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INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS 
Módulo  1  ­  IMPORTÂNCIA  DA  LEITURA  COMO  FONTE  DE  CONHECIMENTO  E 
PARTICIPAÇÃO NA SOCIEDADE 
Caro(a) aluno(a) 
Gostaríamos de dar início ao nosso trabalho, convidando o(a) à leitura de um texto de 
Clarice Lispector. 
FELICIDADE CLANDESTINA 
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. 
Tinha  um  busto  enorme,  enquanto  nós  todas  ainda  éramos  achatadas.  Como  se  não 
bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que 
qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. 
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos 
um  livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão­postal da  loja do pai. Ainda por 
cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que 
vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”. 
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas 
com  barulho.  Como  essa  menina  devia  nos  odiar,  nós  que  éramos  imperdoavelmente 
bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu 
sadismo. Na minha  ânsia  de  ler, eu  nem notava as humilhações a  que ela me submetia: 
continuava a implorar­lhe emprestados os livros que ela não lia. 
IAté  que  veio  para  ela  o  magno  dia  de  começar  a  exercer  sobre  mim  um  tortura 
chinesa.  Como  casualmente,  informou  me  que  possuía  As  reinações  de  Narizinho,  de 
Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, 
comendo­o,  dormindo­o.  E,  completamente  acima  de  minhas  posses.  Disse­me  que  eu 
passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. 
Até o dia  seguinte  eu me  transformei na própria  esperança de alegria: eu não  vivia, 
nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. 
No dia seguinte  fui  à sua  casa,  literalmente  correndo. Ela não morava num sobrado 
como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse­ 
me que havia emprestado o  livro a outra menina, e que eu  voltasse no dia seguinte  para 
buscá­lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e 
eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas 
de Recife. Dessa vez nem caí: guiava­me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias 
seguintes seriam mais  tarde a minha vida  inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei 
pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. 
Mas  não  ficou  simplesmente nisso. O  plano  secreto  da  filha  do  dono da  livraria  era 
tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o 
coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que 
eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do 
“dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E  assim  continuou.  Quanto  tempo?  Não  sei.  Ela  sabia  que  era  tempo  indefinido, 
enquanto o  fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu  já começara a adivinhar que 
ela me  escolhera  para  eu  sofrer,  às  vezes  adivinho. Mas,  adivinhando  mesmo,  às  vezes 
aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. 
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela 
dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que 
o  emprestei  a  outra  menina.  E  eu,  que  não  era  dada  a  olheiras,  sentia  as  olheiras  se 
cavando sob os meus olhos espantados. 
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a 
sua  recusa,  apareceu  sua  mãe.  Ela  devia  estar  estranhando  a  aparição  muda  e  diária 
daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão 
silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A  senhora achava  cada  vez mais 
estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou­se para a 
filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem 
quis ler!
E  o  pior  para  essa  mulher  não  era  a  descoberta  do  que  acontecia.  Devia  ser  a 
descoberta  horrorizada  da  filha  que  tinha.  Ela  nos  espiava  em  silêncio:  a  potência  de 
perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento 
das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: 
você vai emprestar o  livro agora mesmo. E para mim:  “E você fica com o  livro por quanto 
tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é 
tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. 
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. 
Acho  que  eu  não  disse  nada.  Peguei  o  livro.  Não,  não  saí  pulando  como  sempre.  Saí 
andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo­o 
contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito 
estava quente, meu coração pensativo. 
Chegando em casa, não comecei a  ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o 
susto  de  o  ter.  Horas  depois  abri­o,  li  algumas  linhas maravilhosas,  fechei­o  de  novo,  fui 
passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde 
guardara o livro, achava­o, abria­o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades 
para aquela coisa clandestina que era a  felicidade. A  felicidade sempre  ia ser clandestina 
para mim.  Parece que eu  já  pressentia.  Como demorei! Eu  vivia  no ar... Havia  orgulho  e 
pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. 
Às vezes sentava­me na rede, balançando­me com o livro aberto no colo, sem tocá­lo, 
em êxtase puríssimo. 
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante. 
Clarice Lispector. In: “Felicidade Clandestina” ­ Ed. Rocco ­ Rio de Janeiro, 1998 
1.1  IMPORTÂNCIA  DA  LEITURA  COMO  FONTE  DE  CONHECIMENTO  E 
PARTICIPAÇÃO NA SOCIEDADE 
Ler significa aproximar­se de algo que acaba de ganhar existência. 
Ítalo Calvino
O ato de  ler é soberano.  Implica desvendar e conhecer o mundo. É pela  leitura que 
desenvolvemos o processo de atribuir sentido a tudo o que nos rodeia: lemos um olhar, um 
gesto, um sorriso, um mapa, uma obra de arte, as pegadas na areia, as nuvens carregadas 
no  céu,  o  sinal  de  fumaça avistado  ao  longe  e  tantos outros  sinais.  Lemos até mesmo o 
silêncio! 
Nos dias de hoje, a comunicação, mesmo presencial, está mediada por uma infinidade 
de  signos.  Na  era  da  comunicação  interplanetária,  estabelecemos  infinitas  conexões  com 
pessoas  de  todos  os  cantos  do  mundo,  o  que  nos  obriga  a  decodificar  um  universo 
poderoso de mensagens e a nos adaptar a elas: comunidades virtuais do Orkut, conversas 
pelo  MSN,  compras  e  negócios  fechados  pela  rede  e,  se  essa  informação  foi 
dominantemente  verbal  até  então,  agora  se  torna  também  visual  com  a  chegada  do 
YouTube.  Sabemos  o  quanto  a  força  da  imagem  exerce  fascínio  e  entendemos, 
definitivamente,  que não  há mais  como  sobreviver  neste mundo  sem que  haja,  de nossa 
parte,  uma  adaptação  constante  no  que  se  refere  ao  acesso  às  diferentes  linguagens 
disponíveis. 
É fundamental reconhecer que o sentido de todas as coisas nos vem, principalmente, 
por  meio  do  olhar,  da  compreensão  e  interpretação  desses  múltiplos  signos  que 
enxergamos,  desde  os  mais  corriqueiros  –  nomes  de  ruas,  por  exemplo  –  até  os  maiscomplexos – uma poesia  repleta  de metáforas. O  sentido das  coisas nos vem, então, por 
meio  da  leitura,  um  ato  individual  de  construção  de  significado  num  contexto  que  se 
configura mediante a interação autor/texto/leitor. 
A leitura é uma atividade que solicita intensa participação do leitor e exige muito mais 
que  o  simples  conhecimento  lingüístico  compartilhado  pelos  interlocutores:  o  leitor  é, 
necessariamente,  levado  a  mobilizar  uma  série  de  estratégias,  com  a  finalidade  de 
preencher as  lacunas e participar, de forma ativa, da construção do sentido. Dessa forma, 
autor e leitor devem ser vistos como estrategistas na interação pela linguagem para que se 
construa o sentido do texto. É nesse intercâmbio de leituras que se refinam, se reajustam e 
redimensionam hipóteses de significado, ampliando constantemente a nossa compreensão 
dos outros, do mundo e de nós mesmos. 
O exercício  pleno da  cidadania passa necessariamente pela garantia  de acesso aos 
conhecimentos  construídos  e  acumulados  e  às  informações  disponíveis  socialmente.  E  a 
leitura  é  a  chave  dessa  conquista.  Signo:  entidade  lingüística  dotada  de  duas  faces:  o 
significante (imagem acústica) e o significado (conceito). 
Módulo 2 ­ AS DIFERENTES LINGUAGENS 
A  linguagem  é  o  instrumento  com  que  o  homem  pensa  e  sente,  forma  estados  de 
alma,  aspirações,  volições e  ações,  o  instrumento  com  que  influencia  e  é  influenciado,  o 
fundamento último e mais profundo da sociedade humana. 
L. Hjelmslev 
A  linguagem  nasce  da  necessidade  humana  de  comunicação;  nela  e  com  ela,  o 
homem interage com o mundo. Para tratarmos das diferentes linguagens de que dispomos, 
verbais  e  não  verbais,  precisamos,  inicialmente,  pensar  que  elas  existem  para  que 
possamos estabelecer comunicação. Mas o que é, em si, comunicar? 
Se desdobrarmos a palavra comunicação, teremos: 
Comunicação: “ comum”  + “ ação” , ou melhor, “ ação em comum” .
De  modo  geral,  todos  os  significados  encontrados  para  a  palavra  comunicação 
revelam a idéia de relação. Observe: 
Comunicação:  deriva  do  latim  communicare,  cujo  significado  seria  “tornar  comum”, 
“partilhar”, “repartir”, “trocar opiniões”, “estar em relação com”. Podemos assim afirmar que, 
historicamente,  comunicação  implica  em  participação,  interação  entre  dois  ou  mais 
elementos, um emitindo informações, outro recebendo e reagindo. Para que a comunicação 
exista,  então,  é  preciso  que  haja  mais  de  um  pólo:  sem  o  “outro”  não  há  partilha  de 
sentimentos e idéias ou de comandos e respostas. 
Para que a comunicação seja eficiente, é necessário que haja um código comum 
aos interlocutores. 
Tomemos, agora, o conceito apresentado por Bechara (1999:28) para fundamentar o 
conceito de linguagem: 
Entende­se  por  linguagem  qualquer  sistema  de  signos  simbólicos  empregados  na 
intercomunicação social para expressar e comunicar idéias e sentimentos, isto é, conteúdos 
da consciência. 
