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Aula 02: O Processo de Tomada de Decisão Objetivo: O objetivo desta aula é discutir os principais aspectos relacionados ao processo decisório. 2.1 Processo Decisório: considerações iniciais O processo de tomada de decisão é o conjunto de princípios, regras e procedimentos que permitem selecionar, em determinados tipos de problemas, a linha de ação, estratégia, saída ou alternava mais conveniente. A aplicação do processo de decisão a problemas reais apresenta limitações de ordem prática. A principal é a dificuldade de estimar as probabilidades de ocorrência dos acontecimentos possíveis. Logo, decisão é a escolha entre ações alternativas para atingir um objetivo. Uma decisão pode tomar-se em condições de incerteza, risco e certeza. Considera-se que uma decisão se torna uma situação de certeza quando se conhece perfeitamente o acontecimento e a conseqüência econômica da decisão. Supõe- se associar uma probabilidade de 1 (ou 100%) ao acontecimento previsto. Uma decisão torna-se uma situação de risco quando os acontecimentos possíveis são mais de um. Conhecem-se todos eles e as conseqüências econômicas associadas aos mesmos, assim como as probabilidades de ocorrência de cada um deles. Numa decisão em situação de incerteza, conhecem-se os acontecimentos possíveis e suas conseqüências econômicas, mas desconhecem-se as probabilidade de ocorrência de tais acontecimentos. Numa tentativa de compreender esse processo de decisão bastante complexo podemos utilizar duas linhas complementares. A primeira, de longe a mais ambiciosa, é descobrir como as pessoas em geral, e os executivos em particular, tomam decisões, seja individualmente ou em grupos. Dadas as alternativas e suas conseqüências, com que tipo de interações de grupo estão envolvidos, que processos mentais ocorrem, e que regras aplicam para chegar à opção preferida? Essa direção, que é conhecida pelo nome genérico de teoria da decisão, tem recebido muita atenção, há muitos anos, de diversas disciplinas científicas: Filosofia, Psicologia. Matemática e Economia. A outra direção consiste em focalizar a atenção em recomendações práticas que possam melhorar a tomada de decisões pelos administradores por meio de procedimentos sistemáticos e logicamente válidos. Isso envolve o estudo da estrutura e da dinâmica de ações e decisões, a identificação dos problemas principais, a enumeração de variáveis controláveis e não controláveis, o estabelecimento de relações entre elas e o desenvolvimento de procedimentos que aumentem as possibilidades para que a empresa alcance seus objetivos. Essa é uma tarefa um pouco menos ambiciosa do que a de construção de uma teoria, pois não procura explicar as causas subjacentes das muitas variedades de comportamento organizacional. Os dois enfoques (freqüentemente ditos descritivo e normativo, respectivamente) são complementares, já que um entendimento teórico claro de como uma empresa funciona oferece uma base valiosa para decidir como deve funcionar. Em termos ideais, o desenvolvimento de teorias deve preceder a formulação de recomendações práticas. Contudo, na prática da administração, isso tem ocorrido ao inverso. Preocupados com problemas apresentados por novos desafios, os administradores têm inventado soluções práticas muito antes de surgirem as visões teóricas para explicá-las e validá-las. Esse contraste se toma mais claro devido ao fato de que a racionalidade analítica no processo decisório se revitalizou nas últimas décadas por meio da ênfase dada aos modelos matemáticos de decisão, decorrentes da introdução dos sistemas de computação nas grandes organizações modernas. Considerar e analisar todas as alternativas e suas conseqüências para a escolha da mais racional, em termos de maximizar resultados, pareceu factível com os novos instrumentos eletrônicos. Assim, passou-se a propugnar a idéia de dirigente racional, sistemático e analítico. Por outro lado, a teoria contemporânea de decisão gerencial procura demonstrar o valor do senso comum, da simplicidade e do juízo das pessoas pelo uso ativo dos instintos e das percepções individuais. Refere-se muito à decisão intuitiva, isto é, que não se baseia ou mesmo contradiz a lógica dos fatos explicitamente conhecidos e sistematizados. A intuição é vista como um impulso para a ação em que não se faz uso do raciocínio lógico. Quando se analisam os inúmeros e recentes relatos dos profissionais da gerência, nota-se que a intuição, apesar da aparência ilógica, ou inexplicável, nada tem de mistério e, com certeza, deverá merecer explicações científicas mais apuradas no futuro. Por enquanto, porém, quando lemos as propostas da literatura gerencial contemporânea, vemos que a intuição é tida como altamente impregnada dos conhecimentos e experiências acumulados pelo indivíduo, mas que, talvez, ainda não sejam parte do próprio consciente. Permanece no inconsciente, onde o processamento de informações para a decisão não reflete, necessariamente, a lógica conhecida dos fatos. Na verdade, a visão contemporânea da decisão lembra a perspectiva não científica da administração. 