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ativa, preocupada com a inclusão efetiva de todos no processo educacional. Devemos ainda ter o cuidado de não continuarmos reproduzindo práticas de exclusão que levam ao já conhecido fracasso escolar. Nesse sentido, nosso papel como educadores é o de sempre buscar melhorar nossa atuação na relação direta que estabelecemos com nossos alunos dentro do espaço escolar e fora dele. Uma pedagogia da esperança De acordo com Paulo Freire, a Educação é uma prática política tanto quanto uma prática política é pedagógica, o que exige dos educadores a compreensão de que devem desenvolver com seus alunos um projeto político de sociedade pelo viés pedagógico do respeito às histórias de vida de cada um. Em seu livro Pedagogia da esperança, Paulo Freire nos leva a compreender que todos podemos alcançar uma pedagogia libertadora, uma vez que consigamos sensibilizar nossos olhares, desvelar o mundo, descobrindo tudo o que se esconde atrás da nossa realidade, buscando ler as razões da violência, da pobreza, das desigualdades sociais etc. Desse modo, percebemos que para Paulo Freire o ato de ensinar é central na vida de qualquer educador. Para este último, Paulo Freire sugere não subestimar o educando, uma vez que o mesmo é portador de potencialidades que precisam ser desenvolvidas para que possa alcançar sua autonomia e sua liberdade diante da sociedade. Cabe ao educador conduzir o educando, orientando sua formação, estimulando o surgimento de desejos de libertação e de luta em prol da transformação de sua realidade. A esperança da qual nos fala Paulo Freire é a esperança de um dia podermos ver o surgimento de uma sociedade mais justa e igualitária, que encontra na Educação não apenas um meio para o letramento, mas sim uma forma de alfabetização para a vida, diante da qual, um dia, seremos todos agentes políticos, verdadeiros cidadãos entendedores de nossas realidades e participantes ativos do processo de (re)construção social. Teorias da Aprendizagem 116 Paulo Freire e uma nova filosofia para a Educação (BELLO, 2006) Paulo Freire foi o inspirador de um método revolucionário que alfabetizava em 40 horas, sem cartilha ou material didático. Em Natal, no ano de 1962, no Rio Grande do Norte, surgia a campanha De pé no chão também se aprende a ler, sob a liderança de Moacir de Góis. Em Recife, Pernambuco, o Movimento de Cultura Popular, o MCP, instalava as “praças de cultura” e os “círculos de cultura”. O cunho fundamental dessa “campanha” era menos o alfabetizar, mas, principalmente, reciclar culturalmente uma população que ficara para trás no processo de desenvolvimento, vivenciando posturas próprias do período colonial em pleno século XX. Paulo Freire achava que o problema central do homem não era o simples alfabetizar, mas fazer com que o homem assumisse sua dignidade enquanto homem, sendo, dessa forma, detentor de uma cultura própria e capaz de fazer sua história. Ainda segundo Paulo Freire o homem que detém a crença em si mesmo é capaz de dominar os instrumentos de ação à sua disposição, incluindo a leitura. Com o golpe militar de 1964, a experiência de Paulo Freire, já espalhada por todo o país, foi abortada sob alegações inconsistentes e que sua prática era subversiva, propagadora da desordem e do comunismo. A cartilha do MEB foi rasgada diante das câmeras de televisão, no Programa Flavio Cavalcante, depois de ter sido proibida, no extinto Estado da Guanabara, pelo então governador Carlos Lacerda. As campanhas de alfabetização que tinham objetivos mais abrangentes do que a própria alfabetização chegava ao seu fim, em 1964. Alguns trabalhos dispersos continuaram a ser levados a efeito, mas a proposta de renovação humana estava prejudicada. Paulo Freire concebe a Educação como uma reflexão sobre a realidade existencial que se articula com os acontecimentos vividos, procurando inserir sempre os fatos particulares na globalidade das ocorrências da situação. Já a aprendizagem da leitura e da escrita para ele equivale a uma releitura do mundo. Ele parte da visão de um mundo em aberto, isto é, a ser transformado em diversas direções pela ação dos homens. Paulo Freire atribui importância ao momento pedagógico, mas com meios diferentes, como práxis social, como construção de um mundo refletido com o povo. Para Paulo Freire o diálogo é o elemento chave onde o professor e aluno são sujeitos atuantes. Desse modo, sendo estabelecido o diálogo processar-se-á a conscientização porque: a. há horizontalidade, igualdade nas relações, onde todos procuram pensar e agir criticamente; b. o processo de alfabetização parte da linguagem comum que exprime o pensamento que é sempre um pensar a partir de uma realidade concreta. A linguagem comum é captada no próprio meio onde vai ser executada a sua ação pedagógica; c. o ato pedagógico funda-se no amor e busca a síntese das reflexões sobre as ações de dominação da elite sobre o povo; A pedagogia libertadora de Paulo Freire 117 d. exige humildade, colocando-se a elite em igualdade com o povo para aprender e ensinar, porque percebe que todos os sujeitos do diálogo sabem e ignoram sempre, sem nunca chegar ao ponto do saber absoluto, como jamais se encontram na absoluta ignorância; e. traduz a fé na historicidade de todos os homens como construtores do mundo; f. é uma ação implicada na esperança de que nesse encontro pedagógico sejam vislumbrados meios de tornar o amanhã melhor para todos; e g. supõe paciência de amadurecer com o povo, de modo que a reflexão e a ação sejam realmente sínteses elaboradas com o povo. Façam uma pesquisa sobre os temas: autonomia, libertação, consciência, esperança, opressão, educação bancária e diálogo presentes na obra de Paulo Freire, buscando compreender a relação entre esses temas e o processo educativo desenvolvido pelo autor. Para saber mais sobre Paulo Freire procure ler Convite à leitura de Paulo Freire, de Moacir Gadotti. Madalena Freire e a aprendizagem profissional A matéria-prima do educador não é o conhecimento, é a pessoa humana que conhece, que aprende e ensina. Madalena Freire História pessoal M adalena Freire é filha de Paulo Freire e, como tal, sofreu grande influência de seu pai e seus escritos na constituição de sua própria teoria pedagógica. Assim, como pedagoga, desenvolveu uma proposta preocupada principalmente com a Educação Infantil. Com uma sólida formação acadêmica, Madalena Freire escreveu vários livros e publicou vários artigos nos quais estão registradas suas preocupações com as práticas pedagógicas, com a formação dos professores e os processos de avaliação na Educação Infantil. Seu trabalho mais famoso é o livro A paixão de conhecer o mundo, escrito a partir da sua experiência com crianças de classes populares da Vila Helena. Essa mesma experiência também deu à Madalena Freire a oportunidade de fundar o Espaço Pedagógico, um centro de formação de professores em São Paulo, do qual é coordenadora e no qual estão organizados alguns grupos de discussão sobre a situação da infância e da Educação no Brasil de hoje. O vínculo de Madalena Freire com a Educação Madalena Freire vê na Educação uma possibilidade de humanização da sociedade, demonstrando grande preocupação com as relações estabelecidas no interior das escolas. Por isso mesmo, entende a Educação como um espaço político-pedagógico que tem como mola mestra a paixão que o professor deve ter pelo ato de ensinar e que o aluno deve ter para descobrir as coisas do mundo. Com isso, Madalena Freire acaba por enfatizar os processos humanísticos da Educação, como a questão da afetividade, afirmando que a construção do conhecimento e a aprendizagem ocorrem em estreita relação com o desenvolvimento afetivo. O afeto, desse modo, passa também a ser percebido na obra de Madalena Freire como uma herança deixada