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DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 1 de 19 I – Propriedade É o mais amplo e complexo de todos os direitos reais. A propriedade não é somente um direito, mas um conjunto de poderes inerente a propriedade. Não existe direito real sem propriedade, é a rainha dos direitos reais, está sempre presente. É um complexo de direitos que dá um conjunto de poderes para o proprietário. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. Estes são os poderes da propriedade plena, em que o proprietário exerce todos os poderes inerentes à propriedade. A propriedade não se mistura com a posse. Propriedade exige o TÍTULO, além dos quatro poderes, quem possui o poder e o exerce tem o domínio, atua como dono, mas não tem a propriedade se não tiver o título, não tendo a proteção jurídica integral da propriedade. Sendo assim, quem tem os quatro poderes e não tem o título, tem o domínio útil, e possui a proteção inerente ao domínio. A proteção inerente ao domínio, não é um direito, mas sim uma proteção jurídica, porque quem tem domínio, eventualmente poderá vir a ter a propriedade. A propriedade dá direito a oponibilidade erga omnes, já o domínio é exercido sobre a coisa, tendo efeito intrapartes, que deve ser provado. A propriedade já é provada com o título. Quem possui somente um dos quatro poderes, terá a proteção jurídica inerente ao possuidor, pois é possuidor. PROPRIEDADE, DOMÍNIO e POSSE, são direitos distintos que não se confundem. A TUTELA PROCESSUAL de cada um é distinta. Quem tem propriedade, tem domínio e posse. Quem tem domínio, tem posse. Quem tem posse não necessariamente tem propriedade e domínio, e quem tem domínio não necessariamente tem propriedade. A tutela processual da propriedade é por meio do procedimento comum, é a ação reivindicatória. A tutela processual do domínio, também é por meio do procedimento comum e é a ação publiciana (ação que dá publicidade judicial ao domínio, não deferindo título – é incomum, normalmente ao ter os quatro poderes consegue o DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 2 de 19 usucapião). A tutela processual da posse é a ação possessória por meio do procedimento especial com a liminar possessória. PROPRIEDADE DOMÍNIO POSSE 4 poderes e título 4 poderes Pelo menos 1 poder Procedimento comum Procedimento comum Procedimento especial Ação reivindicatória Ação publiciana Ação possessória → Como quem tem domínio pode ver declarado a sua propriedade? Por meio de usucapião, que permite o registro, diferente da ação publiciana, o juiz difere o título. Nos Direitos reais na coisa alheia (usufruto, superfície, servidão, etc) é o fracionamento dos poderes do Domínio. É a parcela dos poderes do domínio. A propriedade permanece com o titular que tem o título. Ou seja, o proprietário que detém os quatro poderes e o título, detém a propriedade plena. Se o proprietário cede parte dos poderes à terceiro, ele passa a ter propriedade nua (<4 poderes). E o terceiro irá adquirir um direito real. Ex.: Proprietário Uso terceiro → usufruto. Fruição Disposição Reivindicação Encontrar coisa móvel ou semovente alheia perdida. Encontrando a coisa a pessoa adquire a titularidade? “Achado não é roubado”? Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente. Art. 1.237. Decorridos sessenta dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, não se apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta pública e, deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa do descobridor, pertencerá o remanescente ao Município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido. O descobridor tem direito a uma recompensa, que o direito chama de ACHADEGO. Sem acordo, o juiz definirá um valor não inferior a 5% + despesas. Descoberta ≠ Ocupação, ocupação é encontrar coisa móvel sem dono. DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 3 de 19 Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei. 1) Função Social da Propriedade: ocorre quando não ocorre a função social da posse. Obrigação Função Social da Propriedade – o direito não tem que se preocupar em dizer o direito e sim em dar funcionalidade, criar uma proteção. Sendo assim, a função social é para criar uma proteção. O objetivo da função social é não deixar o imóvel abandonado. Função Social é para discutir “para que serve o direito”. Debater sobre a função da propriedade é dizer para que serve a propriedade. Função Social da Propriedade na Constituição Art. 5º (...) XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; Função Social da Propriedade no Código Civil Art. 1.228 (...) § 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas A propriedade deve servir a sociedade e o proprietário deve ser o responsável por fazer com que isso aconteça. A função social é uma CONDICIONANTE para o direito à propriedade privada. A condição para ser proprietário é cuidar do bem em favor da sociedade. O Titular da propriedade não pode violar valores existenciais de terceiro ou sociais no exercício da faculdade inerentes a sua propriedade! A preocupação não é mais só com direitos reais, mas também existenciais, não é só ter e sim ser. Ex.: cachorro em prédio, não é permitido proibir cachorro, pois é direito existencial, bem como elevador para cadeirante. Art. 170 CF/88. