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ABORDAGENS TEÓRICAS DA CONTABILIDADE AULA 1 Prof. Ivanildo Viana Moura 2 CONVERSA INICIAL Seja bem-vindo(a) a esta aula de nossa disciplina. Nela você terá um primeiro contato com a contabilidade e saberá um pouco mais sobre a história dessa ciência. Para tanto, trataremos dos seguintes temas: 1. Conceito, objeto e objetivo da contabilidade; 2. Origem e evolução da contabilidade; 3. Escolas da contabilidade; 4. Tipos de informações: patrimoniais, financeiras e econômicas; 5. Enfoques prescritivo e descritivo. Aproveite a leitura e pratique os conhecimentos adquiridos resolvendo os exercícios. Lembre-se, a melhor maneira de aprender é praticando. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO A contabilidade é uma ciência muito antiga, cuja evolução acompanhou a evolução do próprio homem, tendo percorrido um longo caminho até chegar ao patamar em que se encontra hoje. No decorrer de sua história, muitas teorias foram desenvolvidas, e, a partir delas, surgiram as escolas da contabilidade, sendo a primeira a escola italiana. Hoje, a contabilidade já está bem estruturada, e as práticas desenvolvidas estão se tornando padrão para diversos países em decorrência da harmonização às normas internacionais de contabilidade. TEMA 1 – CONCEITO, OBJETO E OBJETIVO DA CONTABILIDADE A evolução das sociedades transforma o ambiente no qual estão inseridas e possibilita o surgimento de várias ciências que visam explicar os fenômenos por trás dessas transformações. Dessa forma, a área voltada ao estudo dos aspectos sociais da humanidade, ou seja, da vida em sociedade, é a ciência social. Esse ramo da ciência inclui a sociologia, a antropologia, o marketing, a economia, o direito, a administração e a contabilidade. Surpreso(a)? Talvez você tivesse imaginado a contabilidade como uma ciência exata, pois o nome contabilidade remete a contas, que, por sua vez, remete a cálculos, e que remete às ciências exatas. No entanto, o sentido das 3 “contas” é bem mais profundo que isso, pois implica relações, o que estudaremos no decorrer desta disciplina. A ciência contábil realmente se utiliza de cálculos para evidenciar resultados e fornecer informações, mas, conforme explicado por Marion (2006, p. 26), “ainda que a contabilidade se utilize de métodos quantitativos, não podemos confundi-la com as ciências matemáticas (ou exatas), que têm por objeto as quantidades consideradas abstratas que independem das ações humanas”. Perceba então que a contabilidade, assim como outras ciências sociais, se utiliza das técnicas fornecidas pelas ciências exatas como ferramentas para alcançar seus objetivos, mas ela tem o aspecto da subjetividade que é relacionado ao julgamento dos tomadores de decisão em torno do patrimônio da entidade. Assim, “a contabilidade é uma ciência social, pois estuda o comportamento das riquezas que se integram no patrimônio, em face das ações humanas (portanto, a contabilidade ocupa-se de fatos humanos)” (Marion, 2006, p. 26). Agora você já sabe que a contabilidade faz parte do grupo de ciências sociais, vamos entender um pouco sobre ela. 1.1 Conceito de contabilidade No mundo dos negócios, a informação é muito valiosa, pois é com base nela que todo o processo de decisão é desencadeado. Assim, os tomadores de decisões necessitam de informações sobre a empresa na qual possuem algum tipo de interesse, e a contabilidade é a principal fonte dessas informações. De acordo com Padoveze (2007), a ciência contábil é a única especializada em avaliar economicamente a empresa e seus resultados, e, por isso, todas as ações da entidade terminam por convergir no sistema de informação contábil, o qual se classifica como um sistema de avaliação e gestão econômica. Nesse entendimento, Greco, Gartner e Arend (2009) afirmam que a contabilidade é responsável por registrar, estudar e interpretar os fatos financeiros e econômicos que afetam a situação patrimonial de determinada pessoa física ou jurídica. De acordo com os autores, as informações geradas pela contabilidade são apresentadas aos usuários por meio das demonstrações contábeis e relatórios gerenciais. 4 Segundo Ferrari (2013), o campo de aplicação dessa ciência se estende a todas as entidades que possuam patrimônio, sejam físicas ou jurídicas, de fins lucrativos ou não. Portanto, dada a importância da contabilidade no ramo dos negócios, de forma pragmática, essa ciência pode ser conceituada da seguinte da seguinte forma: “A contabilidade é a linguagem dos negócios” (Marion, 2009, p. 24), pois ela “mede os resultados das empresas, avalia o desempenho dos negócios, dando diretrizes para a tomada de decisões”. 1.2 Objetivo da contabilidade As informações fornecidas pela contabilidade tendem a atender aos mais diversos usuários. Conforme Marion (2006), qualquer pessoa física ou jurídica com interesse em conhecer dados de certa entidade pode ser considerada um usuário da informação contábil. Ainda conforme o autor, os usuários podem ser classificados em internos (gerentes, diretores, administradores, funcionários) ou externos à empresa (instituições financeiras, fornecedores, governo, sindicatos). Assim, uma vez definido o conceito de contabilidade como a linguagem dos negócios, é importante conhecer também o seu objetivo, o qual é dado pela resolução 774 do Conselho Federal de Contabilidade (CFC): “o objetivo científico da contabilidade manifesta-se na correta apresentação do patrimônio e na apreensão e análise das causas das suas mutações” (Brasil,1995). Por outro lado, interpretando a estrutura conceitual básica da contabilidade, Marion (2006) descreve que o objetivo da contabilidade é permitir aos usuários a avaliação da situação econômica e financeira da entidade, tanto num sentido estático quanto a fazer inferências sobre tendências financeiras. De modo geral, em qualquer contexto analisado, veremos que o objetivo está relacionado ao reporte de informações sobre aspectos patrimoniais das entidades. Diante disso, pode-se dizer que o objetivo da contabilidade é fornecer informações úteis aos usuários tomadores de decisão. 