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1 2 Governador João Doria Secretário da Educação Rossieli Soares Secretário Executivo Haroldo Corrêa Rocha Coordenadoria de Gestão da Educação Básica - CGEB Caetano Siqueira Departamento de Desenvolvimento Curricular e de Gestão da Educação Básica – DEGEB Valeria Arcari Muhi Centro do Ensino Fundamental dos Anos Finais - CEFAF Carolina Dos Santos Batista Centro do Ensino Médio – CEM Ana Joaquina Simões Sallares de Mattos Carvalho 3 Ao realizar as atividades que seguem, você desenvolverá habilidades que o auxiliarão a compreender a relação entre a literatura brasileira, a modernidade e o Modernismo no Brasil, a reconhecer as variações linguísticas presentes em uma língua, assim como a produzir um artigo de opinião. Desta forma, veremos os diferentes contextos que envolvem os seguintes tópicos: • literatura brasileira - Modernismo; • estudo de recursos morfológicos, estilísticos e semânticos relacionados à variação linguística; • o planejamento da escrita de um Artigo de Opinião, atentando, principalmente, para os elementos objetos de estudo. • revisão e autocorreção da produção textual escrita. 4 SUMÁRIO 1ª Série – Ensino Médio...........................................................05 2ª Série – Ensino Médio...........................................................23 3ª Série – Ensino Médio...........................................................38 5 1ª Série – Ensino Médio Atividade 1- Prática de Leitura e Escrita 1- Você lerá o poema: “Quem conta um ponto, aumenta um conto”. Poemas abordam apenas questões sentimentais ou há possibilidade de apresentar outros temas? Dê exemplos. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 2- O enunciado do poema faz você lembrar-se de qual ditado popular? Escreva o que ele significa de acordo com a sua interpretação. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Atividade 2- Prática de Oralidade Leia o tema do debate e discuta com seus colegas: DEBATE: “Quem conta um conto, aumenta um ponto” Qual reflexão filosófica este provérbio convoca? Ele pode causar dano à vida em sociedade? Por que e em quais situações? Você concorda ou discorda deste provérbio? Por quê? Ampliando e enriquecendo as ideias: leia o diálogo e o poema para continuar o debate e realizar as atividades. 6 QUEM CONTA UM PONTO, AUMENTA UM CONTO Daniel Carvalho Nhani “Quem conta um conto, Aumenta um ponto” Dizia minha avó Quando ouvia de nós Qualquer coscuvilhice Eu não compreendia O que minha avó dizia Algum tempo passou E a vivência mostrou O seu significado Eu inocente pensava Que na história contada Alguém um detalhe inventava E ninguém com isso ganhava Depois rápido aprendi Que pleitos por aqui Se vencem aumentando um ponto Que depois vira um conto A coscuvilhice modernizou Em fakenews se transformou O conto virou E o virou bordão Se minha avó viva estivesse Eu logo explicaria Que um conto não é uma história E o ponto não é uma mentira 7 Atividade 3- Prática de Leitura, Escrita e Análise Linguística 1- Após o debate e a leitura do poema “Quem conta um ponto, aumenta um conto”, Provérbio Chinês e da afirmação de Leonardo Boff, responda: a) O que os conceitos lidos têm em comum? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ b) O que você aprendeu com eles e de que forma estes conhecimentos podem auxiliá-lo em sua convivência social? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 2- Identifique, no poema, palavras que terminam com o mesmo som e escreva- as abaixo: Rimas são repetições dos sons no final de dois ou mais versos. Sons que podem ser iguais, idênticos ou parecidos. Estrofe é o conjunto de dois ou mais versos que apresentam, geralmente, sentido completo. Verso é cada linha do poema. 8 3- Observe o trecho retirado do poema. Qual a sua interpretação para esses versos? Depois rápido aprendi Que pleitos por aqui Se vencem aumentando um ponto Que depois vira um conto _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 4- Observe outro trecho retirado do poema e responda: Eu inocente pensava Que na história contada Alguém um detalhe inventava E ninguém com isso ganhava a) Há desvio da norma padrão? Caso exista, qual o tipo de desvio está presente? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ b) No verso: “ninguém com isso ganhava”, esta afirmação mudou no contexto do poema? Comprove sua resposta com partes dele. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 9 5- O que o autor, que antes era inocente, conseguiu entender agora já adulto? Justifique. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 6- Sobre o significado das palavras, você compreendeu, diante do contexto, o que quer dizer “coscuvilhice”? Se não, procure no dicionário e escreva abaixo. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 7- Leia o trecho retirado do poema e responda: O conto virou E o virou bordão a) Qual o propósito dos símbolos aos versos? _______________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________ b) É possível afirmar que símbolos e palavras rimam? Justifique sua resposta. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 10 c) Escreva os possíveis significados das palavras: Ponto: _________________________________________________________ Conto: _________________________________________________________ Atividade 4- Prática de Leitura, Escrita e Análise Linguística 1- Faça a leitura dos quadros a seguir. Fonte: https://www.google.com/search?hl=pt-BR&authuser=0&q=Dicion%C3%A1rio#dobs=prov%C3%A9rbio. Acesso em: 03 2019. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ditado_popular. Acesso em: 03 mai. 2019. 2- Ambos os quadros são considerados textos expositivos, pois apresentam um conceito ou uma ideia. Responda: a) Qual a diferença entre eles, que conceito ambos veiculam e de que forma o texto é apresentado em cada um? Ditado popular ou provérbio ou ainda adágio é uma frase do popular, com um texto mínimo de autor desconhecido que é várias vezes repetido e se baseia no senso comum de um determinado meio cultural, como por exemplo: “antes ele do que eu”. Ditados tornam-se expressões comuns e se mantêm imutáveis através dos anos, constituindo uma parte importante de cada cultura. Quadro 1 Provérbio substantivo masculino 1. frase curta, ger. de origem popular, freq. com ritmo e rima, rica em imagens, que sintetiza um conceito a respeito da realidade ou uma regra social ou moral (p.ex.: Deus ajuda a quem madruga) 2. na Bíblia, pequena frase que visa aconselhar, educar, edificar; exortação, pensamento, máxima. "Livro dos Provérbios" Quadro 2 Polissemia é a propriedade que uma mesma palavra tem de apresentar mais de um significado nos múltiplos contextos em que aparece. 