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) II - propriedade privada; III - função social da propriedade; A função social é uma CONDICIONANTE para o direito à propriedade privada, mas também é uma DIRETRIZ para Ordem Econômica, com a inclusão de valores humanistas na propriedade e na ordem econômica. Propriedade intelectual (ex.: remédio de aids e quebra de patente). “É a revanche da Grécia sobre Roma!” – a função social vem do direito grego, mas Roma possuía um direito absoluto da propriedade antigamente e liderava. Função social da propriedade é de natureza FINALISTICA, a função social da propriedade tem a finalidade de promover valores existenciais, mesmo dentro da ordem econômica. Não existe direito real absoluto. STJ - REsp 1293608 / PE Inexiste direito de construir absoluto, na exata medida das limitações urbanístico-ambientais e da tutela dos vizinhos incidentes sobre o próprio direito de propriedade, que lhe dá origem e serve de suporte (art. 1.228, § 1º, do Código Civil). Embora caiba ao proprietário levantar em seu terreno as construções que lhe aprouverem, ficam ressalvados os direitos dos vizinhos e os regulamentos administrativos (art. 1.299 do Código Civil). (...) Tal preceito se harmoniza com o princípio da DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 4 de 19 função social da propriedade (art. 5°, XXIII,da Constituição Federal) e com o espírito da nova codificação civil, que considera ato ilícito o exercício de direito quando excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes (art. 187 do Código Civil). O STJ reconhece que não pode haver a exceção dos limites impostos pela função social da sociedade no exercício do direito. STJ - REsp 27039 / SP DIREITO DE PROPRIEDADE. DECISÃO QUE RECONHECEU O DIREITO DO MEDICO, CONSUBSTANCIADO NA RESOLUÇÃO, DE "INTERNAR E ASSISTIR SEUS PACIENTES EM HOSPITAIS PRIVADOS COM OU SEM CARATER FILANTROPICO, AINDA QUE NÃO FAÇA PARTE DO SEU CORPO CLINICO, RESPEITADOS AS NORMAS TECNICAS DA INSTITUIÇÃO", NÃO OFENDEU O DIREITO DE PROPRIEDADE. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE, OU DIREITO DO PROPRIETARIO SUJEITO A LIMITAÇÕES. Foi julgado o direito existencial do paciente. Não fere o direito de propriedade do hospital, o hospital não pode interferir. A função social da propriedade alterou significativamente o direito de propriedade, antes o proprietário só tinha poderes. (uso, gozo, disposição e reinvindicação) – situação jurídica ativa, agora o proprietário tem também obrigações – situação jurídica passiva. Além da situação jurídica ativa, há a passiva, além dos direitos, há obrigação. Situação complexa. DIREITO DE PROPRIEDADE PASSOU A SER UMA SITUAÇÃO JURÍDICA COMPLEXA, TENDO DIREITOS E OBRIGAÇÕES. O DIREITO DE PROPRIEDADE DEIXOU DE SER ABSOLUTO, PARA SER FINALISTICO! 2) Ação Reivindicatória: Procedimento Comum, não existe a possibilidade de uma liminar própria, mas é possível a tutela antecipada. A ação reivindicatória é imprescritível, de forma que só pode ingressar com ela o atual proprietário, e dá o direito de perseguir a coisa com quer que esteja. Competência: Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu. A competência de que se trata o art. 47 é absoluta, lex re sitae, lugar da coisa. Já a do art. 46 é relativa, permitindo a prorrogação da competência se as partes reclamarem, e é territorial. O Título é pressuposto para ação reivindicatória, é requisito essencial, em regra, a exceção se encontra abaixo: AÇÃO REIVINDICATÓRIA. LEGITIMIDADE ATIVA. IRREGULARIDADE DO TÍTULO. PRECEDENTE DA CORTE. Precedente da Corte admite que a promessa de compra e venda irretratável e irrevogável transfere ao promitente comprador os direitos inerentes ao exercício do domínio e confere-lhe o direito de buscar o bem que se encontra injustamente em poder de terceiro. Serve, por isso, como título para embasar ação reivindicatória. - STJ REsp 252020RJ Há uma flexibilização e deve estar integralmente pago. 3) Propriedade Resolúvel DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 5 de 19 Regra Geral = Direito de Propriedade Perpétuo. É transferível mas não deixa de existir. Perpetuidade X Vitaliciedade (enquanto o proprietário viver é dele). Exceção = Direito de Propriedade Resolúvel (Dúvida de quem é o proprietário). Resolúvel = é uma propriedade que se extingue em certas hipóteses. É uma propriedade transitória. Ex.: alienação fiduciária de carro (banco). Causa Originária: É quando o próprio título de aquisição (contrato particular ou público) prevê a resolução da propriedade. A propriedade já nasce com a causa resolúvel, ou seja, com uma causa de extinção originária. A causa da resolução já conhecida desde o começo. No caso do imóvel o próprio particular pode fazer. Quando paga a propriedade resolúvel vira propriedade perpétua (consolidação da propriedade) em favor de quem a compra. Exemplos: • Alienação Fiduciária em garantia: É a propriedade de caráter temporário transferida pelo devedor ao credor, com a finalidade de garantir uma dívida – propriedade fiduciária. A propriedade fiduciária está condicionada ao pagamento da dívida, quitado o