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RADIOBIOLOGIA Helena R. Comodo Segreto11 Roberto A. Segreto22 1 Professora Adjunta do Departamento de Medicina e Coordenadora do Laboratório de Radioterapia Experimental da UNIFESP/EPM. 2 Professor Adjunto –Livre Docente do Departamento de Medicina e Chefe do Setor de Radioterapia da UNIFESP/EPM Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina 2 RESUMO A radiobiologia é a área da ciência que estuda os efeitos biológicos da radiação ionizante. Estas radiações podem interagir diretamente com os componentes celulares (efeito direto) ou de modo indireto pela radiólise da água (efeito indireto). Após interação das radiações ionizantes com as células, alterações celulares e moleculares ocorrem, sendo o DNA um dos alvos mais importantes das radiações. A resposta biológica é diferente para os diferentes tecidos dependendo principalmente da capacidade de reparo das lesões radioinduzidas. Em relação à radioterapia, o conhecimento dos efeitos biológicos das radiações e a aplicação dos conceitos de radiobiologia têm ajudado no desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes e seguras. No presente capítulo serão abordados os aspectos básicos de radiobiologia e suas aplicações clínicas em radioterapia. 3 INTRODUÇÃO No final do século XIX alguns fatos importantes na história das radiações ionizantes ocorreram: a descoberta dos raios X por Wilhem Conrad Röntgen em 1895, constatação da radioatividade natural do urânio por Henri Becquerel em 1896, a separação do polônio e do rádio por Pierre e Marie Curie em 1898. A partir dessas descobertas, a radiação ionizante passou a ser amplamente utilizada na indústria e na Medicina, com finalidade de pesquisa, diagnóstico e tratamento de doenças. Do ponto de vista físico, as radiações podem ser classificadas em corpusculares e eletromagnéticas. As radiações corpusculares possuem massa (elétrons, prótons, nêutrons) e as eletromagnéticas são ondas com diferentes comprimentos e a mesma velocidade, que é a da luz. Para fins biológicos as radiações podem ser classificadas em não ionizantes e ionizantes. As radiações não ionizantes são aquelas que não possuem energia suficiente para realizar ionização de átomos biologicamente importantes. As radiações ionizantes caracterizam-se por promover ionização, isto é, quando interagem fazem com que elétrons sejam ejetados da órbita do átomo. Pequena parte da energia das radiações ionizantes é gasta com excitação, quando os elétrons apenas mudam de órbita no átomo. Importante propriedade física destes agentes, que interfere no efeito biológico, é a transferência linear de energia (LET), que é a taxa de energia liberada pela radiação por unidade de caminho percorrido. A densidade de ionização produzida num dado meio depende da massa, velocidade e carga. Partículas com pequenas velocidades ou pesadas (grande massa) por exemplo, dissipam sua energia em pequena trajetória e ionizam mais densamente. As radiações corpusculares apresentam alta densidade de ionização em pequeno trajeto e são consideradas de alto LET. As eletromagnéticas ionizam esparsamente percorrendo maior trajeto e são consideradas de baixo LET. A energia das radiações é também fator importante a ser considerado. Quanto maior a energia, maior a capacidade de penetração no meio absorvedor. Outro aspecto físico que influencia no efeito biológico é a taxa de dose, que é a quantidade de energia liberada num determinado tempo. De modo geral, podemos dizer que quanto menor a taxa de dose, menor a eficácia radiobiológica pois aumenta a chance de reparo da lesão radioinduzida. Basicamente, o efeito biológico depende da densidade de ionização no tempo (taxa de dose) e no espaço (LET). Com o amplo uso das radiações em diversas áreas de atuação humana, efeitos indesejáveis ocorreram. Dessa forma, houve a necessidade de se conhecer os mecanismos de ação destes agentes e como respondem os diversos tecidos após interação. A área de conhecimento que estuda os efeitos biológicos das radiações ionizantes é a radiobiologia. Em relação a radioterapia, onde se deseja destruir o tecido patológico e preservar o tecido normal adjacente, o conhecimento dos efeitos biológicos das 4 radiações e a aplicação dos conceitos de radiobiologia têm ajudado no desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes e seguras. MECANISMO DE AÇÃO As radiações ionizantes podem interagir diretamente com componentes celulares como DNA, proteínas e lipídeos, provocando alterações estruturais. É o chamado efeito direto e constitui cerca de 30% do efeito biológico das radiações. Podem também interagir com o meio onde os constituintes celulares e as próprias células estão suspensas ou seja, a água, produzindo radicais livres. Neste caso temos o efeito indireto que corresponde a cerca de 70% do efeito biológico produzido pelas radiações. A maior probabilidade de ocorrência do efeito indireto deve-se ao fato da água ocupar parcela substancial da composição celular. Além disto, os radicais livres também podem ser produzidos devido à ionização de outros constituintes celulares, particularmente os lipídeos. O principal radical livre oxidante resultante da radiólise da água é o hidroxil. A recombinação dos radicais livres leva à formação de outros componentes como o peróxido de hidrogênio (H2O2). Quando os radicais hidroxil reagem com moléculas orgânicas, formam-se radicais livres orgânicos. A presença de oxigênio induz a formação de radicais livres peroxidantes, os quais não permitem a recombinação para a molécula original, levando ao aumento de radicais livres no meio e maior potencial lesivo. RESPOSTA BIOLÓGICA – A CÉLULA IRRADIADA DNA O DNA é um dos alvos mais importantes para os efeitos citotóxicos da radiação. Entre as alterações radioinduzidas, as quebras duplas do DNA são as mais prejudiciais podendo levar as células à morte. Considera-se que as células apresentam a mesma quantidade de quebras duplas por Gray de radiação. O que diferencia a resposta ou a sensibilidade de diferentes células é a capacidade de reparo das quebras duplas. Além disto, é importante também a fidelidade do reparo. CROMOSSOMOS Quebras e rearranjos cromossômicos podem ser induzidos pela radiação. Podem ocorrer fragmentos acêntricos, dicêntricos e anéis (mutações instáveis) e translocações e inversões (mutações estáveis). MEMBRANAS A radiação interage com as proteínas estruturais e com os lipídeos de membrana provocando a peroxidação lipídica. Sugere-se que como conseqüência da peroxidação lipídica as membranas apresentam enfraquecimento em sítios especiais enquanto que a maior parte dela apresenta aumento de rigidez, prejudicando sua função. SISTEMA DE TRANSDUÇÃO, FATORES DE CRESCIMENTO, , INDUÇÃO DE GENES Logo após irradiação, o sistema de transdução mediado pela proteína quinase C (PKC) e pela tirosina quinase é estimulado. Isto leva à indução de genes como o c-fos, c-jun. Tais genes de resposta rápida ativam outros, incluindo aqueles para o fator de necrose tumoral (TNF), para o fator de crescimento de fibroblastos (FGF), e para o 5 fator de transformação de crescimento (TGF). Esta cascata de ativação de genes, transcrição e síntese de proteínas em resposta à radiação, relaciona-se com funções chaves que permitem à célula sobreviver após irradiação. CICLO CELULAR A fase de mitose (M), é extremamente sensível à radiação, pois existe grande possibilidade de “fixação” da lesão radioinduzida. Acredita-se que este fato ocorra devido à grande compactação do DNA. Isto aumenta a probabilidade de interação, provocando aberrações cromossômicas e morte celular, o que corresponde ao aumento da radiosensibilidade. A grande campactação da cromatina torna as lesões inacessíveis às enzimas reparadoras. A fasede síntese (S) é a menos sensível à radiação possivelmente devido à duplicidade do conteúdo informacional. Isto poderia tornar viável a atuação dos mecanismos de reparo. A radiação provoca retardo em G2/M. Acredita-se que isto acontece para haver o reparo da lesão radioinduzida, antes da divisão celular. Observou-se que a falta de retardo em G2 está associada ao aumento da radiosensibilidade. Ocorre também o retardo em G1/S. Este controle na fase de síntese (S) evita a replicação de DNA lesado. O retardo em G1 após lesão em DNA radioinduzida está associado à presença das proteínas p53 e p21 e pode resultar em reparo do DNA ou morte celular por apoptose. MORTE CELULAR RADIOINDUZIDA – CLONOGÊNICA E APOPTOSE A morte clonogênica ou falência reprodutiva caracteriza-se pela perda da capacidade de divisão celular, isto é, a célula está estéril porém morfológicamente íntegra. Tais células que perderam a capacidade de dividir-se e que são resistentes à apoptose, desenvolverão necrose e aquelas que são suscetíveis à apoptose podem morrer por necrose ou apoptose dependendo da dose de radiação. A apoptose é um mecanismo de morte celular ativo, que ocorre em situações fisiológicas em oposição à mitose. Pode também ser induzido por agentes agressores, como a radiação. A célula apoptótica apresenta características morfológicas próprias como condensação, marginalização e fragmentação da cromatina. Posteriormente ocorre fragmentação da célula em corpos apoptóticos que contêm partes de cromatina e organelas citoplasmáticas e são envolvidos por membrana. Tais corpos são rapidamente fagocitados pelas células vizinhas. Nesse mecanismo de morte celular estão envolvidos protooncogenes como o bcl-2 (inibidor) e genes supressores de tumores como o p53 (indutor). De forma simplificada, um importante mecanismo pelo qual a radiação induz apoptose, é através das quebras simples e duplas no DNA, indução da proteína p53 que atua como fator de transcrição e induz proteínas entre as quais a bax, desencadeando assim o processo. Os fatores de crescimento e o sistema de transdução, como por exemplo, a proteína quinase C (PKC) e proteína quinase A (PKA) são importantes na modulação do processo. Doses baixas de radiação induzem apoptose e doses altas a necrose. Observou- se que em linfócitos, doses baixas (0,05Gy) e moderadas (1 a 5 Gy) levam a morte por apoptose, enquanto que após doses altas (20Gy) ocorre a morte não apoptótica. Explica-se que as doses altas de radiação, inibem qualquer processo ativo na célula inclusive a apoptose. 