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PSICOPATOLOGIA II AULA 8 – TRANSTORNOS DEPRESSIVOS Prof.ª Ceneida Ferraiuoli Paes ceneidapaes@gmail.com Transtornos do Humor ■ Aumento ou diminuição transitórios do humor, autocontrolados, não são características de doença. ■ Os pacientes com depressão ou mania relatam que seu humor vital – deprimido ou eufórico – não mais depende de seu controle: é de qualidade diferente daquelas situações normais. ■ Os indivíduos que experimentam depressão ou mania sofrem de transtorno de humor unipolar, porque seu humor permanece em um único “polo” do continuum depressão-mania usual. É raro ocorrer somente a mania (mania unipolar), pois quase todos os que sofrem de transtorno de humor unipolar tem depressão unipolar. ■ Alguém que alterne depressão e mania apresenta transtorno de humor bipolar: o humor variando de um “polo” do continuum alegria-euforia para o outro e novamente de volta. ■ A depressão e a mania se diferenciam de pessoa para pessoa no que se refere à gravidade, ao curso (ou frequência com que tendem a acontecer novamente) e, ocasionalmente, em relação a sintomas que as acompanham. Gráfico das variações normais do humor MANIA DEPRESSÃO HIPOMANIA DISTIMIA ALEGRIA TRISTEZA EUTIMIA Transtornos Depressivos ■ O DSM-5 trouxe novos diagnósticos ao capítulo dos transtornos depressivos, gerando polêmicas sobre a patologização de reações normais e a superestimativa do número de casos de depressão. ■ Fora acrescentado o transtorno disruptivo de desregulação do humor, apresentado na nova classificação americana como um diagnóstico caracterizado por um temperamento explosivo com graves e recorrentes manifestações verbais ou físicas de agressividade desproporcionais, em intensidade ou duração, à situação ou provocação. ■ Outro transtorno incluído no DSM-5 é o transtorno disfórico pré-menstrual. ■ Em relação aos diagnósticos de depressão crônica e distimia, estes foram modificados e passaram a configurar o transtorno depressivo persistente. ■ Um dos pontos que levantou maior discussão entre os profissionais da saúde mental, foi a retirada do luto como critério de exclusão do transtorno depressivo maior. Agora, com o DSM-5, torna-se possível diagnosticar com depressão mesmo àqueles que passaram pela perda de um ente querido há menos de dois anos. ■ Além da elevada prevalência, as depressões são doenças crônicas, frequentemente persistentes e incapacitantes. Cerca de metade dos deprimidos apresenta um período prodrômico antecedendo o primeiro episódio depressivo, caracterizado por sintomas ansiosos e depressivos leves. ■ Sem o tratamento adequado, um episódio leve a moderado dura de 4 a 30 semanas e um grave de 6 a 8 meses; por outro lado, episódios tratados duram, em média, 3 meses. ■ Em torno de 25% dos deprimidos recidiva dentro de 6 meses, 58% em 5 anos e 85% no período de 15 anos seguintes a uma recuperação. Além disso, deprimidos que desenvolveram 2 episódios têm 70% de chance de apresentar um terceiro e estes passam a ter o risco de 90% de nova depressão. ■ À medida que a doenças progride, o intervalo entre os episódios se encurta e a gravidade aumenta. ■ Postula-se que a depressões resultam da interação de processos biológicos, psicológicos, ambientais e genéticos ■ Do ponto de vista psicopatológico, as síndromes depressivas têm como elementos mais salientes o humor triste e o desânimo. Entretanto, elas caracterizam-se por uma multiplicidade de sintomas afetivos, instintivos e neurovegetativos, ideativos, e cognitivos. ■ Também podem estar presentes, em formas graves de depressão, sintomas psicóticos, marcante alteração da autovaloração, e da volição e da psicomotricidade. Sintomas afetivos: ➢ Tristeza, sentimento de melancolia, choro fácil e/ou frequente; ➢ Apatia (indiferença afetiva); ➢ Sentimento de falta de sentimento (“não consigo sentir mais nada”); ➢ Sentimento de tédio, de aborrecimento crônico; ➢ Irritabilidade aumentada (a ruídos, vozes, pessoas, etc.); ➢ Angústia ou ansiedade; ➢ Desespero; ➢ Desesperança. Sintomas instintivos e neurovegetativos: ➢ Anedonia (incapacidade de sentir prazer); ➢ Fadiga, cansaço fácil e constante; ➢ Desânimo, diminuição da vontade; ➢ Insônia ou hipersônia; ➢ Constipação, palidez, pele fria; ➢ Perda ou aumento do apetite; ➢ Diminuição da libido (desejo sexual) e diminuição da resposta sexual (disfunção erétil ou orgasmo retardado). Sintomas ideativos: ➢ Ideação negativa, pessimismo em relação a tudo; ➢ Ideias de