empréstimo, automaticamente revoga a fidúcia e consolida a propriedade plena em nome do devedor. O inadimplemento opera a consolidação da propriedade plena em nome do credor. Na venda do bem em alienação fiduciária é necessário o consentimento do banco. Quando não pagar ocorre a consolidação da posse em favor do banco. • Retrovenda: É cláusula acessória ao contrato de compra e venda de imóveis, que permite a “recompra” do imóvel no prazo de 3 anos. Ela é oponível inclusive contra terceiro. Cria a figura da propriedade resolúvel. Art. 505. O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias. Causa Superveniente: É quando o titular adquire a propriedade para ser perpetua, mas no decorrer do seu direito de propriedade surge uma causa que constitui a propriedade resolúvel. Não é uma clausula programada (ocorre um fato que faz com que a propriedade seja resolúvel. Adquiriu como propriedade plena, mas o fato a tornou resolúvel. Exemplos Causa Superveniente: • Revogação da Doação: A doação, em regra, transfere propriedade perpetua e é irrevogável. Mas existem hipóteses que permitem a revogação da doação (revogação por ingratidão). Nestes casos opera a propriedade resolúvel. O prazo é de 1 ano para revogação da data do DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 6 de 19 ocorrido. Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações: I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele; II - se cometeu contra ele ofensa física; III - se o injuriou gravemente ou o caluniou; IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava. As questões da ingratidão ocorrem após o recebimento da propriedade (ou a pessoa atingida poderá perdoar), enquanto tiver dúvidas, a propriedade será resolúvel. Efeitos da Propriedade Resolúvel Originária: A resolução da propriedade de causa originária extinguem-se todos os direitos em sua pendência. O terceiro não pode alegar boa-fé, pois sabe da clausula. Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento do termo, entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua pendência, e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a possua ou detenha. Efeitos da Propriedade Resolúvel Superveniente: A resolução da propriedade de causa superveniente NÃO se extinguem todos os direitos em sua pendência. O terceiro de boa-fé está protegido. O legitimo proprietário terá direito regressivo. Não terá efeitos da causa e tem direito a indenização. Propriedade Resolúvel Causa Superveniente ou Derivada Art. 1.360. Se a propriedade se resolver por outra causa superveniente, o possuidor, que a tiver adquirido por título anterior à sua resolução, será considerado proprietário perfeito, restando à pessoa, em cujo benefício houve a resolução, ação contra aquele cuja propriedade se resolveu para haver a própria coisa ou o seu valor. 4) Responsabilidade Civil do Proprietário O proprietário responde pelos danos que sua propriedade causar a alguém. Exceção 1 - danos causado por animais. Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. Responsabilidade objetiva. A responsabilidade pode ser solidária (ex.: adestrador e dono, cavalo em concurso), uma vez que está previsto o dono ou detentor. Há a excludente de responsabilidade no fimdo artigo. O animal é propriedade do dono, sendo assim, se causar dano a outrem é responsabilidade do proprietário os danos, mas é cabível prova em contrário. Exceção 2 – ruina de prédio. Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. Responsabilidade objetiva. Há a excludente de responsabilidade de força maior. Edifício é qualquer obra acabada. DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 7 de 19 A exceção 1 e a exceção 2 são SEM RISCO INTEGRAL, admitem como exclusão da responsabilidade os casos fortuitos e de força maior. Exceção 3 – coisa caída ou objeto lançado ou efusio et dejectis Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. Aplica-se o risco integral, neste caso não há excludente de responsabilidade. Prédio é qualquer edificação, inclusive casa. Está previsto parte dele, porque se não identificar quem foi, o condomínio será responsável, cabendo direito de regresso. Proprietário de Veículo Automotor – responsabilidade subjetiva solidária. SÚMULA 492 DO STF A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este causados a terceiro, no uso do carro locado. ACIDENTE DE TRÂNSITO. PROPRIETÁRIO DO VEÍCULO. LEGITIMIDADE PASSIVA. DANOS. CONDUTOR. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. O proprietário do veículo que o empresta a terceiro responde solidariamente pelos danos causados por seu uso culposo. A sua culpa configura-se em razão da escolha impertinente da pessoa a conduzir seu carro ou da negligência em permitir que terceiros, sem sua autorização, utilizem o veículo. (STJ, AgRg no REsp 1519178 / DF) 5) Modos de aquisição da propriedade: Originária Aquisição Derivada A aquisição originária é sem vícios (propriedade nova), e a derivada deriva de alguém, todos os vícios são recebidos por quem adquire a propriedade (dívidas, problema no registro, etc.). Originária: Não há translatividade, recebe a coisa livre e desembaraçada, usucapião e acessões. Não há vícios na coisa, não há transferência de pendencias. Com exceção do