6 EFEITOS BIOLÓGICOS – O TECIDO IRRADIADO Existe diferença na resposta radiobiológica entre o tecido normal e o tumoral bem como entre os diferentes tecidos normais, do ponto de vista de lesão. A resposta está relacionada com a capacidade da célula reparar ou não as lesões radioinduzidas. Os tecidos de resposta rápida são aqueles que apresentam as manifestações clínicas de lesão em curto período de tempo depois da irradiação. São exemplos de tecidos de resposta rápida: pele, mucosas, tecido hemocitopoético, tecido linfóide, aparelho digestivo, ovário e certos tumores. Associa-se a resposta rápida destes tecidos, à alta atividade mitótica (fase bastante radiosensível do ciclo celular) e a grande suscetibilidade à apoptose dos mesmos. Os tecidos de resposta lenta são aqueles que apresentam suas alterações em tempo mais prolongado após irradiação. São eles os tecidos: ósseo, conjuntivo, muscular e nervoso, que possuem baixa atividade proliferativa. Associa-se a resposta lenta à morte clonogênica das células e a menor suscetibilidade à apoptose. Os tecidos de resposta rápida, nos quais as células morrem rapidamente após irradiação, praticamente não reparam as lesões radioinduzidas. Porém, devido à alta capacidade mitótica de suas células, as células precursoras que escaparam da morte possuem grande chance de dividir e repopular, mantendo assim a homeostase do tecido, dependendo da dose de radiação. Os tecidos de resposta lenta apresentam capacidade de reparar as lesões radioinduzidas, dependendo da dose de radiação. Porém, esta capacidade é limitada e quando ultrapassada, a lesão será estabelecida. As células lesadas e não reparadas morrem e não são substituídas uma vez que tais tecidos têm pequena atividade mitótica. A resposta dos tecidos à radiação depende ainda do tipo de exposição, se em pequenas regiões ou em corpo inteiro, e também da dose. Em exposições acidentais a altas doses de radiação em corpo inteiro, ocorrerá a Síndrome Aguda das Radiações (SAR). As doses baixas de radiação relacionam-se com mutações e neoplasias, se as lesões radioinduzidas se forem mal reparadas por exemplo. Durante a radioterapia, são usadas habitualmente doses fracionadas de radiação em campos localizados. É inevitável, no entanto, que parte do tecido normal seja incluído no campo a ser irradiado. É importante porém, respeitar a tolerância deste tecido normal, ou seja, a dose máxima de radiação que o tecido irá tolerar. Se esta dose for ultrapassada poderão ocorrer alterações importantes, e irreversíveis. A dose de tolerância varia dependendo das características biológicas do tecido, do volume de tecido irradiado, tipo de radiação e fracionamento da dose. RESPOSTA BIOLÓGICA – ASPECTOS CLÍNICOS MUTAÇÃO E CARCINOGÊNESE A exposição a doses baixas e freqüentes, como por exemplo aquelas em que os profissionais que trabalham com radiação estão sujeitos, os efeitos biológicos mais relevantes são a mutação e a carcinogênese. Estes efeitos são chamados estocásticos, ou seja, aqueles onde não é possível estabelecer limite de dose abaixo da qual não ocorrem, porém, a probabilidade de ocorrência dos mesmos aumenta com o aumento da dose de radiação. Dessa forma, 1cGy pode causar mutação, mas a probabilidade aumenta com o aumento da dose. No homem, a dose de dobra do número de mutações 7 para exposição aguda é 30cGy e para exposição crônica é 80cGy. A relação entre radiação e carcinogênese é particularmente importante para as doses baixas de radiação, isto é, aquelas que permitem reparo da lesão radioinduzida. Tais doses podem provocar instabilidade genética (lesão/reparo), por exemplo, quebras simples ou duplas não reparadas, ou mal reparadas, podem acarretar deleções e perda de genes supressores de tumor (tumores sólidos) ou translocações (leucemias e linfomas). Nas doses maiores de radiação há predomínio de morte e não de transformação celular. Importante mencionar também os efeitos determinísticos, quando é possível estabelecer limite de dose abaixo da qual os mesmos não ocorrem, como por exemplo a catarata. Doses de 200 a 500cGy são cataratogênicas. Assim não se admite ao profissional certos níveis de exposição1. PELE A radiação provoca lesão nas células da camada basal da epiderme, que sofrem apoptose e/ou morte clonogênica. Ocorre também lesão nos melanócitos, podendo haver deposição de melanina derme, que se não for fagocitada provocará hiperpigmentação. Alterações vasculares, em particular a obliteração, é causada em parte devido a liberação de fatores de crescimento, como o fator de crescimento derivado de plaquetas (“platelet derived growth factor” – PDGF) e o FGF (“fibroblast growth factor”)das células endoteliais. Estes atuam como fatores parácrinos para o crescimento de músculo liso, acarretando espessamento da camada íntima dos vasos. Após irradiação a pele poderá apresentar radiodermite aguda ou crônica. A radiodermite aguda pode ocorrer após exposição acidental à radiação ou durante o curso da radioterapia. A radiodermite crônica pode ocorrer como seqüela da radiodermite aguda (após doses altas), ou em profissionais que trabalham com radiação e ficam sujeitos a doses crônicas e contínuas, sem haver previamente a reação aguda. Radiodermite aguda (estágios) – durante o curso de 4 semanasde radioterapia após mastectomia devido ao câncer de mama (dose 4500 – 5000cGy), por exemplo, nenhuma reação de pele é observada inicialmente. A epilação ocorre em cerca de 14 dias após início do tratamento. Em 3 semanas desenvolve-se o eritema principal e a pele apresenta-se quente, avermelhada e edematosa. Geralmente a paciente queixa-se de desconforto e prurido. Entre 4 à 5 semanas ocorre descamação que algumas vezes progride para dermatite exfoliativa. A regeneração da nova pele inicia-se cerca de 1 semana depois do término do tratamento e está completa por volta da terceira semana. A função da glândula sudorípara é restabelecida dentro de 2 semanas. No entanto, a secreção da glândula sebácea não é restabelecida. Os pêlos começam a crescer em cerca de 1 mês depois de terminada a radioterapia e podem apresentar características diferentes e coloração mais escura do que a original. A reação da pele aumenta com o aumento da dose de radiação, com o tamanho da área irradiada e varia nas diversas partes do corpo. As áreas mais suscetíveis incluem aquelas mais sujeitas à umidade e fricção como a axila, região inguinal, vulva e ânus, e as que apresentam baixo suprimento sangüíneo como a região dorsal das mãos, dorso e sola dos pés. Radiodermite crônica (estágios) – a pele pode apresentar lesões tardias, geralmente permanentes, como: isquemia, pigmentação, espessamento, teleangiectasia e ulceração. Antigamente, devido ao uso de aparelhos de baixa energia (ortovoltagem) tais lesões ocorriam mais amiúde. Nos dias atuais, estas alterações tornaram-se menos 8 freqüentes devido a introdução dos equipamentos de alta energia (megavoltagem). A doença malígna secundária é uma complicação após exposição à doses crônicas de radiação. OROFARINGE A reação aguda na mucosa ocorre devido à morte das “células precursoras” da camada basal do epitélio, e estas células que deveriam substituir aquelas perdidas da mucosa não o fazem por um tempo, dependendo da dose de radiação. Posteriormente, as células precursoras que sobrevivem à irradiação irão proliferar a fim de reparar a mucosa. Durante a radioterapia clássica, a reação aguda na mucosa (edema e eritema), tem início no final da segunda e é máxima no final da terceira semana. Nesta fase o paciente queixa-se de: “secura” na boca, perda do paladar, dor de garganta e disfagia. A recuperação do epitélio ocorre em 1 mês após o término do tratamento. Alterações tardias como fibrose, teleangiectasia e espessamento da parede das arteriolas são observadas em meses ou anos após o final do tratamento. Como resultado da cicatrização a mucosa fica mais suscetível à ulceração após mínimo trauma. Geralmente, parte das glândulas salivares (parótida, submandibular e sublingual) são incluídas no campo de irradiação durante o tratamento de tumores de cabeça e pescoço, especialmente nos da cavidade oral. Após irradiação, as glândulas salivares apresentam perda dos ácinos secretores e o paciente desenvolve xerostomia. A inibição permanente da secreção das glândulas salivares ocorre em 80% dos pacientes após radioterapia fracionada com doses de 40 a 60Gy. Doses maiores de 60Gy causam xerostomia em todos os pacientes. Se a parótida for excluída do campo de irradiação, tais seqüelas tardias são raras. A glândula parótida em particular é altamente suscetível à apoptose radioinduzida. Ocorre ainda perda do paladar, que pode ser conseqüência do efeito da radiação nas papilas gustativas ou da diminuição da saliva. A recuperação do paladar ocorre em 2 a 4 meses após o tratamento. Tardiamente pode ocorrer aumento da incidência de cáries, devido à diminuição da saliva. A queda do pH e da secreção de anticorpos propicia