A linguagem é, então, vista como um espaço em que tanto o sujeito quanto o outro que 
com  ele  interage  são  ativos.  Por  meio  dela,  o  homem  pode  trocar  informações  e  idéias, 
compartilhar  conhecimentos,  expressar  idéias  e  emoções.  Desse  modo,  reconhecemos  a 
linguagem como um instrumento múltiplo e dinâmico, isso porque, considerados os sentidos 
que devem ser expressos e as condições de que dispomos em dada situação, valemo­nos 
de códigos diferentes, criados a partir de elementos como o som, a imagem, a cor, a forma, 
o movimento e tantos outros. 
Vale salientar a idéia de que o processo de significação só acontece verdadeiramente 
quando, ao apropriarmo­nos de um código, por meio dele nos fazemos entender.
2.1 Linguagem verbal e linguagem não verbal 
Chamamos  de  linguagem  a  todo  sistema  de  sinais  convencionais  que  nos  permite 
realizar  atos  de  comunicação. Certamente,  você  já observou que  o  ser  humano utiliza  as 
mais diferentes linguagens: a da música, a da dança, a da pintura, a dos surdos­mudos, a 
dos sinais de trânsito, a da língua que você fala, entre outras. Como vemos, a linguagem é 
produto de práticas sociais de uma determinada cultura que a representa e a modifica, numa 
atividade predominantemente social. 
Considerando  o  sistema  de  sinais  utilizados  na  comunicação  humana,  costumamos 
dividir a linguagem em verbal e não verbal. Assim, temos: 
a. Linguagem verbal: aquela que utiliza as palavras para estabelecer comunicação. A 
língua que você utiliza, por exemplo, é linguagem verbal. 
b. Linguagem não verbal: aquela que utiliza outros sinais que não as palavras para 
estabelecer comunicação. Os sinais utilizados pelos surdos­mudos, por exemplo, constituem 
um tipo de linguagem não verbal. 
2.2 Linguagem formal e informal 
Nossa  língua apresenta uma  imensa possibilidade de variantes  lingüísticas,  tanto na 
linguagem  formal  (padrão) quanto na  linguagem  informal  (coloquial). Elas não são, assim, 
homogêneas. Especialmente no que se  refere ao coloquial, as variações não se esgotam. 
Alguns fatores determinam essa variedade. São eles: 
•  diferenças  regionais:  há  características  fonéticas  próprias  de  cada  região,  um 
sotaque próprio que dá traços distintivos ao falante nativo. Por exemplo, a fala espontânea 
de um caipira difere da fala de um gaúcho em pronúncia e vocabulário; 
• nível social do falante e sua relação com a escrita: um operário, de modo geral, não 
fala da mesma maneira que um médico, por exemplo; 
• diferenças individuais. 
É importante salientar que cada variedade tem seu conjunto de situações específicas 
para seu uso e, de modo geral, não pode ser substituída por outra sem provocar, ao menos, 
estranheza durante a comunicação. O texto de Luis Fernando Veríssimo ilustra uma dessas 
situações inusitadas: 
Aí, Galera 
Jogadores de  futebol podem ser vítimas de  estereotipação. Por  exemplo, você pode 
imaginar um jogador de futebol dizendo “estereotipação”? E, no entanto, por que não? 
­ Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera. 
­ Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes 
ou no recesso dos seus lares. 
­ Como é? 
­ Aí, galera. 
­ Quais são as instruções do técnico?
­  Nosso  treinador  vaticinou  que,  com  um  trabalho  de  contenção  coordenada,  com 
energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de,  recuperado o 
esférico,  concatenarmos  um  contra­golpe  agudo  com  parcimônia  de  meios  e  extrema 
objetividade, valendo­nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido 
pela reversão inesperada do fluxo da ação. 
­ Ahn? 
­ É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça. 
­ Certo. Você quer dizer mais alguma coisa? 
­  Posso  dirigir  uma  mensagem  de  caráter  sentimental,  algo  banal,  talvez  mesmo 
previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas? 
­ Pode. 
­ Uma saudação para a minha progenitora. 
­ Como é? 
­ Alô, mamãe! 
­ Estou vendo que você é um, um... 
­ Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que 
o  atleta  seja  um  ser  algo  primitivo  com  dificuldade  de  expressão  e  assim  sabota  a 
estereotipação? 
­ Estereoquê? 
­ Um chato? 
­ Isso. 
Correio Braziliense, 13/05/1998. 
Podemos  concluir  daí  que  cada  variedade  tem  seus  domínios  próprios  e  que  não 
existe a  variedade  “certa”  ou  “errada”.  Para  cada  situação  comunicativa  existe  a  variante 
“mais”  ou  “menos”  adequada.  É  certo,  no  entanto,  que  é  atribuída  à  variante  padrão  um 
valor  social e  histórico maior do que à  coloquial. Cabe, assim, ao  indivíduo –  competente 
lingüisticamente ­ optar por uma ou outravariante em função da situação comunicativa da 
qual participa no momento. 
Por fim, citando Bechara (1999), a linguagem é sempre um estar no mundo com 
os outros, não como um indivíduo em particular, mas como parte do todo social, de 
uma comunidade. 
Módulo 3 ­ NOÇÕES DE TEXTO: UNIDADE DE SENTIDO 
A palavra “texto” é bastante familiar no âmbito escolar e fora dele, embora, de modo 
geral, não o reconheçamos em diversas de suas ocorrências.
Os estudos mais avançados na área da Lingüística Textual, a partir da década de 60, 
detiveram­se em explicar as características próprias da  linguagem escrita concretizada em 
forma de texto e não em forma de um mero amontoado de palavras e frases. 
Para a Lingüística Textual, a  linguagem é o principal meio de comunicação social do 
ser  humano  e,  portanto,  seu  produto  concreto  –  o  texto  –  também  se  reveste  dessa 
importante característica, já que é por intermédio dele que um emissor transmite algo a um 
receptor, obedecendo a um sistema de signos/regras codificado. O texto constitui­se, assim, 
na unidade lingüística comunicativa básica. 
Inicialmente,  faz­se  necessário  expor  o  conceito  de  “texto”,  por  ser  ele  o  elemento 
fundamental de comunicação. Vejamos o conceito proposto por Bernárdez (1982): 
Texto  é  a  unidade  lingüística  comunicativa  fundamental,  produto  da  atividade  verbal 
humana, que possui sempre caráter social: está caracterizado por seu estrato semântico e 
comunicativo,  assim  como  por  sua  coerência  profunda  e  superficial,  devida  à  intenção 
(comunicativa)  do  falante  de  criar  um  texto  íntegro,  e  à  sua  estruturação  mediante  dois 
conjuntos de regras: as próprias do nível textual e as do sistema da língua”. 
Alguns elementos nos parecem centrais nessa definição. São eles: 
a.  Um texto não é um aglomerado de frases; o significado de suas partes 
resulta das correlações que elas mantêm entre si. Uma leitura não pode basear­se 
em fragmentos isolados do texto. Observe a seqüência: 
Marilene ainda não chegou. Comprei três melancias. O escritório de Sérgio encerrou o 
expediente  por  hoje.  A densa  floresta  era  assustadora.  Ela  colocou mais  sal  no  feijão. O 
vaso partiu­se em pedacinhos. 
Essa seqüência apresenta um amontoado aleatório de frases, já que suas partes não 
se articulam entre si, não  formam um  todo  coerente. Portanto,  tal  seqüência não constitui 
um texto. 
Agora, observe: 
Circuito Fechado 
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, 
creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água  fria, água quente, 
toalha.  Creme  para  cabelo;  pente.  Cueca,  camisa,  abotoaduras,  calça,  meias,  sapatos, 
gravata,  paletó.  Carteira,  níqueis,  documentos,  caneta,  chaves,  lenço,  relógio,  maços  de 
cigarros,  caixa  de  fósforos.  Jornal.  Mesa,  cadeiras,  xícara  e  pires,  prato,  bule,  talheres, 
guardanapos.  Quadros.  Pasta,  carro.  Cigarro,  fósforo. Mesa  e  poltrona,  cadeira,  cinzeiro, 
papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas 
de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro,  fósforo. Bandeja, xícara 
pequena.  Cigarro  e  fósforo.  Papéis,  telefone,  relatórios,  cartas,  notas,  vales,  cheques, 
memorandos,  bilhetes,  telefone,  papéis.  Relógio.  Mesa,  cavalete,  cinzeiros,  cadeiras, 
esboços  de  anúncios,  fotos,  cigarro,  fósforo,  bloco  de  papel,  caneta,  projetos  de  filmes, 
xícara,  cartaz,  lápis,  cigarro,  fósforo,  quadro­negro,  giz,  papel.  Mictório,  pia,  água.  Táxi. 
Mesa,  toalha,  cadeiras,  copos,  pratos,  talheres,  garrafa,  guardanapo,  xícara.  Maço  de 
cigarros,  caixa  de  fósforos.  Escova  de  dentes,  pasta,  água.  Mesa  e  poltrona,  papéis, 
telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de 
anúncio,  caneta  e  papel,  relógio,  papel,  pasta,  cigarro,  fósforo,  papel  e  caneta,  telefone, 
caneta  e  papel,  telefone,  papéis,  folheto,  xícara,  jornal,  cigarro,  fósforo,  papel  e  caneta. 
Carro.  Maço  de  cigarros,  caixa  de  fósforos.  Paletó,  gravata.  Poltrona,  copo,  revista.
Quadros. Mesa, cadeiras, pratos,  talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. 
Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, 
sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. 
(Ricardo Ramos) 
Em  Circuito  Fechado  não  há  apenas  uma  série  de  palavras  soltas;  temos  aqui  um 
texto.  E  por  quê?  Apesar  de  haver  palavras,  aparentemente,  sem  relação  umas  com  as 
outras, é possível  reconhecer, depois de uma  leitura atenta, que há uma articulação entre 
elas.  A  escolha  dos  substantivos  e  a  seqüência  em  que  são  empregados  revelam  um 
significado implícito, algo que une e relaciona essas palavras, formando um texto. Podemos, 
assim, dizer que esse texto se refere a um dia na vida de um homem comum. 
Note  que no  início  do  texto  há  substantivos  relacionados  a  hábitos  rotineiros,  como 
levantar, ir ao banheiro, lavar o rosto, escovar dentes, fazer barba tomar banho, vestir­se e 
tomar café da manhã. 
Chinelos, vaso, descarga. Pia. Sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, 
creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, 
toalha.  Creme  para  cabelo,  pente.  Cueca,  camisa,  abotoaduras,  calça,  meias,  sapatos, 
gravata,  paletó.  Carteira,  níqueis,  documentos,  caneta,  chaves,  lenço,  relógio,  maço  de 
cigarros, caixa de fósforos. 
Já no final do texto há o ritual que denota a volta para casa. Observe: 
Carro.  Maço  de  cigarros,  caixa de  fósforos. Paletó,  gravata.  Poltrona,  copo,  revista. 
Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforos. 
Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, 
sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. 
Descobrimos que a personagem é um homem também pela escolha dos substantivos. 
Parece que sua profissão pode estar relacionada à publicidade e o personagem é, também, 
um fumante, pois, por quatorze vezes, o narrador retoma a seqüência “cigarro, fósforo”. 
Creme de barbear, pincel, espuma, gilete [...] cueca, ca misa, abotoadura, calça, meia, 
sapatos,  gravata,  paletó  [...] Mesa e  poltrona,  cadeira,  cinzeiro,  papéis,  telefone,  agenda, 
copo com lápis, canetas, blocos de notas, es pátula, pastas, caixas de entrada, de saída [...] 
Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, me morandos, bilhetes [...] Mesa, 
cavalete, cinzeiros, cadei ras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, 
caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro­negro, giz, papel. 
Enfim, o texto Circuito Fechado é uma crônica ­ um texto narrativo curto ­, cujo tema é 
o  cotidiano  e  leva  o  leitor  a  refletir  sobre  a  vida.  Usando  somente  substantivos,  o  autor 
produziu  um  texto que  termina onde  começou. Essa estrutura  circular  tem  relação  com o 
título e com a rotina que aprisiona o homem nos dias atuais. 
b.  O  texto  tem coerência de sentido e o sentido de qualquer passagem 
de um texto é dado pelo contexto. Se não levarmos em conta as relações entre as 
partes  do  texto,  corremos  o  risco  de  atribuir  a  ele  um  sentido  oposto  àquele  que 
efetivamente tem. 
c.  Todo  texto  tem  um  caráter histórico,  não no  sentido  de  narrar  fatos 
históricos, mas no  de  revelar as  concepções e a  cultura de um grupo  social  numa 
determinada época.
http://www.propagandasantigas.blogger.com.br/ (acesso em 05/01/2007) 
Módulo 4 TEXTOS ORAIS E TEXTOSESCRITOS 
A  interação  pela  linguagem  materializa­se  por  meio  de  textos,  sejam  eles  orais  ou 
escritos. É  relevante,  no  entanto,  reconhecer que  fala  e escrita  são duas modalidades de 
uso  da  língua  que,  embora  se  utilizem  do  mesmo  sistema  lingüístico,  possuem 
características próprias. As duas não têm as mesmas formas, a mesma gramática, nem os 
mesmos  recursos  expressivos.  Para  a  compreensão  dos  problemas  da  expressão  e  da 
comunicação verbais, é necessário evidenciar essa distinção. 
Para dar início às suas reflexões, leia o texto de Millôr Fernandes, a seguir. 
A vaguidão específica 
“As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago específica.”
Richard Gehman 
­ Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte. 
­ Junto com as outras? 
­ Não ponha  junto  com as outras,  não. Senão pode vir  alguém e querer  fazer  coisa 
com elas. Ponha no lugar do outro dia. 
­ Sim senhora. Olha, o homem está aí. 
­ Aquele de quando choveu? 
­ Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo. 
­ Que é que você disse a ele? 
­ Eu disse pra ele continuar. 
­ Ele já começou? 
­ Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse. 
­ É bom? 
­ Mais ou menos. O outro parece mais capaz. 
­ Você trouxe tudo pra cima? 
­ Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou 
para deixar até a véspera. 
­ Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor, senão atravanca 
a entrada e ele reclama como na outra noite. 
­ Está bem, vou ver como. 
FERNANDES, Millôr. Trinta anos de mim mesmo. São Paulo, Círculo do Livro, 1976, 
p.77. 
No texto, o autor revela ironia ao atribuir às mulheres o falar de modo vago e por meio 
de elipses. No entanto,  tais características  são próprias  do  texto oral,  em que a  interação 
face­a­face permite que os interlocutores, situados no mesmo tempo e espaço, preencham 
as  lacunas  ali  existentes,  já  que  ambos,  ancorados  em  dados  do  contexto  e  no 
conhecimento partilhado que possuem, são capazes de compreender e produzir sentido ao 
que se diz. 
Em nossa sociedade, fundamentalmente oral, convivemos muito mais com textos orais 
do que com textos escritos. Todos os povos, indistintamente,  têm ou tiveram uma tradição 
oral e relativamente poucos tiveram ou têm uma tradição escrita. No entanto, isso não torna 
a  oralidade  mais  importante  que  a  escrita.  Mesmo  que  a  oralidade  tenha  uma  primazia 
cronológica sobre a escrita, esta, por sua vez, adquire um valor social superior à oralidade.
A escrita não pode ser  tida como  representação da fala. Em parte, porque a escrita 
não  consegue  reproduzir  muitos  dos  fenômenos  da  oralidade,  tais  como  a  prosódia,  a 
gestualidade,  os  movimentos  do  corpo  e  dos  olhos,  entre  outros.  Ela  apresenta,  ainda, 
elementos significativos próprios, ausentes na fala, tais como o tamanho e o tipo de letras, 
cores  e  formatos,  sinais  de  pontuação  e  elementos pictóricos,  que  operam  como  gestos, 
mímica e prosódia graficamente representados. 
Observe  a  transcrição  de  um  texto  falado,  retirado  de  uma  aula  de  História 
Contemporânea, ministrada no Rio de Janeiro, no final de década de 70. Procure ler o texto 
como se você estivesse “ouvindo” a aula. 
...  nós  vimos  que  ela  assinala...  como disse  o  colega  aí,,,  a  elevação da  sociedade 
burguesa...  e  capitalista...  ora...  pode  se  já  ver  nisso...  o  que  é  uma  revolução...  uma 
revolução  significa o  quê? Uma mudança... de classe... em assumindo o  poder...  você vê 
por  exemplo...  a  Revolução  Francesa...  o  que  ela  significa?  Nós  vimos...  você  tem  uma 
classe que  sobe...  e  outra  classe que  desce... não é  isso? A burguesia  cresceu... ela  ti/a 
burguesia possuía... o poder... econômico... mas ela não tem prestígio social... nem poder 
político...  então...  através  desse  poder  econômico  da  burguesia...  que  controlava  o 
comércio...  que  tinha  nas  mãos  a  economia  da  França...  tava  nas  mãos  da  classe 
burguesa...  que  crescera...  desde  o  século  quinze...  com  a  Revolução  Comercial...  nós 
temos o crescimento da classe burguesa... essa burguesia quer... quer... o poder...ela quer 
o  poder  político...  ela  que  o  prestígio  social...  ela  quer  entrar  em  Versalhes...  então  nós 
vamos ver que através... de uma Revolução...ela vai... de forma violenta... ela vai conseguir 
o poder...  isso é uma  revolução porque significa a  ascensão de uma classe e a queda de 
outra... mas qual  é  a  classe  que  cai?  É  a  aristocracia...  tanto que... o  Rei  teve  a  cabeça 
cortada... não é isso? 
Dinah Callou (org.). A linguagem falada culta na cidade do Rio de Janeiro – materiais 
para seu estudo. Elocuções formais. Rio de Janeiro, Fujb, 1991, p. 104­105 
É  possível  notar  que  o  texto  é  bastante  entrecortado  e  repetitivo,  apresenta 
expressivas  marcas  de  oralidade  e  progride  apoiando­se  em  questões  lançadas  aos 
interlocutores, no caso, aos alunos. Isso não significa que o texto falado é, por sua natureza, 
absolutamente caótico e desestruturado. Ao contrário, ele tem uma estruturação que lhe é 
própria, ditada pelas circunstâncias sócio­cognitivas de sua produção. 
No entanto, tais características, próprias do texto oral, são consideradas inapropriadas 
para o texto escrito. E por quê? 
Para entender essa questão, inicialmente, faz­se necessário observar a distinção entre 
essas duas modalidades de uso da língua, proposta por Marcuschi (2001:25): 
•  A  fala  seria  uma  forma  de  produção  textual­discursiva para  fins  comunicativos na 
modalidade oral. Caracteriza­se pelo uso da língua na sua forma de sons sistematicamente 
articulados e significativo, bem como os aspectos prosódicos e recursos expressivos como a 
gestualidade, os movimentos do corpo e a mímica. 
