Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 1 Coordenação de Ensino FAMART www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 2 SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 3 SUMÁRIO A INSERÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE .......................................................... 4 Limites e desafios do Serviço Social na Saúde .................................................................... 10 Atuação profissional ............................................................................................................ 13 Assistente social - profissional de saúde .............................................................................. 20 Trabalhando direitos ............................................................................................................ 26 O SERVIÇO SOCIAL NA POLITICA DE SAÚDE BRASILEIRA ........................................... 28 REFERENCIAL .................................................................................................................... 37 www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 4 A INSERÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE O Serviço Social enquanto profissão surge vinculado ao agravamento das mazelas sociais, assumindo a função de executor das ações socais destinadas à população pauperizada, que tinham por objetivo amenizar os conflitos entre a classe proletária e a burguesia. Sabe-se, portanto, que desde sua origem o Serviço Social encontra-se em meio ao antagonismo dos interesses entre as duas classes sociais fundamentais. A partir da década de 1960 iniciou-se na categoria o movimento de reconceituação que buscou a ruptura com a prática do Serviço Social tradicional, e teve como resultado a definição da direção política e ideológica da profissão, calcada no compromisso com a defesa de direitos da classe trabalhadora com vistas à construção de uma nova ordem societária. Tais preceitos foram incorporados ao Código de Ética Profissional em 1993. Na mesma época em que o Serviço Social passava por este processo de renovação e amadurecimento teórico, o Brasil encontrava-se em um momento de grande efervescência política pelo fim da ditadura militar e concomitante a redemocratização do país, destaca-se a força do movimento de reforma sanitária, que lutou pela universalização do acesso a saúde, compreendo que este era direito de todos e um dever do estado. O Serviço Social recebia as influencias dessa conjuntura de luta política, contudo a preocupação central da categoria nesse momento era a disputa pela nova www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 5 direção a ser dada a profissão, por esse motivo não foi identificada uma participação diretamente ligada ao movimento pela reforma sanitária (BRAVO; MATOS, 2009, p. 204). Na década de 1980 o Serviço Social aproxima-se da tradição marxista, principalmente no âmbito da Universidade, e a atuação e intervenção permanecem até a década de 1990 com reflexos incipientes desse amadurecimento teórico-crítico, constatados pela desarticulação da categoria com Movimento da Reforma Sanitária e pouca produção em relação à demanda do Serviço Social no âmbito da Saúde (CFESS, 2010). A luta da sociedade pela garantia de direitos teve como desfecho a conquista da Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), considerada um grande avanço, pois instaura direitos sociais e inaugura a Seguridade Social no Brasil, contemplando políticas universais, sendo composta através do tripé: Saúde, que se caracterizou enquanto política universal, não contributiva, representada pela criação do Sistema Único de Saúde (SUS); Previdência Social considerada uma política restrita aos trabalhadores contribuintes; e Assistência Social, destinada a quem dela necessitar, objetivando garantir segurança de sobrevivência e autonomia da população. Muitos foram os avanços no âmbito da política de saúde, a pauta das reinvindicações do movimento sanitário foi contemplada constitucionalmente, podem- se elencar como principais conquistas: - O direito universal à Saúde e o dever do Estado, acabando com a discriminação existente entre segurado/não segurado, rural/urbano; - As ações e Serviços de Saúde passaram a ser consideradas de relevância pública, cabendo ao poder público sua regulamentação, fiscalização e controle; - Constituição do Sistema Único de Saúde integrando todos os serviços públicos em uma rede hierarquizada, regionalizada, descentralizada e de atendimento integral, com participação da comunidade; - A participação do setor privado no sistema de saúde deverá ser complementar, preferencialmente com as entidades filantrópicas, sendo vedada a destinação de recursos públicos para subvenção às instituições com fins lucrativos. www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 6 Os contratos com entidades provadas prestadoras de serviços far-se-ão mediante contrato de direito público, garantindo ao Estado o poder de intervir nas entidades que não estiverem seguindo os termos contratuais; - Proibição da comercialização de sangue e seus derivados (TEIXEIRA, 1989, p. 5051). Apesar da legislação referente ao SUS ter sido aprovada em 1988, somente em1990 foi promulgada a Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080 de 1990) que “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências” (BRASIL, 1990, p. 1). Rompe-se, através da universalidade, o acesso privilegiado à saúde que passa a ser compreendida enquanto direito, o que viabiliza o alcance da igualdade. Por meio da equidade assegura-se o acesso a saúde a todo cidadão, independentemente de qualquer classificação, social, cultural, étnica ou religiosa. E, através da integralidade, reconhece-se a totalidade de cada indivíduo, e prevê que a saúde seja tratada em todos os níveis de atenção, sem priorização da hospitalização pela alta complexidade. Contudo, no contexto internacional, assistia-se a retração das conquistas sociais, devido a disseminação do neoliberalismo, que chega ao Brasil com a implantação de medidas de corte da proteção social recentemente conquistada. A efetivação dos avanços alçados pela Constituição Federal de 1988 é interrompida pela implantação do ideário Neoliberal no Brasil nos anos 1990. Neste período o Brasil enfrenta a crise da estagflação, o contexto é também de grandes mudanças no mundo do trabalho que o torna cada vez mais precário e flexibilizado, além do forte desemprego estrutural. Em 1989 o Consenso de Washington impõe uma série de medidas direcionadas aos países latino-americanos, para saírem da crise.A partir desse momento é implantado no Brasil, através do governo de Fernando Collor de Mello, o receituário neoliberal, associado ao discurso de modernizar o país, neste momento, estabelece nos país medidas de disciplina fiscal, responsabiliza o Estado pelo controle da dívida pública e a geração de superávit primário, assim como, o socorro aos bancos e aos setores produtivos quando estes se encontrarem em crise e privatização de www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 7 empresas e serviços estatais. Todas essas medidas determinam a intervenção do Estado para garantir o bom funcionamento do mercado (BATISTA, 1994). A implantação da agenda neoliberal no Brasil confronta com as garantias de direitos conquistados em 1988, portanto a implantação da agenda neoliberal se dá em detrimento da efetivação das políticas de proteção social (BEHRING; BOSCHETI, 2008). Como consequência da adoção do neoliberalismo, evidencia-se uma drástica redução nos gastos sociais do país, que acarreta no desmantelamento da proteção social através de políticas focalizadas, adoção de estratégias como o Empreendedorismo que responsabiliza o indivíduo pela sua situação de vulnerabilidade, desarticulação das redes de serviços sociais, fortalecimento do estilo patrimonialista e clientelista na administração da política pública. As políticas de ajuste fiscal desenvolveram-se ao longo da década de 1990. Apesar do enfraquecimento das lutas sociais, evidencia-se a força do movimento formado majoritariamente por estudantes, que foi capaz de causar o impeachment de Collor, em 1992. As medidas iniciadas no governo Collor intensificam-se no governo de Fernando Henrique Cardoso, principalmente no que se refere às privatizações. Através do ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, é criado o documento intitulado “Plano Diretor da Reforma do Estado” (COSTA, 2006), que propunha uma administração gerencial em substituição a administração publica, pois, em sua análise, esta última era responsável pela crise (COSTA, 2006). Dessa forma, assistiu-se no governo de Fernando Henrique Cardoso a transferência do controle estatal para a iniciativa privada, com a privatização de empresas estatais e transferência da responsabilidade do Estado na área social para a sociedade civil. Os postulados neoliberais na área