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Capitulo 01 - Antigo Oriente e Egito - História Mundial da Arquitetura

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Alguns leitores talvez fiquem desanimados com a perspectiva de um capítulo inteiro sobre os “pri-mórdios” ou a “pré-história” da arquitetura, acredi-tando que as construções realmente interessantes e 
as ideias verdadeiramente provocadoras se encontram mui-
tas páginas à frente; felizmente, este não é o caso. As es-
truturas que apresentamos neste capítulo inicial são ricas e 
variadas e, com frequência, sofisticadas. Além disso, por se-
rem “antigas” e sempre locais, estão de certa forma mais ex-
postas à revelação do que as estruturas posteriores. Ou seja, 
elas expõem certos princípios fundamentais da arquitetura, 
assim como – quem sabe – alguns aspectos fundamentais 
da condição humana, para que os consideremos.
Em 1964, o polímato, arquiteto, engenheiro e histo-
riador Bernard Rudofsky organizou a exposição Architecture 
Without Architects (Arquitetura Sem Arquitetos) no Museu 
de Arte Moderna da Cidade de Nova York, e, embora sur-
preendente para a época, acabou se tornando extremamente 
influente. A exposição causou certo frisson ao surgir em um 
período de questionamento cultural generalizado nos Esta-
dos Unidos; o subtítulo do livro que a acompanhava – A 
Short Introduction to Non-Pedigreed Architecture (Uma Breve 
Introdução à Arquitetura Sem Pedigree) – indica porque ela 
era tão fantástica ou, melhor dizendo, iconoclástica. Ilus-
trando, com uma admiração pessoal evidente, aquilo que 
chamava de arquitetura “vernacular, anônima, espontânea, 
autóctone, rural”, Rudofsky defendia um estudo muito mais 
completo – cronológica e geograficamente – do ambiente 
construído, que não tratasse exclusivamente de construções 
feitas para os ricos e poderosos e não resultasse exclusiva-
mente das iniciativas daqueles que poderíamos chamar de 
projetistas com formação acadêmica. As imagens dos exem-
plos de arquitetura que ele exibiu e analisou incluíam mor-
ros artificiais da China, casas escavadas na rocha da Turquia, 
coletores de vento do Paquistão e muito mais.
Ao ler o livro de Rudofsky e, especialmente, as pági-
nas iniciais deste capítulo, você tende a deixar de lado 
as questões de moda e até mesmo de estilo, favorecendo 
formas anônimas ou mesmo “arquétipas”, embora dis-
tintas, para compreender melhor as respostas humanas a 
ambientes particulares; materiais de construção locais es-
pecíficos; sistemas estruturais elementares, porém expres-
sivos em termos de lógica; e condições sociais primitivas, 
porém sutis. Você poderá assimilar a essência da função, 
do espaço e do significado ao “começar” com a arquitetu-
ra da pré-história, isto é, a era anterior ao surgimento da 
linguagem escrita.
A pré-história começa por volta de 35000 a.C. e se en-
cerra, aproximadamente, em 3000 a.C. nas terras do les-
te do Mediterrâneo, e bem depois de 2000 a.C. em partes 
da Europa ocidental. Na escala temporal da humanidade, 
essas datas correspondem aos primeiros anos da evolução 
humana “moderna”, desde as sociedades cooperativas de 
caçadores e coletores até as civilizações agrícolas com uma 
área de assentamento fixa e classe dirigente. Na ausência 
de registros escritos, os arqueólogos e historiadores preci-
sam interpretar as evidências fragmentadas dos povos an-
tigos – cerâmicas, utensílios domésticos – encontradas em 
locais espalhados por toda a Europa, África e Ásia. Novas 
tecnologias, incluindo o uso do carbono 14 radioativo, da 
termoluminescência e da análise dendrocronológica (o es-
tudo dos anéis de crescimento das árvores), têm ajudado 
na datação dos artefatos; contudo, tanto os métodos como 
as hipóteses derivadas deles estão sujeitos a revisões con-
tínuas à medida que os pesquisadores encontram novas 
evidências e reexaminam ideias antigas. As reconstruções 
baseadas em buracos de estacas ou fundações de alvenaria 
nos ajudam a visualizar as edificações simples construídas 
pelas primeiras sociedades e nos oferecem pistas relativas 
às estruturas mais elaboradas que vieram depois.
Salão Hipostilo, Grande Templo de Amon, Carnac, Egito, cerca de 
1390–1224 a.C.
Este enorme saguão composto por colunas de grande diâmetro e 
distribuídas muito próximas entre si era iluminado pela luz do sol filtrada 
pelos clerestórios, um dos quais é apresentado aqui. A aura misteriosa do 
salão hipostilo contrastava com a luz solar que incidia nos pátios internos 
do templo.
Cronologia
início da pré-história cerca de 35000 a.C.
os sumérios desenvolvem uma linguagem escrita 3500 a.C.
construção de Stonehenge cerca de 2900–1400 a.C.
antigo Reino Egípcio 2649–2134 a.C.
construção das pirâmides de Gisé 2550–2460 a.C.
construção do Zigurate de Ur 2100 a.C.
Reino Médio Egípcio 2040–1640 a.C. 
Novo Reino Egípcio 1550–1070 a.C.
CAPÍTULO 1
OS PRIMÓRDIOS DA ARQUITETURA
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30 A HISTÓRIA DA ARQUITETURA MUNDIAL
OS ASSENTAMENTOS PRÉ-HISTÓRICOS E 
AS CONSTRUÇÕES MEGALÍTICAS
O leste europeu
Os assentamentos humanos parecem ter se originado com 
o pequeno clã ou núcleo familiar, com um número sufi-
ciente de pessoas vivendo juntas para oferecer assistência 
mútua na caça e coleta de alimentos e proteção conjunta 
contra inimigos. Dentre as mais antigas cabanas que foram 
descobertas estão aquelas em sítios arqueológicos no pla-
nalto central da Rússia (atual Ucrânia), por volta de 14000 
a.C. A maior casa foi construída de ossadas de mamutes e 
toras de pinheiro, com revestimento de peles de animais 
e uma fogueira central, tinha forma de cúpula e incluía 
partes de esqueletos de quase 100 mamutes em sua estru-
tura. Arqueólogos também descobriram agrupamentos de 
cabanas revestidas de pele de cerca de 12000 a.C. entre as 
cidades de Moscou e Novgorod. A maior delas, medindo 
cerca de 12,0 × 4,0 metros em planta baixa, tinha um for-
mato irregular formado por três cones de galhos de árvores 
inclinados e intertravados e era aberta no topo, para que a 
fumaça de três fogueiras pudesse escapar.
As escavações de sítios urbanos sugerem que as comu-
nidades maiores surgiram muito depois. A existência de as-
sentamentos urbanos dependia de excedentes agrícolas que 
permitissem a algumas pessoas terem funções especializadas 
(sacerdote, comerciante, mercador, artesão) não diretamen-
te vinculadas à produção de alimentos. Duas das mais anti-
gas comunidades urbanas que se tem conhecimento foram 
Jericó, Israel (cerca de 8000 a.C.), e a cidade mercantil de 
Çatal Hüyük (6500–5700 a.C.), na Anatólia, parte da atual 
Turquia. Jericó era um assentamento fortificado, com uma 
muralha de pedra de até 8,0 metros de espessura, compreen-
dendo uma área de cerca de quatro hectares. Suas primeiras 
habitações consistiam de cabanas circulares de barro que tal-
vez tivessem coberturas cônicas. Os habitantes eram agricul-
tores e caçadores que enterravam os mortos no chão de suas 
cabanas. Apesar de sua importância, Çatal Hüyük parecia ser 
desprotegida; a cidade era um denso aglomerado de mora-
dias sem ruas (Figuras 1.1a, b). Os habitantes acessavam as 
moradias pelas coberturas, enquanto aberturas altas nas pa-
redes serviam para a ventilação. As paredes de tijolo de bar-
ro e a estrutura arquitravada de madeira definiam espaços 
retangulares que tocavam as casas contíguas, de modo que 
juntas, elas configuravam a muralha da cidade. Entre as ca-
sas havia santuários sem janelas contendo motivos decorati-
vos de búfalos e estatuetas de deidades. Essas representações 
pareciam indicar que os temas da arte rupestre pré-histórica 
– caçadas e fecundidade – não haviam sido descartados por 
esta sociedade urbana primitiva. O assentamento em Çatal 
Hüyük é o precursor das comunidades mais sofisticadas que 
se desenvolveram nos vales férteis dos rios Tigre e Eufrates no 
início do quarto milênio antes de Cristo.
O oeste europeu
Atransição para comunidades urbanas se deu de maneira 
mais lenta no oeste da Europa, embora a passagem de socie-
1.1a Perspectiva artística das edificações, Çatal Hüyük, Anatólia, cerca de 
6500–5700 a.C.
Observe como as edificações tocam umas nas outras, formando grupos 
contínuos ocasionalmente separados por pátios fechados. As construções 
são uma mistura de moradias, oficinas e santuários, todos acessados pelas 
coberturas.
1.1b Perspectiva artística da sala do altar, Çatal Hüyük, Turquia, cerca de 
6500–5700 a.C.
A figura central no lado esquerdo da parede representa uma mulher dando a 
luz, enquanto os crânios de touros com chifres sugerem elementos masculinos. 
Sem documentação escrita, é difícil entender completamente o significado de 
outras características da arquitetura, como, por exemplo, os desníveis no piso.
1.2 Túmulo megalítico, Er-Mané, Carnac, Bretanha, França, cerca de 4200 a.C.
Esta edificação apresenta um exemplo primitivo de uma construção 
com cúpula, na qual as pedras são assentadas em fiadas de alvenaria seca 
(sem argamassa), com cada fiada projetada ligeiramente além da anterior, 
para definir espaço. O mesmo sítio arqueológico contém outras câmaras 
mortuárias pré-históricas e quase 300 megálitos de pé e tombados dispostos 
em fileiras e alinhados para indicar a direção do nascer do sol no verão e os 
solstícios de inverno e outono e equinócios de primavera.
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CAPÍTULO 1 OS PRIMÓRDIOS DA ARQUITETURA 31
dades caçadoras e coletoras para grupos agrícolas maiores, 
sob o comando de um rei-sacerdote, tenha sido semelhante 
à experiência das sociedades da orla leste do Mar Mediter-
râneo. No oeste europeu, as mais significativas conquistas 
da arquitetura pré-histórica foram as construções megalíti-
cas, compostas por grandes pedras ou matacões (megálito 
significa, literalmente, “pedra grande”), muitas das quais 
edificadas como observatórios astronômicos ou túmulos 
comunitários para as classes privilegiadas. Antes de 4000 
a.C., câmaras mortuárias de alvenaria de pedra seca (pedras 
assentadas sem argamassa) com coberturas abobadadas ru-
dimentares já eram construídas na Espanha e na França. Um 
dos primeiros túmulos megalíticos, datado de 4200 a.C., 
fica em Er-Mané, Carnac, na Bretanha (Figura 1.2), França. 
