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Parte Especial do Direito Penal - Homicídio

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Naomi Sugita Reis
PENAL IV 
____________________________________________________________ 
PARTE ESPECIAL 
DECOMPOSIÇÃO DO TIPO PENAL 
I. Bem jurídico tutelado/ objeto jurídico/ objetividade jurídica; 
II. Sujeito Ativo: 
A. Quem tem o domínio do fato {não executa o tipo penal mas comanda o crime, é 
autor intelectual} 
B. Autor que realiza a atividade central 
C. Partícipe, que concorre para o crime, adere à conduta do autor {ajuda, pode até 
induzir ou instigar o autor} 
III. Sujeito Passivo: o sujeito que perdeu o bem jurídico ou teve seu bem jurídico afetado 
com a ação ou omissão do sujeito passivo. 
A. Dos crimes contra a paz pública - art. 288 {organização criminosa}: quem é o 
sujeito passivo deste crime é a própria paz pública e não o indivíduo que sofreu a 
ação direta. 
IV. Elemento objetivo/ tipo objetivo/ tipicidade objetiva{descritivo}: elementos que 
estão escritos no tipo penal pelo legislador, no artigo. Pode ser feita então a 
interpretação gramatical ou teleológica desse tipo. 
V. Elemento normativo: referência 
A. O injusto: “entrar ou permanecer no estabelecimento sem autorização”; 
B. Termo jurídico: “funcionário público que se utilizar de seu cargo…”; 
C. Conceito extra-jurídico - que a sociedade dá: “praticar ato obsceno em lugar 
público…” - ultraje público à sociedade. 
VI. Elemento subjetivo/ tipo subjetivo / tipicidade subjetiva.: dolo {que é 
conceituado no Código Penal} e culpa {que possui apenas suas modalidades no 
Código Penal}. Mas, no caso do art. 19, todos admitem a forma culposa, no mínimo. 
VII.Consumação e tentativa: 
“Art. 14. - Diz-se o crime: 
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I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; 
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à 
vontade do agente.” 
VIII.Pena: contida sempre no tipo penal; 
IX. Ação Penal: a maioria das ações é pública, salvo quando há expressa menção a uma 
ação penal privada. 
X. Classificação do crime: é diferente do tipo penal {Penal II}, o qual afirma que crime é 
uma conduta típica, antijurídica e culpável. 
A. Crime comum: qualquer pessoa pode praticar; 
B. Crimes próprios: depende de uma qualidade específica do sujeito ativo. 
C. Crime material: o tipo prevê uma ação e um resultado. Para que ele se caracterize, 
é preciso que o resultado previsto ocorra. 
D. Crime formal: não há necessidade de um resultado, apenas a ação caracteriza a 
consumação do crime. 
E. Crime unisubjetivo: o tipo penal prevê um crime realizado por pessoa apenas. 
F. Crime plurisubjetivo/ concurso necessário: o tipo penal prevê um crime 
realizado por diversas pessoas. 
G. Instantâneo: crime que se consuma em um momento só 
H. Permanente: se perpetua ao longo do tempo. 
TÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A PESSOA 
CAPÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A VIDA 
HOMICÍDIO 
Art. 121 
I. Bem jurídico: a vida. A proteção penal em relação ao homicídio se dá a partir do 
início do parto normal {rompimento do saco amniótico} e, na cesária, quando se faz a 
primeira cisão na barriga da grávida. Condições que demonstrem pouca ou nenhuma 
probabilidade de sobreviver não afastam seu direito à vida. Ressalta-se que é direito À 
vida e não direito DA vida, sendo assim, conclui-se que esse direito é indisponível, pois 
“só se pode renunciar o que se possui, e não o que se é”, sendo assim, não há direito 
de dispor, validamente, da própria vida. 
II. Sujeito ativo: por se tratar de um crime comum, qualquer pessoa pode praticá-lo e 
ele caracteriza-se como unipessoal {unisubjetivo}, pois uma pessoa sozinha pode 
cometê-lo, não havendo necessidade de outros. 
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III.Sujeito passivo: pode ser qualquer ser vivo nascido de uma mulher, ou seja, o ser 
humano nascido com vida. A velha concepção segundo o qual “não ter respirado não é ter 
vivido” está superada, pois existem outros meios de manifestação de vida, que não 
sejam a respiração. 
A. Sujeito passivo especial: quando o sujeito passivo de homicídio for o Presidente 
da República, do Senado, da Camara ou do STF, o crime será contra a segurança 
nacional. Se for vítima menor de 14 anos ou maior de 60, a pena será majorada de 
1/3 etc. 
IV. Elemento objetivo: matar, tirar a vida de alguém. 
V. Elemento normativo: § 1º 
VI.Elemento subjetivo: por ser um tipo objetivo simples de ação livre, o dolo é 
primordialmente o elemento subjetivo. Mesmo que a pessoa tenha o dolo de matar 
outra, se a vítima já estiver morta por outras circunstâncias, ou então se a pessoa 
tenta atirar com uma arma de fogo que, por determinados motivos, não poderia 
causar a morte da vítima, não será punido o agente por tentativa pelo seguinte: 
“Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta 
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.” 
A. Dolo direto: o objeto é o fim proposto, assim como os meios escolhidos e os 
efeitos colaterais representados como necessários à realização do fim pretendido. 
Assim, o dolo direto compõe-se de três aspectos: 
• Representação do resultado, dos meios necessários e das consequências 
secundárias; 
• O querer o resultado, bem como os meios escolhidos para sua consecução; 
• O anuir na realização das consequências previstas como certas, necessárias ou 
possíveis, decorrentes do uso dos meios escolhidos para atingir o fim proposto da 
forma de utilização desses meios. 
1. De primeiro grau: em relação ao fim proposto e aos meios escolhidos; 
2. De segundo grau: em relação aos efeitos colaterais. 
B. Dolo eventual: a pessoa tem uma maçã em cima da cabeça e a outra atira uma 
flecha, pode acontecer uma coisa ou outra — pode ou não acontecer; 
C. Culpa consciente: pode ocorrer mas não vai acontecer {o resultado não passa pela 
cabeça da pessoa, pois ela acredita veemente que o resultado não vai acontecer}; 
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VII.Consumação ou tentativa/ desistência voluntária e arrependimento eficaz: 
A. Consumação: consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua 
definição legal; 
B. Tentativa: tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por 
circunstâncias alheias à vontade do agente {pode chegar à consumação}. 
C. Desistência voluntária e arrependimento eficaz: 
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede 
que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. 
VIII.Pena: em regra, de 6 a 20 anos. 
IX. Ação penal: pública. 
X. Classificação do crime: 
A. Crime de ação livre: {o tipo penal não elenca os meios de atingir o fim}, ao 
contrário do crime de curandeirismo, no qual o legislador vincula as ações do 
agente. Pode ser tanto mediante ação quanto omissão. 
1. Meio direto {asfixia, fogo, arma, veneno} 
2. Meio indireto {mediante terceiros, que serão o agente direto} 
B. Caso de omissão: 
Art. 13, § 2o - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia 
agir para evitar o resultado {porém se omitiu}. O dever de agir incumbe a quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
Homicídio simples 
• Art. 121. - Matar alguém:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. 
• Caso de diminuição de pena — Homicídio privilegiado 
§ 1o - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou 
moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação 
da vítima {não se comunicam entre os agentes pois não são elementares ao tipo penal, são 
circunstancias personalíssimas}, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
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• Homicídio qualificado Pena - reclusão,de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 
 Os clássicos da doutrina afirmavam que o crime não pode ser ao mesmo tempo 
privilegiado e qualificado porque o privilegiado está localizado no código antes da 
qualificadora. Mas, há de ser analisado de outro jeito. Em um embate de crime que 
considera-se qualificado e privilegiado, este sempre se sobressairá, em analogia ao art. 
67 CP, ou seja, não será hediondo. 
Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado 
pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos 
determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência. 
§ 2o - Se o homicídio é cometido: 
Natureza subjetiva 
Motivos 
I - mediante paga ou promessa de recompensa {crime plurisubjetivo - há necessidade 
de no mínimo 2 pessoas}, ou por outro motivo torpe; {a doutrina antiga afirma que há 
de ter natureza econômica, enquanto a nova doutrina afirma que o legislador, se tivesse a 
intenção de aceitar apenas a natureza econômica, teria feito que nem o 158 - deixado 
explícita a vantagem econômica -, portanto, é aceito todo tipo de vantagem, todo motivo 
torpe} 
II - por motivo fútil {motivo desproporcional, banal…} significa maior periculosidade do 
agente. Quando há AUSÊNCIA de motivos, NÃO pode ser comparado com motivo 
FÚTIL, pois não há motivo. 
Natureza objetiva 
Meios {o agente precisa ter dolo} 
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura … ou outro meio 
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
Modos 
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou 
torne impossível a defesa do ofendido; 
Fins 
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime 
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Feminicídio 
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino 
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: 


