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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Caroline Jioucoski ANÁLISE DE PERDAS EM SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA NO BRASIL Santa Maria, RS 2017 Caroline Jioucoski ANÁLISE DE PERDAS EM SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA NO BRASIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do título de Engenheira Civil. Orientador: Elvis Carissimi Santa Maria, RS 2017 Caroline Jioucoski ANÁLISE DE PERDAS EM SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA NO BRASIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do título de Engenheira Civil. Aprovado em 11 de julho de 2017: ____________________________________ Elvis Carissimi, Dr. (UFSM) (Presidente/Orientador) ___________________________________ Lidiane Bittencourt Borroso, Profa. Ma. (UFSM) ___________________________________ Débora Missio Bayer, Profa. Dra. (UFSM) Santa Maria, RS 2017 RESUMO ANÁLISE DE PERDAS EM SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA NO BRASIL AUTORA: Caroline Jioucoski ORIENTADOR: Elvis Carissimi O Brasil é um país com abundância de água, contendo grande parte da água doce de todo planeta, e conta com um vasto território, de modo que toda esta água não se encontra distribuída igualmente. Além disso, a eficiência do sistema de distribuição, mesmo em regiões favorecidas hidricamente, apresenta falhas devido a perdas na rede. Estas perdas têm causa principalmente em falhas na execução de tubulações, falta de manutenção nas redes ou desvios de tubulações ilegais. Estas perdas acarretam consequências tanto financeiramente, quanto ambientalmente, uma vez que a água tratada é desperdiçada. Após análise da situação do país conforme dados divulgados publicamente, fornecidos pelas próprias operadoras dos sistemas de abastecimento de água, pode-se concluir que o Brasil apresenta um cenário problemático em relação ao setor de perdas de água, com a média nacional atual no montante de 36,7%. A nível mundial, percebe- se que os países com menor índices de perdas são obrigados a dar importância para este setor, por exemplo, a Austrália, que sofre com a escassez de reservas de água naturais, ou o Japão, constantemente assolado por terremotos, que impactam diretamente nos vazamentos de tubulações. Assim, nota-se que o Brasil, por apresentar grandes reservas naturais, acaba influenciando a conscientização por parte da população, operadoras e governantes, dando a sensação errônea de que a água é um bem infinito. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar as perdas de no sistema de abastecimento de água para consumo humano nas distintas regiões do Brasil. A metodologia de avaliação foi através de dados divulgados publicamente, fornecidos pelas próprias operadoras dos sistemas de abastecimento de água. Ao analisar os índices de perda de distribuição separados por região, destacam-se negativamente as regiões Norte e Nordeste. No entanto, quando analisadas as perdas financeiras acarretadas por estas perdas, a região Sudeste, mesmo com menor índice de perdas de distribuição, aparece como região de maior perda monetária, enquanto as regiões Centro-oeste e Norte, apareceram com os menores valores de perdas financeiras. Verificou-se a forte relação entre os valores de perda financeira, com os valores de perda de água não faturada, e ao montante da população. Enquanto a região Norte, com situação alarmante de perdas de água, uma vez que se perde mais da metade da água tratada, segue com valor baixo de perda financeira, possuindo menor população, e, portanto, menor perda de água não faturada. Porém, apesar da indicação de que o país não vai bem no setor de perdas de água, segundo a meta nacional estabelecida para o ano de 2033, aliado à análise dos dados dos últimos treze anos, que mostra redução no índice nacional de perdas, pode-se encarar com otimismo a área de controle de perdas. Verificou-se que muitos entraves ainda incapacitam a melhoria no controle de perdas de água por parte das operadoras, como o alto investimento inicial necessário, problemas de gestão interna e falta de continuidade de programas iniciados. Apesar de todos os problemas verificados com esta análise, espera-se que este trabalho, expondo a situação atual do país, sirva como alerta e incentivo à maiores investimentos e cuidados no setor de perdas de água no Brasil. Palavras-chave: Sistema de abastecimento de água. Perdas de distribuição. Controle de perdas de água. ABSTRACT ANALYSIS OF LOSSES IN WATER DISTRIBUTION SYSTEMS OF BRAZIL AUTHOR: Caroline Jioucoski ADVISOR: Elvis Carissimi Brazil is a country with a large amount of water, containing a significant part of the potable water of the planet, and also, the country owns a large territory, and because of that, the distribution of water is not equal. Besides, the efficiency of distribution system, even in hydrically rich areas, present failure due to losses. These losses in piping can be caused by execution problems, lack of maintenance or illegal connections. These losses generate consequences financially and environmentally, once that the treated water is wasted. After an analysis of the situation of the country, based on public information, provided by the companies responsible for treatment and distribution of water, is possible to conclude that the scenario is problematic in relation with the sector of water losses, with national index of 36,7%. In analysis global, is noticed that countries with lower index of water losses are obligated to give this importance to the sector, for example, Australia, that suffers with lack of water, or Japan, that suffers with several earthquakes, that impacts directly on leakage in piping. This way, is noticed that Brazil, once that present big natural reserves of water, does not give the real importance to the sector of water losses, thinking wrongly that water is infinite. Thus, the main point of this study was to evaluate losses in water supply system to human consumption in different regions of Brazil. The methodology of evaluation was by public data, provided by the companies responsible for the water supply system. Analyzing the index of water losses individually by regions, negatively highlights the region of North and Northeast. However, when analyzed financial losses caused by water losses, the Southeast region, even with the lower losses index, showed up as the region with bigger financial loss, while regions Midwest and North showed up with the lower values of financial loss. Was verified a strong relation between values of financial loss, not-billed water and size of population. While region North, with alarming situation of water losses, once that more than half of the treated water is lost, presents the lower value of financial loss, with the smaller size of population and smaller value of water non-billed. Nevertheless,besides the indication that Brazil is not good in the sector of water losses, according to the national goal stablished to the year of 2033, allied to the analysis of data of the last thirteen years, that shows reduction in the national water losses index, it can be faced with optimism the area of control of losses. Was verified that a lot of obstacles still disable the improvement of water losses control by the operators, as the high initial investment, internal management problems and lack of continuity of programs initiated. Although all the problems verified in this analysis, is expected that this study, exhibiting the actual situation of the country, serves as alert and incentive to bigger investments and cares to the sector of water losses in Brazil. Keywords: Water distribution system. Losses in distribution. Water losses control. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Unidades constituintes de um sistema de abastecimento. ........................................ 12 Figura 2 - Representação gráfica para determinação do nível econômico de vazamento. ....... 18 Figura 3 - Representação espacial do índice de perdas na distribuição.................................... 20 Figura 4 - Evolução histórica da indicação de perdas na distribuição (%)............................... 22 Figura 5 - Panorama mundial de perdas de água tratada. ......................................................... 23 Figura 6 - Distribuição populacional por regiões. .................................................................... 24 Figura 7 - Índice de perdas no faturamento em 2010. .............................................................. 25 Figura 8 - Índice de perdas no faturamento em 2013. .............................................................. 