a porta e ligou a luz") e sentençascomplexas,em queumadascláusulasestásubor:. dinadaà outra ("o homemque abriu a portaligou a luz"), são geradaspor meio, respectivamente,de transformações conjugadaseengastadas,quetomamcomo"pontodepartida", umpardesucessõessubjacentes(e.g. "a +homem+Pas- sado+abrir+a +porta"e "o +homem+Passado+ ligar +a +luz"), combinando-asde váriasmaneiras. As transformaçõesconjuntase engastadasconstituemaclasse das transformaçõesgeneralizadas,apresentadasem SyntacticStructures;e é a repetidaaplicaçãodessasregras que explicaa existênciade estruturasrecursivascomo(cf. p. 48 do livro de Chomsky): Este é o ... que viveu na casa que João construiu de estruturade frase - primeirapartedo diagramada figura 7. A segundapartecompreendeas regrastransforma- tivas,dasquaissãoopcionaisalgumas,e outrasobrigatórias. Essas regras tomam, como elementosobre que operam, sucessõessubjacentesisoladasou pares de sucessõessubja- centes(voltaremosa esteponto) e, modificandouma após outra essassucessões,bem como os marcadoresde frase a elas associados,geramcomo "resultado"todase apenasas sentençasda língua, representadascomo sucessõesde pa- lavrase morfemas,atribuindoa cada sentençasua estrutura constitutivaderivada. A terceiraparte das regrasconvertecada qual dessas sentençasde sua representaçãosintática,de sucessãode palavrase modernas,em representaçãofonológica,em su- cessãode fonemas(e dessamaneirarelacionaos dois níveis de'análisea que aludimosno capítulo1, falandode "duali- dade" de estrutura). De acordo com esse modelo de gramáticagerativa, diferentestipos de sentençassimples são explicadospor meio de regras transformativasopcionais. Relacionam-se, por exemplo,entre si, as seguintessentençasno sentidode que derivamda mesmasucessãosubjacente: (i) (ii) (iii) (iv) (v) (vi) (vii) (viii) ou Uma caixa de madeira... grande,preta, de 3 m. de comprimento.Diferem tais sentençasporque: (i) não teve qualquer transformaçãoopcionalaplicadaà sucessãosubjacente;(ii) teveaplicadaa transformaçãonegativo;(iii) teve aplicada a transformaçãointerrogativo;(iv) teve aplicadasas trans- formaçõesnegativo e interrogativo;(v) teve aplicada a transformaçãopassivo;(vi) teveaplicadasas transformações passivoe negativo;(vü) teve aplicadasas transformações 74 Todasastransformaçõesgeneralizadassão,naturalmente, opcionais. Isso é o que se podedizer,à maneirade sumáriogeral. da primeiraversãoda gramáticatransformativaapresentada 75 porChomskyemSyntacticStructures.Sustentouelequeuma dasvantagensdetal sistema,o terceiroe maispoderosode seus"modelosparaa descriçãoda linguagem",é a de que explicamelhorque.agramáticadeestruturadefrase,certos tiposde ambigüidadeestrutural. Umasentençacomo: "Fazerexamespodeserdifícil1 é ambígua:submeter-sea examesou prepararexames.De acordocomambasasinterpretações,nãoobstante,a análise imediataseria,presumivelmenteesta: (((fazer)(exames))« (pode) (ser)) (difícil))) Trata-sede um tipo de ambigüidadeestruturaldiferente daquelequesemanifestanumafrasecomo"Velhoshomens e mulheres",examinadano capítuloanterior.Seriapossível gerarumasentençacomo: Fazerexamespodeserdifícil nocontextoe umagramáticadeestruturadefrasee atribuir- -lhe dois diferentesmarcadoresde frase- diferentes com I"espeitoaosrótulos"associadosao nó que domina"fazer". Isso,contudo,nãocorresponderiaa umaexplicaçãointuiti- vamentesatisfatóriada ambigüidade.Deixariaderelacionar a frase"Fazerexames",de umlado,a "submeter-sea exa- mes",e de outro lado, a "prepararexames".A análise transformativaexplicaa ambigüidade,relacionandoduassu- cessõessubjacentes(digamos"exame+s +submeter"e "alguém+preparar+exame+s") à" mesmasucessão derivada.2 " Poderiamserdadosmuitosoutrosexemplosdesentenças estruturalmenteambíguas,suscetíveisdeseveremexplicadas adequadamenteemtermosdegramáticatransformativa: Desaprovosuamaneirade vestir (quepodeser interpretadacomo"Desaprovoa roupaque usa"oucomo"Desaprovoa maneiracomousaa roupaque veste".1 " Essa explicaçãotransformativade