1.3 Objeto da contabilidade Conforme já comentado, o objetivo da contabilidade é fornecer informações úteis aos usuários das informações contábeis, os quais geralmente tomam decisões baseados em tais informações. Nesse contexto, as informações 5 fornecidas são relacionadas ao patrimônio das entidades. Diante desse aspecto, o objeto da contabilidade passa a ser o patrimônio das entidades. Nesse entendimento, têm-se então a definição do objeto da contabilidade, o patrimônio: “um conjunto impessoal de meios e recursos materiais e imateriais, existente em determinado momento, visando à satisfação das necessidades da atividade de uma célula social” (Sá, 1999, p. 56). No texto dado pela resolução 774 do Conselho Federal de Contabilidade, o patrimônio é descrito de forma mais abrangente: Na Contabilidade, o objeto é sempre o PATRIMÔNIO de uma Entidade, definido como um conjunto de bens, direitos e de obrigações para com terceiros, pertencente a uma pessoa física, a um conjunto de pessoas, como ocorre nas sociedades informais, ou a uma sociedade ou instituição de qualquer natureza, independentemente da sua finalidade, que pode, ou não, incluir o lucro. (Brasil, 1995) Dado o contexto anterior, a contabilidade, como linguagem dos negócios, fornecerá informações úteis aos usuários, acerca do patrimônio das entidades, o qual pode ser conceituado de forma mais prática como o conjunto de bens, direitos e obrigaçõesde uma entidade. TEMA 2 – ORIGEM E EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE A contabilidade está intimamente relacionada ao controle. De acordo com Favero et al. (2011), não se pode precisar exatamente a época em que essa ciência teve início, mas acredita-se que seja tão antiga quanto a origem do próprio homem. Segundo os autores supracitados, “a partir do momento em que o homem passou a possuir bens, houve consequentemente a necessidade de controlar esses bens, surgindo assim o inventário”. Dessa forma, o controle do patrimônio pode ser considerado a origem da contabilidade, no momento em que o homem primitivo começou a desenvolver o pensamento de quantificar seus bens, deixando rastros que, bem mais tarde, seriam descobertos por historiadores, servindo como evidências para a existência da contabilidade na antiguidade. Segundo Iudícibus (2010, p. 35): o homem primitivo, ao inventariar o número de instrumentos de caça e pesca disponíveis, ao contar seus rebanhos, ao contar suas ânforas de bebidas, já estava praticando uma forma rudimentar de contabilidade. É possível localizar os primeiros exemplos completos de contabilização, portanto, seguramente no terceiro milênio antes de Cristo, na civilização da Suméria e da Babilônia (hoje Iraque), no Egito e na China. Mas é provável que algumas formas mais rudimentares de contagem de bens tenham sido realizadas bem antes disso [...]. 6 Nesse contexto, a contabilidade surgiu da necessidade de controle, tendo se iniciado ainda na antiguidade, quando o homem começou a pensar e as civilizações começaram a se formar. A partir desse momento, à medida que a sociedade evoluía, a contabilidade passou a acompanhá-la. 2.1 Fases evolutivas da contabilidade A contabilidade, desde sua origem, foi engatinhando aos poucos até chegar ao patamar em que se encontra hoje, tendo passado por várias fases evolutivas, as quais acompanharam a própria evolução das civilizações. Essas fases são descritas por Federigo Melis (citado pelo Conselho Regional de Contabilidade do Paraná) e divididas em quatro períodos, conforme segue: 2.1.1 1º período: história antiga ou da contabilidade empírica O primeiro período das fases da contabilidade teve início nos primórdios da civilização, quando o homem começou a desenvolver a habilidade de pensar – o raciocínio – e começou a controlar seus bens. De acordo com Coelho e Lins (2010), no início o homem preocupava-se basicamente em controlar seus alimentos, e, segundo Iudícibus (2010), os inventários controlavam os instrumentos de caça e pesca, os rebanhos e as ânforas de bebidas, praticando, portanto, uma forma rudimentar de contabilidade. Como ainda não existia a escrita, as formas de controles eram realmente rudimentares, demonstrando inclusive certa “criatividade” por parte do homem primitivo. Nesse sentido, Sá (1999, p. 18) expõe o seguinte contexto: Com o uso de sua arte, o homem primitivo passou a evidenciar a riqueza patrimonial que detinha, em inscrições nas paredes das grutas (onde introduziu pinturas) e também pedaços de ossos (por meio de riscos ou sulcos), utilizando-se dos instrumentos de que já dispunha. O desenho do animal ou coisa representava a natureza da utilidade que o homem primitivo havia conquistado e guardara; os riscos que quase sempre se seguiam ao desenho da coisa ou objeto denunciavam a quantidade existente. De forma rudimentar, as inscrições procuravam, com desenhos, representar a qualidade da coisa e com rabiscos ou riscos a quantidade. Pode-se perceber como a contabilidade teve sua origem de forma um tanto quanto empírica, quando o homem começou a desenvolver práticas que mais tarde evidenciariam uma das ciências sociais mais importantes da história. O homem escriturava os bens em ossos, cavernas e placas de barro, conforme descobertas feitas na Mesopotâmia, na cidade de Uruk (Coelho; Lins, 2010). 7 O primeiro período teve início com as primeiras civilizações e terminou em 1202 d.C., com a obra de Leonardo Fibonacci. Figura 1 – Primeiro período da história da contabilidade 2.1.2 2º período: história média ou da sistematização da contabilidade Leonardo Fibonacci (também conhecido como Leonardo de Pisa, Leonardo Pisano ou Leonardo Bigollo) foi um italiano da cidade de Pisa que, segundo Hendriksen e Van Breda (2007), cresceu no norte da África, onde aprendeu tanto a língua quanto a matemática dos árabes. Ao voltar à Itália, escreveu um livro no qual disseminava o conhecimento adquirido. O Líber Ábaci (livro do ábaco) tratava de “aritmética, cálculos comerciais e da álgebra; nele Fibonacci estuda os números que recomenda sua aplicação para demonstração de dívidas e de prejuízos nos cálculos comerciais” (Ribeiro Filho; Lopes; Pederneiras, 2009, p. 22). Dessa forma, a história dos números no Ocidente iniciou-se com a publicação do livro de Fibonacci (Coelho; Lins, 2010). A obra de Fibonacci foi o primeiro marco para a sistematização da contabilidade, mas, depois dela, outras apareceram. De acordo com Iudícibus (2010), as partidas dobradas começaram a aparecer já no século XIII, nos grandes empreendimentos, embora fossem técnicas incompletas. Segundo o autor, o surgimento da técnica pode ter ocorrido entre 1280 e 1335. No entanto, o marco principal que encerra o segundo período da história da contabilidade é justamente a publicação do livro que divulgava o método das partidas dobradas em 1494, trazendo importantes contribuições para a sistematização da contabilidade. 