26 Figura 9 - Índice de perdas na distribuição por região. ............................................................ 27 Figura 10 - Perdas sobre o faturamento para empresas estaduais (%). .................................... 29 Figura 11 - Perdas sobre o faturamento para empresas municipais. ........................................ 30 Figura 12 - Perda financeira anual de cada região brasileira. ................................................... 31 Figura 13 - Diagrama de gerenciamento de perdas reais.......................................................... 35 Figura 14 - Diagrama de gerenciamento de perdas aparentes. ................................................. 36 Figura 15 - Controle e redução de perdas. ................................................................................ 37 Figura 16 - Crescimento natural das perdas e os desafios para o combate. ............................. 38 Figura 17 - Ciclo vicioso: gestão das operadoras de saneamento ............................................ 41 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Esquema explicativo de perdas e consumo. ............................................................ 13 Tabela 2 - Principais características das perdas reais e aparentes. ........................................... 15 Tabela 3 - Perdas físicas por subsistema – origem e magnitude. ............................................. 16 Tabela 4 - Índices básicos do serviço de abastecimento de água. ............................................ 27 Tabela 5 - Perdas financeiras de regiões brasileiras. ................................................................ 30 Tabela 6 - Metas do Plano Nacional de Saneamento Básico. .................................................. 33 Tabela 7 - Benefícios da redução das perdas. ........................................................................... 40 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 9 2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 10 2.1. OBJETIVOS GERAIS ............................................................................................... 10 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 10 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................... 11 3.1. SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA ....................................................... 11 3.2. PERDAS ..................................................................................................................... 12 3.2.1. Consumo Autorizado e Faturado ............................................................................ 13 3.2.2. Consumo Autorizado não Faturado ....................................................................... 14 3.2.3. Perda Física ............................................................................................................... 14 3.2.4. Perda Aparente ......................................................................................................... 14 3.2.5. Perdas no sistema de abastecimento e distribuição de água ................................ 15 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 20 4.1. PANORAMA DE PERDAS DE ÁGUA NO BRASIL.............................................. 20 4.1.1. Visão Geral ................................................................................................................ 20 4.1.2. Panorama mundial de perdas de água ................................................................... 22 4.1.3. Resultado por região ................................................................................................ 24 4.1.3.1. Perdas no faturamento ............................................................................................... 25 4.1.3.2. Perdas na distribuição ............................................................................................... 26 4.1.4. Comparativo de perdas entre operadoras.............................................................. 28 4.1.4.1. Empresas estaduais .................................................................................................... 28 4.1.4.2. Empresas municipais .................................................................................................. 29 4.2. PERDAS FINANCEIRAS DECORRENTES DAS PERDAS .................................. 30 4.2.1. Metas do Plano Nacional de Saneamento Básico .................................................. 32 4.3. CONTROLE DE PERDAS ........................................................................................ 33 4.3.1. Crescimento Natural das Perdas............................................................................. 37 4.3.2. Custos envolvidos na redução de perdas de água .................................................. 38 4.3.3. Benefícios envolvidos na redução de perdas de água ............................................ 39 4.3.4. Impasses para Redução de Perdas .......................................................................... 40 5 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 45 1 INTRODUÇÃO É de comum conhecimento que o Brasil é um país com abundância de água, contendo uma grande parcela da água doce de todo planeta. O país também conta com um vasto território, de modo que toda esta água não se encontra distribuída igualmente. Além disso, a eficiência do sistema de distribuição, mesmo em regiões favorecidas hidricamente, apresenta falhas. As falhas do sistema de distribuição são devido a perdas na redeque tem causa principalmente em falhas na execução de tubulações, permitindo vazamentos por má vedação; falta de manutenção nas redes, favorecendo ocorrência de fissuras ou quebras de tubulações; desvios de tubulações feitos ilegalmente, de modo que não se tem controle sobre a água desviada. Isto é, nem toda a água que sai da estação de tratamento de água chega ao consumidor final, e esta diferença é quantificada como perda. Estas perdas acarretam consequências tanto financeiramente, quanto ambientalmente, uma vez que a água tratada é desperdiçada. Assim, o objetivo principal deste trabalho de conclusão de curso foi avaliar a situação do país quanto ao índice de perdas de água nacional. A metodologia de levantamento de informações foi através de dados divulgados publicamente, fornecidos pelas próprias operadoras dos sistemas de abastecimento de água. 2 OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL O objetivo geral deste trabalho de conclusão de curso consistiu em apresentar um panorama de perdas em sistemas de abastecimento de água no Brasil, separados por região, comparando-as entre elas. Além disso, foi feita uma comparação dos dados de perda com os gastos financeiros que estas acarretam. Ainda, foi analisada diretrizes a serem seguidas e medidas a serem tomadas descritos na literatura, verificando a possibilidade de adoção destas por parte de operadoras de todo o país, buscando melhorias de todo o sistema de abastecimento de água. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Os objetivos específicos foram: Abordar os conceitos básicos que envolvem as perdas no sistema de abastecimento de água; Fazer um panorama de perdas de água no Brasil, e, separadamente em cada região do país; Apresentar impacto financeiro gerado pelas perdas de água no sistema; Apresentar relação entre o que é financeiramente perdido e o que é investido no sistema de abastecimento de cada região; Identificar soluções alternativas para redução de perdas. 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1. SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA Um sistema de abastecimento de água, segundo a SABESP (2016), tem como objetivo tratar e distribuir a água e é composto por cinco etapas, denominadas captação, adução, tratamento, reservação, e por fim, a rede de distribuição e ligações residenciais. A captação consiste em um conjunto de estruturas concebidas junto ao manancial com o objetivo de retirar a água destinada ao sistema de abastecimento. A captação pode ser superficial ou subterrânea, em alguns casos pode ocorrer de forma simultânea. A adução é uma canalização destinada a transportar a água do manancial até a Estação de Tratamento de Água (ETA) e posteriormente da ETA aos reservatórios de distribuição. Essa etapa pode ocorrer através de bombeamento ou por gravidade. O tratamento é formado por um conjunto de unidades com objetivo de realizar o tratamento da água captada. Estes processos ocorrem dentro da ETA, onde a água captada é submetida a processos físicos e químicos a fim de adequar as suas características aos padrões de potabilidade. Após, tem-se a reservação, estágio de armazenamento de água, já em condições de consumo apropriado, em reservatórios. A reservação é um importante processo de uma ETA, pois caso as operações posteriores tenham que ser interrompidas, em caso de manutenção, por exemplo, é possível manter regularidade no abastecimento. Por fim, a rede distribuição e as ligações residenciais também são parte do sistema. Estas são constituídas de tubulações destinadas ao fornecimento de água potável. O fornecimento deve garantir quantidade, de modo a não haver faltas de água na residência dos consumidores; qualidade, de modo que a água que chega ao consumidor final atenda os parâmetros de potabilidade, sendo insípida, incolor e inodora; e pressão, de modo que ao chegar ao consumidor, a água não esteja em pressão elevada ou reduzida demais, o que poderia causar estragos de equipamentos conectados à rede. As etapas descritas que constituem um sistema de abastecimento de água estão representadas na Figura 1. Figura 1 - Unidades constituintes de um sistema de abastecimento. Fonte: SABESP (2003). 