2.2 Processo Decisório: avaliação da conjuntura – o primeiro passo O processo decisório demanda conhecimentos estratégicos como passo inicial do processo, entre os quais a avaliação da conjuntura na qual está inserida a empresa. A avaliação da conjuntura é o processo ordenado de conhecimento da realidade da empresa, passado e presente, e de sua provável evolução, nos âmbitos regional, nacional e internacional, com vista ao emprego do poder do ambiente externo para a conquista e a manutenção dos objetivos da empresa. Cabe considerar, na avaliação da conjuntura, fundamentalmente, o seguinte: • Os objetivos da empresa, devidamente caracterizados, referencial básico que deve orientar todo o processo de conhecimento da realidade da empresa e o processo decisório. Os níveis efetivamente alcançados de conquista e manutenção dos objetivos da empresa devem, nesta etapa, ser cuidadosamente aferidos; • A análise da situação regional, nacional e internacional e, em particular, do contexto e da execução dos planos da empresa em curso, com base em estudos e pesquisas orientadas, em particular, por meio de informações, de sistemas de indicadores e de levantamentos estratégicos; • O poder da empresa, cuja capacidade para atender às necessidades básicas e para superar os obstáculos interpostos a esse atendimento deve ser detidamente avaliada; • A elaboração de cenários prospectivos, com base no exame das tendências de evolução da realidade da empresa. Para o processo decisório, a avaliação da conjuntura é uma atividade permanente, que envolve equipes técnicas interdisciplinares de alto nível. De uma parte, a realidade da empresa é complexa e dinâmica e interage continuamente com o quadro regional, nacional e internacional (igualmente cambiantes). Podem ocorrer, portanto, circunstâncias emergenciais, nos âmbitos interno e externo, que aconselhem revisões de objetivos da empresa ou de estratégias, exigindo ajustamentos na concepção e na execução dos planos destas. Por outro lado, pode ocorrer que, quando do estabelecimento dos objetivos da empresa e das decisões relativas à estratégia adotada para alcançá-los, certos aspectos da realidade nacional ou internacional não sejam conhecidos ou não estejam suficientemente esclarecidos. Nesses casos, recomenda-se a elaboração de exames estratégicos, que podem ser considerados complementares à avaliação da conjuntura e julgados necessários às tomadas de decisões no contexto do método para o planejamento do processo decisório. A avaliação da conjunturacomporta três estágios: a análise de situação, a avaliação do poder do ambiente externo e a elaboração de cenários. 2.2.1 Análise de situação É o estágio em que se busca o conhecimento dos aspectos estruturais e conjunturais da realidade da empresa, nos âmbitos regional, nacional e internacional, e das tendências prováveis de sua evolução. Como tal é um exercício de ciência positiva, deve limitar-se, com base em fundamentação teórica rigorosa, a descrever e a prever, e caracterizar-se pela isenção e objetividade. Comporta, de uma parte, uma visão estática, ou seja, um exame da situação atual, em suas várias manifestações, e, de outra, uma visão dinâmica, isto é, o estudo de sua evolução recente e projeções de seus desdobramentos futuros. 2.2.2 Situação do ambiente externo Como é sabido, as relações do ambiente externo revestem-se hoje de grande multiplicidade e complexidade. Na avaliação da conjuntura, sua análise deve buscar, fundamentalmente, a identificação na realidade do ambiente externo daqueles fatores capazes de vir a influenciar, positiva ou negativamente, a ação política da empresa. Deve, ademais, captar a complexa interação e interpenetração das políticas e estratégias pelas quais atuam e se defrontam, no cenário externo, os diferentes poderes das empresas. No plano das relações econômico-financeiras e culturais, cabe identificar, na multiplicidade que as caracteriza, as áreas estratégicas e de interesse mais relevantes para a empresa, atuais e potenciais, geograficamente próximas ou remotas. No aspecto organizacional, cabe analisar a importância e a atuação das variadas instituições externas, a importância e o papel das comunicações e das outras empresas. Cabe, também, identificar os conflitos, atuais ou potenciais, examinando, em cada caso, suas repercussões, considerados os interesses da empresa. Convém, no entanto, ter sempre presente, na análise e na interpretação desses fatos, o fenômeno contemporâneo das diversas ocorrências e manifestações referidas e, muitas vezes, submetidas ao contexto mais amplo em que se desenvolvem os relacionamentos entre as empresas. Em outros termos, convém não perder de vista a conjuntura externa em seus desdobramentos políticos, econômicos, psicossociais e de segurança pública. 