Assim como muitos outros monumentos funerários, este foi 
estabilizado por uma camada de cobertura de terra.
A Irlanda é particularmente rica em túmulos megalí-
ticos, contando com mais de 500 sítios arqueológicos do-
cumentados. Construir esses túmulos comunitários – para 
restos mortais cremados ou não – parece ter sido não só 
uma manifestação de reverência pelos ancestrais, mas tam-
bém um meio de demarcar territórios – tais monumentos 
são frequentemente encontrados em terrenos proeminentes. 
Entre os mais impressionantes está o túmulo com galeria 
funerária de Newgrange, no Condado de Meath, construído 
por volta de 3100 a.C., no topo de uma colina junto ao rio 
Boyne. Uma colina de terra de aproximadamente 90 metros 
de diâmetro e 11 metros de altura cobre a câmara mortuá-
ria, enquanto o peso do solo fornece estabilidade para os 
megálitos sobre ela. Grandes rochas decoradas cercam o 
perímetro da colina. (O revestimento de quartzo branco é 
uma reconstrução moderna baseada em escavações, propor-
cionando visibilidade à distância.) A entrada sul leva a uma 
passagem ascendente de 10 metros de comprimento coberta 
por lintéis de pedra que terminam em uma câmara crucifor-
me, encimada, por sua vez, por uma abóbada em colmeia 
com seis metros de altura. Partes da alvenaria de pedra da 
passagem e da câmara foram decoradas com padrões talha-
dos, incluindo formas em diamante e espiral, cujos signi-
ficados são desconhecidos (Figuras 1.3–1.4). A construção 
1.3 Plantas baixas e corte, túmulo com galeria funerária de Newgrange, 
Condado de Meath, Irlanda, cerca de 3100 a.C.
A câmara cruciforme deste túmulo comunitário é acessada por uma longa 
passagem criada por pedras verticais. A área hachurada quase horizontal 
representa o percurso da luz solar do início da manhã durante o solstício de 
inverno, que ilumina o chão da passagem e da câmara, estabelecendo uma 
conexão entre os mundos humano e celestial.
1.4 Entrada do túmulo com galeria funerária de Newgrange, Condado de 
Meath, Irlanda, cerca de 3100 a.C.
Esta fotografia mostra a fachada de pedra reconstruída pelos arqueólogos. 
Observe a abertura retangular que serve como “bandeira” sobre a porta, 
abrindo caminho para a luz do sol durante o solstício de inverno. As formas 
em espiral na pedra que bloqueia a passagem direta talvez representem o sol. 
A antiga porta de pedra está visível à direita da abertura.
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como um todo apresenta uma orientação bastante cuidado-
sa para que, nos cinco dias junto ao solstício de inverno, 
a luz do sol nascente entre pela porta e por uma abertura 
retangular em forma de bandeira, se arraste pela passagem e 
ilumine a câmara por cerca de 15 minutos (Figura 1.4). Para 
aqueles que têm a sorte de testemunhar este evento anual (a 
única ocasião em que há luz no interior), o efeito é mágico 
e muito comovente. A construção de um túmulo tão grande 
(há outros dois na mesma escala nas proximidades) pro-
vavelmente exigiu esforços contínuos ao longo de muitos 
1.5 Stonehenge, Planície de Salisbury, Inglaterra, cerca de 2900–1400 a.C.
Stonehenge – talvez o monumento mais famoso do período pré-histórico 
– exemplifica a capacidade que algumas civilizações primitivas tinham de 
organizar trabalhadores e materiais para criar locais cerimoniais evocativos. A 
heel stone fica na parte superior esquerda, além do círculo.
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CAPÍTULO 1 OS PRIMÓRDIOS DA ARQUITETURA 33
anos. A tecnologia disponível não oferecia nada mais resis-
tente que ferramentas de cobre ou bronze para trabalhar as 
pedras, e não havia veículos com rodas ou animais de carga 
para auxiliar no transporte. Ainda assim, seus construtores 
antigos fizeram as observações astronômicas necessárias e 
organizaram uma força de trabalho suficiente para mano-
brar pedras que chegam a pesar cinco toneladas.
A capacidade de trabalhar com pedras grandes e obser-
var fenômenos astronômicos fundamentais foram usadas na 
mais famosa das construções megalíticas – Stonehenge, lo-
calizada na Planície de Salisbury, no sudoeste da Inglaterra 
(Figuras 1.5–1.7). É possível observar pelo menos três fases 
de construção distintas. A primeira começou por volta de 
2900 a.C., com a escavação de dois diques circulares con-
cêntricos. Dentro do perímetro, 56 furos distribuídos igual-
mente (os furos Aubrey) foram cavados e preenchidos com 
gesso, enquanto uma linha de visualização do horizonte, a 
nordeste, foi demarcada a partir do centro até chegar a uma 
pedra vertical pontiaguda (a heel stone), fora dos diques. Em 
2400 a.C., aproximadamente, 82 pedras de dolerita do ta-
manho de ataúdes – pesando cerca de duas toneladas cada 
– foram trazidas de pedreiras das montanhas de Pressely, no 
País de Gales, e erguidas em um anel duplo de 38 pares, com 
seis pedras adicionais definindo o eixo de chegada a nor-
deste. Em algum momento, talvez antes da conclusão desta 
segunda fase, as pedras de dolerita foram removidas (suas 
cavidades de base são chamadas de furos Q e R). A terceira 
e última fase envolveu o transporte de 35 lintéis e 40 pedras 
sarcen (um tipo de arenito), que chegam a pesar 20 tonela-
das cada. Elas foram erguidas formando um círculo de 30 
pedras verticais pontiagudas que fecham cinco trilitos (duas 
pedras verticais encimadas por um lintel) distribuídos em 
formato de U e focados na Avenida – o eixo que leva à parte 
nordeste, em direção à heel stone.As protuberâncias (bossas) 
deixadas nos topos das pedras verticais se encaixam nos fu-
ros (encaixes) escavados nas faces inferiores dos lintéis, de 
modo que as pedras se travavam com uma sambladura de 
encaixe quando posicionadas corretamente.
Para muitos visitantes modernos, o projeto sofisticado e 
a escala gigantesca do conjunto parecem ir além das capa-
cidade dos povos pré-históricos. Assim, o sítio já foi inter-
pretado como obra de gigantes, mágicos, pessoas vindas do 
Mar Egeu e até de extraterrestres. A verdade é mais prosaica 
e, em última análise, mais significativa: o arqueoastrônomo 
m 050
tf 0510
Colina norte
Avenida
Colina sul
Heel stone
Círculo de
pedras sarcen
Trilitos
Furos Y
Furos Z
Furos Aubrey
Dique
Furos Q e R
(localização
das doleritas)
1.7
1.6 Planta baixa, Stonehenge, Planície de Salisbury, Inglaterra, cerca de 
2900–1400 a.C.
Esta planta baixa inclui a terraplanagem original. Os trilitos em forma de U 
estabelecem o eixo da avenida, que passa entre as pedras periféricas para se 
alinhar com a heel stone colocada fora do círculo. No solstício de verão, o sol 
nasce exatamente acima da heel stone se visto a partir do centro dos círculos 
concêntricos.
1.7 Stonehenge, Planície de Salisbury, Inglaterra, cerca de 2900–1400 a.C.
Esta vista do norte mostra a configuração atual das pedras. Nos locais onde 
ficavam os lintéis, as protuberâncias (bossas) que mantinham as pedras 
horizontais no lugar podem ser vistas no topo dos elementos verticais. 
A heel stone é a pedra mais alta à esquerda.
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34 A HISTÓRIA DA ARQUITETURA MUNDIAL
Gerald Hawkins demonstrou que Stonehenge era um grande 
observatório para se determinar os solstícios (estabelecendo, 
assim, o calendário anual) e prever eclipses lunares e sola-
res – um conhecimento provavelmente muito útil para uma 
sociedade que não dispunha de almanaques. Seu leiaute cir-
cular pode muito bem refletir uma relação simbólica com o 
firmamento, um vínculo entre os reinos humano e celestial.
A experiência acumulada com a construção e a orien-
tação dos túmulos megalíticos permitiu que os primeiros 
habitantes das Ilhas Britânicas erguessem uma das obras 
de arquitetura mais assombrosas de todos os tempos. Sto-
nehenge representa o auge da capacidade de construção e 
observação científica do período pré-histórico. Seus cons-
trutores venceram o desafio de transportar e trabalhar pe-
dras colossais. Doleritas do País de Gales foram transporta-
das por mais de 300 km até o terreno, principalmente pela 
água, e arrastadas por terra na última etapa da jornada. As 
maiores pedras sarcen verticais vieram de Marlborough Do-
wns, que fica a aproximadamente 24 km do local, e é pro-
vável que tenham sido arrastadas desde lá. Experimentos 
modernos com o transporte e a montagem de um trilito na 
escala dos de Stonehenge indicam que seria possível usar 
máquinas simples (alavancas e planos inclinados), um tre-
nó com base engordurada, plataformas de madeira, cordas 
resistentes e cerca de 130 pessoas trabalhando juntas.
A ANTIGA MESOPOTÂMIA
A distinção entre o mundo pré-histórico e as eras históri-
cas se baseia no surgimento da linguagem escrita, desen-
volvida por volta de 3500 a.C. pelos sumérios, no Orien-
te Médio – em terras hoje ocupadas pelo Iraque e Irã. Lá, 
nas terras férteis entre os rios Tigre e Eufrates (chamada de 
Mesopotâmia, ou “entre os rios”, pelos gregos antigos), 
surgiram as primeiras civilizações com escrita, organiza-
das em comunidades urbanas independentes, conhecidas 
como cidades-estado. A escrita foi elaborada primeiramen-
te como um meio de documentar transações governamen-
tais e somente mais tarde foi usada para o que poderíamos 
chamar de fins literários, narrando as lendas, conquistas 
gloriosas, esperanças e os temores das pessoas. Por volta de 
3000 a.C., talvez em decorrência do contato com a Meso-
potâmia, outro centro de civilização surgiu no nordeste da 
África, ao longo das margens do rio Nilo, no Egito. Estas 
duas regiões – o Egito e a Mesopotâmia – são consideradas 
os berços da história e da arquitetura ocidentais.