11 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ b) A qual gênero pertence o texto presente em cada quadro? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ c) Na sua opinião, o quadro 1 informa mais ou melhor que o quadro 2? Explique. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 3- Você lerá o texto “Comunicação Pós-Moderna”. O que esse título possibilita imaginar? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 12 COMUNICAÇÃO PÓS-MODERNA Daniel Carvalho Nhani Paulo sai de casa todos os dias às 6 horas, toma banho, se troca, escova os dentes e vai para o trabalho. Fernanda faz quase o mesmo, a diferença é que todos os dias ela leva nas mãos uma pequena sacola, onde carrega seu almoço e algumas frutas. Ambos fazem quase o mesmo trajeto diariamente, pegam o mesmo trem, lotado, no mesmo horário, quinze para as sete! Ela, mesmo com a sacola em uma das mãos, utiliza o smartphone com a outra, entretida. Ele, com um grande fone de ouvido, que lhe tapa sobremaneira a lateral do rosto, faz o mesmo, ela parece conversar com alguém, ele assiste a um vídeo através de um famoso aplicativo para celulares. Depois de algum tempo dentro do transporte público Paulo e Fernanda descem na mesma estação, às vezes até pela mesma porta, e seguem cada um para seu local de trabalho, junto a uma pequena multidão que compartilham do mesmo trajeto, hábitos matinais, todos com olhos, ouvidos e mentes voltados para o aparelho, seja dentro ou fora do vagão. O rapaz é estagiário em uma empresa de telecomunicações e a moça uma executiva na área de finanças, assim como Suelen, Marcos, Seu José e Dona Maria que têm suas próprias profissões e que desceram na mesma estação naquele dia nublado de quinta-feira. Se Fernanda e Paulo um dia se conhecerão é impossível prever, se perderem o celular ou ele quebrar talvez se conheçam. Caso o trem descarrilar, obrigando as pessoas a se ajudarem, eles, fatalmente, não se conhecerão!? 13 4- Ao ler o texto, suas impressões foram confirmadas? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 5- De que forma ocorreu a comunicação entre os personagens do texto? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 6- A dupla pontuação (!?), no final do texto, sugere o quê? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 7- Quais palavras foram utilizadas para retomar os nomes dos protagonistas da narrativa? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 8- Quais as características da crônica presentes no texto “Comunicação Pós- Moderna”? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 14 9- O que sugeriu o autor ao utilizar o termo pós-moderno? Explique. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 10- Observe o trecho e responda: “Paulo sai de casa todos os dias às 6 horas, toma banho, se troca, escova os dentes e vai para o trabalho...” a) O que sugere a sequência de verbos? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ b) O texto apresenta uma sequência lógicade tempos verbais, em qual ordem aparecem? Comprove com partes do texto. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 11- O que sugere a escolha da palavra “fatalmente” no final do texto? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 12- Como o celular é mostrado ou retratado no texto? 15 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Atividade 5- Folheto Folhetos são impressos que têm por finalidade dar informação ao público, geralmente, sobre eventos e podem informar data, local, horário etc. Sofrem variações no que se refere à diagramação, design, quantidade de informação. Seu objetivo principal é chamar a atenção das pessoas e divulgar informações fundamentais do evento ao qual se refere. 1- Observe o folheto a seguir e responda: a) Qual o objetivo do conteúdo do folheto? 16 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ b) Qual o público alvo? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ c) É possível afirmar que existe ironia no folheto? Justifique. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ d) Há palavras ou outros sinais comuns ao universo virtual? Escreva quais são e o objetivo de serem utilizados no texto. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ e) Por que os pais vão adorar e não os jovens? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 17 f) Você participaria desta festa? Justifique. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ g) Há características do texto prescritivo? Comprove com partes do folheto. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Atividade 6- Fábula 1- Leia a fábula a seguir e responda: DONA CONCEIÇÃO E O SENHOR JOAQUIM Daniel Carvalho Nhani Em uma famosa capoeira na região do Médio Tejo, o Senhor Galo e a Senhora Galinha debatiam, avidamente, um assunto deveras sensível: “Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?” O animal heráldico estava consumido em sua raiva, pois ao discordar de sua posição a vultuosa Palheirinha o chamara de “frango”. Fábula: é uma composição literária em que os personagens são animais que apresentam características humanas, tais como a fala, os costumes etc. Estas histórias são geralmente feitas para crianças e terminam com um ensinamento moral de caráter instrutivo. Fonte: https://www.significados.com.br/fabula/ Acesso em: 10 maio 2019 18 - Pois vejas cá, Dona Conceição, me chamares frango em nada mudará, pois perdes nos teus argumentos e me miras com teus desaforos. - Chamei-te frango porque estavas a fazer diabruras enquanto eu deitava meus argumentos sobre o assunto, a propósito reafirmo: nasceu primeiro a galinha! - Não senhora, nasceu primeiro o ovo e vou provar, pois digo que: Uma nova descoberta aponta que a galinha veio primeiro. Segundo os cientistas, a formação da casca do ovo depende de uma proteína que só é encontrada nos ovários deste tipo de ave. Portanto, o ovo só existiu depois que surgiu a primeira galinha. A proteína, chamada ovocledidin-17 (OC-17), atua como um catalisador para acelerar o desenvolvimento da casca. A sua estrutura rígida é necessária para abrigar a gema e seus fluidos de proteção enquanto o filhote se desenvolve lá dentro. A descoberta foi revelada no documento "Structural Control of Crystak Nucleo by Eggshell Protein", que em tradução livre quer dizer: Controle Estrutural de Núcleo de Cristais pela Proteína da Casca do Ovo. Na pesquisa foi utilizado um supercomputador para visualizar de forma ampliada a formação de um ovo. A máquina, chamada de HECToR, revelou que a OC-17 é fundamental no início da formação da casca. Essa proteína é quem transforma o carbonato de cálcio em cristais de calcita, que compõe a casa do ovo. Dr. Colin Freeman, do Departamento de Engenharia Material da Universidade de Sheffield, constatou: "há muito tempo se suspeita que o ovo veio primeiro, mas agora temos a prova científica de que, na verdade, a galinha foi a percussora." - Terminaste tua ladainha, Senhor Joaquim? Pois agora provarei o contrário: “Graças à genética moderna, podemos ter certeza de que o ovo veio antes. As mutações que separam uma nova espécie de seus pais geralmente ocorrem no DNA reprodutivo, presente em óvulos e espermatozóides. É isso que dá origem a novas espécies.” 