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Resumo de Direito Civil II

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1. Conceitos iniciais: fatos, atos e negócios jurídicos; Do ato jurídico em sentido estrito (stricto sensu); O negócio jurídico e suas teorias conceituais; A declaração de vontade: Receptícia e não-receptícia, Expressa e tácita e O silêncio.
Fato: tudo aquilo que ocorre e altera a realidade. Uma chuva, uma morte, um espirro, uma caminhada, o decurso de tempo, todos estes são fatos. Nesta matéria, distinguimos entre os fatos aqueles com consequências jurídicas, isto é: que adquirem, modificam ou extinguem direitos. Um espirro, por exemplo, é um fato não jurídico na maioria dos casos; mas um espirro proposital com a intenção de transmitir doença respiratória gera consequências jurídicas.
FATOS NATURAIS OU JURÍDICOS STRICTO SENSU: são alheios à vontade humana, ou a vontade humana concorre de forma indireta para sua ocorrência. Os fatos naturais são classificados em ordinários e extraordinários.
a) Fatos Naturais Ordinários (esperados): o nascimento, a morte, a maioridade e etc.
b) Fatos Naturais Extraordinários (imprevisíveis, aleatórios): o terremoto, os raios, as tempestades, e todos os demais atos que se enquadram na categoria de caso fortuito ou força maior. As tempestades, o terremoto, as chuvas, etc, por si só não geram efeitos jurídicos, somente o serão se gerarem consequências jurídicas.
FATOS HUMANOS OU JURÍDICOS LATO SENSU (JURIGENOS): são ações humanas que criam, modificam, transferem ou extinguem direitos, dividem-se em atos jurídicos lícitos e ilícitos.
Teorias: O Código Civil de 2002 adotou a teoria dualista para a classificação dos atos jurídicos. Para a corrente unitária não existe qualquer diferença entre ato e negócio jurídico, enquanto a dualista entende que são distintos. Pensamento unitarista: Código Civil francês, no italiano e no brasileiro de 1916. Dualismo: Códigos português e brasileiro de 2002. 
Betti classifica os fatos jurídicos em atos jurídicos, em que há valoração da consciência e vontade humanas, e fatos jurídicos em sentido estrito, sem valoração da consciência e vontade humanas. Os atos jurídicos, por sua vez, classificam-se em atos jurídicos em sentido estrito e negócio jurídico.
Os atos jurídicos em sentido estrito podem ser lícitos ou ilícitos. Os atos lícitos podem ser subdivididos em duas categorias essenciais: a) a dos atos materiais; b) a das participações. Os atos materiais resultam sempre de uma atuação de vontade, de um comportamento do homem, por exemplo, a tomada de posse e a derelição (abandono da coisa). Já as participações, além de um ato de vontade (como todo ato jurídico), caracterizam-se pela existência de uma declaração – para ciência de intenção ou de fatos – sem intenção negocial. 
As participações se diferenciam das declarações de vontade dos negócios jurídicos “porque estas consubstanciam manifestações de um intento, enquanto as participações consistem em simples comunicação”. Como exemplos, podem ser citadas as interpelações, notificações, intimações, oposições e denúncias. 
ATOS JURÍDICOS LÍCITOS: São aqueles atos emanados de uma vontade humana, praticados em conformidade com o ordenamento jurídico e que produzem os efeitos almejados pelo agente.
Classificação dos Atos Lícitos: Os atos lícitos se dividem em: Ato jurídico em sentido estrito, ato-fato jurídico e negócio jurídico:
a) Ato jurídico em sentido estrito ou meramente lícito: o efeito da manifestação da vontade está predeterminado em lei. Bastando a mera intenção. É sempre unilateral. É vontade aderente, vontade humana que busca os efeitos previstos na norma. O elemento básico desta categoria reside na circunstância de que o agente não goza de ampla liberdade de escolha na determinação dos efeitos resultantes de seu comportamento.
b) Ato-fato jurídico: No ato-fato jurídico, apesar de existir conduta volitiva, não se leva em consideração o que a vontade, a consciência ou intenção humana, mas sim a consequência do fato resultante. O agente não tinha a intenção de alcançar aquele efeito jurídico, contudo, o ordenamento sanciona aquele ato pela consequência que ele produziu. Nestes casos o elemento volitivo pouco importa, ou seja, não é relevante que o ato-fato jurídico tenha sido praticado por um incapaz, por exemplo.
c) Negócio jurídico: Consiste na declaração de vontade voltada a obtenção de um efeito jurídico, capaz de criar uma reação jurídica, não sendo, apenas um ato livre de vontade.
Para Francisco Amaral é a declaração de vontade privada destinada a produzir efeitos que o agente pretende e o direito reconhece, tais como a constituição, modificação ou extinção de relações jurídicas, de modo vinculante, obrigatório para as partes intervenientes. Afirma, ainda, que o negócio jurídico é o meio de realização da autonomia privada, e o contrato é o seu símbolo. No negócio jurídico a manifestação da vontade tem finalidade negocial, que abrange a aquisição, conservação, modificação ou extinção de direitos. Dentre os negócios, distinguimos especialmente entre os unilaterais e os bilaterais, podendo também ser plurilaterais, variando o número de vontades das partes. No testamento, é suficiente a vontade unilateral do de cujus para a criação dos efeitos jurídicos, que é a geração do direito à herança para o herdeiro. Nota-se que mesmo que este renuncie à herança o testamento prossegue sendo unilateral, pois a renúncia ao direito só ocorre quando o direito já existe, e este é criado pela vontade do falecido. Já os negócios que dependem da vontade das duas partes são bilaterais, como o casamento e o contrato, que é a principal manifestação do negócio jurídico.
ATOS JURÍDICOS ILÍCITOS: Ao contrário dos lícitos, são aqueles atos humanos praticados em desacordo com o que prescreve o ordenamento jurídico, possuindo, efeitos negativos, tendo em vista que tais atos repercutem na esfera jurídica. O ordenamento jurídico impõe a eles efeitos jurídicos não desejados pelo agente, ou seja, o invés de direitos, acabam criando deveres, obrigações, como, por exemplo, a indenização por danos morais e materiais. O ilícito pode ser civil, penal ou administrativo, havendo independência (relativa, pois pode influir nas três órbitas) entre essas esferas. São atos jurídicos ilícitos aqueles que causem dano indenizável, sendo contrários ao ordenamento. Não é o caso de punir, portanto, como o faz o Direito Penal. Por isso mesmo os ilícitos civis são tão mais numerosos: o Direito Penal especifica tudo aquilo que é passível de punição, enquanto no Civil basta gerar dano que se prevê a possibilidade de indenização. Há ato ilícito civil em todos os casos em que, com ou sem intenção, alguém causa dano a outrem, transgredindo uma norma ou agindo contra o Direito.
Classificação dos atos ilícitos: O ato ilícito é muito importante para o direito civil, mas não porque possui um caráter punitivo, como no direito penal, mas pelo seu caráter de gerar indenização, já que o ato ilícito é capaz de gerar consequências a terceiros. (Artigo 186 e 935 CC)
O ilícito civil ocorre sempre que alguém, através da prática de um ato contrário ao ordenamento jurídico, causar dano a outrem, mesmo que exclusivamente moral, seja com ou sem intenção de produzi-lo. O ato ilícito admite duas formas de comportamento o dolo e a culpa. O ato ilícito é praticado com dolo sempre que o agente tiver intenção, vontade de produzir o resultado danoso, a agir de modo a efetivar seu intento.
O ato ilícito será praticado com culpa sempre que, mesmo sem intenção, o agente causar dano a outrem, tendo em vista ter agido com negligência (falta cuidado), imprudência (excesso de confiança) ou imperícia (falta de aptidão).