•  A  escrita,  por  sua  vez,  seria  um  modo  de  produção  textual­discursiva  para  fins 
comunicativos com certas especificidades materiais e se caracterizaria por sua constituição 
gráfica, embora envolva também recursos de ordem pictórica e outros. Pode manifestar­se, 
do  ponto  de  vista  de  sua  tecnologia,  por  unidades  alfabéticas  (escrita  alfabética), 
ideogramas (escrita ideográfica) ou unidades iconográficas. Trata­se de uma modalidade de 
uso da língua complementar à fala.
De modo geral, discute­se que ambas apresentam distinções porque diferem nos seus 
modos  de  aquisição,  nas  suas  condições  de  produção,  na  transmissão  e  recepção,  nos 
meios através dos quais os elementos de estrutura são organizados. 
Para Koch (1992), entre as características distintivas mais freqüentemente apontadas 
entre as modalidades falada e escrita estão as seguintes: 
Fala  Escrita 
1. Contextualizada.  1. Contextualizada. 
2. Não­planejada.  2. Planejada. 
3. Redundante.  3. Condensada. 
4. Fragmentada.  4. Não­fragmentada. 
5. Incompleta.  5. Completa. 
6. Pouco elaborada.  6. Elaborada. 
7.  Predominância  de  frases  curtas, 
simples ou coordenadas. 
7.  Predominância  de  frases 
complexas, com subordinação abundante. 
8. Pouco uso de passivas  8. Emprego freqüente de passivas. 
9. Pouca densidade informacional.  9. Densidade informacional. 
10. Poucas nominalizações.  10. Abundância de nominalizações. 
11. Menor densidade lexical.  11. Maior densidade lexical. 
Ocorre,  porém,  que essas diferenças nem sempre distinguem as duas modalidades. 
Isso  porque  se  verifica,  por  exemplo,  que  há  textos  escritos  muito  próximos  ao  da  fala 
conversacional (bilhetes, recados, cartas familiares, por exemplo), e textos falados que mais 
se aproximam da escrita formal (conferências, entrevistas profissionais, entre outros). Além 
disso, atualmente, pode­se conceber o texto oral e o escrito comoatividades  interativas e 
complementares no contexto das práticas culturais e sociais. 
Oralidade e escrita, assim, são práticas e usos da língua com características próprias, 
mas  não  suficientemente  opostas  para  caracterizar  dois  sistemas  lingüísticos  distintos. 
Ambas permitem a construção de textos coesos e coerentes, ambas permitem a elaboração 
de  raciocínios  abstratos  e  exposições  formais  e  informais,  variações estilísticas, sociais  e 
dialetais. 
Cabe  lembrar,  finalmente, que em  situações de  interação  face a  face,  o  locutor  que 
detém a palavra não é o único responsável pelo seu discurso. Trata­se, como bem mostra 
Marcuschi  (1986), de uma atividade de co­produção discursiva, visto que os  interlocutores 
estão juntamente empenhados na produção do texto. 
Módulo 5 ­ ESTILOS E GÊNEROS DISCURSIVOS 
Todos  os  dias,  deparamo­nos  com  diferentes  textos  durante  as  mais  diversas 
situações comunicativas das quais participamos socialmente: anúncios, relatórios, notícias, 
palestras, piadas, receitas etc. Veja, por exemplo, o que podemos fazer quando queremos: 
• escolher um filme para assistir no cinema. Podemos consultar a seção cultural de 
um dos jornais da cidade ou uma revista especializada, ler num outdoor sobre o lançamento 
de um filme que nos agrada ou, ainda, pedir a opinião de um amigo. 
•  saber  como  chegar  a  um  local  desconhecido  por  nós.  Podemos  consultar  um 
guia de ruas da cidade ou, ainda, perguntar a alguém que conheça o trajeto. Quem sabe até 
pedir que essa pessoa desenhe o caminho?
•  convidar  um amigo para  sua  festa  de aniversário. Podemos mandar um e­mail, 
um convite pelo correio, telefonar ao colega, enviar um “torpedo” pelo celular. 
• entreter uma criança. Aqui as possibilidades são várias! Podemos  ler histórias de 
fadas,  lançar  adivinhas,  lembrar  antigas  canções,  recitar  quadrinhas  e  parlendas,  propor 
jogos diversos, assistir a um desenho etc. 
Em todas as situações descritas acima, utilizamos textos em diferentes gêneros, isto é, 
para  situações  e/ou  finalidades  diversas,  lançamos  mão  de  um  repertório  diverso  de 
gêneros  textuais  que  circulam  socialmente  e  se  adaptam  às  diferentes  situações  de 
comunicação.  Cada  um  desses  gêneros  exige,  para  sua  compreensão  ou  produção, 
diferentes conhecimentos e capacidades. 
De  modo  geral,  todos  os  gêneros  textuais  têm  em  comum,  basicamente,  três 
características: 
• o assunto: o que pode ser dito através daquele gênero; 
• o estilo: as palavras, expressões, frases selecionadas e o modo de organizá­las; 
• o formato: a estrutura em que cada agrupamento textual é apresentado. 
Os gêneros surgem, situam­se e integram­se funcionalmente nas culturas em que se 
desenvolvem.  O  conjunto  dos  gêneros  é  potencialmente  infinito  e  mutável,  materializado 
tanto  na  oralidade  quanto  na  escrita.  Eles  são  vinculados  à  vida  cultural  e  social  e 
contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do seu dia­a­dia. Assim, 
são exemplos de gêneros textuais: telefonema, carta, romance, bilhete, reportagem, lista de 
compras, piadas, receita culinária, contos de fadas etc. 
Para Bronckart (1999), a apropriação dos gêneros é um mecanismo fundamental 
de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas humanas. 
Módulo 6 ­ QUALIDADES DO TEXTO: COERÊNCIA, COESÃO, CLAREZA, CONCISÃO E 
CORREÇÃO GRAMATICAL 
Nesta  unidade  veremos  alguns  fatores  importantes  para  a  qualidade  de  um  texto. 
Como você  já viu, na Unidade anterior,  o  que é  um  texto,  isto é,  quais  as  características 
básicas que nos permitem considerar um texto como tal, passaremos aos  itens relativos à 
qualidade  textual,  que  compreendem:  coesão e  coerência;  clareza e  concisão  e  correção 
gramatical. 
6.1 Coesão e coerência 
Para entendermos a noção de coesão/coerência, primeiramente devemos considerar a 
hierarquia  de  valores  que  existe  de  uma  palavra  a  um  texto.  É  essa  hierarquia  que 
determina a coesão/coerência, tendo em vista ser o texto um “todo” de significado, ou seja, 
para  considerarmos que  um  texto  seja  um  “texto”,  temos que  levar  em consideração  sua 
organização sintático­semântica em primeiro lugar. 
Assim,  a  coesão  equivale  à  relação  entre  as  palavras,  entre  as  orações,  entre  os 
períodos, enfim, entre as partes que compõem um  texto. Quando chegamos ao “todo”, ao 
sentido  global,  temos  a  coerência  do  texto.  Então,  um  fator  depende  do  outro,  isto  é,  a 
coerência pressupõe a coesão.
Exemplificando: o falante de língua portuguesa não reconhece coesão e coerência em 
uma seqüência como: 
Dia é muito este especial vida minha em. 
No entanto, esse mesmo falante reconheceria como coerente (e coesa) a seqüência: 
Este dia é muito especial em minha vida. 
Houve organização sintático­semântica na segunda seqüência, o que não ocorreu na 
primeira. 
Segundo Koch (1998), “o conceito de coesão textual diz respeito a todos os processos 
de  seqüencialização  que  asseguram  (ou  tornam  recuperável)  uma  ligação  lingüística 
significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual”. 
Essa  coesão  pode  ser  estabelecida  por  meio  de  mecanismos  referenciais  e/ou 
seqüenciais,  segundo  os  estudos  lingüísticos.  Para  entendermos  melhor,  vejamos  a 
proposta didática dessas classificações, feita por Platão & Fiorin (1999). 
6.1.1 Coesão por retomada ou por antecipação (coesão referencial) 
Retomada ou antecipação por uma palavra gramatical 
São  classes  gramaticais  (artigos,  pronomes,  numerais,  advérbios,  verbos)  que 
funcionam,  no  texto,  como  elementos  de  retomada  (anafóricos)  ou  de  antecipação 
(catafóricos) de outros termos enunciados no texto. 
Estamos (a) reunidos para examinar o caso. Eu, a diretoria e vocês entendemos que 
não se trata de uma questão simples. Ela (b) deve ser analisada com muita cautela, por isso 
nós (c) nos encontramos aqui. 
Exemplo: 
No pequeno trecho, podemos observar as expressões destacadas e verificar que: 
(a) “Estamos” é o verbo que antecipa o sujeito “eu, a diretoria e vocês”. Na seqüência 
é um elemento catafórico. 
(b) “Ela” é um pronome que retoma “uma questão”, portanto um elemento anafórico. 
(c)  “Nós”  é  pronome  (elemento  anafórico)  que  retoma  o  sujeito  “eu,  a  diretoria  e 
vocês”. 
É  a  isso  que  se  denomina  “retomada  ou  antecipação  por  uma  palavra  gramatical”. 
Podemos, então, encontrar, em um texto, vários elementos que estabelecem essa retomada 
ou antecipação. São eles que estabelecem as ligações no texto, ou seja, são esses termos 
que estabelecem o que se denomina coesão referencial. 
