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ANÁLISE DE RISCOS AMBIENTAIS AULA 1 Prof.a Cláudia Regina Bosa 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula trataremos sobre um tema de grande importância em todos os setores de nossa sociedade: a análise de riscos. Quando estamos em nosso trabalho em qualquer setor que seja, deparamos, se tudo estiver dentro das regras de forma adequada, com mapas de riscos e outros itens que ajudam a manter o ambiente de trabalho mais seguro e talvez livre de acidentes. Também podemos extrapolar os conhecimentos utilizados nas questões de análises de risco para o desenvolvimento de projetos ambientais; esses riscos devem ser criteriosamente listados e estudados a fim de podermos identificar com propriedade os possíveis impactos ao ambiente e pensar em formas de reduzi-los, trazendo maior segurança para a comunidade do entorno e mantendo de forma mais inteligente a biodiversidade que ainda resta em nosso planeta. CONTEXTUALIZANDO Imagine que você é um engenheiro que trabalha no desenvolvimento de grandes projetos como a instalação de usinas hidrelétricas. Ao longo de sua vida profissional, trabalhou em várias obras desse tipo e também participou de estudos de impacto ambiental, bem como da redação de diversos relatórios de impacto ambiental. Seu nome no mercado é muito bem reconhecido. Nesse momento você depara com uma situação de grande dualidade, e está na dúvida se aceita ou não o trabalho que lhe fora proposto, o qual está relacionado à construção de uma grande barragem em uma área que envolve terras indígenas e uma biodiversidade endêmica no local, onde há diversas espécies ameaçadas de extinção. Você foi escolhido para realizar um estudo de impacto ambiental, mas sabe que há grande pressão para que o empreendimento seja construído. No entanto, você, mais do que ninguém, devido a sua grande experiência profissional, também sabe que, da forma como a empresa deseja implementar a obra, há grande riscos de rompimento da barragem e perda de toda essa área de grande valor ambiental. Você já tentou de várias formas convencer sobre a importância de revisão de alguns itens do projeto, mas foi voto vencido. Diante dessa situação, o que você faria? Assumiria o trabalho e aceitaria todas as condições impostas pela empresa, sabendo que o projeto, mesmo 3 com grandes falhas segundo a sua opinião, seria com certeza aprovado pelos órgãos de fiscalização? Continuaria no projeto, porém lutaria até o final da liberação dele para que as suas ressalvas fossem absorvidas ou desistiria desse trabalho, para evitar problemas futuros que poderiam prejudicar sua vida profissional? TEMA 01 – FUNDAMENTOS DA ANÁLISE DE RISCO Na maior parte das atividades de nosso cotidiano, realizamos análises de risco, mesmo sem ter a consciência disso. Todas as nossas decisões envolvem uma análise dos riscos. Para tratarmos dos fundamentos da análise de risco, é importante que antes alguns conceitos sejam destacados, para depois entendermos a importância desse tipo de análise em qualquer ramo de atividade; em nosso caso, sempre focaremos para as questões que envolverão riscos relacionados às questões ambientais. Então, vamos discutir alguns desses conceitos: 1. RISCO Quando falamos de risco, estamos tratando de um fenômeno que pode ocorrer em qualquer tipo de atividade que estejamos desenvolvendo, assim, podemos dizer que o risco faz parte de qualquer decisão que tomemos em nossas vidas nos mais diversos aspectos, como o pessoal e o profissional, portanto, quando decidimos por algo, temos de ter em mente que o risco está presente nessa decisão e em qualquer outra em nossas vidas, e isso também pode ser estendido para as questões que envolvem tomadas de decisões relacionadas a grandes empreendimentos que com certeza irão impactar o ambiente envolvido e o entorno dele, principalmente as comunidades humanas, a fauna e a flora. No entanto, dependendo do tipo de atividade que esteja em questão, o risco pode ser considerado variável, pois existem atividades de alto risco, outras de médio risco e outras de baixo risco, mas é importante salientar que todas as atividades envolvem riscos. Como exemplo, podemos pensar em quais os riscos envolvidos nas atividades desenvolvidas por um escritor e por um motorista de caminhão; entendemos que existem riscos nas duas atividades, porém uma profissão (a de motorista) parece ter os riscos mais evidentes em uma primeira análise quando realizada por um leigo. 