condomínio, que deve receber as dívidas de pagamento relativas ao condomínio. a) Acessões: São acréscimos feitos a uma coisa. Aumento de volume de uma propriedade. Aplica-se a Teoria da Gravitação Jurídica (tudo que gravita no terreno, pertence à sua propriedade). É o acréscimo feito na coisa de maneira voluntária ou não. É adquirida de forma forçada e é percebida sem vícios. Estes acréscimos podem ser naturais ou artificiais. a.1) Avulsão: Desprendimento abrupto e repentino de terra. Previsão indenizatória em um prazo decadencial de 1 ano (para quem perdeu a terra). Ou paga indenização ou devolve a terra. Acréscimo, desprendimento que faz aumentar a DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 8 de 19 propriedade do outro (ex.: chuva e deslocamento de terra). Percebe-se claramente de onde é. Art. 1.251. Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado. Parágrafo único. Recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que se juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida. a.2) Aluvião: Desprendimento lento e gradual de terra. Não existe previsão indenizatória, nem reclamatória. Isso porque pode evitar o aluvião. Não se percebe de onde veio. Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização. Parágrafo único. O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem. a.3) Formação de Ilhas: Acréscimo de terras em meio as águas. A ilha será dos proprietários ribeirinhos na proporção de sua testada – fonte - (na proporção de sua extensão de terra). Só são do Estado as ilhas habitáveis. Obs.: ilha não é vendido, há concessão pública. A pessoa não tinha propriedade da ilha, a ilha surge e ela passa a ter. a.4) Álveo Abandonado: Código de águas (Decreto 24643/34) Art. 9º Álveo é a superfície que as águas cobrem sem transbordar para o sólo natural e ordinariamente enxuto. O álveo é abandonado quando o rio seca. Será acrescido pelo proprietário ribeirinho correspondente e proporcionalmente. Álveo é o fundo do rio, álveo abandonado é o fundo do rio seco. Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo. A quem pertence o álveo abandonado de um rio navegável ? Dos proprietários ribeirinhos. a.5) Construções e Plantações: É aquilo que o homem acresceu artificialmente. Teoria da gravitação Jurídica (tudo que gravita no terreno, pertence à sua propriedade). Construiu no terreno alheio, a construção é de propriedade do dono do terreno. Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário. (prove o contrário as custas, não a propriedade) DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 9 de 19 Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização. Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo. A boa fé deve ser aos olhos proprietário, a autorização deve existir ainda que tácita. Na constância do casamento, a construção do terreno é dos dois, no fim, observa-se a regra do regime adotada. Derivada: Há translatividade – negócio jurídico, deve respeitar todos os vícios e gravames – “ninguém pode dar mais do que tem”, Registro Público de Imóveis. Não é com a escritura que se adquire os bens, e sim com o registro, e os bens móveis com a tradição. II – Usucapião É a aquisição da propriedade pela prescrição. – Prescrição aquisitiva de propriedade. É a aquisição pelo decurso do tempo. Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião. Art. 197. Não corre a prescrição: I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; a separação de fato extingue a sociedade conjugal. II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela. Art. 198. Também não corre a prescrição: I - contra os incapazes de que trata o art. 3º absolutamente; II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios; III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra. A sentença de usucapião é meramente declaratória e constitutiva do registro (o título). No momento da propositura da ação o requerente precisa estar na posse do bem? Não visto que a sentença é meramente declaratória. Declara aexistência do usucapião, reconhecendo algo que já aconteceu, é meramente declaratória, basta o tempo. No momento da propositura da ação é necessário o requerente estar na posse do bem, apenas no momento que adquire o usucapião. Súmula 263 STF O possuidor deve ser citado, pessoalmente, para a ação de usucapião. Os requisitos obrigatórios estão presentes em qualquer tipo de usucapião, já os facultativos variam conforme o tipo e estão ligados à função social da posse, quanto maior a função, menor o prazo. Posse qualificada: Posse mansa, pacifica e ininterrupta; com animus domini. O usucapiente não precisa estar na posse para que esta posse seja qualificada. É a posse que não foi perturbada ou esbulhada por ninguém, ninguém tentou tomar a posse (não vale para ameaça). Pode contratar um detentor para garantir a ininterrupção (exercer a DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 10 de 19 posse em seu lugar). Não precisa pagar IPTU para ter usucapião, mas serve de prova de animus domini. A propositura de uma ação desqualifica a posse? Não, somente ganhando a ação (neste caso retroage à data da propositura). STJ AR 440/SP USUCAPIÃO - CITAÇÃO DO POSSUIDOR EM AÇÃO POSSESSÓRIA IMPROCEDENTE - EFEITO INTERRUPTIVO - AUSÊNCIA. A teor da reiterada jurisprudência desta Corte e do STF, a ação possessória cujo pedido fora julgado improcedente não interrompe o prazo para a aquisição da propriedade por usucapião. Se ganhar, retroage à data de distribuição da ação. - A posse qualificada admite a soma de posses. Acessio possessionis (ato intervimos): Desde que ininterruptas as posses podem ser somadas, ainda que seja de vendedor para comprador. Sucessio Possessionis (causa mortis): Também permite a soma das posses, porém se for sucessor universal (herdeiro), a soma da posse é obrigatória, se for sucessor singular (testamentário) é facultativo. Todas as posses somadas devem ser mansas, pacificas e ininterruptas. Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores, contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé. STJ Resp. 30325/SP CIVIL. USUCAPIÃO. PRAZO. O tempo decorrido entre o ajuizamento da ação e a sentença não pode ser computado para o efeito do usucapião. Recurso especial conhecido e provido. Quando ingressar com a ação já deve ter adquirido o tempo. - Idoneidade da Coisa (Coisa Hábil) – bens que não podem ser usucapidos: Bens incorpóreos, propriedade de coisas públicas, área comum em condomínio edilício (mas admite suppressio), condomínio comum, propriedade intelectual, direito autoral. Os bens públicos podem sofrer usucapião, mas não de propriedade. STJ REsp 214.680/SP CONDOMÍNIO. ÁREA COMUM. PRESCRIÇÃO. BOA-FÉ. Área destinada a corredor, que perdeu sua finalidade com a alteração do projeto e veio a ser ocupada com exclusividade por alguns condôminos, com a concordância dos demais. Consolidada a situação há mais de vinte anos sobre área não indispensável à existência do condomínio, é de ser mantido o statu quo. Aplicação do princípio da boa-fé (suppressio). Supressio: supressao do direito do condominio de tirar a grade e surrectio do direito da senhora de manter (direito de uso). Não tem prazo, varia de caso concreto. Área comum, acessível a todos. STJ REsp 10978/RJ USUCAPIÃO. CONDOMINIO. PODE O CONDOMINO USUCAPIR, DESDE QUE EXERÇA POSSE PROPRIA SOBRE O IMOVEL, POSSE EXCLUSIVA. CASO, PORÉM, EM QUE O CONDOMINO EXERCIA A POSSE EM NOME DOS DEMAIS CONDOMINOS. IMPROCEDENCIA DA AÇÃO. Área comum não acessível a todos. STJ REsp 174108/SP CLAUSULAS RESTRITIVAS TAMBÉM REIVINDICATÓRIA. USUCAPIÃO COMO DEFESA. ACOLHIMENTO. BEM DE FAMÍLIA. DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 11 de 19 O bem de família, sobrevindo mudança ou abandono, é suscetível de usucapião. Se a família abandona, não há argumento jurídico, inclusive se for apenas quanto à parte do bem. - E a garagem pode ser usucapida? Sim, se tiver matricula autônoma. Tipos de regime de garagem: • Sem matrícula própria, atrelada ao imóvel, • Com matrícula autônoma, • Em condomínio – não é possível usucapião para os condôminos, pois é bem de uso comum, somente terceiros podem usucapir. Caso tenha usucapido a unidade principal, estará usucapido a garagem também, como bem acessório. - Prazo (Lapso Temporal Mínimo) A presença dos Requisitos Facultativos importa em diminuição do prazo, pois estão atrelados à função social. > FS, < prazo. O que é justo título? Enunciado 86 da Jornada de Direito Civil A expressão “justo título” contida nos arts. 1.242 e 1.260 do Código Civil abrange todo e qualquer ato jurídico hábil, em tese, a transferir a propriedade, independentemente de registro. Justo título é qualquer documento que demonstre que você adquiriu o bem por transferência, indepdente de legalidade. STJ REsp 174108/SP REIVINDICATÓRIA. USUCAPIÃO COMO DEFESA. ACOLHIMENTO. POSSE DECORRENTE DE COMPROMISSO DE VENDA E COMPRA. JUSTO TÍTULO. A jurisprudência do STJ reconhece como justo título, hábil a demonstrar a posse, o instrumento particular de compromisso de venda e compra. Em regra é necessário o título, mas quem já possui tempo suficiente para usucapir (adquirir a propriedade), pode ingressar com ação reivindicatória sem a ação de usucapião (declaratória) antes. Bens móveis: Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade. Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá usucapião, independentemente de título ou boa-fé. Obs.: má – fé permite usucapião. Disposições Sumula 237 do STF O usucapião pode ser argüído em defesa. Já que não precisa de ação, pode ser alegado na contestação. O usucapião alegado como matéria de defesa e acolhido pelo juiz permite o registro do usucapião? Não, somente gera a improcedência do pedido, em regra, se quiser o registro tem que entrar com a ação de usucapião, porque não é isso que o juiz está julgando, a exceção se dá quanto ao urbano e rural. STJ REsp. 725.222/MT AÇÃO REIVINDICATÓRIA. DEFESA. USUCAPIÃO. AQUISIÇÃO DO DOMÍNIO. IMPOSSIBILIDADE. Uma vez julgada improcedente ação de reivindicação, diante de defesa cifrada na ocorrência de usucapião (súmula 273 do Supremo Tribunal Federal) não há que se pretender a DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 12 de 19 transcrição do imóvel em nome dos beneficiários da prescrição aquisitiva, posto que isto apenas é possível após o ajuizamento da ação própria. Exceções Usucapião Especial Urbano Individual Estatuto da Cidade – Lei 10.257 de 2001 Art. 13. A