2.2.3 Elaboração de cenários A elaboração de cenários é um dos estágios da fase de avaliação da conjuntura. Os cenários são imagens da realidade da empresa, nos âmbitos nacional e internacional, projetadas para determinado horizonte de tempo, considerados os objetivos da empresa e a capacidade, atual e prospectiva, do poder da empresa para concretizá-los. Na avaliação da conjuntura, os cenários são os desdobramentos da análise de situação realizada e da avaliação do poder da empresa. Não são decisões, ou seja, não correspondem, necessariamente, à imagem desejada para o futuro. São os resultados dos estudos e das análises prospectivas anteriormente elaboradas, revelando as seqüências possíveis de evolução detectadas. No entanto, uma vez que devem estar necessariamente referenciados nos objetivos da empresa, os cenários elaborados devem constituir etapas intermediárias para sua conquista e manutenção e, por conseguinte, não estão isentos de conteúdo valorativo. Ou seja, na elaboração de cenários leva-se em consideração as questões pertinentes ao ambiente interno da empresa em relação a suas forças e fraquezas. Como podem ocorrer diferentes combinações das variáveis significativas escolhidas - necessariamente as mesmas para os três estágios da fase de avaliação da conjuntura -, bem como influências recíprocas não determináveis, devem ser formulados três diferentes cenários exploratórios plausíveis, mostrando o primeiro a melhor situação de intercorrência, dito "otimista"; o segundo, a pior situação de intercorrência, dito "pessimista"; e o terceiro, uma situação de intercorrência naturalmente mais provável - quando se chegaria a um cenário dito “mais provável”. Esses cenários têm por objetivo dar àquele que decide urna imagem de certo modo completa e integrada do sistema (a empresa) no futuro determinado, admitidos alguns eventos de partida e traçadas algumas condições de sua evolução, o que proporciona ao decisor maior segurança para selecionar políticas (objetivos da empresa) e estratégias (diretrizes estratégicas) condizentes com os objetivos traçados. Nessa medida, os cenários são ferramentas úteis na decisão política e na avaliação e escolha dos cursos de ação - análise de trajetórias -, tarefas próprias das etapas subseqüentes do processo decisório. Existem dois tipos muito diferentes de planejamento de cenários. O primeiro é exploratório, tentando entender o contorno de um horizonte desconhecido – o futuro -, principalmente dentro de um panorama geral de interesses. Um planejamento exploratório pode achar riscos potenciais não vistos, mas não é sempre relevante para o tomador de decisão. O segundo tipo de planejamento procura obter um entendimento e uma gestão melhores do risco. Os cenários para tomada de decisão não são criados com base em um fenômeno abstrato. Precisamos conhecer quem são os tomadores decisão, uma vez que eles efetuam as decisões baseadas em percepções e também em fatos. No planejamento do cenário, é importante que a equipe, que desenvolve o conjunto das alternativas futuras, esteja certa de que o futuro oficial está entre esse conjunto de alternativas. Só depois de analisar esse cenário, mediante uma pesquisa bem-feita, as outras possibilidades devem ser consideradas. A esta altura você deve estar se perguntando: Como identificar e descrever o futuro oficial? É preciso examinar os conhecimentos dos tomadores de decisão, o ambiente organizacional e o mercado no qual eles operam. Esse teste pode ser resumido em cinco perguntas: • primeira pergunta: se fosse possível encontrar uma clarividente, qual pergunta você faria sobre o futuro? • segunda pergunta: diante de dada decisão, qual seria o cenário para o melhor resultado possível? • terceira pergunta: qual seria o cenário para o pior resultado possível? • quarta pergunta: se você estivesse se aposentando ou deixando a empresa, o que gostaria que seus colegas considerassem como seu legado? • quinta pergunta: existem barreiras importantes que devem ser retiradas em sua organização? Os cenários podem servir para treinar os tomadores de decisão a reconhecer sinais de mudança em ocasiões adequadas. Os cenários servem para introduzir mudança gradual nos próprios modelos concebidos da tomada de decisão. Em suma, os cenários mostram aos tomadores de decisão suas próprias percepções sobre o ambiente de risco. 