Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Geovanna Mourão Pantoja DERMATOSES INFLAMATÓRIAS ECZEMAS Os eczemas ou dermatites eczematosas referem-se a um grupo de dermatoses inflamatórias que cursam com prurido, cuja classificação se baseia nos achados clínicos e que possuem etiologia variada e polimorfismo das lesões. Os eczemas classificam-se em: • Dermatite atópica (eczema atópico). • Eczema de contato. • Eczema numular. • Eczema de estase. • Eczeema disidrótico (pompholyx). • Líquen simples crônico Dermatite Atópica A DA tem caráter crônico e recidivante, clinicamente caracterizada por prurido intenso, de distribuição clínica peculiar e varia conforme idade do paciente. A DA é uma doença caracteristica da infância; cerca de 85% dos pacientes apresentam as manifestações clinicas iniciais nos primeiros 5 anos de vida e apenas 2% dos casos novos ocorrem acima dos 45 anos de idade. Cerca de 40% dos pacientes com DA mantém os sintomas ao longo da vida adulta. Além de sua importância clinica, a dermatite atópica é considerada fator predisponente ao aparecimento de asma, presente em até 70% dos indivíduos com DA grave. Tem etiopatogenia é multifatorial. Há alterações na pele, em que há maior perda transdermica de água; no sangue periférico há ↑ IgE + eosinófilos circulantes. Os queratinócitos participam ativamente da deflagração do processo inflamatório na DA por meio da produção de citocinas e quimiocinas. Essas moléculas são liberadas como consequência do trauma fisico ou da inflamação de base. Os queratinócitos são fonte de TNF-alfa e de GM·CSF, que exerce um papel fundamental para a sobrevivência dos monócitos e células de Langerhans. Na DA, há aumento da produção de GM- CSF, e os queratinócitos, quando estimulados com IFN-alfa e TNF-alfa, produzem níveis elevados de Rantes (CCLS), o qual, por sua vez, promove a quimiotaxia de eosinófilos. Somado a isso, é relatado que os atopicos tem maior quantidade de Staphylococcus aureus na pele que a poulação geral, bem como muitos apresentam alergia a alimentos (ovos, leite, amendoim, soja, trigo, peixe e nozes) e alérgenos aéreos. A influência dos fatores emocionais no desencadeamento da dermatite atópica é incontestável, com grande perda da qualidade de vida do atópico e de sua familia. Na DA, a condição da pele mostra correlação com ansiedade, tensão, estresse interpessoal, depressão, frustração e agressão. Cerca de 40 a 70% dos doentes de DA citam o fator 2 Geovanna Mourão Pantoja emocional como um desencadeante da crise. Ainda, alterações do sono, ocasionadas pelo prurido noturno, geram ruptura da dinâmica familiar e escolar. Quadro clínico O prurido e a xerose cutânea são clássicos nos pacientes. Hanifin e Rajka, em 1980, estabeleceram critérios para o diagnóstico da DA. Esses autores dividem os critérios em duas categorias: maiores e menores. De acordo com essa classificação, são necessários três ou mais critérios maiores e ao menos três critérios menores. As apresentações clínicas variam conforme a idade: - Fase do lactente: as lesões iniciam-se a partir de 2 meses de vida; caracterizam-se por xerose, eritema, vesiculas e pápulas (fase exsudativa), seguidas de crostas e descamação. As áreas mais afetadas são: face (poupando o maciço centrofacial), couro cabeludo, pescoço, tronco e superficies extensoras dos membros. - Fase infantil: há prevalência de eritema, exsudação, vesiculação nas fases agudas e a liquenificação nas fases crônicas. Formas numulares ou liquenoides podem surgir. A topografia típica são as áreas de flexuras (especialmente os cavos antecubitais e popliteos), as nádegas e a raiz posterior das coxas. - Adolescente e adulto: predominam lesões em diversas fases do eczema em flexuras, couro cabeludo, pescoço, tronco superior; dermatite de mãos e pés, lesões palpebrais e nos punhos e tornozelos e eczema mamilar também podem estar presentes. Alguns padentes inidam a DA apenas na idade adulta. Além do quadro eczematoso, podem surgir infecções bacterianas (piodermites), que 3 Geovanna Mourão Pantoja se manifestam por surgimento de pústulas, critema e cxsudação das lesões ceczematosas. lnfecçõcs virais também são