4 Concluindo, podemos definir que o risco é um atributo presente em qualquer tipo de atividade da sociedade humana, laboral ou não, e que a concretização do risco com as suas consequências dependerá das condições ambientais nas quais ele existe e também do processo de conscientização das pessoas envolvidas na referida atividade, fatores esses que podem reduzir as probabilidades de efetivação do risco existente. O risco trata de uma possibilidade do acontecimento, portanto, como exemplo, uma pessoa que nunca oferece carona para ninguém, em hipótese alguma, não corre o risco de um dia ser processada por lesões corporais devido a um acidente ocorrido com o carro por ela guiada, pois nunca dá carona para ninguém, dessa forma o risco não existe. Quando falamos de risco, tratamos de um fato que tem possibilidade de ocorrer. Quanto à ocorrência do risco, o que podemos dizer é que, se ele não tem a certeza de ocorrência, mas está presente, devemos considerar que os riscos têm incerteza de se concretizarem em qualquer situação. Portanto, se há certeza absoluta de que o risco vai se concretizar, não estamos falando de risco, pois o risco é algo que tem ocorrência de efetivação incerta. Como exemplo, podemos considerar a seguinte situação: imagine uma pessoa que quer cometer suicídio e para tal resolve tomar um medicamento de uso controlado e acaba tendo de ser internada em estado grave; essa pessoa tinha certeza da ocorrência desse fato, portanto não pode ser considerado um risco. Agora imaginemos outra situação, uma enfermeira que está há mais de 24 horas trabalhando e precisou cobrir mais um plantão devido à ausência de funcionários. Ela tem de realizar a medicação de mais de 30 pacientes em uma UTI no período da madrugada; você acredita que existe algum risco de a enfermeira administrar o medicamento errado ou em doses erradas? Nesse caso, existe o risco, pois não há a certeza de que a enfermeira irá cometer erros, mas podemos contar com essa possibilidade devido ao contexto da situação. Portanto, o risco deve ocorrer de forma acidental, não pode ser provocado e, caso ocorra, da forma como deve ser, as suas consequências devem ser mitigadas da melhor forma possível, visando ao menor número de sequelas. Os riscos podem ser classificados em voluntários e involuntários. 5 a. Riscos voluntários – São riscos relacionados com as atividades sobre os quais temos total consciência de que sua realização envolve, como quando decidimos realizar um esporte, experimentar uma droga ilícita, comprar uma arma de fogo. Os riscos nessas atividades são considerados voluntários, pois assumimos a possibilidade, por exemplo, de ter uma lesão devido ao novo esporte, adquirir um vício ou ainda sofrer um acidente doméstico com risco de morte em nossa residência. b. Riscos involuntários – São aqueles riscos relacionados a ocorrências que não dependem de decisões que tenhamos tomado, eles simplesmente estão presentes, podem estar relacionados a fatores da natureza e a fatores ligados às atividades humanas, como as catástrofes ambientais(tempestades, ciclones, chuvas de granizo) e a poluição ambiental (chuva ácida, destruição da camada de ozônio), dentre outros. O processo de análise de risco é complexo e de grande responsabilidade por parte dos emitentes de autorizações para início de atividades, por exemplo. Trata-se de um processo complexo pelo fato de poder salvar ou não vidas. Também envolve grande responsabilidade, pois o fato de avaliar um local e autorizar o seu funcionamento não exime quem lavra a autorização das responsabilidades legais associadas. De um modo geral, um risco não é um item isolado de um processo. É uma probabilidade de falha que decorre desde um projeto inadequado a uma execução falha. Quando não se avaliam todas as circunstâncias do entorno de um local onde são executadas as atividades, pode-se estar deixando