o crescimento de bactérias que produzem ácidos devido à quebra dos alimentos. Tais ácidos dissolvem o esmalte e a dentina. ESÔFAGO O esôfago pode estar incluído no campo de irradiação para tratamento de tumores de pulmão e de mediastino. Como conseqüência da lesão na mucosa esofágica as manifestações clínicas são: aumento da sensibilidade, dor e disfagia. INTESTINO A dose tolerância para o intestino delgado durante radioterapia para tumores pélvicos é de 45Gy. Em conseqüência da irradiação podem ocorrer sintomas gerais como náusea e vômito. Tais sintomas devem-se à liberação de serotonina das células enterocromafins do trato gastrointestinal. A serotonina liga-se a receptores de 5- hidroxitriptamina tipo 3 dos neurônios aferentes vagais e de outros neurônios no trato gastrointestinal, sistema nervoso central e medula espinhal, sinalizando o centro do vômito. A radiação provoca morte das “células precussoras” das criptas intestinais, que temporariamente não substituem aquelas perdidas nas vilosidades, dependendo da dose usada. Isto levará ao encurtamento das vilosidades intestinais e diminuição da 9 superfície de absorção. Clinicamente ocorre diarréia que pode levar a desidratação, sangramento e aumento do risco de infecção. Nos casos de câncer de colo uterino, o reto (imediatamente atrás da vagina) recebe radiação e por isto, pode ocorrer proctite, tenesmo, perda de muco nas fezes e sangramento. A camada muscular do intestino também pode apresentar certo grau de lesão e há maior risco do tecido de granulação formar fibrose, aderências e estenose que podem causar obstrução, fístula e hemorragia tardiamente. Desde que a dose de tolerância seja respeitada a mucosa se recupera. BEXIGA Durante a radioterapia para tumores pélvicos, parte da bexiga pode estar incluída no campo de irradiação. As manifestações agudas de lesão na mucosa vesical são dor e disúria. Tardiamente pode ocorrer fibrose e diminuição da capacidade vesical. TECIDO HEMOCITOPOÉTICO Quando pequenas regiões do corpo são submetidas a radioterapia o efeito no tecido hemocitopoético é mínimo. Doses altas de radiação em pequenos volumes de medula óssea não irão alterar a contagem de células no sangue pois a medula de outros locais não irradiados compensa a demanda. No local irradiado porém, ocorrerá fibrose. Quanto maior o campo, maior quantidade de medula óssea será irradiada e maior a lesão. As alterações no hemograma são leucopenia e trombocitopenia. Estas alterações ocorrem devido a lesão nas nas “células precursoras” da medula óssea, e estas falham em substituir as do sangue periférico que têm meia vida curta (horas/dias). As hemácias apresentam meia vida de 120 dias, e por isto a contagem das mesmas é pouco alterada no hemograma em curto prazo. ÓRGÃOS REPRODUTIVOS Gônadas masculinas – devido a espermatogênese demorar cerca de 70 dias, a contagem de espermatozóides e a fertilidade estão mantidas em 6 semanas após irradiação. A recuperação é dose dependente e é mais rápida quanto menor a dose de radiação. Para doses menores do que 0,1Gy a recuperação ocorre em 9 a 18 meses, doses entre 4 e 6 Gy a recuperação ocorre em 5 anos e acima de 6 Gy a esterilidade é definitiva. Com doses menores do que 1 Gy, a produção de testosterona pelas células de Leydig é mantida. A reposição hormonal não é necessária para as doses recebidas pelo testículo na radioterapia clássica. Gônodas femininas – em conseqüência da irradiação, alterações hormonais são observadas. A produção de estrogeno fica reduzida temporariamente e ocorre parada da menstruação. Em mulheres pré-puberais, a dose única de 6 Gy em ovário induz amenorréia. Porém, a dose para induzir a menopausa é menor quanto mais idosa for a mulher, provavelmente devido ao menor número de ovócitos nos ovários. Amenorréia permanente ocorre em 30% das mulheres entre 30 e 35 anos após a dose de 5 Gy em ovário, e esta porcentagem eleva-se para 80% se as mulheres tiverem entre 35 e 40 anos. A dose para induzir a menopausa está entre 10 e 20 Gy (irradiação com doses fracionadas). Nos casos de câncer de mama usa-se a dose de 12 Gy em 4 frações para induzir a menopausa.Gravidez – a radiação deve ser evitada na gravidez. Mutações podem ocorrer nos ovários da mãe e no feto. O feto é particularmente vulnerável devido à grande imaturidade dos tecidos. As alterações produzidas no feto dependem da idade gestacional. No período de pré-implantação a radiação provoca alta incidência de 10 morte pré-natal. O período de organogênese (primeiro trimestre) é o mais perigoso havendo aumento da incidência de anomalias, especialmente no sistema nervoso (microcefalia, hidrocefalia, retardo mental), olhos (microftalmia, catarata, ausência de cristalino) e esqueleto (crescimento limitado, membros anormais, cabeça pequena). Mesmo doses muito baixas como aquelas recebidas em raio X diagnóstico podem produzir anomalias tipo fenda palatina. Ocorre ainda alta incidência de morte neonatal. A irradiação durante o período fetal pode provocar aumento da incidência de alterações que podem ocorrer mais tarde como leucemia ou distúrbios funcionais ao nascimento como plaquetopenia. RIM É órgão de resposta lenta à radiação embora as alterações funcionais e histológicas possam ser observadas em poucas semanas após irradiação. As alterações iniciais ocorrem na região arteriolar-glomerular mais do que no epitélio tubular. Os túbulos da região cortical estão especialmente envolvidos e geralmente a lesão ocorre após as alterações vasculares. São observadas cinco síndromes clínicas: a) nefrite aguda associada a hipertensão e proteinúria, que ocorre em 6 a 13 meses após o tratamento; b) nefrite crônica associada a proteinúria, nictúria e perda da capacidade de concentrar urina, que ocorre em 1 ano e meio à 4 anos após o tratamento; c) hipertensão benigna associada a proteinúria, 1 ano e meio a 5 anos após tratamento; d) proteinúria prolongada de 5 à 19 anos; e) hipertensão tardia malígna, 1 ano e meio a 11 anos após tratamento. Em adultos, a dose de tolerância se ambos os rins forem irradiados, é de 20Gy. O risco é menor se parte de um rim ou se apenas um rim for irradiado, pois, o outro hipertrofia e compensa a perda da função renal. Se a dose de tolerância renal não for respeitada, a nefropatia induzida pela radiação uma vez instalada é lenta, progressiva e irreversível. SISTEMA NERVOSO É tecido de resposta lenta à radiação. A lesão ocorre principalmente na substância branca, nas células gliais que diminuem a taxa de renovação, e nos vasos que apresentam obliteração, diminuindo o aporte de oxigênio para as células. São observadas tardiamente alterações tipo fibrose, desmielinização, lesão vascular e morte celular. Estas lesões são bastante prejudiciais, pois as células nervosas não são repostas. Se todo o cérebro for irradiado, a dose total não deve ultrapassar 35Gy (dados em 10 frações) ou 45Gy (dados em 20 frações) ou 50Gy (dados em 30 frações). A tolerância do tecido nervoso aumenta, com o fracionamento da dose de radiação. OLHOS A catarata após irradiação ocorre com doses entre 2 a 5Gy. Porém, a tolerância do cristalino é maior quando a braquiterapia com irídio-192 em baixa taxa de dose é usada. Neste caso, doses menores de 20Gy não provocam a formação de catarata. O desenvolvimento da catarata radioinduzida demora entre 2 a 3 anos e o tratamento é cirúrgico. As doses convencionais de radioterapia fracionada não provocam alterações na retina. Efeitos tardios ocorrem com doses maiores de 50Gy e são as lesões vasculares. Observa-se hemorragia, exudato e alterações degenerativas. A atrofia do nervo óptico ocorre com doses entre 50 a 80Gy dados em 4 à 8 semanas. OSSOS E CARTILAGENS A irradiação do osso em crescimento provoca retardo no seu crescimento. A dose de tolerância para cartilagem em crescimento é de 10Gy e para crianças menores 11 de 3 anos é de 8Gy. Dependendo da região irradiada, alterações como – encurtamento dos membros e escolioses podem ocorrer. Para o osso maduro a dose de tolerância é de 60Gy e se a mesma for ultrapassada pode ser observada a radionecrose. PULMÃO A lesão inicial ocorre nos pneumócitos tipo II havendo liberação precoce de surfactante. Estas alterações são detectadas em minutos à horas depois da irradiação, no microscópio eletrônico. A radiação pode provocar pneumonite, que ocorre em 4 a 6 semanas após o término da radioterapia com doses acima de 25Gy. Manifesta-se clinicamente por dispnéia, tosse não produtiva e sensação de aperto no torax. A fibrose pulmonar também pode ocorrer no volume irradiado. O grau de fibrose e de dispnéia depende da dose de radiação e de fatores como infecção secundária e doença pulmonar pré-existente (doença pulmonar obstrutiva crônica, doença pulmonar industrial). A dose de tolerância do pulmão é de 16 a 20Gy para a radioterapia clássica. SÍNDROME AGUDA DA RADIAÇÃO (SAR) Esta síndrome descreve os efeitos clínicos após irradiação de corpo inteiro com doses únicas acima de 0,5Gy. Foi observada após a explosão da bomba atômica em Hiroshima e Nagasahi, testes nucleares no pacífico e acidentes como os de Chernobyl e Goiânia. A SAR ocorre devido à falência em três órgãos e sistemas: hemocitopoético (doses entre 1 a 10Gy), gastrointestinal (doses entre 10 e 50Gy) e sistema nervoso central (doses acima de 50Gy). O período prodrômico manifesta-se poucas horas depois da irradiação e caracteriza-se por náuseas, vômito, dor de cabeça, fraqueza e vertigem. Posteriormente ocorre período latente de poucos dias. A evolução dos sintomas depende da dose de radiação e suas manifestações são mais precoces quanto maior a dose de radiação. (Tabela 1) A síndrome