ambigüidadeestru- tural dependeda aplicaçãode'regrasopcionais;e está de acordocomo princípiomaisgeral (que podeserconsiderado comoaxiomáticono estudode qualquersistemade comu- nicação) segundoo qual significadoimplica escolha. Esse princípio, importa observar,estabeleceque a possibilidade de selecionaruma alternativae não outra é condiçãoneces- sária mas não .roficientepara expressãode uma diferença de significado.A aplicaçãomaisóbviadesseprincípioocorre quandouma palavra e não outra é selecionadadentre um conjuntode vocábulosque podemocorrerem determinada posição("o homemabriu a janela" vs "o homemabriu a porta"). Estamosagorapreocupadoscom a "escolha"de um conjuntodiferentede regras(ou com uma diferençana ordemem que seja aplicadoo mesmoconjuntode regras) paraa geraçãode duasou maissentençasa partirda mesma sucessãosubjacente.Disseeu que "escolha",nestesentido, nãoé condiçãosuficientepara produzirdiferençade signifi- cado entre as sentençasresultantes.Exemplificando,"João se fez de rogado"e "João fez-sede rogado" diferem(se- gundoSyntacticStructures)pelo fato de umatransformação opcionaladicionalter sido aplicadana geraçãoda primeira sentença.As duas sentençasnão diferem,contudo,em sig- nificado;e a regra transformativaem pauta (que tem por efeitoconverter"fez-se"em "se fez") pode ser considerada como estilística.2 (1) No textooriginal,o autorcita um dos famososexemplosde Chomsky: Flyingplaneseanbedangerous Ambigüidade:"to fIy planeseanbe dangerous"ou "planeswhiehare f1yingeanbedangerous".Procurou-sealgosemelhanteemportuguês(NT). (2) Prossegue-sena adaptaçãodo exemplo:eminglêstem-se'plane + . + be + ing + fIy' e 'someone+ fly + plane+ s' (NT). (1) Em inglês.sãodadosos seguintesexemplos:"I don't like eating apples" (".. oapplesfor eating"VI "oo. to eat aQPles"),"I disapprove of his drinking"(" oo. thefactthathedrinks"VI "... thewayin wbich hedrinks"- doChomsky,LanguageandMind,p. 27) (NT). (2) No orijtinal,o exemploé o seguinte:"John lookedtheworáup in thedictionary"e "John lookedup theword in thedictionary",onde: se temo efeitodeconverter"Past + look + up + the + word"em "Past + look + the + word + up", numparticularpontoda deri- vação(NT)o 76 77 Em 1965,na obra Aspectsof the Theory of Syntax, ChomskypropÔsuma teoriamaisamplada gramáticatrans- formativa.que diferia da anteriorsob numerosose impor- tantesaspectos.Tendoemvistaos propósitosque nosguiam, bastarámencionarapenasas diferençasmais gerais entre a gramMicadas SyntacticStructurcse a que poderíamos denominargramática.do tipo-"aspecls".Ainda aqui, o re- cursoa um diagramarevela-se1.'!til(d. figura8). Componente fonológico Nos anosqueseseguiramà publicaçãodeSyntacticStruc- tures,Chomskye seuscolaboradoreschegaramà conclusão de que o significadodas sentençaspoderia e deveria ser submetidoà mesmaespéciede análiseprecisae formal a que sãosubmetidassuasestruturassintáticase que a semân- tica deveriaver-seincluídacomoparte integranteda análise gramaticaldas línguas. A gramáticade uma línguaé atual- mentevista por Chomskycomoum sistemade regrasque relaciol1amo significado(ou significados)de cada sentença gerada pelo sistemaà manifestaçãofísica da sentençano meio sonoro. Tanto em Aspectscomo em SyntacticStructuresé a sintaxedividida em duas partes. Contudo, os dois compo- nentessintáticosoperamde maneiraalgo diversa. Agora, é o componentebásicoda gramática(passívelde ser gros- seiramentecomparadoà partede estruturade frasedo siste- ma anterior) e não maiso componentetransformativoque explicaas opc:-<>essemanticamenterelevantes.inclusivea pos- sibilidadede formaçãode construçõesrecursivas.A diferença entreumasentençadeclarativae uma sentençainterrogativa ou entreuma sentençaativae uma sentençapassivanão é mais df>scrita('m termosde transformaçõcsopcionais.mas em termosde umaescolhnrelativaàs regrasbásicas.Exem- plificando. podC'riahaver uma regra básica revestindoa seguinteforma: Componente semântico FIGURA 8 (2 a) VP - verbo+ NP (+ agencioso)A dif('ft:'n~'amais