8 Figura 2 – Segundo período da história da contabilidade 2.1.3 3º período: história moderna ou da literatura da contabilidade Em 1494, o Frei Luca Pacioli lança o livro Summa de aritmetica, geometria, proportioni et proportionalita (conhecimentos de aritmética, geometria, proporção e proporcionalidade). De acordo com Iudícibus (2010), um capítulo em especial se distingue para a história da contabilidade, o Tractatus de computies et scripturis (contabilidade por partidas dobradas). “Nesse tratado, talvez pela primeira vez,o método contábil é explicado integralmente a partir do inventário. Pacioli é considerado, portanto, o ‘pai dos autores de Contabilidade’” (Iudícibus, 2010, p. 45). Com a publicação do livro de Pacioli, o método das partidas dobradas tornou-se conhecido por toda a Europa, e, com a expansão do comércio marítimo, passou a ser conhecido também nos outros continentes, sendo adotado por comerciantes de praticamente todo o mundo. A partir da obra de Pacioli, outros trabalhos começaram a surgir, nos quais os tratadistas faziam pequenos melhoramentos no método das partidas dobradas, na tentativa de aperfeiçoá-lo. Em 1840, uma nova publicação fez encerrar o terceiro período da contabilidade. Figura 3 – Terceiro período da história da contabilidade 9 2.1.4 4º período: história contemporânea ou científica da contabilidade Em 1840, Francesco Villa publica o livro La contabilità applicatta alle amministrazioni private e pubbliche. Nesse livro, Villa expôs que a contabilidade deveria ser utilizada não somente para a escrituração, mas também para a tomada de decisão. De acordo com Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009, p. 27), “a contribuição de Villa para o desenvolvimento científico da contabilidade se destacou em diversas áreas: sobre o estudo dos meios patrimoniais, sobre a renda, sobre o regime de competência, entre outros”. Com a obra de Villa, a contabilidade deixa de ser uma simples técnica de escrituração/registro e se afirma como ciência. Seu estudo se torna necessário e sua fase científica, que se iniciou com Villa, permanece até os dias atuais. Figura 4 –Quarto período da história da contabilidade TEMA 3 – ESCOLAS DA CONTABILIDADE A expansão do comércio e o crescimento econômico fizeram com que a necessidade de técnicas contábeis se tornasse mais acentuada. Dessa forma, o desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas voltadas à escrituração de eventos econômicos deu origem às escolas de contabilidade. Podemos citar duas escolas de grande influência para a ciência contábil, a italiana (a primeira delas) e a norte-americana. 3.1 A escola italiana de contabilidade Conforme vimos no Tema 2, pode-se dizer que a Itália foi o berço da contabilidade, pois foi nas cidades italianas que começaram a surgir obras 10 voltadas para o desenvolvimento e sistematização das técnicas de escrituração, em especial, o método das partidas dobradas. Após a divulgação do método das partidas dobradas por meio do livro do frei Luca Pacioli, a escola italiana ganhou grande impulso e se espalhou por toda a Europa (Favero et al. 2011). Dentro da escola italiana, surgiram várias correntes de pensamento contábil, sendo as principais descritas a seguir. 3.1.1 Escola contista Foi a primeira corrente do pensamento contábil da escola italiana, tendo surgido dos estudos acerca do método das partidas dobradas (Favero et al., 2011). De acordo com Coelho e Lins (2010), a ideia central do contismo versava sobre o fato de se pensar que o comércio teria cinco objetivos principais: 1. Mercadorias; 2. Dinheiro; 3. Efeitos a receber; 4. Efeitos a pagar; 5. Lucros e perdas. Esses objetivos são conteúdo da Teoria das Cinco Contas, de Edmundo Degrange, que se baseou nas teorias desenvolvidas por Jacques Savary em torno das partidas dobradas no século XVII, quando deu-se o auge do contismo (Ribeiro Filho; Lopes; Pederneiras, 2009). De acordo com os autores supracitados, fazer lançamentos de débito ou crédito em uma dessas contas seria o mesmo que creditar o próprio comerciante, e essa personificação gerou críticas ao modelo, sendo Francesco Marchi um dos principais críticos da primeira escola italiana. 3.1.2 Escola personalista A teoria personalista vincula as contas às pessoas responsáveis pelos fatos. Essas pessoas devem à empresa os valores correspondentes aos bens ou direitos sob sua responsabilidade, ou são credoras das obrigações assumidas pela empresa. A teoria personalista foi desenvolvida por Francesco Marchi, e, posteriormente, Giuseppe Cerboni estabeleceu seus princípios (Crepaldi, 2010). Segundo Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009), Francesco Marchi apresentou a base de sua teoria dividindo as contas em três grupos: 11 1. Contas do proprietário: o proprietário é a pessoa que entregou ao administrador o capital e, por isso, tem direito àquela parcela e suas variações (Crepaldi, 2010). Essa conta diz respeito ao capital, lucro e perdas. As contas de lucro e perdas compreendiam as contas de receita. 2. Contas dos agentes consignatários: pessoas encarregadas pelo administrador de guardar os bens existentes no patrimônio, e possuem responsabilidade perante o administrador pelos valores que lhe forem entregues (Crepaldi, 2010): dinheiro, mercadorias, bens móveis etc. 3. Contas de correspondentes: pessoas que mantêm relações jurídicas com o administrador. As relações podem ser de ativo, quando representam direitos, ou de passivos, quando representam obrigações (Crepaldi, 2010). Essas contas representam as relações com terceiros. Segundo Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009), a teoria personalista foi refutada por Fábio Besta, que explicitou falhas no método. 