hemocitopoética caracteriza-se por leucopenia, plaquetopenia e anemia, devido a lesão das células precursoras da medula óssea. O indivíduo fica sujeito à hemorragia e infecção. A gastrointestinal manifesta-se com náusea, vômito, cólica, diarréia aquosa e sangüinolenta, desequilíbrio hidroeletrolítico, infecção, falência circulatória, coma e morte. A síndrome do sistema nervoso central ocorre rapidamente após doses consideráveis de radiação. A lesão radioinduzida manifesta-se com vasculite e encefalite. O indivíduo apresenta apatia, prostração, convulsão, coma e morte. As síndromes gastrointestinal e do sistema nervoso central uma vez estabelecidas levarão o indivíduo à morte. A hemocitopoética pode ser tratada com reposição de sangue e derivados, correção do desequilíbrio eletrolítico, antibióticos de amplo espectro, fatores de crescimento de células da medula óssea, e às vezes o transplante de medula óssea, permitindo assim a sobrevivência do indivíduo irradiado. CURVAS DE SOBREVIDA As curvas de sobrevida descrevem a relação entre dose de radiação e a proporção de células que sobrevivem. Em radiobiologia, classicamente, a morte celular é definida como a perda da capacidade reprodutiva, e a sobrevida está 12 relacionada à capacidade clonogênica. Estes conceitos são importantes especialmente para a radioterapia. Para erradicar células tumorais é necessário que as mesmas fiquem incapazes de dividir a fim de que o tumor não cresça. Esta incapacidade de divisão é considerada importante mecanismo de morte facilmente estimado em células irradiadas em cultura. Porém não é a única forma de morte celular. Outro mecanismo é a morte por apoptose. Considerar a morte e sobrevida faz sentido em radioterapia, uma vez que o sucesso do tratamento inclui a inativação das células tumorais pela radiação e a sobrevida de número adequado de células normais para proliferar e repopular o tecido normal. A primeira curva de sobrevida foi construída por Puck e Marcus em 1956 para cultura de células HeLa irradiadas. As curvas são obtidas colocando-se em papel semilog, a dose de radiação em escala linear (abcissa, eixo x) e a fração de sobrevida em escala logarítmica (ordenada, eixo y). São dois os modelos mais utilizados para caracterizar as curvas de sobrevida,o modelo dos impactos únicos e múltiplos e o modelo linear quadrático. MODELO DOS IMPACTOS ÚNICOS E MÚLTIPLOS É o mais antigo e usado durante vários anos. De acordo com este modelo, as células eucarióticas têm um ou mais alvos que devem ser lesados ou inativados pela radiação. Acredita-se que o DNA é o alvo primário. Para as radiações de baixo LET, a curva de sobrevida apresenta um “ombro” na região de baixas doses e depois torna-se exponencial. A curva é descrita por um declínio inicial 1Do, e representa os eventos que ocorrem exclusivamente por impactos únicos na região do ombro da curva; declínio final D0, que representa os eventos que ocorrem principalmente por múltiplos impactos, na região exponencial da curva; número de extrapolação n, que representa o número de alvos que devem ser inativados e pela dose “quase limite” Dq. A dose limite seria aquela abaixo da qual a radiação não teria efeito. Porém, como esta não existe, a dose “quase limite” é a que mais se aproxima. As quantidades 1Do, e Do, são as recíprocas do declínio inicial e final. Em cada caso representam a dose necessária para diminuir a fração de sobrevida para 37% do valor prévio. O declínio inicial 1Do é a dose que reduz a fração de sobrevida para 0,37 na porção inicial da curva. O declínio final Do é a dose necessária para reduzir a fração de sobrevida de 0,1 para 0,037 ou de 0,01 para 0,0037. Como a fração de 13 sobrevida está em escala logarítmica e a curva fica uma reta em doses maiores, a dose necessária para reduzir a população celular por um dado fator, no caso 0,37, é a mesma para todos os níveis de sobrevida. A dose Do significa em média, a dose necessária para haver uma inativação por célula, porém, considerando a natureza probabilística das radiações esta dose inativa 67% das células e 37% sobrevivem. O valor de Do varia entre 0,75 a 2Gy. O n e a Dq, representam o tamanho ou o comprimento do ombro. Se o n é grande (10-12) o ombro é largo e se o n é pequeno (1,5-2) o ombro é estreito. O n varia entre 1 a 20 e a Dq é calculada pela fórmula Dq= ln n x Do. O ombro da curva de sobrevida representa o reparo das lesões subletais. Considera-se que nesta região, a morte ocorra por impacto único num alvo importante, por exemplo o DNA. As demais lesões seriam reparadas. Portanto, a situação seria de “tudo ou nada”, isto é, um impacto (lesão irreparável) num alvo vital e a célula morre. Caso contrário, a célula sobrevive porque os impactos em alvos menos importantes são reparados completamente. Na região exponencial da curva, considera-se que a morte é devido principalmente a múltiplos impactos que interagem (Fig. 1). Para as radiações de alto LET (partículas , nêutrons), a curva de sobrevida é uma linha reta desde sua origem. A curva aproxima-se de uma exponencial em função da dose (Fig. 1). MODELO LINEAR QUADRÁTICO É atualmente o escolhido para descrever as curvas de sobrevida. Este modelo propõe que os eventos letais induzidos pela radiação são conseqüentes a dois componentes: linear() e quadrático(). O componente linear () assume que o número de eventos letais é proporcional à dose de radiação e deve-se à uma passagem (“track”) do elétron (D). O componente quadrático () propõe que o número de eventos letais é proporcional ao quadrado da dose, onde dois eventos subletais interagem para produzir um evento letal, e é conseqüente à duas passagens (“track”) do elétron (D2) (Fig. 2). A forma da curva dose/resposta para morte celular e carcinogênese depende do rearranjo entre os cromossomos. Se as quebras em dois cromossomos forem resultantes de um único elétron, a probabilidade de interação entre as duas quebras é 14 proporcional à dose e isto resulta em relação linear () entre dose e efeito. Este processo é predominante nas doses baixas. Nas doses altas, as quebras entre dois cromossomos resultam de passagens separadas de elétrons. Neste caso, a probabilidade de interação entre as duas quebras para formar uma lesão letal, como o dicêntrico por exemplo, é proporcional ao quadrado da dose (). O componente aproxima-se da lesão por impacto único e o aproxima-se da lesão por múltiplos impactos. A curva de sobrevida resultante da fórmula linear quadrática curva continuamente, isto é, não há uma porção reta final. Na verdade, em doses muito altas esta curva de sobrevida tende a ficar uma reta (exponencial), porém isto não ocorre para as doses habitualmente usadas em radioterapia. Segundo este modelo, a expressão da curva de sobrevida é S = e-D+D2, onde S é a fração de células que sobrevivem à dose D, e são constantes. Os componentes de morte celular proporcionais à dose () e ao quadrado da dose () são iguais, quando D=D2 ou D=/. Este é um ponto importante, pois as contribuições de ambos os componentes para a morte celular são iguais quando a dose é igual à razão / (Fig. 3). A razão (Gy-1) / (Gy-2) dá um número que caracteriza razoavelmente a curva de sobrevida. Quanto maior o componente , mais linear será a resposta (a curva) nas doses menores. Se o coeficiente for baixo em relação ao , a curva será mais curva, isto é, inclina rapidamente após pequena região linear inicial. Os tecidos de resposta rápida a radiação, como pele, mucosas, tecido hemocitopoético e vários tumores, têm alto componente e conseqüentemente alto valor da razão /. Isto significa que a curva tem longo declínio linear inicial (predomínio de lesão , irreparável) e o fracionamento da dose de radiação tem pequena influência nestes tecidos. Em geral atribui-se aos tecidos de resposta rápida o valor para a razão / da ordem de 10 Gy. Os tecidos de resposta lenta à radiação tipo tecido nervoso, pulmões, têm alto componente e conseqüentemente baixo valor da razão /. Neste caso, a curva de sobrevida fica rapidamente mais curva em doses baixas, (predomínio de lesão e possível de reparar) e o fracionamento da dose de radiação beneficia, isto é, poupa 15 estes tecidos da lesão radioinduzida. Atribui-se aos tecidos de resposta lenta o valor para a razão / da ordem de 2 Gy. A dose flexura (Df) na curva de sobrevida, é a região onde o desvio da região linear (exponencial) inicial é difícil de ser detectado. Seria a região onde a curva começa a inclinar, e o valor da Df é cerca de 1/10 da razão /. A importância disto é que quando a dose, nos esquemas de multifracionamento, for menor que a Df, não há vantagem em diminuí-la mais pois não se diminui o efeito (lesão) no tecido normal, uma vez que a morte celular nesta região resulta exclusivamente do componente (irreparável). Os dados experimentais de sobrevida se adaptam à vários modelos e teorias e é extremamente difícil demonstrar estatisticamente que um modelo é superior ao outro. Porém, para as doses de radiação usadas na clínica, os dados da fração de sobrevida são adequadamente representados pelo modelo linear quadrático. CURVA DE SOBREVIDA EM ESQUEMAS DE MULTIFRACIONAMENTO Nas doses e fracionamentos habitualmente usados na radioterapia, isto é, quando há entre as frações tempo suficiente para o reparo das lesões radioinduzidas, não ocorre interação das mesmas entre duas doses sucessivas. Nesta situação, há diminuição proporcional da sobrevida cada vez que doses iguais são repetidas, mesmo que certa proporção de morte resulte do componente . Neste caso, a relação dose/sobrevida para uma série de frações de doses iguais (por exemplo 2 Gy), será