3.2. PERDAS Segundo Coelho (1996), perda é a quantidade de água existente em qualquer parte do sistema de abastecimento que não está contabilizada e faturada pela concessionária, ou que chega ao consumidor final ilegalmente. Tardelli Filho (2006) cita que as perdas podem ocorrer em diversas fases do sistema de abastecimento de água, como na captação e adução de água bruta, no tratamento, na adução e reservação de água tratada ou na distribuição. Segundo a ABES (2013), as perdas são causadas principalmente por erros de medições e consumos não autorizados, que ocorrem na última etapa do processo, a distribuição. Além de gerar impacto ambiental, as perdas na distribuição de água atingem diretamente a população, pois os custos das companhias de saneamento são repassados diretamente ao consumidor final. Segundo a Go Associados (2015), a International Water Association (IWA), com o objetivo de uniformizar a estruturação básica a nível mundial para o Balanço Hídrico, propôs uma matriz, com esquematização de processos pelos quais a água passa num sistema de distribuição. A Tabela 1 mostra o esquema da relação entre consumo e perdas. Tabela 1 - Esquema explicativo de perdas e consumo. Fonte: Viegas et al (2006) apud IWA (2000). 3.2.1. Consumo Autorizado e Faturado Consumo autorizado, como o nome diz, é o consumo de água proveniente da utilização por partes que possuem autorização da operadora do sistema de abastecimento de água para, como residências, estabelecimentos comerciais, etc. Consumo autorizado faturado, portanto, é o consumo autorizado que é contabilizado no faturamento da operadora. O consumo autorizado e faturado se divide em medido e não medido (ou estimado). O consumo faturado medido é equivalente ao volume de água registrado nos hidrômetros. Enquanto o consumo faturado não medido corresponde ao volume contabilizado através de consumos médios históricos. Em casos onde não existe hidrômetros ou o funcionamento do mesmo não ocorre de forma adequada, considera-se o volume mínimo de faturamento. Desta forma, também entra na contabilização de perdas esta diferença do que foi verdadeiramente consumido, e o volume a ser considerado, no caso, o mínimo. Uso não autorizado Água não faturada Perdas aparentes Perdas reais (físicas) Perdas de água Água que entra no sistema de distribuição Erros de medição (macro e micromedições) Vazamentos e extravasamentos nos reservatórios Vazamentos nas adutoras e/ou redes Vazamentos nos ramais até o ponto de medição do cliente Consumo não faturado não medido Água faturada Consumo autorizado e faturado Consumo autorizado e não faturado Consumo autorizado Consumo faturado não medido (estimado) Consumo faturado medido Consumo não faturado medido (uso próprio, caminhão pipa) 3.2.2. Consumo Autorizado não Faturado O consumo autorizado não faturado é o volume de água que sai com autorização da operadora, porém que não é contabilizado em seu faturamento. Isto é, há autorização para que a água seja consumida, porém, não é faturado o valor do montante consumido. O consumo autorizado e não faturado pode ser medido, sendo igual ao volume de água de utilização da própria operadora para atividades operacionais especiais. Ou, não medido, que se refere ao volume destinado a usos de caráter social, como as atividades docorpo de bombeiros. 3.2.3. Perdas Reais ou Físicas Tardelli Filho (2006) denomina perdas físicas como correspondentes ao volume de água produzido que não chega ao consumidor final. Isto é, decorrem de vazamentos que podem ocorrer em qualquer uma das etapas do sistema de abastecimento, nas adutoras, rede de distribuição ou reservatórios. Além disso, também são contabilizadas como perdas físicas, as descargas (acima do volume necessário) feitas para limpeza da rede de distribuição ou esvaziamento de redes e adutoras. A International Water Association também determina a nomenclatura de perdas reais. 3.2.4. Perda Aparente A perda aparente, também denominada de perda não física, segundo Tardelli Filho (2006), está relacionada ao volume de água que é consumido e não faturado pela operadora de saneamento. As principais causas deste tipo de perda são por fraudes nos hidrômetros, erros de micro ou macromedição, consumos clandestinos ou erro no cadastro comercial. Do ponto de vista operacional, segundo Viegas (2002), tanto as perdas reais quanto aparentes são consideras correspondentes aos volumes de água que não são contabilizados, que correspondem à água não autorizada, isto é, consumida e não registrada. A Tabela 2 representa as características principais de perdas reais e perdas aparentes. Tabela 2 - Principais características das perdas reais e aparentes. Fonte: ABES (2013). 3.2.5. Perdas no sistema de abastecimento e distribuição de água Para maior facilidade no diagnóstico de perdas em sistemas de abastecimento e distribuição de água, há uma divisão em subsistemas de acordo com a etapa em que se encontram: adução de água bruta, tratamento, reservação, adução de água tratada ou distribuição. Dentro de cada uma dessas divisões, é possível a implantação de uma rotina de ações preventivas e corretivas, que possibilitem manter o sistema eficiente. As perdas de água podem ser variáveis em magnitude, desde a grandes vazamentos, até imperceptíveis. Elas acontecem de acordo com as condições das instalações, com as práticas de operações e de acordo com a ocorrência e periodicidade de manutenção na rede. Entre as etapas do sistema de abastecimento de água, é na etapa de distribuição da água que se encontra a maior parcela de perda, assim como mostra a Tabela 3. Perdas Reais Perdas Aparentes Tipo de ocorrência mais comum Vazamento Erro de Medição Custos associados aos volumes de água perdidos Custo de produção Tarifa Efeitos no Meio Ambiente Desperdício de Recurso Hídrico - Necessidade de ampliações de mananciais Efeitos na Saúde Pública Risco de contaminação - Empresarial Perda do produto Perda de receita Consumidor Imagem negativa (ineficiência e desperdício) - Efeitos no Consumidor Repasse para tarifa Repasse para tarifa Desincentivo ao uso racional Incitamento a roubos e fraudes Características Principais Itens Tabela 3 - Perdas físicas por subsistema – origem e magnitude. Fonte: Werdine (2002). 3.2.5.1. Perdas na rede de distribuição Segundo a Go Associados (2013), o índice de perdas na distribuição é a diferença entre o volume produzido de água e o volume consumido. Excluindo as perdas decorrentes de descargas para melhoria da qualidade da água e/ou esvaziamento da tubulação para reparos, as perdas na distribuição estão diretamente ligadas às condições de conservação das tubulações e à pressão nelas atuantes. Alegre et al (2005) citam que as causas são diversas, por exemplo, vazamentos aparentes e subterrâneos, mão-de-obra não-qualificada para a execução dos serviços, alta pressão nas tubulações (acaba rompendo e provocando vazamentos), falha na especificação e controle de qualidade dos materiais utilizados, falta de setorização na rede de modo a facilitar o controle, efeito do tráfego e intermitência no abastecimento. Segundo Tardelli Filho (2006), existem três tipos de vazamentos na rede de distribuição de água, os vazamentos não visíveis e não detectáveis (inerentes), que não afloram à superfície do terreno e não são passíveis de serem identificados por equipamentos simples de detecção acústica; possuem baixas vazões e longa duração. Os vazamentos não visíveis e detectáveis, que não afloram a superfície, porém são passíveis de identificação pelos equipamentos atuais de detecção acústica; a duração e respectivo volume de água perdido estão diretamente Subsistema Origem Magnitude Vazamento nas tubulações Limpeza do poço de sucção Vazamentos estruturais Lavagem de filtros Descarga de lodo Vazamentos estruturais