19 - Quem disse isso foi Christopher Langan, um autodidata americano tido como “homem mais inteligente dos EUA”, com QI de 195 pontos, e queres discordar de meus argumentos, Sr. Joaquim? Pois continuarei: - Já John Brookfield, especialista em genética da evolução da Universidade de Nottingham, na Inglaterra afirmou que: “Quando a galinha ainda era um ovo, ainda assim ela era da espécie Gallus gallus. Portanto, a primeira forma de vida dessa espécie teria que ser um ovo.” - Mas, Dona Conceição, deixe-me concluir. - Ainda não terminei meus argumentos, oras, gajo, espere que direi agora o que David Papineau, especialista em filosofia da ciência do King’s College de Londres, na Inglaterra disse: “Mesmo que o pássaro que deu origem ao ovo de galinha não fosse uma galinha, o correto é dizer que o ovo veio primeiro. Se um canguru botasse um ovo e dele saísse um avestruz, o ovo seria de avestruz, não de canguru”. - Discordo de tudo que a senhora pontuou, Dona Conceição. - Então derrube os argumentos que ofereci. - Derrube a senhora os meus se puder! - Pois o Senhor és um frango! - E a senhora uma maricota!Após a discussão ambos abandoram o recinto e seguiram para seus respectivos puleiros, ainda hoje ninguém resolveu essa peleja entre os dois e nem quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? Fonte da Dona Conceição: https://super.abril.com.br/historia/quem-nasceu-primeiro-o-ovo-ou- a-galinha/. Acesso em: 10 maio 2019 Fonte do Senhor Joaquim: https://www.terra.com.br/noticias/educacao/voce-sabia/quem- nasceu-primeiro-o-ovo-ou-a galinha,0908859fd53ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html . Acesso em: 10 maio 2019 a) Qual a moral da história? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 20 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ b) O texto apresenta quais tipos de argumentos? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ c) Há a presença de características do texto dramático? Comprove com partes do texto. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ d) É possível saber o lugar onde ocorrem os fatos? Justifique. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ e) O texto “A Dona Conceição e o Senhor Joaquim” possui diversas características de tipos e gêneros textuais. Escreva quais são, exemplificando com partes do texto. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 21 f) Há palavras, expressões e marcas linguísticas no texto que remetem ao português falado em Portugal, escreva em quais trechos do texto isto se comprova. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Atividade 7- Prática de Escrita - Resumo 1- Faça um resumo do texto “Dona Conceição e o Senhor Joaquim”. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Resumo: é um texto redigido de forma clara e objetiva, que apresenta as ideias principais do autor do texto. 22 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 23 2ª Série – Ensino Médio Atividade 1 Discussão Oral 1. O que você conhece sobre o gênero poema? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 2. Você se lembra de algum poema? Comente com a classe. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 3. Você acha que poemas tratam apenas de amor? Considerando os poemas comentados, quais outras temáticas foram contempladas? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 4. Realize uma leitura silenciosa do fragmento intitulado “A Canção do Africano”, procurando identificar a ideia central. Texto 1 A Canção do Africano Lá na úmida senzala, 24 Sentado na estreita sala, Junto ao braseiro, no chão, Entoa o escravo o seu canto, E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torrão... De um lado, uma negra escrava Os olhos no filho crava, Que tem no colo a embalar... E à meia voz lá responde Ao canto, e o filhinho esconde, Talvez p’ra não o escutar! “Minha terra é lá bem longe, Das bandas de onde o Sol vem; Esta terra é mais bonita, Mas à outra eu quero bem! O Sol faz lá tudo em fogo, Faz em brasa todaa areia; Ninguém sabe como é belo Ver de tarde a papa-ceia1! Aquelas terras tão grandes, Tão compridas como o mar, Com suas poucas palmeiras Dão vontade de pensar... Lá todos vivem felizes, Todos dançam no terreiro; A gente lá não se vende Como aqui, só por dinheiro.” 1 Estrela d’alva, estrela da tarde, o planeta Vênus. 25 O escravo calou a fala, Porque na úmida sala O fogo estava a apagar; E a escrava acabou seu canto, P’ra não acordar com o pranto O seu filhinho a sonhar! O escravo então foi deitar-se, Pois tinha de levantar-se Bem antes do Sol nascer, E se tardasse, coitado, Teria de ser surrado, Pois bastava escravo ser. E a cativa desgraçada Deita seu filho, calada, E põe-se triste a beijá-lo, Talvez temendo que o dono Não viesse, em meio do sono, De seus braços arrancá-lo Recife, 1863. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000074.pdf>. Acesso em: 07 de fev. 2019. 5. Após a leitura, discuta com seus colegas, sobre o tema identificado no poema. Por que é possível dizer que este poema é de denúncia social? _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ Castro Alves é um representante da 3ª geração do Romantismo, autor de obras de cunho social, dentre elas “O Navio Negreiro”, poema épico dramático, significativo, pela marcante denúncia da sociedade do século XIX. 26 _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ 6. Em quais versos do poema fica evidenciada a denúncia social? A questão denunciada no século XIX persiste até os dias de hoje? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 7. A linguagem utilizada, a presença de rimas e de adjetivos contribuem para o tom lamurioso do poema A Canção do Africano. Retire do texto exemplos que demonstrem esse tom. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 8. Releia a primeira e a terceira estrofes. Qual sentimento é expresso pelo escravo? Justifique sua resposta com versos. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 9. Ao longo do poema, o autor emprega palavras e expressões que se referem à terra de onde o escravo veio e à terra onde ele se encontra. a) Identifique onde elas aparecem na segunda estrofe e transcreva-as abaixo. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 27 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ b) Na quinta estrofe, a referência a essas terras é feita pelo emprego de advérbios. Copie-os. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 10. Em qual estrofe há referência ao trabalho escravo? Identifique-a e comente. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ A fim de contextualizar a temática sobre o trabalho escravo, nos dias de hoje e ampliar seu repertório para o momento de discussão oral, indicamos os links abaixo: Disponível em: <https://veja.abril.com.br/tveja/em-pauta/caso-fazenda-brasil- verde-16-anos-de-escravidao/> Acesso em: 13 fev. 2019. Disponível em: <https://noticias.r7.com/brasil/governo-busca-vitimas-de- trabalho-escravo-da-fazenda-brasil-verde-18082018>. Acesso em: 13 de fev. 2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2018/10/19/nove- pessoas-submetidas-a-trabalho-escravo-sao-resgatadas-em-carvoaria.ghtml>. Acesso em: 13 de fev. 2019. 28 Discussão Oral Alguns trabalhadores, hoje em dia, por extrema necessidade submetem-se a condições subumanas, como por exemplo: alojamento inadequado, alimentação precária, carga horária exaustiva sem pagamentos de horas extras, baixos salários etc. Com a mediação do professor, realize uma discussão com seus colegas, considerando o estudo do poema e a leitura dos textos sugeridos. Atividade 2 Introdução ao Romantismo Leia a nota abaixo: Para saber mais Pesquise sobre o Romantismo brasileiro: suas principais características e autores. Faça um levantamento sobre as personagens femininas presentes nas obras românticas, no que se refere aos aspectos físicos, psicológicos, seu papel social. Destaque trechos em que eles se evidenciam, para comparar o perfil feminino do século XIX representado nas obras da época, com o perfil das mulheres do século XXI. Sobre Sobre o autor José de Alencar foi jornalista, dramaturgo, advogado, político e escritor brasileiro. Representou, com maestria, o romantismo brasileiro, produzindo romances indianistas, regionalistas e urbanos. O Romantismo iniciou-se em 1836, logo após a independência política do Brasil, sendo influenciado pelos ideais da Revolução Francesa e da Independência dos Estados Unidos, contrapondo-se ao colonialismo português, buscando uma identidade nacional. Este movimento literário foi dividido em três diferentes gerações, sendo a primeira conhecida como Nacionalista/Indianista, a segunda como Ultrarromântica e a terceira, Condoreira. 29 A seguir, você lerá dois trechos de obras do século XIX. Portanto, é possível, que se depare com palavras e expressões desconhecidas ou que não sejam comuns nos dias de hoje. Destaque tais termos e, a partir do contexto, procure inferir seu significado. Leia o trecho abaixo, retirado da obra “Senhora”, de José de Alencar: Texto 1 Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela. Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro; foi proclamada a rainha dos salões. Tornou-se a deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade. Era rica e formosa. Duas opulências, que se realçam como a flor em vaso de alabastro; dois esplendores que se refletem, como o raio de sol no prisma do diamante. Quem não se recorda da Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da Corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira o seu fulgor? Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram todos com avidez informações acerca da grande novidade do dia. Dizia-se muita coisa que não repetirei agora, pois a seu tempo saberemos a verdade, semos comentos malévolos de que usam vesti-la os noveleiros. Aurélia era órfã; e tinha em sua companhia uma velha parenta, viúva, D. Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade. [...] Disponível em:<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000011.pdf >. Acesso em: 12 de fev. 2019 Leia o trecho a seguir, retirado da obra “Iracema”, de José de Alencar 30 Texto 2 [...] Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto. Iracema saiu do banho: o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão. Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela e todo a contemplá-la está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem- lhe o corpo. Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d’alma que da ferida. O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara. A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida: deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a 31 ponta farpada. O guerreiro falou: — Quebras comigo a flecha da paz? — Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu? — Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus. — Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e à cabana de Araquém, pai de Iracema. [...] Disponível em:<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000014.pdf>. Acesso em: 12 de fev. 2019 Após a leitura, consulte no dicionário as palavras desconhecidas que você destacou, para checar as hipóteses levantadas. Transcreva apenas o significado que se relaciona ao contexto. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Entrelaçando os textos 1. A produção literária da 1ª e 2ª gerações românticas, do século XIX, destacou a mulher como figura idealizada. Identifique nos trechos retirados das obras “Senhora” e “Iracema”, características que comprovem essa afirmação. Comente. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 2. No trecho da obra “Senhora”, o que é possível identificar quanto ao perfil da personagem Aurélia, por meio de sua descrição? 32 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 3. A obra “Iracema” foi escrita em prosa, utilizando uma linguagem predominante do texto poético. Cite alguns trechos que comprovem a presença destes elementos: sonoridade, ritmo, rima, adjetivação. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 4. No excerto: “Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado”. Quais figuras de linguagem aparecem neste trecho? (A) Pleonasmo e antítese; (B) Eufemismo e hipérbole; (C) Metonímia e antítese; (D) Metáfora e comparação; (E) Catacrese e metonímia. 33 5. No trecho da obra “Senhora”, as figuras de linguagem metáfora e comparação estão presentes. Transcreva-as abaixo: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Atividade 3 Produção Escrita Planejando a escrita No século XIX, os casamentos por interesse e aqueles arranjados pela família eram muito comuns. Nos dias atuais, essas práticas não são tão recorrentes, porém, ainda ocorrem. Diante disso, para ampliar seu repertório a respeito do assunto e contribuir com sua produção escrita, leia os textos de apoio, destacando os aspectos relevantes. Para orientar sua leitura, reflita e discuta com seus colegas: 1. Qual a sua opinião em relação ao casamento por interesse financeiro, de poder, por status ou prestígio social? Comente. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 34 2. Você acredita que se não há dinheiro, não há amor? Por quê? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ✓ Retome a pesquisa realizada no início da Atividade 2 e reúna os registros feitos no processo de leitura e discussão, a fim de selecionar argumentos que contribuam para a formação de sua opinião.✓ Considerando todo o contexto, você produzirá um projeto de texto para um artigo de opinião, com a seguinte questão polêmica: Todo relacionamento envolve algum tipo de interesse? ✓ Para auxiliá-lo na sua produção, complete o esquema abaixo: Textos de apoio Texto 1 - Casamento é negócio. Amor é supérfluo. Disponível em: <https://papodehomem.com.br/casamento-e-negocio-amor-e-superfluo/>. Acesso em: 10 de maio 2019. Texto 2 - Artigo – Casamento por interesse financeiro. Disponível em: <https://tj- pe.jusbrasil.com.br/noticias/100626023/artigo-casamento-por-interesse>. Acesso em: 10 de maio 2019. 35 Questão polêmica: Todo relacionamento envolve algum tipo de interesse? Tese (seu posicionamento) Argumento 1 - Defesa da posição Argumento 2 - Defesa da posição Conclusão 36 Produzindo um Artigo de Opinião Revisando o Artigo de Opinião Após a produção do texto, revise-o e, se necessário, reescreva-o. Seguem algumas dicas para apoiá-lo nesta etapa de revisão: ✓ O título está adequado ao assunto? ✓ Atendeu ao contexto de produção, considerando: • gênero; • público-alvo; • lugar onde vai circular; • posição social do autor. ✓ Elementos estruturais do texto: • Posicionou-se claramente frente à questão polêmica? • Os argumentos estão desenvolvidos para defesa de seu ponto de vista? • Concluiu o texto retomando o posicionamento assumido na tese? ✓ Análise linguística: • Empregou a linguagem adequada ao gênero? • Atendeu às normas de convenção da escrita? • Utilizou organizadores textuais (conjunções, advérbios e locuções) para articular os argumentos entre si? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Contexto de produção Assuma o papel de um articulista para escrever um Artigo de Opinião, posicionando-se a respeito da questão polêmica Todo relacionamento envolve algum tipo de interesse? Seu texto será publicado num blog com objetivo de promover reflexões sobre os temas tratados, oferecendo conteúdo diversificado, gratuito e relevante para seus leitores. 37 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 38 3ª Série – Ensino Médio Atividade 1 – A MODERNIDADE E O MODERNISMO NO BRASIL I- O Modernismo e o Movimento modernista 1- Leitura Inicial Lundu do escritor difícil Mário de Andrade Eu sou um escritor difícil Que a muita gente enquizila, Porém essa culpa é fácil De se acabar duma vez: É só tirar a cortina Que entra luz nesta escurez. Cortina de brim caipora, Com teia caranguejeira E enfeite ruim de caipira, Fale fala brasileira Que você enxerga bonito Tanta luz nesta capoeira Tal-e-qual numa gupiara. Misturo tudo num saco, Mas gaúcho maranhense Que para no Mato Grosso, Bate este angu de caroço Ver sopa de caruru; A vida é mesmo um buraco, Bobo é quem não é tatu! Eu sou um escritor difícil, Porém culpa de quem é!... Todo difícil é fácil, Abasta a gente saber. Bagé, pixé, chué, ôh “xavié” De tão fácil virou fóssil, O difícil é aprender! Virtude de urubutinga De enxergar tudo de longe! Não carece vestir tanga Pra penetrar meu caçanje! Você sabe o francês “singe” Mas não sabe o que é guariba? - Pois é macaco, seu mano, Que só sabe o que é da estranja. 39 ANDRADE, Mário de. “Lundu do escritor difícil”. In: Revista de Antropofagia, São Paulo, Ano I, nº 7, p.3, nov. 1928. Disponível em: <https://digital.bbm.usp.br/bitstream/bbm/7064/1/45000033273.pdf.>. Acesso em: 11 de abr. 2019. Vocabulário Enquizila – incomoda, importuna Escurez – escuridão, ausência de luz Gupiara – depósito de cascalho em regiões elevadas Caruru – tipo de planta utilizado na culinária Urubutinga – grande urubu de cabeça e pescoço nu Caçanje – pejorativamente, o português falado ou escrito errado Singe – palavra da língua francesa para macaco, primata Guariba – bugio, nome comum que se dá no Brasil a todas as espécies de primatas Estranja – conjunto de países estrangeiros 2- O poema de Mário de Andrade apresenta uma reflexão sobre a criação de uma expressão literária brasileira, envolvendo questões que passam pela busca e imitação de modelos estrangeiros, pelo desconhecimento da Língua Portuguesa utilizada no Brasil e pela construção da identidade nacional. Releia o poema, responda: a) O que é “lundu”? Quais as prováveis intenções do autor ao utilizar essa palavra para compor o título de seu poema? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ b) No primeiro verso, o eu lírico se coloca na posição de um escritor que incomoda muita gente. A partir do que é apresentado nas demais estrofes, por que isso acontece? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 40 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ c) Qual o motivo da palavra “xavié” vir entre aspas e as palavras bagé, pixé e chué não? _______________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________ d) Qual o tema principal tratado por Mário de Andrade? O que Mário de Andrade critica com seu poema? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ e) Sobre a estrutura do poema, qual a métrica utilizada? Qual a intenção do autor ao fazer essa escolha? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ f) Em se tratando das características do português do Brasil, de que forma podemos entender os versos: “Todo difícil é fácil,/ Abasta a gente saber./ Bagé, pixé, chué, ôh “xavié”/ De tão fácil virou fóssil...”? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ g) Qual o esquema de rimas do poema? Há uma regularidade? Sabendo se tratar de um poema modernista, que inferência podemos fazer? 41 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ II- O Movimento Modernista: das influências a sua divulgação O texto de Mário de Andrade, analisado acima, foi publicado na Revista de Antropofagia em 1928. A divulgação das ideias modernistas acontecia com a publicação das obras, por intermédio de revistas artísticas que traziam não apenas textos sobre a arte moderna, mas também poemas, trechos de contos, romances, propagandas de eventos etc. Autores como Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Menotti del Picchia, Graça Aranha, Carlos Drummond de Andrade são alguns expoentes desse momento. Pesquisa: a) Já discutimos a importância dos movimentos de vanguarda e a maneira como influenciaram o Modernismo no Brasil. Retomando essas discussões, no que consistiu o período chamado Belle Époque, entre o final do século XIX e início do século XX na Europa? b) Nesse contexto de inovações, o que foi a “Semana de Arte Moderna” ocorrida entre 11 e 18 de fevereiro de 1922? O que ela representou em se tratando da busca por uma identidade nacional? c) Além da Revista da Antropofagia, quais as outras criadas pelos Modernistas? Onde e quando foram publicadas? Quais os seus principais colaboradores? III- A Revista de Antropofagia Leia o texto de abertura do primeiro número da Revista de Antropofagia. A seguir, responda às questões. 42 Abre-alas Nós éramos xifópagos. Quase chegamos a ser deródimos. Hoje somos antropófagos. E foi assim que chegamos à perfeição. Cada qual com o seu tronco, mas ligados pelo fígado (o que quer dizer pelo ódio) marchávamos numa só direção. Depois houve uma revolta. E para fazer essa revolta nos unimos ainda mais. Então formamos um só tronco. Depois o estouro: cada um de seu lado. Viramos canibais. Aí descobrimos que nunca havíamos sido outra cousa. A geração atual coçou-se: apareceu o antropófago. O antropófago: nosso pai, princípio de tudo. Não o índio. O indianismo é para nós um prato de muita sustância. Como qualquer outra escola ou movimento. De ontem, de hoje e de amanhã. Daqui e de fora. O antropófago come o índio e come o chamado civilizado: só ele fica lambendo os dedos. Pronto para engolir os irmãos. Assim a experiência moderna (antes: contra os outros; depois: contra os outros e contra nós mesmos) acabou despertando em cada conviva o apetite de meter o garfo no vizinho. Já começou a cordial mastigação. Aqui se processará a mortandade (esse carnaval). Todas as oposições se enfrentarão. Até 1923 havia aliados que eram inimigos. Hoje há inimigos que são aliados. A diferença é enorme. Milagres do canibalismo. No fim sobrará um Hans Staden. Esse Hans Staden contará aquilo de que escapou e com os dados dele se fará a arte próxima futura. É, pois, aconselhando as maiores precauções que eu apresento ao gentio da terra e de todas as terras a libérrima REVISTA DE ANTROPOFAGIA. E arreganho a dentuça. Gente: pode ir pondo o cauim a ferver. MACHADO, Antônio de Alcântara. “Abre-alas”. In: Revista de Antropofagia, São Paulo, Ano I, nº 1, p.1, mai. 1928. Disponível em: https://digital.bbm.usp.br/bitstream/bbm/7064/1/45000033273.pdf. Acesso em 10 de maio. 2019. a) Qual o tema e o propósito comunicativo do texto de Alcântara Machado? 43 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ b) A partir do que sabemos sobre o movimento Modernista, qual relação podemos estabelecer entre os termos xipófagos, deródimos e antropófagos? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ c) A que perfeição o autor está se referindo? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ d) Como podemos explicar a afirmação: “Viramos canibais”? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ e) O que o autor pretende ao escrever: “De ontem, de hoje, de amanhã. Daqui e de fora.”? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ f) Quem foi Hans Staden? Ao citá-lo em seu texto, o que Alcântara Machado pretende junto ao seu leitor? 44 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ g) Como podemos entender a expressão: “arreganho a dentuça”? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ h) Ao terminar seu texto, o autor o faz informalmente, utilizando a palavra “gente”. Qual a relação há entre essa informalidade e a sua solicitação: “pode ir pondo o cauim a ferver”? _______________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________ Sugestão: Para complementar seus estudos sobre o início do Movimento Modernista, leia o “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” e o “Manifesto Antropófago”, de Oswald de Andrade. Disponíveis em: http://www.ufrgs.br/cdrom/oandrade/oandrade.pdf. Acesso: 10 maio 2109. IV- A poesia modernista 1- Leia os poemas abaixo e indique quais são as marcas que os caracterizam como pertencentes ao Modernismo. Se necessário, 45 pesquise a respeito do contexto histórico-literário e das características desse período. Texto A ODE AO BURGUÊS Eu insulto o burguês! O burguês-níquel, O burguês-burguês! A digestão bem-feita de São Paulo! O homem-curva! o homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, É sempre um cauteloso pouco-a-pouco! Eu insulto as aristocracias cautelosas! Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros! Que vivem dentro de muros sem pulos; E gemem sangues de alguns mil réis fracos Para dizerem que as filhas da senhora falam o francês E tocam o Printemps com as unhas! Eu insulto o burguês-funesto! O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições! Fora os que algarismam os amanhãs! Olha a vida dos nossos setembros! Fará Sol? Choverá? Arlequinal! Mas à chuva dos rosais O êxtase fará sempre Sol! Morte à gordura! Morte às adiposidades cerebrais! Morte ao burguês-mensal! Ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi! Padaria Suíça! Morte viva ao Adriano! "— Ai, filha, que te darei pelos teus anos? 46 — Um colar... — Conto e quinhentos!!! Mas nós morremos de fome!" Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma! Oh! purée de batatas morais! Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas! Ódio aos temperamentos regulares Ódio aos relógios musculares! Morte e infâmia! Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados! Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos, Sempiternamente as mesmices convencionais! De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia! Dois a dois! Primeira posição! Marcha! Todos para a Central do meu rancor inebriante Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio! Morte ao burguês de giolhos. Cheirando religião e que não crê em Deus! Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico! Ódio fundamento, sem perdão! Fora! Fu! Fora o bom burguês!... ANDRADE, Mário de. Paulicéia desvairada. In: Poesias Completas. São Paulo: EDUSP, 1987. Texto B INDIFERENÇA Paris – Nova York – Roma! Cabarets – correia de casarões – arte? O sol do meu país tem os longos cabelos de ouro As palmeiras do meu país são verdes frutos amarelos 47 Nos troncos úmidos das bananeiras vivem curiangos nas folhas molengas passeiam taturanas cabeludas Quintais! Amarelos Ouro sobre verde Verde e ouro sobre o azul Sob as palmeiras do meu país meu pensamento busca sonhos como passos de namorados nas calçadas O sol do meu país tem os longos cabelos de ouro VIVACQUA, Achilles. “Indiferença”. In: Revista de Antropofagia, São Paulo, Ano I, nº 3, p.2, jul. 1928. Disponível em:<https://digital.bbm.usp.br/bitstream/bbm/7064/1/45000033273.pdf.>. Acesso em: 10 de maio. 2019. 2- Escolha e analise um poema de um outro autor da 1ª ou 2ª geração Modernista. Abaixo, apresentamos uma sugestão de autores. 1ª Geração 2ª Geração Cassiano Ricardo Guilherme de Almeida Manuel Bandeira Menotti Del Picchia Oswald de Andrade Carlos Drummond de Andrade Cecília Meireles Jorge de Lima Mário Quintana Murilo Mendes Vinícius de Moraes 48 V- A prosa modernista 1- Leia o conto abaixo. VESTIDA DE PRETO Tanto andam agora preocupados em definir o conto que não sei bem se o que vou contar é conto ou não, sei que é verdade. Minha impressão é que tenho amado sempre. Depois do amor grande por mim que brotou aos três anos e durou até os cinco mais ou menos, logo o meu amor se dirigiu para uma espécie de prima longínqua que frequentava a nossa casa. Como se vê, jamais sofri do complexo de Édipo, graças a Deus. Toda a minha vida, mamãe e eu fomos muito bons amigos, sem nada de amores perigosos. Maria foi o meu primeiro amor. Não havia nada entre nós, está claro, ela como eu nos seus cinco anos apenas, mas não sei que divina melancolia nos tomava, se acaso nos achávamos juntos e sozinhos. A voz baixava de tom, e principalmente as palavras é que se tornaram mais raras, muito simples. Uma ternura imensa, firme e reconhecida, não exigindo nenhum gesto. Aquilo aliás durava pouco, porque logo a criançada chegava. Mas tínhamos então uma raiva impensada dos manos e dos primos, sempre exteriorizada em palavras ou modos de irritação. Amor apenas sensível naquele instinto de estarmos sós. E só mais tarde, já pelos nove ou dez anos, é que lhe dei nosso único beijo, foi maravilhoso. Se a criançada estava toda junta naquela casa sem jardim da Tia Velha, era fatal brincarmos de família, porque assim Tia Velha evitava correrias e estragos. Brinquedo aliás que nos interessava muito, apesar da idade já avançada para ele. Mas é que na casa de Tia Velha tinha muitos quartos, de forma que casávamos rápido, só de boca, sem nenhum daqueles cerimoniais de mentira que dantes nos interessavam tanto, e cada par fugia logo, indo viver no seu quarto. Os melhores interesses infantis do brinquedo, fazer comidinha, amamentar bonecas, pagar visitas, isso nós deixávamos com generosidade apressada para os menores. Íamos para os nossos quartos e ficávamos vivendo lá. O que os outros faziam, não sei. Eu, isto é, eu com Maria, não fazíamos nada. 49 Eu adorava principalmente era ficar assim sozinho com ela, sabendo várias safadezas já, mas sem tentar nenhuma. Havia, não havia não, mas sempre como que havia um perigo iminente que ajuntava o seu crime à intimidade daquela solidão. Era suavíssimo e assustador. Maria fez uns gestos, disse algumas palavras. Era o aniversário de alguém, não lembro mais, o quarto em que estávamos fora convertido em dispensa, cômodas e armários cheios de pratos de doces para o chá que vinha logo. Mas quem se lembrasse de tocar naqueles doces, no geral secos, fáceis de disfarçar qualquer roubo! Estávamos longe disso. O que nos deliciava era mesmo a grave solidão. Nisto os olhos de Maria caíram sobre o travesseiro sem fronha que estava sobre uma cesta de roupa suja a um canto. E a minha esposa teve uma invenção que eu também estava longe de não ter. Desde a entrada no quarto eu concentrara todos os meus instintos na existência daquele travesseiro, o travesseiro cresceu como um danado dentro de mim e virou crime. Crime não, "pecado" que é como se dizia naqueles tempos cristãos... E, por causa disso, eu conseguira não pensar até ali, no travesseiro. — Já é tarde, vamos dormir — Maria falou. Fiquei estarrecido, olhando com uns fabulosos olhos de imploração para o travesseiro quentinho, mas quem disse travesseiro ter piedade de mim. Maria, essa estava simples demais para me olhar e surpreender os efeitos do convite: olhou em torno e afinal, vasculhando na cesta de roupa suja, tirou de lá uma toalha de banho muito quentinha que estendeu sobre o assoalho. Pôs o travesseiro no lugar da cabeceira, cerrou as venezianas da janela sobre a tarde, e depois deitou, arranjando o vestido pra não amassar. Mas eu é que nunca havia de pôr a cabeça naquele restico de travesseiroque ela deixou pra mim, me dando as costas. Restinho sim, apesar do travesseiro ser grande. Mas imaginem numa cabeleira explodindo, os famosos cabelos assustados de Maria, citação obrigatória e orgulho de família. Tia Velha, muito ciumenta por causa duma neta preferida que ela imaginava deusa, era a única a pôr defeito nos cabelos de Maria. — Você não vem dormir também? — ela perguntou com fragor, interrompendo o meu silêncio trágico. — Já vou — que eu disse — estou conferindo a conta do armazém. 