logarítmica, isto é, a curva de sobrevida será uma reta quando colocada em papel semilog. Estas curvas extrapolam para 1 em qualquer dose, o que difere da curva de sobrevida para dose única. O declínio das mesmas é menor do que aquelepara dose única quando são usadas doses totais equivalentes, e torna-se cada vez mais raso quanto menor a dose por fração. Este declínio é descrito pelo Do efetivo (eff Do). Seu valor é maior que o Do para dose única, que significa declínio mais raso. Para frações de 2 Gy, o valor de eff Do varia entre 2,5 a 5 Gy. Nestas curvas de multifracionamento usa-se o conceito da D10, que é a dose necessária para causar o decréscimo da sobrevida de uma década, por exemplo, de 10-2 para 10-3 (eff D10). É a dose que mata 90% da população celular e relaciona-se com Do pela expressão D10 = 2,3. Do, onde 2,3 é o logarítmo natural de 10 (Fig. 4). IMPORTÂNCIA DAS CURVAS DE SOBREVIDA 16 Estas curvas são úteis para elucidar a relação entre dose e perda da capacidade reprodutiva. Elas permitiram demonstrar que a morte celular induzida pela radiação é aproximadamente exponencial. Evidenciaram também que muitas células irradiadas apresentam uma região de “ombro”, ou seja, reparam a lesão radioinduzida. As curvas de sobrevida podem ser usadas para: avaliar a eficácia radiobiológica de determinados tipos de radiação; o efeito de certas condições ambientais como o oxigênio, radiosensibilizadores e protetores; o papel dos genes na sobrevida e reparo, entre outras. Ainda, uma vez que a radiosensibilidade varia entre os diferentes tecidos, há interesse em se determinar a radiocurabilidade, quando são usados diferentes protocolos. REPARO DA LESÃO SUBLETAL (RLSL) Na essência, significa o retorno aos níveis iniciais de sensibilidade nas células que sobrevivem à radiação. É um termo que descreve o aumento na sobrevida quando uma dose de radiação é dividida em duas, separadas por um período de tempo. O RLSL foi demonstrado por Elkind e Sutton em 1959. Estes autores verificaram que quando metade de uma dose alta é administrada e espera-se um tempo antes da segunda metade da dose, o ombro da curva de sobrevida se repete. O tempo médio de reparo nas células de mamíferos é cerca de uma hora, mas pode ser maior para o tecido normal de resposta lenta “in vivo”. Ocorre em tumores e tecidos normais “in vivo” e em cultura. O RLSL no modelo de impactos únicos e múltiplos relaciona-se com o reparo dos alvos lesados entre as doses de radiação. No modelo linear quadrático o reparo está relacionado com a função quadrática (D2). Em ambas situações, reflete o reparo das quebras do DNA antes que sofram interação para formar aberração cromossômica letal. É significante para os raios X e praticamente não existe para nêutrons. Até o momento, apenas um gene envolvido no reparo das lesões radioinduzidas foi identificado no cromossomo 19 e sequenciado. Porém não é um exemplo típico porque o mutante radiosensível que ele corrige é apenas levemente radiosensível. O RLSL é importante nos esquemas de fracionamento rotineiramente utilizados em radioterapia, e especialmente nos protocolos de hiperfracionamento, quando se 17 realiza mais de uma fração de dose por dia. Nestes casos deve-se deixar entre as frações um período de tempo suficiente para permitir o reparo. REPARO DA LESÃO POTENCIALMENTE LETAL (RLPL) Enquanto que para se demonstrar a lesão subletal e seu reparo é necessário dividir a dose de radiação, a lesão potencialmente letal e seu reparo manifestam-se também após doses únicas de radiação. É um componente da lesão radioinduzida que pode ser modificado pela manipulação das condições após irradiação. Ocorre em cultura, quando as células irradiadas são deixadas em salina por exemplo, por determinado tempo, situação esta que impede a divisão. Foi também observado “in vivo”, quando irradia-se determinado tumor em animal e demora-se um tempo para removê-lo e colocá-lo em cultura. O RLPL foi demonstrado para RX e praticamente não acontece para nêutrons. Sugere-se que a resistência à radiação de certos tumores como o melanoma por exemplo, deve-se à habilidade de reparo da lesão potencialmente letal, porém, tal fato não foi comprovado e a sua importância na radioterapia é ainda discutível. 4Rs Os chamados 4Rs da Radiobiologia tentam explicar porque o fracionamento funciona, e são: reparo da lesão subletal (RLSL), redistribuição, repopulação e reoxigenação. O fracionamento da dose na radioterapia está embasado no fato de que dividindo-se a dose de radiação, poupa-se os tecidos normais devido ao RLSL entre as frações, e também devido a repopulação das células. Ao mesmo tempo, dividindo-se a dose em frações, aumenta-se a lesão nas células tumorais em conseqüência da reoxigenação e redistribuição das células nas fases sensíveis do ciclo celular. RLSL Já discutido anteriormente e parece ocorrer mais nos tecidos normais e menos nos tumores. Portanto, o fracionamento propicia otimização do tratamento, quanto a poupar o tecido normal em relação ao tumor. Redistribuição A sensibilidade das células varia dependendo da fase do ciclo celular. Após irradiação com a dose de 2Gy as células que estão nas fases mais sensíveis (G2 e 18 mitose) morrem e aquelas da fase mais resistente sobrevivem (síntese tardia S). Posteriormente, as células sobreviventes a esta dose progridem no ciclo celular e vão para as fases mais sensíveis. As células com grande capacidade proliferativa, por exemplo os tumores, têm ampla taxa de distribuição quando se movem de uma mitose para outra. Este fato assegura redistribuição precoce das células parcialmente sincronizadas (que estavam nas fases mais resistentes). Como resultado, com o tempo, maior proporção de células sobreviventes estará nas fases mais sensíveis do ciclo celular do que imediatamente após irradiação. Tal redistribuição produz “auto sensibilização” da população como um todo e não ocorre em células não proliferativas. Portanto, com o fracionamento da dose, espera-se um “lucro” terapêutico, permitindo redistribuição no ciclo celular das células tumorais sobreviventes e não daquelas do tecido normal de resposta lenta. Dessa forma, a resposta diferencial ao fracionamento entre o tecido não proliferativo de resposta lenta e o de resposta aguda, pode ser em parte devido à diferente redistribuição no ciclo celular entre as doses de radiação. Repopulação A divisão e a volta ao crescimento das células após tratamento, ocorre devido ao recrutamento das células quiescentes para a proliferação. Os tecidos de resposta rápida mostram esta capacidade proliferativa mais precoce do que os de resposta lenta. Dessa forma, prolongando o tempo de tratamento na radioterapia, poupa-se pouco o tecido de resposta lenta mas o tecido de resposta rápida é poupado e a reação aguda é menor, devido à proliferação precoce destes tecidos. No entanto, esta divisão mais rápida também ocorre nas células tumorais após irradiação. Dessa forma, é importante que a radioterapia se complete o mais rápido possível após seu início, antes da proliferação acelerada do tumor ocorrer. Em tumores de cabeça e pescoço demonstrou- se que as células tumorais aceleram o crescimento em 28 dias após início da radioterapia. Este fato é consistente com taxa de dobra de 4 dias para as células clonogênicas tumorais, em comparação com os 60 dias, quando tais células não têm o crescimento perturbado. Reoxigenação É o processo pelo qual as células que são hipóxicas antes da irradiação se tornam oxigenadas depois. Foi demonstrada experimentalmente pela observação de 19 que a proporção de células hipóxicas num tumor, é a mesma antes e depois da irradiação. Se a reoxigenação não ocorresse, a proporção de células hipóxicas deveria aumentar na medida em que as células bem oxigenadas mais sensíveis morrem após irradiação. A rapidez com que a reoxigenação ocorre não é conhecida para tumores humanos.Em animais varia, mas em geral ocorre rapidamente, entre 6 a 24 horas. Existem dois tipos de hipóxia, a aguda e a crônica. A crônica resulta da difusão limitada do oxigênio para o tecido. A aguda deve-se ao fechamento temporário dos vasos sangüíneos e é transitória. Se a reoxigenação for rápida e completa, as células hipóxicas terão pequena influência no resultado do fracionamento. O componente de reoxigenação rápida deve-se a reoxigenação das células agudamente hipóxicas na medida em que os vasos sangüíneos abrem e fecham. O componente lento é devido à reoxigenação das células cronicamente hipóxicas, na medida em que o tumor “encolhe”. A reoxigenação pode ocorrer devido a redução na população de células tumorais, sem perda dos vasos sangüíneos, resultando em maior densidade de vasos. Ocorre também pela perda seletiva das células melhor oxigenadas, reduzindo a distância que o oxigênio deve se difundir para as células hipóxicas. O resultado da reoxigenação durante o fracionamento é a sensibilização do tumor. TAXA DE DOSE É a taxa na qual a radiação é liberada (Gy/min). Para os raios X e a taxa de dose é um dos principais fatores que determinam efeito biológico de certa dose absorvida. Com a diminuição da taxa de dose e aumento do tempo de exposição, o efeito biológico de determinada dose diminui. O efeito da taxa de dose, importante para a radioterapia resulta do reparo da lesão subletal que ocorre durante exposição prolongada. A irradiação contínua administrada em baixa taxa de dose, pode ser considerada como um número infinito de inúmeras pequenas frações. Neste caso, a curva de sobrevida não apresenta o ombro e é mais rasa do que para exposições únicas e agudas. O efeito da taxa de dose devido ao RLSL é mais pronunciado entre 1 e 