Apesar dos conflitos atuais no Oriente Médio, é prová-
vel que nenhuma cultura pareça mais distante para o estu-
dante atual de história da arquitetura do que a da antiga Me-
sopotâmia. Existem imagens religiosas fortes provenientes 
de escrituras judaico-cristãs, como as histórias de dilúvios e 
da Torre de Babel, ambas relacionadas à Mesopotâmia; con-
tudo, as imagens textuais não são suficientes – e Hollywood 
ainda não conseguiu representar este local e seus habitantes 
como fez com o Egito e os egípcios antigos. O ideal talvez 
seja começar com a leitura do ensaio ao lado para entender 
um pouco da cultura da Mesopotâmia e, então, chegar a um 
panorama – e este panorama começa com seus rios.
A Mesopotâmia abarca uma área com aproximada-
mente 800 km de extensão e apenas 480 km de largura. Ao 
sul, faz fronteira com o Golfo Pérsico, cujo litoral norte, no 
terceiro milênio antes de Cristo, se encontrava aproxima-
damente 210 km mais longe do que hoje está. Além disso, 
fatores como alterações nos canais dos rios, mudanças cli-
máticas e a maior salinidade das terras anteriormente irriga-
das têm provocado mudanças profundas no meio ambiente 
desde a antiguidade. Os rios Tigre e Eufrates correm para o 
golfo separadamente. O Eufrates nasce nas montanhas do 
leste da Turquia e serpenteia pelas planícies em suas partes 
mais baixas. O Tigre, ainda mais a leste, nasce nas mesmas 
montanhas, mas percorre um curso d’água mais rapidamen-
te em função dos seus muitos tributários nas montanhas de 
Zagros. Por essa razão, o Tigre era menos navegável e não 
tinha um efeito unificador tão grande quanto o Eufrates no 
que se refere aos assentamentos junto às suas margens.
As culturas mesopotâmicas progrediram muito explo-
rando seus rios. Além de controlá-los ao máximo, se ba-
searam neles para construir elaborados canais de irrigação 
que resultaram numa paisagem fértil, quase paradisíaca. 
Ali, cultivaram plantações suficientemente abundantes 
para permitir o armazenamento de grãos excedentes em 
grande escala. Por sua vez, este suprimento de comida re-
lativamente estável e abundante permitiu o surgimento de 
grandes populações urbanas e o corolário da urbanização – 
a especialização. Os especialistas mesopotâmicos incluíam, 
além de sacerdotes e mercadores, artesãos, artistas e arqui-
tetos capazes de produzir belos objetos, expressar a visão 
de mundo de sua cultura e tentar conectar a humanidade 
com o cosmos.
Os sumérios, arcadianos e neossumérios
Em geral, os sumérios são descritos como os responsáveis por 
criar a primeira civilização do planeta, que começou a tomar 
forma por volta de 4000 a.C. Naquela época, os habitantes 
das terras férteis do sul da Mesopotâmia já dominavam as 
artes da agricultura e haviam criado sistemas de irrigação para 
controlar as águas do Rio Eufrates. Esta civilização – que du-
rou até 2350 a.C. aproximadamente – é conhecida como Su-
méria; sua forma típica de assentamento era a cidade-estado, 
um centro político e religioso dedicado a servir aos deuses 
inspirados em elementos naturais. Essas divindades incluíam 
a trindade divina de Anu, deus do céu; Enlil, deus da terra; 
e Ea, deus da água; acompanhados de Nannar, deus da lua; 
Utu, deus-sol; e Inanna, deusa da fertilidade. Os sumérios 
acreditavam que o céu e a terra eram dois discos que haviam 
sido separados por uma explosão e que toda a existência era 
governada pelos deuses, representantes das condições climá-
ticas imprevisíveis que afetam a vida humana. Também acre-
ditavam que os seres humanos tivessem sido criados a partir 
de depósitos de silte aluvial nos vales dos rios com a finali-
dade de atender aos deuses e liberá-losdo trabalho. Como se 
beneficiavam da adoração humana, os deuses precisavam da 
nossa fidelidade. Logo, havia um equilíbrio nas forças criado-
ras e destruidoras dos deuses e uma interdependência mútua 
entre eles e as pessoas.
Fazio_01.indd 34Fazio_01.indd 34 17/12/10 11:5917/12/10 11:59
Os sumérios veneravam vários deu-ses de diferentes tipos e níveis de importância, e os representavam 
em sua arte. Este pequeno objeto (Figura 
1.8) é a cabeça de uma ovelha talhada por 
um escultor sumério, talvez em Uruk, há 
mais de cinco mil anos. Atualmente, ele está 
no Museu de Arte Kimbell, de Louis Kahn, 
em Fort Worth, no Texas (veja as Figuras 
16.15–16.17). Esta bela obra de arte conse-
gue nos aproximar dos sumérios anônimos 
que criaram uma arquitetura monumental 
quase que exclusivamente a partir do barro.
É preciso imaginar a figura inteira, 
seu corpo intacto, com 60 ou 90 cm de 
altura e aproximadamente o mesmo 
comprimento. Os curadores do museu 
interpretam-na como um símbolo da deu-
sa Dittur, cujo filho Dumuzi era um deus 
importante, do pastoreio e do leite (daí a 
imagem da ovelha), bem como do reino 
dos mortos.
A cabeça da ovelha está bastante des-
gastada, mas precisamos imaginá-la como 
era no passado – imaculada, realista e 
animada – e considerar sua representação 
numa sociedade em que tais animais eram 
essenciais para a sobrevivência humana. 
Com sua boca ampla, narinas abertas e 
orelhas alertas – que parecem ter acaba-
do de ouvir a voz do pastor ou do deus 
do pastoreio – ela nos convida ao toque 
respeitoso (talvez até uns tapinhas, se não 
fosse tão sagrada). Novamente, podemos 
imaginar o calor rústico de sua lanugem e 
sua respiração silenciosa. Podemos ima-
ginar o artista tentando comunicar sua 
“textura de ovelha” e transmitir seu signi-
ficado enquanto trabalhava a pedra macia 
da qual a escultura foi feita.
Seu lar provavelmente era um local 
como o Templo Branco (veja a Figura 1.11). 
Ali, ela era tratada pelos sacerdotes e vene-
rada diariamente. O Museu Nacional do 
Iraque, em Bagdá – tragicamente saqueado 
durante a guerra em 2003 – continha ima-
gens esculpidas de tais sacerdotes e outros 
sumérios em posição de adoração (Figura 
1.9). A forma dessas estátuas é mais abstrata 
que a da ovelha, com torsos superior e infe-
rior em forma de cunha, como os caracteres 
da escrita cuneiforme suméria; seus traços 
mais marcantes são os olhos extrema-
mente proeminentes, em posição ritual, e 
mãos quase contorcidas, aparentemente 
expressando certa ansiedade. Os sumérios 
lutavam contra inúmeras incertezas em uma 
terra onde a natureza – e, principalmente, 
o clima – oscilava incrivelmente entre a 
benevolência e a malevolência. Eles faziam 
as mesmas perguntas que nos fazemos até 
hoje. De onde teriam vindo? Como podiam 
ter algum controle sobre o meio ambiente? 
O que encontrariam após a morte?
A VISÃO DE MUNDO DOS SUMÉRIOS
Michael Fazio
1.8 Cabeça de ovelha em arenito, cerca de 3200 a.C., 
14,6 cm x 14,0 cm x 15,9 cm.
O criador deste pequeno animal de pedra capturou tanto suas 
“características de ovelha” como o aspecto enigmático da 
eternidade, ao qual aspiram as grandes obras de arte religiosas.
1.9 Estatueta suméria, Tell Asmar, cerca de 2900–
2600 a.C., gesso revestido com conchas e calcário preto, 
aproximadamente 45 cm.
Compare esta estatueta com a cabeça da ovelha na Figura 
1.8. Enquanto a ovelha foi representada de maneira realista, 
o devoto sumério é estilizado. O mesmo fenômeno ocorre 
na arte egípcia, na qual as figuras menos sagradas eram 
frequentemente representadas com um alto grau de realismo, 
ao passo que as imagens de faraós ou deuses eram abstratas – 
como se a abstração pudesse oferecer uma ideia melhor dos 
aspectos mais imponderáveis da condição humana.
ENSAIO
Fazio_01.indd 35Fazio_01.indd 35 17/12/10 11:5917/12/10 11:59
36 A HISTÓRIA DA ARQUITETURA MUNDIAL
As comunidades urbanas surgiram ao redor de santuá-
rios, isto é, as moradias dos deuses e os depósitos de ali-
mentos excedentes, o que resultou na criação de conjuntos 
de templos monumentais nos núcleos das cidades sumérias. 
O primeiro nível de Eridu, a cidade mais antiga, tinha um 
pequeno santuário com altar de tijolo em frente a um nicho 
na muralha, construído provavelmente para receber uma 
estátua a ser venerada; altares e nichos foram encontrados 
em todos os templos sumérios posteriores. As reconstruções 
do templo de Eridu aumentaram sucessivamente o santuá-
rio original, que era relativamente modesto, e, por volta de 
3800 a.C., ele já se encontrava sobre uma plataforma. Seus 
muros estabilizados pela forma trapezoidal configuravam 
uma sala de altar retangular com câmaras laterais menores. 
Mais ou menos na mesma época, a cidade de Tepe Gawra, 
quase 800 km ao norte, abrigava uma acrópole com dois 
templos, um santuário e habitações. Suas edificações prin-
cipais compunham um pátio interno em forma de U. Suas 
fachadas eram articuladas por pilastras (Figura 1.10), um 
tema que seria retomado no início da arquitetura egípcia.
A maioria das edificações sumérias foi construída com 
tijolos secos ao sol (adobe), um material obtido facilmente 
colocando-se lama em moldes e deixando secar ao sol por 
várias semanas; porém, os tijolos resultantes não resistem 
bem ao intemperismo. O resultado é que grande parte da 
arquitetura suméria que conhecemos se resume a funda-
ções e partes inferiores de paredes. As coberturas eram fei-
tas com elementos leves de madeira ou junco, incapazes 
de vencer grandes vãos; por isso, os espaços internos eram 
pequenos. Na arquitetura suméria e posteriormente na me-
sopotâmica, as edificações importantes tinham mais dura-
bilidade, uma vez que seus tijolos recebiam revestimentos 
resistentes a intempéries, e maior formalidade, sendo ele-
vadas sobre plataformas artificiais.
Isso aconteceu em Uruk, onde o chamado Templo Bran-
co foi construído (cerca de 3500–3000 a.C.) sobre uma base 
de caliça com 12 metros de altura; esse material foi obtido 
de edificações anteriores e recebeu uma camada de caiação 
protetora sobre muros de terra inclinados cobertos por tijo-
los secos ao sol (Figura 1.11). O acesso ao templo se dava por 
uma câmara na lateral mais longa, de maneira que um “eixo 
quebrado” levava do exterior ao saguão e ao santuário.