TEORIAS CONCEITUAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO: Etimologicamente, negócio significa atividade (não ócio). No Direito Romano indicava o contrato. O Direito Germânico alterou esta definição, estabelecendo os efeitos jurídicos relacionados ao acordo de vontades. No Negócio Jurídico os agentes criam os efeitos jurídicos segundo sua vontade. Já o Ato Jurídico somente desencadeia efeitos jurídicos
O negócio jurídico e suas teorias conceituais(subjetivista, objetivista e estrutural)
Na conceituação e interpretação do negócio jurídico, existem três correntes:
Subjetivista ou Voluntarista (como ato de vontade): é a manifestação de vontade que visa a produzir efeitos jurídicos, ou ato de vontade dirigido a fins práticos tutelados pelo ordenamento jurídico. Essa posição se prende à sua função, com o que atende principalmente à formação do ato, à vontade que lhe dá origem (autonomia da vontade). É a posição dominante na doutrina brasileira. Antonio Junqueira de Azevedo, assim como Emilio Betti, criticam a concepção voluntarista, entendendo que a vontade não é elemento necessário para a existência do negócio (plano da existência), sendo importante apenas para a sua validade e eficácia.
Objetivista (como preceito): o negócio jurídico constitui um comando concreto ao qual o ordenamento jurídico reconhece eficácia vinculante. Entende-o como um meio (instrumento) concedido pela lei aos cidadãos para a produção de efeitos jurídicos. O Negócio Jurídico é um conjunto de preceitos, ou normas, com força de lei, regulando e disciplinando interesses particulares. Essa teoria reduz a importância do elemento volitivo na elaboração do Negócio Jurídico. Emilio Betti nega que a vontade se encontre, no negócio, em primeiro plano. Para ele, em primeiro plano está o regulamento de interesses e, em segundo, a vontade.Interpretar o negócio jurídico é evidenciar o sentido e alcance do conteúdo da declaração de vontade, verificando-se a vontade concreta das partes, não a vontade interna, psicológica, mas a vontade objetiva, o conteúdo.
Estruturalista (como categoria ou como fato): o negócio jurídico, pode ser definido como categoria (fato jurídico abstrato) ou como fato (fato jurídico concreto). Como categoria (fato jurídico abstrato) o negócio é a hipótese de fato jurídico baseada em uma manifestação de vontade acompanhada das circunstâncias negociais, que fazem com que socialmente essa manifestação seja hábil e considerada como destinada a produzir efeitos jurídicos.
Como fato (fato jurídico concreto) o negócio jurídico é todo fato jurídico que consiste em declaração de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui os efeitos indicados como desejados, observados os pressupostos de existência, validade e eficácia fixados pela norma jurídica que sobre ele incide. O negócio jurídico diferencia-se dos fatos jurídicos em sentido estrito e não é um simples fato, já que é uma manifestação de vontade qualificada.
2. Interpretação do negócio jurídico; Teorias clássicas da vontade e da declaração e A boa-fé objetiva e a teoria da confiança.
PRINCÍPIOS INFORMADORES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS: Uma das diretrizes seguidas na elaboração do Código Civil de 2002 foi o de inserir valores que inexistiam no Código de 1916, a saber, a Eticidade, a Socialidade e a Operabilidade. Isso significa que esses são princípios fundamentais que nortearam os preceitos legais.
Por causa desse princípio, foi declarada a função social do contrato, a interpretação mais favorável ao aderente nos contratos de adesão, a função social da posse e da propriedade. 
Pelo Princípio da Operabilidade foram estabelecidas soluções normativas para facilitar a interpretação e aplicação do Direito, lembrando-se do ensinamento de Jhering: “o Direito é feito para ser executado. Direito que não se executa é como chama que não aquece, luz que não ilumina”. O Princípio da Operabilidade levou às Cláusulas Gerais, como quando se exige probidade, boa-fé e correção, pois não é possível fixar com precisão o alcance das regras jurídicas. Caberá ao juiz decidir, realizando o direito em sua ‘concretude’.
 Princípios Norteadores Negócios Jurídicos: O Negócio Jurídico na concepção tradicional ou clássica. Estes são considerados os pilares da teoria clássica, influencia dos ideais do liberalismo individualista do século XIX. Reação contra as interferências e limitações impostas pelo Estado durante toda a Idade Média.
A teoria negocial tradicional está embasada nos seguintes princípios:
AUTONOMIA DA VONTADE; SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA e OBRIGATORIEDADE DAS CONVENÇÕES (intangibilidade do conteúdo do contrato)
O princípio da autonomia da vontade
O princípio da autonomia da vontade está intimamente ligado à liberdade contratual, ou seja, o poder que têm os indivíduos de regularem seus próprios interesses, por acordo de vontades, da maneira que melhor lhes convier, suscitando os efeitos reconhecidos pelo ordenamento jurídico. Tradicionalmente, a autonomia da vontade, fundada no princípio da igualdade dos contratantes, estaria apenas limitada pela ordem pública e pelos bons costumes.
Abrange o princípio da liberdade de contratar ou não contratar, segundo o qual ninguém está obrigado a ligar-se contratualmente, só o fazendo se assim lhe convier; princípio da liberdade de estabelecer o conteúdo do contrato garantindo que o poder de auto-regência dos interesses e da livre discussão das condições contratuais abrange inclusive a escolha do tipo de contrato; princípio da liberdade de escolher o outro contratante, pois ninguém é obrigado a contratar com quem não desejar.
O princípio da supremacia da ordem pública
Segundo o princípio da supremacia da ordem pública o interesse da sociedade deve prevalecer sobre o interesse individual. Historicamente, esse princípio limitador da liberdade contratual pautava-se nos conceitos de ordem pública e bons costumes.
O princípio da obrigatoriedade de convenção
As partes ficam vinculadas ao cumprimento das obrigações convencionadas, sob pena da imposição de sanções previstas para o caso de inadimplemento, resultando na execução patrimonial do devedor. Pacta sunt servanda. Funda-se na regra de que o contrato faz lei entre as partes, desde que estipulado validamente e com observância dos requisitos legais (segurança jurídica). Dentro da concepção clássica de contrato limita-se somente pelo caso fortuito e a força maior. Não se admite revisão pelo juiz para modificação do conteúdo contratual; a intervenção judicial somente se faria para decretar a nulidade ou resolução do contrato, nunca para alterá-lo. Além desses, outros princípios informam a teoria negocial:
CONSENSUALISMO - Conforme o princípio do consensualismo, para a geração do negócio válido, basta o simples acordo de duas ou mais vontades, dispensando-se quaisquer formalidades.
RELATIVIDADE DOS EFEITOS DO CONTRATO – O princípio da relatividade dos efeitos do negócio jurídico determina que o contrato, resultando da manifestação de vontade dos contraentes, que livremente se obrigam, surte efeitos apenas entre as partes que nele intervieram, não aproveitando nem prejudicando terceiros.
O Negócio Jurídico na concepção moderna e social (NOVOS PRINCÍPIOS)
O Dirigismo Contratual é o movimento de interferência estatal para condução do contrato a fim de garantir a igualdade substancial das partes, impedindo que os fracos se submetam aos fortes e salvaguardando o predomínio do interesse social sobre o individual. 
O dirigismo contratual é operado por meio da edição e aplicação de leis de ordem pública que limitam a liberdade contratual em prol do interesse coletivo e também por meio da intervenção judicial para revisão das cláusulas desproporcionais ou abusivas que atentam contra a justiça. 
O contrato deve ser concluído e executado de forma socialmente responsável, com o fim de garantir o justo equilíbrio contratual. Instrumento de satisfação de interesses individuais e instrumento destinado à realização de uma finalidade social. Revalorização do interesse público e humanização das relações jurídicas.
FUNÇÃO SOCIAL
A função social do contrato assegura a livre circulação de bens e serviços, a produção de riquezas e a realização de trocas, sempre de forma a favorecer o progresso social, evitando o abuso do poder econômico e a relação desigual entre os co-contratantes. Visa a promover e garantir a igualdade material das partes e a coibir ajustes que atentem contra os interesses coletivos. A Constituição Federal consagrou como basilaro preceito da dignidade da pessoa humana a fim de concretizar o compromisso assumido de construir uma sociedade livre, justa e solidária. Art. 1º, III e IV; art. 3º; art. 170 
Dessa forma, justifica-se amplamente a interferência do Estado no âmbito negocial, a fim de garantir a concretização dos valores constitucionais eleitos como fundamentais, realizando a justiça social e ao mesmo tempo promovendo o desenvolvimento e estabilidade econ A função social do negócio jurídico impõe as partes que cooperem entre si para que o negócio seja útil como meio de produção e circulação de riquezas, não só para as próprias partes, mas para toda a coletividade. Os contratantes devem, portanto, abster-se da prática de condutas que ameacem a finalidade maior negocial, que é o bem comum. O princípio da função social do contrato deve repousar na harmonia entre a autonomia privada e as exigências do bem comum.
