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MATERIAL DIDÁTICO SANEAMENTO II – TRATAMENTO E MANEJO DE ESGOTOS U N I V E R S I DA D E CANDIDO MENDES CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 Impressão e Editoração 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas SUMÁRIO UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................. 03 UNIDADE 2 – ESGOTOS OU ÁGUAS RESIDUAIS ............................................... 06 UNIDADE 3 – LODO DE ESGOTO ........................................................................ 10 UNIDADE 4 – COLETA E TRATAMENTO DE ESGOTOS .................................... 15 4.1 Rede coletora .................................................................................................... 15 4.2 Processos e etapas do tratamento de esgoto ................................................... 17 4.3 Etapas de tratamento do lodo ........................................................................... 23 UNIDADE 5 – HIGIENIZAÇÃO DE LODOS ........................................................... 31 5.1 O que é e para que serve .................................................................................. 31 5.2 Mecanismos de higienização ............................................................................ 32 5.3 Processos de higienização ................................................................................ 35 UNIDADE 6 – CONTAMINANTES E CONTAMINAÇÃO ....................................... 38 6.1 Principais contaminantes do lodo ...................................................................... 38 6.2 Agentes patogênicos encontrados no esgoto .................................................... 39 6.3 Contaminação de corpos de água por nutrientes do esgoto ............................. 40 UNIDADE 7 – REUSO DE ÁGUA DE ESGOTOS .................................................. 50 7.1 Na agricultura .................................................................................................... 50 7.2 Em hidroponia ................................................................................................... 54 7.3 Na piscicultura ................................................................................................... 60 UNIDADE 8 – FOSSAS E TANQUES .................................................................... 63 8.1 Classificação dos tipos de sistemas .................................................................. 64 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 71 3 Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO Tão importante quanto o tratamento dado à água para que chegue livre de microrganismos até o consumidor final, é o tratamento de esgotos e as possibilidades de usá-lo na agricultura, na piscicultura, na hidroponia. Relembremos que saneamento é o conjunto de medidas, visando a preservar ou modificar as condições do meio ambiente com a finalidade de prevenir doenças e promover a saúde. Saneamento básico se restringe ao abastecimento de água e disposição de esgotos, mas há quem inclua o lixo nesta categoria. Outras atividades de saneamento são: controle de animais e insetos, saneamento de alimentos, escolas, locais de trabalho e de lazer e habitações. Normalmente qualquer atividade de saneamento tem os seguintes objetivos: controlar e prevenir doenças, melhorar a qualidade de vida da população, melhorar a produtividade do indivíduo e facilitar a atividade econômica. O sistema de esgotos existe para afastar a possibilidade de contato de despejos, esgoto e dejetos humanos com a população, águas de abastecimento, vetores de doenças e alimentos. O sistema de esgotos ajuda a reduzir despesas com o tratamento, tanto da água de abastecimento quanto das doenças provocadas pelo contato humano com os dejetos, além de controlar a poluição das praias. O esgoto (também chamado de águas servidas) pode ser de vários tipos: sanitário (água usada para fins higiênicos e industriais), sépticos (em fase de putrefação), pluviais (águas pluviais), combinado (sanitário + pluvial), cru (sem tratamento), fresco (recente, ainda com oxigênio livre). O esgoto sanitário é ainda um dos principais problemas na preservação das águas no Brasil. Em grande parte do país, o esgoto ainda é lançado diretamente nos corpos de água, gerando problemas de poluição e até de contaminação, devido à presença de compostos tóxicos e/ou organismos patogênicos. No ano de 2000, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2000), no Brasil, quase todo o esgoto sanitário coletado nas cidades ainda era despejado in natura em corpos de água ou no solo, sendo apenas tratado em 20,2% dos municípios. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 4 Segundo dados do Sistema Nacional de Informações em Saneamento (SNIS, 2007), em 2006, esta situação pouco se alterou. Apesar do índice médio de atendimento urbano para o abastecimento de água mostrar um valor relativamente elevado, em torno de 93,1%, o índice médio de coleta de esgoto sanitário ainda era muito baixo, tendo um índice médio nacional de 48,3%, sendo tratados apenas 32,2% deste esgoto. Uma solução para a preservação das águas é o investimento em saneamento e no tratamento do esgoto sanitário coletado. No entanto, a escolha de um sistema de tratamento de esgoto sanitário a ser instalado em um município deve levar em consideração, além da adequação técnica do projeto e da aplicação adequada dos recursos financeiros, a eficiência de remoção de poluentes e matéria orgânica, uma vez que deverá atender aos requisitos ambientais do local a ser implantado. No processo de tomada de decisão, dentre os critérios frequentemente avaliados, tais como: eficiência de remoção, necessidade de área, simplicidade do processo, custo econômico, etc., os engenheiros e técnicos responsáveis pelos projetos de estação de tratamento de esgoto podem divergir entre várias estratégias. Por exemplo, eles podem adotar sistemas que minimizem o custo total, compreendendo a implantação, operação e manutenção do mesmo, ou podem adotar sistemas que minimizem os impactos ambientais. Todavia, se não forem levados em consideração, os vários critérios envolvidos, a interação entre esses tomadores de decisão e suas respectivas estratégias pode fazer com que a escolha do sistema de tratamento não seja a mais adequada (LEONETI; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2010). Estudaremos em detalhes algumas das questões apresentadas até o momento. Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regraspara nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 5 incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 6 UNIDADE 2 – ESGOTOS OU ÁGUAS RESIDUAIS A palavra esgoto costuma ser usada para definir tanto a tubulação condutora das águas servidas de uma comunidade, como também o próprio líquido que flui por estas canalizações. Hoje este termo é usado quase que apenas para caracterizar os despejos provenientes das diversas modalidades do uso e da origem das águas, tais como as de uso doméstico, comercial, industrial, as de utilidades públicas, de áreas agrícolas, de superfície, de infiltração, pluviais e outros efluentes sanitários. Tecnicamente, esgoto é o termo usado para as águas que, após a utilização humana, apresentam as suas características naturais alteradas conforme o uso predominante: comercial, industrial ou doméstico. Essas águas apresentam características diferentes e são genericamente designadas de águas residuais (ou águas servidas) (CORSSATTO et al., 2006). As excreções humanas podem transmitir uma série de doenças, tais como: hepatite A, febre tifóide, cólera, amebíase, giardíase, verminoses e diarreias infecciosas. Por esse motivo, é fundamental dar um destino adequado ao esgoto domiciliar, impedindo que ele entre em contato com o ser humano, águas de abastecimento, alimentos, vetores (moscas, baratas, ratos e outros). Os dejetos industriais são igualmente nocivos ao homem pela contaminação de produtos que o afetam diretamente e também os animais, tais como substâncias tóxicas, metais pesados, entre outros. Os dejetos industriais também lançam no meio ambiente, substâncias que interferem no conjunto dos ecossistemas degradando o mesmo (CORSSATTO et al., 2006). Os esgotos costumam ser classificados em dois grupos principais: os esgotos sanitários e os industriais. Os primeiros são constituídos essencialmente de despejos domésticos, uma parcela de águas pluviais, águas de infiltração e, eventualmente, uma parcela não significativa de despejos industriais, tendo características bem definidas. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 7 Na classificação de Corssatto et al. (2006), o esgoto gerado nas cidades pode ser dividido em doméstico, pluvial e industrial, existindo três tipos de sistema de esgoto: 1. sistema unitário – é a coleta dos esgotos pluviais, domésticos e industriais em um único coletor. Tem custo de implantação elevado, assim como o tratamento também é caro; 2. sistema separador – o esgoto doméstico e industrial ficam separados do esgoto pluvial. É o usado no Brasil. O custo de implantação é menor, pois as águas pluviais não são tão prejudiciais quanto o esgoto doméstico, que tem prioridade por necessitar tratamento. Assim como o esgoto industrial nem sempre pode se juntar ao esgoto sanitário sem tratamento especial prévio; 3. sistema misto – a rede recebe o esgoto sanitário e uma parte de águas pluviais. Os esgotos domésticos ou domiciliares provêm principalmente de residências, edifícios comerciais, instituições ou quaisquer edificações que contenham instalações de banheiros, lavanderias, cozinhas, ou qualquer dispositivo de utilização da água para fins domésticos. Compõem-se essencialmente da água de banho, urina, fezes, papel, restos de comida, sabão, detergentes, águas de lavagem. A composição dos esgotos depende dos usos das águas de abastecimento e varia com o clima, os hábitos e as condições socioeconômicas da população e da presença de efluentes industriais, infiltração de águas pluviais, idade das águas residuárias, etc. Os esgotos domésticos são constituídos aproximadamente de 99,9% de líquido e o restante 0,1% de material sólido, contém basicamente matéria orgânica e mineral (em solução e suspensão), assim como alta quantidade de bactérias e outros organismos patogênicos e não patogênicos (FERNANDES, 2000; CORSSATTO et al., 2006). Os esgotos industriais, extremamente diversos, provêm de qualquer utilização da água para fins industriais, e adquirem características próprias em Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 8 função do processo industrial empregado. Assim sendo, cada indústria deverá ser considerada separadamente, uma vez que seus efluentes diferem até mesmo em processos industriais similares (JORDÃO; PESSOA, 1995). As características físicas do esgoto podem ser interpretadas pela obtenção das grandezas correspondentes às seguintes determinações: matéria sólida, temperatura, odor, cor e turbidez (COPASA-MG, 2013). Das características físicas, o teor de matéria sólida é o de maior importância, em termos de dimensionamento e controle de operações das unidades de tratamento. A remoção da matéria sólida é fonte de uma série de operações unitárias de tratamento, ainda que represente apenas cerca de 0,08% dos esgotos (água compõe os restantes 99,92%) (JORDÃO; PESSOA, 1995). A composição química das diversas substâncias presentes nos esgotos domésticos é extremamente variável, dependendo dos hábitos da população e diversos outros fatores. Esta variação vem sendo verificada devido a utilização de modernos produtos químicos de limpeza utilizados nas residências. O grau de complexidade da composição química de tais substâncias vem aumentando significativamente, sendo exemplo notório a presença de detergentes em concentrações cada vez maiores, bem como alguns inseticidas e bactericidas, que já merecem estudos específicos de região para região (ROQUE, 1997). A origem dos esgotos permite classificar as características químicas em dois grandes grupos: da matéria orgânica e da matéria inorgânica (COPASA-MG, 2013). Os principais grupos de microrganismos que devem ser analisados como importantes para os processos de tratamento são os utilizados nos processos biológicos, os indicadores de poluição e especialmente os patógenos, que são aqueles capazes de transmitir doenças por veiculação hídrica. Os principais organismos encontrados nos esgotos são: as bactérias, os fungos, os protozoários, os vírus, as algas e os grupos de plantas e animais. As bactérias constituirão talvez o elemento mais importante deste grupo de microrganismos, responsáveis que são pela decomposiçãoe estabilização da matéria orgânica, tanto na natureza como nas unidades de tratamento biológico. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 9 As algas não interferem diretamente nas unidades convencionais de tratamento, salvo nas lagoas de estabilização onde desempenham um papel importante na oxidação aeróbia e redução fotossintética das lagoas (JORDÃO; PESSOA, 1995). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 10 UNIDADE 3 – LODO DE ESGOTO Segundo Von Sperling e Andreoli (2001), na introdução do livro “Lodo de esgotos: tratamento e disposição final”, o gerenciamento do lodo de esgoto proveniente de estações de tratamento é uma atividade de grande complexidade e alto custo, que, ser for mal executada, pode comprometer os benefícios ambientais e sanitários esperados destes sistemas. A importância desta prática foi reconhecida pela Agenda 21, que inclui o tema ‘Manejo ambientalmente saudável dos resíduos sólidos e questões relacionadas com esgotos’, definindo as seguintes orientações para a sua gestão: a redução da produção, o aumento máximo da reutilização e da reciclagem e a promoção de depósitos e tratamento ambientalmente saudáveis. As exigências crescentes da sociedade e das agências ambientais por melhores padrões de qualidade ambiental tem se refletido nos gestores públicos e privados dos serviços de saneamento. Devido aos baixos índices de tratamento de esgotos ainda verificados no País, há uma perspectiva de um aumento significativo no número de estações de tratamento de esgotos e, em decorrência, da produção de lodo. Os órgãos ambientais de alguns estados passaram a exigir a definição técnica da disposição final do lodo nos processos de licenciamento. Estes aspectos demonstram que a gestão de biossólidos é um problema crescente em nosso País, com uma tendência de um rápido agravamento nos próximos anos. O termo “lodo” tem sido utilizado para designar os subprodutos sólidos do tratamento de esgotos. Nos processos biológicos de tratamento, parte da matéria orgânica é absorvida e convertida, fazendo parte da biomassa microbiana, denominada genericamente de lodo biológico ou secundário, composto principalmente de sólidos biológicos, e por esta razão também denominado de biossólido. Para que este termo possa ser adotado é necessário ainda, que suas características químicas e biológicas sejam compatíveis com uma utilização produtiva, como, por exemplo, na agricultura. O termo “biossólido” é uma forma de ressaltar os seus aspectos benéficos, valorizando a utilização produtiva, em comparação com a mera disposição final improdutiva, por meio de aterros, Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 11 disposição superficial no solo ou incineração (ANDREOLI; SPERLING; FERNANDES, 2001). As pesquisas e o desenvolvimento relacionados ao tratamento e disposição de lodo de esgoto têm aumentado nos últimos anos. Há também um aumento no conhecimento da taxa de produção, métodos de caracterização, técnicas de manejo e processamento, benefícios e riscos da utilização do lodo na agricultura e também do comportamento do lodo no meio ambiente. Os lodos diferem consideravelmente, tal que duas estações de tratamento de esgotos não produzem um lodo de mesmas características, de forma que não há uma solução geral para todas as situações. No caso do lodo de esgoto, os componentes perigosos são os metais pesados, as bactérias, vírus, protozoários e helmintos. A descarga desses componentes, bem como a dos nutrientes nitrogênio e fósforo na superfície e no lençol freático, deve ser minimizada para que se evite a degradação da qualidade da água (SANTOS, 1996). A quantidade e a qualidade do lodo produzido variam de lugar para lugar, depende do processo de tratamentos de esgoto, do processo de tratamento dos lodos, da sua secagem (um lodo seco ainda contém 50% de umidade) e ainda da população contribuinte e/ou dos efluentes industriais que por ventura são lançados na rede coletora formando uma significante parcela do esgoto municipal (CHAGAS, 2000). A necessidade do destino adequado de lodos oriundos de estações de tratamento de esgotos despertou o interesse pelo baixo custo, pelo aproveitamento dos nutrientes e por benefícios nas propriedades físicas do solo que a matéria orgânica tratada pode ocasionar. O baixo custo pela presença de nutrientes substituindo em boa parte a necessidade de fertilizantes artificiais químicos, que vem de encontro nas propriedades que a matéria orgânica presente confere, na melhora das condições de retenção de água porosidade total do solo e na diminuição da densidade deste próprio solo (FIEST; ANDREOLI; MACHADO, 1998). A confirmar estes dados, estudos realizados na Itália e na Sanepar levam em consideração que o conceito de reciclagem agrícola dos nutrientes do lodo de esgotos é viável e desejável (CHAGAS, 2000). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 12 O lodo de esgotos é um fertilizante de baixo teor e de composição extremamente variável. Comparativamente aos fertilizantes químicos tradicionais, as diferenças desfavoráveis aos lodos, inerentes aos custos de transporte, manuseio, aplicação e monitoramento, decrescem ao longo dos anos, em virtude do incremento dos custos da energia necessária à produção dos fertilizantes comerciais. Os maiores problemas relativos à aplicação do lodo é devido à sua aceitação pelo público, aos patógenos, aos riscos de contaminação do aquífero freático pela sobrecarga de nutrientes, à diminuição do seu aproveitamento pelas concentrações excessivas de metais pesados e os riscos de contaminação da cadeia alimentar por elementos tóxicos. Ainda que os problemas advindos da sobrecarga de nitrogênio podem ser controlados pelo uso de taxas de aplicação anuais equivalentes as demandas de nitrogênio pelas culturas receptoras, a fitotoxicidade, devida aos metais pesados, é conhecida como difícil de ser predita, razão pela qual tem influência decisiva na vida útil do sítio onde o lodo está sendo aplicado (SANTOS, 1996). A presença de metais pesados no solo, em concentrações baixas, pode ser benéfica para microrganismos e plantas, porém em concentrações mais elevadas, esses metais podem tornar-se precariamente perniciosos para os organismos vivos, pela sua introdução na cadeia alimentar. Os metais pesados representam um grupo de poluentes que requer um tratamento especial, pois não são degradados biologicamente ou quimicamente de forma natural, principalmente em ambientes terrestres e em sedimentos aquáticos. Ao contrário, são acumulados e podem tornar-se ainda mais nocivos quando reagem com alguns componentes dos solos e sedimentos A matéria orgânica do solo exerce uma função nutricional importante no crescimento das plantas, como fonte de micronutrientes. As substânciashúmicas, matéria orgânica em determinado estágio de degradação, possuem grupos funcionais em sua estrutura molecular que lhes inferem excepcional reatividade para complexar metais. A habilidade complexante de ácidos húmicos e fúlvicos deve-se ao alto teor de grupos funcionais contendo oxigênio, tais como carboxilas, hidroxilas fenólicas e carbonilas de vários tipos (JORDÃO et al., 1993). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 13 Ácidos húmicos, em virtude de seu estado coloidal e sua estrutura local macromolecular, retém íons metálicos de vários modos, tais como por adsorção, atração eletrostática ou quelação. A formação de complexos organometálicos depende das propriedades físico-químicas do solo, do grau de humificação da matéria orgânica e principalmente do valor do pH. A migração e a acumulação de metais nos sistemas naturais aquáticos e terrestres estão associadas com a presença e natureza das substâncias húmicas. Uma avaliação prévia de solos para monitoramento e delimitação de áreas disponíveis para a agricultura já é uma prática comum em países desenvolvidos. Em estudos ambientais, a análise tanto de solos como de sedimentos de leito de rios, lagos e estuários para determinar níveis tóxicos dos elementos, principalmente metais pesados, tem sido largamente utilizada. Um metal que apresenta pouca afinidade por um solo, ou seja, a capacidade deste solo de reter o metal sendo baixa, deve constituir um problema sério de poluição para as águas vizinhas; enquanto que uma alta afinidade do metal pelo solo deve resultar em acumulação do metal nos horizontes da superfície do solo, e então, afetar potencialmente a biota terrestre. As pesquisas mais recentes tem demonstrado, que a matriz lodo-compostos orgânicos-elementos químicos, exerce forte influência na biodisponibilidade dos poluentes para as plantas, mesmo depois do lodo ter sido misturado com o solo. Algumas ligações dos poluentes no solo impedem que as raízes das plantas os absorvam, mesmo após quase 100 anos da aplicação do lodo (SANTOS, 1996). Com relação à presença de microrganismo no lodo aplicado no solo, as bactérias tem pouco tempo de sobrevivência pela competição e predação dos microrganismos do próprio solo, principalmente de protozoários de vida livre, considerados importantes predadores de coliformes comprovados por estudos de ANDRAUS et al. (1997), através dos quais as bactérias entéricas aplicadas em solo estéril sob controle, sobreviveram mais tempo do que aquelas semeadas em solo não estéril. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 14 De acordo com estudos do autor acima citado, cistos de protozoários no solo e plantas são rapidamente mortos pelos fatores ambientais, portanto considera como mínima a ameaça à saúde pública e de animais contrariando as próprias recomendações da Organização Mundial de Saúde – OMS (1986) e da Fundação Nacional de Saúde – FNS/MS (1999 apud CHAGAS, 2000). Em resumo, os autores divergem sobre a presença, ausência ou tempo de sobrevivência de diversos microrganismos presentes, tendo em vista que um grande número de fatores ambientais influenciam os dados e que variam nas diferentes composições do solo. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 15 UNIDADE 4 – COLETA E TRATAMENTO DE ESGOTOS 4.1 Rede coletora A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) explica, didaticamente, que depois do uso da água, seja no banho, na limpeza de roupas, de louças ou na descarga do vaso sanitário, o esgoto começa a ser formado. Os resíduos são divididos em 3 tipos diferentes. Os que vêm das residências formam os esgotos domésticos, os das águas da chuva são chamados de esgotos pluviais e os formados em fábricas recebem o nome de esgotos industriais. Esta diferenciação é importante, porque cada tipo possui substâncias diferentes, e são necessários sistemas específicos para o tratamento dos resíduos. Geralmente, o esgoto não tratado contém muitos transmissores de doenças, microrganismos, resíduos tóxicos e nutrientes que provocam o crescimento de outros tipos de bactérias, vírus ou fungos. Os sistemas de coleta e tratamento de esgotos são importantes para a saúde pública, porque evitam a contaminação e transmissão de doenças, além de preservar o meio ambiente. Nas casas, comércios ou indústrias, ligações com diâmetro pequeno formam as redes coletoras. Estas redes são conectadas aos coletores-tronco (tubulações instaladas ao lado dos córregos), que recebem os esgotos de diversas redes. Dos coletores-tronco, os esgotos vão para os interceptores, que são tubulações maiores, normalmente próximas aos rios. De lá, o destino será uma Estação de Tratamento, que tem a missão de devolver a água, em boas condições, ao meio ambiente, ou reutilizá-la para fins não potáveis. A figura abaixo ilustra bem a coleta de esgoto. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 16 A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) também explica que as tubulações hidráulico-sanitárias que saem das residências, comércios e indústrias, os chamados ramais internos, são de responsabilidade do proprietário até a interligação no PL (Poço Luminar) localizado no passeio. Estas conduzem os esgotos para as ligações prediais que se interligam às redes coletoras por meio dos coletores secundários. O esgoto coletado nas redes escoa por gravidade, utilizando no máximo 75% da sessão da tubulação. Assim, é necessário que as tubulações sejam implantadas com declividades adequadas para garantir o escoamento por gravidade e o arraste dos sólidos contidos nos esgotos. Os coletores secundários conduzem os esgotos para os coletores tronco. O coletor tronco é o coletor principal, que recebe a contribuição dos coletores secundários, conduzindo os efluentes para um interceptor ou emissário. O interceptor é uma tubulação que recebe os coletores ao longo de sua extensão, não recebendo ligações prediais diretas. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 17 O emissário é uma tubulação que transporta os esgotos a um destino (estação de tratamento, lançamento final, elevatória), sem receber nenhuma contribuição ao longo de sua extensão. Em algumas situações são necessárias as estações elevatórias, que objetivam transferir os esgotos de uma cota mais baixa para outra mais alta, por meio de bombeamento (COPASA-MG, 2013). 4.2 Processos e etapas do tratamento de esgoto O tratamento de esgotos consiste na remoção de poluentes e o método a ser utilizado depende das características físicas, químicas e biológicas. Na Região Metropolitana de São Paulo,por exemplo, o método utilizado nas grandes estações de tratamento é por lodos ativados, onde há uma fase líquida e outra sólida. O método, desenvolvido na Inglaterra, em 1914, é amplamente utilizado para tratamento de esgotos domésticos e industriais. O trabalho consiste num sistema no qual uma massa biológica cresce, forma flocos e é continuamente recirculada e colocada em contato com a matéria orgânica, sempre com a presença de oxigênio (aeróbio). O processo é estritamente biológico e aeróbio, no qual o esgoto bruto e o lodo ativado são misturados, agitados e aerados em unidades conhecidas como tanques de aeração. Após este procedimento, o lodo é enviado para o decantador secundário, onde a parte sólida é separada do esgoto tratado. O lodo sedimentado retorna ao tanque de aeração ou é retirado para tratamento específico. No Interior, além das estações convencionais a Sabesp dispõe de lagoas de tratamento. Já no Litoral, as instalações adotam o método de lodos ativados e em algumas cidades há emissários submarinos para lançar os esgotos tratados no mar. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 18 Os processos de tratamento dos esgotos são formados por uma série de operações unitárias empregadas para a remoção de substâncias indesejáveis, ou para transformação destas substâncias em outras de forma aceitável. A remoção dos poluentes no tratamento, de forma a adequar o lançamento a uma qualidade desejada ou ao padrão de qualidade estabelecido pela legislação vigente, está associada aos conceitos de nível e eficiência de tratamento. O tratamento dos esgotos é usualmente classificado através dos seguintes níveis: preliminar, primário, secundário e terciário. O tratamento preliminar objetiva principalmente a remoção de sólidos grosseiros e de areia, por meio de mecanismos de ordem física. O tratamento primário destina-se, por meio de mecanismos de ordem física, à remoção de sólidos flutuantes (graxas e óleos) e à remoção de sólidos em suspensão sedimentáveis e, em decorrência, parte da matéria orgânica. No tratamento secundário, predominam os mecanismos biológicos, e o objetivo é principalmente a remoção de matéria orgânica e eventualmente nutrientes (nitrogênio e fósforo). O tratamento terciário objetiva a remoção de poluentes específicos, ou ainda remoção complementar de poluentes não suficientemente removidos no tratamento secundário. A remoção de nutrientes e de organismos patogênicos pode ser considerada como integrante do tratamento secundário ou do tratamento terciário, dependendo do processo adotado. Os principais processos de tratamento de esgotos utilizados na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) são: 1. sistemas anaeróbios – o tratamento anaeróbio é efetuado por bactérias que não necessitam de oxigênio para sua respiração. Há três tipos bastante comuns: o tanque séptico, o filtro anaeróbio e o reator UASB. 1a. Tanque Séptico - o princípio do processo consiste, basicamente, em uma unidade onde se realizam, simultaneamente, várias funções: decantação, flotação, Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 19 desagregação e digestão parcial dos sólidos sedimentáveis (lodo) e da crosta constituída pelo material flotante (escuma). Sendo, os tanques sépticos, reatores de fluxo horizontal, tendo lodo passivo em relação à fase líquida, o processo biológico que ocorre na fração líquida é de pouca importância. O principal fenômeno que ocorre sobre o efluente é de ação física, através de decantação. 1b. Filtro Anaeróbio – neste reator a matéria orgânica é estabilizada através de microrganismos que se desenvolvem e ficam retidos nos interstícios ou aderidos ao meio suporte que constitui o leito fixo (usualmente pedras ou material plástico), através do qual os esgotos fluem. São, portanto, reatores com fluxo através do lodo ativo e com biomassa aderida, ou retida, no leito fixo. Os filtros anaeróbios podem ser de fluxo ascendente ou descendente. Nos filtros de fluxo ascendente, o leito é submerso e no fluxo descendente, podem trabalhar submersos ou não. 1c. Reator UASB – no reator UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket), ou reator anaeróbio de fluxo ascendente e manta de lodo, o princípio do processo consiste na estabilização da matéria orgânica, anaerobiamente, por microrganismos que crescem dispersos no meio líquido. A parte superior do reator UASB possui um separador trifásico, que apresenta uma forma cônica ou piramidal, permitindo a saída do efluente clarificado, a coleta do biogás gerado no processo e a retenção dos sólidos dentro do sistema. Esses sólidos retidos constituem a biomassa, que permanece no reator por tempo suficientemente elevado para que a matéria orgânica seja degradada. O lodo retirado periodicamente do sistema já se encontra estabilizado, necessitando apenas de secagem e disposição final. De maneira resumida: é um reator fechado. O tratamento biológico ocorre por processo anaeróbio, isto é, sem oxigênio. A decomposição da matéria orgânica é feita por microrganismos presentes num manto de lodo. O esgoto sai da parte de baixo do reator e passa pela camada de lodo que atua como um filtro. A eficiência atinge de 65% a 75% e, por isso, é necessário um tratamento complementar que pode ser feito através da lagoa facultativa. É um mecanismo compacto e de fácil operação (Sabesp). 2. Lagoas de Estabilização – as lagoas de estabilização são sistemas de tratamento biológico em que a estabilização da matéria orgânica é realizada pela Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 20 oxidação bacteriológica (oxidação aeróbia ou fermentação anaeróbia) e/ou redução fotossintética das algas. De acordo com a forma predominante pela qual se dá a estabilização da matéria orgânica, as lagoas costumam ser classificadas em: facultativas, anaeróbias, aeradas e de maturação. 2a. Lagoa Facultativa – neste processo, o esgoto afluente entra continuamente em uma extremidade da lagoa e sai continuamente na extremidade oposta. Ao longo deste percurso, que demora vários dias, uma série de eventos contribui para a purificação dos esgotos. Parte da matéria orgânica em suspensão tende a sedimentar, vindo a constituir o lodo de fundo. Este lodo sofre processo de decomposição por microrganismos anaeróbios. A matéria orgânica dissolvida, conjuntamente com a matéria orgânica em suspensão de pequenas dimensões, não sedimenta, permanecendo dispersa na massa líquida, onde sua decomposição se dá por bactérias facultativas, que têm a capacidade de sobreviver tanto na presença, quanto na ausência de oxigênio. Geralmente, tem de 1,5 a 3 metros de profundidade e o termo “facultativo” refere-se à mistura de condições aeróbias e anaeróbias (com e sem oxigenação). Em lagoas facultativas, as condições aeróbias são mantidas nas camadas superiores das águas, enquanto as condições anaeróbias predominam em camadas próximas ao fundo da lagoa. Embora parte do oxigênio necessário para manter as camadas superiores aeróbias seja fornecido pelo ambiente externo, a maior parte vem da fotossíntese das algas,que crescem naturalmente em águas com grandes quantidades de nutrientes e energia da luz solar. As bactérias que vivem nas lagoas utilizam o oxigênio produzido pelas algas para oxidar a matéria orgânica. Um dos produtos finais desse processo é o gás carbônico, que é utilizado pelas algas na sua fotossíntese. Este tipo de tratamento reduz grande parte do lodo, e é ideal para comunidades pequenas, normalmente situadas no Interior do Estado (Sabesp, 2013). 