frequentes, como o herpes simples (erupção variceliforme de Kaposi) e o poxvirus (molusco contagioso). Quadros graves podem se apresentar como eritrodermias. Envolvimento ocular, incluindo dermatite das pálpebras e blefarite crónica e culminando com ulceração de córnea, pode levar a um comprometimento grave. Diagnóstico Anamnese e quadro clínico. Não há marcadores laboratoriais que identifiquem a doença. Tratamento - Hidratação: visa à umectação do estrato córneo e à estabilização da função da barreira epidérmica. Os principais fatores agravantes para a xerose no atópico incluem: banhos quentes e prolongados, uso excessivo de sabonetes, cmolientcs inadequados, ar-condicionado, poluição aérea, baixa umidade do ar, fricção, medicações, estresse e produtos químicos. Recomendam-se banhos rápidos e mornos, evitando-se o uso de sabões com fragrâncias e corantes. A aplicação dos emolientes deve ser realizada logo após o banho, com a pele ainda úmida. - Corticosteroides tópicos: é fundamental esclarecer o tipo de corticosteroide ideal para o local afetado, a frequência e a duração do tratamento. A região genital é o local de maior absorção da corticoterapia (200 vezes maior que o tronco e as extremidades), mas a face e as regiões flexuras também apresentam elevadas taxas de absorção; nesses locais, recomenda-se a utilização de corticosteroides de baixa ou média potência - imunomodulares tópicos (inibidores da calcineurina): o pimecrolimo pode ser indicado a partir dos 3 meses de vida e com única apresentação cm creme a 1 %. O tacrolimo é indicado a partir dos 2 anos de idade, sendo veiculado cm pomadas a 0,03% (uso pediátrico) e 0,1% (uso cm maiores de 15 anos). Ambos devem ser aplicados duas vezes/dia. Por serem célula-seletivos, apresentam menores riscos 4 Geovanna Mourão Pantoja de efeitos colaterais com relação à corticoterapia, e podem ser utilizados com eficiência na face e em outros locais com elevada absorção de corticosteroides (genitais e mucosas). O pimecrolimo está indicado para tratamento das lesões leves a moderadas, enquanto o tacrolimo pode ser indicado também nas lesões graves. Devem ser aplicados ao primeiro sinal das lesões cutâneas. Os principais efeitos colaterais locais referidos foram ardor e prurido, reduzidos após os primeiros dias de aplicação. - Eliminar fatores desencadeantes - Imunossupressão sistêmica Eczema de contato Eczema de contato ou dermatite eczematosa de contato é uma dermatose causada por agente ou substância exógena em contato com a pele ou mucosa. As lesões podem se apresentar clinicamente como eczema agudo, subagudo ou crônico. Os eczemas de contato classificam-se, segundo aspectos clínicos e etiopatogênicos, em dermatite de contato por irritação primária (DCIP) e dermatite de contato (DC) por sensibilização. A DCIP é uma resposta inflamatória da pele a vários estímulos externos. Resulta da ativação da imunidade inata mediante a injúria da pele, sem sensibilização prévia, com alterações da integridade da barreira cutânea, alterações celulares e liberação de mediadores pró-inflamatórios. Após a exposição ao irritante primário, há alteração da barreira epidérmica, com liberação de mediadores pró-inflamatórios, como IL-1 e TNF-alfa, e consequente estimulação de outras citocinas e quimiocinas por queratinócitos, fibroblastos e células endoteliais, presença de moléculas de adesão nas células endoteliais e recrutamento de leucócitos com perpetuação da inflamação. A DCIP é provocada, em geral,por substâncias alcalinas ou ácidas fracas que, não sendo capazes de provocar queimadura e/ou necrose, produzem apenas irritação cutânea. Essas substâncias, ao entrarem em contato com a pele, causam lesão aos queratinócitos, surgindo, posteriormente, reação inflamatória na derme papilar. Caracteriza-se por eritema, descamação e, por vezes, vesículas e bolhas, que surgem horas depois do contato com agentes irritantes mais fortes, ou depois de semanas de contato continuado com agentes irritantes fracos. O prurido, em geral, é discreto ou ausente, sendo substituído por sensação de dor ou queimação. Não há necessidade de sensibilização prévia e não ocorre a formação de células de memória; portanto, qualquer indivíduo em contato com tais substâncias poderá desenvolver a DCIP, que frequentemente ficará restrita ao local do contato. As 2 principais variáveis são a concentração da substância (até certo limite, pois caso contrário será cáustica e causará queimadura e não uma DCIP) e o tempo de exposição. É frequentemente dermatose de caráter ocupacional (pedreiros, químicos, pintores, donas de casa etc.). Duas condições muito corriqueiras são a dermatite das mãos da dona de casa (detergentes e sabões são alcalinos) e a dermatite das fraldas (ação irritativa de fezes e urina). 