I - violência doméstica e familiar {condição de mulher, ex-mulher};

II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, 
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no 
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou 
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição. 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
• Homicídio culposo 
§ 3o - Se o homicídio é culposo {ação envolta em imperícia, negligência ou 
imprudência}:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
• Aumento de pena nos crimes culposos ou dolosos - majorantes no homicídio 
§ 4o - No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de 
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de 
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu 
ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. 
Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de um terço, se o crime é praticado 
contra pessoa menor de 14 (catorze) anos ou maior de 60 (sessenta) anos. 
§ 5o - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as 
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a 
sanção penal se torne desnecessária. 
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por 
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de 
extermínio. 
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime 
for praticado: {sempre tendo conhecimento do fato} 
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; 
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II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com 
deficiência; 


III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. 
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO 
ART. 29 e ART. 122 
I. Conduta secundária: se o induzimento, a instigação e o auxílio não estiverem no tipo 
penal, é conduta secundária, art. 29. 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade 
II. Conduta principal: se estiver no tipo penal a indução, instigação ou auxílio. 
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça 
[…] 
INFANTICÍDIO 
ART. 123 
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o 
parto ou logo após: {nascente ou neonato}. Não tem razão a sustentação de uma 
proteção penal a qualquer outro filho da mulher, desde que ela esteja sob o estado 
puerperal. 
I. Bem jurídico: vida do neonato ou do nascente. 
II. Sujeito ativo: é um crime próprio, pois existem exigências de quem deverá ser o 
agente para que o crime seja caracterizado. 
III. Sujeito passivo: neonato ou nascente. 
IV. Elemento objetivo: estado puerperal. Relação de causalidade entre o estado 
puerperal e o resultado do crime. Se não for caracterizado o estado puerperal, a mãe 
responderá por homicídio. 
V. Elemento subjetivo: mediante dolo direto ou eventual. Se consuma com o resultado 
naturalístico e material. Não cabe hipótese de infanticídio culposo. 
VI. Pena: detenção, de dois a seis anos. 
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VII.Classificação do crime: crime de ação livre, que pode ser praticado de ação direta ou 
indireta, de maneira omissiva ou comissiva. 
ABORTO 
ARTS. 124 A 128 
I. Bem jurídico: vida do ser humano em formação FETO. A formação embrionária do ser 
humano é quem é defendida. Quando o crime é praticado por terceiro, o que se 
defende também é a incolumidade da gestante. Em caso de uma gravidez de gêmeos, 
só responderá por dois, caso seja sabido que são dois fetos {dolo pressupõe 
conhecimento de todos os elementos subjetivos do tipo penal — relação de 
causalidade mais elemento subjetivo}. 
II. Sujeito ativo: teoria pluralista — um crime para cada pessoa. Não se admite a 
coautoria no art. 124 porque ele só vai ser aplicado à gestante, já o 125 e o 126 
permitem a coautoria e a participação em sentido estrito {entre as várias 
pessoas que forem realizar o aborto na gestante}. 
III. Sujeito passivo: FETO. 
IV. Elemento subjetivo: mediante dolo direto ou eventual. Se consuma com o resultado 
naturalístico e material. Não cabe hipótese de aborto culposo. Quando um agente mata 
MÃE TERCEIRO
Mãe, sob influência do estado 
puerperal, mata a criança.
Responde por infanticídio, aplica-
se o art. 123 do CP. -
Mãe, sob influência do estado 
puerperal, mata a criança com 
auxílio de terceiro.
Responde por infanticídio, aplica-
se o art. 123 do CP. A mãe 
estando presente na cena 
criminosa, aceita a participação de 
terceiro.
O estado puerperal é elementar 
ao tipo penal, assim, se ele 
auxilia, as circunstâncias se 
comunicam, aplicam-se os arts. 
29 e 30 do CP. Responde por 
infanticídio (art. 123 do CP).
Mãe, sob influência do estado 
puerperal, e terceiro, matam a 
criança.
Responde por infanticídio, aplica-
se o art. 123 do CP.
O estado puerperal é elementar 
ao tipo penal, assim, se ele 
concorre para o crime, as 
circunstâncias se comunicam 
aplicam-se os arts. 29 e 30 do CP. 
Responde por infanticídio (art. 
123 do CP).
Terceiro mata a criança e a 
mãe, por estar sob influência 
do estado puerperal, auxilia a 
fazer.
Responde por infanticídio, aplica-
se o art. 123 do CP. Se faz justiça 
quando se entende que com uma 
conduta acessória, não poderá ter 
uma pena menor que 2 anos que 
receberia se matasse.
Responde pelo crime de 
infanticídio (art. 123 do CP), para 
não se desprezar o art. 29.
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uma mulher gravida, sabendo queela está gravida, ele responderá por homicídio ou 
feminicídio e aborto. 
V. Elemento objetivo: estado de gravidez. Relação de causalidade entre o estado de 
gravidez e o resultado do crime. Seja dentro do útero seja fora a morte do ser em 
evolução. 
VI. Elemento normativo: aborto. 
