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Parte 1 1 Angiologia – Clínica Médica NMN Trombose Venosa Profunda A Trombose Venosa pode acometer o sistema profundo e ser chamada de Trombose Venosa Profunda, e pode acometer o sistema superficial e ser chamada de tromboflebite. Quando o paciente tem o sistema superficial com um trombo normalmente é o sistema safeno, seja ele interno ou externo (safena magna ou safena parva). Quando falamos em TVP temos as veias profundas. Relembrando quais são elas de baixo para cima, temos: VV Tibiais, VV Poplíteas, VV Femorais, VV Soleares, e VV Gêmeas (que são aquelas que ficam dentro dos Músculos). Definição: Formação aguda de trombo nas veias dos MMII. Se é agudo aconteceu agora, aconteceu há pouco tempo! Se isso aconteceu há um mês não é mais agudo; ou houve erro médico no diagnóstico ou o paciente nem se quer procurou o médico. O paciente com TVP começa a se queixar se sintomas como dor, cianose. Incidência: 1 caso para cada mil habitantes em média. Atenção! Se o paciente tem quadro de trombose nas duas pernas tem alguma coisa errada! Ou o paciente tem uma Trombose na VCI no abdome, ou ele tem uma Síndrome Compressiva em algum segmento abdominal (na mulher pode ser o útero, e no homem pode ser a próstata, ou um tumor no intestino, por exemplo, pode comprimir a VCI). O professor contou o relato de uma paciente que teve TVP com 29 anos devido à colocação de silicone (que não era silicone) na região glútea. Na faixa etária da paciente a maior causa de TVP é anticoncepcional, como essa paciente não tomava anticoncepcional, precisávamos investigar e pensar em TVP para fazer o diagnóstico. Fisiopatologia - Tríade de Virchow: Virchow acreditava ser necessário que o paciente tivesse esses três fatores (hipercoagulabildade, estase sanguínea, e lesão endotelial) para a formação do trombo. Contudo, hoje sabemos que se o paciente tiver apenas um desses três fatores já é o suficiente para a formação do trombo. *A estase é o fator mais comum. Lesão endotelial: A lesão/disfunção endotelial deixa o subendotélio exposto, isso altera a carga elétrica, e cargas elétricas diferentes geram atração. Quando o endotélio está íntegro temos a mesma carga elétrica, então a plaqueta não agrega àquela região, ela passa direto. Contudo, quando há lesão endotelial ocorre alteração na carga elétrica e as plaquetas se aderem àquela região devido à exposição do subendotélio. Isso leva à liberação de tromboplastina, que faz com que se acumulem mais plaquetas e leucócitos, e leva à ativação da cascata de coagulação que libera tromboxano. O tromboxano é o elemento principal para fazer o trombo, ele é o maior agregador que existe, então ele vai agregar muito mais plaqueta do que antes. Assim, vamos agregando plaquetas... e formando trombina... agregando plaquetas... e a fibrina surge... Essa sequência gera uma reação imediata. O mecanismo da lesão endotelial não é um mecanismo patológico, mas sim um mecanismo fisiológico, haja vista que temos uma lesão na parede e a agregação acontece para “ tapa/proteger” aquele lugar. A plaqueta vai lá para proteger o subendotélio. Se não tivesse esse processo para cicatrizar essa lesão (tampar essa região) ia ficar sangrando constantemente. Então, é uma fisiologia. Estase venosa: É a redução do fluxo venoso. Todo mundo tem todos os dias. Está relacionada com a redução do DC, relaxamento muscular, e alterações da panturrilha (panturrilha parada muito tempo). Esses três juntos geram aumento de sangue nas veias. Se aumentamos sangue nas veias, aumentamos as chances de coagular, e diminui a velocidade do sangue. Essas alterações estão ligadas ao que você está fazendo, mas uitas pessoas tem pré-disposição a terem trombose. Cai na PI! Parte 1 2 Angiologia – Clínica Médica NMN A origem genética da trombose é fundamental, é causada pelo Fator V de Leiden – sempre cai em prova de residência. “Doutor, eu vim aqui porque meu pai e minha mãe tem trombose, e eu tenho medo de ter também” – Esse paciente realmente pode ter trombose. Nesse caso, para prevenir a trombose desse paciente devemos evitar a estase venosa. Isso porque não temos como saber quando vai haver