5 Geovanna Mourão Pantoja A dermatite de contato alérgica (DCA) pode apresentar-se de 3 maneiras, sempre com muito prurido: aguda (eritema, vesículas, exsudação e crostas); subaguda (eritema, pápulas, escamas e crostas); crônica (liquenificação). Alguns desses tipos podem faltar durante a evolução e ocorrem apresentações intermediárias (p. ex., agudização de tipo crônico). A morfotopografia é de grande ajuda no diagnóstico A dermatite de contato por sensibilização apresenta em sua etiopatogenia mecanismos genéticos (suscetibilidade genética) e imunológicos. Tem menor ocorrência que a DCIP, ocorre reação mesmo com baixa concentração de alérgenos (látex, planta, cosméticos), possui mecanismo imunológico tipo IV) A dermatite de contato por sensibilização apresenta fases distintas. As lesões caracterizam-se por eritema, edema, vesículas e bolhas na fase aguda. Na fase subaguda, predominam as lesões vesicobolhosas, exsudativas e crostosas. Na fase crônica, ocorre descamação e liquenificação. O prurido tem intensidade variável. Pode ocorrer infecção secundária das lesões e piora por automedicação. Nos quadros crônicos, pode ocorrer piora das lesões pela coçadura contínua das lesões (líquen simples crônico). 6 Geovanna Mourão Pantoja Diagnóstico História clínica + hábitos de vida + profissão do doente + exame físico. Testes de contato são indicados na elucidação diagnóstica. São realizados com substâncias que mais frequentemente causam dermatite de contato. Na dermatite de contato por irritação primária, os testes de contato são negativos. Na dermatite de contato por sensibilização, os testes de contato são habitualmente positivos. O doente não deve apresentar lesões na área dos testes, não deve estar sob corticoterapia sistêmica ou tópica no local de aplicação dos testes e não deve sofrer exposição à radiação ultravioleta na área de testes antes da aplicação. Deve-se evitar a indicação de testes de contato se o doente estiver com lesões muito extensas, o que poderia induzir à piora do eczema. Após 48 h da aplicação, os testes são retirados e é feita a primeira leitura. Os critérios adotados para leitura são os preconizados pelo International Contact Dermatitis Research Group de 1981, nos quais: (–) negativo (+) discreto eritema com algumas pápulas (++) eritema, pápulas e vesículas (+++) intenso eritema, pápulas e vesículas confluentes OBS: Características que auxiliam no diagnóstico: - mapeamento topográfico - seletividade profissional e utilitária: profissões que utilizam produtos químicos (cabeleleiro) ou uso de algum objeto (sapato, relógio..) - correlação antígeno: Uma vez determinado pelos testes que o indivíduo é sensível a determinada substância, deve-se procurar relacionar o eczema com os objetos que contenham o referido alergênico. Tratamento - Afastamento da substância que causo eczema. Afastar todas as substancias utilizadas por via tópica. Utiliza-se no tratamento água boricada 3% ou compressas de KMnO, 1:40.000 nas lesões exsudativas. Corticosteroides tópicos ou sistêmicos podem ser empregados, dependendo da gravidade do quadro. Se houver infecção secundária, são indicados antibióticos tópicos ou sistêmicos de amplo espectro. Eczema numular O que caracteriza esse eczema é sua morfologia única, embora inespecífica, representada por placa eritematosa circular ou oval, com bordas claramente demarcadas. Sua causa é desconhecida, conquanto se acredite que o terreno atópico predisponha a sua ocorrência. A colonização maciça por estafilococos agrava a sua evolução. Para alguns, seria