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mas a educação dessas crianças que seriam supervisionadas por uma professora. O modelo educacional da Casa dei Bambini consistia em reunir crianças pobres de 3 a 7 anos, que ficavam praticamente abandonadas diante da necessidade dos pais saírem para trabalhar, em torno de seus conjuntos habitacionais (as casas dei bambini ficavam instaladas em bairros operários). No que diz respeito a estes conjuntos habitacionais, de acordo com Montessori (apud NICOLAU, 2005, p. 10), a condição particularíssima devia-se ao fato de não ser aquela instituição privada uma verdadeira obra social, visto ter sido fundada por uma companhia imobiliária que pretendia abater os gastos de manutenção da escola com despesas indiretas de conservação junto ao A aprendizagem segundo o método montessoriano 101 conjunto residencial. [...] As únicas despesas possíveis eram as habituais de um escritório, ou seja, móveis e utensílios suplementares. [...] Por isso, começou-se por fabricar móveis em vez de se adquirir bancos escolares [...] fabricou-se uma mobília sob medida, como se fossem móveis de uma casa ou de um escritório. Simultaneamente, mandei fabricar um material exatamente como o que já utilizara numa instituição para crianças deficientes e que ninguém imaginava que pudesse ser transformado em material escolar. Vale lembrar que, no Brasil, o modelo educacional baseado na pedagogia montessoriana encontrou respaldo no movimento da Escola Nova, que já havia recebido apoio de Montessori quando de sua divulgação por pensadores como Dewey e Declory. O movimento escolanovista surgiu como contraposição à pedagogia tradicional, ligada ao movimento da pedagogia ativa, no qual a criança é percebida como um ser dotado de capacidades individuais, devendo ser respeitada a sua liberdade, a sua iniciativa, a sua autonomia e os seus interesses. Sendo a criança o sujeito do processo de aprendizagem, tem-se a idéia de que o aluno aprende melhor o que faz por si mesmo. Deste modo, o modelo educacional montessoriano passou a ocupar um lugar de destaque no movimento escolanovista por apresentar técnicas de educação ativa que se aplicavam tanto aos jardins de infância quanto para as primeiras séries do ensino formal. O método montessoriano, segundo o que a própria autora defendia, não contrariava a natureza humana, ou seja, voltava-se para o respeito às necessidades de cada estudante dentro de suas capacidades e limites de aprendizagem. De maneira ativa, as crianças eram incentivadas a desenvolver seus próprios processos de aprendizagem, cabendo ao professor acompanhar o processo de cada aluno, observando o modo particular escolhido por cada um para conduzir sua própria educação. Tendo a preocupação do desenvolvimento das aprendizagens individuais como premissa, Montessori promoveu uma mudança no espaço físico das salas de aula, apresentando ao mundo um local de aprendizagem destinado a permitir o movimento livre dos alunos, facilitando suas explorações e, conseqüentemente, seu desenvolvimento. Para Montessori, o desenvolvimento sensorial e motor está intimamente relacionado ao desenvolvimento cognitivo. Deste modo, o toque passa a ocupar em sua teoria um lugar de destaque, uma vez que, para ela, é por meio das mãos – ou melhor, do toque – que decodificamos o mundo. É justamente por este motivo, ou seja, por considerar que a Educação deve dar vazão ao método de exploração do mundo por meio do toque (um método natural de aprendizagem apresentado por todas as crianças), que a pesquisadora cria diversos materiais tendo como função auxiliar o desenvolvimento intelectual das crianças. O material criado por Montessori Como dito anteriormente, o material pedagógico desenvolvido por Montessori ocupa um lugar de destaque no conjunto de seu trabalho, pois pressupõe a construção do conhecimento dos objetos e conceitos abstratos a partir da interação direta dos aprendizes com os objetos em si. Deste modo, cabe ao Teorias da Aprendizagem 102 professor estimular na criança o desejo de conhecer, que, segundo Montessori, já se manifesta na criança por meio do que ela chamou de impulso interior para o trabalho espontâneo do intelecto. Diante disso, Montessori desenvolve uma série de grupos de materiais didáticos divididos entre: exercícios para a vida cotidiana; material sensorial; material cromático; material de linguagem; material de matemática e material de ciências. Materiais para o desenvolvimento da vida cotidiana Os materiais destinados ao desenvolvimento da vida cotidiana ou vida prática consistem em exercícios que buscam favorecer o desenvolvimento da autonomia, da percepção, dos processos psicomotores e da atenção. Qualquer objeto do meio no qual a criança está inserida pode ser considerado de vida cotidiana, mas, em Educação, pode-se favorecer os exercícios de vida cotidiana com a criação dos “cantinhos de atividade” tão conhecidos pelos educadores. Além disso, as ações de vestir-se, assear-se, arrumar-se e organizar-se também estão incluídas no conjunto de exercícios considerados por Montessori como sendo de vida cotidiana (por exemplo, quadros de abotoar). Material sensorial Já o material sensorial consiste no conjunto de jogos de encaixe que são apresentados em formas e dimensões diferentes utilizados para estimular a atividade motora e a percepção visual (por exemplo, escadas marrons, encaixes sólidos, barras vermelhas). Material cromático O material utilizado para o desenvolvimento do senso cromático é dividido em uma série de 63 peças (tabletes) enrolados em fios de seda e disposto numa gradação de nove cores que vão do cinza, com gradações de branco e preto, ao rosa, passando pelo vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, violeta e marrom. Além desse material, Montessori desenvolveu ainda os encaixes geométricos, ou encaixes planos, que consistem no encaixe de formas variadas como triângulo, quadrado, retângulo, trapézio e círculo na cor azul em molduras de madeira. O objetivo desses materiais é estimular a criatividade e o desenvolvimento psicomotor. Material de linguagem No que diz respeito ao desenvolvimento das habilidades lingüísticas relacionadas à leitura e à escrita, Montessori desenvolve as letras de lixa ou alfabeto de lixa, caracterizado pela textura de lixa em letras recortadas e pregadas em cartões, tendo as vogais um fundo vermelho e as consoantes um fundo azul. Além das letras de lixa, Montessori desenvolve ainda o alfabeto móvel e os ditados mudos, sendo estes dois últimos materiais complementares. A aprendizagem segundo o método montessoriano 103 Material de matemática Para o desenvolvimento das habilidades matemáticas, parte mais conhecida da metodologia montessoriana, Montessori desenvolve um conjunto considerável de materiais. São eles: os algarismos de lixa (que seguem o mesmo princípio das letras de lixa), as barras vermelhas e azuis, a caixa de furos, a caixa de numeração, os tentos, a tábua de Séguin, a serpente, a tábua de Pitágoras, os blocos lógicos e o material dourado. Todos este materiais, segundo Montessori, podem ser utilizados durante a realização de atividades individuais com as crianças em suas mesas ou em tapetes, que têm como objetivo delimitar o espaço de ação da criança, bem como assegurar a mesma segurança e tranqüilidade para a execução de suas tarefas. Cada um dos materiais apresentados pode ser, segundo Montessori, utilizado de forma isolada ou de forma conjugada, uma vez que se complementam e podem auxiliar mais rapidamente o desenvolvimento das características necessárias para a ação da criança no meio no qual está inserida. Por exemplo, pode-se estimular uma criança por intermédio dos exercícios de vida prática aliado aos exercícios sensoriais. Cabe ressaltar que Montessori também considerava o desenvolvimento infantil a partir