2.3 Processo Decisório: uma abordagem normativa De forma geral, o processo decisório pode ser assim delineado: • concepção e edição da decisão: percepção do decisor quanto a cada elemento da decisão. É função de características pessoais do decisor, fatores sociais e da maneira como o problema é apresentado; • avaliação das alternativas. Segundo Robbins1 os gerentes, supostamente, deveriam usar um processo racional de tomada de decisão, ou seja, fazer escolhas consistentes, maximizando o valor dentro de limitações específicas, que deveria ter as seguintes etapas: • definição do problema; • identificação dos critérios de decisão e seus respectivos pesos; • geração das alternativas e classificação delas em relação a cada critério; • escolha da melhor alternativa. Robbins ainda alerta que, para que esse modelo possa ter um melhor aproveitamento, é necessário que a situação tenha as seguintes características: • clareza do problema (informações completas);• opções conhecidas (critérios e alternativas); • preferências claras (pesos dos critérios); • máxima compensação na alternativa escolhida. Já para Stoner e Freeman2 o processo racional de tomada de decisão pode ser descrito de acordo com quatro grandes estágios: 1. examinar a situação (definir o problema, identificar os objetivos da decisão e diagnosticar as causas); 2. criar e avaliar as alternativas; 3. escolher a melhor alternativa; 4. implementar e monitorar a decisão. A diferença básica entre os dois modelos apresentados está na última etapa do segundo modelo, que pressupõe que o processo decisório não tem fim na decisão, mas se prolonga pelo monitoramento dos resultados desta, na busca por uma melhoria contínua desse processo. Stoner e Freeman3 advertem, ainda, para o risco de que nenhuma abordagem, por melhor que seja, pode garantir que o decisor tome sempre a decisão correta. Como dito anteriormente, de maneira geral, o primeiro passo a ser seguido no processo de decisão é a formulação do problema. É possível que uma formulação 1 ROBBINS, S. P. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2000. 2 STONER, J. A. F. e FREEMAN, R. E. Administração. 5ª ed. Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil, 1992. 3 STONER e FREEMAN (1992). inadequada do problema leve a um resultado que reduz a eficiência e a eficácia, pois a formulação incorreta pode definir o problema errado. Segundo Luftman et aI., apud Shimizu, o responsável para estruturar um modelo de decisão na empresa está encarregado de: - fazer as perguntas certas; - detectar os elementos relevantes; - identificar os parâmetros significativos; - determinar os relacionamentos significativos entre os elementos e parâmetros selecionados; - especular sobre o 'tamanho certo' e a 'formulação certa' do problema; - avaliar a característica temporal do problema (ciclos de vida, duração, estabilidade e descontinuidade).4 Já para Monks apud Shimizu o processo decisório deve seguir os seguintes passos: - Fase 01 – Formulação - Definir o problema e sua variáveis relevantes (parâmetros); - Estabelecer os critérios ou objetivos de decisão; - Relacionar os parâmetros com os objetivos, ou seja, modelar o problema; - Gerar as alternativas de decisão e as alternativas dos cenários possíveis, para diferentes valores dos parâmetros - Fase 02 – Tomada de Decisão - Avaliar as alternativas e escolher a que melhor satisfaz aos objetivos (método de decisão); - Implementar a decisão escolhida e monitorar os resultados por meio de: análise de sensibilidade e aprendizagem pela retroalimentação dos resultados, para poder alterar ou melhorar o modelo. Simon apud Shimizu salienta que a solução de qualquer problema de decisão em atividades empresariais, científicas ou artísticas pode ser visualizada em quatro etapas: percepção da necessidade de decisão ou oportunidade, formulação das 4 SHIMIZU. Decisões nas organizações. São Paulo: Atlas, 2001. alternativas de ação, avaliação das alternativas em termos de suas respectivas contribuições e escolha de uma ou mais alternativas para fins de execução.5 Supõe-se que a percepção da necessidade de decisão e a formulação de alternativas ocorrem antes e fora do esquema de análise. Para que as duas primeiras etapas sejam cumpridas, simplesmente não há qualquer coisa que substitua a reflexão. Não há varinha mágica que possamos usar para produzir alternativas. Vamos olhar atentamente cada uma das etapas. A percepção de necessidades é uma questão fundamental na tomada de decisões estratégicas. Um método que não é capaz de permitir a escolha entre a preocupação permanente com o problema operacional e a atenção ao estratégico deixa parte importante do problema à intuição e ao julgamento subjetivo. Uma empresa, digamos, necessita de um mecanismo para acompanhar as tendências do retorno sobre o investimento (que tem caído) e da taxa de crescimento de demanda (que tem perdido velocidade), necessita de um mecanismo para reconhecer que chegou o momento de diversificar-se. Tudo isso precisa ocorrer antes que sejam levantadas e analisadas