provocado por hipersensibilidade ao estafilococo (superantígenos). A xerodermia pode desencadear o seu aparecimento, assim como o 7 Geovanna Mourão Pantoja estresse emocional. A lesão típica é caracterizada por uma ou mais lesões em formato de moeda (numismática), eritematosa, com vesículas de parede fina, muitas vezes extremamente pruriginosa e que, na fase aguda, apresenta componente exsudatocrostoso. Evolui para estágio menos vesicular e mais descamativo, com clareamento central e extensão periférica, transformando- se em lesões anulares. Depois de tempo variável (semanas a meses), podem surgir lesões contralaterais e até mesmo disseminação. É comum a reativação de lesões quiescentes, sobretudo quando há interrupção do tratamento precocemente. As lesões ocorrem com maior frequência nos membros inferiores, mãos e antebraços, seguidos do tronco. É rara a ocorrência em crianças, sendo, para alguns autores, manifestação de atopia. Tende à cronicidade. No diagnóstico diferencial, consideram-se dermatofitose, dermatite de contato e psoríase. O tratamento deve ser realizado com corticosteroide ou coaltar 2 a 5% e antibióticos antiestafilocócicos tópicos; nas fases mais agudas, banhos ou compressas, corticosteroides tópicos, antibióticos sistêmicos e, excepcionalmente, corticosteroides sistêmicos. Eczema de estase Eczema que acompanha a insuficiência venosa crônica dos membros inferiores, sendo mais comum no sexo feminino. A patogenia do eczema de estase parece estar relacionada com inflamação e microangiopatia, decorrentes da insuficiência venosa crônica. A microangiopatia leva ao edema intersticial pelo depósito de fibrina; ao fluxo sanguineo lento, que aciona a liberação de mediadores inflamatórios e quimiotaxia; à liberação de radicais livres e de ferro; ao acúmulo de plaquetas e formação de trombos; e ao desbalanço entre capilares e remodelação tecidual, promovendo a dermatoesclerose. Possíveis agravantes dessa condição incluem sensibilização às terapêuticas tópicas (em até 86% dos casos), irritação pelos fluidos das ulcerações e colonização bacteriana local. Os principais 8 Geovanna Mourão Pantoja achados clínicos incluem edema depressível das porções mais rustais dos membros inferiores que piora ao longo do dia, púrpura de estase, xerose, prurido e lipodermatoesderose. Muitas vezes, há elefantíase do membro acometido e sinais de piodermite profunda (erisipela), com eritema e calor locais. O tratamento fundamenta-se na redução ou na correção da estase venosa, incluindo compressão do membro afetado, exercidos adequados e mudança do estilo de vida, ou, muitas vezes, correção cirúrgica das veias dilatadas. O tratamento do eczema depende da fase em que as lesões de pele se encontram. Eczemadisidrótico ou disidrose Dermatite eczematosa, caracterizada por surtos de vesículas e/ou bolhas, que acomete palmas e plantas, podendo ter caráter agudo ou crônicos. A etiologia permanece indeterminada, mas fatores que potencialmente exacerbam a condição são dermatites de contato alérgicas, infecções (fúngicas ou bacterianas), dermatite atópica e medicamentos. As erupções vesicobolhosas ocorrem de forma abrupta e se localizam simetricamente nas palmas e plantas, muitas vezes exigindo internação do doente por causar muito desconforto. Os surtos duram cerca de 2 a 3 semanas, podendo ter recorrências. O quadro pode se tornar crônico e evoluir com hiperqueratose e fissuração. No caso de infecções fungicas ou bacterianas, a disidrose pode representar uma resposta do tipo "ide” ou de sensibilização a distância. O diagnóstico diferencial se faz com outras formas de eczema, psoríase, infecções virais e dermatoses bolhosas autoimunes. O tratamento local deve obedecer às fases do eczema e, muitas vezes, a introdução da corticoterapia sistêmica pode ser necessária. No caso das "ides", a identificação do agente causal deve ser feita e o tratamento específico, instituído. 