social são basicamente os seguintes: o bem- estar social pertence ao âmbito do privado (suas fontes “naturais” são a família, a comunidade e os serviços privados). Dessa forma, o Estado só deve intervir quando surge à necessidade de aliviar a pobreza absoluta e de produzir os serviços que o setor privado não pode ou não quer fazê-lo. Propondo, portanto um Estado de www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 8 beneficência pública ou assistencialista, no lugar de um Estado de Bem-Estar Social. Os direitos sociais e a obrigação da sociedade de garanti-los por meio da ação estatal, em como a universalidade, igualdade e gratuidade dos serviços sociais são abolidos no ideário neoliberal (SOARES, 2001, p. 44). No âmbito da saúde verifica-se o incentivo, por meio de diversas ações, à ampliação da iniciativa privada na prestação de serviços de saúde, como: a transferência de funções do Ministério da Saúde para agências reguladoras e organizações não estatais; o rompimento com o princípio da universalidade, através do subfinanciamento do sistema que prevê assistência mínima aos que não podem pagar o acesso a saúde; e a terceirização dos serviços ambulatoriais, hospitalares e de apoio diagnóstico, através da contratação de prestadores privados (BRAVO; MATTOS, 2004). Agrava-se, portanto, a disputa entre o modelo de saúde privatista neoliberal – sustentado em uma “democracia restrita, que diminui os direitos sociais e políticos”, devido a medidas de contenção de gasto sociais, privatização e minimização do Estado – e o modelo da Reforma Sanitária – fundamentado na “democracia de massas, com ampla participação social” em defesa da democratização, a universalização e do controle social (BRAVO; PEREIRA, 2007, p.198-199). O cenário em 2002, ano da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o cenário econômico do Brasil era crítico, com alto índice de inflação e aumento da dívida externa, no campo social o país enfrentava as consequências da adoção da agenda neoliberal. Foi lançada grande expectativa de mudança com a eleição do presidente Lula, esperava-se que este implantasse uma nova agenda de governo, com maior participação do Estado no desenvolvimento econômico e social (BRAVO, 2001). Com histórico de militância sindicalista, Lula foi o primeiro presidente operário, era tido como ícone da classe trabalhadora, ao elegê-lo o povo demonstrou sua ânsia por mudança, sua insatisfação com o rumo conservador que país percorria até então, contudo, essa expectativa não foi alcançada da maneira que se previa. O primeiro governo de Lula é marcado pela continuidade das estratégias econômicas neoliberais, e o endossamento de estratégias sociais focalizadas (FAGNANI, 2011). www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 9 No que tange a saúde, também havia expectativa de fortalecimento do projeto de Reforma Sanitária, porém o que se viu foi a continuidade da polarização entre público e privado. Desta forma, evidencia-se a convivência da inovação com a continuidade. Na análise de BRAVO (2001), são ressaltados como aspectos de inovação: [...] o retorno da concepção de Reforma Sanitária que, nos anos 90, foi totalmente abandonada; a escolha de profissionais comprometidos com a luta pela Reforma Sanitária para ocupar o segundo escalão do Ministério; as alterações na estrutura organizativa do Ministério da Saúde, sendo criadas quatro secretarias e a sua realização em dezembro de 2003; a participação do ministro da saúde nas reuniões do Conselho Nacional de Saúde e a escolha do representante da CUT para assumir a secretaria executiva do Conselho Nacional de Saúde (BRAVO, 2001, p.16). Percebe-se, a preocupação em representar o projeto da Reforma Sanitária através de secretarias e lideranças. Contudo, o compromisso com os princípios desse projeto não foram adotados, permanecendo evidente a lógica da privatização. Através de isenções fiscais das empresas que contratam planos de saúde para funcionários e das entidades filantrópicas, das propostas de prestação de serviços por Organizações Sociais (OS) e Organizações da Sociedade Civil Pública (OSCIPS), e gestão, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSEH) (MOREIRA, 2013). Segundo Ravagnani (2013) estas prestadoras de serviços surgem a partir da implantação do Plano Diretor da Reforma do Estado, em 1995, com a finalidade de delegar ao setor privado a execução dos serviços públicos, e deixar para o Estado as funções de coordenar e financiar as políticas públicas. A transferência de serviços apresenta inconstitucionalidades, segundo a autora: No que se refere à saúde, a transferência de serviços encontra impedimento legal na Constituição (Art. 199) e na Lei Orgânica da Saúde, Lei n. 8.080/90 (Art. 24), onde é permitida a participação em caráter complementar, mediante contrato ou convênio, somente quando esgotada a capacidade e disponibilidade de atendimento pelo SUS (RAVAGNANI, 2013, p. 50), Dessa forma se expressa o projeto privatista, vinculando a saúde ao mercado e agindode forma incoerente aos dispositivos legais constitucionais. O princípio da universalização é trabalhado apenas no âmbito da atenção básica, sendo os serviços de média e alta complexidade executados majoritariamente pela iniciativa privada. www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 10 Este cenário perpetuou-se durante todo governo petista, e vem se acentuando com adoção de medidas neoliberais, como a terceirização dos serviços e a focalização das políticas as classes mais pobres. A grande ameaça que permeia a saúde pública é a efetivação do SUS como espaço destinado àqueles que não têm acesso ao sistema privado, esta segmentação contradiz todos os princípios, que a duras penas, foram conquistados em 1988. O desafio atual é fortalecer novamente a luta pela efetivação do Projeto de Reforma Sanitária, recuperando os princípios e valores que constituíram o SUS. É fundamental evidenciar a importância de o assistente social apropriar-se das contradições que perpassam a política de saúde para que se engaje no processo de defesa do SUS, através de sua atuação nos espaços sócio-ocupacionais e como fomentadores do debate acerca da luta pela efetivação do direito à saúde. Limites e desafios do Serviço Social na Saúde Diante dos interesses antagônicos em relação à consolidação do SUS a inserção do Assistente Social na Saúde também é contraditória e apresenta diferentes demandas para atuação deste profissional. Segundo Iamamoto (2008) a organização social capitalista insere diversas armadilhas no cotidiano profissional que devem ser objetos de atenção. E é com essa perspectiva que o Assistente Social deve enxergar as contradições postas no seu cotidiano profissional. Segundo o documento Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Saúde (2010) os profissionais são direcionados pelo projeto privatista a trabalharem “a seleção socioeconômica dos usuários, atuação psicossocial por meio de aconselhamento, ação fiscalizatória aos usuários dos planos de saúde, assistencialismo por meio da ideologia do favor e predomínio de práticas individuais”, e em contrapartida, o projeto de Reforma Sanitária apresenta como principais demandas do serviço social na saúde questões como: “democratização do acesso às unidades e aos serviços de saúde; estratégias de aproximação das unidades de saúde com a realidade; ênfase nas abordagens grupais; acesso democrático às informações e estímulo à participação popular” (CFESS, 2010, p. 26). www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 11 No que concerne o posicionamento do Serviço Social diante das demandas expostas, sabe-se que há uma estreita relação entre o Projeto Ético-Político profissional e o de Reforma Sanitária, através da afinidade entre os princípios, aportes e referências teóricas e metodológicas, além da semelhança no momento histórico em que estes Projetos são construídos, ambos no processo de redemocratização da sociedade brasileira nos anos de 1980. Portanto para uma atuação condizente com as orientações éticas da profissão e que realmente alcance o cerne da problemática da saúde e o fortalecimento do compromisso com a classe trabalhadora, se faz necessário ser coerente com princípios pautados pelo Projeto de Reforma Sanitária. Contudo, observam-se como limites da pratica profissional no campo da Saúde a forte presença da perspectiva conservadora que se manifesta na descrença da Saúde enquanto política pública universal, na necessidade da construção de um saber específico e fragmentado a exemplo da prática médica, na autorepresentação dos assistentes sócias enquanto sanitaristas após realizarem a formação em saúde pública, e na intervenção fenomenológica denominada Serviço Social Clínico (CFESS, 2010). Além disso, muitas vezes a pratica do Serviço Social somente é considerada no atendimento direto ao usuário em nível de assistência, sendo desprezados nos cargos de