VII.Consumação e tentativa: é possível a tentativa nas três formas previstas de aborto. 
Não é caso de arrependimento eficaz e nem de desistência voluntaria {não se pune a 
mulher em função de política criminal}. Quando um agente enfia a faca varias vezes na 
barriga da gestante, ela não morre e nem a criança, mas a criança ao nascer morreu em 
função das lesões sofridas ainda no ventre materno. Existem duas hipóteses: ou é 
tentativa de homicídio em relação à mulher e homicídio consumado em relação à 
criança; ou é tentativa de homicídio em relação à mulher e aborto consumado em 
relação à criança, mesmo que ela tenha nascido {porque ela morre em razão das lesões 
quando ela era um feto — não é afastada a relação de causalidade, posto que a ação ocorreu 
quando ela era um feto ainda, quando estava em formação}. 
VIII.Classificação do crime: crime de ação livre, que pode ser praticado de ação direta 
ou indireta, de maneira omissiva ou comissiva. 
IX. Pena: detenção ou reclusão. 
 Nada mais é do que a interrupção da gravidez com a morte do feto. O termo 
“aborto” é elemento normativo do tipo penal, assim, precisa de um juízo de valor, pois 
exige um conhecimento a mais do intérprete da norma. A sociedade é quem diz o que é o 
aborto, tanto é que colocar o DIU não se caracteriza, mecanismo que impede que o óvulo 
fecundado vá para a parede uterina, ou ainda, a pílula do dia seguinte, não são 
caracterizados como crimes. 
 
 A proteção jurídico-penal brasileira começa quando o óvulo está fecundado 
na membrana uterina, ou seja, com a nidação. Finda, portanto, com o início do 
parto ou a primeira incisão da cesárea, a partir de então, o crime seria de homicídio 
ou infanticídio. 
 
 Existem variados tipos de interrupção da gravidez: aborto natural, acidental, 
social, auto-aborto, aborto consentido, não consentido e consensual. O natural e o 
acidental não são punidos, o primeiro é aquele ocorre por conta do próprio corpo, 
enquanto que o segundo é quando ocorre algum incidente que o causa, externo ao corpo. 
Em algumas legislações internacionais, ainda, é permitido o aborto social, para impedir a 
prole. O nosso código trabalha com 3 tipos de abortos criminosos, o auto aborto, o 
aborto consentido e o não consentido. A par dessas hipóteses, tem o aborto eugênico 
que ocorre para impedir que a criança nasça pois ela possui má-formações que são 
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contrarias à vida. Parte da doutrina não concorda, pois a eugenia significa a purificação da 
raça, assim, defende que por maior seja o problema, o crime é de aborto. 
 
 No caso do feto ser anencefálico, a interrupção dessa gravidez caracteriza ou não o 
aborto? O STF decidiu que não caracteriza, fundamentando pelo artigo 3º da Lei 
9.434/97, não é aborto pois não tem cérebro, assim, não tem vida, e portanto, não 
tem proteção penal, de forma que a conduta é atípica. Se não por esse argumento, na 
culpabilidade, qual conduta que irá se exigir diversa de uma mulher que interrompe a 
gestação de um feto anencefálico? A doutrina penal, como um todo, tem sustentado desta 
maneira. A única pessoa que entende de maneira contrária é Adalberto Aranha, que diz 
ser crime, porque entende que há vida. 
• Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento 
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou *consentir* que outrem lho provoque: 
Pena - detenção, de um a três anos. 
• Aborto provocado por terceiro 
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: 
Pena - reclusão, de três a dez anos. 
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: 
O consentimento ora integra a tipicidade, como no art. 126 ora afasta a tipicidade, 
como no art. 150, ora interfere na antijuridicidade, como no caso de furto. 
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade 
expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências[…] 
Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 
quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido 
mediante fraude, grave ameaça ou violência {pena de 3 a 10}. 
 O auto aborto tem previsão na primeira parte do art. 124, enquanto que a segunda 
parte trata do aborto consentido. O aborto consensual, por sua vez, é tratado no art. 126. 
Percebe-se que nos arts. 125 e 126 o ser em evolução é protegido em primeiro lugar e 
secundariamente, a gestante. Faz-se essa diferenciação também quanto aos sujeitos do 
crime, no art. 124, o sujeito ativo é a mãe, enquanto que nos outros, são pessoas diversas, 
como o cônjuge, ou o médico, por exemplo. 
 É importante frisar que nas hipóteses de auto-aborto e aborto consentido 
{art. 124} não se aceita coautoria, só a participação em sentido estrito. 
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 O nome que o Código Penal dá, para esse ser em evolução é pessoa, por conta do 
título “crimes contra a pessoa”. 
 Existem crimes que têm um resultado inicial apenas, mas que podem acabar tendo 
outros resultados além desse, de ordem dolosa ou culposa. No caso de aborto, que é um 
dos crimes que pode ser seguido por outros resultados, SÓ PODE SER UM RESULTADO 
PRETERDOLOSO {CULPOSO}. Em caso de resultados dolosos, o crime é qualificado 
pelo resultado em sentido estrito, já em caso de resultados culposos, o crime é 
preterdoloso. 
Todos os crimes qualificados precisam se dar em função do dolo. 
• Forma qualificada 
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, 
se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante 
sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, 
lhe sobrevém a morte. 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: 
• Aborto necessário