As estruturas contemporâneas escavadas no conjunto 
de Eanna (dedicado à deusa Inanna), que fica nas proxi-
midades, incluem dois grupos de templos nos lados de um 
pátio ornamentado com um mosaico composto por mi-
lhares de pequenos cones de terracota. A base de cada cone 
foi mergulhada em esmalte preto, branco ou vermelho, e 
sua ponta foi inserida no muro de argila para formar um 
zigue-zague policromático com elementos circulares.
Em 2350 a.C., povos de linguagem semita instalados 
principalmente nas cidades de Sipar e Akkad – de onde 
veio o nome “acadiano” – depuseram a civilização sumé-
ria. As evidências sugerem que os acadianos eram um povo 
violento, governado por um rei militar e não apenas por 
uma classe de sacerdotes. Eles assimilaram muitos aspectos 
da cultura suméria, e sua forma de governo centralizada é a 
origem da hegemonia da Babilônia, que ocorreria cerca de 
500 anos mais tarde.
1.10 Reconstrução da Acrópole, Tepe Gawra, Suméria (Iraque), cerca de 
3800 a.C.
Este edifício religioso estava associado a uma sociedade urbana mais 
complexa que as da pré-história. A escala da edificação construída na parte 
alta da cidade (acrópole) reflete a importância da religião e da classe de 
líderes religiosos para seus habitantes. As pilastras reforçavam as paredes de 
adobe. O templo norte fica na extremidade esquerda, no alto do desenho, e 
mede aproximadamente 7,5 x 12,0 metros.
m 520
tf 570
Terraço
Eixo de entrada
Santuário
Saguão
Rampa
1.11 Vista e plantabaixa do Tempo Branco, Uruk, Mesopotâmia (Iraque), 
cerca de 3500–3000 a.C.
Muitos templos da Mesopotâmia foram construídos sobre plataformas 
elevadas. A base deste templo foi feita, em parte, com a caliça de edificações 
que ocupavam o terreno anteriormente, e conta com muros inclinados num 
padrão regular e protegidos por camadas de caição, o que acabou dando 
nome ao templo.
Fazio_01.indd 36Fazio_01.indd 36 17/12/10 12:0017/12/10 12:00
CAPÍTULO 1 OS PRIMÓRDIOS DA ARQUITETURA 37
O império acadiano, por sua vez, foi dominado por 
volta de 2150 a.C. pelos gutis, um grupo de tribos oriun-
das das regiões montanhosas do Irã. A influência militar 
dos gutis diminuiu em um século, permitindo que alian-
ças políticas semelhantes às existentes entre as primeiras 
cidades-estado sumérias renascessem no período chamado 
neossumério (cerca de 2150–2000 a.C.). Este período tes-
temunhou o desenvolvimento das formas dos templos ur-
banos, especialmente do templo elevado sobre uma colina 
artificial escalonada, o zigurate. Construídos geralmente 
com tijolos secos ao sol e solidarizados com betume, fei-
xes de junco ou corda, os zigurates eram revestidos por um 
pano externo de tijolos cozidos, resistentes a intempéries. 
Sobre sua base retangular, o zigurate subia com muros in-
clinados para dentro numa série de plataformas sucessivas, 
terminando num templo alto, no topo. Uma escadaria 
central dava acesso ao templo. (Os elementos assim distri-
buídos no centro de uma forma simétrica e alinhados na 
direção de um mesmo ponto são conhecidos como axiais.) 
Os zigurates eram projetados para elevar os templos até os 
deuses, permitindo que esses descessem dos céus e garan-
tissem a prosperidade da comunidade. Simbolicamente, o 
zigurate também pode ter representado as montanhas de 
onde os sumérios vieram. Para que os deuses se sentissem 
em casa nas planícies do vale aluvial, os sumérios e seus 
sucessores na Mesopotâmia talvez tenham buscado recriar 
seus antigos lares nas montanhas. A elevação do templo 
bem acima do vale também podia refletir o desejo de pro-
teger o conjunto sagrado das enchentes; o certo é que dava 
a ele destaque visual em relação à cidade.
Pouco resta dos zigurates construídos durante o breve 
interlúdio neossumério. Depois que o revestimento exter-
no foi removido pelos saqueadores, o núcleo de terra dos 
zigurates sofreu uma erosão considerável. Das majestosas 
montanhas artificiais que se elevavam sobre as cidades me-
sopotâmicas, somente o zigurate de Ur (cerca de 2100 a.C.) 
ainda conserva parte de seus detalhes de arquitetura (Fi-
guras 1.12–1.13). Ainda hoje é possível identificar as três 
longas escadarias que convergiam numa torre de entrada 
na altura da primeira plataforma. Lanços mais curtos leva-
vam ao segundo e terceiro terraços, aos quais apenas os sa-
cerdotes tinham acesso. Esses níveis superiores e o templo 
no cume hoje não passam de pilhas de destroços; contudo, 
arqueólogos calculam que a altura original do zigurate era 
de mais ou menos 21 metros, com uma base de aproxima-
damente 60 × 45 metros. Contrastando com os complexos 
de templos grandiosos, as habitações das pessoas comuns 
ficavam em bairros extremamente densos. As plantas bai-
xas eram quase ortogonais, com habitações construídas em 
volta de pátios internos que forneciam luz e ar fresco a to-
dos os cômodos (Figuras 1.14 a, b). As habitações apresen-
tavam um muro cego para a rua, o que garantia a privaci-
dade dos moradores. Até hoje, casas com pátio são comuns 
em comunidades do Mediterrâneo e do Oriente Médio.
1.12 Zigurate de Ur, Mesopotâmia (Iraque), cerca de 2100 a.C.
A mais bem conservada dentre as gigantescas colinas artificiais sagradas que 
se elevavam sobre todas as cidades grandes da Mesopotâmia, este zigurate 
foi construído para aproximar o templo aos deuses. Seu núcleo é de tijolo 
seco ao sol (adobe), revestido por uma camada externa de tijolos cozidos e 
betume, que servia como proteção contra a ação do clima.
1.13 Reconstrução do zigurate de Ur, Mesopotâmia (Iraque), cerca de 2100 a.C.
Este desenho mostra os detalhes originais que foram perdidos, incluindo 
painéis recuados definidos por faixas de pilastras e parapeitos. A população 
abaixo podia observar as procissões de sacerdotes passando por sucessivos 
lanços de escada até chegaram ao templo, sobre a plataforma no ápice do 
zigurate.
Fazio_01.indd 37Fazio_01.indd 37 17/12/10 12:0017/12/10 12:00
38 A HISTÓRIA DA ARQUITETURA MUNDIAL
Os babilônios, hititas e assírios
Em 1800 a.C., a Mesopotâmia foi dominada pela dinastia 
Amorita, da cidade-estado da Babilônia, cujo rei mais cé-
lebre foi Hamurabi (1728–1686 a.C.). Em 1830 a.C., os 
vigorosos hititas indo-europeus subjugaram a Babilônia e 
conquistaram o norte da Mesopotâmia. Mais ao sul, os assí-
rios – falantes de uma língua semita – assumiram o controle 
e estabeleceram capitais sequencialmente em Calah (atual 
Nimrud), Dur-Sharrukin (Khorsabad) e Nínive (Kuyunjik). 
As cidadelas extremamente fortificadas construídas para 
cada capital refletem as guerras incessantes lutadas pelos as-
sírios, bem como o caráter implacável de seus reis.
Khorsabad, a cidade real construída por Sargão II cerca 
de 720 a.C., apresenta as principais características da arqui-
tetura e do planejamento urbano assírios (Figuras 1.15 a, b). 
Projetando-se em relação a uma das muralhas fortificadas 
da cidade, o palácio de 100 mil m² ocupava um platô que 
ficava 15 metros acima do nível do solo. A geometria orto-
gonal organizava as edificações da área ao redor do palácio, 
articulado por meio de uma série de pátios. Um zigurate de 
base quadrada com 43,6 metros de lado se elevava sobre um 
eixo com baluartes; seus sete níveis representavam a ordem 
cósmica dos sete planetas. Os pátios do palácio eram cer-
cados por cômodos retangulares – incluindo a sala do tro-
no, acessada por uma rota tortuosa e criada, provavelmente, 
para confundir ou assustar os visitantes e intensificar a aura 
de poder e grandeza. Touros alados com cabeças humanas 
em alto relevo, talhados em blocos de pedra com quatro 
metros de altura, guardavam as entradas do palácio. Ossos e 
músculos foram representados de maneira realista, enquan-
to penas, cabelo e barba foram estilizados, transmitindo 
com vigor o poder do monarca: como homem, o senhor da 
criação; como águia, o rei dos céus; e como touro, o fecun-
dador do rebanho. Dentro do palácio, outras imagens em 
alto relevo representavam exércitos em marcha, queimando, 
matando e saqueando, o que enfatizava a tolice de se resistir 
ao poder assírio. Sem qualquer sutileza, Sargão II usou a arte 
e a arquitetura de seu palácio para comunicar o poder irre-
sistível representado pela sua pessoa.
Muro em torno
do recinto sagrado
Muralha
da cidade
Área residencial
Área residencial
Portão fortificado
m 0050
tf 00510
m 050
tf 0510
Zigurate
1.14a Cidade de Ur, Mesopotâmia (Iraque), cerca de 2100 a. C.
Esta planta mostra o conjunto murado com o zigurate e a muralha que 
demarcava os limites da cidade. Parte da área residencial que foi escavada 
pode ser vista a sudeste do centro da cidade. Observe o arranjo labiríntico 
das habitações, em grande contraste com os espaços abertos maiores dos 
centros administrativo e cerimonial.
1.14b Planta da área residencial, Ur, Mesopotâmia (Iraque), cerca de 2100 a.C.