Extravasamentos Limpeza Vazamentos nas tubulações Limpeza do poço de sucção Descargas Vazamentos na rede Vazamentos em ramais Descargas Variável, função do estado das tubulações e da eficiência operacional Significativa, função do estado das instalações e da eficiência operacional Variável, função do estado das instalações e da eficiência operacional Variável, função do estado das tubulações e da eficiência operacional Significativa, função do estado das tubulações e principalmente das pressões Reservação Tratamento Adução de água bruta Adução de água tratada Distribuição associados ao intervalo entre duas varreduras de pesquisa de vazamentos. E os vazamentos visíveis, com vazões altas e aflorantes à superfície do terreno, vistos e comunicados pela população à operadora de saneamento para reparo. Segundo Tardelli Filho (2006), ensaios e avalições realizadas demonstram que os volumes perdidos através de vazamentos visíveis representam pequena parte dos volumes totais perdidos nos vazamentos; desta forma, a maior parte das perdas reais é devida a vazamentos não visíveis, ou seja, não aflorantes à superfície do terreno. Segundo a ABES (2015), as avaliações de perdas reais, em todas as operadoras, mostram que os “vilões” são os ramais prediais, os quais detém a maior parte de ocorrências de vazamentos e de volumes perdidos. Geralmente, no Brasil, os ramais prediais são executados com tubulações de plásticos (PEAD ou PVC), com grande número de juntas e peças e que, frequentemente, apresentam problemas, seja pela qualidade dos materiais, ou pela mão de obra empregada na implantação. E ainda, redes de distribuição mais antigas foram construídas com chumbo ou cimento amianto, material que apresenta altos índices de vazamento. A International Water Association (2000) indica que é impossível o alcance de desperdício zero. Por este motivo, é proposto um limite de eficiência para redução de perdas, levando em consideração características técnicas e econômicas. Na razão econômica, objetiva-se chegar ao limite onde os custos implicados na redução das perdas se tornam maiores do que o próprio gasto com o desperdício de água. Em contrapartida, no sentido técnico, existem os limites de tecnologias disponíveis quando se tratam de materiais, ferramentas, logística e equipamentos. Assim, utilizando-se de dois eixos, vazamentos e custos, considerando as características econômicas e técnicas, pode-se identificar um nível econômico de perdas, onde o custo total atinge seu valor mais baixo, conforme ilustra a Figura 2. Com base nestes parâmetros, é feita a análise de viabilidade de ações corretivas na rede distribuição de água. Figura 2 - Representação gráfica para determinação do nível econômico de vazamento. Fonte: Go Associados (2015). 4 METODOLOGIA 4.1. SELEÇÃO DE DADOS Para realização deste trabalho, foi necessária a realização de uma seleção de dados disponíveis. Após a definição do tema que seria trabalhado e quais análisesseriam feitas, a seleção de dados foi feita. Inicialmente, partindo das publicações já feitas por alunos da própria Universidade Federal de Santa Maria no mesmo assunto, identificou-se outras referências que poderiam ser utilizadas. Após, foi necessário verificar o nível de atualização de dados, uma vez que as publicações sobre o tema devem ser atuais para que este trabalho contivesse uma análise da situação mais próxima da atual do país. Assim, seguindo as fontes selecionadas inicialmente, encontraram-se as atualizações das mesmas. Com o mesmo intuito, foi feita uma pesquisa sobre as notícias divulgadas nas mídias em relação ao assunto nos últimos anos. A maioria das fontes utilizadas neste trabalho são públicas e encontradas online. Algumas que não estão divulgadas para o público foram obtidas com auxílio de materiais emprestados por professores, mestrandos e outros colegas colaboradores. 4.2. COMPILAÇÃO DE DADOS Devido ao grande montante de dados selecionados, a compilação de dados foi manual e demorada. Dados fornecidos anualmente pelas entidades responsáveis foram muito importantes para a realização deste trabalho, porém foram de demorada compilação, uma vez que foram considerados dados dos últimos treze anos do Brasil. Para compilar, foram desenvolvidas planilhas e gráficos com auxílio do software Microsoft Excel. 4.3. ANÁLISE DE DADOS Além da leitura de diversas publicações como dissertações, teses, livros e notícias, a compilação de dados facilitou a análise dos dados. Assim, fazendo uso de todo conhecimento teórico obtido nas aulas no decorrer do curso, foi possível realizar uma análise crítica de todas as informações lidas. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1. PANORAMA DE PERDAS DE ÁGUA NO BRASIL 5.1.1. Visão Geral O saneamento básico é uma das áreas mais precárias da infraestrutura nacional, e um dos setores envolvidos na área de saneamento, é o de perdas de água. A Figura 3 apresenta o índice de perdas na distribuição para todo o conjunto de prestadores de serviços participantes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), em 2012, com valores médios distribuídos por faixas percentuais, segundo os estados brasileiros. Figura 3 - Representação espacial do índice de perdas na distribuição. Fonte: SNIS (2012). Observa-se que nenhum estado conseguiu situar-se na melhor faixa, ou seja, índice de perda na distribuição menor que 20%. Ainda, apenas um dos estados apresenta o índice inferior a 30%, indicando a situação alarmante dos índices de perda de água no país. Segundo o Instituto Trata Brasil (2015), no ano de 2010, as perdas de faturamento das operadoras de saneamento com vazamentos, roubos, ligações clandestinas, falta de medição ou medições incorretas no consumo de água, alcançaram, na média nacional 37,5%. Caso uma redução de apenas 10% nas perdas no país fosse alcançada, agregaria R$1,3 bilhão à receita operacional com a água, equivalente a 42% do investimento realizado em abastecimento de água para todo o país naquele ano. Ainda, uma redução de perdas de água com montante mais significativo poderia ser impactante não apenas no setor de águas. Isto é, com a economia feita com a redução do desperdício de água devido a perdas, possibilitaria que a rede de água potável fosse ampliada, e, além disso, possibilitaria mais investimentos na implantação de sistemas de tratamento de esgoto, por exemplo, assim como outras aplicações em saneamento básico. De acordo com dados obtidos do SNIS, durante a análise de vários anos, obtiveram-se os dados ilustrados na Figura 4. Verifica-se que, no geral, o percentual do índice de perdas de água na rede de distribuição brasileira fica em torno de 40%. Em 2004, tinha-se o valor mais alto do índice na série histórica dos últimos 13 anos, num percentual de 45,6%. Em 2005, esse valor permaneceu inalterado, sofrendo uma redução de 1,2 pontos percentuais no ano seguinte, totalizando 44,4%. Em 2007, uma redução de 0,9% foi constatada, enquanto no ano seguinte, alcançou-se a marca de 1,9% de redução, fechando em 41,6% no ano de 2008. De 2008 para 2009, percebe-se um aumento no índice de perdas de 1%, subindo para 42,6%, único aumento constatado na série histórica analisada. Em 2010, o índice de perdas baixou em 3,8 pontos percentuais, maior montante de redução da série histórica, chegando ao valor de 38,8% de perdas de água, valor mantido durante os próximos dois anos. Em 2013, observa-se mais uma redução no valor de 1,8 pontos percentuais, fechando o ano em 37% de perdas. Em 2014, reduzindo ainda mais, atinge-se o valor de 36,7%, mantendo-se no mesmo valor em 2015, último ano de que se tem dados de perdas. Figura 4 - Evolução histórica da indicação de perdas na distribuição (%). Fonte: Adaptado de SNIS. Com a maioria dos anos apontando redução no índice de perdas, e com o valor médio chegando a 36,7% no último ano avaliado, pode-se ter um olhar otimista para a situação de perdas de água no Brasil. No entanto, quando se olha para o país em um panorama mundial, percebe-se a ineficiência do sistema de distribuição de água brasileiro. 