I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante {se houver dúvida, ele tem que fazer 
o aborto};

• Aborto no caso de gravidez resultante de estupro 
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante 
ou, quando incapaz, de seu representante legal. 
 Precisa de alvará judicial? Não. É vedado ao interprete da norma penal colocar 
palavras no artigo. Ou seja, o médico não precisa de um alvará judicial para fazer o aborto. 
A gestante é quem vai sofrer sanção caso esteja mentindo {art. 124} e o médico precisa 
tomar providencias para que não incorra no art. 126 {instruir ela a pegar duas 
testemunhas e fazer uma declaração de estupro no cartório}. 
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Agravação pelo resultado 


Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a 
pena, só responde o agente que o houver causado 
ao menos culposamente.
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CAPÍTULO II 


DAS LESÕES CORPORAIS 
ART. 129 
Lesão corporal insignificante: o Direito Penal não abrange a lesão corporal 
insignificante, posto que a tipicidade será afastada; 
Consentimento do ofendido: antes sustentava-se que afastava a antijuridicidade, hoje 
em dia se sustenta que é afastada a tipicidade. 
Morte > Lesão corporal gravíssima > Lesão corporal grave > Lesão corporal leve > vias de fato 
I. Bem jurídico tutelado: a integridade física das pessoas. 
II. Sujeito Ativo: pode ser qualquer pessoa, é um crime comum. Não há exigências ao 
sujeito ativo. 
III. Sujeito Passivo: o sujeito que sofreu a lesão corporal. Qualquer pessoa pode, a 
principio sofrer lesão corporal, mas depende das condições do art. 129 {§1º, II, §2º} 
IV. Elemento objetivo/ tipo objetivo/ tipicidade objetiva{descritivo}: ofender — 
produzir,causar prejuízo, danificar. 
V. Elemento normativo: —. 
A. O injusto: “entrar ou permanecer no estabelecimento sem autorização”; 
B. Termo jurídico: “funcionário público que se utilizar de seu cargo…”; 
C. Conceito extra-jurídico - que a sociedade dá: “praticar ato obsceno em lugar 
público…” - ultraje público à sociedade. 
VI. Elemento subjetivo: só é aceito o dolo direto ou eventual no §1º, II, desde que sejam 
conhecidos os elementos do crime. Mas, pode ocorrer lesão culposa também. 
VII.Consumação e tentativa: 
A. Tentativa: alguns autores sustentam que não pode existir tentativa de lesão 
corporal {ou atinge a pessoa ou não} — esta tese é fora de propósito. O crime de 
lesão corporal aceita sim a forma tentada. 
VIII.Pena: detenção ou reclusão. 
IX. Ação Penal: pública ou privada. 
X. Classificação do crime: é um crime material, de ação livre. 
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Lesão corporal 
• Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano.

• Lesão corporal de natureza grave {ação penal pública e incondicionada} — 
existem condutas que trazem um resultado a mais, além daquele normal. Sendo 
assim, todos as agravantes aceitam a culpa, no mínimo, e o dolo. 


§ 1o Se resulta: {lesão grave - se aplica o art. 89} 
 
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias {o exame tem que 
ser feito depois dos 30 dias, pois é o resultado, tem que ser concreta a incapacidade}; 
II - perigo de vida {há necessidade de prova real e concreta de que a vida da pessoa 
correu perigo. O médico não faz um prognostico mas um diagnostico fundamentado de 
que a vida da pessoa correu risco - não é todo tipo de lesão e não é qualquer órgão 
atingido que será prejudicada a vida — tem que ser analisado no caso concreto}; 
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
IV - aceleração de parto {se quiser agredir uma mulher e quiser que ela entre em 
trabalho de parto e a criança morra, tem que responder por crime de aborto também. O 
resultado qualificador só é a título de culpa, se houver dolo, o crime será de lesão na 
mulher e aborto em relação ao feto}{para que seja levado em conta este inciso, deverá a 
criança continuar viva}. 
Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
§ 2° Se resulta: {lesão gravíssima - não se aplica o art. 89} 
I - Incapacidade permanente para o trabalho; 
A primeira corrente afirma que, quando se fala na lesão grave em incapacidade para 
ocupações habituais, é específico da vítima, portanto nesse caso é o trabalho específico da 
vítima - VÍTIMA. Foca na vítima. O trabalho por ela exercido. Se a lesão é contra alguém 
não precisa dizer que a vitima em si ficou incapacitada. 
 13
Agravação pelo resultado 


Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a 
pena, só responde o agente que o houver causado 
ao menos culposamente.
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Outra corrente afirma que é trabalho em sentido genérico. Porque se o legislador quisesse 
afirmar que era especifico da vítima, teria falado especificadamente. A primeira corrente 
rebate falando que tudo é da vitima então não haveria necessidade (bis in idem). 
Terceira corrente (Nucci) fala que é um meio termo entre as duas correntes. Dependendo 
do caso concreto. 
II - enfermidade incurável {quando a medicina não achou a cura para a enfermidade}; 
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função. Ablação, retirada que pode ser 
através de uma mutilação no momento da atividade criminosa; por amputação clínica para 
minorar as consequências da lesão ocasionada pelo agente criminoso, ou seja, depois do 
crime. 
IV - deformidade permanente {lesão estética, tem que trazer uma humilhação para a 
pessoa que sofreu a lesão e um certo desconforto para quem vê a lesão} humilhação + 
desconforto; 
V - aborto {lesão corporal seguida de aborto — é imprescindível o conhecimento do 
estado de prenhez da mulher para que haja o crime doloso em relação à lesão e culposo 
em relação ao aborto — o dolo não é aceito nesse caso, pois se ele quiser que ela aborte, 
será o art. 125, aborto sem o consentimento da mulher}: 
Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
• Lesão corporal seguida de morte {pública e incondicionada} — CULPOSA. 
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, 
nem assumiu o risco de produzi-lo: Só queria a lesão {animus laedendi} e não a morte 
{animus necandi}. 
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
• Diminuição de pena — lesão corporal privilegiada 
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral 
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da 
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
• Substituição da pena 
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela 
de multa: I - se ocorre qualquer das hipóteses do § 4º; II - se as lesões são recíprocas.