hipercoagulabilidade, nem lesão no endotélio, mas podemos evitar a estase. Então, devemos pedir ao paciente para andar, para movimentar o pé, colocar a perna pra cima (apoiada só com o calcanhar). (Imagem): Isso aqui é uma válvula. O sangue sobe (ela abre), e o sangue tende a voltar (ela fecha). Não dá pra mexer a válvula. Quando começa a haver estase, o volume de sangue aumenta, e a veia dilata. Quando a veia dilata, a válvula se afasta (fica insuficiente), então nós precisamos fechar a veia, tirar a dilatação. Não existe venoconstrictor, então temos que fazer N medidas para que essa veia não dilate. Se esse paciente saiu de casa as 6 horas da manhã, passou o dia todo sentado assistindo aula com a perna para baixo, se quando ele chegar em casa ele levantar as pernas, isso melhora o retorno venoso? Sim! Mas seria mais interessante fazer isso ainda sentado. Relembrando... Pressão Venosa conforme a posição do paciente Deitado: 0 mmHg Sentado: 60 mmHg Em pé: 100 mmHg Se o paciente que está sentado coloca a perna mais para cima, eleva a perna, isso vai reduzir nem que seja um pouco essa pressão venosa. Se esse paciente sentado apoia a perna num banquinho, e movimenta, a pressão com certeza é menor do que 60 mmHg. Se o paciente cruza as pernas, só o movimento que ele faz para cruzar as pernas já reduz a pressão e melhora o retorno venoso. E se a veia dilatou, e a válvula ficou insuficiente? Nesse caso, temos um risco ainda maior da formação de um trombo em cima do folheto da válvula. Isso acontece porque ali é onde vamos ter mais estase (como a válvula vai mexer pouco, tem mais sangue parado), e o sangue vai coagular com mais facilidade. Hipercoagulabilidade: Ocorre aumento dos fatores de coagulação, e redução dos fatores de inibição (fator de inibição da formação do coágulo, redução da atividade fibrinolítica- de quebra de fibrina). (Imagem): Lado capilar arterial, lado da vênula, e lado da veia. O sangue está indo “daqui para lá”, só que se eu fizer um trombo o sangue não consegue passar e vai sobrecarregar o sistema, vai gerar refluxo, e aumentar a pressão superficial onde nós temos os linfáticos. Os linfáticos aguentam drenar até 3 vezes o volume, então até 3 vezes não temos edema. Contudo, se os linfáticos não conseguirem drenar vamos ter o surgimento de edema. Muitas pessoas com TVP tem Edema. Se uma perna só inchou, pensa que pode ser TVP. Observações: − Se você tiver diante de um quadro que tem dúvida se é ou não TVP, devemos tratar como se fosse! Isso porque se nós não tratarmos essa TVP o paciente pode evoluir com embolia pulmonar, e óbito. Quanto mais perto do coração (ex. Jugular, Subclávia) maior é o risco de ir para o pulmão e fazer uma embolia. − Suspeitou de trombose em paciente que usa anticoncepcional? Suspende o anticoncepcional até descartar o diagnóstico! Nosso objetivo é REDUZIR A ESTASE, É MELHORAR O RETORNO VENOSO! Parte 1 3 Angiologia – Clínica Médica NMN Fatores de risco para TVP: Pacientes com mais de 40 anos já tem risco de fazer TVP. Pacientes que ficam acamados muito tempo. Pacientes no pós operatório (ficam 1, 2 semanas deitados) “ Ah, mas deitado a pressão não é 0?” Sim! Mas precisamos movimentar! Se ficar deitado o tempo todo o sangue vai ficar parado, tem que ficar apertando o pé do paciente para evitar estase venosa. Pacientes com AVC fazem marcha Helicoidal e param de mexer o membro como deveria, isso dificulta o retorno venoso. Pacientes que vão viajar, seja de avião ou de ônibus. Devemos orientar o paciente que quando o ônibus fizer uma parada que ele levante, ande bastante, para melhorar o retorno venoso. Observação: O risco de viagens de ônibus é maior do que de viagens de avião porquê de avião o tempo é mais curto, e de ônibus o paciente fica mais tempo sem movimentar as pernas. Pacientes que já tiveram TVP tem maior chance de ter de novo. Pacientes que tem varizes, tem duas vezes mais chances de ter trombose. Obesidade. Pacientes com câncer tem maior risco de fazer TVP porque o câncer aumenta a pró-coagulação. Pacientes em quimioterapia. Pacientes com ICC. Puérperas. Pacientes em uso de anovulatórios (inibem a anti-trombina 3 que é quem bloqueia a ação) Reposição