5.1.2. Panorama mundial de perdas de água Segundo dados divulgados pelo IBNET, numa pesquisa realizada com 43 países, o Brasil atingiu a 20ª posição com os dados do ano de 2011, quando o país perdia 38,8% de toda a água tratada que produzia. Conforme a pesquisa, o país fica atrás de países como Vietnã (perda de 31%), México (24%), Rússia (23%) e China (22%). O maior percentual de perdas, segundo essa lista é de Fiji, país insular da Oceania que desperdiça 83% da água tratada. Com os menores índices de perdas, no topo da lista estão Estados Unidos (13%) e Austrália (7%). A Figura 5 ilustra os dados. Figura 5 - Panorama mundial de perdas de água tratada. Fonte: www.g1.com.br apud IBNET. A Austrália, país que atinge o melhor índice de perdas com 7%, sofre muito com a escassez de água. Sabe-se de cidades que utilizam inclusive dessalinização da água para uso, pois o clima no país é muito seco e existem poucas reservas de água doce. Outra medida adotada pelo país é em campanhas de conscientização pelo uso da água sem desperdícios. Foram realizados investimentos de mais de R$6 bilhões na infraestrutura dos sistemas de abastecimentos, o que ajudou a combater vazamentos e auxiliar na economia e melhor uso de água. Ainda, mesmo fora da lista, outros países importantes conseguem atingir melhores índices de perda, como é o caso do Japão. Segundo o Portal EBC, o Japão, mesmo sofrendo constantemente com terremotos, consegue atingir um índice de perdas de 2%. Isso acontece, pois, o país utiliza em suas tubulações de distribuição de água materiais de alta tecnologia e qualidade, com mais resistência. Ainda, as tubulações são equipadas com sensores capazes de detectar vazamentos. O Brasil, apesar de assumir o índice de perdas de água de cerca de 36%, em 2015, segundo dados do SNIS, apresenta este valor de modo camuflado. Isto é, enquanto diz-se que a média nacional é de 36%, existem cidades que atingem a marca de 60% de perdas de água tratada. Então, ainda que o valor médio pareça otimista, a separação por região permite ver com clareza a calamidade da situação em partes do país. 5.1.3. Resultado por região Segundo o SNIS, no ano de 2013, a avaliação de perdas a nível regional foi desenvolvida com base nos dados reportados por 5.035 municípios. A representatividade da amostra foi de 97,6% em relação à população total do Brasil, ou seja, 193,8 milhões de habitantes (população total destes municípios).Segundo o SNIS, 43% da população brasileira pertence à região Sudeste, 28% pertence ao Nordeste, 15% ao Sul, 7% ao Centro-Oeste e 7% ao Norte. No Brasil, no ano de 2013, o volume total de água produzido e importado foi de 16,7 bilhões de m³ e apresentou uma distribuição similar à população, já que 53% do volume é fornecido no Sudeste, 20% no Nordeste, 14% no Sul, 7% no Centro-Oeste e 6% no Norte do país. A Figura 6 mostra a distribuição da população por regiões no ano de 2013. Figura 6 - Distribuição populacional por regiões. Fonte: Instituto Trata Brasil (2015). 5.1.3.1. Perdas no faturamento Segundo o Instituto Trata Brasil (2010), em 2010, a média brasileira de perdas de faturamento, isto é, porcentagem de água não faturada, era igual a 37,57%. A média na região Norte era de 51,55%, 44,93% na região Nordeste, 32,59% na região Centro-Oeste, 35,19% na região Sudeste e 32,29% na região Sul. A Figura 7 ilustra os dados descritos. Figura 7 - Índice de perdas no faturamento em 2010. Fonte: Adaptado de Instituto Trata Brasil (2010). Já no ano de 2013, o Brasil apresentou um índice de perdas de faturamento total de 39,07%, um aumento de 1,5 pontos percentuais. As regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste apresentaram um desempenho melhor ao da média nacional, com índices de perda de 34,68%, 35,22% e 36,09%, respectivamente. As regiões com maiores níveis de perdas de faturamento total são Nordeste e o Norte, com os valores de 45,03% e 60,59%, respectivamente. No entanto, observa-se que de 2010 para 2013, não apenas a média nacional sofre um aumento, mas todas as regiões tiveram crescimento no percentual de perdas no faturamento. Destaca-se a região Norte, que no período de três anos, teve um aumento de mais de 9% no índice de perdas no faturamento. Os resultados para o ano de 2013 são ilustrados na Figura 8. Figura 8 - Índice de perdas no faturamento em 2013. Fonte: GO Associados (2013). 5.1.3.2. Perdas na distribuição No Brasil, em 2013, o índice de perdas na distribuição, isto é, índice que mede as perdas em termos de volume de água consumido (medido e estimado), foi de 36,95%, ou seja, 2,12 pontos percentuais abaixo do índice de perdas no faturamento. Entre as regiões com resultados abaixo da média nacional estão a região Sudeste, com 33,35%, região Centro-Oeste, com 33,40% e a região Sul, com 35,06%. No entanto, as regiões Norte e Nordeste, apresentam uma situação mais alarmante quanto ao índice de perdas na distribuição, com valores de 50,78% e 45,03%, respectivamente. Isto representa cerca de 14% para a região Norte e 8% para a região Nordeste, acima da média nacional. Assim, destaca-se a necessidade de maiores esforços nestas regiões, a fim de reduzir as perdas do recurso hídrico. A Figura 9 ilustra a situação por região do país. Figura 9 - Índice de perdas na distribuição por região. Fonte: GO Associados (2013). As perdas de distribuição, quando relacionadas a outros índices básicos da população de cada região, ficam mais fáceis de serem compreendidas. A Tabela 4 mostra os índices básicos do serviço de abastecimento de água das regiões brasileiras, em comparação com a média nacional. Tabela 4 - Índices básicos do serviço de abastecimento de água. Fonte: SNIS (2013). Observa-se a situação mais alarmante na região Norte, onde o maior índice de perdas de distribuição, vem acompanhado do menor índice de atendimento de água. Isto é, pouco mais da metade da população (52,2%) da região norte é atendida com água, e, desta parcela da população atendida, mais da metade (50,78%) da água produzida é perdida na rede de distribuição, não chegando ao consumidor final. Brasil 82,5 166,3 36,95 Sudeste 91,7 194 33,35 Centro-Oeste 88,2 160,7 33,4 Sul 87,4 149,9 35,06 Nordeste 72,1 125,8 45,03 Norte 52,2 155,8 50,78 Região Índice de Atendimento de Água (%) Consumo médio Per Capita (L/hab.dia) Índice de perdas na distribuição (%) A região Nordeste, com 45,03% de perdas na distribuição, possui pouco mais de 70% no índice de atendimento água, índices melhores que os observados para a região Norte, mas ainda precários. As regiões Sul, Centro-oeste e Sudeste apresentam menores níveis de perdas na distribuição, aliados à maiores índices de atendimento de água, no entanto, ainda não alcançam os limites considerados ideais de perdas de distribuição. Ainda, segundo dados da ABES (2013), 86% da população da região norte do país reside em cidades carentes de ampliação no sistema de água ou de novos mananciais, situação também enfrentada por 82% da população da região nordeste. Estes dados, aliados aos índices de atendimento de água e de perdas na rede de distribuição, certificam a calamidade da situação de saneamento nas regiões Norte e Nordeste. Nas outras regiões, ainda que se encontrem com melhores índices, tanto de atendimento de água quanto de perdas na rede de distribuição, também precisam de mais investimentos. Nas regiões Centro-oeste, Sudeste e Sul, 44,2%, 43,9 e 41,1% dos municípios, respectivamente, necessitam investimentos na ampliação dos sistemas ou já requerem novos mananciais de água. Em estudo realizado entre as 100 maiores cidades do Brasil, apenas 28% apresenta disponibilidade hídrica satisfatória, os demais precisam de investimentos. Destes 72% com disponibilidade inadequada, 39% necessita de ampliação dos sistemas e 33% de novos mananciais. Segundo a ANA (2010), as perdas físicas, que acarretam grande parte das perdas financeiras, agravam a já dramática disponibilidade hídrica que sofrem várias cidades brasileiras. As regiões Norte e Nordeste são as que enfrentam relativamente os maiores problemas de mananciais, pequena disponibilidade de água das bacias hidrográficas litorâneas e forte escassez hídrica da sua porção semiárida. 5.1.4. Comparativo de perdas entre operadoras 5.1.4.1. Empresas estaduais Segundo o SNIS (2013), a Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (AESBE), tem como associadas as operadoras mostradas na Figura 9. Suas representantes atuam em 4.012 municípios, atendendo cerca de 73,6% da população urbana brasileira em abastecimento de água e 58,2% com esgotamento sanitário. Em termos de perdas de água, a empresa com o melhor desempenho é a SANEPAR (Companhia de Saneamento do Paraná), atuante no estado do Paraná, na região Sul, com perdas de 21,1%. Enquanto a empresa com o pior desempenho é a CAESA (Companhia de Água e Esgoto do Amapá), atuante no estado do Amapá, na região Norte, com perdas de 75%. O valor médio entre as empresas é de 40,7%. Os dados podem ser observados na Figura 10. Figura 10 - Perdas sobre o faturamento para empresas estaduais (%). Fonte: SNIS (2011). 