oportunidades específicas de diversificação. Na busca de alternativas, a teoria tradicional do investimento exige que todas as alternativas sejam conhecidas no momento em que a decisão deve ser tomada. No problema estratégico, essa situação é pouco comum. No começo de qualquer período de planejamento, somente algumas alternativas serão conhecidas com detalhes suficientes para permitir a montagem de fluxos de caixa. Normalmente, incluirão os produtos e mercados tradicionais da empresa, os projetos de P&Djá existentes, e talvez os nomes de algumas empresas que se sabe estarem interessadas numa fusão. Alternativas se apresentarão ao longo do período de planejamento num fluxo contínuo: invenções de produtos nos laboratórios da empresa, novas oportunidades de mercado, empresas disponíveis para aquisição, e oportunidades de joint venture. Nas decisões estratégicas, essas condições de desconhecimento parcial a respeito de oportunidades futuras constituem a regra, e não a exceção; um método que deixa de refleti-Ias não serve para uma empresa. Sob condições de desconhecimento parcial, uma empresa defronta-se com dois problemas. O primeiro é o de como conduzir uma busca ativa de oportunidades 5 SHIMIZU. Decisões nas organizações. São Paulo: Atlas, 2001. atraentes. A empresa pode adotar uma atitude completamente passiva e esperar que as oportunidades venham até ela. Entretanto, essa atitude leva, para a maioria das empresas, a práticas gerenciais desprovidas de coordenação, ineficientes e potencialmente dispendiosas. O segundo problema é distribuir os recursos limitados da empresa entre as oportunidades identificadas e as outras oportunidades, possivelmente mais atraentes, que estejam prestes a surgir. Esse é o dilema clássico do pássaro na mão contra dois voando, que é comum a muitas situações reais de decisão. Quanto a esse aspecto, a teoria do investimento silencia, pois pressupõe que todas as alternativas de decisão possam ser enumeradas, e que seus resultados possam ser medidos. Um método prático para decisões estratégicas, portanto, deve ampliar essa teoria para permitir a busca de alternativas e a avaliação de projetos sob condições de desconhecimento parcial. Na avaliação das alternativas, a tomada de decisão pode ser caracterizada como um processo de escolha ou seleção de alternativas ou caminhos de ação "suficientemente bom", entre o grupo de alternativas para atingir um objetivo ou alguns objetivos. Muitas tomadas de decisão envolvem incertezas. Daí, um dos mais importantes aspectos, que auxiliam na decisão mais adequada, está em suprir a habilidade de lidar com informações vagas e imprecisas, tais como: alto lucro; velocidade alta; preço baixo. Muitas das tomadas de decisão levam a um ambiente em que os objetivos e as,conseqüências das possíveis ações se alteram no decorrer do tempo, já que sua visualização torna-se cada vez mais difícil. Para Harmond, Keeney e Raifa apud Shimizu, uma forma objetiva de minimizar a ocorrência das "más decisões" é recorrer ao processo da análise de sensibilidade, submetendo a decisão tomada a uma variação controlada dos valores envolvidos.6 Até então não abordamos a questão do risco e das incertezas no processo decisório. Como essas questões podem ser consideradas num modelo "racional"? Ou seja, como deveremos comportar-nos na análise e avaliação das alternativas6 HARMOND, J. S.; KEENEY,R. 1.; RAIFA,H. The hidden traps in decision making. Harvard Business Review, p. 47-54, Sept./Oct. 1998. apresentadas quando seus resultados forem incertos? Como encontrar a alternativa ótima sob incerteza? Esses são exatamente os tópicos centrais de uma abordagem normativa para a questão do risco no processo decisório. Para entendermos melhor essas questões, temos que nos deter no estudo (de forma superficial) de alguns conceitos importantes, como o de probabilidade e de valor esperado. A probabilidade pode ser descrita como a chance de que qualquer resultado específico venha a ocorrer. Uma probabilidade de 100% (ou 1) representa a certeza de que um evento ocorrerá e uma probabilidade de Zero representa a certeza de que ele não ocorrerá. Qualquer valor entre esses extremos representa incerteza, ou seja, o grau em que acreditamos que determinado evento possa vir a ocorrer. Como os resultados da maioria dos eventos e decisões são incertos, podemos, por meio da probabilidade, atribuir valores à possibilidade de que cada resultado potencial associado a um evento ou decisão venha a ocorrer. Numa forma simples de análise, para determinar a probabilidade de determinado resultado temos que especificar, de alguma forma, todos os resultados possíveis e só então observar qual a incidência do resultado desejado. Essa apresentação do conceito de probabilidade é extremamente simples, mas poderia ser bem mais complexa, tanto em