Algumas observações: 
O termo substituído e/ou retomado pode ser inferido pelo contexto. 
Exemplo: Estamos aqui para examinar o caso.
Nesse caso, “aqui”, se não houver referência anterior explícita, leva à inferência de que 
se  trata  do  local  em  que  ocorre  a  situação  comunicativa  (que  não  precisa  ser  um  lugar 
concretamente especificado). 
No uso de artigo, o definido tem a função de retomar um termo já enunciado, enquanto 
o indefinido geralmente introduz um termo novo. 
Exemplos: 
Encontrei a carta sobre a mesa.  (pressupõe­se que se  trata de uma carta  já  referida 
anteriormente). 
(b)  Uma  carta  foi  deixada  sobre  a mesa.  (“uma”  introduz  o  termo  carta,  ou  seja,  o 
termo está sendo apresentado no texto) 
Os verbos “fazer” e “ser”, enquanto anafóricos, substituem, respectivamente, ações e 
estados.
Exemplos: 
a) João e Maria estudaram muito para a prova, o que você não o fez. (=estudar) 
b) Eduardo e o irmão ficaram muito emocionados com a homenagem, mas não foi (= 
ficarem emocionados) como esperávamos. 
Ambigüidade. 
Quandoum elemento anafórico refere­se a dois antecedentes distintos, pode provocar 
ambigüidade. 
Exemplos: 
Pronome possessivo: 
Minha amiga discutiu com a irmã por causa de sua  resposta.  (sua= da amiga ou da 
irmã?). 
Pronome relativo: 
Ela convidou o irmão do namorado, que chegou atrasado para a festa. (que= o irmão 
ou o namorado?) 
Retomada por palavra lexical (substantivos, verbos, adjetivos) 
Além das palavras gramaticais, há outra forma de se retomar as palavras no texto. É o 
mecanismo  de  substituição  por  sinônimos,  por  hiperônimo,  por  hipônimo  ou  uma 
antonomásia. 
No  exemplo  anterior,  podemos  observar  um  desses  mecanismos.  Em  “...  de  uma 
questão simples”, o substantivo “questão” retoma “o caso” por um processo de substituição 
por sinônimos. 
A relação de hipônimo/hiperônimo corresponde à relação de “contém” / “está contido”. 
O  primeiro  está  contido  no  segundo  e  vice­versa.  Por  exemplo,  cachorro  é  hipônimo  de 
mamíferos e vice­versa.
Quanto  à  antonomásia,  é  o  processo  de  substituição  de  um  nome  próprio  por  um 
comum ou de um comum por um próprio. Geralmente é utilizado para personalidades. 
Exemplo: A Rainha dos baixinhos estréia novo  filme.  (Em vez de Xuxa estréia novo 
filme). 
Dentre  os  mecanismos  de  coesão  referencial,  há  também  a  elipse,  quer  dizer,  o 
apagamento de palavras  (que  podem ser  recuperadas pelo  contexto)  em uma seqüência, 
para que não haja repetição indevida. 
Exemplo: O Presidente da República anunciou novas medidas. Ø Baixou os  juros, Ø 
elevou o salário mínimo e, ainda, Ø regulamentou a criação de novos empregos. 
Veja que o símbolo Ø representa o sujeito “O Presidente da República”, que foi omitido 
par evitar repetição na seqüência. Trata­se da elipse do sujeito. 
6.1.2  Coesão por  encadeamento de  segmentos  textuais  (coesão  seqüencial)  a. 
Coesão por conexão 
Estabelecida  por  conectores  (ou  operadores discursivos),  que  fazem a  relação entre 
segmentos do texto. Esses conectores, além de estabelecer relação lógico­semântica entre 
as  partes  do  texto  (de  causa,  finalidade,  conclusão  etc.),  têm  função argumentativa,  que 
segundo FIORIN & PLATÃO (1999) podem ser dos seguintes tipos: 
1) Os que marcam uma gradação numa série de argumentos orientada no sentido de 
uma determinada conclusão (até, mesmo, até mesmo, inclusive, ao menos, pelo menos, no 
mínimo,  no  máximo,  quando  muito).  Ex.:  Ele  tem  todas  as  qualidades  para  vencer  o 
concurso: é alto, magro e até inteligente. 
2) Os que marcam uma  relação de  conjunção argumentativa  (ligam argumentos em 
favor de uma conclusão, como: e, também, ainda, nem, não só... mas também, tanto...como, 
além  de,  além disso,  a  par  de).  Ex.:  O  cliente  não  recebeu  o  produto  solicitado e,  ficou, 
ainda, insatisfeito com o que recebera. 
3) Os que indicam uma relação de disjunção argumentativa (argumentos que levam a 
conclusões opostas, como: ou, ou então, quer...quer, seja...seja, caso contrário). Ex.: Todos 
os convocados pelas autoridades competentes devem apresentarse ou serão intimidados a 
fazê­lo. 
4) Os que marcam uma relação de conclusão (portanto, logo, por conseguinte, pois, 
quando não introduz a oração). Ex.: Ele foi classificado o melhor corredor. Recebera, pois, o 
maior  prêmio.  (Está  implícito  que  quem  fosse  considerado o melhor  corredor,  receberia  o 
melhor prêmio). 
5) Os  que  estabelecem  uma  comparação  entre  dois  elementos,  com  vistas  a  uma 
conclusão (a favor ou contra). Ex.: Não sei se o trabalho ficará bom, mas esse pedreiro é tão 
eficiente quanto o outro. 
6) Os que introduzem uma explicação ou justificativa (porque, já que, que, pois). Ex. 
É melhor não mexer no material, já que não tem a intenção de comprá­lo. 
7) Os que marcam uma  relação de  contrajunção  (mas, porém, contudo,  todavia, no 
entanto, entretanto, embora, ainda que, mesmo que, apesar de que). Ex.: O governo abriu 
financiamento  de  casas  à  classe  média,  porém  há  uma  grande  parte  da  população  sem 
casa própria.
8) Os que  introduzem argumento decisivo, como um acréscimo à informação (alíás, 
além do mais, além de tudo, além disso, ademais). Ex.: Ela tirou tudo do armário, espalhou 
no quarto e não terminou a arrumação. Aliás, nem deveria ter começado. 
9) Os que  indicam uma generalização ou uma amplificação da  informação anterior 
(de  fato,  realmente,  aliás,  também,  é  verdade  que).  Ex.:  Não  bastasse  estar  atrasado, 
também esqueceu o ingresso no bolso da calça. 
10)  Os  que  especificam  ou  exemplificam  o  que  foi  dito.  Ex.:  Todos  ficaram 
insatisfeitos com a decisão da mãe. O filho mais velho deixou de falar com ela. 
11)  Os  que  marcam  uma  relação  de  retificação,  ou  seja,  uma  correção,  um 
esclarecimento, um desenvolvimento ou uma redefinição do conteúdo anterior. (ou melhor, 
de fato, pelo contrário, ao contrário, isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras). Ex.: O 
candidato não honrou seu compromisso, isto é, não cumpriu o que prometera em campanha 
eleitoral. 
12) Os  que  introduzem  uma explicitação,  uma confirmação  ou  uma  ilustração do 
que foi informado. (assim, desse modo, dessa maneira).Ex.: Encontramo­nos em período de 
crise econômica. Assim, o comércio de produtos eletrônicos está em baixa. 
b. Coesão por justaposição 
Esse tipo de coesão pode ser estabelecido com ou sem elementos de ligação. Quando 
há conectores, estes podem ser: 
1)  Os  que  marcam  seqüência  temporal.  Ex.:  A  mulher  abandonara  o  lar.  Um  ano 
depois, estava arrependida. 
2) Os  que marcam  uma  ordenação espacial. Ex.:  À  direita  fica  o  portão  de  entrada 
para o prédio. 
3)  Os  que  especificam  a  ordem  dos  assuntos  no  texto.  Ex.:  Primeiramente,  devo 
declarar que aceito a proposta. 
4)  Os  que  introduzem  um  dado  tema  ou  servem  para  mudar  o  assunto  na 
conversação. Ex.: Devemos nos unir para uma decisão acertada. Por falar nisso, estamos 
todos no mesmo barco. 
Algumas observações: 
1­ Quando não há conectores, eles podem ser inferidos pelo contexto. 
Ex.:  Não  assistirá  à  conferência.  Está  atrasada.  (subentendese  um  conector  que 
estabeleça relação de causa na segunda oração, como “porque”) 
2­ Quanto à manutenção do tema no texto, trata­se da articulação tema (dado) e rema 
(novo), que se dá na perspectiva oracional ou contextual. 
Ex.: Vamos descrever, então, o  interior da casa. A sala é ampla e se divide em dois 
ambientes. Os quartos são bem arejados. A cozinha comporta toda a família nos horários de 
refeição. 
6.2 Coerência e progressão textual
Como já dissemos, a coerência é o todo de sentido em que resulta o texto. Para que 
ela se estabeleça, é preciso observar a não­contradição de sentidos entre partes do texto, o 
que se constrói pelos mecanismos de coesão já explicitados. 
Além  disso,  de  acordo  com  Fiorin  &  Platão  (1999),  há  vários  níveis  que devem  ser 
levados em conta, como o narrativo, o figurativo, o temporal, o argumentativo, o espacial e o 
de linguagem. Para todos eles, dois tipos de coerência são fundamentais: a coerência intra 
e extratextual. A primeira corresponde à organização e encadeamento das partes do texto, 
ao passo que a segunda pode estar relacionada tanto ao conhecimento de mundo como ao 
conhecimento lingüístico da falante. 