gestão, assessoria e planejamento. As novas demandas como gestão, assessoria e a pesquisa, consideradas como transversal ao trabalho profissional e explicitadas na Lei de Regulamentação da Profissão (1993) e nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS (1996), na maioria das vezes, não são assumidas como competências ou atribuições profissionais (CFESS, 2010). Para uma prática profissional coerente a categoria deve levar em conta o conceito ampliado de Saúde, não mais compreendida enquanto ausência de doença, mas sim enquanto fruto das relações sociais e destas com o meio físico, social e cultural. Dessa forma, o agir profissional deve superar a perspectiva biologista e distanciar-se de praticas paramédicas e da fragmentação do conhecimento, pois o trabalho com os aspectos sociais que determinam o processo saúde-doença exige o conhecimento e visão generalistas, que trabalhem com sujeito em sua totalidade. www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 12 Para Bravo e Matos (2009), uma atuação competente do Serviço Social na Saúde pressupõe: • estar articulado e sintonizado ao movimento dos trabalhadores e de usuários que lutam pela real efetivação do SUS; • conhecer as condições de vida e trabalho dos usuários, bem como os determinantes sociais que interferem no processo saúde-doença; • facilitar o acesso de todo e qualquer usuário aos serviços de saúde da instituição e da rede de serviços e direitos sociais, bem como de forma compromissada e criativa não submeter à operacionalização de seu trabalho aos rearranjos propostos pelos governos que descaracterizam a proposta original do SUS de direito, ou seja, contido no projeto de Reforma Sanitária; • buscar a necessária atuação em equipe, tendo em vista a interdisciplinaridade da atenção em saúde; • estimular a intersetorialidade, tendo em vista realizar ações que fortaleçam a articulação entre as políticas de seguridade social, superando a fragmentação dos serviços e do atendimento às necessidades sociais; • tentar construir e/ou efetivar, conjuntamente com outros trabalhadores da saúde, espaços nas unidades que garantam a participação popular e dos trabalhadores de saúde nas decisões a serem tomadas; • elaborar e participar de projetos de educação permanente, buscar assessoria técnica e sistematizar o trabalho desenvolvido, bem como realizar investigações sobre temáticas relacionadas à saúde; • efetivar assessoria aos movimentos sociais e/ou aos conselhos a fim de potencializar a participação dos sujeitos sociais contribuindo no processo de democratização das políticas sociais, ampliando os canais de participação da população na formulação, fiscalização e gestão das políticas de saúde, visando ao aprofundamento dos direitos conquistados (CFESS, 2010, p.30). É evidente, portanto, a importância do trabalho do Assistente Social para consolidação do SUS. A preocupação central do Serviço Social na saúde deve ser a identificação dos impasses existentes para a efetivação do projeto de reforma sanitária e do projeto ético político. Para Costa (2009), “o assistente social se insere, no interior do processo de trabalho em saúde, como agente de interação ou como um www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 13 elo orgânico entre os diversos níveis do SUS e entre este e as demais políticassociais setorias, o que nos leva a crer que o seu principal papel é assegurar a integralidade das ações”. Atuação profissional Como política social pública, a saúde sempre representou um grande campo de atuação profissional para o assistente social e ao longo das décadas a participação dos assistentes sociais no planejamento e execução de ações na área da saúde se deu de forma diferenciada. Através dessa participação, inúmeras foram as contribuições para os diversos perfis profissionais que temos hoje em atuação dentro do Serviço Social na saúde. Também ao longo desses anos, muitas foram as mudanças no cenário da categoria profissional, bem como no cenário da política de saúde, como uma política social pública. Dentre dessa trajetória o período de 1930 a 1945 caracterizou o surgimento da profissão do Serviço Social no Brasil com grande influência europeia e a área da saúde neste momento ainda não era a que mais concentrava um maior quantitativo de profissionais, mesmo identificando que a formação profissional de algumas escolas já estavam sendo pautadas em algumas disciplinas relacionadas a saúde. Ou seja, apesar da saúde já estar diretamente imbricada na formação profissional do assistente social e algumas escolas terem surgido já motivadas por demandas do setor saúde, ainda nesse momento era considerada pequena a interlocução entre Serviço Social e saúde. www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 14 A partir de 1945 o Serviço Social se espante no país e a ação profissional na área da saúde também se amplia. É a partir desse momento que o setor saúde transforma-se numa das áreas que mais absorve profissionais do Serviço Social, além disso, é a partir dessa década que a profissão substitui a influência européia pela norte americana. Essa alteração de influência traz como ponto principal na ação profissional a substituição do julgamento moral por uma análise de cunho psicológico da população-cliente. Segundo Bravo e Matos (2004) o fato que motivou a ampliação do espaço profissional para o assistente social na área da saúde teve seu marco no novo conceito de saúde elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1948, quem enfocou os aspectos biopsicossociais determinando a requisição de outros profissionais no setor saúde dentre eles o assistente social. Esse novo conceito buscou já nessa época, a abordagem de conteúdos preventivistas e educativos, criando programas prioritários com segmentos da população em função da inviabilidade ainda de universalizar a atenção médica e social. Com base ainda nesse novo conceito os assistentes sociais passaram a enfatizar nessa prática cotidiana as ações educativas com intervenção normativa no modo de vida da chamada “clientela”. Essa intervenção estava relacionada principalmente aos hábitos de higiene e saúde da população. Com a consolidação da Política Nacional de Saúde ocorreu uma considerável ampliação dos gastos com assistência médica pela previdência social, porem essa assistência ainda não era universal o que gerou uma grande contradição entre a demanda surgida e o caráter excludente e seletivo dentro das unidades de saúde. www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 15 Nesse período os assistentes sociais passam a atuar dentro dos hospitais numa postura de mediador entre a instituição e a população. Para tentar viabilizar um maior acesso desses usuários aos serviços e benefícios os profissionais utilizavam-se de ações como: plantão, triagem ou seleção, encaminhamento e orientação previdenciária. De acordo com Iamamoto e Carvalho (1982, p.75), Os benefícios passaram a ser custeados total ou parcialmente pelos próprios beneficiários. Na lógica da estruturação de tais serviços, não há o componente distributivista, mais existe a preocupação de favorecer o capital. O conceito que passa a reger os programas assistenciais é o de salário social indireto que incorpora ao salário vários serviços ao trabalhador que a “coletividade paga”, com vistas à utilização futura. O piso salarial é rebaixado à medida que engloba os demais benefícios e o trabalhador paga os serviços pelas deduções salariais direta, pela elevação do custo de vida, com a contribuição dos empregadores transferida para os preços dos produtos e através dos impostos e taxas recolhidos pelo poder público.”