9 Geovanna Mourão Pantoja DERMATITE SEBORREICO Dermatite crônica de caráter constitucional, associando elementos fisiopatológicos de hiperproliferação epidérmica a eventual participação do Malassezia spp. Ocorre em, pelo menos, 5% da população geral, tendo altíssima incidência nos portadores de infecção pelo HIV. Etiopatogenia Foram demonstradas amplamente alterações na dinâmica epidérmica (aumento do índice de mitoses e do trânsito transepidérmico), semelhantes às da psoríase, porém de menor intensidade. Possui grande relação com o fungo Malassezia spp. Tem distribuição preferencial das lesões em áreas de grande número e atividade de glândulas sebáceas e da coincidência da época de ocorrência da doença com as suas fases de atividade (recém-natos e pós-puberais), estando ausente durante a infância, ocorrem discretas alterações na composição do sebo com aumento de triglicerídios e colesterol e redução do esqualeno e ácidos graxos livres, de interpretação duvidosa. Embora a maturação das glândulas sebáceas possa ser um fator permissivo, o papel da seborreia é controverso, pois está ausente em alguns casos e pode ocorrer sem manifestação da DS. Quadro clínico As lesões são maculopapulosas, eritematosas ou amareladas, sem brilho, delimitadas e recobertas por escamas de aspecto gorduroso, que se distribuem pelas áreas seborreicas (couro cabeludo, face, regiões pré-esternal, interescapular, flexuras axilares e anogenitais). O prurido, quando presente, é discreto, à exceção das lesões no couro cabeludo. O couro cabeludo está quase sempre comprometido, muitas vezes isoladamente. A pitiríase capitis (caspa), caracterizada por descamação pulvurulenta e difusa, parece ser a fase inicial da DS nessa região, podendo progredir gradualmente com surgimento de eritema, aumento da quantidade e espessura das escamas até um quadro franco de DS. Frequentemente, há transgressão da orla do couro cabeludo, com comprometimento da pele adjacente, formando a chamada coroa seborreica. Nos casos crônicos, pode haver aumento reversível na queda de cabelos. Uma apresentação muito gordurosa e espessa das escamas que aderem ao pelo, denominada pseudotínea amiantácea, é de ocorrência eventual. Escamas aderentes, principalmente no vértice do couro cabeludo de recém-natos, são denominadas crosta láctea. Eritema, descamação e fissuras retroauriculares e do ouvido externo são comuns. Na face, há envolvimento característico da parte interna dos supercílios, glabela, sulco nasolabial, asas do nariz e região paranasal, sendo comum a blefarite marginal (eritema e descamação ciliar), fazendo diagnóstico diferencial com rosácea. A manifestação mais comum no tronco ocorre como lesões, quando bem desenvolvidas, ditas petaloides (aspecto de Pétala), frequentemente vistas nas regiões interescapular e pré-esternal. São 10 Geovanna Mourão Pantoja pápulas eritematodescamativas, inicialmente foliculares, que, por confluência, originam lesões de aspecto figurado, com descamação fina central e bordas mais elevadas e eritematosas que lembram dermatofitose. Podem ocorrer lesões semelhantes às da pitiríase rósea e psoríase. As regiões flexurais mais envolvidas são as axilares, anogenitais e inframamárias, além da região umbilical, com aspecto intertriginoso, eritematodescamativo, mais acentuado no centro, no qual às vezes ocorrem fissuras. Nessas áreas, a infecção secundária por cândida e bactérias é a regra. A doença tende a cronicidade e recorrência, podendo, eventualmente, evoluir para eritrodermia esfoliativa. É frequente o seu agravamento ou desencadeamento por estresse emocional ou físico e pelo frio. A exposição ao sol, em geral, diminui sua intensidade. Os casos limítrofes com a psoríase, especialmente o tipo invertido, têm sido denominados seboríase. 11 Geovanna Mourão Pantoja Diagnóstico diferencial - Couro cabeludo psoríase, tinea capitis, pediculose - Flexuras candidiase, dermatofitose, eritrasma, dermatite de contato Tratamento/ controle da doença - No couro cabeludo, indicam-se xampus à base de LCD (liquor carbonis detergens) de 5 a 8% associado ou não ao ácido salicílico de 1 a 3%, piritionato de zinco de 1 a 2,5%, sulfeto de selênio de 1 a 2,5%, coaltar de 2 a 3%, cetoconazol de 1 a 2%, octopiroxolamina a 1%, enxofre e ácido salicílico. Se houver infecçãosecundária, antibióticos sistêmicos ou tópicos. - Na face e no tronco, além dos xampus e sabões contendo as