5.1.4.2. Empresas municipais Considerando-se as maiores empresas operadoras municipais de água do país, observa- se que a média de perdas entre as empresas fica na faixa de 36,6%. O pior índice de perdas, com o valor de 69,3% é da empresa SAERB (Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco), que atende o município de Rio Branco, na região Norte, aproximadamente 30 pontos percentuais de diferença. Com a mesma magnitude de diferença, a SANEP (Serviço Autônomo de Abastecimento de Água de Pelotas), empresa que atende a cidade de Pelotas, na região sul, registra perdas no montante de 6,7%, indicando a disparidade na eficiência de distribuição de água entre as regiões do Brasil. Os resultados são ilustrados na Figura 11. Figura 11 - Perdas sobre o faturamento para empresas municipais. Fonte: SNIS (2011). 5.2. PERDASFINANCEIRAS DECORRENTES DAS PERDAS Com base em dados fornecidos pelo SNIS, no ano de 2015, possibilitou-se a análise quantitativa da situação financeira relacionada às perdas de cada região do Brasil. Dados de consumo médio per capita de água, população (fornecido pelo Censo 2010 do IBGE), perdas na distribuição e tarifa média cobrada, possibilitaram cálculos de perdas monetárias em cada região. A Tabela 5 mostra os resultados. Tabela 5 - Perdas financeiras de regiões brasileiras. Fonte: Adaptado de SNIS (2017). A World Health Organization (2014) reporta que no Brasil, foram gastos 0,11% do PIB no ano de 2012. O mesmo documento relata que o país apresentou elevação nos investimentos no setor de saneamento, com valor estimado de 24,829 milhões de dólares em 2010, para 26,911 Norte 154,3 16.318.163 919.030.781 46,3 425.511.252 2,84 1.208.451.955 Nordeste 116,1 53.081.950 2.249.427.254 45,7 1.027.988.255,16 3,02 3.104.524.530,58 Sudeste 176 80.364.410 5.162.609.698 32,9 1.698.498.590,77 2,7 4.585.946.195,09 Sul 148,7 27.300.000 1.481.721.150 33,7 499.340.027,55 3,57 1.782.643.898,35 Centro- Oeste 148,8 14.058.094 763.523.201 35,5 271.050.736,47 3,78 1.024.571.783,86 Brasil TOTAL DE PERDAS = 11.706.138.362,54 Tarifa média (R$/m³) Perda financeira anual (R$) Região Consumo médio per capita de água (L/hab.dia) População (hab) Consumo médio anual (m³/ano) Perdas na distribuição (%) Água não tarifada (m³/ano) milhões de dólares em 2012. No entanto, a World Health Organization ressalta que os investimentos em saneamento realizados no país ainda estão abaixo do considerado ideal. A Figura 11 mostra os percentuais de desperdícios financeiros de cada Região do Brasil, totalizando cerca de R$ 11 bilhões no ano de 2015, segundo o SNIS. Figura 12 - Perda financeira anual de cada região brasileira. Fonte: Adaptado de SNIS (2015). Observa-se que a região Sudeste apresenta o maior índice de perdas financeiras, com R$4,5 bilhões de reais, equivalente a 39% do valor total de perdas no país. No entanto, a região tem o menor índice de perda nas redes de distribuição e possui a menor tarifa por m³ de água. O valor final elevado pode ser explicado pelo valor em reais de água não tarifada na região, que é o mais elevado do país. A região Centro-oeste apresenta a menor quantia desperdiçada em perdas, com R$1 bilhão de reais, representante de somente 9% do valor total de perdas financeiras do país. Aliado a este valor, a região manteve-se entre as que apresentam o menor índice de perdas do país, apesar de ter a tarifa mais alta por m³. O baixo valor pode ser impactado pelo mesmo motivo da região Sudeste, o valor da água não tarifada é o menor registrado entre as regiões do país. Da mesma forma, pode-se explicar o baixo valor de perda financeira associada a região Norte, de R$1,2 Bilhões, representando apenas 10% do gasto total do país. Uma vez que a região Norte perde mais da metade da água que trata, surpreende ter tão pouco gasto financeiro. Isto explica-se, além do valor baixo da tarifa, segundo menor do país (R$2,84/m³), também a perda de água não tarifada é muito menor. Esta perda de água não tarifada, que tanto influenciou nos valores finais de perda financeira causada pelas perdas de água, está diretamente ligada à população. Isto é, a região Sudeste, com maior perda de água não tarifada, e consequente maior perda financeira total, é a região com maior população. Enquanto as regiões Centro-oeste e Norte, citadas como as regiões de menor perda financeira, possuem também, as menores populações. Com maior controle das perdas de água, consequentemente, haveria menor perda financeira. Totaliza-se um montante de 11 bilhões de reais em perdas, e, caso fosse investido este montante, seria mais que adequado para ampliação das redes, melhoramento dos sistemas de abastecimento e distribuição de água, e ainda, estruturação de programas para controle de perdas e aumento de eficiência das operadoras. Um estudo feito pelo Instituto Trata Brasil, em 2010, fez uma simulação de redução de perdas na receita operacional do setor de saneamento, simulando possíveis ganhos com a melhoria da eficiência das operadoras. Com isso, foi feita as seguintes observações: A redução de apenas 10% nas perdas de água do Brasil acarretaria em R$ 1,3 bilhão à receita operacional do recurso, valor que equivale a 42% do investimento realizado em abastecimento de água em todo o país, no ano de 2010. Caso esta redução acontecesse apenas nas 100 maiores cidades do país, agregaria 758 milhões de reais à receita operacional de água, correspondendo a 40% do valor investido no atendimento. Neste estudo, concluiu-se que se o estado do Amapá, que apresenta o maior índice de perdas de água tratada, tivesse uma redução de apenas 10%, acarretaria em um ganho de R$ 8,3 milhões, valor 6,135% maior do que o Estado investiu em água em 2010. Uma redução de 10% nas perdas no estado de São Paulo, aumentaria a receita operacional direta de água em R$ 275,8 milhões, ou seja, um valor superior a todo o investimento realizado em abastecimento de água em Minas Gerais em 2010. 5.2.1. Metas do Plano Nacional de Saneamento Básico Segundo a ABES (2013), no ano de 2013 foi lançado o Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), abrangendo diretrizes, metas e ações para o Brasil, numa perspectiva de 20 anos (2014 – 2033), prevendo recursos totais de R$ 508 bilhões para água, esgotos, resíduos sólidos e drenagem. A Tabela 6 mostra as metas do PLANSAB para o indicador “Porcentagem do índice de perdas na distribuição de água” definidas, visando diminuir o índice de perdas de 39% no ano de 2010, para 31% em 2033. Tabela 6 - Metas do Plano Nacional de Saneamento Básico. Fonte: Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (2013). É válido ressaltar que no ano de 2015, o SNIS (2017) reportou que o percentual médio de perdas no Brasil era de 36,7%, o que traz um pouco de otimismo para as metas do PLANSAB. Ou pelo menos faz questionar se as metas são pouco ambiciosas neste setor, uma vez que o índice de perdas de 31% está longe de ser o ideal. Os investimentos no setor de saneamento, no PLANSAB, dividem-se em dois tipos de ações: as medidas estruturais e as estruturantes. As estruturais, implicam em obras e intervenções físicas na infraestrutura de saneamento. Enquanto as medidas estruturantes têm como objetivo garantir intervenções para modernização ou reorganização de sistemas, dar suporte político e ferir a prestação de serviços no sentido da sustentabilidade, possibilitando o aperfeiçoamento da gestão. Segundo a ABES (2013), o PLANSAB ressalta que a consolidação das ações em medidas estruturantes acarretará em benefícios duradouros às medidas estruturais, certificando a eficiência e a sustentação dos investimentos realizados. Os recursos previstos para as medidas estruturais correspondem a 55,8% do total (incluindo água, esgoto, drenagem e resíduos sólidos), restando 44,2% para as medidas estruturantes. 