. A partir de 1950 o Brasil passou a sofrer influências da “medicina integral”, a “medicina preventiva”, tal influência foi oriunda dos Estados Unidos. Essa proposta, identificada como proposta racionalizadora na saúde teve uma série de desdobramentos a partir da década de 60. Entre esses rebatimentos, está o surgimento da medicina comunitária. Porem, tais mudanças não repercutiram no trabalho já desenvolvido pelos assistentes sociais na saúde no Brasil, eles mantiveram como ponto central de sua ação os hospitais e ambulatórios. Segundo Costa (1986), em meados da década de 1920 o Brasil já contava com centros de saúde onde os serviços básicos eram: a higiene prénatal, infantil e pré- escolar, combate à tuberculose e verminoses e laboratório. Tais atividades tinham como proposta fundamental prestar esclarecimentos à população quanto à educação sanitária, por intermédio de educadores de higiene. Os assistentes sociais não foram absorvidos neste espaço, pelo menos nesse momento. Os centros de saúde contavam apenas com médicos, enfermeiras e visitadoras. www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 16 Segundo Bravo (2004), apesar de um intenso trabalho realizado nos centros de saúde onde grande parte das atividades desenvolvidas pelas visitadoras, poderia ser absorvida pelos assistentes sociais, porém a exigência do momento concentrava- se na ampliação da assistência médica hospitalar. Dessa forma, os assistentes sociais acabaram priorizando suas ações no nível curativo e hospitalar, de onde demandava um maior quantitativo de profissionais que eram estritamente necessários para lidar com a contradição entre demanda, exclusão e seletividade. Os assistentes sociais tinham uma linha de trabalho voltada para o Serviço Social de Casos, era o Serviço Social Médico, tal orientação era passada pela Associação Americana de Hospitais e pela Associação Americana de Assistentes Médico-Sociais. No pós-1964 o Serviço Social sofreu algumas transformações que tiveram rebatimento direto no trabalho do assistente social na área da saúde. No debate interno da profissão questionava-se a forma conservadora com que eram realizadas as ações na área da saúde. No período de 1965 a 1975 o Serviço Social passa a receber as influências do processo da modernização que se operava no país no âmbito das políticas sociais. As ações profissionais foram sedimentadas na prática curativa, principalmente na assistência médica previdenciária, enfatizando as técnicas de intervenção, a burocratização das atividades, a psicologização das relações sociais e a concessão de benefícios. Até 1979 não houve grande alteração no processo organizativo do Serviço Social na área da saúde. A década de 80 chega e com ela um dos marcos na política de saúde brasileira, o Movimento da Reforma Sanitária. Apesar do Movimento de Reforma Sanitária representar uma luta por uma saúde mais justa de acesso universal como direito social de todo cidadão, o Serviço Social noBrasil estava imbricado no seu próprio processo de renovação e esse fato acabou afastando os profissionais de outros debates de grande importância na construção de um cenário mais democrático no espaço nacional. Toda discussão interna da profissão na busca de crescimento, fundamentação e consolidação teórica deslocou-se do cotidiano dos serviços e poucas foram as www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 17 mudanças apresentadas nas ações de intervenção. Esse é um fato que ainda hoje repercute na atuação do Serviço Social na área da saúde. De acordo com Bravo (2004, p. 34): O processo de renovação de Serviço Social no Brasil esta articulado às questões colocadas pela realidade da época, mas, por ter sido um movimento de revisão interna, não foi realizado um nexo direto com outros debates, também relevantes, que buscavam a construção de práticas democráticas, como movimento pela reforma sanitária. Na nossa análise esses são os sinalizadores para o descompasso da profissão com a luta pela assistência pública na saúde. É impossível falar do Serviço Social sem se referenciar aos anos 80. Estes são fundamentais para o entendimento da profissão hoje. Bravo (2004) enfatiza ainda que no balanço geral do Serviço Social na área da saúde dos anos 80, mesmo com todas as lacunas no fazer profissional, observou-se uma mudança de posição com adoção de uma postura um pouco mais crítica dos profissionais com relação as atividades desenvolvidas nas unidades de saúde e tal reflexo pôde ser percebido nos trabalhos apresentados em Congressos da categoria e nos Congressos Brasileiros de Saúde Coletiva de 1985 e 1989. Todo histórico institucional do Serviço Social na área da saúde aliado a conjuntura ideológica do projeto neoliberal em implantação no país, trouxe consideráveis rebatimentos para o Serviço Social na área da saúde na década de 90, que passava a apresentar dois projetos políticos em disputa na área da saúde, o projeto privatista e o projeto da reforma sanitária e ambos apresentaram requisições diferentes para o Serviço Social. Segundo Bravo (2004) o projeto privatista requisitou e continua requisitando ao assistente social ações que seguem na contra mão da proposta da Reforma Sanitária, ou seja, os profissionais voltam a atuar realizando aconselhamento psicossocial, fiscalização de usuários, assistencialismo através da ideologia do favor e predomínio de abordagens individuais. Os assistentes sociais se vêem em meio a uma formação voltada para a equidade, justiça social e democracia, tendo que atuar em uma área, anteriormente marcada pela luta por equidade e universalidade no acesso e agora www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 18 transpassada por projetos diferentes, antagônicos e que disputam espaço dentro da política de saúde brasileira. Esse cenário apresentado no início da década de 90 fez com que o Serviço Social assumisse algumas posturas diferenciadas dentro do cotidiano das unidades de saúde. Apesar das inúmeras publicações e discussões promovidas dentro dos espaços acadêmicos, a interlocução com o espaço prático de atuação profissional demonstrava pouca aproximação, o que favoreceu para que o desenvolvimento das atividades e ações profissionais, em muitas unidades de saúde, assumisse um caráter empírico, promovendo certa desqualificação da ação profissional e em muitos casos a dificuldade de identificação do papel profissional a ser desenvolvido pelo assistente social no espaço multidisciplinar da saúde. Os reflexos dessa dificuldade de identificação transparecem não só para os demais profissionais de saúde que atuam nas equipes multidisciplinares, mas também entre os próprios assistentes sociais, que manifestam suas incertezas com relação ao seu papel profissional em publicações que trazem à tona a dificuldade desses profissionais em entender qual o referencial teórico, metodológico e técnico deve ser adotado para a construção de uma atuação profissional que esteja comprometida com a ética e com as diretrizes de uma proposta democrática na saúde. As instituições demandam repostas emergenciais e a prática profissional acaba ganhando um caráter solidificado e enrijecido, sem uma articulação e uma avaliação crítica constante por parte dos próprios profissionais, para a reconstrução de suas práticas e a interlocução de seu fazer profissional dentro da saúde, baseado em referenciais teóricos não só da própria categoria, mas também do que está no pano de fundo da política pública de saúde brasileira, suas alterações, requisições, definições, etc. Segundo Iamamoto (2000: p.89): As constantes redefinições conformam mais uma “passagem da prática” do que uma prática cristalizada o que muitas vezes é vivido pela categoria como uma “crise www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 19 profissional”. Essa crise não é mais do que a expressão, na consciência de seus agentes, da temporalidade dessas práticas, da necessidade de redefinições. Essa chamada “crise profissional” passou a ser reavaliada ao longo dos anos 90 o que proporcionou aos dias atuais novas propostas de trabalho por parte dos assistentes sociais em diversas unidades de saúde. Os assistentes sociais voltaram a buscar qualificação profissional através dos cursos de especialização, extensão e supervisão. No espaço da saúde em especial, os assistentes sociais têm buscado sobressair como profissional de saúde que tem sua formação voltada ao conceito ampliado de saúde, ou seja, à consciência que os fatores determinantes e condicionantes da saúde além de todo o escopo da política de saúde como política social pública, nada mais são do que instrumentos de trabalho para o assistente social. O conhecimento e a capacidade de manejo desses instrumentos fazem o diferencial para a atuação profissional do assistente social dentro de uma equipe multidisciplinar de saúde. Como descreve Sarreta (2008), o Serviço Social se sobressai no endosso ao reconhecimento dos fatores determinantes e condicionantes das condições de saúde, para o enfrentamento das expressões da questão social. A profissão vem produzindo conhecimento e alternativas para enfrentar as dificuldades vivenciadas no cotidiano, provocando o alargamento do trabalho profissional, que, associada à produção de conhecimento e constante qualificação, tem ampliado a inserção do profissional na área da saúde. O desafio atual para o Serviço Social passa pela construção de uma proposta crítica e criativa de trabalho que consiga conciliar o papel profissional dentro de uma equipe multidisciplinar, a conquista e ampliação do espaço profissional dentro das unidades de saúde sem perder de foco a busca constante pela consolidação da saúde como direito social de todo cidadão, tendo como norte o projeto ético político profissional e a base democrática de acesso universal igualitário, com equidade e justiça social proposto pela Reforma Sanitária. www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 20 Assistente social - profissional de saúde Um dos pontos que passaram a nortear o trabalho profissional do assistente social na saúde foi o Código de Ética Profissional aprovado em 1993. Tal código representou para aprofissão um projeto profissional, denominado pela categoria como projeto