Parágrafo único do art. 2.035 (Das Disposições Finais e Transitórias) - “Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.”
Tratando-se de norma de ordem pública deve ser aplicada de ofício pelo juiz, independentemente de requerimento ou alusão das partes. Em muitas situações a relação negocial pode prejudicar direitos sociais de pessoas estranhas àquela avença, e que, por essa razão, têm o direito de nela interferir.ômica.
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ CONTRATUAL: Distinção entre boa-fé subjetiva e boa-fé objetiva 
A boa-fé subjetiva, também denominada boa-fé crença, ocorre quando a pessoa ignora que esteja lesando direito de outrem por acreditar ser titular de um direito que só existe na aparência, mas que na realidade não tem. É o contrário de má-fé. 
Ex – São exemplos de boa-fé subjetiva as hipóteses de casamento putativo, aquisição da propriedade alheia mediante usucapião (ordinário). Está agindo de boa-fé subjetiva o sujeito que, justificadamente (concepção ética), ignora o caráter ilícito do seu ato. 
A boa-fé objetiva, boa-fé lealdade ou boa-fé confiança, vincula-se, a um modelo de conduta objetivo (padrão de conduta não definido pelo direito), socialmente recomendado, de correção, lisura, honestidade e consideração para com as expectativas geradas, para que não se frustre a confiança legítima das partes envolvidas na relação obrigacional. 
Dever imposto às partes de agirem de acordo com determinados padrões de conduta que, socialmente, são definidos como corretos e justos. O princípio da boa-fé objetiva guarda estreita ligação com o princípio da justiça contratual e visa, primordialmente, tutelar as legítimas expectativas das partes contratantes.
3. Elementos constitutivos do negócio jurídico; Os três planos do negócio jurídico: A escada Ponteana; Elementos Essenciais do negócio jurídico; Elementos naturais ou identificadores do negócio jurídico.
ART 104 • Elementos essenciais do ato negocial: Os elementos essenciais são imprescindíveis à existência e validade do ato negocial, pois formam sua substância; podem ser gerais, se comuns à generalidade dos negócios jurídicos, dizendo respeito à capacidade do agente, ao objeto lícito e possível e ao consentimento dos interessados; e particulares, peculiares a determinadas espécies por serem concernentes à sua forma e prova. 
• Capacidade do agente: Como todo ato negocial pressupõe uma declaração de vontade, a capacidade do agente é indispensável à sua participação válida na seara jurídica. Tal capacidade poderá ser: a) geral, ou seja, a de exercer direitos por si, logo o ato praticado pelo absolutamente incapaz sem a devida representação será nulo (CC, art. 167, 1) e o realizado pelo relativamente incapaz sem assistência será anulável (CC, art. 171, 1); b) especial, ou legitimação, requerida para a validade de certos negócios em dadas circunstâncias (p. ex., pessoa casada é plenamente capaz, embora não tenha capacidade para vender imóvel sem autorização do outro consorte, exceto se o regime matrimonial de bens for o de separação. 
• Objeto lícito, possível, determinado ou determinável: O negócio jurídico válido deverá ter, em todas as partes que o constituírem, um conteúdo legalmente permitido. Deverá ser lícito, ou seja, conforme a lei e à ordem pública. Se tiver objeto ilícito será nulo (CC, Art. 166). E o que ocorrerá, p. ex., com a compra e venda de coisa roubada. Deverá ter ainda objeto possível, física ou juridicamente. Se o ato negocial contiver prestação impossível, como o de vender herança de pessoa viva (CC, art. 426), deverá ser declarado nulo (CC, arts. 104, II, e 166, II). Deverá ter objeto determinado ou, pelo menos, suscetível de determinação, pelo gênero e quantidade, sob pena de nulidade absoluta (CC, art. 166). 
• Consentimento dos interessados (manifestação da vontade): As partes deverão anuir, expressa ou tacitamente, para a formação de uma relação jurídica sobre determinado objeto, sem que se apresentem quaisquer vícios de consentimento, como erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão, ou vícios sociais, como simulação e fraude contra credores.
•Forma prescrita ou não defesa em lei: Às vezes será imprescindível seguir determinada forma de manifestação de vontade ao se praticar ato negocial dirigido à aquisição, ao resguardo, à modificação ou extinção de relações jurídicas. O princípio geral é que a declaração de vontade independe de forma especial (CC, art. 107), sendo suficiente que se manifeste de modo a tornar conhecida a intentio do declarante, dentro dos limites em que seus direitos podem ser exercidos. Apenas, excepcionalmente, a lei vem a exigir determinada forma, cuja inobservância invalidará o negócio. 
Art. 105. •Incapacidade relativa como exceção pessoal: Por ser a incapacidade relativa uma exceção pessoal, ela somente poderá ser formulada pelo próprio incapaz ou pelo seu representante. Como a anulabilidade do ato negocial praticado por relativamente incapaz é um beneficio legal para a defesa de seu patrimônio contra abusos de outrem, apenas o próprio incapaz ou seu representante legal o deverá invocar. Assim, se num negócio um dos contratantes for capaz e o outro incapaz, aquele não poderá alegar a incapacidade deste em seu próprio proveito, porque devia ter procurado saber com quem contratava e porque se trata de proteção legal oferecida ao relativamente incapaz. Se o contratante for absolutamente incapaz, o ato por ele praticado será nulo (CC, art. 166, 1), pouco importando que a incapacidade tenha sido invocada pelo capaz ou pelo incapaz, tendo em vista que o Código Civil, pelo art. 168, parágrafo único, não possibilita ao magistrado suprir essa nulidade, nem mesmo se os contratantes o solicitarem. 
• Invocação da incapacidade de uma das partes ante a indivisibilidade do objeto do direito ou da obrigação comum: Se o objeto do direito ou da obrigação comum for indivisível, ante a impossibilidade de separar o interesse dos contratantes, a incapacidade de um deles poderá tornar anulável o ato negocial praticado, mesmo que invocada pelo capaz, aproveitando aos co-interessados capazes, que porventura houver. Logo, nesta hipótese, o capaz que veio a contratar com relativamente incapaz estará autorizado legalmente a invocar em seu favor a incapacidade relativa deste, desde que indivisível a prestação, objeto do direito ou da obrigação comum. 
Art. 106.• Impossibilidade relativa do objeto: Se a impossibilidade do objeto for relativa, isto é, se a prestação puder ser realizada por outrem, embora não o seja pelo devedor, não invalida o negócio jurídico. 
• Cessação da impossibilidade do objeto negocial antes do implemento da condição. Se o negócio jurídico contendo objeto impossível, tiver sua eficácia subordinada a um evento futuro e incerto, e aquela impossibilidade cessar antes de realizada aquela condição válida será a avença.
Art. 107 • Forma livre: O Código Civil inspira-se no princípio da forma livre, o que quer dizer que a validade da declaração da vontade só dependerá de forma determinadaquando a norma jurídica explicitamente o exigir. A forma livre é qualquer meio de exteriozação da vontade nos negócios jurídicos, desde que não previsto em norma jurídica como obrigatório: palavra escrita ou falada, gestos, e até mesmo o silêncio. Por exemplo, a doação de bens móveis de pequeno valor (CC, art. 541, parágrafo único). 
Art. 108. • Forma única: É aquela que, por lei, não pode ser pretenda por outra. Assim, para um negócio jurídico que vise constituir, transferir , modificar ou renunciar direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no Pais, exige-se que ele se efetive mediante escritura pública, sob pena de invalidade, desde que inscrita em registro competente para dar-lhe publicidade e oponibilidade contra terceiro. 
Forma Múltipla: várias formas (Fundação por escritura ou testamento). 
