Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ESCOLA SUPERIOR DA AMAZÔNIA (ESAMAZ) ANTROPOLOGIA DA SAÚDE CURSO DE ODONTOLOGIA AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE SAÚDE E DOENÇA Ana Beatriz de Souza Carneiro Matrícula: 1808341 Turma: ODO3MA BELÉM – PA 2019 AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE SAÚDE E DOENÇA “Trabalho realizado com a finalidade de cumprir tutoria na disciplina de Antropologia da Saúde, no curso de Odontologia da Escola Superior da Amazônia- ESAMAZ, na data de 07/06/2019.” BELÉM – PA 2019 INTRODUÇÃO A Antropologia da Saúde consiste no estudo da forma como, em distintos contextos socioculturais, as pessoas veem, atribuem significados e lidam com o processo saúde-doença. Basicamente, ela estuda as percepções populares e profissionais sobre a saúde e a doença - englobando desde análises dos aspectos e concepções sobre etiologia, diagnóstico e tratamento, bem como os significados conferidos à saúde e a doença; a comparação de diferentes preceitos ou racionalidades médicas - medicina moderna, medicina popular, tradicional e alternativa -, e a forma como as pessoas usam e enxergam as diversas agências de cura (NEVES et al, 2019; LANGDON, 2014). Observa-se também que a Antropologia da Saúde se preocupa com as condições de vida e trabalho da população em sua relação com a saúde e a doença em interface com o modo como os indivíduos nos variados contextos culturais. Ademais, tem um papel essencial por meio de suas contribuições teórico-práticas trazidas pela análise de toda a conjuntura que permitem aprofundar nosso entendimento sobre a complexa correlação entre sociedade, cultura e o processo saúde-doença (BACKES et al, 2009). Levando em conta tudo que foi disposto, este estudo tem por objetivo discorrer sobre as diferentes concepções de saúde e doença, e para uma melhor compreensão da temática proposta, no decorrer deste estudo, será debatido acerca do impacto da realidade sociocultural como possível fator causal na saúde e doença, além de demonstrar as diferentes concepções e representações da saúde e da doença em distintos grupos socioculturais. REVISÃO DE LITERATURA A RELAÇÃO DO CENÁRIO SOCIOCULTURAL COM AS QUESTÕES DE SAÚDE E DOENÇA. A antropologia estabelece cultura como um conjunto de elementos simbólicos interligados; formas de pensamento que desencadeiam uma visão de mundo; além de valores e estímulos conscientes e inconscientes que juntos influenciam na vida dos indivíduos (ASSIS et al, 2008). Nas diversas sociedades distintas sujeitos herdam princípios, conceitos, regras e significados que moldam e se propagam nas formas como eles vivem. Cada sociedade estabelece códigos culturais que proferem aspectos sobre inúmeros domínios sociais, que incluem representações sobre corpo, saúde e doença, desenvolvendo um intricado cultural ou um sistema simbólico (CARETTA, 2019). As inúmeras representações e concepções da saúde e da doença mais proeminentes em diferentes grupos sociais estão intensamente atreladas a conjuntura social, política, econômica e aos valores vigentes nestes grupos. O modo como a sociedade confere interpretações às doenças reverbera amplamente a forma como ela pensa, exibindo seus medos e limites. Temos como exemplo nesse contexto a doença AIDS, por ter um estigma latente é usada pela sociedade como recurso simbólico para expor o medo, relacionando-a a desvios e transgressões morais, porém nada mais são que preconceitos velados contra as vítimas (HELMAN, 2007; NEVES et al, 2018). O estilo de vida e os valores operantes na atual sociedade influenciam e transformam expressivamente o modo como o é visto o corpo, a estética e a saúde para as pessoas. Essa análise permite a verificação da dispersão, entre determinadas camadas sociais, o entendimento errôneo de que manter a saúde é estar atrelado ao corpo em forma do ponto de vista estético, levando a consequência do uso narcísico do corpo. Tudo isso propiciou o que verificamos hoje, um aumento nas intervenções cirúrgicas para fins estéticos, uso de medicamentos de forma irresponsável, alimentos e cosméticos, na busca pelo corpo perfeito (LANGDON, 2014; LUZ, 2000). Percebe-se também como a cultura influencia na construção de doenças, estudos demonstram como sociedades extremamente individualistas comumente refletem e facilitam problemas psicológicos em seus indivíduos, já em realidades culturais que o trabalho é muito exacerbado há evidências de manifestações somáticas ou distúrbios a nível físico e moral em seus sujeitos (CARETTA, 2019). . Além disso, trabalhos socioantropológicos acerca da dor em distintos grupos socioculturais demonstram como o limite da dor e sua percepção é diferente. Em algumas culturas a dor carrega caráter positivo, dando valor o sofrimento do paciente e provendo ferramentas simbólicas aos indivíduos para lidar com ela (LANGDON, 2014). Verifica-se também como o pertencimento a diferentes classes sociais influencia diretamente nas concepções de saúde e doença. Tem-se que a cultura tem um papel essencial na determinação das desigualdades em saúde. As relações de gênero e cor são social e