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Naomi Sugita Reis
• Lesão corporal culposa {ação penal privada condicionada à vontade da vítima} 
§ 6° Se a lesão é culposa: 
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

• Aumento de pena 
§7o Aumenta-se a pena de 1/3(um terço)se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§4o e 6o 
do art.121 deste Código. 
§ 8o - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5o do art. 121. 
• Violência Doméstica — a lesão precisa ser relacionada ao convívio doméstico, ao 
âmbito doméstico. 
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou 
companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente 
das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: 
 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
Se a lesão doméstica for grave ou gravíssima, não se discute sobre a ação penal pública, 
incondicional à vontade da vítima. Já no caso de lesão leve, poderia incorrer no art. 41 da 
Lei Maria da Penha {qual afirma que as lesões leves e as lesões culposas seriam 
condicionadas à representação da vítima}, mas na verdade, ele remete apenas à 
composição civil e à transação penal. A ação penal no caso de lesões leves será pública 
e incondicionada à vontade da vítima, segundo a Sumula 542 do STJ. 


§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas 
no § 9o deste 1artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). Se houver lesão grave ou 
gravíssimas, as penas respectivas serão aumentadas em um terço.

§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for 
cometido contra pessoa portadora de deficiência. 
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da 
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança 
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, 
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena 
é aumentada de um a dois terços. 
• Auto lesão: a auto lesão corporal é punida apenas quando ela é utilizada como meio 
para praticar tipos penais. 
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Naomi Sugita Reis
• Consentimento do ofendido não pode e não deve ser levado para as lesões graves e 
gravíssimas {o consentimento do ofendido não elide o crime no caso dos §§ 2 e 3}. Ele 
será desconsiderado, então. Apenas nas lesões corporais leves é que o consentimento 
afastará a tipicidade. 
CAPÍTULO III 


DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE 
ARTS. 130 a 135 
I. Bem jurídico tutelado: a vida e a saúde posta em perigo! 
II. Sujeito Ativo: qualquer pessoa pode executar o tipo penal, seja mediato seja 
imediato. Permite-se a coautoria também {concurso de pessoas é uma divisão do 
trabalho}, pode ser auxílio material ou verbal. 
 
A. Disparidade na doutrinaem relação ao art. 135 {omissão de socorro} 
1. Primeira corrente: não aceita a autoria 
2. Segunda corrente: individualização. 
3. Terceira corrente: não aceita a coautoria plena, mas sim a participação em sentido 
estrito ocorre quando há indução à omissão, há indução à realização do tipo 
penal. 
III. Sujeito Passivo: normalmente é em relação a todos, mas existem casos específicos: 
A. Recém nascido; 
B. Pessoa inválida e ferida ao desamparo; 
C. Pessoa incapaz… 
IV. Elemento objetivo: 
A. Deixar de prestar assistência/ Não chamar a autoridade competente; 
V. Elemento normativo: 
A. Criança no art. 135: até 12 anos {de acordo com o ECA}. 
VI. Elemento subjetivo: os crimes do cap. III só se perfazem a título de dolo de perigo, a 
intenção de colocar a vida ou a saúde de outrem em perigo e nunca a título de dolo de 
resultado. O agente se depara com a situação de perigo e continua deixando a vítima 
em perigo ou então expõe a vítima em perigo. 
A. C. R. Bitencourt: afirma que um perigo de dolo pode se transformar em perigo de 
culpa. 
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Naomi Sugita Reis
B. R. Greco: não há possibilidade de ser colocada em perigo uma pessoa a título de 
culpa — porque em caso de DOLO, há necessidade de o agente responder pelo 
RESULTADO, porque ele quis o RESULTADO de PERIGO. 
VII.Consumação e tentativa: não há possibilidade de tentativa porque o crime 
preterdoloso e o culposo não aceitam-na. Toda possibilidade omissiva não aceita a 
tentativa. 
VIII.Pena: reclusão ou detenção. 
IX. Ação Penal: ação penal pública incondicionada. 
X. Classificação do crime: crime comum, qualquer pessoa pode realizar o tipo. Crime 
instantâneo — se perfaz com a ação do agente. Crime de perigo, não há possibilidade 
de resultado {mas há agravante em caso de resultado danoso após o perigo}. Crime de ação ou 
omissão. 
A. *Art. 135: mistura de perigo presumido e crime concreto*. 
• Perigo de contágio venéreo 
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a 
contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
§ 1o - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena - reclusão, de um a quatro anos, 
e multa.

§ 2o - Somente se procede mediante representação. 
• Perigo de contágio de moléstia grave 
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está 
contaminado, ato capaz de produzir o contágio: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
• Perigo para a vida ou saúde de outrem 
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: 


Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. 
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da 
saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços 
em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. 
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Naomi Sugita Reis
• Abandono de incapaz 
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, 
e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: 
Pena - detenção, de seis meses a três anos.

§ 1o - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um a 
cinco anos.

§ 2o - Se resulta a morte:

Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Aumento de pena

§ 3o - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço: 
I - se o abandono ocorre em lugar ermo; 
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima. 
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos 
• Exposição ou abandono de recém-nascido 
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria: 
§ 1o - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - detenção, de um a três anos. 
§ 2o - Se resulta a morte:

Pena - detenção, de dois a seis anos. 
• Omissão de socorro {não há necessidade de a pessoa “se deparar” com a situação de 
perigo, basta ser chamada a socorrer e não o fazer} 
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à 
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em 
grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: 
Divergência na doutrina: 
- No caso de uma vítima maior de idade que não quer ser socorrida, o socorrista não precisa prestar; 
- No caso de uma vítima maior de idade que não quer ser socorrida, o socorrista precisa prestar, vez 
que o consentimento da vítima não pode influir no caso. 
- Apenas nas hipóteses de assistência inviável não poderia incorrer no art. 135. 
Imputação no caso de varias pessoas socorrerem a vítima: 
- No caso de ser suficiente a ajuda conjunta, quem não socorreu não incorre no art. 135. 
- No caso de ser insuficiente a ajuda conjunta, quem não socorreu incorre no art. 135. 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de 
natureza grave, e triplicada, se resulta a morte {tem que ser comprovado que em função 
da omissão do agente a vítima morreu ou então sofre lesão grave}. 
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Naomi Sugita Reis
• Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial 
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o 
preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento 
médico-hospitalar emergencial: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta 
lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. 
• Maus-tratos 
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou 
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de 
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou 
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: 
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.

