Buscar

O que é direito? Roberto Lyra Filho

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - DCJ
CURSO: Direito / 1º período – Noturno
DISCIPLINA: Introdução ao Direito I
DISCENTE: Laura Maria Soares Leal 20190081472
DOCENTE: Ana Lia Almeida
O QUE É DIREITO?
Roberto Lyra Filho
SANTA RITA/PB,
2019
LYRA FILHO, Roberto. O que é Direito. São Paulo: Brasiliense (Primeiros Passos), 2006. 
I – DIREITO E LEI
	“Em todo caso, não se trata de um problema de vocabulário. A diversidade das palavras atinge diretamente a noção daquilo que estivermos dispostos a aceitar como direito” (p.8)
“A lei sempre emana do Estado, e permanece, em última análise, ligada à classe dominante”(p.8)
“[...]não se pode afirmar[...]que toda legislação seja Direito autêntico, legítimo e indiscutível” (p.8)
A princípio, o autor deseja esclarecer que em virtude da associação do direito à lei -muitas vezes ocasionado pelo fato de haver uma mesma palavra referindo-se aos dois conceitos - tornou-se comum olhar para o direito dependente da legislação, ou intrinsicamente sinônimos, acarretando na ideia de algo imutável. Mas, há um perigo nessa ideia, pois as normas surgem do Estado, que é influenciado por classes dominantes. Isso, portanto, mostra que não se pode olhar para o Direito como algo incontestável, visto que ele, por muitas vezes, atende aos caprichos do poder - logo, estaria ele carregado de impurezas, parafraseando Hans Kelsen. 	
Nessa perspectiva, é notório que, na contemporaneidade brasileira, tal conclusão sucede quando, por exemplo, o presidente da república propõe uma reforma da previdência social que privilegia a classe dos empresários, ou seja, a que traz mais riqueza financeira ao pais, e esquece dos menos favorecidos, sendo assim a regulamentação “criada pelo Estado” agiu de acordo com determinado poder. 
“Uma exata concepção do Direito não poderá desprezar todos esses aspectos do processo histórico, em que o círculo da legalidade não coincide, sem mais, com o da legitimidade”(p.11)
“Uma ciência verdadeira, entretanto, não pode fundar-se em “dogmas”(p.11)
“Nossa objetivo é perguntar, no sentido mais amplo, o que é Direito(com ou sem leis), mas é preciso esclarecer, igualmente, que nada é, num sentido perfeito e acabado, que tudo é, sendo” (p.12)
Na perspectiva do trecho supracitado, Roberto entende que o conceito de Direito, enquanto uma ciência, deve estar ligado à conjuntura social de onde ele vigora e que as normais estatais também devem valer-se dela para, então, atender, de fato, a sociedade e não a determinada classe. Desse modo, compreende-se que a construção do direito não pode ser fixa e estar ligada a poderes, mas sim a contextos, visto que ele não é, ele está sendo – parafraseando Lyra Filho – como também, não há verdades absolutas, de acordo com Nietsche na sua obra “Sobre verdade e mentira no sentido extra moral”.
 Nessa conjuntura, reitero o exemplo já citado para confirmar o exposto, visto que o presidente fez com que o Estado tomasse medidas, no tocante à reforma da previdência, sem levar em conta a conjuntura social como um todo, apenas observou partes dela e tomou-lhe como verdade suficiente para justificar sua ação. 
II – IDEOLOGIAS JURÍDICAS
“[...] o emprego atual, mais comum, do termo ideologia, como uma série de opiniões que não correspondem à realidade”(p.17)
	“A ideologia, como crença falsa, leva-nos, portanto, à abordagem da falsa consciência”(p.19)
 	“O “discurso competente”, em que a ciência se corrompe a fim de servir a dominação conveniente, mediante o qual classes privilegiadas substituem a realidade pela imagem que lhes é mais favorável, e tratam de impô-la aos demais, com todos os recursos de que dispõem”(p.20)
	“As ideologias absorvidas e definidas por este ou aquele sujeito, não são por ele criadas, mas recebidas”(p.20)
	“Tudo isso reflete nas ideologias jurídicas. Tal como as outras, elas aparecem dando expressão, em última análise, aos posicionamentos de classe, tanto assim que as correntes de “ideias aceitas” podem mudar – e, de fato, mudam – conforme esteja a classe em ascensão, relativa estabilidade ou decadência”(p.26)
	Lyra Filho, no segundo capítulo da obra, aborda os possíveis conceitos acerca de ideologia. O que mais chama atenção seria a falsa consciência, o qual trata a ideologia como uma crença falsa, visto que ela é constituída de conceitos oriundos de outras pessoas que são do convívio daquele dotado de ideologias. Desse modo, o indivíduo em si não constrói seus ideias, eles são postos através de discursos formulados por opiniões acerca de uma realidade. Esses discursos, por sua vez, são aplicados por pessoas dotadas de significações – parafraseando Foucault na sua produção A Ordem do Discurso – e tidas como mais experientes ou competentes, por exemplo, um pai de família impõe que suas filhas não podem trabalhar porque devem cuidar da família, um candidato a presidência faz sua propaganda na televisão persuadindo pessoas inferiores a ele, logo, nos dois exemplos, pessoas de classes menores são ideologizadas por determinado superior que se vale do que o autor chama de “discurso competente”, conquistando uma dominação. Ademais, é importante ressaltar que toda essa conjuntura está refletida nas ideologias jurídicas, que, assim como as demais, são passageiras e estão de acordo com o momento social.