usucapião especial de imóvel urbano poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a reconhecer como título para registro no cartório de registro de imóveis. Usucapião Especial Rural Lei 6.969 de 1981 Art. 7º - A usucapião especial poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a reconhecer como título para transcrição no Registro de Imóveis. Tipos de Usucapião Usucapião Extraordinário Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Exige apenas os requisitos obrigatórios. Prazo 15 anos. Art. 1.238 - Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvela sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. Usucapião Ordinário Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. Exige-se requisitos facultativos. Prazo 10 anos. Art. 1.242 - Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico. Usucapião Especial Urbano Individual Art. 183 CF. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2º O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 13 de 19 Não pode ser exercido por Pessoa Jurídica, devido ao caráter personalíssimo, apesar da pessoa jurídica poder usucapir alegando caráter de moradia (aluguel), neste caso não é possível. O §1º prevê o título de domínio e concessão de uso conferidos ao homem ou a mulher ou à ambos, independente do estado civil, devido ao caráter de bem de família, não sendo necessário o casamento para que os dois adquiram, ambos serão proprietários. O §2º prevê que esse tipo de usucapião não pode ser usado mais e uma vez, devido ao instituto de moradia. Usucapião Especial Urbano Coletivo Estatuto da Cidade – Lei 10257 de 2001 Art. 10 . As áreas urbanas com mais de duzentos e cinqüenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. § 1º O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas. § 2º A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis. § 4º O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio. § 5º As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também os demais, discordantes ou ausentes. Art. 11. Na pendência da ação de usucapião especial urbana, ficarão sobrestadas quaisquer outras ações, petitórias ou possessórias, que venham a ser propostas relativamente ao imóvel usucapiendo. Art. 12. São partes legítimas para a propositura da ação de usucapião especial urbana: I – o possuidor, isoladamente ou em litisconsórcio originário ou superveniente; II – os possuidores, em estado de composse; III – como substituto processual, a associação de moradores da comunidade, regularmente constituída, com personalidade jurídica, desde que explicitamente autorizada pelos representados. § 1º Na ação de usucapião especial urbana é obrigatória a intervenção do Ministério Público. § 2º O autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o cartório de registro de imóveis. Não existe usucapião coletivo rural. Este tipo de usucapião é como a regularização fundiária de favela. O §2º trata do título para registro, no registro de imóvel todos serão proprietários em condomínio especial. Cada um com sua posse e sua fração de propriedade. A venda se dá na posse. O título protege a coletividade. Esse tipo de usucapião é possível ser usado mais de uma vez, uma vez que possui caráter coletivo, seu intuito é a coletividade e não a moradia. No art. 11, que trata da ação, significa que na existência de ação de usucapião especial urbano coletivo, as demais ações serão suspensas. Quanto ao art. 12, existem entendimentos isolado sobre o MP como parte legitima. DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 14 de 19 O único tipo de usucapião que não é personalíssimo e não há soma de posses dentre os especiais. Usucapião Especial Urbano Familiar Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex- companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. Jurisprudência entende que a competência é da Vara de Família e não de registro públicos. Não adquiri originariamente a propriedade, mas a meação, uma vez que já possui a propriedade em 50%, irá adquirir os outros 50%. O abandono deve ser real. É de relevante função social. Não se observa a culpa, não há que se falar em divórcio, a propriedade é adquirida independente de divórcio. Independe do regime, ainda que seja separação de bens e o imóvel seja de quem abandonou. O §1º não faz sentido, uma vez que a lei copiou do usucapião especial urbano individual. Não há que se falar em soma de posse, pois é personalíssimo. Não existe usucapião especial rural familiar. Usucapião Especial Rural Art. 191 CF. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. Admite mais de uma aquisição. Não existe usucapião especial rural coletivo, uma vez que é por reforma agrária (politica pública). Não há que se falar em soma de posse, pois é personalíssimo. Pode ser usado mais de uma vez. Impossibilidade de fracionamento da área para usucapir. Enunciado 313 da Jornada de Direito Civil Quando a posse ocorre sobre área superior aos limites legais, não é possível a aquisição pela via da usucapião especial, ainda que o pedido restrinja a dimensão do que se quer usucapir. Usucapião Tabular (ordinário com redução de prazo) Art. 214 LRP - As nulidades de pleno direito do registro, uma vez provadas, invalidam-no, independentemente de ação direta. § 5º A nulidade não será decretada se atingir terceiro de boa-fé que já tiver preenchido as condições de usucapião do imóvel. Exige os requisitos do usucapião ordinário. Vai ser alegado em sede de contestação em uma ação de invalidade ou falsidade de registro público. DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 15 de 19 Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que,contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico. Outros Usucapiões Menos utilizados Usucapião Especial Indígena Estatuto do Índio – Lei 6.001 de 1973 Art. 33. O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos, trecho de terra inferior a cinqüenta hectares, adquirir-lhe-á a propriedade plena. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às terras do domínio da União, ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de que trata esta Lei, nem às terras de propriedade coletiva de grupo tribal. Não precisa morar, nem plantar, basta cercar. Usucapião Especial Imobiliário Administrativa Minha casa minha vida – Lei 11.977 de 2009 - Regularização Fundiária Art. 60. Sem prejuízo dos direitos decorrentes da posse exercida anteriormente, o detentor do título de legitimação de posse, após 5 anos de seu registro, poderá requerer ao oficial de registro de imóveis a conversão desse título em registro de propriedade, tendo em vista sua aquisição por usucapião, nos termos do art. 183 da Constituição Federal. A prefeitura dá o título, depois de 5 anos vai direto no cartório, não precisa de ação. Pode haver soma. Art. 183 da CF são os requisitos do especial urbano individual. Pode haver soma. DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 16 de 19 Espécies de Usucapião TIPO PRAZO Req. Facultativos Extraordinário 15 anos -- Extraordinário com redução de prazo ou função social 10 anos Moradia ou caráter produtivo Ordinário 10 anos Justo título e boa-fé Ordinário com redução de prazo ou função social - Tabular 5 anos Onerosidade, cancelamento de registro, moradia ou investimento econômico ou de interesse social Especial urbano individual 5 anos Menor ou igual à 250m², sua moradia (ou da família), não ser proprietário de outro imóvel (intuitu personae, não pode somar posse – accesion possessendi) Especial coletivo 5 anos Maior ou igual à 250m², baixa renda, sua moradia, impossibilidade de identificação, não ser proprietário de outro imóvel Especial urbano familiar 2 anos Menor ou igual à 250m², único imóvel, abandono do lar, moradia sua ou da família Especial rural 5 anos Menor ou igual à 50 hectares, sua moradia ou de sua família, produtividade, área rural e único imóvel Especial indígena 10 anos Menor ou igual à 50 hectares, ser índio Especial imobiliário administrativo 5 anos do título Menor ou igual à 250m², sua moradia (ou da família), não ser proprietário de outro imóvel (intuitu personae, não pode somar posse – accesion possessendi) + título de legitimação de posse DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 17 de 19 Procedimentos Em ambos os procedimentos não é necessário o título, o reconhecimento é automático. Usucapião em Cartório - Administrativo Art. 1.071. O Capítulo III do Título V da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), passa a vigorar acrescida do seguinte art. 216-A: Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por advogado, instruído com: I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e de seus antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias, aplicando-se o disposto no art. 384 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil); II - planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente habilitado, com prova de anotação de responsabilidade técnica no respectivo conselho de fiscalização profissional, e pelos titulares de direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo ou na matrícula dos imóveis confinantes; III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente; IV - justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem, a continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais como o pagamento dos impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel § 1o O pedido será autuado pelo registrador, prorrogando-se o prazo da prenotação até o acolhimento ou a rejeição do pedido. § 2o Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titulares de direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo ou na matrícula dos imóveis confinantes, o titular será notificado pelo registrador competente, pessoalmente ou pelo correio com aviso de recebimento, para manifestar consentimento expresso em quinze dias, interpretado o silêncio como concordância. § 3o O oficial de registro de imóveis dará ciência à União, ao Estado, ao Distrito Federal e ao Município, pessoalmente, por intermédio do oficial de registro de títulos e documentos, ou pelo correio com aviso de recebimento, para que se manifestem, em 15 (quinze) dias, sobre o pedido. § 4o O oficial de registro de imóveis promoverá a publicação de edital em jornal de grande circulação, onde houver, para a ciência de terceiros eventualmente interessados, que poderão se manifestar em 15 (quinze) dias. § 5o Para a elucidação de qualquer ponto de