As fundações remanescentes indicam habitações organizadas em plantas 
ortogonais e espaços de estar distribuídos em torno de pátios centrais 
(hachurados), configuração que promovia a densidade urbana e ao mesmo 
tempo dava privacidade e ar fresco a cada lar. Versões posteriores deste tipo 
de habitação podem ser encontradas em Mohenjo-Daro (no Vale do Indo), 
Priene (na Ionia ocidental, atual Turquia) e em cidades islâmicas no Oriente 
Médio e no norte e leste da África.Fazio_01.indd 38Fazio_01.indd 38 17/12/10 12:0017/12/10 12:00
CAPÍTULO 1 OS PRIMÓRDIOS DA ARQUITETURA 39
Os persas
Em 539 a.C., o Império Persa era governado por Ciro II. An-
tes, os persas haviam deposto os Medes e expandido os li-
mites de sua capital, em Susa (atual Irã), e conquistado toda 
a Mesopotâmia, Ásia Menor e até o Egito, por volta de 525 
a.C. Em um século, passaram a dominar territórios do Danú-
bio ao Indo, e de Jaxartes ao Nilo, não conseguindo subjugar 
apenas a península grega. A maior contribuição à arquitetura 
remanescente dos persas é a ruína impressionante de Persé-
polis (Figura 1.16), cidade fundada por Dário em 518 a.C. 
como capital cerimonial para suplementar Susa, a capital ad-
ministrativa, e Pasárgada, o centro da corte. Carentes de tra-
dições artísticas próprias, os persas se inspiraram à vontade 
nas culturas que conquistaram. Em Persépolis, são evidentes 
os reflexos de portões de templos e salões hipostilos egíp-
cios, salões de audiência hititas e esculturas da temática ani-
mal mesopotâmica. O grande palácio, usado principalmente 
para cerimônias de Ano Novo e início da primavera, ocupava 
Zigurate
Sala do trono
Pátio de gala
Pátio de entrada
Templos
m 0520
tf 0570
1.15a
1.16 Planta baixa do palácio, Persépolis, Pérsia (Irã), cerca de 518 a.C.
Este grande complexo foi edificado por pelo menos três monarcas persas para 
ser uma das capitais do império. Suas ruínas revelam influências da arquitetura 
de outras culturas da Mesopotâmia, especialmente dos hititas e assírios, bem 
como dos egípcios.
1.15a Reconstrução do palácio, Khorsabad, Assíria (Iraque), cerca de 720 a.C.
As muralhas fortificadas protegiam o palácio. O salão de audiências real 
era acessado por uma sequência de pátios internos e câmaras menores. 
Compare-o com os leiautes axiais típicos da arquitetura egípcia.
1.15b Planta baixa do palácio, Khorsabad, Assíria (Iraque), 
cerca de 720 a.C.
A rota cerimonial, que levava da entrada sudeste à sala do 
trono, é tortuosa, envolvendo três mudanças de direção. 
O zigurate escalonado é uma versão reduzida das formas 
encontradas nas primeiras cidades da Mesopotâmia.
Salão das Cem Colunas
(salão de audiências de Xerxes)
Palácio de Xerxes
Pequeno
palácio
de Dário
Salão de
audiências
de Dário
m 0010
tf 0030
Escada
do
terraço
1.18
Fazio_01.indd 39Fazio_01.indd 39 17/12/10 12:0017/12/10 12:00
um terraço de 450 × 270 metros; continha pátios de recep-
ção, salões para banquetes e salões de audiência, distribuí-
dos em um leiaute quase ortogonal. A sala do trono do rei 
Xerxes, conhecida como Salão das Cem Colunas e concluída 
por Artaxerxes, era o maior espaço coberto do palácio, com 
capacidade para abrigar 10 mil pessoas dentro de sua plan-
ta quadrada com cerca de 80 metros de lado. A maioria da 
construção foi feita em pedra. Colunas de pedra sustentavam 
as vigas de madeira da cobertura em seus peculiares capitéis 
duplos esculpidos na forma de touros e leões (Figura 1.17). 
O terraço era acessado por lanços de escada ladeados por es-
culturas em relevo, que representavam delegações de 23 na-
ções prestando homenagem ao soberano (Figura 1.18). Essas 
esculturas de pedra – envolvidas em atividades semelhantes 
às dos visitantes reais – eram um tira-gosto da pompa e dos 
banquetes que aguardavam no palácio acima.
As conquistas de Alexandre, o Grande, encerraram o 
domínio persa em 331 a.C. Os exércitos de Alexandre aca-
baram chegando à Índia, até onde os artesãos persas pare-
cem tê-los acompanhado e então permanecido. Eles ajuda-
ram a construir a capital em Pataliputra (atual Patna) para 
Chandragupta, onde os salões hipostilos e capitéis com 
formas animais lembram o palácio de Persépolis. A arqui-
tetura persa se tornou uma das principais influências da 
arquitetura de pedra primitiva da Índia.
O EGITO ANTIGO
A cultura popular é rica em imagens do Egito Antigo, seja 
em filmes épicos representando Moisés e os faraós, seja em 
filmes de terror clássicos nos quais Boris Karloff, interpre-
tando a múmia, perambula ameaçadoramente, impondo 
a justiça antiga a arqueólogos ingênuos e saqueadores de 
tumbas gananciosos. Tudo isso é muito divertido – assim 
como as fantasiosas especulações sobre as pirâmides egíp-
cias terem sido construídas por visitantes do espaço sideral 
usando raios antigravidade – mas em nada ajuda a esclare-
cer os feitos reais de homens e mulheres comuns do Vale 
do Nilo, mesmo aqueles de cinco mil anos atrás. Como 
os mesopotâmicos, os egípcios antigos produziram uma 
arquitetura espetacular ao reunir as forças de toda a sua ci-
vilização e colocá-las a serviço de valores culturais muito 
1.17 Vista das ruínas do palácio, Persépolis, Pérsia (Irã), cerca de 518 a.C.
Estas são duas colunas remanescentes do salão de audiências de Dário, com 
capitéis bem preservados. Os exércitos de Alexandre, o Grande, saquearam e 
incendiaram Persépolis.
1.18 Escadaria do terraço superior, Persépolis, Pérsia (Irã), cerca de 518 a.C.
Aqui, podem ser vistas colunas isoladas do salão de audiências de Dário, 
com as portas do palácio de Dário ao fundo e o palácio de Xerxes 
mais além.
Fazio_01.indd 40Fazio_01.indd 40 17/12/10 12:0017/12/10 12:00
CAPÍTULO 1 OS PRIMÓRDIOS DA ARQUITETURA 41
difundidos. Esta arquitetura é muito mais diversificada do 
que se pode imaginar e, além de ser facilmente entendida 
pelo intelecto moderno, é extremamente esclarecedora em 
termos de ideias de projeto aplicáveis a qualquer época.
A geografia do Egito é dominada por um grande rio, o 
Nilo, que nasce nos planaltos de Uganda e passa pelo Su-
dão e pela Etiópia, atravessando mais de 3.200 km antes de 
desembocar no Mar Mediterrâneo, ao norte. Nos 960 km 
do vale do rio, a agricultura é favorecida pelo clima quente 
e pelos depósitos anuais de silte orgânico oriundo das en-
chentes, que renovam a fertilidade dos campos. Na época 
das dinastias, as margens do vale tinham pântanos e cam-
pinas ricas em animais de caça. (Hoje, o deserto toma con-
ta do local.) Fora da estreita faixa fértil que margeia o Nilo, 
grandes áreas inóspitas de deserto protegiam o local contra 
invasores, assim como o Mediterrâneo servia de barreira 
para os assentamentos no delta do rio. Logo, a cultura que 
surgiu naquelas margens era predominantemente agríco-
la, contrastando com os assentamentos urbanos da turbu-
lenta Mesopotâmia. A vida egípcia se organizava em torno 
da inundação anual, e o ritmo cíclico das estações gerou 
uma civilização que permaneceu incrivelmente estável por 
mais de dois mil anos. Dois centros de civilização egípcia, 
com práticas culturais diferentes, surgiram nos tempos pré-
-históricos: o Baixo Egito, no amplo Delta do Nilo, e o Alto 
Egito, no vale mais estreito, ao sul. Muito cedo, os egípcios 
também desenvolveram uma escrita na forma de hierógli-
fos, sistema que usava símbolos pictóricos e fonéticos para 
registrar informações.
A história do Egito começa por volta de 3000 a.C., 
quando Menes, faraó do Alto Egito, uniu o Alto e o Baixo 
Egito e estabeleceu sua capital em Mênfis, perto da junção 
dos dois territórios. (Observe que as datas relativas à história 
egípcia, especialmente no caso de faraós específicos das pri-
meiras dinastias, ainda são debatidas por especialistas. Por-
tanto, todas as datas fornecidas aqui devem ser entendidas 
como aproximadas.) Como todos os seus sucessores, Menes 
era ao mesmo tempo o soberano secular e a manifestação 
de Hórus – deus com cabeça de falcão que era a divindade 
dos faraós. Quando morria, o faraó passava a ser identifi-
cado com Osíris, pai de Hórus e senhor do submundo, en-
quanto seu sucessor assumia o papel de Hórus. A teologia 
egípcia associava tanto Osíris como Hórus a Rá, o deus-sol, 
cujo símbolo – no antigo templo de Heliópolis – era a pedra 
cônica benbende forma fálica, posteriormente estilizada 
como uma pirâmide. Portanto, o uso de formas piramidais 
no topo dos fustes de pedra (obeliscos) ou na edificação 
propriamente dita (como nas pirâmides) era um símbolo 
visual da conexão entre o soberano e o deus-sol.
O Período Dinástico Primitivo e o Reino Antigo 
(1ª a 8ª dinastias, cerca de 2920–2134 a.C.)
A história do Egito se divide em 30 dinastias, englobando 
o período da ascensão do faraó Narmer ao trono (cerca de 
3000 a.C.) à conquista do Egito por Alexandre, o Grande, 
em 332 a.C. Quase tudo o que sabemos deste período ini-
cial vem de monumentos funerários e inscrições, cujo foco 
é a transição do mundo dos vivos para o mundo dos mor-
tos. Os egípcios acreditavam piamente em uma pós-vida, na 
qual ka, a força vital, se reunia com ba, a manifestação física, 
para se tornar um akh, ou espírito. Rituais elaborados eram 
feitos dentro de câmaras mortuárias para garantir o suces-
so da transformação da vida em morte. A preservação do 
corpo físico (ou, pelo menos, o impedimento temporário 
de sua putrefação) após a morte era de grande importância 
e os defuntos deviam ter à disposição objetos cotidianos, 
servos pessoais, comida, bebida e uma câmara permanente 
adequada. Quando preparada de maneira inadequada para 
a pós-vida, a ka de uma pessoa importante – especialmente 
o faraó – podia vagar pelo mundo insatisfeita, fazendo mal-
dades para os vivos. Portanto, era do interesse da sociedade 
oferecer um bom tratamento ao corpo e espírito do faraó, 
o que levou à construção de túmulos duradouros para a re-
aleza e ao desenvolvimento da mumificação para preservar 
o corpo. Os túmulos – e não os templos ou palácios – se 
tornaram as edificações religiosas mais duradouras.
As mastabas, túmulos primitivos, foram construídas 
como moradas eternas para os mortos e, muito provavel-
mente, baseavam-se no projeto das habitações dos vivos. 