de lado a oportunidade de salvar vidas, preservar áreas de interesse socioambiental, por exemplo. O risco pode ser entendido como uma falha casual de um equipamento, a falta de cumprimento dos procedimentos de instalação e montagem e de manutenção dele. O risco é um fato aleatório, possível, incerto, futuro e que tende a causar perdas ou danos quando se materializa. Em instalações industriais, muitas vezes realizam-se atividades em uma área, sem ter conhecimento do que ocorre no entorno, e, nesse caso, uma falha pode afetar a área em si e até levar a uma tragédia no entorno. Muitas vezes, as análises de riscos envolvem somente a identificação dos riscos nos locais onde ocorrerá a intervenção, sem se preocupar com uma análise estruturada das regiões vizinhas. Existe diferença entre risco e perigo? 6 Sim, existe diferença! Perigo é considerado algo que existe, algo que está presente naquela situação. Como exemplo podemos citar a manipulação de produtos radioativos, pois, se as devidas precauções não forem tomadas, a contaminação certamente irá ocorrer, portanto nesse caso estamos tratando de perigo. Risco está relacionado com uma possibilidade de ocorrência do fenômeno em questão, portanto podemos considerar que ele pode ou não se efetivar, e para que não ocorra devemos utilizar medidas de prevenção. Por exemplo, se estamos em uma empresa em que os funcionários estão descontentes com as condições de trabalho, existe o risco de que os trabalhadores realizem manifestações, como uma greve. Os gestores deverão se preocupar com medidas de melhoria das condições de trabalho a fim de que as probabilidades do risco de efetivar sejam reduzidas, mas nunca poderão ser extintas. TEMA 2 – IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS Em nosso cotidiano, vivemos cercados por riscos alguns mais visíveis, outros menos. Os riscos derivam dos perigos, sendo assim, onde existe uma atividade perigosa, certamente teremos um ou vários riscos. Podemos dizer que os riscos são inerentes às atividades humanas. Portanto, quando falamos em analisar os riscos, não falamos em segurança, mas em nível aceitável de risco. Quando falamos em aceitável, não quer dizer que o risco seja algo natural, cuja ocorrência deve-se aceitar como normal, mas, como os perigos são inerentes às atividades quaisquer que sejam estas, os riscos passam a existir. É importante entender que existem níveis de tolerância quanto à ocorrência dos riscos, o ideal seria a situação em que se preveem níveis de tolerância zero, ou seja, sem a ocorrência de riscos no processo. Por muitas vezes não há como eliminar 100% dos riscos nos ambientes. Portanto, devemos investir de forma organizada e profissional na mitigação deles, a fim de proteger de forma eficiente a vida das pessoas envolvidas em qualquer que seja o processo. Diante da presença de riscos, algumas atitudes podem ser tomadas: Os indivíduos presentes naquele ambiente podem TOLERAR os riscos que estão presentes, pode-se também realizar a TRANSFERÊNCIA do risco em questão, ou TRATAR, ou, ainda, ELIMINAR o risco presente naquela 7 situação. É importante salientar que tolerar ou transferir o risco para outro ambiente não são medidas interessantes, pois essas atitudes podem trazer graves consequências para os envolvidos. Mas como podemos identificar os riscos? Para a correta e eficaz identificação dos riscos, há a necessidade de uma equipe com competências individuais e coletivas, habilidades e atitudes. Quando essas características estão presentes no grupo envolvido, as chances de materialização de riscos reduzem drasticamente. Como podemos gerenciar os riscos? O processo de gerenciamento de riscos não é uma tarefa fácil, pois ele constitui um conjunto de ações que têm por objetivo identificar e mensurar os riscos que possam vir a ocorrer por várias razões. Para realizar uma análise completa, são empregadas técnicas bem específicas de análise e conceitos matemáticos para a quantificação das perdas e danos decorrentes. No processo de identificação de riscos, os gestores envolvidos podem utilizar a Análise Preliminar de Risco (APR), a qual é constituída de algumas etapas que permitem identificar e