5.3. CONTROLE DE PERDAS Segundo a ABES (2015), as perdas de água instituem um problema de ordem mundial, gerando sistemas de baixa performance. No entanto, países ou cidades, com planejamento, conhecimento, gestão e recursos, teriam a capacidade de atingir e manter baixos níveis de perdas nos seus sistemas. Segundo a European Union (2015), a problemática das perdas não está restrita à esfera de ação de uma operadora local ou regional, mas tem questões muito mais amplas, consequentes dos seguintes aspectos: Indicador Ano Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste 201039 51 51 51 35 34 2018 36 45 44 44 33 32 2023 34 41 41 41 32 31 2033 31 33 33 33 29 29 A6, % do índice de perdas na distribuição de água Políticos, pois envolvem questões relativas às entidades responsáveis pelos serviços, agências de governo, linhas de financiamento para o setor e a mídia; Econômicos, pois abrangem os custos dos volumes perdidos e não faturados, os custos operacionais (energia elétrica, produtos químicos no processo de potabilização da água, etc.) e os investimentos para as ações de redução ou manutenção das perdas, importantes para a sustentabilidade das empresas; Sociais, pois envolvem o uso racional da água, o pagamento ou não pelos serviços, as questões de saúde pública e a imagem das operadoras perante a população; Tecnológicos, pois envolvem as interações entre o conhecimento técnico e as tecnologias, ferramentas e metodologias disponíveis para as atividades típicas do combate às perdas (a "arte do possível"); Legais, pois envolvem a legislação para o setor, licenças e a respectiva regulação, e; Ambientais, pois envolvem a utilização e gestão de recursos hídricos e energéticos e impactos das obras de saneamento. Segundo Tardelli Filho (2016), a principal causa das perdas reais é, inquestionavelmente, a qualidade da infraestrutura. Além disso, pode haver influência da pressão de serviço, qualidade de manutenção, execução de assentamento de tubulações, tráfego e outros. Já para perdas aparentes, a principal causa são limitações técnico-operacionais dos medidores, em conjunto com a idade de instalação da rede e variações de fluxo d’água (especialmente em vazões reduzidas). Assim, para que haja controle de perdas reais, o autor sugere as seguintes ações: Para gerenciamento de pressões: instalação de válvulas redutoras de pressão em setores que tem potencial para redução de perdas de água ou incidência de rompimentos; e, no contexto de setorização da rede de distribuição, buscar operar com pressões de serviço adequadas. Para o controle ativo de vazamentos: Encontrar, através de técnicas acústicas de detecção, os vazamentos não visíveis nas tubulações, reparando os vazamentos que não afloram à superfície do terreno. Para manutenção do sistema: reparo dos vazamentos visíveis e não visíveis detectados, com rapidez e qualidade na execução; renovação da infraestrutura, substituição das tubulações (redes e ramais) que tem maior incidência de vazamentos. A Figura 13 sintetiza as ações básicas em relação ao nível de perdas reais. Figura 13 - Diagrama de gerenciamento de perdas reais. Fonte: Adaptado de Tsutiya (2006). Já para perdas aparentes, Tardelli Filho (2016) sugere as seguintes ações: Para melhoria da medição: substituição periódica dos hidrômetros (preventiva) e imediata dos hidrômetros quebrados (corretiva); e medição dos volumes nos setores e subsetores do sistema e hidrometração (instalação de hidrômetros) dos consumidores. Para gerenciamento de cadastro de consumidores: aprimoramento da gestão comercial das companhias (cadastros e sistemas comerciais); existência de cadastros técnicos (redes e ramais) e comerciais atualizados; e a compartimentação dos setores deve ser feita de forma estanque, ou seja, quanto menores as áreas, mais fácil será de estabelecer as relações de causa e efeito e apurar as ações subsequentes; utilizar Distritos de Medição e Controle (DMC) para realizar essas análises e avaliações, cada DMC deve contar com um macromedidor na entrada para acompanhar o comportamento das vazões. Para combate às fraudes: revisar os imóveis com suspeita de fraudes, a partir de denúncias, análises de variações atípicas de consumo ou quaisquer outros indícios ou evidências. A Figura 14 sintetiza as ações básicas em relação ao nível de perdas aparentes. Figura 14 - Diagrama de gerenciamento de perdas aparentes. Fonte: Adaptado de Tsutyia (2006). Ainda, Tardelli Filho (2006) descreve ações emergenciais para perdas decorrentes de vazamentos não visíveis e visíveis. As ações são descritas na Figura 15. Figura 15 - Controle e redução de perdas. Fonte: Tardelli Filho (2006). 5.3.1. Crescimento Natural das Perdas Segundo a ABES (2015), se nada for feito para reduzir as Perdas Reais e Aparentes, o volume de água perdido cresce naturalmente, devido aos seguintes fatores: Os vazamentos nas redes e ramais aumentam gradativamente, pois as tubulações se deterioram com o tempo; Os hidrômetros sofrem desgastes com o passar do tempo e os mecanismos internos do medidor são deteriorados, aumentando a submedição; O cliente, ao fraudar uma ligação e perceber que isso não ocasionou nenhuma atitude da operadora de saneamento, incentiva outros clientes a seguir o mesmo procedimento, aumentando as perdas por fraudes. Para estimar o montante desse crescimento são necessários ensaios em campo, e os resultados dependem da qualidade ou idade da infraestrutura implantada, bem como os procedimentos comerciais da operadora de saneamento. O quadro “Não fazer nada” (Do Nothing Scenario), na Figura 16, apresenta a evolução esperada das perdas no sistema e os desafios das operadoras, com destaque para as seguintes diretrizes: É necessário um esforço para manter o indicador de perdas estacionado, ou seja, não deixar as perdas aumentarem; Baixar o índice de perdas até a meta estabelecida, e a partir daí, realizar ações exigidas para estabilizar as perdas nesse nível. Figura 16 - Crescimento natural das perdas e os desafios para o combate. Fonte: Adaptado de ABES (2015) apud SABESP (2014). Segundo a ABES (2015), análises feitas no sistema de abastecimento de água da SABESP, em São Paulo, apresentaram que, levando em conta apenas os vazamentos não visíveis, caso nenhuma ação tivesse sido feita para detecção e reparo destes vazamentos, o sistema teria entrado em colapso em um período de dois anos. 5.3.2. Custos envolvidos na redução de perdas de água Segundo a ABES (2013), os custos que ocorrem durante o período específico de implantação do projeto são chamados de custos fixos, e os custos gerados ao longo de todo o projeto são chamados de custos variáveis. Esses podem ser gerados por seguintes fatores: Equipamentos e instalações: gastos com tubulações, válvulas, bombas e outros; Obras civis: construção de novos reservatórios, substituição de ramais prediais (principal causador de perdas), substituição de redes antigas; Ações operacionais de manutenção: reparo de vazamentos e combate a fraudes; Ações tecnológicas: desenvolvimento de materiais e equipamentos; Mão de obra e qualificação profissional. 5.3.3. Benefícios envolvidos na redução de perdas de água Um projeto de redução de perdas acarreta em diversos benefícios a empresas operadoras de água. Segundo a ABES (2013), com a redução das perdas físicas, a empresa pode produzir um volume menor de água para atender a mesma quantidade de clientes, consequentemente, a operadora de saneamento diminui os custos em vários itens, como produtos químicos, energia Elétrica, compra de água bruta e mão de obra. As perdas aparentes, que ocorrem devido as fraudes nas ligações, consumo não faturado, problemas de medição, falta de hidrômetros, entre outros, quando reduzidas, geram aumento do volume faturado e, consequentemente, da receita. Além do mais, a empresa pode protelar investimentos necessários para que possa atender ao aumento da demanda, decorrente do crescimento populacional. Pois, é mais aconselhável diminuir as perdas de água, ao invés de aumentar a capacidade de produção deágua, do ponto de vista ambiental e econômico-financeiro. Portanto, o aumento da eficiência na produção e distribuição de água, implica em maior número de pessoas atendidas, com a mesma quantidade produzida de água. A Tabela 7 mostra os ganhos com redução de perdas de água e o seu impacto em termos de receitas, custos e investimentos. Tabela 7 - Benefícios da redução das perdas. Fonte: ABES (2013). 5.3.4. Impasses para Redução de Perdas 5.3.4.1. Situação Atual das Operadoras de Água Segundo a ABES (2013), há diversos fatores que não contribuem para a redução de perdas de água no abastecimento. Entre eles, o quadro de funcionários que muitas vezes não tem capacitação suficiente para que o gerenciamento do sistema seja feito de forma que possibilite manter baixos e sob controle os índices de perdas. Além disso, a situação física dos sistemas de abastecimento de água, com tubulações antigas, que ajudam no aumento do índice de perdas. E ainda, a carência de equipamentos, instrumentos e cadastros técnicos e comerciais, são fatores que acabam agravando ainda mais o problema. Com essa situação, seria necessário um alto valor de investimento inicial, para que a redução de perdas seja possibilitada, porém, isso leva ao segundo principal impasse, a baixa capacidade de investimento. Perdas Melhora do controle da pressão na rede; Qualificação da mão de obra e melhoria dos materiais. Melhoria e troca de tubulações, ligações, válvulas; Melhora no controle e detecção de vazamentos; Melhora no cadastro. Medição efetiva de todas as economias (domiciliar, comercial e pública); Corte nas ligações fraudulentas; Troca de hidrômetros e medidores; Ações envolvidas Aumento do consumo medido e faturado Diminuição da produção de água com o atendimento do mesmo número de pessoas. Atendimentos de maior número de pessoas com a mesma quantidade produzida. Perdas aparentes Perdas reais Menores custos com produtos químicos, energia e outros