§ 1o - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um a quatro 
anos.

§ 2o - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
§ 3o - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 
(catorze) anos. 
CAPÍTULO V 

DOS CRIMES CONTRA A HONRA 
 Nos crimes contra a honra, o consentimento do ofendido afasta a tipicidade. A 
honra, ao contrário da vida é, um direito disponível. Honra é a pretensão que possuímos 
de respeito à nossa personalidade. Honra em si é um gênero, que possui duas espécies: 
honra subjetiva e honra objetiva — a honra objetiva é aquela que se mostra perante a 
sociedade e protegida pelos crimes de Calúnia e de Difamação, enquanto a honra subjetiva 
é a autoestima, qual é protegida pelo crime de Injúria. 
CALÚNIA 
I. Bem jurídico: honra objetiva. 
II. Sujeito Ativo: qualquer um — crime comum. 
III. Sujeito Passivo: qualquer um. 
A. Corrente 1: quando se imputa a um inimputável {seja por doença, seja por idade} 
a prática de um crime, como ele não pratica crime, não se configura o crime de 
calúnia. Isso se dá porque, às vezes, o caluniado não saberia nem que sua honra 
está sendo ferida. Esta teoria não é utilizada. 
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Naomi Sugita Reis
B. Corrente 2: a melhor orientação vem por Hungria — o que está em jogo não é o 
que a pessoa pensa daquele fato que lhe foi imputado. O que se deve pensar é o 
conceito da honra objetiva — em função disso, os menores praticam sim crime. 
Eles podem furtar matar e tudo mais. Menores e doentes praticam sim crimes, só 
não há a figura da culpabilidade {mas a conduta é típica e antijurídica}.Osmenores 
estão sujeitos ao ECA e os doentes mentais teriam a aplicação da medida de 
segurança — por isso que eles podem sim ser vítimas do crime de calúnia. 
• Pessoa jurídica pode ser vítima do crime de calúnia? Não pode ser vítima de 
nenhum crime contra a honra previsto no Código Penal. Anibal Bruno afirmava que 
pessoa jurídica só pode ser difamada e nunca caluniada. Porque pessoa jurídica não 
comete crime. O “alguém” presente nos três artigos exclui a possibilidade de pessoa 
jurídica. Além disso, o título I trata de crimes conta a PESSOA. 
IV. Elemento objetivo: imputar falsamente fato definido como crime e não como 
contravenção penal. Calúnia remete apenas a crime — quando se trata de 
contravenção penal, o tipo é de difamação. Pode ser em relação à autoria ou ao fato 
em si — pode ser que o fato tenha existido, mas a pessoa a quem foi imputada não é a 
autora ou então, pode ser que o fato seja inexistente. 
V. Elemento subjetivo: nenhum dos crimes contra a honra traz forma culposa. SÓ A 
TITULO DE DOLO É QUE SE ADMITE {direto ou eventual}. É o dolo de dano, a 
vontade de ofender a honra objetiva da pessoa — causar um dano efetivo à honra da 
pessoa perante a sociedade {não importa se causou ou não, só a possibilidade já é 
suficiente}. 
VI. Consumação: é um crime instantâneo então se forma em um momento só. Se a 
calunia é um crime contra a honra objetiva, o crime se consuma a partir que 
alguém da sociedade que não seja o ofendido toma conhecimento da ofensa. 
A. Tentativa: Noronha sustentava que se a difamação é verbal, não poderia haver 
tentativa, porque o sujeito abre a boca e fala assim o crime se consuma. Mas se a 
difamação for por escrito, pode ser configurada a tentativa {se a carta na qual 
continha a difamação foi extraviada e ninguém leu}. Hungria contestava e dizia que 
poderia haver a tentativa na difamação verbal {uma pessoa fala na frente de varias 
pessoas mas o local, sendo muito barulhento, não permitiu a propagação — 
ninguém escutou, mesmo o agente tendo botado para fora}, ademais, contesta a 
possibilidade de Noronha da tentativa — se a carta for extraviada, há um crime 
inócuo, ninguém vai saber, não há porque ser configurada a tentativa. 
VII.Pena: detenção. 
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Naomi Sugita Reis
• Calúnia — honra objetiva 
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 
§ 1o - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. 
{ouviu, tomou reconhecimento e levou adiante} 
§ 2o - É punível a calúnia contra os mortos {é na família que vai se refletir essa ofensa}.

Exceção da verdade {regra} — {se o fato imputado não é falso não há crime de calúnia} 


§ 3o - Admite-se a prova da verdade {o CP autoriza todas as pessoas que forem 
processadas por calúnia a fazer prova da verdade}, salvo: 
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado 
por sentença irrecorrível; 
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no no I do art. 141;