3.1.3 Escola controlista A teoria controlista considerava o objeto da contabilidade o controle econômico das aziendas, e esse controle envolvia um estudo dos fatores que provocam variações no patrimônio. Dessa forma, a visão de Fábio Besta sobre a contabilidade divergia da visão da escola personalista, pois, para ele, as contas não eram abertas a pessoas, e sim para registrar valores. Segundo Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras, a base doutrinária da escola controlista era voltada para a administração econômica das entidades. Conforme os autores, Fábio Besta enxergava o controle em todas as fases do processo de geração de riqueza da entidade, denominando-as controle antecedente, controle concomitante e controle subsequente, cada uma com funções próprias, mas todas atuando de forma integrada. De acordo com Favero et al. (2011), a proposta da teoria controlista de indicar o controle como objeto da contabilidade representou um avanço em termos de organização do processo contábil. No entanto, a teoria passou a ser criticada porque, embora o controle econômico seja uma das finalidades do sistema de escrituração, não abrange a sua totalidade como objeto da contabilidade. 12 3.1.4 Escola aziendalista Azienda pode ser conceituada como “o conjunto de bens, direitos e obrigações que constituem o patrimônio, sob ação administrativa do homem” (Crepaldi, 2010, p. 7). A escola aziendalista teve como percursor Gino Zappa, que defendia que o estudo da contabilidade estava muito restrito em face das ideias da corrente controlista e ampliou esse campo para o estudo da gestão. Assim, Zappa considerava a azienda como um complexo econômico, e não simplesmente a soma dos fenômenos (Favero et al. 2011). Conforme Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009), a teoria aziendalista procurava demonstrar que existe uma interdependência entre organização, administração e contabilidade, formando a ciência econômica aziendal. No entanto, esta também sofreu críticas, principalmente por Vincenzo Masi, que defendia o patrimônio como objeto da contabilidade (Favero et al., 2011). 3.1.5 Escola patrimonialista A teoria patrimonialista de Vincenzo Masi tem como foco os estudos na essência dos fatos econômicos e dos seus efeitos sobre a riqueza patrimonial das aziendas (Ribeiro Filho; Lopes; Pederneiras, 2009). Segundo essa teoria, o patrimônio se transforma com o desenvolvimento das atividades econômicas, devendo ser conhecidos e analisados adequadamente os motivos das variações ocorridas dentro de determinado período (Favero et al., 2011). Segundo Coelho e Lins (2010), Masi considerava o patrimônio sob dois aspectos, o estático e o dinâmico. A estática patrimonial examinava a estrutura da riqueza patrimonial, e a dinâmica lidava com a movimentação dessa estrutura. Essa foi a primeira escola que definiu o patrimônio como objeto da contabilidade. 3.2 Escola americana No fim do século XIX e início do século XX, a contabilidade teve sua expansão dada por uma série de acontecimentos, entre os quais o desenvolvimento do mercado de capitais e o rápido desenvolvimento do comércio e da indústria. Nesse contexto, surgiram grandes conglomerados comerciais e industriais com a participação de inúmeros acionistas, fazendo com que houvesse a necessidade de aprimoramento das técnicas contábeis. Estas deveriam atender um número muito maior de usuários, que pressionavam as 13 organizações exigindo informações confiáveis para garantir a integridade de seus investimentos (Favero, et al., 2011). O grande fluxo de capital estrangeiro que ingressou nos Estados Unidos, bem como o seu desenvolvimento industrial, fizeram com que esse país aprimorasse as técnicas contábeis, focando em informações econômicas e financeiras, e destacando-se principalmente em técnicas de auditoria (Ribeiro Filho; Lopes; Pederneiras, 2009). A escola norte-americana dava grande ênfase aos problemas econômico- administrativos. Dessa forma, contribuiu grandemente para a formação deáreas como a contabilidade financeira, contabilidade gerencial, contabilidade de custos, controladoria, análise de demonstrações contábeis, finanças, orçamento etc. Devido a esses e outros aspectos, a escola norte-americana começou a ganhar destaque, superando a escola italiana. 3.3 Queda da escola italiana e ascensão da escola norte-americana O início do século XX trouxe consigo o surgimento de gigantescas corporações, o desenvolvimento do mercado de capitais e um alto ritmo de desenvolvimento aos Estados Unidos. Esses fatores propiciaram um avanço das teorias e práticas contábeis norte-americanas (Iudicibus; Marion, 2002), levando a escola italiana a perder sua força. Os principais fatores que levaram à ascensão da escola norte-americana são descritos no Quadro 1. 14 Quadro 1 – Comparação entre as duas escolas Razões da queda da escola italiana Razões da ascensão da escola norte- americana 1. Excessivo culto à personalidade: grandes mestres e pensadores da contabilidade ganharam tanta notoriedade que passaram a ser vistos como "oráculos" da verdade contábil. 1. Ênfase no usuário da informação contábil: a contabilidade é apresentada como algo útil para a tomada de decisões, evitando-se endeusar demasiadamente a contabilidade; atender os usuários é o grande objetivo. 2. Ênfase numa contabilidade teórica: as mentes privilegiadas produziam trabalhos excessivamente teóricos, apenas pelo gosto de serem teóricos, difundindo ideias com pouca aplicação prática. 2. Ênfase na contabilidade aplicada: principalmente na contabilidade gerencial. Ao contrário dos europeus, não havia uma preocupação com a teoria das contas, ou querer provar que a contabilidade é uma ciência. 3. Pouca importância à auditoria: principalmente na legislação italiana, o grau de confiabilidade e a importância da auditagem não eram enfatizados. 3. Bastante Importância à auditoria: como herança dos ingleses e transparência para os investidores das sociedades anônimas (e outros usuários) nos relatórios contábeis, a auditoria é muito enfatizada. 4. Queda no nível das principais faculdades: principalmente as faculdades italianas, superpovoadas de alunos. 