100 cGy/min. Se a taxa de dose diminui de 100 cGy/min para 30cGy/h por exemplo, há redução da morte celular devido ao RLSL. Acima e abaixo deste intervalo de taxa de dose, a curva de sobrevida muda pouco. O efeito da taxa de dose varia entre as diferentes células. As células das criptas jejunais apresentam grande efeito da taxa de dose devido ao RLSL, quando a exposição aguda muda de 274cGy/min para exposição protraída de 0,92 cGy/min. Com maior diminuição da taxa de dose, a divisão celular começa ocorrer, porque o tempo de exposição é maior do que o tempo do ciclo celular. Na taxa de 0,54cGy/min, há pequena redução no número das criptas sobreviventes 20 mesmo com doses altas, devido à proliferação celular durante o longo tempo de exposição, que contrabalança a morte celular radioinduzida. EFEITO INVERSO DA TAXA DE DOSE Em células HeLa, quando há acentuada diminuição da taxa de dose (154cGy/h para 37cGy/h), ocorre aumento da morte celular e a curva de sobrevida apresenta declínio mais pronunciado. Conforme já discutido, com a diminuição da taxa de dose aumenta a chance do RLSL pois as células ficam “congeladas” em suas posições no ciclo celular. Se a taxa de dose diminuir mais, neste caso ao redor de 30cGy/h, as células progridem no ciclo celular e retardam em G2, que é fase bastante radiosensível, não se dividem e são levadas à morte. EFEITO DA TAXA DE DOSE, EM RESUMO A curva de dose resposta para exposição aguda se caracteriza por possuir um ombro. Com a diminuição da taxa de dose a curva torna-se mais rasa progressivamente, quanto mais RLSL houver, e as células ficam “congeladas” nas suas posições no ciclo celular. Se a taxa de dose diminuir ainda mais, dentro de um intervalo limitado, a curva de sobrevida apresenta declínio novamente, porque as células progridem no ciclo celular e retardam em G2, que é uma das fases mais sensíveis, porém não se dividem. Nova redução na taxa de dose, as células escapam do bloqueio em G2 e dividem. A proliferação celular pode então ocorrer durante a irradiação, e a curva de sobrevida fica plana novamente, pois as células que nascem compensam aquelas que morrem. TAXAS DE DOSE MUITO BAIXAS (EXPOSIÇÃO CONTÍNUA) Três fatores determinam a resposta à irradiação contínua dos tecidos que se renovam: 1. Sensibilidade das “stem cells” do referido tecido – as células que apresentam “ombro” largo na curva de sobrevida são menos suscetíveis à irradiação com baixa taxa de dose, pois o ombro será continuamente reconstruído durante exposição protraída. 2. Duração do ciclo celular – a dose acumulada durante todo ciclo celular é melhor indicador da letalidade do que a taxa de dose. Dessa forma, determinada taxa de dose em irradiação contínua, será mais lesiva às células com ciclo celular longo do 21 que para aquelas de ciclo celular curto, pois maior dose será absorvida durante o ciclo. 3. Habilidade dos tecidos adaptarem-se ao trauma da irradiação contínua – numa taxa de dose de 45cGy/d, as células vermelhas mantêm níveis de produção normal, após período de adaptação inicial. As células sangüíneas compensam, aumentando o tempo de trânsito das células precursoras e encurtando o tempo do ciclo celular, de modo que mais divisões são inseridas. As células do intestino delgado de ratos adaptam-se rapidamente à exposição contínua de 350cGy/d. O tempo do ciclo celular é aumentada dentro de 6h do início da irradiação, revertendo porém em 24h, e rapidamente se torna mais curto do que o normal. EFEITO DO OXIGÊNIO (OER) A presença e a ausência do oxigênio molecular influencia a resposta biológica aos raios X. O OER é a razão entre doses de radiação na ausência e na presença de oxigênio, para produzir determinado efeito biológico. É 3 para raios X em doses altas e provavelmente menor, cerca de 2, para doses abaixo de 200cGy. O OER diminui com o aumento do LET, sendo que para nêutrons é aproximadamente 1,6. Para produzir efeito, o oxigênio (02) deve estar presente no momento da irradiação. O mecanismo de ação é por promover “fixação” da lesão induzida pelos radicais livres. Na ausência do oxigênio, a lesão produzida pelo mecanismo indireto pode ser reparada. Dessa forma, o efeito indireto é modificado e o direto não. Este efeito é detectado em situação de hipóxia considerável, onde os níveis de oxigênio são menores que 30mmHg. Neste caso, pequena quantidade de oxigênio é necessária para a radiosensibilização e 0,5% de O2 resulta em razoável aumento da sensibilidade. A maioria dos tumores animais contêm células hipóxicas (cerca de 10 a 15%), que limitam a curabilidade. Alguns dados como, aspecto histológico dos tumores que sugerem regiões de hipóxia, medidas dos níveis de O2 com “probe” que indicam regiões de hipóxia em alguns tumores, e a importância dos níveis de hemoglobina como fator prognóstico para várias neoplasias, apontam para a existência de células hipóxicas em tumores humanos. OXIGÊNIO HIPERBÁRICO 22 Logo após a identificação da hipóxia como potente causa de resistência do tumor, protocolos clínicos com oxigênio hiperbárico foram iniciados. No entanto, na maioria dos protocolos o número de pacientes foi pequeno e foram usados fracionamentos não convencionais. Em vários destes protocolos pareceu vantajoso o uso de oxigênio hiperbárico. Porém, os problemas deste tipo de tratamento incluem: questões se realmente os níveis de O2 nas células hipóxicas são aumentados com o aumento do O2 dissolvido no plasma, algumas células normais podem ter baixos níveis de O2 e serem sensibilizadas, problemas práticos como convulsão dos pacientes devido ao O2, complicações pulmonares, claustrofobia. O uso de carbogênio (95% de O2 + 5% de CO2 em 1 atm) com ou sem perfluoroquímicos fornecem resultados tão bons quanto o oxigênio hiperbárico. TRANSFERÊNCIA LINEAR DE ENERGIA (LET) É a taxa de energia liberada por unidade de trajeto percorrido pela radiação. Os raios X e são esparsamente ionizantesporque no percurso dos elétrons que colocam em movimento, as ionizações ocorrem distantes umas das outras. Os nêutrons e partículas são densamente ionizantes porque produzem ionizações próximas e o percurso das mesmas é constituído por densas colunas de ionização. Valores típicos do LET são: 0,3Kev/m para os raios do cobalto 60 (60Co), 2Kev/m para os raios X de 250Kv, e 100 a 200 Kev/m para partículas pesadas. É importante mencionar o conceito de eficácia biológica relativa (RBE), que é a razão Dx/Dr, onde Dx é a dose de raio X de 250 Kv e Dr é a dose de radiação em teste, necessárias para produzir o mesmo efeito radiobiológico. A RBE aumenta com o LET até um máximo de cerca de 100Kev/m, porém, com maior aumento do LET ocorre diminuição na RBE. Isto acontece porque para as radiações que apresentem LET “ótimo” de 100Kev/m, a separação média entre dois eventos ionizantes é semelhante ao diâmetro da dupla hélice do DNA (2nm). Dessa forma, a quebra dupla produzida por uma só passagem (“track”) do elétron ocorre com maior eficácia. Com LET da ordem de 200Kev/m por exemplo, a quebra dupla é produzida, porém certa quantidade de energia é “desperdiçada”, pois muitas células recebem mais eventos ionizantes do que aqueles necessários para matá-las. 23 Para as radiações de alto LET, quando comparadas com as de baixo LET, o RBE aumenta para as doses baixas e também para doses menores por fração. Isto deve-se ao fato da curva de dose/resposta para as radiações de baixo LET, apresentar um “ombro” (possibilidade de reparo) e as de baixo LET praticamente não apresentarem (ausência de reparo). Portanto, nestas situações o RBE aumenta, indicando a maior eficácia das radiações de alto LET em induzir a morte celular. O efeito do oxigênio (OER) é cerca de 3 para radiações de baixo LET, diminui para LET da ordem de 30Kev/m, e é 1 para LET de cerca de 160Kev/m. Em resumo, as radiações de alto LET têm maior eficácia de morte celular e efeito de oxigênio menor. Os prótons são interessantes para a radioterapia devido à distribuição física da dose e também por apresentarem propriedades biológicas semelhantes aos raios X, (RBE semelhante ao do RX de 250 kV e OER de 2,5 a 3). O LET de entrada é cerca de 0,5keV/m, aumentando para um valor teórico máximo de 100 keV/m num curto trajeto quando a partícula é freada. CONCEITO DE TOLERÂNCIA A importância em se preservar o tecido normal foi logo reconhecida na radioterapia e diferentes esquemas de fracionamento, protração e de dose total, geralmente referidos como relação tempo/dose, foram desenvolvidos. Com intenção de correlacionar vários esquemas de tempo/dose com resultados clínicos, Strandqvist realizou revisão de 280 casos de carcinoma de pele e lábio acompanhados por 5 anos. Colocou num gráfico duplo log a dose total e o tempo de tratamento e desenvolveu uma série de linhas chamadas curvas do isoefeito. Estas linhas relacionavam o esquema do tratamento com resultados clínicos incluindo a cura da doença, ocorrência de complicações severas (necrose de pele), eritema e descamação de pele. O autor observou que algumas relações de tempo/dose, apesar de curar a doença, também produziram severas complicações tardias e outras não resultaram em complicações tardias severas mas houve recorrência ou resistência do tumor. O resultado desta e de outras curvas do isoefeito foi o estabelecimento de esquemas de tratamento que não 24 excedam a tolerância dos diversos tecidos normais mas permitam alta probabilidade de cura dos tumores. A tolerância pode ser definida como a dose total na qual a irradiação adicional irá aumentar de modo significante a probabilidade de ocorrência de reação severa no tecido normal, isto é, define quais órgãos irão tolerar determinada