As habitações comuns eram feitas de junco, sapé e madeira 
– materiais totalmente inadequados para uma residência 
permanente; por isso, os construtores das mastabas usaram 
tijolos para obter uma durabilidade maior e, ao mesmo 
tempo, preservaram os detalhes característicos dos feixes 
de junco e suportes de madeira convencionais. A mastaba 
básica (Figura 1.19) era uma edificação em forma de bloco 
apoiada no solo, contendo uma sala pequena para oferen-
das e outra câmara para o corpo e a estátua do falecido. Os 
bens mundanos guardados com o morto logo atraíram os 
ladrões, fazendo com que uma das primeiras revisões do 
projeto da mastaba acrescentasse um túnel profundo sob a 
edificação. O corpo era colocado na base, e o túnel preen-
chido com pedra e caliça para deter possíveis intrusos. Na 
câmara acima do solo, ou serdab, uma estátua do falecido 
recebia oferendas. Posteriormente, em busca de maior per-
manência, começaram a ser usadas pedras na construção 
das mastabas.
1.19 Desenho de mastabas.
Esta perspectiva aérea mostra as câmaras mortuárias sob as estruturas e suas 
pequenas câmaras, ou serdabs, colocadas no nível do solo, para receber 
oferendas ao espírito do defunto. Acredita-se que esses túmulos, construídos 
com adobe ou pedra, eram baseados no projeto de habitações reais feitas 
com materiais menos duradouros.
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O historiador grego Heródoto (484–425 a.C.) viajou por todo 
o mundo antigo e escreveu a 
primeira história em forma de 
narrativa. Ele era um observa-
dor apaixonado da cultura, e 
suas citações definem uma das 
características essenciais das 
civilizações mesopotâmica e 
egípcia: sua dependência dos 
rios. Evidentemente, a água é 
um ingrediente essencial para 
qualquer forma de vida, mas 
a água corrente é necessária 
para o desenvolvimento da 
civilização, pois, além de ser 
bebida e irrigar, também serve 
para remover os dejetos hu-
manos que se acumulam em 
áreas densas. Portanto, todas 
as civilizações primitivas – do 
Vale do Indo aos Maias – se 
basearam em rios. Nós as 
chamamos de civilizações “hi-
dráulicas”.
Por necessidade, a ci-
vilização hidráulica é uma 
federação corporativa, con-
trastando, por exemplo, com 
um grupo de cidades-estado 
beligerantes. Em uma bacia 
hidrográfica determinada, é 
necessário um forte controle 
centralizado para se cons-
truir um sistema de canais 
interdependente, que desvie 
água para a irrigação e faça a drenagem 
dos pântanos para o cultivo, ou barragens 
e diques para controlar as enchentes e 
conter a água. Os primeiros engenheiros 
hidráulicos aprenderam as técnicas da 
topografia e desenvolveram as habilidades 
necessárias para administrar projetos de 
construção em grande escala, buscando 
controlar as águas que traziam tanto 
abundância quanto destruição. Como He-
ródoto observou, a nação egípcia era defi-
nida pelo Nilo, e não resta dúvida de que 
os engenheiros responsáveis 
pelas pirâmides aprenderam a 
fazer levantamentos topográfi-
cos e obras de terraplanagem, 
além de organizar grandes 
contingentes de mão de obra 
nas margens do rio. Também 
se acredita que, como ficavam 
ociosos durante as inunda-
ções, os agricultores eram 
recrutados para as equipes de 
construção de projetos gigan-
tescos, como as pirâmides.
Os rios Tigre, Eufrates e 
Nilo também serviam como 
artérias de transporte princi-
pais para a troca de bens entre 
as muitas cidades que os mar-
geavam. Ainda hoje, na era 
dos aviões a jato, o meio mais 
barato de transporte de cargas 
por quilômetro-tonelada é 
a barca fluvial. No período 
medieval, era dez vezes mais 
barato transportar cargas em 
barcos do que em carroças 
puxadas por bois. Além disso, 
por causa do Nilo, os egípcios 
antigos não precisavam de 
veículos com rodas ou estra-
das pavimentadas; a biga foi 
uma invenção importada que 
chegou tarde para os egípcios, 
que preferiam se deslocar 
pelo rio; não é surpresa que 
tenham desenvolvido técnicas 
de construção sofisticadas 
para barcos de todos os tamanhos. Nas 
pinturas dos túmulos, as maiores embar-
cações são representadas carregadas com 
grandes obeliscos, como o da Figura 1.20, 
uma carga que chegava a pesar mil tone-
ladas.
1.20 Obelisco em uma pedreira, Aswan, Egito.
AS CIVILIZAÇÕES “HIDRÁULICAS”
Dan MacGilvray
Praticamente não chove na Assíria. Essa pouca água nutre as raízes dos cereais, mas é a irrigação do rio que desenvolve a 
plantação e faz com que os grãos realmente cresçam. Não é como no Egito, onde o rio propriamente dito sobe e alaga os 
campos: na Assíria, eles são irrigados manualmente e por máquinas de irrigação com braços oscilantes. Pois todo o territó-
rio da Babilônia, como o do Egito, é cortado por canais. O maior deles é navegável: ele corre… do Eufrates até o Tigre…
…toda a terra… regada pelo Nilo em sua passagem era o Egito, e todos os que moravam abaixo da cidade de Elefan-
tine (Aswan) e bebiam da água deste rio eram considerados egípcios.
…não há homens no resto do Egito ou em qualquer parte o mundo que se beneficiem tanto do solo com tão pouco 
esforço; eles não têm o encargo de trabalhar a terra com o arado, nem com a enxada… o rio sobe por conta própria, molha 
os campos, e então volta para o seu lugar; assim, cada homem semeia seu campo e solta seus porcos para enterrar as se-
mentes e espera pela colheita…
ENSAIO
Fazio_01.indd 42Fazio_01.indd 42 17/12/10 12:0017/12/10 12:00
1.21 A pirâmide escalonada de Saqqara, Egito, cerca de 2630 a.C.
Por ser a primeira construção de pedra em escala monumental no 
Egito, este túmulo criou um precedente para as pirâmides posteriores, 
dos faraós. Seu arquiteto, Imhotep, seria lembrado por sua genialidade 
e, mais tarde, cultuado como um deus.
1.22a Planta baixa do complexo funerário de Djoser, Saqqara, Egito, 
cerca de 2630 a.C.
A pirâmide escalonada é o elemento retangular no centro,dominando 
o Grande Pátio, que é acessado pelo Salão Processional estreito, no 
canto esquerdo inferior. Os egípcios colocaram os dois blocos de pedra 
em forma de B no pátio para que a ka de Djoser continuasse a corrida 
cerimonial entre eles, simbolizando, para toda a eternidade, a unidade 
do Alto e Baixo Egito.
1.22b Corte e planta baixa da pirâmide escalonada, Saqqara, Egito, 
cerca de 2630 a.C.
O corte mostra as sucessivas etapas da construção, durante a qual a 
forma original da mastaba foi ampliada até se tornar uma pirâmide, 
com a câmara mortuária sob o centro. A planta baixa mostra a astúcia 
dos ladrões de túmulos posteriores, que criaram um túnel para 
resgatar o tesouro enterrado com Djoser.
Altar
Templo funerárioPirâmideEntrada Salão processional Pátio Heb-Sed
0 100 m
0 300 ft
m 050
tf 0510
A Entrada original
B Segunda entrada
C Entrada dos ladrões
* Câmaras azuis
A
B
B
C
C
C
*
*
*
*
A
1.21
Blocos de pedra
Grande Pátio
A
B
B
C
C
C
*
*
*
*
A
As primeiras pirâmides
À medida que o ritual religioso prescrito pelos sacerdotes 
evoluiu e começou a dar mais importância ao faraó, a mas-
taba foi ampliada proporcionalmente, resultando na pro-
dução da pirâmide. Após a morte, o faraó acompanhava o 
deus-sol em sua jornada diária pelo céu; por isso, precisava 
ser impulsionado para cima. A pirâmide – inicialmente uma 
forma escalonada e verticalizada como o zigurate, cujo pico 
recebia os primeiros raios de luz da manhã – era o emble-
ma do deus-sol adorado em Heliópolis. Sua forma também 
faz referência simbólica ao renascimento anual da natureza, 
uma vez que, quando as águas baixam, os primeiros sinais 
de vegetação aparecem em pequenos outeiros. Assim, a for-
ma escalonada da pirâmide e, a partir de certo momento, 
a pirâmide propriamente dita, representava o renascimento 
tanto diário como anual ao longo de toda a eternidade.
Atribui-se a Imhotep, arquiteto da Terceira Dinastia, o 
projeto da primeira pirâmide para o complexo funerário do 
faraó Djoser (2630–2611 a.C.), em Saqqara, nos subúrbios 
de Mênfis (Figura 1.21). Esta também foi a primeira constru-
ção monumental em pedra no Egito – o que não é pouco 
Fazio_01.indd 43Fazio_01.indd 43 17/12/10 12:0017/12/10 12:00
44 A HISTÓRIA DA ARQUITETURA MUNDIAL
para uma tradição que perdurou por 4.600 anos. A planta 
baixa do complexo tem a forma de um grande retângulo, co-
bre 14 hectares e é cercada por uma muralha com 10 metros 
de altura e 1.600 metros de extensão (Figuras 1.22 a, b). Há 
apenas uma entrada, uma pequena porta na quina sudeste 
que leva a um estreito salão processional com colunatas. No 
final do salão fica o acesso ao pátio principal, dominado pela 
pirâmide escalonada de Djoser, que se eleva 60 metros acima 
de sua base de 121 × 109 metros. Inicialmente uma mastaba, 
a pirâmide foi construída em várias etapas até chegar à sua 
forma atual – um volume que sobe em seis níveis. O exterior 
da pirâmide foi revestido com blocos de arenito desbasta-
dos, enquanto os pátios e edificações adjacentes parecem ser 
representações do palácio terrestre de Djoser em Mênfis, re-
construído ali para durar pela eternidade. A aparência e os de-
talhes típicos dos materiais originais foram reproduzidos na 
pedra: pilares em forma de feixe de junco ou caule de papiro, 
tetos de toras de madeira e até uma dobradiça de pedra para 
uma porta, também de pedra, completamente imóvel. Ao 
norte da pirâmide fica o templo funerário onde foi realizado 
o ritual anterior ao enterro. Uma estátua de Djoser olhando 
para fora repousa em uma câmara pequena; uma pequena 
abertura na parede, em frente aos olhos de pedra da estátua, é 
o único acesso ao mundo exterior.