arrependimento, de culpa e ruminações com mágoas antigas; ➢ Visão de mundo marcada pelo tédio (“a vida é vazia, sem sentido, nada vale a pena”.); ➢ Ideias de morte, desejo de desaparecer, dormir para sempre; ➢ Ideação, planos ou atos suicidas. Sintomas cognitivos: ➢ Déficit de atenção, concentração e memória; ➢ Dificuldade de tomar decisões; ➢ Pseudodemência depressiva. Sintomas psicóticos: ➢ Ideias delirantes de conteúdo negativo: ➢ Alucinações, geralmente auditivas, com conteúdos depressivos; ➢ Ilusões auditivas ou visuais; ➢ Ideação paranoide e outros sintomas psicóticos humor-incongruentes. • Delírio de ruína ou míseria • Delírio de culpa • Delírio hipocondríaco e/ou de negação dos órgãos • Delírio de inexistência (de si e/ou do mundo) Alterações da autovaloração: ➢ Sentimento de autoestima dimunuida; ➢ Sentimento de insuficiência, de incapacidade; ➢ Sentimento de vergonha e autodepreciação. Alterações da volição e da psicomotricidade: ➢ Tendência a permanecer na cama por todo o dia (quarto escuro, recusa de visitas, etc.); ➢ Aumento na latência entre as perguntas e as respostas; ➢ Lentificação psicomotora até o estupor; ➢ Estupor hipertônico ou hipotônico; ➢ Diminuição da fala, redução da voz, fala muito lenta; ➢ Mutismo (negativismo verbal); ➢ Negativismo (recusa à alimentação, à interação pessoal, etc.). Transtornos Depressivos – DSM-5 ■ Transtornos disruptivo da desregulação do humor ■ Transtorno depressivo maior ■ Transtorno depressivo persistente ■ Transtorno disfórico pré-menstrual ■ Transtorno depressivo induzido por substância/medicamento ■ Transtorno depressivo devido a outra condição médica ■ Outro transtorno depressivo especificado ■ Transtorno depressivo não especificado Transtorno Disruptivo da desregulação do humor ■ A característica central do transtorno disruptivo da desregulação do humor é a irritabilidade crônica grave. ■ Essa irritabilidade grave apresenta duas manifestações clínicas proeminentes: I. As frequentes explosões de raiva. Essas explosões tipicamente ocorrem em resposta à frustração e podem ser verbais ou comportamentais (estas últimas na forma de agressão contra propriedade, si mesmo ou outros). Elas devem ocorrer com frequência (em média três ou mais vezes por semana) por pelo menos um ano em pelo menos dois ambientes, como em casa e na escola, e devem ser inapropriadas para o desenvolvimento II. Humor persistentemente irritável ou zangado que está presente entre as explosões de raiva. Esse humor irritável ou zangado deve ser característico da criança, estando presente na maior parte do dia, quase todos os dias, e ser observável por outras pessoas no ambiente da criança. ■ O início do transtorno disruptivo da regulação do humor deve ser antes dos 10 anos, e o diagnóstico não deve ser aplicado a crianças com uma idade desenvolvimental de menos de 6 anos. Não é sabido se a condição se apresenta somente dessa forma delimitada pela idade. ■ Como os sintomas do transtorno disruptivo da desregulação do humor provavelmente se modificam à medida que a criança cresce, o uso do diagnóstico deve ser restringido a faixas etárias similares àquelas em que a validade foi estabelecida (7 a 18 anos), ou seja, o diagnóstico não deve ser feitoantes dos 6 anos ou após os 18 anos de idade. ■ Aproximadamente metade das crianças com irritabilidade grave crônica terá uma apresentação que continua a satisfazer os critérios para a condição um ano mais tarde. As taxas de conversão de irritabilidade grave não episódica em transtorno bipolar são muito baixas. Em vez disso, as crianças com irritabilidade crônica estão em risco de desenvolver transtornos depressivos unipolares e/ou ansiedade na idade adulta. Transtorno depressivo maior ■ Para a realização do diagnóstico, uma série de sintomas deve estar presentes. Independente da gravidade da depressão, é importante identificar, dentre as manifestações clínicas, três aspectos nucleares: I. Humor depressivo e/ou falta de interesse e motivação com prejuízo da capacidade hedônica; II. Queda do ânimo ou fadiga, devida à redução nos níveis de energia; III. Lentificação psicomotora. ■ Os sintomas dos critérios para transtorno depressivo maior devem estar presentes quase todos os dias para serem considerados presentes, com exceção de alteração do peso e ideação suicida. ■ A tristeza pode ser negada inicialmente, mas pode ser revelada por meio de entrevista ou inferida pela expressão facial e por atitudes. ■ Com os indivíduos que focam em uma queixa