III – PRINCIPAIS MODELOS DE IDEOLOGIA JURÍDICA
“Tomaremos apenas dois modelos básicos[...]o direito natural e o direito positivo”(p.29)
Ao iniciar o terceiro capítulo da sua obra, Lyra Filho escolhe abordar o Direito Natural (jusnaturalismo) e o Direito Positivo (Positivismo) dentre tantas outras, em virtude dos juristas, em sua maioria, abordar uma delas como norte. Desse modo, na minha perspectiva, atrelado aos trechos produzidos pelo autor, o direito enquanto positivo seria uma ordem estabelecida, inalterável e que busca manter a ordem social. Por sua vez, o jusnaturalismo baseia-se na justiça, em uma ordem justa.
“[...]é o positivismo que hoje predomina entre os juristas do nosso tempo”(p.31)
É válido ressaltar que tal trecho retoma o fato de estereotipar-se o direito à norma, ou como algo fixo e puro – elucidando a Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen- visto que, o positivismo – enquanto norma estabelecida – influência nesse conceito, conservando o que Lyra Filho virá a chamar de mito da “neutralidade” implantada no direito.
Porém, na referida citação o autor deseja enfocar que o positivismo é dominante dentro do contexto da escrita da obra – década de oitenta – o que nos leva, portanto, a considerar como o principal modelo de ideologia jurídica da época. 
“Há, porém, várias espécies de positivismo. Destacaremos, no mínimo, três: o positivismo legalista; o positivismo historicista ou socialista; o positivismo psicologista”(p.35)
	Acerca dos fragmentos do positivismo, a legalista pode ser considerada a mais positivista de todas, visto que a lei é tida como superior em qualquer circunstância atuando como uma dominação legal, de acordo com Os Três Tipos Puros de Dominação Legítima de Max Weber. Isso, mais uma vez, está intrinsicamente ligado a teoria de Kelsen, a qual trata do direito como algo puro e unido à norma, ou seja, em ambos os casos a lei é a base de tudo e deve ser aplicada friamente. 
Em contrapartida, o positivismo enquanto historicista ou socialista enfoca os costumes do povo como normas, logo, a lei viria do povo e não estaria a cima dele e agiria como uma dominação tradicional conceituada por Weber. Além dos citados, o positivismo psicologista é norteado através do desejo do povo estando dento de algum sujeito privilegiado. De todo modo o autor, por fim, considera que as três frações do positivismo não passam de algo cíclico, porque tudo se torna lei, independente de onde ela “começa”.
“O direito natural apresenta-se, fundamentalmente, sob três formas, todas elas procurando estabelecer o padrão jurídico, destinado a validar as normas eventualmente produzidas, ou explicar por que elas não são válidas. As três formassão: a)o direito natural cosmológico; b) o direito natural teológico; c) o direito natural antropológico. A primeira liga-se ao cosmo, o universo físico; a segunda volta-se para Deus; a terceira gira em torno do homem”(p.44)
Na perspectiva jusnatural, Lyra aborda três fragmentações, chegando ,posteriormente, a uma quarta. A primeira delas seria o direito natural, originado na natureza, no universo. O segundo seria o teológico, assim como sugere o nome, aqui Deus é o supremo e seus soberanos formulam as leis do homem baseado Nele, coisa recorrente, principalmente, na Idade Média, como exemplifica o autor na sua obra “O que é Direito?”. Posterior a isso, perante ascensão burguesa, surge o direito enquanto antropológico, cujo objetivo é criar princípios por parte da racionalidade característica ao homem, logo, o humano é o superior, o que favoreceu o crescimento da referida classe. Destarte, essa divisão remete a ideia de algo cronológico, como se o direito natural fosse moldado assentindo com as prioridades da época. 
“[...]se esboça a especial tensão do jusnaturalismo, que vive oscilando entre os dois polos.[...]o direito natural conservador e o direito natural do combate”(p.45)
Ficou notório a ideia de que o direito natural atende as necessidades do momento, especialmente de classes inferiores. Outrossim, em cada período já haviam direitos estabelecidos, mas que não atendiam a todas as classes (o direito conservador), e, por sua vez, o direito de combate que reivindicava as aflições dos inferiores.
Por conseguinte, isso gerou o que o autor considera de a tensão do jusnaturalismo(p.45), que seria esse embate entre dois direitos.