ART. 109.• Previsão ou forma contratual de forma especial: A emissão da vontade é dotada de poder criador; assim sendo, se houver cláusula negocial estipulando a invalidade do negócio jurídico, se ele não se fizer por meio de escritura pública, esta passará a ser de sua substância. Logo, tal declaração de vontade somente terá eficácia jurídica se o ato negocial revestir a forma prescrita contratualmente conveniada pelas partes.
ART. 110. • Reserva mental lícita (quando um dos declarantes oculta sua verdadeira intenção, quando não quer o efeito jurídico que declara querer): A reserva mental é a emissão de uma intencional declaração não querida em seu conteúdo, nem tampouco em seu resultado, pois o declarante tem por único objetivo enganar o declaratário. Logo, se conhecida da outra parte, não torna nula a declaração da vontade, pois esta inexiste, e, consequentemente, não se forma qualquer ato negocial, uma vez que não havia intentio de criar direito, mas apenas de iludir o declaratário. Se for desconhecida pelo destinatário, subsiste o ato. 
• Reserva mental ilícita se, além de enganar, houver intenção de prejudicar, ter-se-á vício social similar à simulação, ensejando nulidade do ato negocial. É preciso esclarecer que o conhecimento da reserva mental que acarreta a invalidade do negócio somente pode ser admissível até o momento da consumação do ato negocial, pois se o declaratário comunicar ao reservante, antes da efetivação do negócio, que conhece a reserva, não haverá esta figura, que tem por escopo enganar o declaratário. 
ART. 111. • Silêncio como fato gerador ou como manifestação da vontade de negócio jurídico: O silêncio pode dar origem a um negócio jurídico, visto que indica consentimento, sendo hábil para produzir efeitos jurídicos, quando certas circunstâncias ou os usos o autorizarem, não sendo necessária a manifestação expressa da vontade. Caso contrário, o silêncio não terá força de declaração volitiva. Se assim é, o órgão judicante deverá averiguar se o silêncio traduz, ou não, vontade. O puro silêncio apenas terá valor jurídico se a lei à determinar, ou se acompanhado de certas circunstâncias ou de usos e costumes do lugar, indicativos da possibilidade de manifestação da vontade, e desde que não seja imprescindível a forma expressa para a efetivação negocial. 
ART. 112. • Interpretação declaratória do negócio jurídico: A interpretação do ato negocial situa-se na seara do conteúdo da declaração volitiva, pois o intérprete do sentido negocial não deve ater-se, unicamente, à exegese do negócio jurídico, ou seja, ao exame gramatical de seus termos, mas sim em fixar a vontade, procurando suas consequências jurídicas, indagando sua intenção, sem se vincular, estritamente, ao teor lingüístico do ato negocial. Caberá, então, ao intérprete investigar qual a real intenção dos contratantes, pois sua declaração apenas terá significação quando lhes traduzir a vontade realmente existente. O que importa é a vontade real e não a declarada; daí a importância de desvendar a intenção consubstanciada na declaração. 
Art. 113. • Interpretação baseada na boa-fé e nos usos do local de sua celebração: O princípio da boa-fé está intimamente ligado não só à interpretação do negócio jurídico, pois segundo ele o sentido literal da linguagem não deverá prevalecer sobre a intenção inferida da declaração da vontade das partes, mas também ao interesse social de segurança das relações jurídicas, uma vez que as partes devem agir com lealdade e também de conformidade com os usos do local em que o ato negocial foi por elas celebrado. 
ART. 114. • Interpretação restritiva de negócio jurídico benéfico e de renúncia: Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia deverão ser interpretados restritivamente, isto é, o juiz não poderá dar a esses atos negociais interpretação ampliativa, devendo limitar-se, unicamente, aos contornos traçados pelos contraentes, vedada a interpretação com dados alheios ao seu texto. 
4 Representação; Legal; Convencional e Negócio consigo mesmo.
ART. 115.• Conceito de representação: A representação é a relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga diretamente perante terceiro, por meio de ato praticado em seu nome por um representante, cujos poderes são conferidos por lei ou por mandato. 
• Representante legal: O representante legal é aquele a quem a norma jurídica confere poderes para administrar bens alheios, como o pai ou mãe, em relação a filho menor, tutor e curador. A representação legal serve aos interesses do incapaz. 
• Representante convencional ou voluntário: O representante convencionado é o munido de mandato expresso ou tácito, verbal ou escrito, do representante, como o procurador, no contrato de mandato (CC, arts. 115, 2’ parte, 653 a 692 e 120, 2a parte). 
Art. 116. Efeitos da representação - A manifestação da vontade pelo representante ao efetivar um negócio em nome do representado, nos limites dos poderes que lhe foram conferidos, produz efeitos jurídicos relativamente ao representado, que adquirirá os direitos dele decorrentes ou assumirá as obrigações que dele advierem. Logo, uma vez realizado o negócio pelo representante, os direitos serão adquiridos pelo representado, incorporando-se em seu patrimônio; igualmente os deveres contraídos em nome do representado devem ser por ele cumpridos, e por eles responde o seu acervo patrimonial. 
Art. 117.• Anulabilidade de negócio jurídico celebrado consigo mesmo: Se o representante vier a efetivar negócio jurídico consigo mesmo no seu interesse ou por conta de outrem, anulável será tal ato, exceto se houver permissão legal ou autorização do representado. 
• Consequência jurídica do substabelecimento: Se, em caso de representação voluntária, houve substabelecimento de poderes, o ato praticado pelo substabelecido reputar-se-á como tendo sido celebrado pelo substabelecente, pois não houve transmissão do poder, mas mera outorga do poder de representação. É preciso esclarecer que o poder de representação legal é insuscetível de substabelecimento. Os pais, os tutores ou os curadores não podem substabelecer os poderes que têm em virtude de lei. 
Art. 118. • Necessidade de comprovação da qualidade de representante e da extensão dos poderes outorgados: Como os negócios jurídicos realizados pelo representante são assumidos pelo representado, aquele terá o dever de provar àqueles, com quem vier a tratar em nome do representado, não só a sua qualidade, mas também a extensão dos poderes que lhe foram conferidos, sob pena de, não o fazendo, ser responsabilizado civilmente pelos atos que excederem àqueles poderes. 
Art. 119. • Conflito de interesses existente entre representante e representado: Se, porventura, o representante concluir negócio jurídico, havendo conflito de interesses com o representado, com pessoa que devia ter conhecimento desse fato, aquele ato negocial deverá ser declarado anulável. 
• Prazo decadencial para anulação de ato efetuado por representante em conflito de interesses com o representado: Pode-se pleitear anulação do negócio celebrado com terceiro, pelo representante em conflito de interesses com o representado, dentro de cento e oitenta dias, contados da conclusãodo negócio jurídico ou da cessação da incapacidade do representado.
• Papel do curador especial: Havendo conflito de interesses entre representado e representante, os atos negociais deverão, para ser válidos, ser celebrados por curador especial. 
Art. 120. • Normas disciplinadoras dos efeitos e dos requisitos da representação: Os requisitos e os efeitos da representação legal regem-se pelos arts. 1.634, V, 1.690, 1.747,1, e 1.774 do Código Civil e os da representação voluntária pelos arts. 653 a 692 do Código Civil, alusivos ao contrato de mandato.
5. Elementos acidentais do negócio jurídico: CONDIÇÃO, TERMO, ENCARGO.
 Art. 121. • Conceito de condição: Condição é a cláusula que subordina o efeito do negócio jurídico, oneroso ou gratuito, a evento futuro e incerto. (Aquelas convencionadas pelas partes e não as impostas pela lei). 
• Requisitos: Para a configuração da condição será preciso a ocorrência dos seguintes requisitos: a)aceitação voluntária, por ser declaração acessória da vontade incorporada a outra, que é a principal por se referir ao negócio a que a cláusula condicional se adere com o objetivo de modificar uma ou algumas de suas conseqüências naturais; b) futuridade do evento, visto que exigirá sempre um fato futuro, do qual o efeito do negócio dependerá; e c) incerteza do acontecimento, pois a condição relaciona-se com um acontecimento incerto, que poderá ocorrer ou não. 