ético-político profissional, por ter sido construído e legitimado pelo debate profissional, contemplando o pluralismo como elemento fundamental tanto da sociedade quanto do exercício profissional. As proposições enunciadas no projeto ético-político do Serviço Social e materializadas no Código de Ética convergem e refletem o movimento de Reforma Sanitária Brasileira, visando efetivar a universalidade do acesso à saúde, por meio de políticas públicas efetivas, já que sua implementação destina-se a amenizar as diferenças e injustiças instaladas na sociedade e considerar mecanismos que permitam ampliar as possibilidades de acesso a bens e serviços produzidos. De acordo com Netto (2006), os valores, ideias, opções, éticas e políticas, que caracterizam o projeto ético-político do Serviço Social assinalam o compromisso com os interesses da classe trabalhadora brasileira, portanto, antagônico ao projeto defensor do neoliberalismo, que vem promovendo a redução de direitos sociais, a privatização do Estado, o sucateamento dos serviços públicos e a redução das políticas sociais. Ou seja, o projeto ético-político do Serviço Social tem relação direta com a proposta do ideário que orienta a Reforma Sanitária Brasileira e que sustenta a construção do Sistema Único de Saúde, que tem como referência central fortalecer a descentralização político-administrativa, a participação popular e a concepação integral de saúde, com o objetivo de superar o modelo curativo que visa atender exclusivamente os interesses e as demandas do mercado. www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 21 Para tanto, o movimento considera, nesse processo, as responsabilidades do Estado na implementação de políticas sociais e de ações intersetoriais, para o desenvolvimento de uma política de saúde que programe ações e medidas eficazes ao reduzir as desigualdades sociais na perspectiva de qualidade de vida. Para a implantação e desenvolvimento do Sistema Único de Saúde no país o papel da força de trabalho atuante nas unidades de saúde, bem como nos aparelhos de gestão e coordenação de programas e projetos de saúde pública, se tornou de grande relevância e cada profissional de saúde, com seu conhecimento técnico e político, passa a ter uma participação especial dentro do escopo da política de saúde pública no Brasil e, dentre eles, o assistente social. Segundo Bravo (2006), a implantação e desenvolvimento do SUS no país vem requerendo a atuação do assistente social no processo de (re)organização dos serviços, nas ações interdisciplinares e intersetoriais, no controle social, entre as demandas que expressam a abrangência do conceito de saúde vigente, especialmente nos municípios, onde se concretizam as ações e serviços de saúde, buscando fortalecer a perspectiva da universalização do acesso a bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais. Visando atender as necessidades e demandas desse Sistema, a profissão vem produzindo conhecimentos e alternativas para enfrentar as dificuldades vivenciadas no cotidiano, provocando o alargamento da prática profissional, que, associado à produção de conhecimentos e à qualificação profissional, tem ampliado a inserção do assistente social na área da saúde e, ao mesmo tempo, vem legitimando o seu trabalho, ampliando as possibilidades de acesso e de inclusão social. O Serviço Social na área da saúde consegue se desatcar em relação aos demais profissionais de saúde por ter conhecimento teórico e técnico dos fatores condicionantes e determinantes da saúde da população. Dito de outra forma, ele é o profissional que tem em sua formação conhecimento sobre as demais políticas sociais públicas que precisam estar atreladas à política de saúde para dar conta de fatores como trabalho, renda, alimentação, moradia, educação, saneamento básico, assistência e o total acesso a bens e serviços essenciais à população que sofre as diversas expressões da questão social. www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 22 Para o reconhecimento das novas formas de produção e reprodução da questão social é necessário que o assistente social tenha como suporte a contribuição científica e o uso de teconologias em saúde que se apresentem como caminho para desenvolver o hábito da práxis, a leitura e a constatação empírico-teórica da realidade dos usuários que frenquentam diariamente as unidades de saúde pública em nosso país, bem como da própria sociedade. Dessa forma, o reconhecimento do Serviço Social como profissão da área da saúde vem se construindo através da inserção nas políticas e programas de saúde desde o seu surgimento, visto que esta relação é constitutiva na construção da identidade da profissão no país e fortalecida na defesa do SUS como política social pública que apresenta princípios semelhantes aos preconizados pelo Serviço Social. Este reconhecimento se deu também pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) que, através da Resolução de nº 218 de 3 de março de 1997, reafirmou o assistente social como profissional da saúde e delegou ao Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) a sua caracterização. O Conselho Federal de Serviço Social, através da Resolução de nº 383 de 29 de março de 1999, dispõe sobre as atribuições específicas do assistente social na área da saúde. Tal reconhecimento constitui um instrumento importante na construção de estratégias para o exercício profissional e na busca de alternativas visando ao atendimento das necessidades sociais apresentadas pelos usuários nos serviços de saúde. Essas atribuições ressaltam a perspectiva interdisciplinar para a atenção integral, juntamente com ações intersetoriais e comunitárias que se aproximem do cotidiano da população e ampliem o reconhecimento da realidade local e regional. Ao valorizar a perspectiva interdisciplinar, a fim de garantir a atenção a todas as necessidades da população usuária na mediação entre seus interesses e a prestação de serviços e, ao desenvolver as diversas atividades e ações na área da saúde – plantão, avaliação socioeconômica, assistência material, entrevista, trabalho com grupos, visitas domiciliares e outras, o Serviço Social contribui para um maior acesso da população ao Sistema Único de Saúde. Talvez esse seja um ponto demonstrado inclusive pela facilidade de acesso do usuário ao assistente social dentro das unidades de saúde, observado no acolhimento, na escuta diferenciada, na www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 23 divulgação e informação dos programas coordenados e desenvolvidos pelos profissionais de Serviço Social. redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde; Considerando que, a partir da 8ª Conferência Nacional de Saúde, um novo conceito de saúde foi construído, ampliando a compreensão da relação saúde-doença, como decorrência das condições de vida e de trabalho; Considerando que a 10ª Conferência Nacional de Saúde reafirmou a necessidade de consolidar o Sistema Único de Saúde, com todos os seus princípios e objetivos; Considerando queas ações de saúde devem se dar na perspectiva interdisciplinar a fim de garantir a atenção a todas as necessidades da população usuária na mediação entre seus interesses e a prestação de serviços; Considerando que atribui-se ao assistente social, enquanto profissional de saúde, a intervenção junto aos fenômenos sócio-culturais e econômicos que reduzam a eficácia dos programas de prestação de serviços nos níveis de promoção, proteção e/ou recuperação da saúde; Considerando que o assistente social, em sua prática profissional contribui para o atendimento das demandas imediatas da população, além de facilitar o seu acesso às informações e ações educativas para que a saúde possa ser percebida como produto das condições gerais de vida e da dinâmica das relações sociais, econômicas e políticas do País; Considerando que, para a consolidação dos princípios e objetivos do Sistema Único de Saúde, é imprescindível a efetivação do Controle Social e o assistente social, com base no seu compromisso ético-político, tem focalizado suas atividades para uma ação técnico política que contribua para viabilizar a participação popular, a democratização das instituições, o fortalecimento dos Conselhos de Saúde e a ampliação dos direitos sociais; Considerando que o Conselho Nacional de Saúde, através da Resolução de nº 218 de 06 de março de 1997, reafirmou o assistente social, entre outras categorias de nível superior, como profissional de saúde; Considerando, ainda, que a antedita Resolução, em seu item II, delega aos Conselhos de Classe a caracterização como profissional de saúde, dentre outros, do assistente social; Considerando que o Serviço Social não é exclusivo da saúde, mas qualifica o profissional a atuar com competência nas diferentes dimensões da questão social no âmbito das políticas sociais, inclusive a saúde; Considerando a aprovação da presente Resolução pelo Plenário do