4. Universidade em busca de qualidade: grandes quantias para as pesquisas no campo contábil, o professor em dedicação exclusiva e o aluno em período integral valorizaram o ensino nos Estados Unidos. Fonte: Iudicibus; Marion, 2002, p. 36. Apesar das diferenças entre as escolas, ambas foram e ainda são de suma importância para a contabilidade. A escola italiana deu início a tudo e levou ao desenvolvimento da ciência, e a norte-americana aprimorou as técnicas e deu outro rumo à contabilidade, expandindo seu campo de atuação e sua aplicação. TEMA 4 – TIPOS DE INFORMAÇÕES: PATRIMONIAIS, FINANCEIRAS E ECONÔMICAS A contabilidade tem como objetivo gerar informações para que os diversos usuários possam tomar decisões (Favero et al., 2011). O sistema de informação contábil é o meio utilizado para efetivar a contabilidade e a informação contábil dentro da organização, preocupando-se em disponibilizar informações úteis para a tomada de decisões para todos os usuários que possuem interesse na entidade em questão (Padoveze, 2007). Os usuários da informação contábil são diversos, pessoas físicas ou jurídicas, entidades com ou sem fins lucrativos, cujos interesses podem ser 15 econômicos ou sociais. Os principais grupos de interesses nas informações contábeis são relacionados por Marion (2009, p. 24): (a) Investidores: Os provedores de capital de risco e seus analistas que se preocupam com o risco inerente ao investimento e o retorno que ele produz. Eles necessitam de informações para ajudá-los a decidir se devem comprar, manter ou vender investimentos. Os acionistas também estão interessados em informações que os habilitem a avaliar se a entidade tem capacidade de pagar dividendos. (b) Empregados: Os empregados e seus representantes estão interessados em informações sobre a estabilidade e a lucratividade de seus empregadores. Também se interessam por informações que lhes permitam avaliar a capacidade que tem a entidade de prover sua remuneração, seus benefícios de aposentadoria e suas oportunidades de emprego. (c) Credores por empréstimos: Estes estão interessados em informações que lhes permitam determinar a capacidade da entidade em pagar seus empréstimos e os correspondentes juros no vencimento. (d) Fornecedores e outros credores comerciais: Os fornecedores e outros credores estão interessados em informações que lhes permitam avaliar se as importâncias que lhes são devidas serão pagas nos respectivos vencimentos. Os credores comerciais provavelmente estão interessados em uma entidade por um período menor do que os credores por empréstimos, a não ser que dependam da continuidade da entidade como um cliente importante. (e) Clientes: Os clientes têm interesse em informações sobre a continuidade operacional da entidade, especialmente quando têm um relacionamento a longo prazo com ela, ou dela dependem como fornecedor importante. (f) Governo e suas agências: Os governos e suas agências estão interessados na destinação de recursos e, portanto, nas atividades das entidades. Necessitam também de informações a fim de regulamentar as atividades das entidades, estabelecer políticas fiscais e servir de base para determinar a renda nacional e estatísticas semelhantes. (g) Público: As entidades afetam o público de diversas maneiras. Elas podem, por exemplo, fazer contribuição substancial à economia local de vários modos, inclusive empregando pessoas e utilizando fornecedores locais. As demonstrações contábeis podem ajudar o público fornecendo informações sobre a evolução do desempenho da entidade e os desenvolvimentos recentes. Considerando-se o objetivo principal da contabilidade, a aplicação dessa ciência dentro de determinada empresa busca o fornecimento de informações aos usuários sobre aspectos de natureza patrimonial, financeira e econômica. 4.1 Informações patrimoniais As contas patrimoniais dizem respeito aos itens do patrimônio, ou seja, o conjunto de bens, direitos e obrigações. Dessa forma, as informações sobre a posição patrimonial da entidade são extraídas da principal demonstração contábil, o balanço patrimonial. 16 Figura 5 – Elementos do Balanço Patrimonial O balanço patrimonial é o demonstrativo que possibilita ao usuário ter uma visão geral do patrimônio. Por meio dele, é possível saber como anda a situação patrimonial da entidade, a qual diz respeito aos itens que compõem o patrimônio da empresa, o seu conjunto de bens, direitos e obrigações. Os bens da empresa são os itens que ela já possui, tais como dinheiro em caixa, dinheiro em contas bancárias, estoques de mercadorias, produtos ou matéria-prima, imobilizados, marcas, patentes etc. Os direitos, na maioria das vezes, dizem respeito a vendas já realizadas e negociadas para pagamento futuro. O conjunto de bens e direitos forma o ativo da empresa. As obrigações podem ser divididas em duas partes: capital de terceiros e capital próprio. O capital de terceiros é representado pelo passivo e demonstra quanto da origem de recursos vem de terceiros. Nesta conta estão classificados os empréstimos, financiamentos, salários a pagar, impostos a recolher, fornecedores etc. A conta de capital próprio é representada pelo patrimônio líquido da empresa e diz respeito ao capital que sócios ou proprietários investiram no negócio. Nesta conta temos o capital social, reservas, prejuízos acumulados etc. As informações patrimoniaissão de extrema importância para a entidade, pois são a base para o gerenciamento das operações da organização. 