Art. 122. • Condição lícita: Lícita será a condição quando o evento que a constitui não for contrário à lei, à ordem pública ou aos bons costumes. 
• Condições proibidas: Estão defesas as condições: a) perplexas, se privarem o ato negocial de todo o efeito, como a venda de um prédio sob a condição de não ser ocupado pelo comprador; e b) puramente potestativas, se advindas de mero arbítrio de um dos sujeitos. O art. 122 veda a condição suspensiva puramente potestativa.
 Art. 123. • Condições suspensivas física ou juridicamente impossíveis: As condições fisicamente impossíveis são as que não podem efetivar-se por serem contrárias à natureza. As condições juridicamente impossíveis são as que invalidam os atos negociais a elas subordinados, por serem contrarias a ordem legal. 
• Condições ilícitas ou de fazer coisa ilícita: As condições ilícitas ou as de fazer coisa ilícita são condenadas pela norma jurídica, pela moral e pelos bons costumes e, por isso, invalidam os negócios a que forem apostas. 
• Condições incompreensíveis ou contraditórias: Se os negócios contiverem cláusulas que subordinem seus efeitos a evento futuro e incerto, mas eivadas de obscuridades, possibilitando várias interpretações pelas dúvidas que levantam, tais atos negociais invalidar-se-ão.
Art 124. • Condição resolutiva impossível: Se for aposta num negócio condição resolutiva impossível ou de não fazer coisa impossível, será tida como não escrita; logo, o negócio valerá como ato incondicionado, sendo puro e simples, como se condição alguma se houvesse estabelecido, por ser considerado inexistente.
Art. 125. • Condição suspensiva: Será suspensiva a condição se as partes protelarem, temporariamente, a eficácia do negócio até a realização do acontecimento futuro e incerto. 
• Efeito da condição suspensiva pendente: Pendente a condição suspensiva não se terá direito adquirido, mas expectativa de direito ou direito eventual. Só se adquire o direito após do implemento da condição. A eficácia do ato negocia ficará suspensa até que se realize o evento futuro e incerto. 
A condição se diz realizada quando o acontecimento previsto se verificar. Ter-se-á, então, o aperfeiçoamento do ato negocial, operando-se ex tunc, ou seja, desde o dia de sua celebração, se inter vivos, e da data da abertura da sucessão, se causa mortis, daí ser retroativo. 
Art, 126. • Inserção posterior de novas disposições: A norma não veda a possibilidade de, na pendência de uma condição suspensiva, fazer novas disposições, que, todavia, não terão validade se, realizada a condição, forem com ela incompatíveis. 
Art. 127. • Condição resolutiva: A condição resolutiva subordina a ineficácia do negócio a um evento futuro e incerto. Enquanto a condição não se realizar o negócio jurídico vigorará, podendo exercer-se desde a celebração deste o direito por ele estabelecido. Mas, verificada a condição, para todos os efeitos extingue-se o direito a que ela se opõe. 
Art. 128. • Implemento de condição resolutiva: Se uma condição resolutiva for aposta em um ato negocial, enquanto ela não se der; vigorará o negócio jurídico, mas, ocorrida a condição, operar-se-á a extinção do direito a que ela se opõe. 
Art. 129. • lmplemento fictício da condição: A condição suspensiva ou resolutiva valerá como realizada se seu implemento for intencionalmente impedido por quem tirar vantagem com sua não-realização. 
• Realização de condição tida como não verificada: Se a parte beneficiada com o implemento da condição forçar maliciosamente sua realização, esta será tida aos olhos da lei como não verificada para todos os efeitos. 
Art. 130. • Permissão de atos conservatórios na pendência de condição suspensiva ou resolutiva: Como o titular de direito eventual ou condicional não tem, ainda, direito adquirido, a lei reconhece-lhe a possibilidade de praticar atos conservatórios para resguardar seu direito futuro, impedindo, assim, que sofra qualquer prejuízo. Assim sendo, a condição suspensiva ou resolutiva não obsta o exercício dos atos destinados a conservar o direito a ela subordinado. 
Art. 131. • Acepção técnica de “termo”: Termo é a cláusula que subordina os efeitos do ato negocial a um acontecimento futuro e certo. 
• Termo inicial: O termo inicial ou suspensivo é o que fixa o momento em que a eficácia do negócio deve ter início, retardando o exercício do direito. Assim sendo, o direito a termo será tido como adquirido. 
• Efeitos antes do vencimento do termo inicial: O termo inicial não suspende a aquisição do direito, que surge imediatamente, mas só se torna exercitável com a superveniência do termo. O exercício do direito fica suspenso até o instante em que o acontecimento futuro e certo, previsto, ocorrer. 
Art. 132. • Termo e prazo: Não há que confundir o termo com o prazo, que é o lapso de tempo compreendido entre a declaração de vontade e a superveniência do termo em que começa o exercício do direito ou extingue-se o direito até então vigente. 
• Contagem dos prazos: O prazo é contado por unidade de tempo (hora, dia, mês e ano), excluindo-se o dia do começo e incluindo-se o do vencimento , salvo disposição, legal ou convencional, em contrário. Se se assumir uma obrigação dia 15 de maio, com prazo de um mês, não se computará o dia 15, e a obrigação vencer-se-á dia 16 de junho. 
• Para resolver questões alusivas a prazo, o Código Civil apresenta os seguintes princípios: a) se o vencimento do ato negocial cair em feriado ou domingo, será prorrogado até o primeiro dia útil subseqüente. Logo, como sábado não é feriado, não há qualquer prorrogação, a não ser que o pagamento tenha de ser efetuado em Banco que não tiver expediente aos sábados ; b) se o termo vencer em meados de qualquer mês, o vencimento dar-se-á no décimo quinto dia, qualquer que seja o número de dias que o acompanham; assim sendo, pouco importará que o mês tenha 28 ou 31 dias; c) se o prazo estipulado for estabelecido por mês, este será contado do dia do início ao dia correspondente do mês seguinte. Se no mês do vencimento não houver o dia correspondente, o prazo findar-se-á no primeiro dia subseqüente; d) se o prazo for fixado em horas, a contagem far-se-á de minuto a minuto.
Art. 133.• Presunção de prazo em favor de herdeiro: Nos testamentos presume-se que o prazo é estabelecido em favor de herdeiro. Se, porventura, houver prazo para a entrega de um legado, haverá presunção de que tal prazo foi fixado em favor do herdeiro obrigado a pagá-lo e não do legatário. O mesmo se diga relativamente aos prazos para a satisfação de encargo. 
• Presunção de prazo em favor do devedor: Nos contratos tem-se entendido que os prazossão estipulados em favor do devedor, exceto se do seu conteúdo ou das circunstâncias ficar evidenciado que foram estabelecidos em proveito do credor ou de ambos os contratantes. Se o prazo é estabelecido a favor do devedor, este poderá pagar o débito antes do vencimento, mesmo contra a vontade do credor, mas este não poderá exigi-lo antes do vencimento. Se foi avençado em proveito do credor, o deve. dor poderá ser forçado a pagar, mesmo antes de vencido o prazo. Se em prol de ambos os contratantes, apenas por mútuo acordo ter-se-á vencimento antecipado. 
Art. 134. • Vencimento imediato: Os atos negociais inter vivos sem prazo serão exequíveis imediatamente, abrangendo tanto a execução promovida pelo credor como o cumprimento pelo devedor. Todavia, como nos ensina João Franzen de Lima, “não se deve entender ao pé da letra, como sinônimo de imediatamente, a expressão desde logo, contida na regra deste dispositivo. Entendida ao pé da letra poderia frustrar o benefício, poderia anular o negócio. Deve haver o tempo bastante para que se realize o fim visado, ou se empreguem meios para realizá-lo”. Caso haverá em que impossível será o adimplemento imediato. 
• Prazo tácito: Para evitar hipóteses em que o adimplemento do contrato não se pode dar de imediato, esclarece o artigo sub examine que, se a execução tiver de ser feita em local diverso ou depender de tempo, não poderá, obviamente, prevalecer o imediatismo da execução. O prazo tácito decorrerá, portanto, da natureza do negócio ou das circunstâncias. 