“As ideologias jurídicas deram-nos, com seus reflexos distorcidos, uma visão dos problemas que surgem, quando o homem pensa, abstratamente, sobre direito”(p.53)
Em linhas gerais, destarte, a concepção no tocante ao que é o Direito é problemática. Para evitar esse conflito é necessário valer-se da Sociologia Jurídica, pois é o primeiro passo rumo à concepção dialética do Direito (p.54)
IV- SOCIOLOGIA E DIREITO
	“A história registra o concreto-singular; a Sociologia aborda na multiplicidade”(p.60)
	“Aplicando-se ao Direito uma abordagem sociológica será então possível esquematizar os pontos de interrogação do fenômeno jurídico na vida social, bem como perceber a sua peculiaridade distintiva, a sua essência verdadeira”(p.61)
No panorama supramencionado, Lyra Filho afirma que para possivelmente- não há verdades absolutas, de acordo com Nietsche - compreender o verdadeiro Direito é necessário liga-lo à sociologia, pois ela analisa os fatos em diversas óticas, levando em consideração os mais diversos fatores que possam levar a conclusão de uma essência. Isso contrapõe a Teoria Pura Do Direito de Hans Kelsen, criticada em momentos anteriores por Lyra –“Assim é que, [Kelsen] para conservar aquele mito da “neutralidade”, afirma que o Direito é apenas uma técnica de organizar a força do poder; mas, desta maneira, deixa o poder sem justificação”(p.42)-, visto que não da para compreender o Direito isolado de fatos externos. 
“Cabe, entretanto, uma ressalva aqui sobre duas maneiras de ver as relações entre Sociologia e Direito: a que origina uma Sociologia Jurídica e a que produz uma Sociologia do Direito”(p.61)
A partir desta abordagem, o autor ressalva que é possível constituir uma dicotomia na relação entre sociologia e direito. Desse modo, a Sociologia Jurídica seria voltada mais para a ordem e mudança social (p.62), diferentemente da Sociologia do Direito, que faria abordagens mais específica (p.61) ou restrita. 
V – A DIALÉTICA SOCIAL DO DIREITO 
	“Existe uma sociedade internacional, e também nela, uma dialética.[...]A infraestrutura internacional é, entretanto, diferente, pois ela se caracteriza pela coexistência, pacífica ou violenta, de modos de produção distinto[...]”(p.78)
	“As sociedades nacionais têm, é claro, o seu único e próprio modo de produção: a sua infraestrutura é homogênea, e em consequência dela, as classes se dividem[...]Assim é que aparecem o domínio classista e as divisões grupais”(p.79)
Acordando com os trechos mencionados, as sociedades internacionais se caracterizariam pelo modo de produção distinta. Opondo-se a ela, as sociedades nacionais teriam um único modelo, mas é isso que acarreta as divisões de classe, que notoriamente não são completamente saudáveis para sociedades em geral.
	Sendo assim, nas sociedades nacionais haverá uso de forças que o autor vem a chamar de força centrípeta e centrifuga. Na centrípeta “eles constituem os veículos de dominação e se entrosam nas instituições sociais, invocando princípios ideológicos”(p.80), ou seja, a partir da fragmentação de classes, as dominantes se embasam em ideologias ou melhor dizendo, culturas, para impor uma controle ou mudança social de acordo com o seu desejo. Isso é muito recorrente em sociedades democráticas desiguais como o Brasil, país no qual superiores dominam claramente em qualquer área (público, privada, etc) através, principalmente de discursos – parafraseio, assim, mais uma vez, a obra de Foucault “A ordem do discurso”, no qual o discurso é mecanismo de dominação- mas, também, de outras maneiras. Por sua vez, na visão centrífuga “As cristalizações de normas das classes e grupos espoliados e oprimidos produzem as instituições próprias”(p.81), o que nos leva a compreender que o indivíduo é dotado de autonomia, sem demais persuasões.
	“Marx afirmou que “a liberdade é a essência do homem”[...]mostrando que a essência do homem é o conjunto de relações sociais”(p.93)
	“O que é “essencial” no homem é a sua capacidade de libertação, que se realiza quando ele, conscientizado, descobre quais são as forças da natureza da sociedade que o “determinariam”, se ele deixasse levar por elas”(p.94)
	“[O direito eles brotam nas oposições, no conflitos no caminho penoso do progresso, com avanços e recuos, momento solares e terríveis eclipses]”(p.99)
	“O direito, em resumo, se apresenta como positivação da liberdade conscientizada e conquistada nas lutas sociais e formula os princípios supremos da Justiça Social que nela se desvenda”(p.101/102)
	Em suma, entendemos por Direito aquilo mutável e originado da luta. Aprofundando, para construção do Direito é necessário um homem livre e dotado de uma consciência suficiente para filtrar aquilo que é realmente necessário para carregar em sua bagagem intelectual, que, por sua vez, reflete nas suas ações diárias perante a sociedade a qual está inserido. Outrossim, o direito vale-se dos conflitos para ser construído, pois, em suma, só há necessidade dele a partir de oposições. Exemplo prático do que vem a ser Direito, para Lyra Filho, seria o direito à mulher ao voto, pois diante da expressiva entrada da mulher no mercado, houve um aguçamento relevante, por parte da classe, em fazer parte das decisões sociais igualmente ao sexo masculino. Claramente, para as ideologias da época, muitos resistiram a essa ideia, especialmente aqueles que já detinham do poder desejado, mas, desse conflito, houve o êxito na formulação desse direito vigente na contemporaneidade.

Outros materiais