www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 24 Conselho Federal de Serviço Social, em reunião ordinária realizada em 27 e 28 de março de 1999; Resolve: Art. 1º - Caracterizar o assistente social como profissional de saúde. Art. 2º - O assistente social atua no âmbito das políticas sociais e, nesta medida, não é um profissional exclusivamente da área da saúde, podendo estar inserido em outras áreas, dependendo do local onde atua e da natureza de suas funções. Outro aspecto que também pode ser observado no trabalho do assistente social dentro das unidades de saúde, embora esta não seja uma característica exclusiva deste profissional, é o desenvolvimento da capacidade de identificação das demandas no âmbito da saúde e de extrair destas demandas as reais necessidades sociais e de saúde, apontando a formulação e execução de políticas sociais, projetos e programas como um direito. Conforme já tratado, o movimento de contrareforma, que descontrói os direitos assegurados na legislação e reduz as políticas sociais no país, leva o Serviço Social a refletir e buscar novos caminhos para a conquista do direito universal e integral à saúde, do acesso e da qualidade do atendimento, orientado-se pelos princípios e diretrizes assinaladas. Ao imprimir uma postura investigativa no trabalho, o assistente social fortalece a atividade profissional, determinada e influenciada pela realidade social. Ao valorizar a atividade científica por meio da pesquisa, gera dados ligados às condições de vida da população, à reprodução das relações sociais e à implementação das políticas sociais. De acordo com Sarreta (2008), estes são procedimentos significativos no cotidiano, que se aperfeiçoam pela busca de conhecimento e de aprimoramento técnico-operativo e teórico-metodológico, com vistas ao fortalecimento do trabalho. São funções e respostas que a profissão vai desenvolvendo, em razão das necessidades apresentadas pela população, que acabam influenciando as demandas institucionais, bem como o papel da profissão na saúde, e que dá legitimidade para o projeto profissional, de busca da superação da situação atual. Sendo assim, o desempenho profissional, assim como os aportes teóricos, metodológicos e ideológico, está marcado pela busca de uma referência para subsidiar a análise da realidade, considerando a realidade brasileira e o contexto onde se gestam as políticas sociais no país, inclusive a saúde. Dessa forma, a www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 25 instrumentalidade construída pelo Serviço Social considera o movimento da realidade, dado através das condições para o desenvolvimento das capacidades profissionais. Para que o assistente social inserido na área da saúde consiga desenvolver seu trabalho voltado para a garantia de acesso aos usuários, bem como aliado a uma interação com os conhecimentos técnicos e teóricos dentro do espaço da saúde, tendo a política de saúde como seu instrumental de trabalho cotidiano, torna-se imprescindível o aprofundamento científico sobre os determinantes do trabalho profissional e dos instrumentos próprios da profissão. A busca pela autonomia no exercício profissional pode dimensionar o trabalho do assistente social no SUS, fazendo-o adotar atitudes no cotidiano para exercitar a prática contínua de documentação do trabalho, planejamento em equipe, visando ao desenvolvimento de ações e programas sempre voltados aos critérios de inclusão dos usuários no Sistema. Como diz Sarreta (2008, p. 38), a construção da práxis fundamentada a partir deste contato com a realidade social, suas contradições e possibilidades. Na dialética da práxis, o trabalho é influenciado pelo senso comum, com saber acrítico, imediatista, marcado pela falta de profundidade. É quando a ausência da revisão, com conteúdos teóricos em confronto com a prática, pode levar ao desprezo de instrumentos e técnicas apropriadas ao exercício profissional, produzindo um caráter assistencialista e empírico ao trabalho, distanciado-o dos critérios de cientificidade da ação profissional. Em tempo de desconstrução de direitos sociais, onde os relfexos da política neoliberal e sua sistemática de privatização dos serviços públicos vai aos poucos se aprofundando dentro das unidades de saúde pública no país, ao assistente social na área da saúde, aqui considerado como um profissional que tem o papel de trabalhar com os usuários o conhecimento e a consciência crítica de seus direitos como usuário da saúde pública, resta a busca incessante por um exercício profissional fundamentado na persectiva de direitos sociais coletivos, que envolvam uma dimensão política, ética e técnica, na busca de alternativas que contribuam com o processo de democratização dos serviços públicos de saúde. www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 26 Trabalhando direitos Como dito, a saúde recebeu todos os impactos resultantes da implementação de uma política de corte neoliberal, que passou a conceber a ideia de um Estado mínimo para os pobres e máximo para o capital, onde as políticas sociais públicas poderiam ser executadas por organizações sociais, visando a saída “de cena” do Estado com o comprometimento com o cidadão na garantia de direitos, em geral, e da saúde como direito social, em particular. Conforme apontado por Behring e Boschetti (2010), no âmbito das políticas sociais públicas, a saúde foi a política que mais diretamente recebeu os impactosde uma transformação que influenciou diretamente a execução de suas atividades e da chamada “privatização branca”, que passou a influenciar diretamente os serviços de saúde, não só com o gerenciamento de unidades, mas, também, com os procedimentos, serviços e mão de obra qualificada em saúde. As unidades de saúde passaram a contar com alguns serviços executados por empresas terceirizadas como, por exemplo, laboratórios de análise clínicas, exames de imagens e até mesmo procedimentos de média complexidade7 utilizados em investigação diagnóstica. No contexto da “privatização branca” um dos fatores que acabam influenciando diretamente a qualidade da prestação dos serviços de saúde se dá pela terceirização da mão de obra qualificada. Contratos de trabalho precários, que são utilizados pelas organizações de saúde para suprir os quadros de profissionais que na maioria das unidades de saúde pública no Brasil, encontram-se defasado, seja pela ausência de concursos públicos, seja pelo envelhecimento do quadro. Em muitas unidades de saúde do país, inúmeros profissionais chegam ao seu tempo de aposentadoria e não há realização de concursos públicos periódicos de forma a repor essa força de trabalho, antes da necessidade em alta escala. Ou seja, as unidades vão se esvaziando e a emergência em suprir as necessidades de reposição de profissionais que compõem as equipes de saúde torna-se o elemento www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 27 principal para contratações temporárias de médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e tantos outros profissionais de saúde. Essas contratações apresentam características negativas para a continuidade e efetividade dos serviços, pois geralmente os contratos apresentam tempo definido e pré-estabelecido, baixa remuneração, nenhuma cobertura previdenciária e sem as prerrogativas previstas pela CLT. Atualmente, no Rio de Janeiro, uma das organizações que mais representa o quadro da terceirização de profissionais de saúde é o IABAS9, que trabalha com a contratação de profissionais de todas as especialidades em saúde. A contratação precária faz com que a rotatividade de profissionais seja um dos pontos mais vulneráveis na prestação do serviço. Os profissionais acabam não tendo um vínculo adequado com o serviço e, consequentemente, com os usuários daquele serviço. Os contratos acabam se tornando uma renda extra para o profissional, ou uma saída emergencial até que ele consiga uma oportunidade melhor de trabalho. Outro ponto importante é a descontinuidade de projetos e programas, que, por falta de profissionais ou pela rotatividade dos profissionais, são extintos ou interrompidos por longos períodos, o que leva à dificuldade de adesão ao tratamento clínico indicado, por falta de identificação e até mesmo confiança dos usuários com o trabalho que está sendo desenvolvido. Essa falta de adesão gera outro complicador para as unidades de saúde, o deslocamento dos usuários no espaço programático de atendimento, gerando superlotação de algumas unidades que acabam dispondo de mais serviços e especialidades de saúde. Em se tratando do Serviço Social, as contratações de assistentes sociais seguem a mesma realidade. Os profissionais que têm como foco principal nas equipes multidisciplinares de saúde trabalhar a questão do direito social à saúde e a interlocução da saúde com as demais políticas sociais públicas, acabam tornando-se vulneráveis a esse mesmo sucateamento que atinge os usuários que ele