substâncias jácitadas, podem-se prescrever loção ou gel de Kummerfeld, cremes com cetoconazol e, eventualmente, cremes com corticosteroide de baixa potência. Uma abordagem inicial pode ser feita com creme que associa cetoconazol à betametasona a 0,05% por poucos dias, seguido de cetoconazol ou outro azol em creme. Casos extensos podem beneficiar-se com cetoconazol (preferentemente) ou itraconazol oral durante 2 a 3 semanas. Os imunomoduladores tacrolimo pomada a 0,1% e pimecrolimo creme, por sua ação anti-inflamatória, têm se mostrado bastante efetivos no tratamento da DS da face. PITIRIASE ALBA Trata-se de dermatite de origem desconhecida, mais frequente, embora não exclusiva, nos atópicos, que, para alguns, corresponderia a formas frustras de eczema atópico ou seborreico. Caracteriza-se pelo aparecimento, principalmente entre os 3 e 16 anos, de áreas arredondadas ou ovais, eritematosas ou cor da pele, com descamação fina, às vezes mais pronunciadas nos óstios foliculares, que desaparecem espontaneamente, deixando hipocromia com leve descamação, mais evidente após exposição ao sol, que agiria como agravante ou desencadeante. As lesões são, em geral, múltiplas, de tamanho variável, distribuindo-se principalmente na face e na porção lateral dos braços e, frequentemente, no tronco. Seu curso é variável (meses a anos), podendo ocorrer novos surtos. O tratamento é difícil, sendo recomendados emolientes e cremes com baixa concentração de coaltar (0,5 a 1,0%) ou corticosteroide não potente (acetato de hidrocortisona). O principal diagnóstico diferencial é com a pitiríase versicolor; muitas vezes, é fundamental o exame micológico para que seja possível diferenciá-las. 12 Geovanna Mourão Pantoja PSORÍASE Conceito e etiopatogenia Doença imunoinflamatória, cutaneoarticular, crônica e recorrente que se caracteriza por hiperplasia epidérmica, ciclo evolutivo acelerado dos queratinócitos e ativação imune inapropriada. De causa desconhecida, sabe-se,contudo, que apresenta base hereditária, provavelmente multifatorial, o que significa dizer que é de herança poligênica e requer fatores ambientais para sua expressão. Apesar dos inúmeros pontos controversos na patogênese, a participação do infiltrado inflamatório de células T e de células dendríticas já está bem delineada. Há predomínio da resposta Th1 e células Th17 na patogênese da doença. A derme e a membrana sinovial contêm grande número de linfócitos T CD4 ativados que secretam interferon gama (IFN-γ), fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), fator transformador de crescimento alfa (TGF-α) e interleucina-8 (IL-8). Acredita-se que o TNF-α seja uma das principais citocinas implicadas na patogênese da doença. O TGF-α promove a angiogênese e estimula a proliferação de queratinócitos e sinoviócitos, ambos aumentados na psoríase. Outros eventos imunológicos são depósitos de imunoglobulinas e frações do complemento na epiderme comprometida e a existência de anticorpos contra a camada córnea. Alguns estudos constataram alteração do nível de AMP cíclico e, como consequência, desequilíbrio na relação GMPc/AMPc, que são reguladores do crescimento e da diferenciação celulares. Há também participação de proteases, importantes reguladoras da proliferação celular, com capacidade de produzir mediadores inflamatórios, via cascata do complemento, que podem estar aumentadas na psoríase. Em resumo, na placa psoriásica, há células T (CD4) ativadas secretando linfocinas, células apresentadoras de antígenos ativadas como células de Langerhans, macrófagos e outras células dendríticas, polimorfonucleares aumentados e queratinócitos hiperproliferados. ciclo evolutivo das células epidérmicas é mais rápido na psoríase do que na pele normal, o que causaria, devido à imaturidade delas, grande produção de escamas (paraceratose). Fatores ambientais são preponderantes para instalação ou agravamento da doença. Destacamos o clima frio (quanto maior a latitude, maior a incidência de psoríase, provavelmente pela menor radiação solar), o trauma e microtraumatismos cutâneos, articulares ou periarticulares, tanto físicos, químicos, elétricos ou cirúrgicos; infecções causadas por vírus ou bactérias, como HIV, dengue, estreptococcias e outros; alterações metabólicas e endócrinas como diabetes, tireoidopatias e hipocalcemia; o estresse emocional representado pelas perdas ou modificações nas relações interpessoais; o fumo e o álcool. 