2b. Lagoa Anaeróbia – neste processo, a lagoa possui menores dimensões e maior profundidade. Devido às menores dimensões e à maior profundidade dessa lagoa, a fotossíntese praticamente não ocorre. Predominam as condições Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 21 anaeróbias, pois no balanço entre o consumo e a produção de oxigênio, o consumo é amplamente superior. As bactérias anaeróbias têm taxa metabólica e de reprodução mais lenta do que as bactérias aeróbias. Por isso, para um período de permanência de 2 a 5 dias na lagoa, a decomposição da matéria orgânica é parcial. 2c. Lagoa Aerada Facultativa – neste processo, consegue-se um sistema predominantemente aeróbio e de dimensões reduzidas. A principal diferença com relação à lagoa facultativa convencional é quanto à forma de suprimento de oxigênio. Enquanto na lagoa facultativa o oxigênio é advindo principalmente da fotossíntese, no caso da lagoa aerada facultativa o oxigênio é obtido através de equipamentos denominados aeradores. A lagoa é denominada de facultativa pelo fato do nível de energia introduzido pelos aeradores ser suficiente apenas para a oxigenação, mas não para manter os sólidos em suspensão na massa líquida. Assim, os sólidos tendem a sedimentar e formar uma camada de lodo de fundo, a ser decomposta anaerobiamente. 2d. Lagoa de Maturação – este processo possibilita um polimento no efluente de qualquer dos sistemas descritos. O principal objetivo destas lagoas é a remoção de organismos patogênicos, e não da remoção adicional de matéria orgânica. Diversos fatores contribuem para a remoção de patógenos, como temperatura, insolação, pH, escassez de alimento, organismos predadores, competição, compostos tóxicos, etc. Vários destes mecanismos se tornam mais efetivos com menores profundidades da lagoa, o que justifica o fato das lagoas de maturação serem mais rasas e, consequentemente, requererem grande área de implantação. São lagoas de baixa profundidade, entre 0,5 a 2,5 metros, que possibilitam a complementação de qualquer outro sistema de tratamento de esgotos. Ela faz a remoção de bactérias e vírus de forma mais eficiente devido à incidência da luz solar, já que a radiação ultravioleta atua como um processo de desinfecção (Sabesp, 2013). 3. Reatores Aeróbios com Biofilmes – a matéria orgânica é estabilizada por bactérias que crescem aderidas a um meio suporte (usualmente pedras ou material plástico). Há sistemas nos quais a aplicação de esgotos se dá na superfície, sendo o Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 22 fluxo de esgoto descendente e havendo a necessidade de decantação secundária; há também sistemas submersos com introdução de oxigênio, com fluxo de ar ascendente, e fluxo de esgoto ascendente ou descendente. 3a. Filtro Biológico Percolador – nestes reatores, a matéria orgânica é estabilizada por via aeróbia, por meio de bactérias que crescem aderidas a um meio suporte, que pode ser constituído de pedras, ripas, material plástico ou qualquer outro que favoreça a percolação do esgoto aplicado. Usualmente o esgoto é aplicado por meio de braços giratórios. O fluxo contínuo do esgoto, em direção ao fundo do tanque, permite o crescimento bacteriano na superfície do meio suporte, possibilitando a formação de uma camada biológica, denominada biofilme. O contato do esgoto com a camada biológica possibilita a degradação da matéria orgânica. A aeração desse sistema é natural, ocorrendo nos espaços vazios entre os constituintes do meio suporte. 4. Disposição no Solo – os esgotos são aplicados ao solo, fornecendo água e nutrientes necessários para o crescimento das plantas. Parte do líquido é evaporada, parte pode infiltrar pelo solo, e parte é absorvida pelas plantas. Em alguns sistemas, a infiltração no solo é elevada, e não há efluente. Em outros sistemas, a infiltração é baixa, saindo o esgoto tratado (efluente) na extremidade oposta do terreno. Os tipos de disposição no solo mais usuais são: infiltração lenta, infiltração rápida, infiltração sub-superficial, escoamento superficial e terras úmidas construídas. 4a.Escoamento Superficial no Solo – esta forma de disposição/tratamento consiste na aplicação controlada de efluentes, fazendo escoarem no solo, rampa abaixo, até alcançar canais de coleta. A aplicação deve ser intermitente. 5. Lodos Ativados – este processo consiste em um reator onde a grande concentração de biomassa fica em suspensão no meio líquido. Quanto mais bactérias houver em suspensão, maior será o consumo de alimento, ou seja, maior será a assimilação da matéria orgânica presente no esgoto bruto. A biomassa (bactérias) que cresce no tanque de aeração, devido à sua propriedade de flocular, é removida por sedimentação em um decantador secundário, permitindo que o efluente saia clarificado. Para garantir a elevada concentração de biomassa no Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 23 reator, o lodo sedimentado é recirculado para a unidade de aeração. Este é o princípio básico do sistema de lodos ativados, possuindo assim, dependendo das variantes, o decantador primário, o tanque de aeração, o decantador secundário e elevatória de recirculação. 6. Flotação – neste processo o ar é dissolvido sob pressão no esgoto a tratar, em um tanque de pressurização, sendo em seguida liberado no tanque de flotação à pressão atmosférica. O ar liberado ganha a superfície do tanque, carreando a matéria sólida, que tende a flotar. Esta matéria flutuante forma uma camada superior, que é raspada por um braço raspador apropriado e coletada em dispositivos especiais para ser então removida. Em alguns processos são utilizados produtos químicos para auxiliar a formação dos flocos. 7. Ultravioleta – como as lagoas de maturação, este processo objetiva a remoção de organismos patogênicos. O esgoto tratado entra em uma das extremidades do reator, passando por um conjunto de lâmpadas ultravioleta e sai pela extremidade oposta. A energia ultravioleta é absorvida pelos microrganismos causando alterações estruturais no DNA que impedem a reprodução. A baixa concentração de sólidos é de grande importância para a eficiência do tratamento. 8. Tratamento e Disposição do Lodo – todos os sistemas de tratamento de esgotos geram subprodutos: escuma, material gradeado, areia, lodo primário e lodo secundário. O material gradeado, a escuma e a areia devem seguir para disposição final em aterro sanitário. No entanto, os lodos primário e secundário necessitam de tratamento antes da disposição final. 4.3 Etapas de tratamento do lodo O tratamento do lodo tem basicamente dois objetivos: a redução de volumee a redução de teor de matéria orgânica. Para alcançar estes objetivos, o tratamento do lodo usualmente inclui uma ou mais das seguintes etapas: adensamento (adensadores por gravidade, flotadores por ar dissolvido, centrífugas e prensas desaguadoras); Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 24 estabilização (digestão anaeróbia/aeróbia, tratamento químico por alcalinização, secagem térmica por peletização); desidratação (leitos de secagem, centrífugas, prensas desaguadoras e filtros prensa) (Copasa-MG, 2013). Para Sperling e Gonçalves (2001), as principais etapas de gerenciamento do lodo (representados na ilustração abaixo, lembrando que certas etapas são opcionais e em cada etapa há várias variantes do processo), com os respectivos objetivos, são: adensamento – remoção de umidade (redução de volume); estabilização – remoção da matéria orgânica (redução de sólidos voláteis); condicionamento – preparação para a desidratação (principalmente mecânica); desaguamento – remoção de umidade (redução de volume); higienização – remoção de organismos patogênicos; disposição final – destinação final dos subprodutos. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 25 Fonte: Sperling e Gonçalves (2001, p. 35) Os métodos de tratamento, nos quais predomina a aplicação de princípios físicos, são denominados de operações unitárias; e os métodos de tratamento nos quais a eliminação de contaminantes se efetua por atividade química ou biológica se conhecem como processos unitários. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 26 Na atualidade, a maioria destes métodos está sendo investigados intensamente desde o ponto de vista de execução e aplicação. Como resultado dele, foi desenvolvido e posto em prática muitas modificações, onde é necessário pesquisar mais. No passado, os processos e operações unitárias se agrupavam para proporcionar o que se conhecia como tratamento primário e secundário. No tratamento primário se empregam operações de tipo físico, tais como a remoção, no gradeamento, da parcela de matéria em suspensão ou em flutuação que se encontram nos esgotos sanitários. No tratamento secundário se utilizam processos biológicos para eliminar a matéria orgânica. Recentemente, o termo “Tratamento Terciário” ou “Tratamento Avançado” tem sido aplicado às operações e processos utilizados para eliminar contaminantes que não foram afetados pelo tratamento primário e secundário. Deve, entretanto, fazer-se notar que a denominação de “primário” e “secundário” são arbitrários e que não se deve dar-lhes demasiado valor (METCALF-EDDY, 1981 apud SPERLING; GONÇALVES, 2001). Em seguida temos vários fluxogramas de tratamento de esgotos (fase líquida) utilizados em nosso meio, dando destaque ao ponto de geração de subprodutos. Figura 1 – Tratamento primário e pontos de geração de subprodutos sólidos Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 27 Fonte: Sperling e Gonçalves (2001, p. 21) Figura 2 – Tratamento secundário por lagoas de estabilização e pontos de geração de subprodutos sólidos. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 28 Fonte: Sperling e Gonçalves (2001, p. 22) Figura 3 – Tratamento secundário por lodos ativados e pontos de geração de subprodutos sólidos. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 29 Fonte: Sperling e Gonaçalves (2001, p. 24) Dada as características dos esgotos sanitários a tratar, muitos dos contaminantes que agora se encontram nos esgotos, não são afetados pelos processos e operações de um tratamento convencional, mas dada a necessidade de eliminar estes contaminantes, tais como nitrogênio e fósforo que podem promover o crescimento de algas e plantas aquáticas, há necessidade da aplicação de um tratamento adicional. Para eliminar estes contaminantes são aplicados meios e Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 30 métodos avançadas. Na maioria dos casos, utilizam-se tratamentos adotados em outros campos como da engenharia química e tratamento da água de abastecimento. À medida que se tem melhor conhecimento dos efeitos dos distintos contaminantes lançados no meio ambiente, se dará maior atenção na eliminação específica dos contaminantes (METCALF-EDDY, 1981 apud SPERLING; ANDREOLI, 2001). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 31 UNIDADE 5 – HIGIENIZAÇÃO DE LODOS 5.1 O que é e para que serve Os esgotos sanitários contêm aproximadamente 0,1% de sólidos, sendo os restantes 99,9% água. Estações de tratamento de esgotos têm a finalidade básica de separar essas duas fases, retornando a água para os corpos hídricos da região e processando a fase sólida, de modo a permitir a sua disposição de maneira econômica, segura em termos de saúde pública e ambientalmente aceitável. Esta fase sólida (lodo de esgotos) contém todos os poluentes oriundos das atividades, dos hábitos alimentares e do nível de saúde da população atendida pelas redes coletoras de esgotos (PINTO, 2001). Portanto, o lodo retrata exatamente as características da comunidade e pode variar substancialmente com o tempo e com a capacidade de remoção da estação de tratamento. Um dos constituintes mais preocupantes são os microrganismos patogênicos. Bactérias, vírus, protozoários, parasitas intestinais e seus ovos estão presentes nos lodos de esgotos, e uma significativa parte deles são causadores de doenças. A quantidade de patógenos encontrados no lodo é inversamente proporcional às condições sanitárias da comunidade atendida, portanto, quanto maior o nível de ocorrências de doenças de veiculação hídrica na comunidade, maior cuidado sanitário é necessário, principalmente quando a rota de disposição utilizada é a reciclagem agrícola. Os níveis de patogenicidade do lodo podem ser substancialmente reduzidos através dos processos de estabilização e tratamento, como a digestão anaeróbia ou aeróbia. Entretanto,muitos parasitas intestinais e principalmente seus ovos, são muito pouco afetados por processos de digestão convencional, necessitando uma etapa complementar ou conjugada aos processos convencionais para sua completa inativação, denominada de higienização. É importante salientar que o processo não é uma “desinfecção”, uma vez que não são desativados totalmente todos os microrganismos patogênicos presentes no lodo. A higienização busca reduzir a patogenicidade do lodo a níveis Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 32 que não venham a causar riscos à saúde da população, de acordo com as exigências para cada utilização. O objetivo de se introduzir um processo de higienização de lodos na estação de tratamento de esgotos é de garantir um nível de patogenicidade no lodo que, ao disposto no solo, não venha a causar riscos à saúde da população, aos trabalhadores que vão manuseá-la e impactos negativos ao meio ambiente. Portanto, a necessidade se implantar um sistema de higienização complementar de lodos dependerá da disposição final que será utilizada. A aplicação do lodo em parques e jardins de acesso público, ou sua reciclagem na agricultura, possui um nível maior de exigência sanitária do que alternativas de disposição, como aterros sanitários ou reutilização em matrizes de concreto Estas exigências podem ser atendidas por um processo de higienização do lodo por restrições temporais de uso e acesso público (PINTO, 2001). 5.2 Mecanismos de higienização Entre os diversos princípios capazes de promover a desinfecção do lodo, três fatores se destacam como mais indicados: a temperatura, o pH e a radiação. Sob determinadas condições ambientais, estes fatores apresentam faixas em que os organismos se mantêm presentes ou em desenvolvimento no lodo, e desde que quebrado este equilíbrio, os organismos são destruídos. A intensidade e o tempo em que estes fatores são impostos à massa de lodo de esgoto determinam a eficiência da desinfecção. Assim, a modificação destes fatores nos lodos constitui-se nos princípios dos métodos de desinfecção. Na tabela abaixo, são apresentados a temperatura e o tempo necessários para a destruição dos organismos patogênicos encontrados no lodo de esgoto. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 33 Fonte: ILHENFELD (1999, p. 29) O pH ou a concentração hidrogeniônica, que define a acidez ou alcalinidade, tanto do solo quanto do lodo, também constituem-se em um eficaz agente de desinfecção. Os organismos patogênicos expostos a níveis extremos de pH, seja básico ou alcalino, tendem a ser destruídos. Da mesma forma que a ação da temperatura, as alterações mais intensas do pH demandam um menor tempo de contato, para a obtenção da eficaz higienização do material. A adição de cal virgem na proporção de 50% do peso seco do lodo eleva o pH da massa de lodo calado para níveis acima de 12,0, resultando na destruição dos principais agentes patogêncios incluindo larvas e ovos de helmintos. É importante salientar que a calagem reduz a contagem de ovos de helmintos, porém desde que respeitados os períodos de carência, que são variáveis segundo a dosagem de cal, os ovos remanescentes não apresentam viabilidade biológica, ou seja, são ovos mortos que não apresentam potencial infectivo. A eficiência da exposição direta aos raios solares é apresentada como uma das alternativas para redução de patógenos no lodo. Ocorre, contudo, que esta alternativa de desinfecção está intimamente relacionada com as condições ambientais locais. Estudos estão sendo desenvolvidos para determinar a eficiência da radiação solar na desinfecção, nas condições brasileiras. Outras fontes de Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 34 radiação utilizadas, como os raios β e (Co 60 ou Ce 139), também podem ser utilizados, através de