III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença 
irrecorrível. 
DIFAMAÇÃO 
I. Bem jurídico: honra objetiva. 
II. Sujeito Ativo: qualquer um — crime comum. 
III. Sujeito Passivo: qualquer pessoa — inclusive menores de idade e doentes mentais. 
• Pessoa jurídica pode ser vítima do crime de difamação? Não pode ser vítima de 
nenhum crime contra a honra previsto no Código Penal. Anibal Bruno afirmava que 
pessoa jurídica só pode ser difamada e nunca caluniada. Porque pessoa jurídica não 
comete crime. O “alguém” presente nos três artigos exclui a possibilidade de pessoa 
jurídica. Além disso, o título I trata de crimes conta a PESSOA. 
IV. Elemento objetivo: imputar fato ofensivo à sua reputação. O fato pode tanto ser 
verdadeiro como falso — não há menção, basta ser ofensivo à reputação {honra objetiva}. 
V. Elemento subjetivo: nenhum dos crimes contra a honra traz forma culposa. SÓ A 
TITULO DE DOLO É QUE SE ADMITE {direto ou eventual}. É o dolo de dano, a 
vontade de ofender a honra objetiva da pessoa — causar um dano efetivo à honra da 
pessoa perante a sociedade {não importa se causou ou não, só a possibilidade já é 
suficiente}. 
VI. Consumação: é um crime instantâneo então se forma em um momento só. Se a 
calunia é um crime contra a honra objetiva, o crime se consuma a partir que alguém 
da sociedade que não seja o ofendido toma conhecimento da ofensa. 
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Naomi Sugita Reis
A. Tentativa: Noronha sustentava que se a calunia é verbal, não poderia haver 
tentativa, porque o sujeito abre a boca e fala assim o crime se consuma. Mas se a 
calunia for por escrito, pode ser configurada a tentativa {se a carta na qual continha 
a calunia foi extraviada e ninguém leu}. Hungria contestava e dizia que poderia 
haver a tentativa na calúnia verbal {uma pessoa fala na frente de varias pessoas 
mas o local, sendo muito barulhento, não permitiu a propagação — ninguém 
escutou, mesmo o agente tendo botado para fora}, ademais, contesta a 
possibilidade de Noronha da tentativa — se a carta for extraviada, há um crime 
inócuo, ninguém vai saber, não há porque ser configurada a tentativa. 
VII.Pena: detenção. 
• Difamação — honra objetiva — ação penal privada 

Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Exceção da verdade {o CP autoriza apenas as pessoas que forem processadas por 
difamação contra funcionários públicos em relação ao exercício de suas funções a fazer 
prova da verdade} 
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é 
funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. 
INJÚRIA 
I. Bem jurídico: honra subjetiva. Não há exceção da verdade porque atinge a honra 
subjetiva apenas e não a objetiva. 
II. Sujeito Ativo: qualquer um — crime comum, direta ou indiretamente. 
A. No caso da INJÚRIA, que importa é a CAPACIDADE DE OFENDER e não a pessoa 
ter se sentido ofendida. 
III. Sujeito Passivo: qualquer pessoa que tenha o discernimento de se sentir ofendida. 
IV. Elemento objetivo: ofendendo a dignidade ou o decoro de alguém. Adjetivar a 
pessoa ao invés de imputar-lhe fato ou crime. Afirma que a pessoa é … 
V. Elemento subjetivo: assim como a calúnia e a difamação só se perfaz a título de 
DOLO de ofender a pessoa. O que importa é a CAPACIDADE DE OFENDER e não a 
pessoa ter se sentido ofendida. 
A. Hungria: nos crimes contra a honra, segundo a corrente majoritária, no crime de 
calunia além do elemento subjetivo geral {genérico} que é o dolo, necessitam 
 22
Naomi Sugita Reis
de um elemento subjetivo especial {fim de agir, finalidade}, ou seja, o dolo 
específico mediante animus caluniandi, difamandi e injuriandi… O elemento geral é 
reprisar o tipo penal, é o dolo genérico: injuriar, caluniar, difamação, mas precisa 
de outra coisa além, que é o dolo específico: de ofender, humilhar, menosprezar 
{não basta apenas chamar a pessoa de tal jeito, ou falar que ela fez tal coisa, há a 
necessidade de humilhar a pessoa}. 
B. R.G.: como o legislador só traz o dolo específico concretamente e nunca de 
maneira abstrata, portanto, não teria como exigir nestes casos um dolo específico 
se não está previsto. 
C. O dolo na injúria é de dano, de ofender, humilhar menosprezar a pessoa. 
VI. Consumação: o que está em jogo é a autoestima, então, será consumado o crime 
quando a pessoa ofendida toma conhecimento da injúria. 
A. Tentativa: não há de se falar em injúria tentada, pois se dará um inócuo penal. Se a 
vítima não tomar conhecimento não tem nem como ser instaurado um processo 
penal nem nada, mas se tomar conhecimento, o crime se consumará. 
VII.Pena: reclusão ou detenção. 
VIII.Ação penal: privativa do ofendido, salvoquando a ofensa resulta de lesão corporal 
{será ação penal pública condicionada ou incondicionada, dependendo do tipo da 
lesão}. 
• Injúria — honra subjetiva — atribuição de adjetivo ofensivo à vítima 
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 


§ 1o - O juiz pode deixar de aplicar a pena: 


I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; 
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. 
§ 2o - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo 
meio empregado, se considerem aviltantes: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. 
{havendo lesão como meio de injuriar alguém, terá cumulo de penas}

§ 3o - Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, 
religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: 
Pena - reclusão de um a três anos e multa. 
 23
Naomi Sugita Reis
DISPOSIÇÕES COMUNS AOS CRIMES DE CALÚNIA, DIFAMAÇÃO E INJÚRIA 
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer 
dos crimes é cometido: 
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;

II - contra funcionário público, em razão de suas funções; 
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, 
da difamação ou da injúria. 
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no 
caso de injúria. 
Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, 
aplica-se a pena em dobro. 
• Exclusão do crime 
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível: causa que afasta a 
antijuridicidade, assim como o art. 128 {o tipo penal é realizado, mas não há 
antijuridicidade} 
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; 
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando 
inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; 
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação 
que preste no cumprimento de dever do ofício. 
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem 
lhe dá publicidade. 
• Retratação — não há necessidade de a vítima aceitar a retratação. Pode se dar nos 
autos ou fora destes. Só cabível na calúnia e na difamação, porque se trata de honra 
objetiva. 
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da 
difamação, fica isento de pena. {ausência de tipicidade}. 
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação 
utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, 
pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. 
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou 
injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se 
recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa. 
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Naomi Sugita Reis
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, 
salvo quando, no caso do art. 140, § 2o, da violência resulta lesão corporal. 
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do 
inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, 
no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste 
Código. 
TÍTULO II 


DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 
CAPÍTULO I 
DO FURTO 
I. Bem jurídico: o patrimônio de terceiro como gênero, sendo espécies a posse, a 
detenção e a propriedade. O furto de coisas insignificantes sem valor afetivo 
{guardanapo, palito de dentes…}, mesmo que elas componham o patrimônio de uma 
pessoa, não caracterizará o crime de furto, tendo em vista que o princípio da 
insignificância afasta a tipicidade. A corrente majoritária afirma que, quando as 
coisas são monetariamente insignificantes, mas possuem um valor sentimental, a 
tipicidade resta configurada porque elas constituem o patrimônio da pessoa. Já a 
corrente minoritária afirma que mesmo que a coisa seja de grande valor afetivo, o 
furto não se configura; mas ensejaria uma indenização. 
A. Não se configura o furto quando há subtração de: 
1. Res commune omnium: coisa de uso comum; 
2. Res nullius: coisa de ninguém — pássaros silvestres, por exemplo {mas neste 
caso pode incorrer em outros crimes que não o de furto}{se elas tiverem sido 
criadas em cativeiro e registradas no IBAMA, pode ser discutido crime de 
furto}; 
3. Res derelicta: coisa abandonada; 
4. Res deperdita: coisa perdida {crime de apropriação de coisa achada — art. 169, 
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de 
restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro 
no prazo de quinze dias. 
Mas, se a coisa foi esquecida o crime de furto se caracteriza. 
II. Sujeito Ativo: qualquer um pode praticar, não têm exigências especiais — crime 
comum. O proprietário da coisa não pode ser autor do crime de furto, visto que o tipo 
prevê “coisa alheia móvel” — mas uma doutrina afirma que uma pessoa pode furtar 
coisa própria, mas acaba por ir ao encontro com o art. 346 - “Tirar, suprimir, destruir ou 
 25
Naomi Sugita Reis
danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção”. 
Ou seja, o artigo 346 barra a possibilidade de crime de furto contra si mesmo. 
III. Sujeito Passivo: qualquer pessoa que tenha um património. A posse pode ser lícita 
ou ilícita — mas a vítima sempre será quem tem a propriedade do objeto. 
IV. Elemento objetivo: subtrair = surrupiar. Por isso que a autorização/ o 
consentimento da “vítima” afasta a ilicitude/antijuridicidade. Quando a vítima 
entrega objeto porque está equivocada, isso não é crime de furto {mas de estelionato}. 
V. Elemento normativo: coisa alheia móvel {classificação diferente da civil — no direito 
penal é considerado tudo que pode ser movido}. Um ser humano não pode ser objeto 
do crime de furto, a subtração de uma pessoa não diminui o patrimônio de ninguém. 
Pode ser subtração de incapaz, ou extorsão mediante sequestro… mas não existe 
furto de pessoas. O furto de cadáver configura o art. 211, desde que ele não faça 
parte do património de alguma instituição — caso ele pertença a alguém {alguma 
instituição}, o crime será de furto, visto que o patrimônio ficará desfalcado e o cadáver 
é móvel, além disso, neste caso ele seria passível de avaliação econômica. 
VI. Elemento subjetivo: existem crimes que exigem mais de um elemento subjetivo: 
dolo genérico e dolo específico/especial. O dolo genérico é “SUBTRAIR”, o dolo 
específico é “PARA SI OU PARA OUTREM”. 
A. Elemento subjetivo especial: 
1. Para si ou para outrem {há necessidade de apoderarão em definitivo do objeto} 
2. Para si ou para terceiros 
3. Crime formal quando possui: 
a) Com o fim de… 
b) Com o intuito de… 
c) Para satisfazer… 
VII.Consumação: se consuma com a posse mansa e pacífica e quando a vítima 
{proprietário} não pode mais dispor do objeto. Quando um sujeito subtrai vários 
objetos e depois na perseguição da policia ele vai se dispondo ao longo do caminho, é 
consumado o furto. Aceita tentativa. 
• Furto 
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

• Majorante 
§ 1o - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno 
{aplica-se tanto ao furto simples quanto ao furto qualificado}. 
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Naomi Sugita Reis
• Furto privilegiado 
§ 2o - Se o criminosoé primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode 
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar 
somente a pena de multa. 
§ 3o - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha 
valor econômico. 
• Furto qualificado 
§ 4o - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: 
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa {e não o 
destruimento ou rompimento da própria coisa objeto do furto}; 
Caso o agente tenha entrado sem obstrução ou rompimento de obstáculo em uma 
residência, mas teve que arrombar a porta para sair por motivos diversos… 
- Noronha entende que é furto simples + dano {art. 163}; 
- Hungria entende que se consuma o crime de furto majorado. 


II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza {aceita 
tentativa};

III - com emprego de chave falsa; 
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. {única hipótese de furto 
plurisubjetivo — exigência de no mínimo duas pessoas}

§ 5o - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor 
que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. {CADÊ A MULTA? - 
descaso do legislador} {Quando está consumado o crime? Quando o veículo entra em 
outro Estado ou no exterior? Ou quando ele apenas é subtraído? — o furto se consuma 
com a posse mansa e pacífica quando a vítima não pode mais dispor do bem subtraído} 
{Aceita tentativa quando não tem posse mansa e pacífica} {Conclusão: furto consumado 
ok. Vai ter qualificadora quando o veículo atravessa fronteira estadual ou estatal}. Caso 
tenha ocorrido o furto consumado do carro {posse mansa e pacífica além de 
impossibilidade de a vítima dispor do bem}, mas tenha ocorrido uma tentativa de 
atravessar fronteira, vai incidir apenas em furto consumado, desconsiderando a tentativa.

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É entendido pela doutrina que fazer gato na 
TV a cabo não se caracteriza como furto. 
Já a jurisprudência entende que pode ser 
caracterizado como furto mediante fraude ou 
estelionato.
Naomi Sugita Reis
§ 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente 
domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da 
subtração. 
• Furto de coisa comum 
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem 
legitimamente a detém, a coisa comum: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. 
§ 1o - Somente se procede mediante representação. 
§ 2o - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a 
que tem direito o agente. 
• Circunstância do tipo penal ou condição pessoal - art. 30. É elementar do tipo 
penal ou é pessoal {individual/ não elementar}? 
Se está no caput do artigo, artigo 30 → se comunicam as circunstancias 
Se está em parágrafo ou inciso → não se comunicam 
• Crimes qualificados pelo resultado - art. 19 
Dolo + dolo = crime qualificado doloso em sentido estrito 
Dolo + culpa = crime preterdoloso 
Se resulta morte → a morte é na forma culposa {dolo no primeiro e no resultado é culpa 
— preterdoloso} - porque se uma pessoa quiser, por exemplo, maltratar uma pessoa e 
ainda matá-la, ela vai responder pelo 136 cominado com o art. 121. 
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