50 Fui me aproximando incomparavelmente sem vontade, sentei no chão tomando cuidado em sequer tocar no vestido, puxa! Também o vestido dela estava completamente assustado, que dificuldade! Pus a cara no travesseiro sem a menor intenção de. Mas os cabelos de Maria, assim era pior, tocavam de leve no meu nariz, eu podia espirrar, marido não espirra. Senti, pressenti que espirrar seria muito ridículo, havia de ser um espirrão enorme, os outros escutavam lá da sala-de- visita longínqua, e daí é que o nosso segredo se desvendava todinho. Fui afundando o rosto naquela cabeleira e veio a noite, senão os cabelos (mas juro que eram cabelos macios) me machucavam os olhos. Depois que não vi nada, ficou fácil continuar enterrando a cara, a cara toda, a alma, a vida, naqueles cabelos, que maravilha! até que o meu nariz tocou num pescocinho roliço. Então fui empurrando os meus lábios, tinha uns bonitos lábios grossos, nem eram lábios, era beiço, minha boca foi ficando encanudada até que encontrou o pescocinho roliço. Será que ela dorme de verdade?... Me ajeitei muito sem-cerimônia, mulherzinha! e então beijei. Quem falou que este mundo é ruim! só recordar... Beijei Maria, rapazes! eu nem sabia beijar, está claro, só beijava mamães, boca fazendo bulha, contato sem nenhum calor sensual. Maria, só um leve entregar-se, uma levíssima inclinação pra trás me fez sentir que Maria estava comigo em nosso amor. Nada mais houve. Não, nada mais houve. Durasse aquilo uma noite grande, nada mais haveria porque é engraçado como a perfeição fixa a gente. O beijo me deixara completamente puro, sem minhas curiosidades nem desejos de mais nada, adeus pecado e adeus escuridão! Se fizera em meu cérebro uma enorme luz branca, meu ombro bem que doía no chão, mas a luz era violentamente branca, proibindo pensar, imaginar, agir. Beijando. Tia Velha, nunca eu gostei de Tia Velha, abriu a porta com um espanto barulhento. Percebi muito bem, pelos olhos dela, que o que estávamos fazendo era completamente feio. — Levantem!... Vou contar pra sua mãe, Juca! Mas eu, levantando com a lealdade mais cínica deste mundo! — Tia Velha me dá um doce? Tia Velha – eu sempre detestei Tia Velha, o tipo da bondade Berlitz, injusta, sem método — pois Tia Velha teve a malvadeza de escorrer por mim 51 todo um olhar que só alguns anos mais tarde pude compreender inteiramente. Naquele instante, eu estava só pensando em disfarçar, fingindo uma inocência que poucos segundos antes era real. — Vamos! saiam do quarto! Fomos saindo muito mudos, numa bruta vergonha, acompanhados de Tia Velha e os pratos que ela viera buscar para a mesa de chá. O estranhíssimo é que principiou, nesse acordar à força provocado por Tia Velha, uma indiferença inexplicável de Maria por mim. Mais que indiferença, frieza viva, quase antipatia. Nesse mesmo chá inda achou jeito de me maltratar diante de todos, fiquei zonzo. Dez, treze, quatorze anos... Quinze anos. Foi então o insulto que julguei definitivo. Eu estava fazendo um ginásio sem gosto, muito arrastado, cheio de revoltas íntimas, detestava estudar. Só no desenho e nas composições de português tirava as melhores notas. Vivia nisso: dez nestas matérias, um, zero em todas as outras. E todos os anos era aquela já esperada fatalidade: uma, duas bombas (principalmente em matemáticas) que eu tomava apenas o cuidado de apagar nos exames de segunda época. Gostar, eu continuava gostando muito de Maria, cada vez mais, conscientemente agora. Mas tinha uma quase certeza que ela não podia gostar de mim, quem gostava de mim!... Minha mãe... Sim, mamãe gostava de mim, mas naquele tempo eu chegava a imaginar que era só por obrigação. Papai, esse foi sempre insuportável, incapaz de uma carícia. Como incapaz de uma repreensão também. Nem mesmo comigo, a tara da família, ele jamais ralhou. Mas isto é caso pra outro dia. O certo é que, decidido em minha desesperada revolta contra o mundo que me rodeava, sentindo um orgulho de mim que jamais buscava esclarecer, tão absurdo o pressentia, o certo é que eu já principiava me aceitando por um caso perdido, que não adiantava melhorar. Esse ano até fora uma bomba só. Eu entrava da aula do professor particular, quando enxerguei a saparia na varanda e Maria entre os demais. Passei bastante encabulado, todos em férias, e os livros que eu trazia na mão me denunciando, lembrando a bomba, me achincalhando em minha imperfeição de caso perdido. Esbocei um gesto falsamente alegre de bom-dia, e fui no escritório pegado, esconder os livros na escrivaninha de meu pai. Ia já voltar 52 para o meio de todos, mas Matilde, a peste, a implicante, a deusa estúpida que Tia Velha perdia com suas preferências: — Passou seu namorado, Maria. — Não caso com bombeado — ela respondeu imediato, numa voz tão feia, mas tão feia, que parei estarrecido. Era a decisão final, não tinha dúvida nenhuma. Maria não gostava mais de mim. Bobo de assim parado, sem fazer um gesto, mal podendo respirar. Aliás um caso recente vinha se ajuntar ao insulto pra decidir de minha sorte. Nós seríamos até pobretões, comparando com a família de Maria, gente que até viajava na Europa. Pois pouco antes, os pais tinham feito um papel bem indecente, se opondo ao casamento duma filha com um rapaz diz que pobre, mas ótimo. Houvera um rompimento de amizade, mal-estar na parentagem toda, o caso virara escândalo mastigado e remastigado nos comentários de hora de jantar. Tudo por causa do dinheiro. Se eu insistisse em gostar de Maria, casar não casava mesmo, que a família dela não havia de me querer. Me passou pela cabeça comprar um bilhete de loteria. "Não caso com bombeado"... Fui abraçando os livros de mansinho, acariciei-os junto ao rosto, pousei a minha boca numa capa, suja de pó suado, retirei a boca sem desgosto. Naquele instante eu não sabia, hoje sei: era o segundo beijo que eu dava em Maria, último beijo, beijo de despedida, que o cheiro desagradável do papelão confirmou. Estava tudo acabado entre nós dois. Não tive mais coragem pra voltar à varanda e conversar com... os outros. Estava com uma raiva desprezadora de todos, principalmente de Matilde. Não, me parecia que já não tinha raiva de ninguém, não valia a pena, nem de Matilde, o insulto partira dela, fora por causa dela, mas eu não tinha raiva dela não, só tristeza, só vazio, não sei... creio que uma vontade de ajoelhar. Ajoelhar sem mais nada, ajoelhar ali junto da escrivaninha e ficar assim, ajoelhar. Afinal das contas eu era um perdido mesmo, Maria tinha razão, tinha razão, tinha razão, que tristeza! Foi o fim? Agora é que vem o mais esquisito de tudo, ajuntando anos pulados. Acho que até não consigo contar bem claro tudo o que sucedeu. Vamos por ordem: Pus tal firmeza em não amar Maria mais, que nem meus pensamentos me traíram. De resto a mocidade raiava e eu tinha tudo a aprender. Foi espantoso o que se passou em mim. Sem abandonar o meu jeito de 53 "perdido", o cultivando mesmo, ginásio acabado, eu principiara gostando de estudar. Me batera, súbito, aquela vontade irritada de saber, me tornara estudiosíssimo. Era mesmo uma impaciência
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