equipamentos específicos para tal fim (ILHENFELD, 1999). O mecanismo de redução de microrganismos patógenos, através da via térmica, combina duas variáveis de controle, relacionadas ao tempo de permanência do lado a uma dada temperatura. Estas duas variáveis agem em conjunto para atingir a qualidade microbiológica exigida para aplicação irrestrita. O mecanismo de higienização de lodos pela via química utiliza um produto alcalinizante para elevar o pH do lodo e, consequentemente, alterar a natureza coloidal do protoplasma celular dos microrganismos patogênicos de forma letal, e produzir um ambiente inóspito para a sua sobrevivência. Dependendo do produto utilizado, esta mistura pode ser acompanhada pela elevação da temperatura, que atuando em conjunto com a elevação do pH, permite uma condição mais efetiva para a inativação dos microrganismos patogênicos e um período menos exigente para a relação tempo-temperatura que a via térmica isoladamente. Assim, as condições requeridas para se obter um lodo sanitariamente seguro por este mecanismo são mostradas abaixo: elevar o pH do lodo para valores superiores a 12 por no mínimo 72 horas; manter a temperatura do lodo superior a 52°C por no mínimo 12 horas, durante o período onde o pH está maior que 12; secar ao ambiente até se atingir a concentração de sólidos de 50%, após o período de elevação do pH. A rota biológica para inativação de microrganismos patogênicos do lodo de esgotos ainda carece de maiores experiências e dados mais consistentes, que permitam garantir condições de reprodutibilidade e aceitação científica. Uma das alternativas mais conhecidas é a vermicultura. Vermicultura é um processo no qual resíduos orgânicos são ingeridos por uma variedade de minhocas detritívoras (Eudrilus eugeniae, Eisenia fetida e outras) e depois excretados, produzindo um húmus de fácil assimilação pelos vegetais e de grande valor agronômico. Ao ingerir a matéria orgânica, as minhocas estariam Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 35 ingerindo também microrganismos patogênicos presentes no lodo e inativando-os através de sua atividade gástrica. Entretanto, a presença de gases, como amônia, gás sulfídrico e gás carbônico, torna o lodo tóxico para as minhocas, acarretando a morte desses animais. Apesar disso, já existem unidades de grande escala na Austrália e Estados Unidos, operando com lodo de esgotos misturado com outros resíduos orgânicos, com capacidades superiores a 400 m3 por semana. No Brasil, esta tecnologia aplicada à higienização de lodo de esgotos ainda encontra-se em pesquisa, sem dados concretos para sua definição. Os raios Beta e Gama podem ser usados para inativar microrganismos patogênicos devido à sua ação nas estruturas coloidais celulares. Sendo os Beta formados através de aceleradores de elétrons em campo elétrico da ordem de 1 milhão de volts. Sua efetividade em reduzir patogênicos depende da dosagem de radiação que é aplicada ao lodo. Esta radiação tem pouco poder de penetração no lodo, e, portanto, para ser efetiva,precisa ser introduzida passando por uma fina camada de lodo líquido. E os raios Gama são fótons produzidos por elementos radioativos como o cobalto 60 e o césio 137. Esses raios são capazes de penetrar facilmente no lodo e, por conseguinte, a tecnologia pode ser utilizada em lodo líquido em tubulações ou mesmo desidratado em esteiras transportadoras que tenham contato com a fonte radioativa. 5.3 Processos de higienização Alguns processos normalmente utilizados para estabilização da matéria orgânica presente no lodo também reduzem, concomitantemente, os organismos patogênicos a níveis inferiores aos limites de detecção. Estes processos são denominados PFRP (Processes to Further Reduce Pathogens pela USEPA1). De maneira geral, existe um certo consenso entre os diversos países quanto às tecnologias que conseguem produzir um lodo sanitariamente seguro para aplicação irrestrita na agricultura. Entretanto, as variáveis de controle de processo 1 United States Environmental Protection Agency. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 36 não são iguais para todos, o que traduz, de alguma forma, a grande variabilidade das condições ambientais e das características do lodo produzido por cada país. Dentre os processos temos a compostagem que é um processo aeróbico de decomposição da matéria orgânica efetuada através de condições controladas de temperatura, umidade, oxigênio e nutrientes. O produto resultante deste processo tem grande valor econômico como condicionador de solos. A inativação dos microrganismos patogênicos ocorre principalmente através da via térmica, ocasionada pelo aumento da temperatura na fase de maior atividade do processo. Tanto o lodo bruto quanto o lodo digerido podem ser compostados. Materiais como cavaco de madeira, folhas, resíduos verdes, palha de arroz, serragem ou outros agentes estruturantes precisam ser adicionados ao lodo para melhor reter a umidade, aumentar a porosidade e equilibrar a relação entre o carbono e o nitrogênio. O processo ocorre em três etapas básicas. Na fase inicial mesófila, ocorre um rápido crescimento de microrganismos mesófilos, com um gradativo aumento da temperatura. Na fase termófila, à medida que a temperatura aumenta, os microrganismos mesófilos diminuem, dando lugar às bactérias e fungos termófilos, de extrema atividade e capacidade de reprodução, que aumentam mais a temperatura, inativando microrganismos patogênicos presentes no lodo. Na fase final mesófila, à medida que o substrato orgânico se esgota, a temperatura diminui, levando a população de bactérias termófilas à redução, possibilitando novamente que bactérias mesófilas voltem a se instalar, porém com atividade mais moderada, devido ao esgotamento do substrato orgânico. Outro processo seria a digestão aeróbica autotérmica que segue os mesmos princípios do sistema convencional de digestão aeróbica, com a diferença de operar em fase termófila, devido a algumas alterações na concepção e na operação do sistema. A caleação, calagem ou estabilização alcalina é outro processo utilizado para se tratar lodos primários, secundários ou digeridos, quer estejam líquidos ou sólidos. O processo ocorre quando suficiente quantidade de cal é adicionada ao lodo Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 37 para aumentar o pH para 12, resultando em uma redução da população de microrganismos e da potencial ocorrência de odores. A pasteurização envolve o aquecimento do lodo a 70º C por 30 minutos, seguido de uma rápida refrigeração a 4º C. Processo muito utilizado nos EUA e Europa. A secagem térmica também tem sido utilizada por muitos países. Passa-se o lodo por uma fonte de calor, de modo a provocar a evaporação da umidade existente no lodo e, consequentemente, alcançar uma inativação térmica dos microrganismos. Para ser economicamente viável, o lodo precisa ser previamente digerido e desidratado até concentração de sólidos na ordem de 20-35%, antes de ser tratado termicamente (PINTO, 2001). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 38 UNIDADE 6 – CONTAMINANTES E CONTAMINAÇÃO 6.1 Principais contaminantes do lodo Os metais pesados, os poluentes orgânicos e os microrganismos patogênicos formam genericamente o grupo de componentes que se concentram no lodo após passarem pelo sistema de tratamento. Essa concentração é variável e embora alguns dos componentes orgânicos e minerais confiram características fertilizantes ao lodo, outros são indesejáveis por seu risco sanitário e ambiental (SILVA et al., 2001). Dentre todos os metais pesados, os elementos que oferecem perigo são o Cádmio (Cd), Cobre (Cu), Molibdênio (Mo), Níquel (Ni), Zinco (Zn). Os metais podem estar presentes no lodo e tem a sua disponibilidade influenciada por reações como adsorção, complexação, precipitação, oxidação e redução. Em muitos países, e mesmo no Brasil, a presença de metais pesados é um dos entraves mais fortes à reciclagem. Há de se acrescentar ainda que o equacionamento deste fator problemático depende do controle das descargas industriais na rede de coleta de esgotos. É recomendação unânime entre as legislações internacionais a manutenção de pH alcalino ou neutro para diminuir a mobilidade de metais pesados do lodo ao solo e do solo às plantas. Critério inviável ao caso