insumos. Postergação de investimentos Redução de custos Tipos de benefícios Ganhos Aumento da receita 5.3.4.2. Baixa Capacidade de investimento Segundo a International Finance Corporation (IFC), os baixos índices de investimento no setor de saneamento no Brasil são diretamente relacionados à baixa capacidade das operadoras de se financiar. Essa limitação está relacionada a como o Governo Federal disponibiliza recursos para esse setor e com às condições econômico-financeiras que ainda são muito precárias quando se trata das operadoras de água. Em contrapartida, essas empresas justificam que a limitação é em função da baixa eficiência operacional e de gestão. Ou seja, os altos custos das operadoras (com quadro de operadores mal dimensionado, alto consumo de energia elétrica, ineficiência nas compras, altos índices de perdas de água) e a baixa geração de receitas (com gestão comercial ineficiente, baixa agressividade comercial e falta de aproveitamento de oportunidade na área de saneamento industrial e privado), geram baixa capacidade das operadoras de obter recursos financeiros, os quais seriam revertidos em investimentos, como melhoria operacional e programas de redução de perdas de água. A Figura 16 ilustra o ciclo vicioso de gestão das operadoras de saneamento, principal causa da falta de investimentos em programas de redução de perdas de água, e outros investimentos para ampliações físicas ou melhoria de desempenho. Figura 17 - Ciclo vicioso: gestão das operadoras de saneamento Fonte: Adaptado de IFC (2013). 5.3.4.3. Rigidez orçamentária Aliado à baixa capacidade de investimento, é necessária flexibilização da rigidez orçamentária sustentada pelas operadoras de saneamento. Segundo a ABES (2013), para que sejam identificadas as ações necessárias para impactar na redução de perdas de água, tanto físicas, quanto aparentes, nos sistemas de abastecimento, é necessária uma série de atividades que devem ser desenvolvidas de forma integrada. Isto acaba impactando no orçamento pré- estabelecido das operadoras. Assim, esta rigidez imposta pelas próprias operadoras, estabelece mais um entrave para que aconteça a inserção de programas de redução de perdas de água nos sistemas de abastecimentos brasileiros. 5.3.4.4. Ausência de coordenação central Segundo a IFC, as empresas de saneamento buscam substituir os hidrômetros, com objetivo de reduzir as perdas aparentes. Porém, não há grande investimento na renovação das redes de distribuição, o que acarreta em grandes perdas físicas. Essa prática é consequência da não indicação de um setor responsável pela implantação de um programa de redução de perdas. A ausência de uma unidade focalizada na estruturação e acompanhamento de um programa de redução de perdas dispersa esforços e gera falta de gerenciamento. A falta de coordenação central se justifica também pela ausência de capacitação técnica das operadoras de saneamento, como citado anteriormente, para implantar um programa adequado de redução de perdas e eficiência. Há carência de conhecimento técnico para composição de projetos básicos, estruturação de editais e melhores soluções tecnológicas e técnicas. 6 CONCLUSÃO No geral, pode-se concluir que o Brasil apresenta um cenário problemático em relação ao setor de perdas de água. Com valores díspares entre as regiões, a média nacional atinge um valor longe do ideal, e ainda, esconde a realidade ainda mais alarmante de algumas regiões. Além disso, as perdas de água acarretam perdas financeiras enormes para o país, no montante de bilhões de reais que poderiam ser investidos para melhoria do saneamento básico brasileiro. Ao fazer a comparação a nível mundial, percebe-se que os países com menores índices de perda apresentam muitas medidas para combater vazamentos e incentivar o uso racional da água por parte da população. No entanto, é notável que um dos fatores que motiva esse tipo de medida é a inexistência de grandes reservas de água doce no território destes países, por exemplo, Austrália. Já no Brasil, tem-se grandes reservas naturais, detendo mais de 10% da água doce do mundo. Isto também influencia a conscientização da população, de modo a dar sensação errônea de que a água é um bem infinito. Assim, acaba por incentivar o uso sem economia, não apenas por parte dos consumidores finais, mas por parte de governantes, que poderiam investir mais, e operadoras, que poderiam dar mais atenção para o controle de perdas. Ao analisar os índices de perda de distribuição do país separado por região, nota-se claramente a disparidade existente, destacando negativamente as regiões Norte e Nordeste. No entanto, quando analisadas as perdas financeiras acarretadas pelas perdas de água, a região Sudeste, mesmo com menor índice de perdas de distribuição, aparece como região de maior perda monetária, enquanto as regiões Centro-oeste e Norte, apareceram com os menores valores de perdas financeiras. Verificou-se a forte relação entre os valores de perda financeira, com os valores de perda de água não faturada, e ao montante da população. Ou seja, ainda que a região Sudeste apresente o menor índice de perdas de água na distribuição, por possuir a maior população entre as regiões, sofre maior perda de água não faturada, e consequente, maior perda financeira total. Enquanto a região Norte, com situação alarmante de perdas de água, uma vez que se perde mais da metade da água tratada, segue com valor baixo de perda financeira, possuindo menor população, e, portanto, menor perda de água não faturada. Porém,apesar de toda a análise indicar que o Brasil não vai bem no setor de perdas de águas, a meta nacional estabelecida em 2014 para os próximos 20 anos, é de atingir o índice de perdas de 31%. Considerando a redução no índice de perdas que tem ocorrido nos últimos treze anos, constata-se que atingir a meta nacional para 2033 é completamente possível, trazendo otimismo para o setor. No entanto, ao analisar as possíveis medidas a serem tomadas para o controle de perdas pelas operadoras, depara-se com muitos entraves. Enquanto os maiores causadores de perdas de água se concentram na infraestrutura do setor de distribuição de água, a melhoria desta necessitaria de alto investimento inicial. Além disso, as operadoras contam com problemas de gestão interna, de forma que o desenvolvimento de um programa de controle de perdas fica limitado por haver carência de profissionais capacitados para tal, ou, por não haver uma coordenação central, que tome a frente de ações voltadas para o controle de perdas. Além do mais, é necessário que, uma vez iniciado, seja dado continuidade a programas de controle de perdas, o que acaba não acontecendo quando há troca de gestão nas operadoras. Porém, apesar da visão geral do problema não ser otimista, das regiões sofrerem muita disparidade de dados, de o país não ser exemplo mundial ou de existirem muitos entraves para a implementação de programas de controle de perdas por parte das operadoras, ainda assim, tem-se esperança que o país melhorará no setor. Espera-se que este trabalho possa servir como alerta e como incentivo à maiores investimentos e cuidados no setor de perdas de água no Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS. ATLAS Brasil: abastecimento urbano de água: panorama nacional. Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos. Brasília, DF. 2010. ALEGRE, H.; COELHO, S. T.; ALMEIDA, M. C.; VIEIRA P. Controle de perdas de água em sistemas públicos de adução e distribuição. Série guias técnicos n° 3. Instituto Regulador de Águas e Resíduos, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Instituto da Água. 2005. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHEIRA SANITÁRIA E AMBIENTAL. Perdas em sistemas de abastecimento de água: Diagnóstico, potencial de ganhos com sua redução e propostas de medidas para o efetivo combate. 27º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Goiânia, GO. 2013. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHEIRA SANITÁRIA E AMBIENTAL. Controle e redução de perdas nos sistemas públicos de abastecimento de água: posicionamento e contribuições técnicas da ABES. 1º Seminário Nacional de Gestão e Controle de Perdas de Água. São Paulo. 2015. COELHO, A. C. Medição de água, política e prática – Manual de consulta. Recife, PE. Ed. Comunicarte. 1996. EUROPEAN UNION. EU Reference document Good Practices on Leakage Management WFD CIS WG PoM – Main Report. Luxembourg. 2015. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico de 2010. Brasília, DF, 2010. INSTITUTO TRATA BRASIL. Perdas de água: Desafios ao avanço do saneamento básico e à escassez hídrica. Go Associados. São Paulo. 2015. INSTITUTO TRATA BRASIL. 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