gerir de forma inteligente os riscos presentes. Essas etapas passam por processos de levantamento dos perigos envolvidos até a realização da mitigação destes a fim de ter a real situação dos riscos envolvidos em diversas atividades. Vamos detalhar cada uma dessas etapas: 1. Identificar eventos indesejados (perigos) Nessa etapa, a preocupação será na identificação de perigos presentes no ambiente em questão, nele será importante verificar a presença dos seguintes elementos: a. Substâncias: tóxicas, corrosivas, explosivas, reativas, contaminantes. b. Condições dos equipamentos: sobrecarga, ruptura, corrosão. Fica claro que a não observação desses fatores pode levar ao risco de acidentes de grandes consequências dependendo da amplitude da atividade desenvolvida e do entorno envolvido. Nessa etapa vários fatores podem levar a problemas nos quais o risco se realize devido à falta de observação nas técnicas de prevenção deles, como: - Falhas nos procedimentos de verificação, como: omissão do operador ou testes realizados de maneira inadequada. 8 - Condições ambientais adversas: clima, desmoronamentos, inundações, entorno, raios, dentre outras. - Condições de trabalho e execução: ritmo de trabalho imposto muito intenso, processo de capacitação da equipe ineficiente, a qualidade da supervisão realizada. 2. Identificar as causas associadas a cada perigo Nessa etapa é realizada a verificação e o estudo criterioso de como e em que situação ou situações ocorre a falha. 3. Avaliar o risco Identificar os efeitos de cada evento indesejado sobre as pessoas, as instalações, meio ambiente, qualidade, continuidade das operações da atividade, dentre outros. A tabela a seguir mostra um exemplo de como realizar uma Análise Preliminar de Riscos: Fonte: <https://manualdotrabalhoseguro.blogspot.com.br/2014/12/apr-eletricista.html> Portanto, independentemente da atividade realizada, quando pensamos em riscos, sempre devemos ter como postura única em qualquer ramo de atividade a prevenção ou mesmo a eliminação dos riscos. Quando pensamos em questões ambientais, todos os indivíduos relacionados com implementações de grandes empreendimentos ou pequenos, que tenham impactos maiores ou menores, devem estar sensibilizados para as consequências de trabalhos realizados sem a devida sensibilização para a prevenção de riscos tanto para a saúde das pessoas como para a preservação do meio ambiente. 9 TEMA 3 – AVALIAÇÃO DOS RISCOS Um aspecto importante e que muitas vezes não é levado em consideração é o fato de que a avaliação deum risco não deve ser realizada exclusivamente pelo resultado da multiplicação da frequência de ocorrência ou das falhas em um intervalo predeterminado de tempo, pela severidade das perdas. A avaliação dos riscos deve ser realizada em todos os momentos e etapas dos processos que envolvem qualquer tipo de atividade humana. No processo de avaliação de riscos, deve haver os seguintes passos: a. Indicação qualitativa da probabilidade ou da frequência esperada de ocorrência e das causas prováveis. b. Estimativa da severidade associada aos efeitos esperados. As experiências de gerentes de riscos são importantes e devem ser levadas em consideração. Vale lembrar que o ser humano tem mostrado grande influência, tanto na frequência quanto na severidade das ocorrências, portanto, o processo de formação dos indivíduos é essencial para a mitigação dos riscos, assim, equipes bem formadas e conscientes dos riscos tendem a evitá-los. Na maioria das avaliações, observa-se a atividade desenvolvida como um todo, não se observam de perto as pequenas partes pelas quais o todo é formado, e uma pequena falha em uma dessas partes pode levar ao comprometimento do todo. Esse tipo de enfoque também dificulta a identificação do local no qual a falha ocorreu. Dessa forma, é muito importante que dentro de um processo de avaliação de riscos os gestores envolvidos tenham total conhecimento das atividades realizadas, desde as mais simples e elementares até as mais complexas, e que os colaboradores envolvidos tenham consciência da importância de indicar falhas nos processos, mesmo que sejam consideradas mínimas, pois a soma de pequenas falhas pode levar a um efeito dominó, que pode levar ao comprometimento de todo o sistema envolvido; nesse momento, pode ocorrer a efetivação dos riscos mais graves, inclusive envolvendo a perda de vidas humanas. Existem acidentes que podem ser considerados causadores de acidentes, sendo assim, devemos ter especial atenção aos riscos que se efetivam e que não causam lesões nos trabalhadores, pois, se esses forem mitigados, graves acidentes deixarão de ocorrer. 