diariamente atende. Através da abordagem realizada, é possível identificar como esse espaço sofre a influência direta da terceirização de serviços e de profissionais de saúde, e de como essa terceirização influencia diretamente o trabalho desenvolvido pelo assistente www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 28 social e, principalmente, como essa terceirização, em um hospital universitário que desenvolve pesquisa e extensão, afeta diretamente o usuário e, consequentemente, altera e atinge o princípio fundamental da saúde pública: acesso universal e igualitário aos usuários dos serviços. O SERVIÇO SOCIAL NA POLITICA DE SAÚDE BRASILEIRA No Brasil, assim como em outros países da América Latina, o Serviço Social teve a sua gênese vinculada a caridade e a filantropia praticadas pela Igreja Católica, por meio da influência do Serviço Social Europeu e Norte Americano. Segundo Silva e Silva (2007), a vinculação do Serviço Social com a Igreja Católica, se deu através de uma série de exigências societárias que requisitavam para ordem e manutenção do capital o desenvolvimento de uma política de assistência vinculada às organizações representativas do proletariado, por intermédio da moral cristã da Igreja Católica. Assim sendo, o Serviço Social é uma profissão que surgiu na sociedade para atender as necessidades societárias expressas pela ordem do capital. Isto é, se inseriu no processo das relações sociais, como auxiliar e subsidiária no controle da sociedade e na difusão da ideologia dominante entre a classe trabalhadora, intervindo na sociedade por meio de serviços sociais que criavam as condições favoráveis a reprodução da força de trabalho (Silva e Silva, 2007). Nesse sentido, Netto (2011) comenta que o Serviço Social tem suas conexões genéticas no bojo do capitalismo monopolista quando a relação capital x trabalhado intensificou suas contradições e aguçou a questão social. Para o citado autor, o capitalismo monopolista recolocou em patamar mais alto o sistema totalizante das contradições que confere à ordem burguesa os seus traços basilares de exploração, alienação e transitoriedade histórica. www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 29 Destarte, Bravo e Matos (2006) pontuam que o surgimento e desenvolvimento do Serviço Social no período de 1930 a 1960 e a ação profissional na área da saúde datam algumas significativas evidências. Segundo os autores a conjuntura de 1930 e 1945 caracteriza o surgimento da profissão no Brasil e devido às exigências e necessidades no panorama internacional, em função do término da Segunda Guerra Mundial, a ação profissional na saúde também se amplia. Assim, além das condições gerais que determinaram a ampliação profissional nesta conjuntura, o “novo” conceito de Saúde, elaborado em 1948, enfocando os aspectos biopsicossociais, determinou a requisição de outros profissionais para atuar no setor, entre eles o assistente social. Este conceito surge de organismos internacionais, vinculado ao agravamento das condições de saúde da população, principalmente dos países periféricos, e teve diversos desdobramentos. Um deles foi a ênfase no trabalho em equipe multidisciplinar – solução racionalizadora encontrada – que permitiu: suprir a falta de profissionais com a utilização de pessoal auxiliar em diversos níveis; ampliar a abordagem em Saúde, introduzindo conteúdos preventivistas e educativos; e criar programas prioritários com segmentos da população, dada a inviabilidade de universalizar a atenção médica e social. (BRAVO, MATOS, 2006, p. 28-29). Portanto, o trabalho do/a Assistente Social na saúde foi marcado pelo desenvolvimento de uma prática educativa voltada para higiene social, além de lidar com a contradição entre a demanda e o seu caráter excludente e seletivo. Nesse momento,pois, os/as Assistentes Sociais atuavam em hospitais com a função de colocar-se entre a instituição e a população a fim de viabilizar o acesso dos usuários aos serviços e benefícios, de modo que suas ações eram: plantão, triagem ou seleção, encaminhamento, concessão de benefícios e orientação previdenciária. De acordo com Lessa (2011, p. 80-81), na divisão social e técnica do trabalho em saúde, o Serviço Social emerge como uma profissão paramédica, isto é, subsidiária à ação médica num contexto de ascensão do saber clinico e do hospital contemporâneo. Período, portanto, “em que o hospital se volta definitivamente para a cura, integrando o saber médico, que passa a valorizar o meio como elemento fundamental da terapêutica”. www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 30 No Serviço Social norte-americano foi preponderante esta característica, pois, a função do assistente social era, assim, auxiliar o médico e suas atribuições, determinadas por este profissional. Durante esse período, a influência do serviço social norte-americano foi preponderante, sendo a sua função balizada pelos da American Association of Social Work, por sua vez articulada à American Hospital Association ( BEROZOVSKY, 1977, p.5 APUD LESSA, 2011, p.81) No Brasil, o grande salto da inserção do/a Assistente Social na área da saúde ocorreu na década de 1960 quando houve a unificação dos institutos de pensão (IAP), com a criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Nesse momento , segundo Lessa (2011), se verificou o aumento dos postos de trabalho no complexo médico assistencial previdenciário, que passou a ser o maior empregador na área da saúde. Nos anos de 1960 alguns/ algumas Assistentes Sociais começaram a questionar o bloco hegemônico conservador que impulsionava o conservadorismo profissional. Este fato não ocorreu de forma isolada, mas com o respaldo das questões levantadas pelas ciências sociais e humanas na época. Desta forma, Bravo e Matos (2006) elucidam que a modernização conservadora implantada no país na década de 1960 exigiu a renovação do Serviço Social, face às estratégias de controle e repressão da classe trabalhadora efetivadas pelo Estado e pelo grande capital, bem como para o atendimento das novas demandas submetidas à racionalidade burocrática. Logo, nesse momento, o Serviço Social na saúde vai receber as influências da modernização que se operou no âmbito das políticas sociais, sedimentando sua ação na prática curativa, principalmente na assistência médica previdenciária-maior empregador dos profissionais. Foram enfatizadas técnicas de intervenção, a burocratização das atividades, a psicologização das relações sociais e a concessão de benefícios. (BRAVO; MATOS, 2006, p.31) Segundo Netto (2011), nesse período o trabalho profissional do/a Assistente Social foi orientado pela vertente modernizadora, de modo a trazer grandes impasses teóricometodológicos, ético-políticos e técnico-operativos para a produção do conhecimento, para a prática profissional e para a ação política da profissão, à medida www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 31 que essa vertente não possibilitava que o/a (s) profissionais rompessem com o conservadorismo profissional. Para Lessa (2011, p. 82), o serviço social se ampliou quantitativamente como profissão da saúde, portanto, dentro do núcleo de execução do modelo assistencial médico, curativo e hospitalocêntico da previdência social, que reproduzia a lógico burocrático-centralizada das políticas públicas à época. O profissional se posicionava majoritariamente, nesse contexto, como um ‘executor terminal’ de programas e projetos subsidiários da atenção individual-curativa, definidos pelas instâncias das instituições previdenciárias. Segundo a autora acima referida, a partir dos anos de 1970 e início dos anos de 1980 ocorreram profundas modificações no cenário político-sanitário brasileiro, com o processo de democratização política do país, a crise fiscal do Estado, a falência do modelo de atenção à saúde anterior (medico-privatista) e a ascensão de novos atores sociais no cenário político nacional. Bravo e Matos (2006) ressaltam que a década de 1980 foi um período de grande mobilização política, como também de aprofundamento da crise econômica que se evidenciou na ditadura militar. Assim, Lessa (2011) elucida que as modificações operadas entre as décadas de 1970 e 1980 no cenário brasileiro gerou as condições propicias para emergência do Movimento de Reforma Sanitária, o qual propunha mudanças no conceito de saúde ( determinantes sociais, históricos e econômicos), na forma de organização dos serviços (universalidade, equidade e descentralização) e no fazer ético-político dos profissionais, buscando redesenhar o processo de participação social nas decisões sobre o sistema de saúde. Nessa mesma direção, Soares (2014) comenta que com a crise do regime ditatorial e a mobilização dos trabalhadores da saúde, junto com demais organizações dos movimentos popular e sindical, em torno de um projeto de reforma sanitária, foi possível incorporar na Constituição Federal de 1988 um novo projeto de