O complexo de Djoser inclui áreas para a prática de ri-
tuais que hoje não são bem entendidos, mas que, aparen-
temente, eram símbolos importantes do vínculo entre o 
Alto e o Baixo Egito. O grande pátio era o cenário da corrida 
Heb-Sed, da qual o faraó participava anualmente para garan-
tir a fertilidade dos campos. O percurso consistia de quatro 
circuitos do pátio em cada direção – no sentido horário para 
uma metade do reino, e no sentido anti-horário para a outra. 
Djoser tinha duas câmaras mortuárias que representavam seu 
poder e sua paternidade em relação ao Alto e ao Baixo Egito. 
Uma câmara, localizada abaixo da pirâmide, continha sua 
múmia em um ataúde de alabastro. O acesso era bloqueado 
por um tampão de pedra com 1,8 metro de diâmetro e pesa-
va seis toneladas; essa proteção se mostrou inadequada, pois 
os ladrões encontraram uma maneira de entrar no túmulo 
ainda na antiguidade. Em 1928, escavadores descobriram a 
segunda câmara, no lado sul da muralha. Embora também 
tivesse sido saqueada, ela continha, originalmente, os órgãos 
internos do faraó embalsamados, simbolizando sua fertili-
dade e a proteção do Baixo Egito. Os ladrões de túmulo não 
roubaram a bela faiança azul que decorava as paredes – e 
que hoje são tudo o que resta do interior. Esses azulejos estão 
assentados em faixas de pedra horizontais e verticais, repre-
sentando uma trama de junco entre as peças de madeira ane-
xadas a suportes maiores, também de madeira. Uma parede 
traz um baixo relevo representando Djoser enquanto corria a 
Heb-Sed. Usando a coroa branca do Alto Egito, o faraó foi re-
tratado na maneira típica da arte egípcia, com cabeça, pernas 
e pés em perfil, e o torso virado para frente. Nesta obra em 
particular, os artistas egípcios capturaram as características 
essenciais do corpo humano com bastante exatidão, ainda 
que a pose não seja “realista” ou natural.
Desde seu surgimento em Saqqara, a evolução daquilo 
que hoje consideramos a “verdadeira” pirâmide passou por 
pelo menos três grandes projetos antes de chegar ao auge 
nos túmulos da Quarta Dinastia, em Gisé, nos subúrbios 
de Cairo (Figura 1.23). Essas três pirâmides foram cons-
truídas ou modificadas por Sneferu (2575–2551 a.C.), um 
dos primeiros faraós da Quarta Dinastia, que continuou a 
ser cultuado por mais de dois mil anos após sua morte. Em 
Meidum, dez quilômetros ao sul de Saqqara, Sneferu acres-
centou uma camada externa à pirâmide que talvez tenha 
sido iniciada por Huni, o último faraó da Terceira Dinastia. 
Ela começou com um núcleo escalonado de sete patamares, 
transformado-se em uma pirâmide verdadeira após a adi-
ção de duas edificações sobrepostas. Há evidências de que 
as partes superiores da obra entraram em colapso durante a 
instalação do terceiro e último revestimento de calcário, já 
que a alvenaria de pedra não tinha suporte suficiente, consi-
derando o ângulo relativamente íngreme da inclinação (51° 
50’ 35”). Se tivesse sido concluída como planejado, a pirâ-
mide chegaria a quase 92 metros de altura. O resultado, com 
o núcleo escalonado se elevando acima do pedregulho, re-
Dahshur: Pirâmide Norte de Sneferu
(“pirâmide vermelha”)
Gisé: Pirâmide de Khufu (ou Quéops)
Gisé: Pirâmide de Khafre (ou Quéfren) Gisé: Pirâmide de Menkaure (ou Miquerinos)
E
W
N
N
N
N
N N
0 100 m
0 300 ft
Meidum: Pirâmide de Sneferu (“pirâmide cebola”)Saqqara: Pirâmide Escalonada de Djoser
Dahshur: Pirâmide Sul de Sneferu (“pirâmide torta”)
1.23 Cortes das pirâmides de Saqqara, Meidum, Dahshur e Gisé, Egito, cerca 
de 2550–2460 a.C.
Estes desenhos indicam os tamanhos relativos das maiores pirâmides das 
Terceira e Quarta Dinastias. A de Quéops permanece como a maior pilha 
de pedras da história, e, entre as pirâmides, também possui o arranjo mais 
complexo de passagens e câmaras internas.
Fazio_01.indd 44Fazio_01.indd 44 17/12/10 12:0017/12/10 12:00
CAPÍTULO 1 OS PRIMÓRDIOS DA ARQUITETURA 45
cebeu o apelido de pirâmide “cebola”. O acesso se dava por 
um corredor descendente que abria no lado norte, indo para 
baixo dosolo e, então, se elevando por uma pequena distân-
cia até a câmara mortuária no centro da base da pirâmide. A 
construção com fiadas de pedras em balanço na abóbada da 
câmara marca o início do uso, pelos egípcios, dessa técnica 
em pedra, embora já a tivessem feito em tijolo.
O colapso da pirâmide de Meidum afetou outra pirâ-
mide, de Sneferu, que estava sendo construída na mesma 
época em Dahshur, aproximadamente 45 km ao sul. Ali, 
a estrutura parcialmente acabada foi transformada para 
criar a chamada pirâmide “torta”, que começou com uma 
base quadrada com 187,7 metros de lado e laterais incli-
nadas em 54° 27’ 44”. Ao observar o colapso em Meidum, 
os construtores de Dahshur decidiram mudar para um ân-
gulo de inclinação menor (41° 22’) quando a pirâmide já 
estava pela metade. Alcançando uma altura total de 104,85 
metros, a pirâmide torta ganhou mais estabilidade devido 
às suas resistentes fundações e núcleo de calcário, grandes 
blocos de revestimento de pedra levemente inclinados para 
o centro e ângulo de inclinação reduzido. Essas característi-
cas de projeto para estabilização foram incorporadas desde 
o início na terceira pirâmide de Sneferu, a pirâmide nor-
te ou “vermelha”, também em Dahshur. (O nome deriva 
da oxidação do calcário usado em seu núcleo, que ficou 
exposto depois que ladrões de pedra removeram o revesti-
mento de calcário branco.) Com uma base quadrada com 
220 metros de lado, a pirâmide norte se eleva a um ângulo 
constante de 43° 22’, chegando a 104,8 metros acima do 
solo. Seu perfil, portanto, é relativamente baixo – um teste-
munho da postura conservadora de seus projetistas.
As pirâmides da quarta dinastia em Gisé
As três grandes pirâmides de Gisé (2550–2460 a.C.) são 
obra dos descendentes de Sneferu, os faraós da Quarta Di-
nastia conhecidos como Khufu, Khafre e Menkauré (ou 
Quéops, Quéfren e Miquerinos, na transliteração para o 
grego) (Figuras 1.24–1.25). A maior pirâmide, a de Qué-
ops, que reinou em 2551–2528 a.C., foi construída primei-
ro e planejada desde o início para ser uma pirâmide verda-
deira, com proporções sem precedentes. A base de 230,1 × 
230,1 metros ocupa 52.600 m²; e suas laterais se elevam a 
um ângulo de 51° 50’ 40” até chegar a uma altura de 146,6 
metros. A maior parte da construção é de calcário, embora 
a grande câmara do faraó, no centro, seja de granito. Em 
termos de dimensões, nada construído em pedra, seja antes 
ou depois, se iguala à Grande Pirâmide de Quéops.
No entanto, a pirâmide de Quéops não é completa-
mente maciça. Três câmaras mortuárias foram construídas 
em seu interior – uma escavada diretamente no leito de 
pedra das fundações e as outras duas construídas à medida 
que a montanha de pedra foi edificada. Antes se pensava 
que essas duas câmaras mortuárias representavam mu-
danças feitas no projeto enquanto a obra progredia, mas 
hoje elas são interpretadas como acomodações propositais. 
Acredita-se que a câmara inferior, com acabamento mais 
rústico, representa o além. A câmara do meio – chamada 
de Câmara da Rainha – provavelmente continha uma está-
tua colossal de Quéops e servia como sua câmara do espíri-
to, ou serdab. A do topo – a Câmara do Faraó – construída 
com um belo granito vermelho, contém um sarcófago de 
granito dentro do qual Quéops foi efetivamente enterrado. 
Para transferir o peso tremendo da pirâmide sobre o teto 
da Câmara do Faraó, 11 pares de vigas de granito foram 
assentados formando um teto com duas faces (ou em sela), 
elevando-se para dentro do volume da pirâmide, acima da 
câmara. Cinco conjuntos gigantescos de lajes de granito 
horizontais formam câmaras de alívio sobrepostas entre a 
1.24 Pirâmides, Gisé, Egito, cerca de 2550–2460 a.C.
A pirâmide de Quéops é a que fica mais ao fundo, à direita da pirâmide de 
Quéfren (distinta pelos vestígios de pedras de revestimento externo no topo). 
Em frente à pirâmide de Quéfren fica a de Miquerinos; as três pirâmides muito 
menores do primeiro plano pertenciam às rainhas de Miquerinos.
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46 A HISTÓRIA DA ARQUITETURA MUNDIAL
cobertura em sela e o teto plano da cripta, o que reduz o 
peso e a pressão verticais. A galeria com pedras em balan-
ços sucessivos que leva a essa câmara é outra maravilha da 
construção, pois, ao se elevar a quase oito metros de altura, 
cria um contraste esplêndido com a passagem ascendente 
de 1,20 metro de altura conectada a ela.
As Câmaras do Faraó e da Rainha contêm pares de pe-
quenas aberturas viradas para cima, atravessando o volume 
da pirâmide, que podem ter sido criadas para permitir a 
ventilação. Sua orientação específica sugere uma conexão 
com a estrela polar (ao norte) e Órion (ao sul), embora a 
função e o significado simbólico exatos dessas aberturas de 
ventilação permaneçam um mistério.
A próxima na sequência de construção (e apenas le-
vemente menor no tamanho) é a pirâmide de Quéfren, o 
filho de Quéops que reinou entre 2520 e 2494 a.C. Esta pi-
râmide tem base quadrada com 215 metros de largura e se 
eleva a um ângulo de 53° 20’, chegando a uma altura total 
de 143,5 metros. Em muitas fotografias das pirâmides de 
Gisé, ela parece ser a mais alta das três, mas somente por-
que foi construída em uma parte mais elevada do terreno, 
em comparação com a de Quéops. O monumento de Qué-
fren é facilmente identificado pelo fragmento substancial 
de revestimento original de calcário que ainda existe em 
seu cume. No interior, há apenas uma câmara mortuária no 
centro da pirâmide, na altura da base. Uma passagem no 
lado norte leva ao recinto, que – como as câmaras mortuá-
rias de todas as pirâmides – foi saqueado há muito tempo.