somática, os clínicos devem determinar se o sofrimento por essa queixa está associado a sintomas depressivos específicos. Fadiga e perturbação do sono estão presentes em alta proporção de casos; perturbações psicomotoras são muito menos comuns, mas são indicativas de maior gravidade geral, assim como a presença de culpa delirante ou quase delirante. ■ Em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável em vez de triste. ■ A perda de interesse ou prazer quase sempre está presente, pelo menos em algum grau. Os indivíduos podem relatar menor interesse por passatempos, “não se importar mais” ou falta de prazer com qualquer atividade anteriormente considerada prazerosa. Os membros da família com frequência percebem retraimento social ou negligência de atividades prazerosas (p. ex., um indivíduo que antes gostava de futebol encontra desculpas para não praticá-lo). Em alguns indivíduos, há redução significativa nos níveis anteriores de interesse ou desejo sexual. ■ As alterações no apetite podem envolver redução ou aumento. Alguns indivíduos deprimidos relatam que precisam se forçar para se alimentar. Outros podem comer mais ou demonstrar avidez por alimentos específicos (p. ex., doces ou outros carboidratos). Quando as alterações no apetite são graves (em qualquer direção), pode haver perda ou ganho significativos de peso. ■ Muitos indivíduos relatam prejuízo na capacidade de pensar, concentrar-se ou tomar decisões. Essas pessoas podem mostrar-se facilmente distraídas ou queixar-se de dificuldades de memória. Os indivíduos com atividades acadêmicas ou profissionais com frequência são incapazes de funcionar de forma adequada. Transtorno depressivo persistente (Distimia) ■ A característica essencial do transtorno depressivo persistente (distimia) é um humor depressivo que ocorre na maior parte do dia, na maioria dos dias, por pelo menos dois anos, ou por pelo menos um ano para crianças e adolescentes. ■ Depressão maior pode preceder o transtorno depressivo persistente, e episódios depressivos maiores podem ocorrer durante o transtorno depressivo persistente. ■ Os indivíduos cujos sintomas satisfazem os critérios para transtorno depressivo maior por dois anos devem receber diagnóstico de transtorno depressivo persistente, além de transtorno depressivo maior. ■ Durante o período de dois anos (um ano para crianças ou adolescentes), qualquer intervalo livre de sintomas dura não mais do que dois meses. Transtorno dismórfico pré-menstrual ■ As características essenciais do transtorno disfórico pré-menstrual são a expressão de labilidade do humor, irritabilidade, disforia e sintomas de ansiedade que ocorrem repetidamente durante a fase pré-menstrual do ciclo e remitem por volta do início da menstruação ou logo depois. ■ Os sintomas podem ser acompanhados de sintomas comportamentais e físicos. Devem ter ocorrido na maioria dos ciclos menstruais durante o último ano e ter um efeito adverso no trabalho ou no funcionamento social. ■ A intensidade e/ou expressividade dos sintomas acompanhados podem estar intimamente relacionadas a características do grupo social e cultural da mulher afetada, a perspectivas familiares e a fatores mais específicos, como crenças religiosas, tolerância social e questões do papel de gênero feminino. ■ Em geral, os sintomas atingem seu auge perto do momento de início da menstruação. Embora não seja incomum perdurarem até os primeiros dias da menstruação, a mulher deve ter um período livre de sintomas na fase folicular depois que inicia o período menstrual. Prepara a pipoca ■ À beira da loucura ■ O Estranho em mim ■ The Babadook ■ Garota interrompida ■ As faces de Helen ■ As virgens suicidas ■ Um novo despertar ■ Beleza oculta ■ Geração Prozac ■ Melancolia ■ Reine sobre mim ■ Ela ■ A liberdade é azul Referências e sugestões de leitura ■ ARAÚJO, A.C..; NETO, F.L. A nova classificação americana para os transtornos mentais: o DSM-5. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. Vol. XVI, n.1, 2014. p. 67-82. ■ ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento et al.; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli et al. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. ■ BARLOW, D.H.; DURAND, V.M. Psicopatologia: uma abordagem integrada. São Paulo: Cengage Learning, 2010. ■ DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. ■ MORENO, D. H.; DEMÉTRIO, F. N.; MORENO, R. A. Depressão. In: MIGUEL, E. C. et. al. Clínica Psiquiátrica. Barueri, SP: Manole, 2011.