10 Na Tabela 2, temos listadas as categorias de frequência de ocorrência de eventos de risco, importantes para pensar em planos de prevenção, ou seja, de gerenciamento de riscos. Tabela 2. Categorias de frequência para eventos de risco. Fonte: <http://www.fepam.rs.gov.br/> Para realizar o processo de gerenciamento de riscos de forma completa, é necessário também identificar o grau de severidade dos eventos, para que, em consonância com a frequência, possamos realizar uma previsão da probabilidade de ocorrência destes, e diante disso traçar programas para a prevenção deles, trabalhando sempre de forma integrada com todos os indivíduos que fazem parte desse processo de ponta a ponta. Na Tabela 3, estão categorizados os níveis de severidade dos eventos, a fim de ajudar no processo de gerenciamento dos riscos envolvidos em qualquer atividade em questão. Tabela 3. Categorização dos níveis de severidade dos eventos. Fonte: <http://www.cetesb.sp.gov.br/> 11 Realizando a junção entre as frequências de ocorrência dos eventos mais a severidade deles, podemos constituir uma matriz de classificação de riscos, a qual deve fazer parte de qualquer processo de gerenciamento de riscos (Tabela 4). Tabela 4. Matriz de classificação de riscos. Fonte: <http://alsconsultoria.net.br/analise-preliminar-de-perigos-app/> Após a análise criteriosa das frequências de ocorrência e da severidade dos eventos, podemos pensar agora no processo de mitigação ou de eliminação dos riscos, devendo-se implantar medidas de compensação e reparo. É necessário pensar nas causas considerando formas de reduzi-las ou tratá-las e ainda tratar os efeitos, levando, consequentemente, a um processo de proteção com severa redução dos danos. TEMA 4 – SALVAGUARDAS E IMPACTOS SOBRE OS RISCOS Quando falamos em impactos, sempre pensamos em atividade que causam consequências negativas para o meio no qual estamos, porém é importante lembrar que existem impactos positivos e negativos. Quando falamos de impactos ambientais, tendemos a pensar em consequências negativas para o meio ambiente e, na maioria das vezes, são, mas existem impactos ambientais que tratam da recomposição de paisagens ou introdução de exemplares de seres vivos ameaçados de extinção em um ambiente específico, e isso é um impacto, porém de caráter positivo, portanto sempre devemos nos lembrar dos dois lados desse tipo de situação. No entanto, quando tratamos de riscos para as atividades realizadas pela humanidade, qual a importância de avaliar os impactos dos riscos? Essa forma de avaliação deve ter especial atenção, pois a sua realização de forma adequada envolverá a 12 manutenção de vidas humanas e também a redução de impactos ao meio ambiente resultantes de nossas atividades de produção, empreendimentos, dentre muitas outras. Esses impactos podem ser avaliados de forma quantitativa ou qualitativa, e essas informações serão utilizadas em processos de mitigação de riscos, diminuindo a probabilidade de efetivação destes. Com exemplo de ingerência nesse aspecto podemos citar o caso do rompimento da barragem de dejetos na cidade de Mariana (MG), onde houve certamente falhas graves relacionadas a esse processo de avaliação e gestão dos riscos envolvidos; tal falta de cuidado levou ao maior desastre ambiental e social de nosso país. Tudo que possa impedir ou atenuar os impactos do cenário avaliado é muito importante e essencial no julgamento. E dentro desse contexto devemos dar destaque para o papel da salvaguarda. O que é uma salvaguarda? Para qualquer atividade que seja desenvolvida haverá a necessidade da utilização de um instrumento que ajude na manutenção da integridade física do colaborador; há atividades que exigem um uso maior de equipamentos