brasileiro devido aos solos, caracteristicamente ácidos, e ao sistema de higienização por calagem preconizado no país, o que responde com incremento do pH do solo, e em casos de solo neutralizado, pode causar prejuízo ao desenvolvimento das culturas por incremento excessivo do pH. Cádmio – é um dos elementos de grande interesse relacionado à aplicação agrícola do lodo, pois, oferece riscos potenciais para a saúde humana. É o metal tido como o mais perigoso, sendo desnecessário ao metabolismo vegetal e animal. Sua concentração média na crosta é de 0,15 ppm. É pouco móvel no perfil do solo. Uma vez que a Organização Mundial da Saúde recomenda um máximo permitido de 0,057 a 0,071 mg/d, sérios esforços tem sido realizados para assegurar Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 39 a quantidade do cádmio nos alimentos e na água para não aumentar com as atividades de aplicação agrícola. Fatores ambientais tais como a temperatura e o pH do solo (considerado como o fator mais importante) podem modificar os níveis e distribuição do cádmio nas plantas (SHEAFFER et al. 1979; CAST, 1980 apud FERREIRA; ANDREOLI, 1999). Cobre – é um elemento usualmente encontrado em combinação com proteínas do organismo humano e tem papel na formação de eritrócitos, na liberação de ferro no tecido e desenvolvimento de vários tecidos do corpo. Embora o cobre seja um elemento essencial às plantas, pode ser tóxico acima de certos níveis, sendo um dos metais menosmóveis no perfil do solo. Molibdênio – não é considerado como um elemento muito tóxico aos humanos, entretanto, elevadas doses podem resultar em toxicidade crônica. (National Academy Science, 1980 apud FERREIRA; ANDREOLI, 1999). O lodo de esgoto contém baixos níveis de molibdênio e, provavelmente, não é a causa da molibdenose em animais, exceto quando são aplicadas altas doses de molibdênio(> 40 mg/kg) no solo através do lodo (CAST,1976 apud FERREIRA; ANDREOLI, 1999). Zinco – é um elemento essencial às plantas e animais e do qual muitos solos brasileiros são carentes. As doses tóxicas são elevadas dependendo do pH do solo, sendo que essa toxicidade pode ser manifestada quando o pH for menor que 6,5. Níquel – o teor de níquel no solo é muito variável dependendo de fatores como a rocha de origem. Sua fitotoxicidade é de 50 mg/Kg no tecido da planta. Como a maior parte dos metais, a dose de níquel pode aumentar com o pH abaixo de 6,5, porém, mesmo mantendo o pH a 6,5 durante a aplicação do lodo, a toxicidade nas plantas pode ser manifestada (FERREIRA; ANDREOLI, 1999) 6.2 Agentes patogênicos encontrados no esgoto Além do tipo de tratamento do esgoto adotado, as condições socioeconômicas e sanitárias da população, a presença de animais no sistema, a Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 40 concentração e tipo de matéria orgânica e o teor de sólidos (matéria seca) ou quantidade de água, são fatores importantes na contaminação do lodo gerado pelo processo de tratamento. Os principais parasitos presentes no lodo compreendem: nematoides – Ascaris spp., Ancylostoma duodenale, Neeafor americanus, Trichuris trichiura, Toxocara canis e Trichostrongylus Axei. Estes parasitos podem causar desde distúrbios digestivos e nutricionais até gastrite e úlceras gástricas; Cestóides – Taenia spp., Hymenolepis spp., Echinococcus granulosus. Os sintomas provocados por estes organismos no homem compreendem problemas digestivos, hepáticos e pulmonares, anorexia, emagrecimento até sintomas nervosos sendo o mais grave a neurocisticercose provocada por Taenia solium; Protozoários – Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, Toxoplasma gondii, Balantidium coli, Cryptosporidium. Estes protozoários são responsáveis por problemas como enterite aguda, diarreia, perda de peso, alterações de sistema nervoso, gastroenterite. A tabela abaixo apresenta os tempos de sobrevivência dos diferentes agentes patógenos presentes no lodo (ILHENFELD, 1999). Fonte: Kawal (s.d. apud ILHENFELD, 1999). 6.3 Contaminação de corpos de água por nutrientes do esgoto Nitrogênio e fósforo são os principais nutrientes lançados nos corpos de água superficiais e subterrâneas que têm significado em termos ambientais e de saúde pública. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 41 No ciclo do nitrogênio na biosfera, este nutriente se alterna entre várias formas e estados de oxidação, como resultado de diversos processos bioquímicos. Segundo Sperling et al. (2009), o nitrogênio é um componente de grande importância em termos da geração e também do próprio controle da poluição das águas, devido, principalmente, aos seguintes aspectos: Poluição das águas Tratamento de esgoto 1- O nitrogênio é um elemento indispensável para o crescimento de algas, podendo, por isso, em certas condições, conduzir ao fenômeno de eutrofização de lagos e represas. 2- O nitrogênio, nos processos de conversão da amônia em nitrito e, em seguida, do nitrito em nitrato (nitrificação), implica no consumo de oxigênio dissolvido no corpo d'água. 3- O nitrogênio na forma de amônia livre é diretamente tóxico aos peixes. 4- O nitrogênio na forma de nitrato está associado à doenças como a metemoglobinemia. 1- O nitrogênio é um elemento indispensável para o crescimento dos microrganismos responsáveis pelo tratamento de esgoto. 2- O nitrogênio, nos processos de conversão da amônia a nitrito e, em seguida, do nitrito em nitrato (nitrificação), que eventualmente possa ocorrer em uma estação de tratamento de esgoto, implica no consumo de oxigênio e alcalinidade. 3- O nitrogênio, no processo de conversão do nitrato em nitrogênio gasoso (desnitrificação) que eventualmente pode ocorrer em uma estação de tratamento de esgoto, implica em: (a) economia de oxigênio e alcalinidade (quando realizado de forma controlada) ou (b) deterioração da sedimentabilidade do lodo (quando não controlado), devido à aderência de bolhas de N2 aos flocos em sedimentação. Em um curso de água, a determinação da forma predominante do nitrogênio pode fornecer indicações sobre o estágio da poluição eventualmente ocasionada por algum lançamento de esgoto a montante. Se esta poluição é recente, o nitrogênio estará basicamente na forma de nitrogênio orgânico ou amônia e, se antiga, basicamente na de nitrato (as concentrações de nitrito são normalmente mais reduzidas), desde que se tenha, no meio em questão, o suficiente de oxigênio dissolvido para permitir a nitrificação. Em resumo, pode-se visualizar as distintas situações na forma generalizada apresentada na tabela abaixo (abstraindo-se de outras fontes de nitrogênio que não o esgoto). Distribuição relativa das formas de nitrogênio segundo distintas condições Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 42 Fonte: Von Sperling et al. (2009, p. 28) No esgoto doméstico bruto, as formas predominantes são o nitrogênio orgânico e a amônia. O nitrogênio orgânico corresponde a grupamentos amina. A amônia tem sua principal origem na ureia, que é rapidamente hidrolisada e raramente encontrada no esgoto bruto. Estes dois, conjuntamente, são determinados em laboratório pelo método Kjeldahl, constituindo o assim denominado Nitrogênio Total Kjeldahl (NTK). A maior parte do NTK no esgoto doméstico tem origem fisiológica. As demais formas de nitrogênio são usualmente de menor importância no esgoto afluente a uma estação de tratamento. Em resumo, têm-se as seguintes equações: NTK = amônia + nitrogênio orgânico (forma predominante no esgoto doméstico) NT = NTK + N02- + N03- (nitrogênio total) O NTK pode ser ainda dividido em uma fração solúvel (dominada pela amônia) e uma fração particulada (associada aos sólidos em suspensão orgânicos – o nitrogênio participa na constituição de praticamente todas as formas de matéria orgânica particulada do esgoto). A amônia existe em solução tanto na forma de íon amônio (NH4 +) como na forma não ionizada (NH3), segundo o seguinte equilíbrio dinâmico: Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 43 onde: NH3: amônia livre NH4 +: amônia ionizada A distribuição relativa assume a seguinte forma em função dos valores de pH: • pH < 8 Praticamente toda a amônia na forma de NH4 + • pH = 9,5 Aproximadamente 50% NH3 e 50% NH4 + • pH > 11 Praticamente toda a amônia na forma de NH3 Assim,
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