Por exemplo, no transporte de uma mercadoria de São Paulo a Manaus, mesmo que não haja prazo, mister será um espaço de tempo para que seja possível a efetivação da referida entrega no local designado; na compra de uma safra de laranja, o prazo será a época da colheita, mesmo que não tenha sido estipulado. 
Art 135. Art 136. • Modo ou encargo: Modo ou encargo é a cláusula acessória aderente a atos de liberalidade inter vivos (doação) ou causa mortis (testamento ou legado)
Art. 137.• Iliceidade ou impossibilidade física ou jurídica do encargo: A ilicitude ou impossibilidade física ou jurídica do encargo leva a considerá-lo como não escrito, libertando o negócio jurídico de qualquer restrição, a não ser que se apure ter sido o modus o motivo determinante da liberalidade Inter vivos (doação) ou mortis causa (testamento) caso que se terá a invalidação do ato negocial; posta, fere disto; porem, fora disto , se aproveitará como puro e simples.
6. Defeitos ou vícios do negócio jurídico: Erro; Dolo; Coação; Estado de perigo; Lesão; Fraude contra credores e Simulação.
O pressuposto do negócio jurídico é a declaração da vontade, em conformidade com a norma legal e visando a uma produção de efeitos jurídicos. Elemento específico então é a emissão de vontade. Contudo, pode ocorrer uma declaração de vontade que não traduza a verdadeira atitude volitiva do agente ou persiga um resultado contrário as prescrições legais. Nesse caso não se nega a sua existência, pois que a vontade se manifestou e o negócio jurídico chegou a constituir-se, mas o ordenamento jurídico, porém lhe recusa efeitos. Pode dizer-se que há negócio jurídico, no entanto, ele é defeituoso. 
Os defeitos do negócio jurídico compreendem: 
* Vícios do consentimento - estabelecem uma desarmonia entre o querer do agente e sua manifestação externa. São o erro, o dolo, a coação, o estado de perigo e a lesão. Qualquer vício do consentimento pressupõe a má-fé do beneficiado. 
* Vício social - insubordinação da vontade às exigências legais no que diz respeito ao resultado querido. Vício social é a fraude contra credores. Tornam anulável o negócio jurídico (art. 171, II CC). É de quatro anos o prazo decadencial para a propositura da ação.
DO ERRO OU IGNORÂNCIA
Conceito: É a falsa idéia da realidade. No Erro, o agente por desconhecimento ou falso conhecimento das circunstâncias age de modo que não seria a sua vontade, desconhecendo a verdadeira situação. O Erro para viciar a vontade e tornar anulável o negócio deve ser substancial, isto é, de tal forma que sem ele o negócio não se realizaria. O termo ‘ignorância’ é utilizado para designar o total desconhecimento da realidade. Já o vocábulo ‘erro’ é empregado quando houver defeituosa percepção da realidade. Há erro substancial quando o erro incidir sobre: a natureza do negócio; o objeto principal da declaração; qualidade do objeto; qualidade essencial da pessoa. 
1- Natureza do negócio - Quando tenciona praticar certo negócio e, no entanto, se pratica outro. Ex.: A entrega determinado objeto a título de empréstimo e B recebe a título de doação. 
2- Objeto principal da declaração - Quando a coisa concretizada no ato em verdade não era pretendido pelo agente. Ex.: Penso que estou comprando um cavalo e compro um burro. 
3- Qualidade do objeto - Quando o objeto faltar alguma daquelas características que o agente tinha em vista ao celebrar aquele ato. Ex.: A compra de um quadro de um pintor famoso e, posteriormente, descobre-se que é de um pintor anônimo. 
4- Qualidade essencial de pessoa - Quando incide na identidade e nas qualidades dos outros contratantes ou do destinatário da declaração. Ex.: Art. 1557 do CC - “Considera-se erro essencial de pessoa do outro cônjuge: I - que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo erro tal, que o consentimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado. II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; III- a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; IV- a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado.” 
Erro Acidental: É o erro que recai sobre os motivos ou qualidades secundárias do objeto ou de pessoa e não altera a validade do negócio, porque não seria de se presumir que o agente procedesse diferentemente caso os pressupostos substanciais fossem diversos. O erro acidental não recai sobre os motivos fundamentais da vontade e por essa razão não é motivo de anulação do negócio.
Art 138. Em relação ao erro ou ignorância, podem ser anulados os negócios jurídicos resultantes de declaração de vontade com erro substancial capaz de ser percebido por pessoa normal em face do estado de coisas no momento da manifestação da mesma. 
Art 139. O próprio Código Civil, a seguir desta determinação, estabelece que erro substancial é aquele que interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais. Também é erro substancial aquele concernente à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante. 
Art. 140. Falso Motivo: Gustavo Tepedino assevera que a motivação ou os aspectos subjetivos que guiam os contratantes do negócio é, via de regra, irrelevante para a análise de sua validade. No entanto, se a motivação é causa determinante da declaração de vontade de uma das partes, a avença fica a ela condicionada. Exemplo de Pontes de Miranda: “Se A comprou a B o terreno, para construir edifício de apartamentos, do qual promete vender a B o décimo andar, a construção (motivo) foi elevada a categoria de condição, podendo B pedir a anulação por erro se A resolve construir, no terreno, prédio para estabelecimento de banco, ou não construir”. 
Art. 141. Erro obstativo ou impróprio: É considerado um vício do consentimento. É aquele que ocorre na hora da formação da vontade. Ex.: Eu quero comprar a casa 26 e me refiro a 25. Todas as vezes que o negócio é anulado por erro próprio ou impróprio se o terceiro ficar prejudicado, terá direito a ser ressarcido através de perdas e danos. 
O Erro prova-se por todos os meios em direito permitidos. Ex.: testemunha, prova material, inclusive, presunções. Quem alega oerro deve prová-lo. O Erro só pode ser alegado por aquele que aproveita o reconhecimento do vício, não pela outra parte. Embora anulável, o negócio eivado de erro prevalece enquanto não anulado por sentença. A anulação por erro deve ser pleiteada em ação ordinária, cujo prazo de decadência é de 4 anos, contados a partir da assinatura do contrato. 
Art. 142. A questão a ser considerada aqui é simplesmente se saber do que ou de quem se trata. Havendo erro de indicação sem se deixar de saber quem é a pessoa ou o que é a coisa, manter-se-á como válido o negócio realizado.
Art. 143. O erro de cálculo: é um erro secundário, ou seja, não vicia a vontade de celebrar o contrato. Ainda que eu soubesse do erro de cálculo eu celebraria o contrato, só que com outra base subjetiva, outro preço, outra proposta. Este erro só provoca a revisão objetiva do contrato, ou seja, preço, metragem... Ex. arroba que varia de região para região, não havendo padrão nacional. Eu celebrei um contrato de aquisição de semoventes pensando que o preço que eu estaria pagando correspondesse à arroba de 15 kg, e na verdade, naquela região a arroba corresponde a 12 kg. Mesmo que eu soubesse, faria o contrato, porém pleitearia um ajustamento no preço. 
Art 144. Aqui, mais uma vez, se constata que, independentemente do erro existente, o importante é que o objetivo final do negócio foi alcançado. 
*OBS.: Vicio redibitório: é o defeito oculto existente em coisa recebida, que a torna imprópria para o uso a que se destina ou implica diminuição de seu valor. Não se verifica vicio de vontade, porquanto o consentimento por parte do adquirente foi exteriorizadosem que este incorresse em qualquer engano. Pode aquele que adquiriu a coisa pleitear o desfazimento do negócio, por meio de ação redibitória, ou abatimento no preço, através de ação quanti minoris (estimatória). O prazo decadencial para a propositura: 30 dias, se o bem for móvel; e um ano, se imóvel.
DO DOLO
Conceito: Consiste em praticas maliciosamente levadas a efeito por uma parte ou por terceiros, a fim de conseguir de outra uma emissão de vontade que lhe traga proveito e que não teria sido obtido se o declarante não fosse enganado. É realizado através de uma ação ou omissão. O dolo só tem o efeito de anular um negócio jurídico quando chega a viciar ou a desnaturar declaração da vontade. Não há dolo sem vontade de enganar. 