dose. É um conceito clínico que considera a radiosensibilidade das células do parênquima e do estroma dos órgãos, a capacidade de reparo de ambos, a preservação da integridade funcional e a importância do órgão para a vida. A tolerância indica a variação de resposta nos diferentes órgãos para o mesmo intervalo de dose. Quando é excedida, o paciente apresenta sinais e sintomas de lesão em determinado órgão. Como a tolerância deve ser definida em termos de tempo e a sobrevida do câncer geralmente é baseada em 5 anos, a dose de tolerância (DT) é definida como a dose total administrada por esquema de fracionamento convencional que causa o mínimo (5%) ou o máximo (50%) de complicações em 5 anos. Dessa forma, a DT5/5 é a dose que administrada a uma população de pacientes, resulta num mínimo de 5% de complicações severas em 5 anos após o tratamento. A DT50/5 é a dose que quando administrada a uma população de pacientes resulta em no máximo 50% de complicações severas em 5 anos. Alguns fatores afetam a tolerância, como o volume irradiado e a dose por fração. A resposta que depende do volume relaciona-se ao conceito de dose integral. A dose integral incorpora no volume em gramas, de tecido irradiado. Para determinada dose de radiação, maiores volumes incluem maior quantidade em gramas de tecido, que terão maior dose integral do que pequenos volumes. Por este motivo, grandes volumes toleram menos radiação do que pequenos volumes. Assim, doses menores devem ser administradas para não exceder os níveis os níveis de complicação aceitáveis. Quanto à dose por fração, grandes doses resultam em maior quantidade de lesão no tecido normal pois, acarretam menor reparo entre as frações. Dessa forma, a dose de tolerância para o tecido normal diminui quando os esquemas de tratamento usam doses maiores por fração. NSD (“NOMINAL STANDARD DOSE”) 25 Como os esquemas de tratamento para a mesma doença variam entre os diferentes serviços, desejou-se ter uma “fórmula” incorporando vários fatores que permitissem comparações entre os vários protocolos e seus efeitos no tumor e no tecido normal. A NSD foi proposta por Ellis em 1969 e representa a dose que administrada em fração única leva o tecido conjuntivo ao seu nível de tolerância. Para fins práticos considera-se a NSD como um número que descreve um curso completo de radioterapia fracionada e que resulta na tolerância do tecido conjuntivo. A NSD é expressa em ret (“rad equivalent therapy”). Porém, ocorreram duas falhas importantes na fórmula as NSD. Não foram incluídos o volume e a dose por fração. Atualmente, com relação à NSD, existe apenas o interesse histórico, uma vez que esta proposta estimulou outros autores a pensarem no assunto. TDF (TEMPO, DOSE, FRACIONAMENTO) Orton e Ellis em 1973 simplificaram a aplicação do conceito da NSD em radioterapia. Foram propostas tabelas dos fatores TDF, que permitem comparações e modificações de esquemas de radioterapia, com mínimo de matemática, réguas e tabelas logarítmicas. As tabelas podem ser aplicadas universalmente e não dependem do valor específico NSD. LQ (FÓRMULA LINEAR QUADRÁTICA) Nenhuma curva do isoefeito pode descrever a resposta ao fracionamento para todos os tecidos. Processos como RLSL (reparo da lesão subletal), regeneração das células sobreviventes inclusive o recrutamento para o ciclo celular das células que estão fora do mesmo (“em repouso”), redistribuição no ciclo celular e reoxigenação, influenciam a resposta das células ao multifracionamento. Estes fatores variam entre os diferentes tecidos normais e tumores, e com o tempo, dentro de um mesmo tecido normal ou tumor. Portanto, não seria razoável descrever a resposta ao fracionamento com parâmetros universais e constantes. Recentemente, a fórmula do isoefeito é proposta com parâmetros da curva de sobrevida (LQ), levando em conta a capacidade do reparo, quando se deseja mudar adose por fração (por exemplo, do fracionamento clássico para doses maiores por fração e menor número de frações), sem alterar de 26 modo significante a duração do tratamento. Existem dúvidas porém quanto ao uso desta fórmula para o hiperfracionamento. FRACIONAMENTO CONVENCIONAL Consiste em administrar 1,8 a 2Gy por fração, diariamente, de segunda a sexta- feira. A dose total é determinada pelo tumor em tratamento e pela tolerância do tecido normal adjacente (geralmente varia entre 60 a 70Gy). ALTERAÇÕES DO FRACIONAMENTO – ASPECTOS RADIOBIOLÓGICOS HIPERFRACIONAMENTO Consiste em administrar doses menores por fração do que no fracionamento convencional e maior número de frações, sem alterar o tempo de duração do tratamento. O objetivo é aumentar o ganho terapêutico entre o tumor e o tecido normal de resposta lenta. A dose por fração geralmente varia entre 1,15 à 1,25Gy e o intervalo entre as frações não deve ser menor do que 4h, para dar tempo de ocorrer o RLSL (reparo da lesão subletal). Este esquema permite aumentar a dose final em 15 a 20% sem elevar a quantidade de lesão no tecido normal de resposta lenta. É indicado onde o tratamento convencional está limitado pela tolerância do tecido normal de resposta lenta. FRACIONAMENTO ACELERADO Consiste em diminuir a duração do tempo total de tratamento usando a mesma dose por fração do fracionamento convencional. O objetivo é minimizar o crescimento do tumor durante o tratamento. Em alguns tumores, as células clonogênicas dobram o número rapidamente, e boa parte dos tumores tem potencial para acelerar a taxa de crescimento após insulto terapêutico. Seria indicado para tumores de crescimento rápido como linfoma de Burkitt e carcinoma inflamatório de mama, por exemplo. Atualmente, alguns Serviços de Radioterapia têm usado o conceito e a fórmula do tempo potencial de dobra do tumor (Tpot), como ensaio preditivo, particularmente para selecionar pacientes com tumores de crescimento rápido e que poderiam se beneficiar de esquemas de fracionamento acelerado. Brevemente, o Tpot é o tempo de dobra de uma população celular com fração de crescimento (“growth fraction” – GF) menor que 1 (GF < 1) e sem perda de células. Em outras palavras, é a taxa de aumento de células numa população capaz de proliferar continuamente. O Tpot pode ser estimado em tumores usando-se citometria de fluxo. Tumores com Tpot curto (menor que 4 dias) podem repopular se o fracionamento se extender. 27 O tratamento pode ser realizado 6 dias por semana ou 7 vezes em 5 dias, por exemplo. O mais comum é fazer o tratamento convencional mais “boost”. Se o tratamento for realizado em duas vezes por dia, o intervalo mínimo de 4h deve ser respeitado. Uma estratégia consiste em fazer o “boost” próximo ao final do tratamento. É que o tecido normal de resposta aguda regenera melhor próximo ao final do tratamento e pode tolerar melhor a radiação do que no início do mesmo, quando as células estão saindo do estado de homeostase. HIPERFRACIONAMENTO ACELERADO Consiste também em diminuir o tempo de duração do tratamento. O tecido normal de resposta aguda apresenta maior toxicidade limitando assim o tratamento. O efeito tardio é praticamente o mesmo que para o tratamento convencional. Um exemplo de hiperfracionamento acelerado é administrar duas vezes por dia uma dose por fração que esteja entre o limite superior do hiperfracionamento (1,25Gy) e o limite inferior do fracionamento convencional, ou seja, menor que 1,8Gy. Portanto, 1,6Gy duas vezes por dia representa um esquema de hiperfracionamento acelerado. Devido à reação no tecido de resposta aguda, é necessário fazer um intervalo no tratamento. Como a regeneração do tumor também pode ocorrer, este intervalo deve ser o menor possível. BRAQUITERAPIA – ASPECTOS RADIOBIOLÓGICOS Consiste no implante de fontes radioativas diretamente no tumor. Há duas formas para isto: irradiação intracavitária usando fontes radioativas que são colocadas na cavidade próximas ao tumor, e a intersticial, com sementes implantadas diretamente no volume do tumor. A braquiterapia intracavitária com baixa taxa de dose é geralmente temporária e demora de um a quatro dias (taxa de dose de cerca de 50cGy/h). Pode ser usada em vários locais, porém o mais comum é no colo do útero. Atualmente, a maioria dos centros usa como fonte o iridium 192 (192Ir). A braquiterapia intracavitária em baixa taxa de dose tem sido substituída pela alta taxa de dose, dada em 3 a 12 frações. Com esta substituição abre-se mão da vantagem radiobiológica de poupar o tecido normal de resposta lenta. Isto é possível porque o tumor de colo de útero é uma situação especial, onde os tecidos que limitam a dose (bexiga e reto) recebem dose menor do que a prescrita para o tumor (ou ponto A). O tratamento com alta taxa de dose que dura poucos minutos, permite o uso de retratores, resultando em doses menores nos 28 tecidos normais críticos, do que numa inserção que dure 24 horas ou mais. Dessa forma, as vantagens físicas sobrepõe-se sobre as desvantagens radiobiológicas. A Braquiterapia intersticial pode ser temporária ou permanente e o material utilizado é o 192Ir. Os implantes com baixa taxa de dose são considerados por muitos radioterapêutas o tratamento de escolha para cerca de 5% dos tumores humanos acessíveis à estas técnicas. A dose máxima que pode ser administrada sem produzir lesão inaceitável no tecido normal, depende do volume a ser irradiado e da taxa de dose, que é função do número de fontes usadas e sua distribuição geométrica. Para haver resposta biológica consistente, a dose total deve variar dependendo da taxa de dose. Para a braquiterapia intersticial permanente são usadas fontes seladas com meia vida curta que podem ser deixadas. É vantajoso para o