termos matemáticos quanto psicológicos. Seria muito mais complicado estimar a probabilidade de que determinado candidato a presidência ganhe a eleição, ou a probabilidade da taxa de juros passar dos 15% a.a., ou, ainda, a probabilidade da taxa de câmbio passar de R$ 2,00/US$. Isso porque estaríamos trabalhando (como é de praxe no mundo gerencial) com o futuro e o universo dos resultados possíveis não é de fácil especificação. Como já podemos esperar, a maioria das decisões que tomamos (exceto em jogos e assemelhados) assumem essa forma mais complexa. O valor esperado é calculado por meio da ponderação de todos os resultados potencialmente possíveis por suas respectivas probabilidades de ocorrência. É claro que esse cálculo torna-se mais complicado quando não podemos especificar a probabilidade objetiva de todos os resultados possíveis. À medida que os fenômenos tornam-se mais complexos, essa avaliação pode tornar-se muito trabalhosa, com grande potencial para vieses. Uma regra simples advinda desse cálculo é escolher a alternativa que possuir o melhor valor esperado (maior para ganhos e menor para perdas). O argumento a favor de uma regra de decisão baseada no valor esperado é que, a longo prazo, as decisões tomadas conforme essa regra serão as ótimas; isto é, os erros aleatórios bons e maus se anularão ao longo do tempo. Porém, existem outras variáveis que fazem com que as pessoas prefiram opções de pior valor esperado quando elas proporcionam menor grau de risco. Isso nos leva a uma nova discussão e a um novo conceito, que é o de comportamento em relação ao risco. Em relação a esse conceito, temos que dividir nossa discussão em dois momentos distintos. Quando estamos falando da decisão entre alternativas que apresentam determinado valor esperado e, associado a ele, determinado grau de risco, podemos ter os seguintes comportamentos: . • aversão a risco: escolha da alternativa de menor risco, mesmo que ela possua o pior valor esperado; • propensão ao risco: escolha da alternativa de melhor valor esperado, mesmo que ela possua o maior risco. Vale salientar que esse tipo de decisão leva em consideração um comportamento racional em relação ao risco e ao valor esperado dos benefícios de uma decisão. Isso quer dizer que a decisão será sempre a favor da alternativa de menor risco e maior benefício esperado, ou seja, para alternativas de mesmo risco sempre escolheremos a de maior benefício esperado e para alternativas de mesmo benefício esperado escolheremos sempre a de menor risco. No entanto, quando estamos falando de decisões em que as possibilidades são abertas, temos que introduzir um novo conceito, que é o do equivalente à certeza. Esse é o número que cada decisor toma como aquele que o deixaria indiferente entre o evento incerto e aquele valor assegurado. Esse valor pode ser maior, menor ou igual ao valor esperado e isso nos faz ter três situações de comportamento em relação ao risco: • equivalente à certeza Menor que valor esperado: temos uma situação de aversão ao risco, pois o decisor aceitaria um valor menor que o valor esperado para não precisar correr o risco; • equivalente à certeza Maior que valor esperado: temos uma situação de propensão ao risco, pois o decisor só aceitaria sair do "jogo" por um valor superior ao valor esperado; • equivalente à certeza Igual ao valor esperado: essa seria uma situação de neutralidade ao risco, pois o equivalente à certeza é exatamente igual ao valor esperado. Esses conceitos sobre o comportamento humano em relação ao risco serão fundamentais quando de nossa discussão a respeito do julgamento sob incerteza. Quando os tomadores de decisão agem de forma avessa ou propensa ao risco, eles tomam decisões que muitas vezes excluem a otimização (maximização dos ganhos e/ou minimização das perdas) do valor esperado. Para tentar explicar o afastamento dos critérios de valor esperado, Berloulli (1738), conforme citação em Bazerman7 introduziu o conceito de Utilidade Esperada. A teoria da utilidade esperada propõe que cada nível de resultado está associado a determinado grau de prazer ou benefício líquido, chamado de utilidade. A utilidade esperada de uma escolha incerta é a soma ponderada das utilidades de seus resultados, cada uma multiplicada por sua probabilidade. Enquanto no processo decisório a abordagem do valor esperado consideraria que a quantia de R$ 1 milhão vale o dobro que a de R$ 500 mil, a abordagem da utilidade diria que um ganho de R$ 1 milhão não cria, sempre, o dobro de utilidade esperado que um ganho de R$ 500 mil. Isso se explica pelo fato de que a maioria dos indivíduos não obtém tanta utilidade da segunda fatia de R$ 500 mil quanto da primeira (sensação do primeiro meio milhão). Assim, sob a teoria da utilidade esperada, prevê-se que um tomador de decisão selecione a opção com a utilidade esperada mais alta, independentemente de ter essa escolha o melhor valor esperado. Além disso, de acordo com a teoria da utilidade esperada, as pessoas identificam os resultados em termos de sua riqueza toda e da riqueza adicional que obteriam em decorrência de cada resultado alternativo. Isto é, cada escolha que fazemos é considerada no âmbito do contexto da utilidade total que atualmente experimentamos e do que ela poderia vir a significar para nossa utilidade total no futuro. 