4.2 Informações financeiras Empresas precisam tomar decisões rotineiras quanto ao gerenciamento de suas operações. Essas decisões – subsidiadas por informações financeiras – abrangem dois aspectos muito importantes: a sobra e a falta de dinheiro. De acordo com Hoss (2013), as organizações precisam de dinheiro para moverem seu negócio, e, para que não lhes falte esse recurso, é necessário um PATRIMÔNIO OBRIGAÇÕES PASSIVO PATRIMÔNIO LÍQUIDO BENS E DIREITOS ATIVO 17 conjunto de informações que possibilite antecipar problemas de ordem financeira. Segundo o autor, a sobra de dinheiro também requer tomada de decisões para contribuir com a criação de riqueza, e as informações financeiras podem diagnosticar a necessidade de empréstimos devido à falta de dinheiro e investimentos. De acordo com Marion (2009, p. 87), a situação financeira da entidade pode ser evidenciada também pelo balanço patrimonial: Observamos até o momento que o Balanço Patrimonial evidencia a situação patrimonial (bens, direitos e obrigações) da empresa. Poderíamos ainda, numa abordagem mais específica, atribuir ao Balanço Patrimonial a função (entre outras) de indicador da situação financeira da entidade, ou seja, a capacidade de pagamento da empresa. A simples comparação entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante propicia ao usuário do Balanço uma visão panorâmica da Situação Financeira da empresa a curto prazo (para o exercício social seguinte ao encerramento do balanço). O Ativo Circulante é constituído de dinheiro (disponível), de quase dinheiro (Duplicatas a Receber) e de futuro dinheiro (Estoque). Na verdade, os recursos financeiros (dinheiro) utilizados para fazer frente às dívidas da empresa (Passivo Circulante) são retirados do Ativo Circulante. Dessa forma, normalmente, se o Ativo Circulante for menor que o Passivo Circulante, a empresa comercial ou industrial terá dificuldade em solver seus compromissos; portanto, sua Situação Financeira não é boa. A Situação Financeira poderá, também, ser objeto de análise para situações a Longo Prazo. Nesse caso, incluiríamos ao Circulante, na comparação, o Realizável e o Exigível a Longo Prazo (Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo: Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo). Outras variáveis, enfim, seriam consideradas para uma análise da Situação Financeira da empresa. Embora o balanço patrimonial forneça informações financeiras sobre o patrimônio da entidade, a principal demonstração para essas informações é o Demonstrativo de Fluxos de Caixa (DFC), pois fornece informações detalhadas sobre as atividades de investimento, de financiamento e operacionais da empresa durante o período abrangido pelas demonstrações contábeis. 4.3 Informações econômicas As informações acerca da situação econômica da entidade dizem respeito às mutações ocorridas no patrimônio líquido, em decorrência dos resultados alcançados no decorrer de determinado período. Segundo Marion (2009, p. 88), “uma forma de avaliar a situação econômica é observar o Patrimônio Líquido da empresa e sua variação. Evidentemente, o crescimento real do Patrimônio Líquido vem fortalecer sua situação econômica”. Assim, pode-se dizer que, se o patrimônio líquido apresentou crescimento de um período para outro em proporção maior que o passivo, a situação econômica da empresa melhorou. 18 Caso o patrimônio líquido tenha apresentado crescimento em proporção menor que o passivo, a situação econômica piorou. A evolução a seguir mostra uma situação econômica favorável: Figura 6 – Evolução de situação econômica favorável De acordo com Marion (2009), a principal fonte de fortalecimento do patrimônio líquido é o bom lucro, assim, a constante obtenção de resultados positivos contribui para uma situação econômica mais sólida. Nesse entendimento, embora o balanço patrimonial possibilite uma visão da situação econômica, a principal demonstração para o fornecimento desse tipo de informação é o demonstrativo de resultado. Os usuários da informação contábil tomam decisões econômicas relacionadas à capacidade da entidade em gerar caixa e equivalentes de caixa, se ela conseguirá pagar suas contas (fornecedores, juros, empregados, empréstimos) e também se conseguirá pagar dividendos. Por meio do demonstrativo de resultado do exercício, o usuário tem uma ideia da eficiência operacional da entidade, visto que esse demonstrativo mostra o total de receitas do período e a confrontação delas com os custos e despesas, possibilitando que seja visualizada a capacidade de geração de caixa da organização. TEMA 5 – ENFOQUES PRESCRITIVO E DESCRITIVO Com o estabelecimento da contabilidade como ciência, no decorrer do século XX ela se desenvolveu como disciplina acadêmica, levando a maior parte das grandes universidades do mundo a possuírem programas de pesquisa na ATIVO PASSIVO PL 1.000,00 200,00 800,00 Período 1 ATIVO PASSIVO PL 1.000,00 400,00 600,00 Período 2 ATIVO PASSIVO PL 1.000,00 500,00 500,00 Período 3 19 área contábil. “A prática contábil é bastante anterior à atuação acadêmica, de forma que se pode estabelecer claramente uma disciplina das ciências sociais que nasceu das demandas e anseios dos agentes operando em sociedade” (Lopes; Martins, 2007, p. 3). Figura 6 – Principais órgãos que operam em sociedade regulando a contabilidade De acordo com Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009), a metodologia científica é a disciplina que instrumentaliza o processo de conhecimento científico, visando gerar caminhos que aperfeiçoem a civilização humana. A construção de conhecimento inicia com os métodos que proporcionam bases lógicas para a investigação. No caso da contabilidade, trabalharemos com os métodos indutivo e dedutivo. 5.1 Métodos que proporcionam bases lógicas para a investigação De acordo com Gil (2008, p. 28) os métodos que proporcionam bases lógicas para a investigação “esclarecem acerca dos procedimentos lógicos que deverão ser seguidos no processo de investigação científica dos fatos da natureza e da sociedade”. Segundo o autor, esses métodos “possibilitam ao pesquisador decidir acerca do alcance de sua investigação, das regras de explicação dos fatos e da validade de suas generalizações”. Os métodos esclarecem os procedimentos lógicos a serem seguidos no processo de investigação científica dos fatos da natureza e da sociedade. Um item que deve ser considerado nas pesquisas científicas e que proporciona base lógica para a investigação é o argumento. Conforme exposto por Cooper e Schindler (2014, p. 66) “o argumento nos permite explicar, 20 interpretar, defender, desafiar e explorar o significado. Dois tipos de argumentos de grande importância para a pesquisa são a dedução e a indução”. 