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1 GABARITO AP1 – 2019.1 QUESTÃO 1 (2 PONTOS) – Ruth Rocha, autora de livros infanto-juvenis, organizou uma antologia de poemas para crianças, Poemas que eu escolhi, publicado pelo selo Salamandra da editora Moderna (São Paulo, 2013), para a qual escreve um Posfácio em que se apresenta como leitora e como poeta. Diz lá que sempre gostou de poesia, influenciada pela mãe, que gostava de declamar, arte que aprendera com o pai, o avô Yoyo de Ruth. Muito jovem, frequentou bibliotecas públicas, de onde retirava livros semanalmente, um deles sempre de poesia. Leu toda a poesia brasileira, de quem é fã e deixou este presente para as novas gerações: uma seleção dos poemas que considera mais gostosos para a leitura dos jovens. Nosso Fórum de apresentação tinha este perfil, mas nem todos se lembraram de fazer sua apresentação de leitor. Por isso repetimos aqui as perguntas, agora levadas a sério, para ganhar pontuação: 1.1. Que qualidade você considera mais importante num leitor literário e como você acha que pode cultivá-la? Atenção, persistência, sensibilidade e imaginação – a resposta é pessoal, deve indicar leitura do material. A leitura literária é ampliada, deve explorar a riqueza do texto. Disse uma aluna: Acredito ser a sensibilidade, o olhar diferenciado sobre as coisas, sobre o outro, sobre os acontecimentos rotineiros as qualidades importantes para um leitor literário. Vivemos em tempos difíceis, em que a leitura se tornou cada vez mais escassa no sentido de leitura de prazer, e não por obrigação. Para cativar leitores se faz necessário lhe mostrar a beleza que existe nos textos literários, os muitos sentimentos que este pode despertar, é preciso se desprender das regras e permitir o encantamento do futuro leitor. 1.2. Depois de ler as aulas sobre poesia, o que lhe parece ser a característica mais forte da poesia na modernidade? A liberdade de expressão, tanto na escolha formal da construção do poema, quanto à temática. Disse uma aluna: A característica nais forte na poesia da modernidade são os versos livres que permitem ao poeta jogar com as palavras para alcançar seu 2 objetivo que é tocar o sentimento do leitor. QUESTÃO 2 (2 PONTOS) Leia o poema abaixo e responda às questões. Tromba o elefante é o único animal que tem. Língua quase todos, rabo, também. Casco a tartaruga e o cavalo têm. Mancha, os cachorros, os gatos, os animais malhados. Também há pássaros e peixes manchados. No ar, no mar e nos prados. Bico as aves e outros que bicam. Pintas a onça e o homem. Fome todos eles têm. Mais do que dois olhos ninguém. Fogo a enguia, o dragão e a taturana. Transparência a água-viva e o grilo sobre a grama. Saco o boi teve. Vaca não tinha. Cloaca, a cobra, o cágado, a galinha. Quatro patas o hipopótamo e o camelo e o leão e o urso e o canguru têm pelo. Oito patas a aranha e a centopeia cem. A égua, a mulher, a cadela trompa têm. Mas tromba o elefante é o único animal que têm. (Poema de Arnaldo Antunes) 2.1. Em relação ao poema como um todo, o que dizer do formato, do uso de elementos singularizantes de modo original? Dê dois exemplos e justifique sua resposta. Arnaldo Antunes escreve livremente uma prosa poética, porque procura um ritmo, mantém uma repetição na construção de frases, buscando a imagem concreta e visual do que escreve. Ex: 1. de repetição – há um “que tem” subentendido desde os primeiros “versos”, como em “Tromba o elefante é o único animal que tem. Língua quase todos”. A ausência do verbo cria uma economia e um padrão de leitura. Cria indiretamente um sistema de classificação aleatório de animais pelas coisas que têm em comum com os outros. E então passa a “mancha”, bico, pintas, etc. Ex: 2. De estruturação em retomada, refrão, como no último verso: “mas tromba o elefante é o único animal que tem”. Parece que obedecendo a este padrão, o texto poderia continuar infinitamente, dependendo da imaginação do leitor. É um poema para criança, ótimo para ser aproveitado em salas de aula. Disse um aluno: O poema está em formato de texto em prosa e o poeta utilizou oalavras que combinam e, em algumas frases, rimam. Ex: “ Tromba o elefante é o único animal que tem. Língua quase todos, rabo, também”. O poeta harmonizou o texto com a escolha de suas palavras, que explicam facilmente o que ele quer dizer. Ele começa e termina o texto com a mesma mensagem, mas a repetição também se dá com palavras que podem ser confundidas, como trompa e tromba. 2.2. Arnaldo Antunes joga com as palavras. Dê dois exemplos em que o emprego da palavra pareça abusar da sua capacidade de multiplicar as significações e explique o que percebe. 1. Por exemplo em “Bico as aves e outros que bicam”, amplia o sentido do bico como parte antômica, para seu uso corrente metafórico do bicar como implicar, futucar o outro, como seres humanos implicantes fazem. 