7 BAZERMAN, M. Judgment in Managerial Decision Making. 3ª. ed. New York: Wiley, 1994 2.4 Construindo um Modelo para o Processo Decisório Um modelo descreve, representa e imita o procedimento que ocorre no mundo real, estabelecendo o relacionamento das variáveis com os objetivos, da melhor maneira possível, obedecendo à limitação de tempo e de custo. Os modelos podem ser de vários tipos, a saber: • verbais: quando descritos e representados por palavras e sentenças (exemplos: questionários, sistemas especialistas etc.); • físicos: quando representados por algum tipo de material ou hardware, alterando-se suas dimensões, formato e custo (exemplos: maqueta, protótipos); • esquemáticos: quando representados por meio de gráficos, tabelas, diagramas ou árvores de decisão;• matemáticos: quando representados por equações e valores numéricos ou valores da lógica simbólica (exemplos: programação linear, rede neural etc.). Um modelo matemático pode ser visto como uma caixa preta que recebe as entradas (parâmetros, variáveis exógenas e decisões), e processa essas informações para produzir as saídas (variáveis endógenas ou resultados da decisão). Uma maneira bastante útil de representar um modelo de decisão é organizando o mesmo sob a forma matricial composta pelos seguintes elementos:8 - Nas Colunas da Matriz são apresentadas as Estratégias ou Alternativas de Decisão: cada coluna da matriz representa uma das alternativas possíveis, apresentadas ao decisor. Todas as alternativas possíveis de decisão devem estar formuladas. Dizemos, então, que o conjunto das alternativas possíveis é exaustivo e cobre todo o campo de definição do problema. As alternativas devem ser também mutuamente exclusivas, isto é, uma alternativa de decisão exclui as demais. As alternativas desconhecidas devem ser agrupadas em uma só, formando a alternativa “outras alternativas”. 8 SHIMIZU. Decisões nas organizações. São Paulo: Atlas, 2001. p. 40. - Nas Linhas da Matriz são apresentados os Cenários de Decisão ou estados possíveis do Problema: Os cenários representam os resultados possíveis do problema ou os resultados das ações tomadas por um adversário, quando temos uma situação de conflito. Os estados possíveis (cenários) também formam um conjunto exaustivo e mutuamente excludente. Nos problemas de decisão sob risco, uma probabilidade de ocorrência deve ser atribuída a cada estado ou cenário. Não se iluda, o processo decisório não é tão simples como se apresenta aqui. A escolha de um modelo depende da finalidade da decisão, da limitação do tempo e custo e da complexidade do problema.9 Um problema pode ser considerado complexo quando apresenta grande número de variáveis ou objetivos e/ou quando não existe independência entre os cenários e entre as alternativas Por conta disso, o modelo de tornada de decisão mais adequado é o que lida com conhecimentos e informações incompletas e incertas. Diferentes enfoques, atitudes e crenças também precisam ser considerados. O modelo de decisão precisa incluir nos processos de identificação medidas e critérios de combinação de alternativas e cenários a fim de criar um modelo conceptual para decisões e avaliações em ambientes difusos. Anexo a aula 02 Anarquia organizacional: o modelo da lata de lixo O modelo da lata de lixo10 proposto por Cohen supõe que o problema da tomada de decisão é semelhante a uma enorme lata de lixo, na qual os problemas a serem resolvidos são jogados. Os problemas bem estruturados ou de prioridade maior são resolvidos e retirados da lata de lixo. Os demais problemas são retirados após um exame superficial, ou são retirados da lata porque estão ocupando espaço ou "cheirando mal". Muitos problemas ignorados permanecem no fundo da lata de lixo, o que exige o esvaziamento periódico do conteúdo da lata. Os empresários ou chefes certamente apreciam em seus executivos ou subordinados a habilidade para negociar, protelar ou solucionar aspectos diferentes de 9 SHIMIZU (2001) 10 COHEN apud SHIMIZU (2001) p. 182-185. um problema. Esses procedimentos nem sempre ocorrem por meio da resolução satisfatória desse problema. A ocorrência desse fenômeno de decisão pode estar ligada à maior ou menor importância ou prioridade atribuída ao problema. Essas decisões podem ocorrer devido à existência de um fenômeno denominado anarquia organizacional. Segundo Cohen, as