saúde pública universal e democrático, ou seja, o Sistema Único de Saúde (SUS). Sistema este que foi deflagrado na Constituição Federal de 1988, materializando-se através da Lei Orgânica da Saúde de 1990, a qual é constituída pelas leis 8080/90 e 1.142/90. A lei 8080/90 dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 32 saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. A lei 1.142/90 dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde. Entretanto, é evidente que esta conquista não foi fácil, visto que, durante o processo que levou a ela, foi visível a polarização da discussão da saúde em dois blocos antagônicos: um formado pela Federação Brasileira de Hospitais (FBH) e pela Associação das Indústrias Farmacêuticas (internacionais), que defendia a privatização dos serviços de saúde, e outro denominado Plenária Nacional de Saúde, que defendia os ideais da Reforma Sanitária, que podem ser resumidos como : a democratização do acesso, a universalidade das ações e a descentralização com o controle social. A premissa básica é a compreensão de que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. (BRAVO, MATOS, 2006, p.33) Desta feita, observa-se que a criação do SUS foi uma conquista em meio à batalha entre dois projetos antagônicos que disputavam o mesmo espaço, além de possibilitar o processo de ampliação dos postos de trabalho para o/a(s) Assistentes Sociais e criar mecanismos para uma atuação profissional crítica, pautada em valores humanitários como a equidade, justiça social e igualdade. Destarte, Lessa (2011) explica que as interrrelações pessoais que são estabelecidas no campo da saúde pública mediatizam um processo político que, em geral, leva à suspensão da condição de cidadão dos chamados “pacientes”, e por esse motivo eles precisam ser objeto de reflexão do Serviço Social. Segundo a autora acima citada, prudente seria relativizar certas categorizações sobre o trabalho do Serviço Social uma vez que a humanização das relações interpessoais, assim como a circulaçãode conhecimentos sobre direitos previdenciários e trabalhistas, ajuda supletiva e de cidadania que marcam a vertente tradicional da profissão no campo da saúde, podem assumir dimensões políticas, onde o respeito à condição de sujeito dos usuários dos serviços públicos de saúde é o foco. Assim, é importante pontuarmos que as possibilidades criadas pela instauração do SUS para uma prática crítica do Serviço Social também advém da maturidade alcançada pela profissão no início dos anos de 1990 com a elaboração do seu projeto ético- político e do seu Código de Ética de 1993, ao passo que este tem o www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 33 reconhecimento da liberdade como seu valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes- autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais, conforme Barroco, Terra e CFESS (2012). No entanto, [...] a contrarreforma interrompeu o início da implementação do SUS conforme seu marco legal original, posto na Constituição de 1988 e nas leis 8080/90 e 1.142/90. De forma mais sistemática a partir do Governo Fernando Henrique Cardoso- FHC e, posteriormente, qualitativamente superior no Governo Lula e com a continuidade no de Dilma Rousseff, a contrarreforma vem sendo estruturada. (SOARES, 2014, p.2014) Lessa ( 2011) expõe que durante toda a década de 1990 viveu-se sob forte tensão de projetos distintos para a saúde: de uma lado, o projeto que emergiu do Movimento de Reforma Sanitária, o qual propugna a construção de uma modelo de atenção público, universal e equânime -o SUS-, e do outro, o projeto de mercantilização da saúde, que devido a tensão do capital em tratar a saúde como uma mercadoria faz com que a política de saúde assuma nuances variadas e complexas. Soares (2014) elucida que na entrada dos anos 2000 alguns elementos podem ser destacados , tais como o alto índice de aprovação do governo Lula, o que lhe conferiu grande margem de ação e legitimidade social, intenso movimento de transformismo das lideranças dos trabalhadores que passaram a defender projetos alinhados ao neoliberalismo e aos interesses econômicos do grande capital nacional e internacional, continuidade da política econômica conservadora, centralidade da política de assistência- principalmente de transferência de renda- e políticas sociais com enfoque assistencial, precarizado e fragmentado. No governo Lula se corporificou um novo projeto que se relacionou umbilicalmente ao projeto privatista: o projeto SUS possível, defendido pelas antigas lideranças do Movimento de Reforma Sanitária, flexibilizando os princípios político- emancipatórios que orientam sua racionalidade, em nome da modernização e aperfeiçoamento do SUS. Assim, para Soares (2014, p. 208), essas atuais configurações têm impacto nas práticas sociais da saúde pública, incluindo as do assistente social, seja porque inserem novos elementos e instrumentos de gestão no espaço das unidades de www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 34 saúde, ou porque reiteram velhas práticas não superadas e reprodutoras do modelo de atenção à saúde prioritariamente assistencial, curativo e individualista. Nesse sentido Lessa ( 2011) ressalta que as transformações nas últimas décadas têm levado a significativas mudanças na prática do/a (s) Assistentes Sociais na área da saúde, fazendo-os assumir novas posturas. Ou seja, Hoje, vive-se um momento em que novas e velhas posturas e práticas dos profissionais convivem cotidianamente. Muitas das atividades do serviço social passaram a ter novas funções dentro do sistema ( refuncionalização das tradicionais práticas do serviço social), colaborando para implementação do SUS. Outras ações tradicionais permanecem reforçando elementos do modelo anterior que ainda não foi superado, como a lógica hospitalocêntrica. (LESSA, 2011, p. 88) Logo, o trabalho do/a Assistente Social nos dias atuais tem sido marcado por constantes desafios, limites e algumas possibilidades para o exercício de uma prática crítica, ao passo que ao mesmo tempo que há uma ampliação dos espaços sócio ocupacionais e uma mudança significativa na concepção de saúde, a terceirização, privatização e as parcerias público-privadas tem tornado a saúde uma mercadoria de modo que flexibiliza os vínculos empregatícios e assim diminui a autonomia profissional das profissões. A PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA ÀREA DE SAÚDE A prática do Serviço Social na saúde configura-se a partir de determinações históricas postas pelo processo de desenvolvimento da política de saúde no país, subordinando-se, sobretudo, à formação socioeconômica brasileira e, por conseguinte, a natureza e a forma de organização da sociedade e dos serviços sociais. Nessa perspectiva, o formato e a qualidade assumida pelas ações dos Assistentes Sociais são dados, sobremaneira, pelas condições objetivas postas no campo institucional da saúde, no qual os profissionais estão inseridos. Diante dessa relação de determinação não somente da prática institucional, mas, principalmente, da política de saúde, que, por sua vez, direciona as condições de funcionamento da www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 35 instituição, o assistente social desenvolve a sua prática dentro de uma série de limitações e dificuldades procurando compreender as correlações de forças existentes no contexto institucional, e a partir daí traçar estratégias mediadoras de intervenção norteadas no projeto ético-político profissional. Desse modo, na contemporaneidade a prática profissional do Assistente Social se depara com crescentes desafios e dificuldades em decorrência do descompromisso dos gestores no tocante a efetivação dos direitos assegurados pela Constituição Federal de 1988, mas não efetivados na íntegra. Enquanto reflexo desse cenário, a política de saúde vem sendo penalizada devido aos precários investimentos para a sua operacionalização, situação a qual recai diretamente na saúde da população que passa a padecer solicitando serviços que deveriam ser fornecidos. Toda essa situação rebate na prática desenvolvida pelos profissionais de Serviço Social que, diante de todas essas dificuldades postas e impostas pela política de saúde, têm o desafio de criar estratégias de intervenção capazes de atender as necessidades apresentadas pela população usuária, ao mesmo tempo em que identifica as dificuldades existentes. www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 36 Acrescente em seu estudo: Debate: O processo de trabalho do/a assistente social na Saúde Assista ao vídeo através do link: https://www.youtube.com/watch?v=DYm91rm4muw www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE 37 REFERENCIAL BEHRING, E. R.; BOSCHETI, I. Política Social: fundamentos e história. 4. Ed. São Paulo: Cortez, 2008. Biblioteca Básica de Serviço Social, v.2. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>
Compartilhar