de proteção, e outras, um número bastante reduzido. Esses equipamentos têm o principal objetivo de proteger as pessoas envolvidas dos perigos presentes no ambiente laboral. Existem vários tipos de salvaguardas com o objetivo de manter as pessoas envolvidas longe dos perigos que as atividades desenvolvidas oferecem, também há vários manuais e certificados que devem ser respeitados a fim de fornecer aos colaboradores equipamentos de proteção que realmente cumpram esse objetivo de forma exemplar. Portanto, esses materiais devem ser oferecidos de forma gratuita aos trabalhadores e sempre estar em boas condições de uso; caso não estejam, devem ser imediatamente substituídos. Além disso, aqueles de uso individual jamais deverão ser compartilhados com colaboradores de outro turno, por exemplo. Os equipamentos de salvaguarda podem ser divididos em dois grupos: Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e Equipamentos de Proteção Coletiva (EPCs). Os EPIs são aqueles considerados de uso exclusivo para cada um dos trabalhadores, como: jalecos, luvas de procedimentos, óculos, dentre outro. Já os EPCs são focados na proteção de um grupo de 13 trabalhadores, como: sistema de ventilação forçada, sistema de condicionamento de ar, dentre outros. Portanto, quanto mais os gestores investirem na obtenção de EPIs e EPCs de boa qualidade e em bom estado de uso, e exigirem o uso correto dos colaboradores, menores serão as probabilidades de os riscos se concretizarem por mais alto que seja o risco da atividade em questão. É de extrema importância a realização de cursos de formação nos quais os colaboradores sejam informados e sensibilizados para a necessidade do uso correto dosdiversos tipos de salvaguardas, para a manutenção de sua saúde e da saúde coletiva dos colaboradores, bem como a fim de evitar danos graves ao ambiente do entorno. Portanto, investimentos nos processos de prevenção são muito lucrativos, pois reduzem bastante as probabilidades de graves acidentes. Sendo assim, a disponibilização e o uso correto da salvaguarda nos ambientes das atividades humanas têm papel fundamental na redução da frequência e da severidade dos eventos de risco. Esses devem estar dentro das normas regulamentadoras, para realizarem de maneira efetiva a proteção para a qual estão designados. Os indivíduos envolvidos devem ser sensibilizados para o uso e, além disso, o uso correto, para a prevenção de riscos e de acidentes com consequências graves, inclusive para o entorno. Os coordenadores e gerentes das diversas linhas de atividades devem ter consciência também da importância em cobrar a utilização da salvaguarda pessoal e coletiva, sempre objetivando a mitigação de riscos, pensando na tolerância zero aos riscos em todos os ramos de atividades desenvolvidas em nosso planeta. TEMA 5 – RISCOS E AS QUESTÕES AMBIENTAIS Podemos dizer que quase todos os dias temos nos noticiários nacionais e internacionais assuntos tratando de impactos negativos ao meio ambiente, alguns deles resultantes de catástrofes naturais e outros da ação antrópica sobre os ecossistemas, sendo assim é essencial que cada vez mais empresários, políticos e a sociedade organizada tenham consciência dos impactos, principalmente negativos, que as diversas áreas das atividades humanas podem trazer para o meio ambiente e, consequentemente, como nós, seres humanos, estamos inseridos nele também, as consequências desses impactos para as diversas comunidades humanas. 14 Hoje não podemos aceitar atividades que não tenham sido pensadas e organizadas de forma a mitigar mudanças e riscos prováveis para o meio ambiente. Em séculos anteriores, podemos citar várias atividades e acidentes que levaram ao desenvolvimento de doenças, mortes, perda de habitats, perda de espécies e alterações ambientais que ainda tentamos mitigar na atualidade. Podemos citar vários casos, como toda a devastação ocorrida nas florestas europeias para o desenvolvimento industrial por meio da utilização de máquinas movidas a vapor, a pesca e a caça predatórias, os gases de efeito estufa, o uso de agroquímicos, pesticidas, organismos geneticamente modificados, uso de gases nocivos à camada de