hormonal. Policitemia. Raça: É muito discutida. No Brasil não temos raças separadas, é tudo miscigenado. Tipagem sanguínea: Alguns dizem que pessoas do grupo O tem maior propensão à TVP. Todos esses fatores de risco precisamos saber que podem acontecer. Então, uma paciente obesa, fazendo reposição hormonal, com a perna inchada, que não movimenta, tem tudo para ser trombose: não pode deixar de pensar nisso! Observação: Alguém mencionou a Bomba pneumônica intermitente, e que ela reduziria o risco do paciente desenvolver TVP no pós operatório, contudo nem todo hospital tem. Sinais e sintomas: O paciente só procura o médico quando tem dor, e quando essa dor é tão forte que o incomoda. Então, 86% dos pacientes tem dor. Dor Aumento da consistência muscular Edema Em proporções menores temos outros sintomas: dor a palpação do músculo, dor no trajeto venoso, sinal de Homans positivo, dilatação das veias superficiais. Metade das pessoas tem tudo isso ai! Então, se você não faz o diagnóstico de TVP ou você é BURRO, ou não deu a atenção que o paciente merecia. (Imagem): Esse aqui está tão inchado que está brilhando! O que chama atenção aqui é a necrose! Mas necrose na veia? Sim! O edema comprime a artéria e não deixa passar sangue. O edema é em toda a periferia, incha pra dentro, e incha para fora. Paciente com dor, edema, e panturrilha dura, até que se prove ao contrário é TVP. Sinal de Homans: Desconforto ou dor na panturrilha após dorsiflexão passiva do pé. Parte 1 4 Angiologia – Clínica Médica NMN (Imagem): Paciente caquética, acamada, atrofiada, com TVP unilateral. A perna com trombose é a perna edemaciada, a outra perna é a perna caquética. Paciente acamada fez uma trombose de V ilíaca, e edemaciou a perna toda. Para não esquecer: Paciente quando faz edema pode começar de baixo para cima, ou de cima para baixo. Isso varia conforme a patologia. “Doutor, eu não tinha nada, acordei hoje de manhã com a perna inchada”. – Já deu ruim! A coxa estava inchada, e o pé não estava inchado. Edema RIZOMÉLICO (na raiz do membro) = NEOPLASIA. Se a paciente for mulher devemos ter atenção total com os ovários. Os ovários podem estar crescendo aos poucos, e de um dia para o outro crescer um pouco a mais e já ser o suficiente para apertar a veia e fazer um edema rizomélico. Sinal de Homans Dorsiflexão com distensão da panturrilha. Pegamos o pé do paciente, seguramos o calcanhar e empurramos. Quando fazemos isso vamos esticar a panturrilha e o paciente vai reclamar de muita dor. Essa manobra esmaga ainda mais a musculatura da panturrilha sobre a veia, por isso a dor aumenta. Mas, alguns pacientes que podem apresentar “assim” e ser trombose. Chama-se Cerulea Alba Dolens ou Cerulea Alba Nigrans. Na Cerulea Alba Dolens uma perna fica branca (fica branca porque a Veia entupiu, inchou, apertou a artéria (comprimiu), e está faltando sangue ali). Se não está passando sangue, a temperatura está mais no centro do que na periferia, então está FRIO. Artigo Científico: O termo flegmasia alba dolens refere-se a palidez e edema do membro causada pela associação da trombose venosa ileofemoral e espasmo arterial. O edema pode aumentar de intensidade e placas azuladas surgem na pele. Flegmasia cerulea dolens é aplicada ao caso raro de marcado edema e cianose do membro inferior devido a trombose ileofemoral. A cianose é secundária a severidade da oclusão venosa, envolvendo, geralmente, os vasos da coxa, veia safena e comunicantes. O edema pode ser de tal intensidade que impede o fluxo arterial e causa isquemia. A apresentação é dramática, com dor, cianose, edema e petéquias hemorrágicas, com elevada morbidade e mortalidade. (http://publicacoes.cardiol.br/abc/1996/6703/67030013.pdf) Exames complementares: Flebografia; Eco doppler; Pletismografia: Mede o volume do membro – muito pouco usada no geral, exceto em MG que se usa bastante. Para fazer esse exame precisamos de um local apropriado. O paciente coloca a perna dentro de um balde com água e vemos o quanto de volume aumentou. Teste do fibrinogênio (D- dímero): Esse exame diz que tem algum lugar com risco de trombose, mas não diz onde é.
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