2.Na frase “Pintas a onça e o homem”, contextualizado no poema, fala das pintas como um sinal na pele, comparando animal e homem. No então, a frase pode dar um outro sentido a “pintas”, se lida a palavra como 2ª pessoa do indicativo presente do verbo pintar. Disse um aluno: No caso do uso de palavras em iguasis com sentidos diversos pode- se citar o exemplo de casco em “Casco a tartaruga e o cavalo têm”; mas o casco de um está sobre o corpo o dos outro sob as patas. 3 QUESTÃO 3 (2 PONTOS) Sobre o filme O carteiro e o poeta. 3.1. Por que Neruda diz a Mário que as figuras estão sobretudo na poesia? Pela capacidade que têm as figuras de dizer muito em poucas palavras, já que a poesia tem como principal característica a capacidade de uso econômico e sintético da língua. Disse uma aluna: por que a poesia faz enxergar para além do que está escrito. 3.2. Explique a passagem do filme em que o poeta nega explicar a Mário o que queria dizer com “o cheiro da barbearia me faz chorar”: “Não posso dizer com outras palavras o que disse. Quando se explica, a poesia fica banal.” A partir da experiência do filme, como você explica a resposta de Don Pablo? Mário aprende a sentir a poesia e a encontrá-la nas coisas da natureza, que começa a colecionar para mostrar ao poeta que aprendera a lição. Se o que se lê provoca um estado de espírito, prescinde de explicação lógica! Disse uma aluna: A reposta de Don Pablo tem valor poe´tico, ensina que o leitor lê a poesia com sua própria sensibilidade para compreendê-la. QUESTÃO 4 (2 PONTOS) Leia o poema abaixo, de Laurindo Rabelo. Epigramas (a um calvo pretensioso) Cabeça, triste é dizê-lo! Cabeça, que desconsolo! Por fora não tem cabelo, Por dentro não tem miolo. (extraído de Poesias completas de Laurindo Rabelo) 4.1 No poema, Laurindo Rabelo expõe de forma satírica a relação entre o que se vê e o que se percebe. Aponte nos versos as palavras que indicam ideias em confronto e relacione-as com o que se diz nos parênteses do título. “triste é dizê-lo” e “que desconsolo!” indicam contrariedade, descompasso. Então sabe-se que há decepção entre o que se espera – que uma cabeça tenha cabelo por fora e ideias por dentro - não se dá. O fulano é calvo e deve usar peruca ou enrolar os poucos cabelos na cabeça para fingir o que não é. Daí o título “calvo pretencioso). É um poema de humor, claro. 4.2 Pode-se dizer que a voz poética busca no dado concreto a justificativa para uma depreciação moral? Por quê? Porque o retrato interior desta pessoa que não se conforma com um aspecto natural da vida tentando disfarçar a calvície mostra uma pobreza de espírito, de alguém inseguro, que acha que aparência resolve tudo. Disse um aluno: Pelo que está escrito nos parênteses podemosver que o autor sugere dizer a “verdade” apesar de constatar que o homem em questão não se vê da 4 mesma forma. E careca é careca, não há como contestar (a não ser por uma cabelo falso, peruca). QUESTÃO 5 (2 PONTOS) Leia o poema de Paulo Mendes Campos abaixo e responda às questões: O instrumento é necessário Nas ondas do vento Existe um dragão E eu, vago, não tenho Adaga na mão, Existe a quimera Da minha evasão E eu, vago, não tenho A minha ilusão, Existe a beleza De toda emoção E eu, vago, não tenho Um lápis senão Eu punha depressa na mesma canção Adaga quimera As ondas do vento E um lindo dragão. O texto poético não é fácil nem difícil, mas deve-se sempre lê-lo parte com a inteligência, parte com o coração, com a intuição. Por exemplo, Ruth Rocha, no Posfácio citado acima, diz que não é especialista, é intuitiva, aprendeu a ler e gostar de poesia lendo assim, com a mente e o coração juntos. É assim que você deve ler “O instrumento é necessário”, de Paulo Mendes Campos. 5.1. Diga de que coisas fala o poema? Uma espécie de lamento por se sentir inadequado diante das demandas da vida – não sabe se defender, não consegue sonhar, não sabe expressar o que sente. Disse uma aluna: o poeta tem a sensibilidade de enxergar um dragão no vento, beleza na emoção, mas falata inspiração e material para registrar e criar sua obra. 5.2. De que “instrumento necessário” fala o título e por que é necessário? E para quê. Cada ação humana demanda uma competência e recursos para realizar o que se deseja. Se pararece um perigo, obstáculo, dificuldade, por exemplo (“dragão”), que a vida e o tempo apresentam a cada um (“Nas ondas do vento”), é preciso ter coragem, disposição, preparo (“adaga na mão”) para enfrentar. Sem ver o mundo a seu redor e o que nele acontece, sem se capacitar para viver neste mundo, quando se sonha, se deseja, não se tem meios para realizar o que se quer. O sentido pode ser concreto – bens materiais – ou abstrato – bens morais, intelectuais, espirituais, necessários para que se possa viver e também registrar o que de belo se vê. Disse a aluna:
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