ozônio, extração de minérios, dentre muitas outras atividades humanas das quais ainda colhemos os impactos negativos para o meio ambiente e em consequência para a espécie humana. Diante desse cenário, o que é possível fazer, utilizando-se dos conhecimentos de identificação e gerenciamento de riscos a fim de evitar mais tragédias ambientais e humanitárias? Cabe aos vários setores da sociedade cobrar de todas as empresas e afins seus Planos de Prevenção de Riscos Ambientais, com a finalidade de fiscalizar de forma efetiva a implantação correta e integral dele, para que o meio ambiente e as comunidades no entorno dos empreendimentos não sofram graves catástrofes, as quais ainda estão presentes, fato que indica a negligência das autoridades com relação ao tema. O respeito a essas normas pode ser a diferença entre a vida ou a morte de um humano ou entre a manutenção ou degradação de um ecossistema importante para a manutenção de diversos serviços ecossistêmicos. Como podemos sensibilizar as pessoas envolvidas nesse processo para a importância de mitigação de riscos? Uma das formas mais utilizadas atualmente seria aquela que tenta dar conotação econômica aos bens oferecidos pelo meio ambiente, como o ICMS Ecológico, no qual cidades que preservam áreas verdes, como parques, reservas, APAS, recebem valores interessantes para dar continuidade a esse tipo de manutenção de ambientes. Também podemos dar destaque para as certificações da linha ISO nas quais as empresas recebem selos que valorizam o seu comprometimento com as questões ambientais, como na emissão zero de resíduos. 15 Sofremos ainda com erros do passado, assim não podemos deixar de comentar sobre as mudanças climáticas bem visíveis, com grandes alterações nos regimes climáticos de todas as regiões do mundo e como consequência alterando o ciclo biológico de diversas espécies. Precisamos de leis mais rígidas que rejam os comportamentos frente à criação de impactos e riscos pelas atividades humanas e uma forma de fiscalização mais eficiente, que cobre de maneira exaustiva a adequação das atividades para a manutenção da qualidade de vida em nosso planeta. É necessário que a mídia e os profissionais da educação estejam aliados a esse propósito de sensibilização, pois, se não mudarmos a nossa forma de produção e a maneira de consumo atual, não teremos mais recursos para o desenvolvimento dessas atividades, e nesse momento acreditamos que daí poderemos entender a real relação existente entre todos os componentes dos ecossistemas. FINALIZANDO Nesta aula não apenas tivemos a oportunidade de entender o que é risco e perigo, como identificar os riscos presentes em qualquer área de atividade humana, como utilizar meios para mitigá-los, mas também pudemos traçar um paralelo dos riscos de nossas atividades ao ambiente e à saúde do planeta. Vamos retomar a nossa situação problema? Nesse caso, que decisão você tomaria? Assumiria o projeto e aceitaria todas as decisões da chefia, mesmo sabendo dos riscos? Assumiria o projeto com o objetivo de modificá-lo e evitar os riscos iminentes para a comunidade do entorno? Ou desistiria do projeto para não ter problemas posteriores e, por via das dúvidas, “manchar” o seu currículo? REFERÊNCIAS ALMEIDA, F. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. HALE, A. R.; GLENDON, A. I. Individual behaviour in the control of danger. Amsterdam: Elsevier, 1997. In: ALMEIDA, I. M. Construindo a culpa e 16 evitando a prevenção. Tese Doutorado (versão preliminar). São Paulo, USP, 2000. ISO/IEC 27001:2013, Information Security Management System. [Online]. Disponível em: <http://www.iso.org>. Acesso em: 1 set. 2016. NIST – National Institute of Standards and Technology. Guide for Conducting Risk Assessments - Information Security, Special Publication 800-30 Revision 1, September 2012. OLIVEIRA, J. C. Gestão de riscos no trabalho: uma proposta alternativa. Minas Gerais: Fundacentro/CEMG, 1999 TACHIZAWA, T.; DE ANDRADE, R. O. B.; CARVALHO, A. B. Gestão ambiental: enfoque estratégico aplicado ao desenvolvimento sustentável. 2. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2002. 232 p.
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