O dolo eligido em defeito do negócio jurídico é o dolus malus caracteriza como perversidade de propósito e não o dolus bonus ou inocente que consiste no apregoamento de publicidade de qualidade na utilização de artifícios menos graves que uma parte adote para levar a outra a contratar ou para obter melhores proveitos do ajuste, o dolus bonus não anula o negócio. 
Elementos do Dolo: 
a) Elemento objetivo - é o comportamento ilícito de quem quer enganar. 
b) Elemento subjetivo - a intenção de enganar. 
Art. 145. O caput do artigo estabelece que os negócios jurídicos são anuláveis por dolo, quando este for a sua causa, sua origem, sua razão de ser. 
Dolo principal - quando é causa determinante do negócio. Sem ele o agente não teria praticado o negócio, opera assim como fator decisivo na obtenção do consentimento. Vicia e desnatura a declaração de vontade. 
Art. 146. Dolo acidental - “O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora de outro modo”. Não afeta declaração de vontade na sua motivação, mas provoca desvios que o modificam dentro de certos limites. O negócio teria sido praticado independentemente da malícia do interessado, porém em condições, para estes, menos vantajosas. O dolo principal, essencial ou substancial gera anulabilidade. 
Art. 147. É o que acontece quando uma das partes age em fraude da outra por meio do silêncio a respeito de uma qualidade da coisa que, se sabida, impediria o negócio de se concretizar. 
Art. 148. Dolo de terceiro: só anula negócio se a parte beneficiada nele envolvida tenha conhecimento (ou devesse ter conhecimento) da prática do dolo (neste caso o terceiro e o beneficiado respondem solidariamente pelas perdas e danos). Do contrário, gera apenas perdas e danos pagos pelo terceiro ludibriador. 
Art. 149. Dolo do Representante: o dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos. Quem pratica o dolo é o representante legal ou o convencional do titular do direito. Na hipótese da representação legal não existe culpa in eligendo por parte do representado, porque o representado não indica quem é o seu representante. A representação deriva da norma jurídica ou da decisão judicial. Já na representação convencional o legado é a má escolha que o representado faz na escolha do seu representante. Haveria, portanto, culpa in eligendo. 
Então, 1º. Caso – Representanção Legal o representado somente responderá pelo proveito que teve. A responsabilidade por perdas e danos cabe ao representante. 
2º. Caso – Representação Convencional respondem solidariamente pelas perdas e danos. 
Pergunta: caberia anulação ? O artigo é omisso quanto a este efeito, no entanto, parece estar subentendido este efeito por interpretação sistemática. Na medida em que o dolo é um vício do consentimento, e a vontade da vítima somente se deu em razão de uma ação maliciosa do representante convencional – isto é, o dolo é essencial – caberia anulação. 
Art. 150. Dolo Bilateral: o texto do caput do artigo é bastante claro no tocante à ação dolosa de ambas as partes e da impossibilidade de sua alegação para defesa própria de cada um.
DA COAÇÃO
Art. 151. Parágrafo único. Conceito: um conceito mais adequado para o direito é aquele proveniente do verbo coagir. O conceito de coagir é obrigar (alguém) a fazer ou não alguma coisa; constranger, forçar. Coagir é, então, forçar alguém a concretizar algo. No negócio jurídico é incutir temor em alguém de forma a se concretizar um negócio jurídico determinado e não desejado pela pessoa. 
• Pressão física e/ou moral que força a realização do negócio. 
• “Coação é toda a pressão física ou moral exercida contra alguém, de modo a forçá-lo contra a sua vontade, tornando defeituoso o negócio. É a coação, assim, o fator externo apto a influenciar a vítima no sentido de realizar, efetivamente, o negócio que a sua vontade (interna e livre) não deseja”. 
Obs.: Vis absoluta – faz desaparecer a vontade. Neste caso há duas correntes: uma que diz que o ato sob coação física é inexistente (corrente defendida por José de Abreu Filho e Humberto Theodoro Jr.) e outra que sustenta que a coação absoluta (física) é ato nulo (nessa corrente inserem-se Caio Mário e Orlando Gomes). 
Exemplo: alguém que assina um contrato sob a mira de uma arma de fogo. O ato aqui não é volitivo, a vontade do agente inexiste. 
Vis compulsiva – essa é a coação proveniente de um defeito do consentimento. É uma coação simplesmente moral que leva o agente a externar uma vontade em desacordo com seu querer interno. Apenas esse tipo de coação é defeito do negócio jurídico, a coação moral gera uma nulidade relativa (anulabilidade). 
Requisitos 
a) gravidade do dano causado à vítima ou a terceira pessoa; 
b) iminência ou atualidade (probabilidade e possibilidade) da ameaça; 
c) nexo de causalidade entre a coação e o ato extorquido; 
d) que a coação seja injusta. 
Art. 152. Circunstâncias subjetivas da vítima - O Art. 152 traz que no apreciar da coação, os aspectos subjetivos são relevantes para o seu caracterizar. São eles: o sexo, a idade, a formação intelectual e profissional. Embora não haja previsão legal, é entendimento doutrinário que, da mesma forma que o erro e o dolo, a coação tem de ser principal, ou seja, a coação tem que ser de tal forma que sem ela o negócio não se realizaria. A coação acidental que se perfaz quando o agente celebraria o negócio mesmo sema pressão sofrida, somente obriga as perdas e danos. 
Art. 153. Causas excludentes da coação moral (Art. 153) 
a) temor reverencial; 
b) ameaça proveniente do exercício regular de um direito legalmente constituído. 
Art. 154. Aqui busca-se evitar mais uma vez o conluio de duas partes em prejuízo da outra que expressaria sua vontade sob coação. 
Art. 155. A coação considerada quanto a seus efeitos: em regra a coação moral provoca a anulação do negócio, o prazo decadencial é de 4 anos para pleitear a desconstituição, e a pretensão das perdas e danos deve ser exercida no prazo prescricional de 3 anos. Todavia, há uma exceção que é o art. 155 CC (coação de terceiro), pois estando o beneficiado de boa-fé, por não ter rompido a confiança, o negócio permanece válido, cabendo ao coagido apenas o direito de postular as perdas e danos em face do coator. 
DO ESTADO DE PERIGO
Art. 156. Parágrafo único. Conceito segundo analogia feita por Maria Helena Diniz, o estado de perigo é uma espécie de projeção do estado de necessidade para as relações contratuais. O estado de perigo se caracteriza quando alguém, premido de necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Além do mais, o estado de perigo guarda correlações com outros vícios dos negócios, como a lesão e a coação. Assemelha-se à coação na medida em que o sujeito contrata por uma pressão externa sobre sua vontade que o força a realizar um negócio que em circunstâncias ordinárias não realizaria. Obviamente, na coação a pressão para a realização do negócio é fruto de ação humana, enquanto no estado de perigo, como o próprio nome já sugere, é proveniente de circunstancias de fato. Aproxima-se da lesão, pois há um desequilíbrio na relação contratual, pois o agente ou assume uma obrigação que jamais poderia dar conta, ou aliena bens a preço vil, obviamente, na configuração do estado de perigo a outra parte deve ter ciência das circunstâncias que levaram o agente a contratar. 
Natureza Jurídica: Há duas correntes. Prevalece o entendimento que é defeito do consentimento, mas há quem diga que é um defeito atípico. Jose Acir diz que o estado de perigo é defeito extraordinário, é defeito atípico, não é defeito de consentimento. Do ponto de vista legal, o estado de perigo é vício do consentimento, mas assisti razão à corrente que sustenta o defeito atípico. Isto porque o estado de perigo configura-se circunstancialmente, isto é, o caracterizar do defeito necessita que se conheçam as circunstâncias fáticas que nortearam o negócio. É um defeito que deriva do fato daquele momento que você atravessa por extrema necessidade, não sendo possível uma mera configuração formal. Ex.: O cheque-caução é outro exemplo de Estado de Perigo – quando se chega em um hospital e é cobrado um cheque como garantia do pagamento do tratamento. 