paciente, pois não é necessário realizar cirurgia para remoção da fonte e o indivíduo pode ir para casa com o implante no local. No início a taxa de dose é alta e diminui com a diminuição da atividade da fonte. O iodo 125 (125I) tem sido amplamente usado. A dose total prescrita é de 16000cGy na periferia do volume do implante. Destes, 8000cGy são liberados na primeira meia vida do iodo, de 60 dias. O sucesso do implante em esterilizar o tumor depende do ciclo celular das células clonogênicas tumorais. Em tumores de crescimento rápido, a divisão celular compensa a morte induzida durante a exposição por tempo prolongado. Porém, tumores de crescimento lento como o carcinoma de prostata por exemplo, é uma situação onde o implante com 125I está indicado, pois maior quantidade de radiação é absorvida por ciclo celular (ver taxa de dose). A vantagem do 125I é a emissão de fótons de baixa energia (cerca de 30Kev). Isto não faz diferença na distribuição da dose do tumor, mas simplifica o problema da proteção radiológica. Ainda, a dose decai rapidamente fora do volume tratado e doses em regiões distantes do implante são bastante reduzidas. RADIOCIRURGIA – ASPECTOS RADIOBIOLÓGICOS A radiocirurgia (radioterapia estereotáxica), administrada em dose alta e única, foi desenvolvida por Leksell para tratamento de lesões não malígnas no cérebro, particularmente as mal formações artério venosas (MFA). Mais recentemente, a 29 técnica foi adaptada para o tratamento de tumores malígnos pequenos e metástases, no cérebro. O uso do fracionamento na radioterapia estereotáxica é um desenvolvimento recente. Os princípios radiobiológicos que se aplicam ao tratamento das mal formações artério venosas são diferentes daqueles para tratamento das neoplasias. Nas mal formações artério venosas, o objetivo é causar lesão nas células nas células endoteliais presentes, morte celular, reação inflamatória e fibrose. Esta respostatardia ocorre em semanas ou meses após o tratamento. A radionecrose cerebral é um fator limitante para o tratamento. Dessa forma, a dose de radiação usada é calculada baseada na dose de tolerância do cérebro (a dose única de 15Gy é baseada na dose de tolerância do cérebro para 60Gy em 30 frações). Neste caso, o tecido que se deseja destruir (a mal formação) e o tecido normal (cérebro), respondem de modo semelhante à radiação, ou seja, são ambos de resposta lenta e apresentam alta quantidade de lesão , portanto, baixo valor da razão /. Assim, não há vantagem em usar tratamento com doses fracionadas, uma vez que ambos podem reparar a lesão. No caso dos tumores cerebrais, o fracionamento aumenta o ganho terapêutico, pois o tumor representa tecido de resposta rápida (alta quantidade de lesão irreparável , alta razão /) em relação ao cérebro (alta quantidade de lesão , baixa razão /, possibilidade de reparo). Portanto, ambos possuem diferentes razões /, sendo que as células cerebrais normais têm chance de reparar as lesões radioinduzidas. O fracionamento proporciona ainda maior quantidade de lesão nas células tumorais devido à reoxigenação. PREVENÇÃO DA REESTENOSE – ASPECTOS RADIOBIOLÓGICOS Acredita-se que o mecanismo básico de reestenose é devido a proliferação e migração das células musculares lisas da camada média dos vasos, e falência da lâmina elástica em aumentar de forma correspondente. Cerca de 10 a 20% das células musculares lisas começam a proliferar em 24 a 48h após angioplastia. Posteriormente, migram para a camada íntima ao redor do quarto dia e o espessamento ocorre em cerca de 42 dias. Portanto, há interesse em usar a irradiação vascular através de fonte radioativa interna para controlar a reestenose após angioplastia. A técnica consiste em administrar radiação, geralmente com iridium 30 192 (192Ir) em alta taxa de dose, e em seguida realizar a angioplastia para retirada da obstrução. A dose necessária para provocar definitivamente a morte clonogênica das células musculares lisas que podem causar a reestenose, é maior do que 20Gy, administrada em menos de uma hora. Porém, as complicações tardias na artéria são inaceitáveis. No entanto, doses menores retardam a reestenose em um a três anos. Acredita-se que a dose mínima eficaz para que as células musculares lisas fiquem com capacidade limitada de divisão é de 15Gy. Dessa forma, após retirada da obstrução, e com as células musculares lisas incapazes de dividir, evita-se a reestenose. Ainda, a fibrose provocada pela radiação nas paredes da ferida , funciona como barreira para difusão de mediadores de quimiotaxia e para a proliferação celular. Também pode funcionar como barreira física para a migração celular. CONDICIONAMENTO PARA TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA (TMO) – ASPECTOS RADIOBIOLÓGICOS O objetivo do condicionamento para TMO é criar um espaço na medula óssea (MO) do paciente para o enxerto se desenvolver, imunossuprimir o receptor e matar célula leucêmica residual. Os fatores que devem ser considerados em relação à radiação são: qualidade da mesma (energia), dose total, taxa de dose, fracionamento, tempo de tratamento, inohomogenidade da dose. Inicialmente, a dose única de 1000cGy, em baixa taxa de dose (5cGy/min) foi usada. Postulou-se que o aumento da dose no TMO reduziria a recaída. Porém, a dose máxima tolerada estava limitada à toxicidade especialmente no sistema gastrointestinal pulmões, fígado, rim entre outros. Estudos em camundongos mostraram que doses maiores poderiam ser melhor toleradas se dadas em frações. Um estudo realizado pelo grupo do Seattle, pioneiro em TMO, para comparar dois esquemas de condicionamento (200cGy/d, 6 frações, dose total de 1200cGy vs. 225cGy/d, 7 frações, dose total de 1575cGy), não evidenciou diferença na sobrevida dos dois grupos e diminuição significante de recaída nas doses maiores. Porém, o número de pacientes que morreram de complicações, como doença veno-oclusiva hepática e 31 pneumonite por citomegalovirus, foi maior para o grupo que recebeu doses maiores. Associaram ainda, a maior morbidade destes pacientes à maior dose administrada por fração. Outro fator que influencia na toxicidade do condicionamento é a taxa de dose. Radiobiologicamente, a dose única administrada em baixa taxa de dose, deve ser em princípio, equivalente ao esquema de fracionamento, em termos de toxicidade. Porém, isto requer taxas de dose extremamente baixas, da ordem de 0,8cGy/min, o que significa duração da irradiação de 24 horas. Observou-se que para as células hemocitopoéticas, a variação na taxa de dose entre 5-200cGy/min não provoca alteração na Do, nem aumento no ombro da curva de sobrevida, demonstrando pouca ou nenhuma capacidade de RLSL. Porém, estudos do estroma medular, mostram o efeito da taxa de dose. Ocorre aumento do ombro e da Do, com diminuição da taxa de dose, para a maioria das células. Este é um fato importante, pois significa maior preservação das células do estroma e conseqüentemente, melhor suporte para as células transplantadas. Além das células do estroma medular, a baixa taxa de dose favorece o RLSL (reparo da lesão subletal) em outros tecidos normais de resposta lenta, como pulmão, fígado e rim. Atualmente, a maioria dos centros usa a radioterapia fracionada e baixa taxa de dose para o condicionamento no TMO. Os esquemas variam: 200cGy/dia (dose total de 1200cGy), 200cGy/2 vezes dia (dose total de 1200cGy), 120cGy/3 vezes dia em 11 frações (dose total 1320cGy), entre outros. A taxa de dose pode variar entre 2,5 a 20cGy/min, porém são usadas taxas de 5 a 7cGy/min predominantemente. 32 MODIFICADORES DA RESPOSTA À RADIAÇÃO Neste campo estão incluídas as drogas sensibilizadoras e protetoras. As radiosensibilizadoras são agentes químicos que aumentam o efeito letal da radiação quando administradas em combinação com a mesma. Muitos compostos foram descobertos ao longo dos anos, mas praticamente não oferecem muito ganho terapêutico porque não mostram efeito diferencial entre tumor e tecido normal. As drogas sensibilizadoras que apresentam aplicação prática na radioterapia, são as primidinas halogenadas e os sensibilizadores de células hipóxicas. As propriedades para um radiosensibilizador ideal são: sensibilizar seletivamente as células hipóxicas, ser quimicamente estável e lentamente metabolizado, apresentar solubilidade em água e lípides para difundir nas células hipóxicas, ser eficaz durante todo o ciclo celular bem como para a radioterapia fracionada. As primidinas halogenadas sensibilizam as células dependendo da quantidade incorporada. As células precisam crescer na presença do análogo por vários ciclos e a sensibilização aumenta dependendo da quantidade incorporada. Neste caso, para eficácia destas drogas é necessário que as células tumorais apresentem ciclo celular mais rápido e incorporem mais droga do que o tecido normal adjacente. Entre os compostos, a iododeoxiuridina é preferida à bromodeoxiuridina, pois apesar de ambas apresentarem propriedades radiosensibilizadoras semelhantes o efeito fotosensibilizador é menor da primeira. Os gliomas são os tumores onde os estudos clínicos se aplicam, pois apresentam crescimento rápido e são circundados por tecido de crescimento lento ou que não crescem. Os sensibilizadores de células hipóxicas aumentam a radiosensibilidade das células deficientes em oxigênio molecular e não daquelas bem oxigenadas. Em situação de hipóxia, o nitrogrupo é reduzido a aminogrupo, e neste processo são produzidos vários compostos intermediários que contribuem para a citotoxidade. O efeito diferencial baseia-se na premissa de que as células hipóxicas ocorrem
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