sensívelentreas duas gramáticas,tal como rt:'prest:'ntadanas figuras7 e 8, é a "parte" adicional de rt:'grasque aparecena gram;ítieado tipo-"aspects"sob o rótulo de "compont:'ntest:'mântico".Em SyntacticStruc- tu.res,sustentava-seque,emboraas consideraçõesde ordem sem;lnlicanãofossemdiretam<,nterelevantesparaadescrição sintática das sentenças,havia "marcadascorrespondências ('ntre as estruturase os elementosque são reveladospela análisegramatical.formal.de um lado.e as específicasfun- çõessemânticasde outro lado" (p. 101.)C que "havendo determinadoa estruturasint<Íti('ada língua,podemospassar a estudara maneiracomocssae5truturasintáticaé postaem uso no efetivo fmlcionamentoda linguagem"(p. 102). i8 e a escolhado elementoagl'nciosodistinguiriaas sucessões subjacentesàs sentençaspassivasdas sucessõessubjacentes às correspondentessentençasativas. Haveria, então, uma regratransformativaobrigatÓria,correspondenteà regra(13), atrásmencionada.operandose.e apenasse a sucessão"de entrada" c6ntivesseo elemf>ntoagf>nciosQ.Essa proposta (que é mais fiel ao espírito da propostade Chomskydó que a seuspormenores)apresentaa vantagemde que, se formularmoscorretamentea regra transformativa.ela nos proporcionaráum rótuloparao nóque domina"por + NP1" nos marcadorcsde frase associadosque se referemàs sen- tençaspassivas(ver a figura6 e textocorrespondente). 79 A3 regrasbásicasgeramum conjuntoindefinidamente amplodemarcadoresdefrasessubjacentes(querepresentam a estruturaprofundade todasas sentençasqueo sistema caracteriza)e estesseconvertememmarcadoresde frases derivados(querepresentama estruturasuperficialdassen- tenças)por forçade regrastransformativas,a maioriadas quais(desconsiderandoasregras"estilísticas")torna-seagora obrigatória.O significadode cadasentençaderivaprinci- palmente,se nãointeiramente,de suaestruturaprofunda, gtaçasa regrasdeinterpretaçãosemântica;e a interpretação fonética de cada sentença- suadescriçãofísica,em termos de "sinal" acústico- deriva de sua estruturasupedicial, por forçade regrasfonológicas. Nãohaveránecessidadededescermosa pormenorestéc- nicosque distinguemumagramáticado tipo-"aspects"do sistemaconceitualmentemaissimplesapresentadoemSyn- tacticStructures.Tudo quantorestaa acrescentara este apanhadodascaracterísticasgeraisda versãomaisrecente de gramáticatransforn1ativaé queasváriasnoçí>esgrama- ticais semanticamenterelevantessão agoradefinidas,de maneiraexplícita,emtermosde relaçõesde estruturapro- fundá. (Isto erameramentesugeridoem SyntacticStrue- tures). Podemosreferir,de maneiraparticular,a distinção entre-sujeito"lógico"(estruturaprofunda)e sujeito"gra- matical"(estruturasupedicial)de umasentença.O sujeito "lógico"é aqueleNP dominadoimediatamentepor 5 (= sentença)na estruturaprofunda;o sujeito"gramatical"é o NP que se situa mais à esquerdae é dominadoimediata- mente pelo 5 que se encontrano topo do diagrama,na estruturasupedicial. Por exemplo,numa sentençacomo: João foi persuadidopor Ari a jogar tênis o sujeitogramaticalé "João" (essaa noçãode sujeitorele- vantepara a exigênciade concordânciaentreo sujeitoe o verbo, em português':João foi persuadidovs eles foram persuadidos,ete.). Contudo,a estruturaprofundadetal sentençaé formada por uma sentença(52) engastadaem outra (51); e cada qual dessassentençastem seu próprio sujeitológico..Pode- mos representara estruturaprofundada sentençareferida. semmaior rigor e omitindotodasas informaçõesnãoessen. ciais, da maneira apresentadapela figura 9. s. /'\ NP VP I 1i Ari VerboII persuadir NP S. I 1\ João NP VP I /\ João Verbo NP I I jogar FIGURA 9 lénis Verificaremosque o sujeito lógico de SI (a sentença matriz) é Ar; c que o de 52 (sentençaengastada)é João. AI~mdisso.o sujC'itode estruturaprofundade S: confun- de-seCOI11o objC'tode estruturaprofundade S, (o NP ime- diatamentedominadopor VP). Tal comoassinalaChomsky. <,ssas.rclaçõ('sde C'struturaprofunda são essenciaispara a corretainterpretaçãosemânticada sentença. 80 81
Compartilhar