Requisitos 
a) existência de grave dano; b) que o dano seja atual (ou iminente); c) que o perigo seja a causa determinante da declaração; d) a existência de obrigação excessivamente onerosa; e) intenção de salvar a si ou a pessoa da família (ou a terceiro). 
Estado de perigo como defeito atípico
O CC apresenta o efeito do estado de perigo sendo a anulabilidade da relação jurídica com base no art 171, II – sujeito ao prazo decadencial de 4 anos. 
DA LESÃO
Art. 157. § 1º, § 2º. Conceito: Lesão é toda espécie de ofensa ou dano causado à coisa ou ao direito, de que possa resultar um prejuízo para seu proprietário ou titular. Premente necessidade é a situação angustiante e aflitiva de se obter alguma coisa. Tanto a premente necessidade quanto a inexperiência podem fazer com que a pessoa assuma uma obrigação muito desproporcional ao valor da outra prestação, ou seja, do que vai obter. A desproporção das prestações será considerada de acordo com os valores vigentes na celebração do negócio jurídico. O negócio não será anulado se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. 
Natureza Jurídica: É um vício do consentimento típico, pois dependo da natureza da relação jurídica, pode possuir efeitos diferenciados. Podemos identificar três efeitos legais, para a lesão jurídica. A lesão civil do Art. 157, que pode gerar anulabilidade ou, como efeito principal, revisão objetiva do valor injusto; a lesão consumerista do Art. 51 do CDC que decreta a nulidade da clásula abusiva nas relações de consumo e a lesão da Medida Provisória 2172/01 que afeta os juros abusivos nos contratos de natureza civil. 
Então: 1º. Lesão do Código Civil. 2º. Lesão do Código de Defesa do Consumidor 
Lesão consumerista: 
“Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; 
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: 
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;” 
*OBS: Declarada a nulidade de uma cláusula contratual – como pode ocorrer num contrato bancário de revisão de juros – a obrigação principal permanece válida, pois o acessório segue a coisa principal, a qual não se vincula ao primeiro : accessorium sequitur suum principale. 
DA FRAUDE CONTRA CREDORES
Art. 158. § 1º, § 2º. • Fraude contra credores e seus elementos: A fraude contra credores constitui a prática maliciosa, pelo devedor, de atos que desfalcam seu patrimônio, com o fim de colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas em detrimento dos direitos creditórios alheios. Dois são seus elementos: o objetivo (eventus damni), que é todo ato prejudicial ao credor, por tornar o devedor insolvente ou por ter sido realizado em estado de insolvência, ainda quando o ignore ou ante o fato de a garantia tornar-se insuficiente; e o subjetivo que é a má-fé, a intenção de prejudicar do devedor ou do devedor aliado a terceiro, ilidindo os efeitos da cobrança. 
• Estado de insolvência: ter-se-á insolvência sempre que os débitos forem superiores à importância dos bens do devedor. 
• Ação pauliana: A fraude contra credores, que vicia o ’negócio’ de simples anulabilidade, somente é atacável por ação pauliana ou revocatória, movida pelos credores quirografários (são aqueles que não possuem preferência ou garantia em relação ao seu crédito). Que já o eram ao tempo da prática desse ato fraudulento que se pretende invalidar. 
Art. 159. A condição da insolvência de uma pessoa é, cada vez mais, difícil de se ocultar. A velocidade e a possibilidade do acesso às informações pessoais é crescente, principalmente no que toca ao patrimônio e às condições econômicas. 
• insolvência notória Será notória a insolvência de certo devedor se for tal estado do conhecimento geral. Todavia, desta notoriedade não se poderá dispensar prova; logo todos os meios probatórios serão admitidos. Por exemplo, será notória a insolvência se o devedor tiver seus títulos protestados ou ações judiciais que impliquem a vinculação de seus bens. 
• insolvência presumida. Será presumida a insolvência quando as circunstâncias indicarem tal estado, que já devia ser do conhecimento do outro contraente. que tinha motivos para saber da situação financeira precária do alienante. 
Art. 160. Parágrafo único. • Perda da legitimação ativa para mover ação pauliana: Perderão os credores a legitimação ativa para mover a ação revocatória dos bens do devedor insolvente que ainda não pagou o preço, que é o corrente, depositá-lo em juízo, com citação em edital de todos os interessados ou, ainda, se o adquirente, sendo o preço inferior, para conservar os bens, depositar quantia correspondente ao valor real. 
• Exclusão da anulação de negócio jurídico oneroso fraudulento: Para que não haja nulidade relativa do negócio jurídico lesivo a credor, será mister que o adquirente:a) ainda não tenha pago o preço real, justo ou corrente; b) promova o depósito judicial desse preço; e c) requeira a citação em edital de todos os interessados, para que tomem ciência do depósito. Com isso estará assegurando a satisfação dos credores, não se justificando a rescisão contratual, pois ela não trará qualquer vantagem aos credores defraudados, que, no processo de consignação em pagamento, poderão, se for o caso, contestar o preço alegado, hipótese em que o magistrado deverá determinar a perícia avaliatória. 
Art. 161. Art. 162. • Pagamento de dívida não vencida feito por devedor insolvente: O pagamento antecipado do débito a credores frustra a igualdade que deve existir entre os credores quirografários, que, por tal razão, poderão propor ação pauliana para invalidá-lo, determinando que o beneficiado reponha o que recebeu em proveito do acervo. 
•Efeitos de pagamento indevido a credor quirografário: O credor que vier a receber pagamento de dívida ainda não vencida será obrigado a devolver o que recebeu, mas essa devolução não apenas aproveitará aos que o acionaram, pois reverterá em beneficio do acervo do devedor, que deverá ser partilhado entre todos os credores que legalmente estiverem habilitados no concurso creditório. 
Art. 163. • Outorga de garantias reais: Será fraudatória a outorga de garantias reais (CC, art. 1.419) pelo devedor insolvente a um dos credores quirografários, lesando os direitos dos demais credores, o que acarretará a sua anulabilidade. 
• Ação pauliana para anular garantia de dívida: Se, estando caracterizada a insolvência, o devedor der garantia real de dívida, vencida ou não, a um dos credores quirografários, este ficará em posição privilegiada em relação aos demais, que, então, poderão mover contra o devedor ação pauliana para declará-la anulada, por estar configurada a fraude contra credores. Se tal garantia for dada antes da insolvência do devedor, não haverá que falar em fraude contra credores. 
Art. 164. • Preservação do patrimônio do devedor insolvente: Se o devedor insolvente vier a contrair novo débito, visando beneficiar os próprios credores, por ter o escopo de adquirir objetos imprescindíveis não só ao funcionamento do seu estabelecimento mercantil, rural ou industrial, evitando a paralisação de suas atividades e conseqüentemente a piora de seu estado de insolvência e o aumento do prejuízo aos seus credores, mas também à sua subsistência e a de sua família, o negócio por ele contraído será válido, ante a presunção em favor da boa-fé. 
• Consequências da presunção da boa-fé: Todos os novos compromissos indispensáveis à conservação e administração do patrimônio do devedor insolvente, mesmo que o novo credor saiba de sua insolvência, serão tidos como válidos, e o novel credor equiparar-se-á aos credores anteriores. A dívida contraída pelo insolvente com tal finalidade não constituirá fraude contra credores, sendo incabível a ação pauliana. 
Art. 165. Parágrafo único. • Principal efeito da ação pauliana: A ação pauliana tem por primordial efeito a revogação do negócio lesivo aos interesses dos credores quirografários, repondo o bem no patrimônio do devedor, cancelando a garantia real concedida em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, possibilitando a efetivação do rateio, aproveitando a todos os credores e não apenas ao que a intentou. 
• Anulação de garantia real: Se, porventura, o ato invalidado tinha por único escopo conferir garantias reais, como penhor, hipoteca e anticrese, sua anulabilidade alcançará tão-somente a da preferência estabelecida pela referida garantia; logo a obrigação principal (débito) continuará tendo validade. Com a anulação da garantia, o credor não irá perder seu crédito, pois figurará, perdendo a preferência, como quirografário, entrando no rateio final do concurso creditório.

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