A menor das três grandes pirâmides de Gisé pertenceu 
a Miquerinos, filho de Quéfren, que reinou entre 2490 e 
2472 a.C. Contendo menos de um décimo da quantidade 
de pedra usada na pirâmide de Quéops, o túmulo de Mi-
querinos parece ter sido construído às pressas e com menos 
cuidado que os de seus antecessores. Sabe-se que não foi 
concluído antes da morte do faraó. Suas dimensões – 102 × 
104 metros de base, inclinação de 51° 20’ 25” e 65 metros 
de altura – seguem as proporções estabelecidas pelos túmu-
los vizinhos. O sucessor de Miquerinos, Shepseskaf, último 
faraó da Quarta Dinastia, optou por não ser enterrado em 
uma pirâmide e, embora elas continuassem a ser construí-
das pelos governantes seguintes, nenhuma conseguiu supe-
rar o trio de Gisé em termos de qualidade e escala.
Associados a cada pirâmide estavam templos de apoio, 
que hoje são apenas ruínas. Ao longo do Nilo havia o cha-
mado Templo do Vale ou Templo Inferior, onde o barco 
que trazia o corpo do faraó atracava para desembarcar sua 
carga real. É possível que o processo de mumificação fosse 
realizado ali, ainda que as evidências não sejam claras a 
esse respeito. Uma passagem conectava o templo do vale 
ao templo superior, ou templo mortuário, na base da pirâ-
mide propriamente dita. Ali, o cadáver passava pelo ritual 
final de purificação antes do sepultamento.
Dentre os templos do vale em Gisé, o de Quéfren perma-
nece no melhor estado de conservação. Com uma base pra-
ticamente quadrada e paredes grossas de calcário revestidas 
em granito vermelho, seu salão central tem a forma de um T 
Mastabas
Pirâmide de Quéops (Khufu)
Passagem que leva
ao templo do vale
Templo mortuário
Pirâmide de Quéfren (Khafre)
Pirâmide de Miquerinos (Menkauré)
Esfinge
m 0050
tf 00510
Pirâmides pequenas para as rainhas de Miquerinos
Templo do Vale com passagem
até o templo mortuário
1.2
4
1.26
1.25 Implantação das pirâmides, Gisé, Egito, cerca de 2550–2460 a.C.
A pirâmide de Quéops, em especial, possui um grande número de túmulos 
complementares localizados a oeste, incluindo pirâmides e mastabas menores 
para membros da corte. Esta pirâmide possui o templodo vale e a passagem 
mais bem preservados. Observe a posição da Esfinge, ao norte da passagem 
que leva à pirâmide de Quéfren.
Fazio_01.indd 46Fazio_01.indd 46 17/12/10 12:0017/12/10 12:00
CAPÍTULO 1 OS PRIMÓRDIOS DA ARQUITETURA 47
invertido. Pilares de granito vermelho sustentavam uma co-
bertura com clerestório; as janelas foram distribuídas para 
que a luz do sol iluminasse as 23 estátuas do faraó dispostas 
ao longo das paredes. Depósitos pequenos, em dois níveis, 
estendiam-se para dentro das paredes maciças. Atualmente, 
o templo se encontra sem cobertura e sem seu revestimento 
externo de pedra ao lado da Esfinge, um leão com cabeça de 
homem com 57 metros de comprimento e 20 metros de altu-
ra, talhado in loco em uma saliência rochosa natural (Figura 
1.26). (Por muito tempo se acreditou que a cabeça da Esfinge 
seria um retrato de Quéfren, mas isso nunca foi comprovado. 
Especulações recentes de que a Esfinge seria significativamen-
te mais antiga que as pirâmides não são aceitas pela maioria 
dos egiptólogos.) O templo mortuário de Quéfren, na base 
da pirâmide, está conectado ao templo do vale por uma pas-
sagem construída em um ângulo oblíquo ao rio. A planta 
baixa da pirâmide é retangular, com uma série de espaços 
internos distribuídos axialmente. É provável que a estrutura 
de calcário tenha sido revestida de um material mais fino, e 
que o piso fosse de alabastro. No centro do templo fica um 
grande pátio interno cercado por enormes pilares; em frente 
a ele, havia 12 estátuas grandes do faraó.
Há muito tempo, as pirâmides – especialmente os exem-
plares impressionantes de Gisé – têm levado a duas pergun-
tas: como foi possível que povos antigos, trabalhando com 
tecnologias simples, construíssem estruturas tão grandes? E 
por que as teriam construído? A resposta à primeira pergunta 
pode ser presumida razoavelmente, embora continue sendo 
uma área de estudo. Ainda que não tivessem materiais mais 
resistentes que o cobre e não usassem a roda no transporte, 
os egípcios não eram primitivos. Seu conhecimento de topo-
grafia – necessário para a remarcação dos limites das planta-
ções após a inundação anual – ajudou-os a traçar a base das 
pirâmides com exatidão, e também a orientar a planta baixa 
quadrada de acordo com os pontos cardeais. A pirâmide de 
Quéops tem um desvio de apenas 5 1/2 minutos de arco em 
relação ao norte; seu ápice está apenas 30 cm deslocado em 
relação ao centro da base; e há somente um erro de 20 cm 
na extensão de um dos lados da base. A ausência de veículos 
com rodas não era um problema sério, pois grande parte do 
transporte provavelmente era feita pela água ou pela areia, 
onde as rodas não teriam vantagens reais sobre os barcos e 
trenós que de fato foram usados. A extração das pedras era 
feita com serras de metal, no caso dos calcários e arenitos, 
mais macios, ou com esferas de rocha muito duras (doleri-
tas), golpeadas repetidamente ao longo de linhas nas pedras 
mais resistentes, como o granito. O acabamento de pedras 
afeiçoadas podia ser feito com martelos, cinzéis e machados 
de pedra, bem como lixas ou mós. Independentemente do 
método, o trabalho nas pedreiras era tedioso, e, provavel-
mente, ficava a cargo de prisioneiros ou trabalhadores re-
crutados à força. As pedras mais refinadas e o granito eram 
trazidos de locais mais distantes.
As pirâmides eram construídas, provavelmente, por gran-
des equipes de trabalhadores durante a época das inunda-
ções, quando era impossível trabalhar nos campos. Os mús-
culos humanos forneciam a força necessária para transportar 
os blocos até o local. O estudo de pirâmides em ruínas ou 
inacabadas revelou que não havia apenas um método de 
construção; ainda menos se sabe sobre os monumentos mais 
completos – o trio de Gisé – porque seus interiores não po-
dem ser investigados em detalhes. Em alguns casos, rampas 
eram montadas paralelamente à crescente montanha de alve-
naria para criar um plano inclinado que permitisse arrastar as 
pedras em trenós. Também é possível que o núcleo escalona-
do ascendente das pirâmides de Gisé tenha servido como es-
cada para os trabalhadores que puxavam e usavam alavancas 
para elevar os blocos até os níveis superiores, uma vez que a 
quantidade de material necessária para a construção de ram-
pas adicionais nessas edificações enormes, bem como a difi-
culdade de se deslocar os blocos de pedra pelas quinas, teria 
impossibilitado o uso de planos inclinados. Embora o nú-
mero de homens e o tempo necessário para se concluir uma 
das grandes pirâmides ainda sejam assunto para discussão, a 
capacidade egípcia de organizar trabalhadores e pedreiros em 
campanhas sazonais de construção é um fato – e também um 
testemunho da habilidade de seus engenheiros.
O motivo por trás da construção das pirâmides tem ins-
pirado tanto pesquisas sérias como bobagens especulativas. 
Já surgiram teorias que vão desde a definição de medidas-pa-
drão a partir do corpo humano (como ocorreu com as uni-
dades inglesas) até previsões apocalípticas do fim do mun-
do, para explicar a configuração dimensional da pirâmide de 
Quéops; os egiptólogos, porém, estão convencidos de que 
as pirâmides eram, acima de tudo, tumbas para os faraós. O 
motivo que levaria as pessoas a dedicar tanto esforço a pro-
jetos que poderiam ser considerados praticamente inúteis 
só pode ser compreendido dentro do contexto da visão de 
mundo egípcia. Talvez nenhuma sociedade, antes ou depois 
da egípcia, tenha investido tanto tempo e energia para ga-
rantir a vida após a morte de seus personagens mais ilustres. 
Praticamente toda a arte e a arquitetura egípcias eram muito 
1.26 Pirâmide de Quéfren e Esfinge, Gisé, Egito, cerca de 2550–2460 a.C.
Os resquícios da entrada do vale do tempo de Quéfren podem ser vistos à 
esquerda.
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48 A HISTÓRIA DA ARQUITETURA MUNDIAL
práticas, buscando auxiliar na passagem deste mundo para 
o próximo e garantir o conforto e uma vida agradável após a 
chegada. Ainda que os maiores esforços tenham sido despen-
didos para preparar a pós-vida do faraó, todos os egípcios 
tinham sua visão pessoal da vida eterna; por isso, estavam 
interessados na criação de uma arquitetura voltada à morte e 
ao renascimento, desde os modestos túmulos dos pobres até 
as edificações monumentais de seus soberanos.
O Reino Médio (11ª a 13ª dinastias, cerca de 2040–1640 a.C.)
As primeiras oito dinastias egípcias deram lugar a um pe-
ríodo de grande instabilidade social, quando senhores feu-
dais começaram a ameaçar a unidade obtida por Menes. 
Esta era de discórdia inter-regional foi chamada de Primeiro 
Período Intermediário, seguida por uma segunda fase de go-
verno centralizado, conhecida como Reino Médio. Durante 
este período, a capital do reino foi transferida de Mênfis para 
Tebas, ao passo que o faraó deixou de ser um soberano abso-
luto e divino, como na tradição do Reino Antigo, para ocupar 
o lugar de senhor feudal com vassalos locais. As tumbas reais 
ainda tinham grande importância para a arquitetura, mas, em 
geral, não duraram nem intimidaram os ladrões de túmulos.
O túmulo de Mentuhotep II, em Deir-el-Bahari (cerca 
de 2061–2010 a.C.) é uma obra excepcional em termos de 
inovação de arquitetura, unindo o templo e a câmara mor-
tuária em uma única composição. O complexo, ao qual se 
chegava por uma rota axial que vinha do Nilo, tinha dois 
níveis de terraços com colunatas cercando uma massa de 
alvenaria que, por muito tempo, acreditou-se ter sido uma 
pirâmide, mas, atualmente, é interpretada como um salão 
com cobertura plana. (Hoje a edificação está em ruínas, en-
tão não se pode ter certeza em relação ao projeto original. A 
probabilidade de um salão com cobertura plana se baseia 
no fato de que as fundações não são suficientes para susten-
tar uma pirâmide,

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