5.1.1 Método dedutivo De acordo com Gil (2008), o método dedutivo começa do geral e desce ao particular, partindo de princípios reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e possibilitando que se chegue a conclusões de maneira puramente formal, isto é, em virtude unicamente de sua lógica. Segundo o autor, esse é o método proposto pelos racionalistas, segundo os quais apenas a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro, que decorre de princípios a priori evidentes e irrecusáveis. A aplicação desse método em contabilidade, de acordo com Iudícibus (2006), dá-se pelo processo de iniciar com objetivos e postulados para extrair princípios lógicos que proveem as bases para aplicações práticas e concretas.O método dedutivo é mais utilizado por pesquisadores normativistas. 5.1.2 Método indutivo O raciocínio indutivo é um processo mental no qual o pesquisador parte de dados particulares constatados e infere uma verdade geral ou universal (Markoni; Lakatos, 2003). Complementarmente, Gil (2008, p. 10) afirma que indutivo é o método proposto pelos empiristas, os quais acreditam na formação do conhecimento a partir das experiências humanas, desconsiderando muitas vezes normas e princípios estabelecidos. Esse tipo de pesquisador adota em suas pesquisas, geralmente, o enfoque positivista, o qual é relacionado aos acontecimentos do mundo real. Assim, com base nesses dois métodos, temos as duas abordagens utilizadas em pesquisas científicas na contabilidade, o enfoque prescritivo e o enfoque descritivo. 5.2 Enfoque prescritivo Segundo Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009), o universo de conhecimento que temos hoje em contabilidade – estrutura conceitual, normas e procedimentos, modelos de demonstrações, modelos de atuação da auditoria 21 e perícia contábil, modelos de livros contábeis, técnicas de escrituração etc. – são frutos da aplicação do método prescritivo (normativo) em contabilidade. De acordo com Iudicibus (2006), a teoria normativa se apoia no dedutivismo, e de forma prescritiva ela demonstra como a contabilidade deveria ser à luz dos postulados contábeis, que são dados indiscutíveis. Nesse sentido, a teoria normativa impõe o que deve ser feito, fundamentada nos objetivos e postulados da contabilidade. O processo normativo implica criatividade. Nesse entendimento, Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009) assumem que a criatividade é de suma importância na adoção do processo normativo, pois diz respeito ao ato de instituir ou estabelecer uma representação, modelo ou protótipo que traduza uma possibilidade de adoção prática no campo de atuação da contabilidade. Dessa forma, pesquisas em contabilidade utilizando o enfoque prescritivo dizem respeito à criação de novos procedimentos, ou mesmo o aperfeiçoamento dos já existentes, para que se busque melhorar cada vez mais a ciência contábil. Dessa forma, o normativismo estaria elaborando novas normas, padrões e procedimentos, considerando a existência de objetivos e postulados, adotados e impostos pelos órgãos que regulamentam a contabilidade. 5.3 Enfoque descritivo O enfoque descritivo (positivo) tem essência empírica. Nele, a pesquisa se inicia com uma dúvida sistemática em torno de determinado objeto. Para responder a essa dúvida, são elaboradas hipóteses e estas são submetidas a testes empíricos e estatísticos, o que leva a comprová-las ou refutá-las (Ribeiro Filho; Lopes; Pederneiras, 2009). De acordo com Lopes e Martins (2007), a tradição normativa começou a ser substituída pela abordagem da informação no século XX, influenciada por teorias empíricas. Isso representou uma revolução nas pesquisas em ciências contábeis, rompendo a visão da contabilidade como mensuração e inaugurando o estudo desta como informação disponível ao usuário. Assim, os dois enfoques vão para lados opostos. Enquanto o enfoque prescritivo busca o desenvolvimento de técnicas de mensuração, o descritivo busca verificar o impacto da informação contábil nos usuários dessa informação. 22 TROCANDO IDEIAS A contabilidade evoluiu ao mesmo passo que a sociedade evoluía. Dessa forma, até chegar ao patamar em que se encontra hoje, a contabilidade passou por quatro fases, cada uma marcada por transformações importantes. Nesse sentido, no contexto atual, numa era globalizada e dominada pela tecnologia, qual será a próxima fase evolutiva da contabilidade? Quais tendências relacionadas à sociedade atual você acredita que possam ser indícios de uma nova fase da contabilidade? Entre no fórum e debata o assunto com os colegas. NA PRÁTICA Responda às questões a seguir (as respostas estão ao final deste documento). 1. A contabilidade, desde sua origem, passou por várias fases evolutivas, as quais acompanham a própria evolução das civilizações. Sobre essas fases, assinale a alternativa falsa. a. O primeiro período das fases da contabilidade inicia nos primórdios da civilização, quando o homem começou a desenvolver o raciocínio e iniciou o processo de controle de seus bens. b. O inventário do homem primitivo funcionava basicamente com um desenho do animal e riscos que representavam a quantidade. c. Em 1494, Leonardo Fibonacci lança o livro Summa de aritmetica, geometria, proportioni et proportionalita (conhecimentos de aritmética, geometria, proporção e proporcionalidade). d. Com a expansão do comércio marítimo, as partidas dobradas passaram a ser conhecidas também em outros continentes. e. A fase científica da contabilidade iniciou-se com a obra de Francesco Villa e permanece até os dias atuais. 2. A evolução das sociedades transforma o ambiente no qual estão inseridas e possibilita o surgimento de ciências que visam explicar os fenômenos por trás dessas transformações. Sobre a ciência contábil, analise as assertivas a seguir: I. A contabilidade é uma ciência exata. 23 II. A contabilidade é conhecida como a linguagem dos negócios. III. O objetivo da contabilidade é fornecer informações úteis aos usuários tomadores de decisão. IV. O objeto da contabilidade é o lucro da entidade. V. O patrimônio de uma entidade é o seu conjunto de bens, direitos e obrigações. Assinale a alternativa correta: a. Estão corretas somente as assertivas I, II e III. b. Estão corretas somente as assertivas I, II e IV. c. Estão corretas somente as assertivas II, III e IV. d. Estão corretas somente as assertivas II, III e V. e. Estão corretas todas as assertivas. 