No entanto, há textos que podem ser incoerentes aparentemente. Para se verificar se 
o  texto  tem  sentido,  é  preciso  considerar  vários  fatores que  podem  levar  à  atribuição de 
significado  ao  texto.  São  eles:  o  contexto,  a  situação  comunicativa,  o  gênero,  o(s) 
intertexto(s). 
Esses  fatores determinam as  condições de  produção e  de  recepção de um  texto. É 
preciso  ter  conhecimento  dessas  condições para  julgar  coerente(ou  não)  um  texto.  Para 
exemplificar,  um  texto  literário,  por  ser  ficcional,  admite  o  uso  da  linguagem  figurada,  ao 
passo que um texto científico não a admite. Portanto, se houver o uso de uma metáfora em 
um texto científico, por exemplo, este será julgado incoerente. 
Vejamos um texto para melhor ilustrar o que foi dito até aqui. 
O leão, o burro e o rato 
Um  leão,  um burro  e  um  rato  voltavam,  afinal,  da  caçada  que haviam empreendido 
juntos(1)  e  colocaram  numa  clareira  tudo  que  tinham  caçado:  dois  veados,  algumas 
perdizes, três tatus, uma paca e muita caça menor. O leão sentou­se num tronco e, com voz 
tonitruante que procurava inutilmente suavizar, berrou: 
­  Bem,  agora  que  terminamos  um  magnífico  dia  de  trabalho,  descansemos  aqui, 
camaradas,  para  a  justa  partilha  do  nosso  esforço  conjunto.  Compadre  burro,  por  favor, 
você, que é o sábio de nós três, com licença do compadre rato, você, compadre burro, vai 
fazer a partilha desta caça em três partes absolutamente iguais. Vamos, compadre rato, até 
o rio, beber um pouco de água, deixando nosso grande amigo burro em paz para deliberar. 
Os dois se afastaram, foram até o rio, beberam água(2) e ficaram um tempo. Voltaram 
e verificaram que o burro tinha feito um trabalho extremamente meticuloso, dividindo a caça 
em três partes absolutamente iguais. Assim que viu os dois voltando, o burro perguntou ao 
leão: 
­ Pronto, compadre leão, aí está: que acha da partilha? 
O leão não disse uma palavra. Deu uma violenta patada na nuca do burro, prostando­o 
no chão, morto. 
Sorrindo, o leão voltou­se para o rato e disse: 
­ Compadre rato, lamento muito, mas tenho a impressão de que concorda em que não 
podíamos suportar a presença de  tamanha  inaptidão e burrice. Desculpe eu  ter perdido a 
paciência,  mas  não  havia  outra  coisa  a  fazer.  Há  muito  que  eu  não  suportava  mais  o 
compadre burro. Me faça um favor agora – divida você o bolo da caça, incluindo, por favor, o
corpo  do  compadre  burro.  Vou  até  o  rio,  novamente,  deixando­lhe  calma  para  uma 
deliberação sensata. 
Mal o  leão se afastou, o  rato não  teve a menor dúvida. Dividiu o monte de caça em 
dois: de um lado, toda a caça, inclusive o corpo do burro. Do outro apenas um ratinho cinza 
(3) morto por acaso. O leão ainda não tinha chegado ao rio, quando o rato chamou: 
­ Compadre leão, está pronta a partilha! 
O leão, vendo a caça dividida de maneira tão justa, não pôde deixar de cumprimentar 
o rato: 
­ Maravilhoso, meu caro compadre, maravilhoso! Como você chegou  tão depressa a 
uma partilha tão certa? 
E o rato respondeu: 
­ Muito simples. Estabeleci uma  relação matemática entre seu  tamanho e o meu – é 
claro  que  você precisa  comer muito mais.  Tracei  uma  comparação  entre  a  sua  força  e  a 
minha  –  é  claro  que  você  precisa  de  muito  maior  volume  de  alimentação  do  que  eu. 
Comparei,  ponderadamente,  sua  posição  na  floresta  com  a  minha  –  e,  evidentemente,  a 
partilha só podia ser esta. Além do que, sou um intelectual, sou todo espírito! 
­  Inacreditável,  inacreditável!  Que  compreensão!  Que  argúcia!  –  exclamou  o  leão, 
realmente admirado.  –  Olha,  juro  que  nunca  tinha  notado,  em  você,  essa  cultura.  Como 
você escondeu isso o tempo todo, e quem lhe ensinou tanta sabedoria? 
­ Na verdade, leão, eu nunca soube nada. Se me perdoa um elogio fúnebre, se não se 
ofende, acabei de aprender tudo agora mesmo, com o burro morto. 
MORAL: SÓ UM BURRO TENTA FICAR COM A PARTE DO LEÃO. 
(1).  A  conjugação  de  esforços  tão  heterogêneos  na  destruição  do  meio  ambiente  é 
coisa muito comum. 
(2).  Enquanto  estavam  bebendo  água,  o  leão  reparou  que  o  rato  estava  sujando  a 
água que ele bebia. Mas isso já é outra fábula. 
(3). Os  ratos devem se contentar em se alimentar de  ratos. Como diziam os  latinos: 
Similia similibus curantur. (FERNANDES, Millôr) 
Ao analisarmos o texto, podemos verificar o seguinte: 
No  texto,  a  coerência  narrativa  é  estabelecida,  primeiramente,  pela  seqüência  de 
ações que se encadeiam: o leão propõe um desafio ao burro e ao rato, ambos aceitam, mas 
o burro não capta a verdadeira intenção do leão e acaba morto; o rato, por sua vez, ao ver o 
burro  morto,  entende  a  mensagem  e,  para  preservar  sua  vida,  faz  a  divisão  do  alimento 
considerada justa para o leão e, assim, obtém sucesso. 
Na seqüência temporal, a narrativa apresenta uma sucessão de fatos que estabelece a 
progressão temática do texto a respeito da exploração do homem pelo homem, ou da lei da 
sobrevivência em uma sociedade competitiva,  tema(s) este(s) que é  (são) figurativizado(s) 
pelos  animais  partilhando o  alimento,  em  que  se destaca  a  soberania  do  leão  na  cadeia 
alimentar. 
A  fim de  se  concretizar a  “verdade” do  texto, há  também a  coerência  espacial, visto 
que os animais encontram­se em uma floresta, ambiente que concretiza o cenário em que
se desenvolve a história. Como  se  trata  de  um  texto  ficcional,  a coerência é estabelecida 
pela criação desse mundo possível em que os personagens se inserem. 
Quanto à linguagem, é coerente ao tipo de texto, que permite o uso do coloquial, a fim 
de aproximar­se do interlocutor desse tipo de texto. Por isso, o vocabulário é acessível e há 
construções próximas à oralidade, como “Me façam um favor”, em que o pronome oblíquo 
inicia a oração, uma forma que a norma padrão rejeita. 
Há  um  “jogo”  de  pressupostos  e  subentendidos,  que  caracterizam  o  texto  como 
literário  e  consiste  em  uma  estratégia  argumentativa  para  a  defesa  do  ponto  de  vista 
implícito de que “vence o mais forte”. 
Dessa  forma,  podemos  considerar  este  um  texto  coerente, pois  observamos  tanto  a 
coerência  interna,  como  a  coerência  externa  dele.  A  primeira  corresponde  aos  fatores 
ligados  ao  conhecimento  lingüístico,  já  apresentados  anteriormente,  ao  passo  que  a 
segunda  relaciona­se  às  condições  de  produção  e/ou  recepção  do  texto,  tais  como  o 
gênero, a situação comunicativa e as relações intertextuais. 
Nesse sentido, podemos verificar  que, por  se  tratar de  uma  crônica,  é  um  texto que 
trata  de  tema do  cotidiano,  em  uma  linguagem  coloquial, mas  que  constrói  opinião  pelas 
estratégias argumentativas. Além disso, de modo subentendido, faz alusão a outros textos 
existentes,  do  tipo  fábula,  que  pressupõem  a  existência  de  uma  “moral”,  recurso  que  se 
denomina  intertextualidade.  Pode­se  notar  que  por  esse  recurso  há  construção  de  uma 
ironia em relação à moral, que é apresentada de uma maneira “subvertida”, isto é, de modo 
a levar o leitor à reflexão sobre a estupidez humana em suas relações sociais. 
6.3 Clareza e concisão 
A  clareza e a concisão  compreendem duas qualidades primordiais de um  texto  bem 
elaborado. A primeira diz respeito à organização coerente das idéias, de modo a não deixar 
dúvidas sobre o que foi proposto pelo texto, desde seu início até sua conclusão, enquanto a 
segunda está associada à não­prolixidade do texto, ou seja, uma está ligada à outra. 
Do  ponto  de  vista  da  produção,  de  acordo  com  a  intenção,  deve­se  selecionar  a 
estrutura  que  sustentará  o  texto,  levandose  em  consideração  características  peculiares  a 
cada  uma  delas  (narrativa,  descritiva  ou  dissertativo­argumentativa),  as  quais  serão 
apresentadas mais à frente. O fundamental é garantir que haja uma hierarquia de idéias e 
fatos na relação intratextual, a fim de se organizar um todo coeso e coerente. 