culturalmente produzidas, ocasionando desigualdades nos níveis de vida e de saúde, que se exacerbam quando combinadas com as relações de classe social (BOLTANSKI, 2004). A DIVERGÊNCIA ENTRE AS VISÕES DOS PROFISSIONAIS E DE PACIENTES ACERCA DA SAÚDE E DOENÇA A visão dos profissionais dispõe que saúde e doença consistem em fenômenos de âmbito biológico que devem ser manejados por meio de uma ação de caráter técnico. Utilizando racionalidade científica; a ênfase na análise objetiva dos parâmetros médicos; o entendimento da enfermidade como independente do sujeito e do contexto sociocultural em que ele vive e o enfoque no diagnóstico e na terapêutica (AMADIGI et al, 2009; LIRA et al, 2004). O modo de análise do duo saúde-doença para os profissionais despreza as características emocionais e morais da aflição do paciente. Há ainda uma grande dificuldade dos médicos no ouvir das queixas dos pacientes e isso influencia de modo negativo na qualidade da relação terapêutica, dando credibilidade especial aos sinais físicos e testes laboratoriais, e, muitas vezes, deslegitimando a queixa do paciente (SANTOS et al, 2012; LIRA et al, 2004). A percepção de saúde e doença pelo paciente vai nessa contramão - por conta disso há o conflito, esta baseia-se em suas experiências, além de que podem ou não ser interpretados por ela e por seu meio cultural como doença. Esse conflito muitas vezes ocorre porque há uma dificuldade encontrada pelos médicos na relação clínica com o paciente, haja vista que objetivo do profissional pauta-se na análise do processo da doença, buscando a cura da patologia, não considerando seu aspecto subjetivo. Entretanto, o aspecto cultural e subjetivo da saúde e doença é de extrema importância à conduta terapêutica, isso porque todas as doenças estão envoltas em representações culturais que são adequadas e refletidas pelos indivíduos quando se encontram em situações de doença, verificamos isso em casos de doenças graves, que o paciente busca um esclarecimento existencial ou dogmático para tentar entender tal doença (HELMAN, 2007; LIRA et al, 2004). CONCLUSÃO Esse estudo trouxe contribuições antropológicas importantíssimas para a compreensão das diferentes concepções de saúde e doença. Destacou a influencia dos contextos socioculturais na percepção saúde e doença, salientando a forma como as pessoas vivenciam, atribuem significados e lidam com o mal-estar, o sofrimento e a dor, contribuindo para o entendimento da nossa compreensão sobre o ser humano, além de propiciar conhecer mais profundamente as experiências e concepções da população com relação ao processo saúde-doença e suas perspectivas sobre os serviços de saúde. Trouxe em foco também as divergências entre as visões e representações dos profissionais e pacientes sobre saúde e doença. Salientando a importância dos profissionais da saúde de buscar compreenderacerca do contexto sociocultural de seus pacientes, haja vista que tais pontos formatam a percepção e expressão da doença. Nesse sentido, o presente trabalho permitiu fazer uma análise da interface entre saúde e doença e suas diferentes concepções no contexto atual, salientando que é de fato importante conhecer com mais afinco as experiências e concepções da população com relação ao processo saúde-doença. REFERÊNCIAS ASSIS, C.L.; NEPOMUCENO, C.M. Estudos Contemporâneos de cultura. Campina Grande: UEPB/UFRN, 2008. AMADIGI, F. R.; GONÇALVES, E.R.; FERTONANI, H. P.; BERTONCINI, J. H.; SANTOS, S. M. A. A antropologia como ferramenta para compreender as práticas de saúde nos diferentes contextos da vida humana. Revista Mineira de Enfermagem, v. 13, n.1, 2009. BACKES, M. T. S.; ROSA, L. M.; FERNANDES, G. C. M.; BECKER, S. G.; MEIRELLES, B. H .S.; SANTOS, S. M. A. Conceitos de saúde e doença ao longo da história sob o olhar epidemiológico e antropológico. Rev. enferm. UERJ, v. 18, n.1, p. 111-117, 2009. BOLTANSKI, L. As classes sociais e o corpo. Rio de Janeiro: Graal, 2004. CARETTA, M. I. B. Construção dos sentidos de corpo saúde e doença em distintos contextos socioculturais. Disponível em: file:///C:/Users/Terezinha%20Cabral/Downloads/1585-2480-1-SM.pdf. Acesso em 1 de jun. de 2019. HELMAN, C. Cultura, Saúde e doença, Porto Alegre: Artmed, 2007. LANGDON, E. J. Os diálogos da antropologia com a saúde: contribuições para as políticas públicas. Ciência e saúde coletiva, v.19, n.4, 2014. LIRA, G. V.; NATIONS, M. K.; CATRIB, A. M. F. Cronicidade e cuidados de saúde: o que a antropologia da saúde tem nos ensinar? Texto Contexto Enferm, v. 13, n.1, p. 147-155, 2004. LUZ, M. Práticas de saúde, cura e terapêutica na Sociedade Atual. In: Anais do VI Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, 2000. NEVES, E. M. Antropologia da Saúde: Ensaios em Políticas da Vida e Cidadania. 1ed. Brasília: ABA Publicações; João Pessoa: Mídia Gráfica e Editora, 2018. 291p. SANTOS, A. C. B.; SILVA, A. F.; SAMPAIO, D. L.; SENA, L. X.; GOMES, V. R.; LIMA, V. L. A. Antropologia da saúde e da doença: contribuições para a construção de novas práticas em saúde. Rev. NUFEN, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 11-21, dez. 2012.
Compartilhar