3. O desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas voltadas para a escrituração de eventos econômicos deu origem às escolas de contabilidade. Assinale a alternativa que corresponde à primeira corrente do pensamento contábil da escola italiana, que surgiu dos estudos feitos pelos primeiros expositores do método das partidas dobradas. a. Escola patrimonialista; b. Escola aziendalista; c. Escola controlista; d. Escola personalista; e. Escola contista. 4. O sistema de informação contábil é o meio utilizado para efetivar a contabilidade e a informação contábil dentro da organização, preocupando-se em disponibilizar informações úteis para a tomada de decisões para todos os usuários que possuem interesse na entidade em questão. Sobre as informações patrimoniais, assinale a alternativa falsa. a. As contas patrimoniais dizem respeito ao conjunto de bens, direitos e obrigações. b. As informações sobre a posição patrimonial da entidade são extraídas da Demonstração do Resultado do Exercício. c. As obrigações podem ser divididas em duas partes: capital de terceiros e capital próprio. 24 d. A conta de capital próprio é representada pelo patrimônio líquido da empresa. e. O conjunto de bens e direitos forma o ativo da empresa. 5. Sobre as abordagens positiva e normativa, leia o trecho a seguir: “Assim, talvez chegada a hora de pensar numa convivência mais produtiva: aceitar que alguns pensam, criam, mas não são (tão) capazes de provar e comprovar. Outros, pelo contrário, são adeptos dos “laboratórios” e têm habilidade e capacidade para essas verificações empíricas, porém podem ser um tanto quanto estéreis como criadores. Quem sabe ainda tenhamos mais pesquisas e provas por parte dos Positivistas do que os usuários de fato precisam e querem (na Contabilidade Financeira – Geral – e na Gerencial), e com isso consigamos direcionara mente e a criatividade dos pesquisadores Normativistas para produzirem essas respostas, a serem testadas pelos Positivistas, que gerarão novas demandas para os Normativistas etc. Que belo círculo virtuoso corremos o risco de ter!” (MARTINS, E. Normativismo e/ou positivismo em contabilidade: qual o futuro? R. Cont. Fin., USP, São Paulo, n. 39, p. 3-6, set./dez. 2005). Explique qual a mensagem transmitida pelo autor a respeito do texto. FINALIZANDO Nesta aula aprendemos sobre a história da contabilidade, como ela surgiu e se desenvolveu, suas primeiras escolas, quais informações fornece aos usuários e também como são feitas as pesquisas na área contábil. Os temas abordados foram: 1. Conceito, objeto e objetivo da contabilidade; 2. Origem e evolução da contabilidade; 3. Escolas da contabilidade; 4. Tipos de informações: patrimoniais, financeiras e econômicas; 5. Enfoques prescritivo e descritivo. 25 REFERÊNCIAS BRASIL. CFC – Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 774, de 16 de dezembro de 1994. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 jan. 1995. COELHO, C. U. F.; LINS, L. dos S. Teoria da contabilidade: abordagem contextual, histórica e gerencial. São Paulo: Atlas, 2010. CRC-SP – Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo. Caduceu – profissão contábil. Disponível em: <http://www.crcsp.org.br/portal/profissao/caduceu.htm>. Acesso em: 18 maio 2019. COOPER, D. R.; SCHINDLER, P. S. Business Research Methods. 12. ed. Nova York: McGraw-Hill, 2014. CREPALDI, S. A. Curso básico de contabilidade: resumo da teoria, atendendo às novas demandas da gestão empresarial, exercícios e questões com resposta. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. FAVERO, H. L. et al. Contabilidade: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. FERRARI, E. L. Contabilidade geral: teoria e mais de 1.000 questões. 13. ed. Niterói, RJ: Impetus, 2013. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. GRECO, A. L.; GÄRTNER, G.; AREND, L. R. Contabilidade: teoria e prática básicas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. HENDRIKSEN, E. S; BREDA, M. F. V. Teoria da contabilidade. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2007. HOSS, O. Contabilidade intermediária: ensino e decisão. São Paulo: Atlas, 2013. IUDÍCIBUS, S. de. Teoria da contabilidade. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. IUDÍCIBUS, S. de; MARION, J. C. Introdução à teoria da contabilidade: para nível de graduação. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. LOPES, A. B.; MARTINS, E. Teoria da contabilidade: uma nova abordagem. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 26 MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. MARION, J. C. Contabilidade empresarial. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2006. _____. Introdução à contabilidade: com ênfase em teoria. Campinas, SP: Alínea, 2009. PADOVEZE, C. L. Sistemas de informações contábeis: fundamentos e análise. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007. RIBEIRO FILHO, J. F.; LOPES, J.; PEDERNEIRAS, M. (Org.). Estudando teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2009. SÁ, A. L. de. Teoria da contabilidade. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999. 27 RESPOSTAS 1. Letra C. Em 1494, O frei Luca Pacioli lançou o livro Summa de aritmetica, geometria, Proportioni et proportionalita. 2. Letra D. I. A contabilidade é uma ciência social. IV. O objeto da contabilidade é o patrimônio da entidade. 3. Letra E. A escola contista foi a primeira corrente do pensamento contábil da escola italiana, que surgiu dos estudos feitos pelos primeiros expositores do método das partidas dobradas. 4. Letra B. As informações sobre a posição patrimonial da entidade são extraídas do balanço patrimonial. 5. O texto é uma reflexão a respeito dos conflitos existentes entre os adeptos das abordagens positivista e normativista. Faz refletir sobre a importância da harmonia entre eles, pois ambos são necessários para a pesquisa científica na área contábil. Os normativistas criam normas e práticas para a mensuração e registro dos eventos econômicos, e os positivistas testam como a utilização dessas práticas reflete no mundo dos negócios, ou seja, como elas são vistas pelos usuários da informação contábil. As duas abordagens deveriam trabalhar juntas, chegando ao que o autor chama de “círculo virtuoso”.
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