Nesse  sentido,  a  organização  dos  parágrafos  no  interior  do  texto  é  de  suma 
importância  e  constitui  uma  das  dificuldades  que  deve  ser  vencida  pelo  produtor,  pois 
quando  não  se  tem  domíniodessa  habilidade,  há  duas  tendências  na  construção  dos 
parágrafos:  ou  o  texto  é  um  bloco  único  de  informações  ou  confundem­se  período  e 
parágrafo. 
Para melhor  compreensão, passemos a verificar  essas duas etapas: da organização 
discursivo­textual e da elaboração dos parágrafos. 
6.3.1 Da organização discursivo­textual: 
Do  ponto  de  vista  de  quem  produz  o  texto,  é  preciso  que  haja  conhecimento  das 
condições de produção, ou seja, é preciso saber para que, para quem e por que o texto será 
produzido. Além dessas, o  tipo de texto também é uma condição de produção, visto que o 
gênero determina as características de cada texto, o que pressupõe o conhecimento delas 
para a organização discursivo­textual adequada.
Uma primeira preocupação deve ser com a pessoa do discurso, na cena enunciativa, 
tendo  em  vista  que  o  uso  da  3ª  ou  da  1ª  pessoa  produz  efeito  de  objetividade  ou 
subjetividade. Dizemos efeito porque este é  resultado da  intenção do  locutor  (para  com o 
interlocutor) de “afastar­se” ou “aproximar­se” da enunciação quando faz a escolha. 
A  partir  desse  primeiro  posicionamento,  o  sujeito  assume  “a  voz”  que  seja  mais 
conveniente  à  produção  do  texto­discurso.  Trata­se  da  relação  entre  enunciação  e 
enunciado, ou ainda, “o que se diz” e “o que se quer dizer”. 
É  dessa  escolha  enunciativa  que  se  pode  avaliar  se  o  textodiscurso  é  objetivo  ou 
subjetivo, se o sujeito aproxima­se ou distancia­se do ponto de vista que há no texto. Enfim, 
o  modo  de  dizer,  o  que  se  pretende  dizer  depende  dessas  escolhas  prévias.  Após  essa 
primeira seleção, torna­se necessário saber que tipo de texto pretende­se produzir, isto é, se 
o texto é descritivo, narrativo ou argumentativo. 
Nesse sentido, Emediato (2004:136) propõe o seguinte quadro: 
MODOS DE 
ORGANIZAÇÃO  FUNÇÃO DE BASE 
PRINCÍPIOS DE 
ORGANIZAÇÃO 
ENUNCIATIVO 
Relação de influência (EU ­ 
TU) 
Ponto de vista situacional 
(EU ­ Contexto) 
Relato sobre o mundo (ELE) 
• Posição em relação ao 
interlocutor. 
• Posição em relação ao que 
é dito. 
• Posição em relação ao 
mundo e aos discursos dos 
outros. 
DESCRITIVO 
Identificar os seres, objetos 
do mundo de maneira 
objetiva ou subjetiva. 
• Organização da construção 
descritiva. (Nomear, 
Localizar, Qualificar e 
Quantificar). 
NARRATIVO 
Construir uma sucessão de 
ações de uma história no 
tempo em torno de uma 
busca e de um conflito, com 
actantes e personagens. 
• Organização da lógica 
narrativa (Actantes, 
processos e funções 
narrativas) 
• Qualificação da ação e 
estatuto do narrador. 
ARGUMENTATIVO  Explicar uma verdade, numa  • Organização da lógica
visão racional, para 
influenciar o interlocutor: 
convencê­lo ( se 
argumentação 
demonstrativa) ou persuadi­ 
lo (se argumentação retórica) 
argumentativa. (Relações 
lógicas, tipos de 
argumentos). 
6.3.2 Texto descritivo 
O  texto  descritivo  tem por base um sujeito observador, o qual descreve o mundo de 
maneira objetiva ou subjetiva. A primeira diz respeito a uma descrição da realidade tal como 
ela  é,  em  que  o  sujeito  tem  como  objetivo  primeiro  informar  sobre  objetos,  pessoas  ou 
lugares. Quanto à  segunda, é  a  descrição em que o  sujeito descreve a  realidade  como a 
sente,  passando a  exprimir  a  afetividade que  tem  em  relação ao objeto,  pessoa  ou  lugar 
descrito. 
A descrição opõe­se à narração pelo seu caráter estático, em que o  tempo não  tem 
tanta importância, pois não há transformação de estados e ações, o que compete ao texto 
narrativo.  Desse modo,  o  ponto  de  vista  do  sujeito  observador  é  fundamental  e  depende 
tanto  de  sua  posição  física  (em  relação  ao  que  descreve)  quanto  de  sua  atitude  afetiva 
(relativa ao objeto descrito). 
6.3.3 Texto narrativo 
O texto narrativo, ao contrário do descritivo, é dinâmico, pressupõe a transformação de 
estados  e  o  encadeamento  de  ações.  Para  tanto,  torna­se  necessária  a  criação  dos 
elementos  fundamentais  de  uma  narrativa:  personagens,  tempo  e  espaço.  Há  narração 
quando  os  personagens,  por  meio  de  ações,  transformam­se  no  tempo  e  no  espaço 
determinados  no  desenvolvimento  do  texto.  Esse  conjunto  constitui  o  que  se  denomina 
enredo.
Portanto, para que um texto seja narrativo, é preciso criar personagens (e apresentá­ 
los),  instaurar  um  problema  que  determinará  o  conflito  central  em  torno  do  qual  os 
personagens relacionam­se em busca da solução. Quando chega ao auge, tem­se o clímax 
e  daí  em diante  torna­se  necessário  apresentar a  resolução  do problema,  que  constitui  o 
desfecho. Normalmente, um texto narrativo, contém, ainda, uma moral, que corresponde a 
uma avaliação, a um juízo de valor implícito no texto. 
Além de todos esses elementos apresentados, é importante ressaltar que em um texto 
narrativo há um narrador, aquele que “conta a história”. Ele assume um ponto de vista, que 
é demonstrado pelo uso da 1ª ou da 3ª pessoa, revelando a primeira uma aproximação e a 
segunda um distanciamento,  isto é, o narrador em 1ª pessoa está mais próximo dos fatos 
narrados e o narrador em 3ª pessoa mais distanciado, como se observasse “de longe” o que 
está acontecendo. 
6.3.4 Texto dissertativo­argumentativo 
Primeiramente, é  preciso  ficar  claro  que não acreditamos que haja  texto dissertativo 
que  não  seja  argumentativo,  daí  a  classificação.  A  dissertação,  a  nosso  ver,  está  mais 
relacionada à forma (que ao conteúdo) de um texto, que compreende as seguintes partes: 
introdução, desenvolvimento e conclusão. 
Já  a  argumentação  está  mais  ligada  ao  conteúdo  e  pode  apresentar­se  em  outras 
formas (como a narração ou a descrição). Esse é o tipo de texto que revela a intenção do
sujeito  de  convencer  e/ou  persuadir  “o  outro”  sobre  a  validade  de  uma  tese,  que 
compreende uma proposição (idéia proposta) a ser defendida no desenvolvimento do texto. 
Para tanto, Emediato (2004) sugere uma estrutura básica, que é constituída de: 
1) Afirmação (tese, proposição); 
2) posicionamento : que pode demonstrar concordância ou discordância com uma tese 
já existente; 
3)  quadro  de  problematização:  situa  a  argumentação  em  uma  perspectiva  (social, 
econômica, política, ideológica, religiosa,etc.), direcionando o discurso do sujeito; 
4)  formulação  de  argumentos:  provas,  raciocínio  lógico,  justificativas  ou  explicações 
que dêem sustentação à tese; 
5)  conclusão:  resultado  que  se  pretende  com  a  defesa  da  tese  pelos  argumentos 
apresentados e sua pertinência e adequação ao quadro de problematização. 
Os  argumentos  podem  ser  divididos  em  dois  grupos:  os  que  são  utilizados  para 
persuadir e os que servem para convencer. O primeiro grupo corresponde ao que Emediato 
denomina argumentação retórica, que se apóia em valores, crenças e  lugares comuns, ao 
passo  que  o  segundo  apóia­se  em  fatos  e  verdades  e  é  denominado  argumentação 
demonstrativa pelo autor. 
Um  texto  argumentativo  normalmente  é  composto  dos  dois  tipos  de  argumento,  os 
quais  o produtor do  texto  deve associálos na  busca da defesa de sua  tese,  tornando  seu 
texto coerente. 
No entanto, dependendo do tipo de texto a ser produzido, pode haver predominância 
de um  tipo  sobre  o  outro. Para  essa  relação, Emediato  (2004, p.  169)  propõe o  seguinte 
quadro: 
ARGUMENTAÇÃO DEMONSTRATIVA  ARGUMENTAÇÃO RETÓRICA 
Textos acadêmicos  Textos publicitários e de marketing 
Textos científicos  Textos político­eleitorais 
Textos jornalísticos informativos objetivos  Textos religiosos e de intenção moral 
Textos técnicos  Textos de opinião 
Há uma variedade de  tipos de argumentos que podem serutilizados na organização 
discursivo­textual  do  texto  argumentativo.  Todavia,  este  não  será  objeto  de  estudo  no 
momento, razão pela qual não nos deteremos no assunto específico. 
6.3.5 Da organização dos parágrafos. 
Embora um parágrafo seja definido pela extensão de uma margem em branco até um 
ponto  final,  devemos  salientar  que  o  mais  importante  é  a  garantia  de  uma  unidade  de 
sentido para cada parágrafo de um texto, o que não pode delimitar uma forma padrão.