dificuldades na tomada de decisão ocorrem pelo fato de existir muitas anarquias organizacionais difíceis de serem descritas de modo preciso.11 As anarquias organizacionais ocorrem devido à: • falta de clareza para definir e selecionar um problema, e um número elevado de problemas (importantes ou sem importância) apresentados pelos participantes da decisão é jogado dentro de um mecanismo de decisão como se fosse uma lata de lixo; • dificuldade em descrever, aplicar e avaliar o uso de tecnologias ou experiências anteriores, isto é, existem dúvidas para avaliar a utilidade de uma tecnologia ou a experiência anterior para a solução de um problema; • existência de múltiplas restrições ou condições impostas ao problema e que dispersam a atenção do tomador de decisão; • participação irregular, esporádica ou inadequada de pessoas ou grupos de pessoas, de modo que o nível da energia dispensada para resolver o problema é irregular . A ocorrência da anarquia organizacional pode ser encontrada com freqüência em uma universidade (ou um órgão público) onde: 1. diversos tipos de organismos de decisão (escolas, departamentos, cursos ou disciplinas) são criados, e seus problemas, jogados na lata de lixo representada pela universidade; 2. os métodos de resolução usados (como métodos de ensino, métodos de pesquisa, avaliações etc.) trazem resultados incertos para o desempenho da universidade; 3. professores, alunos, funcionários ou representantes da comunidade participam de maneira irregular em seus organismos de decisão. 11 COHEN et aI. apud SHIMIZU (2001) p. 182-185. O modelo da lata de lixo é formado pelos seguintes elementos: 1. mecanismo de decisão: é uma estrutura ou instância para tomar uma decisão sobre um problema, gastando determinada quantidade de energia, de acordo com a dificuldade ou interesse em resolver esse problema. Exemplos: reuniões de decisão, comissão de admissão, comissão para demissão ou promoção de funcionários, parlamento, congressos etc.; 2. participantes: são pessoas ou organismos que fazem parte do mecanismo de decisão e gastam determinada quantidade de energia (tempo, conhecimento ou dinheiro) para tentar resolver um problema; 3. problemas: são propostas apresentadas ao mecanismo de decisão; 4. soluções do problema: uma ou mais alternativas de decisão escolhidas para cada problema. Segundo este modelo de decisão, um problema proposto pode receber: • decisão satisfatória, com a apresentação de uma solução final: a decisão é tomada escolhendo-se uma das alternativas possíveis que propõem resolver completamente o problema. Todos os modelos de decisão discutidos nas outras sinopses pertencem a essa categoria; • decisão de abandono, devido à dificuldade de chegar a uma solução; • decisão com exame superficial das soluções possíveis (decisão por vista grossa ou oversight): nesse caso, a decisão é tomada de modo superficial, grosseiro ou negligente, sem qualquer critério de análise do problema. Por exemplo, podemos mencionar o caso da contratação de funcionário sem exame de seu currículo ou sem submetê-lo a um exame de capacitação ou seleção; • decisão sem qualquer discussão (decisão por omissão, decurso de prazo, passagem ouflight): engloba os problemas aprovados (ou abandonados) devido às dificuldades de apreciação e resolução adequada, pois envolvem conflito de interesses, falta de objetivo, falta de interesse, falta de tempo etc. Podemos citar como exemplos a caixa de sugestão ou reclamação, da qual a maioria das sugestões ou queixas é jogada fora, ou problemas administrativos acumulados por longo tempo. Todos os modelos de decisão apresentados pressupõem que o tomador de decisão resolve um problema escolhendo uma das alternativas possíveis de solução apresentadas. Na Teoria da Decisão, esse aspecto é rigorosamente obedecido, embora, na maioria dos casos, essas alternativas sejam versõessimplificadas ou condensadas dos estados possíveis da natureza. Entretanto, os problemas da vida real nem sempre são resolvidos dessa maneira, e devemos, também, considerar o comportamento do indivíduo, como já foi mencionado anteriormente, ou da organização envolvida na decisão. Vários autores, como Cohen et al12 e Takahashi13 têm apresentado modelos e resultados de pesquisa que envolvem o problema do comportamento nas decisões. Exercícios 1. Quais as principais diferenças entre os enfoques descritivo e normativo/prescritivo do processo decisório? 2. Quais os estágios da avaliação da conjuntura? Qual a importância de cada um deles numa negociação? 3. Diferencie, por meio de exemplos, as decisões programadas e não programadas. 12 COHEN et al. apud SHIMIZU. Decisão nas organizações, São Paulo: Atlas, 183 p. 2001. 13 TAKAHASHIapud SHIMIZU.Decisão nas organizações. São Paulo: Atlas, 182 p. 2001.
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