dúvida, poderão ser solicitadas ou realizadas diligências pelo oficial de registro de imóveis. § 6o Transcorrido o prazo de que trata o § 4o deste artigo, sem pendência de diligências na forma do § 5o deste artigo e achando-se em ordem a documentação, o oficial de registro de imóveis registrará a aquisição do imóvel com as descrições apresentadas, sendo permitida a abertura de matrícula, se for o caso. § 7o Em qualquer caso, é lícito ao interessado suscitar o procedimento de dúvida, nos termos desta Lei. § 8o Ao final das diligências, se a documentação não estiver em ordem, o oficial de registro de imóveis rejeitará o pedido. § 9o A rejeição do pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de ação de usucapião. DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 18 de 19 § 10. Em caso de impugnação do pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, apresentada por qualquer um dos titulares de direito reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, por algum dos entes públicos ou por algum terceiro interessado, o oficial de registro de imóveis remeterá os autos ao juízo competente da comarca da situação do imóvel, cabendo ao requerente emendar a petição inicial para adequá-la ao procedimento comum. § 11. No caso de o imóvel usucapiendo ser unidade autônoma de condomínio edilício, fica dispensado consentimento dos titulares de direitos reais e outros direitos registrados ou averbados na matrícula dos imóveis confinantes e bastará a notificação do síndico para se manifestar na forma do § 2o deste artigo. § 12. Se o imóvel confinante contiver um condomínio edilício, bastará a notificaçãodo síndico para o efeito do § 2o deste artigo, dispensada a notificação de todos os condôminos. § 13. Para efeito do § 2o deste artigo, caso não seja encontrado o notificando ou caso ele esteja em lugar incerto ou não sabido, tal fato será certificado pelo registrador, que deverá promover a sua notificação por edital mediante publicação, por duas vezes, em jornal local de grande circulação, pelo prazo de quinze dias cada um, interpretado o silêncio do notificando como concordância. § 14. Regulamento do órgão jurisdicional competente para a correição das serventias poderá autorizar a publicação do edital em meio eletrônico, caso em que ficará dispensada a publicação em jornais de grande circulação. § 15. No caso de ausência ou insuficiência dos documentos de que trata o inciso IV do caput deste artigo, a posse e os demais dados necessários poderão ser comprovados em procedimento de justificação administrativa perante a serventia extrajudicial, que obedecerá, no que couber, ao disposto no § 5o do art. 381 e ao rito previsto nos arts. 382 e 383 da Lei no 13.105, de 16 março de 2015 (Código de Processo Civil). • O cartório de imóveis (CI) é responsável pelo registro de imóveis; • O cartório de títulos e documentos (CTD) é responsável pela conservação de documentos e notificação; • O cartório de notas (CN) é responsável pela autenticação de fotos e documentos (o CN só fala prazo, posse mansa e pacifica, mas não tipifica o usucapião, quem tipifica é o CI, pela qualificação registral). O início do procedimento se dá no CI de matrícula do imóvel. Há a escritura declaratória reconhecendo a posse mansa e pacifica e o prazo por ata notarial no CN. O memorial feito por engenheiro é uma descrição do desenho da planta. Mesmo faltando documentação é feita a prenotação (que é a preferência, demonstra que a pessoa chegou primeiro para usucapir, mediante um número de protocolo que protege a pessoa até o fim do procedimento (o seu procedimento é prorrogado e o outro fica suspenso)). O §2º determina que é necessário o recolhimento da assinatura de todos os vizinhos confrontantes, bem com o do proprietário na planta do imóvel, aqueles que não concederem a assinatura serão notificados por endereço ou edital pelo CTD para saber se concordam, com um prazo de 15 dias para manifestação, DIREITO DAS COISAS 2º bimestre Página 19 de 19 havendo silencio, a portaria 116 do CNJ considera como aceito. Conforme o §3º, o CTD notifica a União, o estado/DF, e o município pessoalmente para interesse, enquanto não houver responder não há seguimento com o procedimento. No §4º determina-se a publicação no jornal. No §6º é a decisão do cartório se está tudo de acordo para deferimento. No §7º, havendo indeferimento, é requerido que o juiz decida (suscitação de dúvida – recurso). Ação de Usucapião Procedimento comum no NCPC. Art. 246. A citação será feita: (...) § 3º Na ação de usucapião de imóvel, os confinantes serão citados pessoalmente, exceto quando tiver por objeto unidade autônoma de prédio em condomínio, caso em que tal citação é dispensada. Art. 259. Serão publicados editais: I - na ação de usucapião de imóvel; A citação será feita ao proprietário e aos previstos no §3º, os confinantes são os vizinhos confrontantes, que fazem divisa, para saber se tem interesse em defesa. Citação do Município, Estado e União. Tem que haver edital obrigatoriamente, ainda que citados todos, para possível citação de terceiros interessados. Não há mais intervenção do MP. Foro competente é o local da coisa, lex re sitae.
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