Primeiramente, ao  se  elaborar  um  texto,  é preciso  um planejamento,  um  roteiro que 
norteará a  organização dele em parágrafos,  de  forma que haja  um encadeamento  lógico­ 
semântico. Para tanto, faz­se necessário investigar o conhecimento prévio que se tem sobre 
o assunto, pois esse conhecimento permitirá um plano de organização do texto. 
Em seguida, deve­se fazer um esboço da estrutura do texto a ser produzido, partindo­ 
se da idéia central, isto é, do tema escolhido. A partir dele, podem­se relacionar tópicos que 
possam  ser  desenvolvidos  em  núcleos  temáticos  no  interior  do  texto,  de  modo  a  se 
organizarem orações, períodos e parágrafos. 
Para o planejamento dos parágrafos há sugestões de autores variados e uma delas, a 
qual  é  um  consenso  entre  muitos  deles,  foi  sintetizada  por  Emediato  (2004,  p.  92)  da 
seguinte forma: 
TEMPO 
Histórico sobre o assunto, 
datas, origens, narrativa 
histórica. Quando? 
ESPAÇO 
Locais, situações no espaço, 
onde? 
DEFINIÇÃO 
O que é? Definir, conceituar, 
explicar o significado de um 
conceito. 
ENUMERAÇÃO 
Lista de características, 
funções, princípios,fatores, 
fases, etapas etc. 
COMPARAÇÃO 
Estabelecer relações de 
semelhança e de diferença, 
contrastar 
CAUSA/EFEITOS 
Resultados, conseqüências, 
fatores causais.
A  seleção  de  uma  dessas  formas  direcionará  a  construção  do  texto,  orientando  a 
seqüência dos parágrafos de acordo com a ênfase dada no início. É ela que estabelecerá as 
relações intratextuais e a segmentação dos parágrafos. 
É importante salientar, ainda, que não há uma fórmula mágica para a organização dos 
parágrafos em um  texto. O  importante  é estabelecer uma seqüência  lógica que o  torne o 
claro.  Para  que  se  inicie  bem  um  texto  (e,  conseqüentemente,  haja  uma  seqüência 
coerente), Faraco e Tezza (1992: 178) sugerem as seguintes recomendações: 
1) Iniciar o texto familiarizando o leitor com o assunto que será tratado, de modo que a 
introdução do texto situe com clareza as coordenadas do  texto(assunto,  intenção, aspecto 
que se pretende abordar); 
2) evitar o início do texto com uma frase avulsa, a não ser que o tipo de texto o exija 
(como  a  linguagem  publicitária,  por  exemplo),  pois  esse  procedimento  denota  má 
estruturação; 
3) utilizar períodos mais curtos, uma vez que os períodos longos tornam o texto prolixo 
e podem desinteressar o leitor. 
Módulo 7 ­ COMPLEMENTO GRAMATICAL 
Na escrita, sabemos da necessidade de se  respeitar a norma culta, a não ser que o 
tipo  de  texto  não  o  exija. Por exemplo,  um  texto  literário,  no  qual  se  reproduz  a  fala  dos 
personagens, se estes estiverem no “papel” de pessoas comuns e o contexto permitir uma 
fala descontraída, então a norma padrão não precisa ser seguida à risca, com a finalidade 
de imprimir realidade ao texto. 
Todavia, em geral, precisamos cuidar da nossa linguagem e, principalmente, do uso da 
norma padrão em textos do dia a dia. Por  isso, passemos a algumas dicas sobre dúvidas 
que surgem ao ter­se que utilizar esse português mais formal. 
a. O uso do que. 
O que, bastante utilizado como um elemento de coesão, pode simplesmente introduzir 
uma informação complementar, como pode retomar um termo anterior. Veja nos exemplos: 
(a) Ela me disse que não fará mais isso. 
(b) cão, que é fiel ao homem, jamais o trai. 
EXEMPLIFICAÇÃO 
Fatos concretos, provas 
factuais. 
CONCLUSÃO/DEDUÇÃO 
Dedução geral sintetizando os 
dados e informações contidas 
nos parágrafos anteriores.
No  exemplo  (a),  o  que  introduz  a  segunda  oração  “que  não  fará  isso”, 
complementando  o  verbo  “disse”  (  Ela  disse  o  quê?).  Nesse  caso,  trata­se  de  uma 
conjunção integrante, pois esta é sua função, integrar o sentido da oração anterior. 
Já no exemplo (b), o que  relaciona­se ao antecedente  “cão”, por  isso é um pronome 
relativo. Ele poderia até ser substituído por “o qual”. A informação principal encontra­se na 
oração “O cão jamais trai o homem”. A segunda oração foi intercalada na oração principal, 
acrescentado­lhe uma informação. 
Quando se usa o pronome relativo, ele pode introduzir uma informação complementar, 
mas  de  caráter  genérico,  e,  nesse  caso,  a  oração  iniciada  pelo  pronome  apresenta­se 
destacada  entre  vírgulas  (ou  travessões,  ou  parênteses).  Esse  tipo  de  pronome  pode 
também restringir o termo a que se refere e, nesse caso, a oração introduzida por ele não 
fica destacada pela pontuação. Vejamos os exemplos: 
(c) O homem, que é sensato, não comete esse tipo de erro 
(d) O homem que é sensato não comete esse tipo de erro. 
No exemplo  (c), entende­se que  todos os homens  (a humanidade) são sensatos, ao 
passo que no exemplo (d) entendese que há um grupo de homens que são sensatos e outro 
grupo dos que não o são. No primeiro exemplo há uma generalização, a informação apenas 
complementa a anterior; no segundo, o termo está sendo restrito. 
b. Uso de porque, por que, por quê e porquê. 
• POR QUE 
Pode  ser  utilizado  em  uma pergunta  indireta  (por  que motivo)  ou  em  substituição a 
“pelo(a) qual”. Vejamos os exemplos: 
(a) Não entendo por que você age assim. (por que motivo) 
(b) A rua por que passei, estava congestionada. (pela qual) 
• PORQUE 
Este é geralmente usado em enunciados afirmativos. Veja o exemplo: 
Fiz isso porque queria irritá­lo. 
• POR QUÊ 
É usado em final de sentença interrogativa. Exemplo: 
Você fez isso, por quê? 
• PORQUÊ 
É  um  substantivo,  sinônimo  de  motivo,  razão  e  deve  ser  acompanhado  de  artigo. 
Vejamos o exemplo: 
Não entendo o porquê de tanta revolta. (o motivo) 
c. Uso da vírgula
A vírgula  é um  sinal de pontuação utilizado para marcar, na escrita, uma pausa  (da 
fala) menor entre várias informações existentes em um texto. Para sua utilização, há regras 
que devem ser seguidas. Vejamos. 
1)  Não  se  separa  o  sujeito  do  predicado,  independente  da  extensão  do  sujeito. 
Vejamos os exemplos. 
(a) O pai auxilia o filho em suas dificuldades. 
(b) O pai dedicado auxilia o filho em suas dificuldades. 
(c) O pai dedicado e atencioso auxilia o filho em suas dificuldades. 
Nos exemplos, temos os seguintes sujeitos: em (a) o pai; em (b) o pai dedicado; em (c) 
o pai dedicado e atencioso. Em todos os casos, não há vírgula. 
2) A informação principal pode ser separada da informação complementar pela vírgula. 
Exemplo: 
Sem  notar  a  minha  presença,  ela  entrou  na  sala  à  minha  procura.  (informação 
complementar) (informação principal) 
A  menos  que  tenha  outra  sugestão,  você  pode  seguir  esse  roteiro.  (informação 
complementar) (informação principal) 
3) Termos acessórios, como o vocativo e o aposto, devem ser separados por vírgulas: 
(a) Crianças, não gritem! (vocativo) 
(b)  Luís  Inácio  Lula  da  Silva,  presidente  do  Brasil,  fez  um  pronunciamento  na  TV 
(aposto) 
4) As expressões explicativas devem ser separadas por vírgulas. 
Ele disse tudo, ou seja, a verdade. 
5) Usa­se vírgula para isolar SIM ou NÃO que indicam respostas. 
Sim, eu aceito o convite. 
6) A vírgula pode indicar elipse (omissão de um termo). 
Um disse a verdade, o outro, a mentira. (disse) 
7) Quando o adjunto adverbial é antecipado, usa­se vírgula para destacá­lo. 
Na semanapassada, todos foram à exposição. 
8) Em datas, a vírgula separa a expressão locativa. 
São Paulo, 01 de janeiro de 2007. 
9)  Algumas  conjunções,  como  as  conclusivas  e  adversativas,  são  separadas  por 
vírgulas, conforme os exemplos: 
(a) Procurei minhas chaves na sala toda, porém não a encontrei.
(b) O aluno constatou, pois, sua aprovação no vestibular. 
(c) Não estudou o suficiente; portanto, não foi aprovado. 
10) A vírgula separa orações intercaladas. 
A verdade, eu sei, é impossível ficar calada. 
11) Usa­se vírgula para separar orações reduzidas (ou nas formas nominais: gerúndio, 
particípio ou infinitivo), como nos exemplos: 
(a) Chegando ao local, avise­me. 
(b) Concluída a tarefa, recebeu os honorários. 
(c) Ao sair, bateu a porta do carro. 
12) A vírgula é usada para separar orações subordinadas adverbiais. 
(a) Quando chegou ao prédio, comunicou­me. (Or. Sub. Adv. Temporal) 
(b) Embora quisesse muito, não foi à inauguração da loja. (Or. Sub. Adv. Concessiva) 
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