13 Geovanna Mourão Pantoja Quadro clínico As lesões típicas são eritematoescamosas, em placas, de limites bem precisos e, por vezes, circundadas por halo periférico claro (halo de Woronoff); as escamas são, em geral, argênticas. O tamanho das lesões varia de alguns milímetros (psoríase gutata) a grandes placas de vários centímetros; a morfologia pode ser variada: numular, girata, anular e outras. A simetria é a regra, embora possam existir casos de lesão única e isolada. Os locais mais frequentes são: face extensora dos membros – sobretudo cotovelos e joelhos –, tronco, região sacra e couro cabeludo; há, entretanto, casos com localização nas áreas de flexão (psoríase invertida). A curetagem metódica de Brocq é a manobra semiológica que caracteriza a placa psoriásica, apesar de não ser patognomônica: no primeiro momento, destacam-se as escamas brancas nacaradas, estratificadas (sinal da vela), surgindo a seguir uma membrana branca transparente, que uma vez curetada dá lugar a um sangramento puntiforme (topo das papilas dérmicas) ou orvalho sanguíneo, chamado sinal de Auspitz. As unhas estão comprometidas em 35 a 50% dos pacientes com psoríase e em até 83% daqueles com doença articular; as lesões podem ocorrer por dano na matriz ou por comprometimento do leito ungueal. Psoríase afetando a matriz ungueal provoca depressões cupuliformes ou puntiformes (pittings ungueais) ou unha em dedal, leuconiquia (manchas brancas na lâmina ungueal) ou “esfarelamento” da unha. O prurido ocorre em aproximadamente 80% dos pacientes; o trabalho de pesquisa de um dos autores mostrou que o prurido está relacionado com a quantidade de mastócitos presentes no infiltrado inflamatório. Muitos pacientes com lesões inflamadas referem sensação de queimação e até de “dor” na pele. O fenômeno de Köebner, que se caracteriza por reprodução da lesão em locais de traumatismo pode estar presente. Pode-se distinguir as diferentes formas de psoríase da seguinte forma: - vulgar ou placas apresentação típica 14 Geovanna Mourão Pantoja - gutata ou eruptiva Tem início abrupto, com lesões pequenas e arredondadas, predominantemente no tronco. Ocorre frequentemente 2 a 3 semanas após estreptococcia do trato respiratório superior, em adultos jovens e crianças. - pustulosa Caracteriza-se por pústulas estéreis. Há uma apresentação generalizada (doença de von Zumbusch), eventualmente com morfologia anular, que tem início súbito, febre, comprometimento geral e leucocitose que pode evoluir para êxito letal; e apresentações localizadas. - eritrodermica É quando mais de 80% do tegumento está comprometido, podendo ocorrer alterações gerais na termorregulação, na hemodinâmica, nos equilíbrios hidreletrolítico e proteico. Em geral, a forma eritrodérmica é secundária e costuma decorrer de tratamentos intempestivos (p. ex., coaltar em altas concentrações) ou pela retirada do corticosteroide (rebote); alguns casos podem ser primários. - ungueal. - zosteriforme. - invertida áreas e flexura - mínima Restringe-se a pequenas lesões persistentes ou intermitentes, em geral eritematoescamosas, mas, às vezes, com vesículas e/ou pústulas, que se localizam preferencialmente em um ou vários dígitos. - ceratodermica Palmas e plantas espessadas e descamativas podem ser a única manifestação da doença ou fazer parte do quadro - artropática. Pode comprometer as articulações, sobretudo as interfalagianas; há maior probabilidade de ter arterioesclerose. Histopatologia ocorrência de paraceratose, ausência da camada granulosa, acantose regular dos cones interpapilares, papilomatose em que são observados capilares dilatados e tortuosos com atrofia epidérmica suprapapilar. A ocorrência de pequenas coleções de polimorfonucleares imediatamente abaixo do estrato córneo paraceratótico, em que as células epidérmicas estão edematosas, configura a pústula espongiforme de Kogoj. O microabscesso de Munro, que é muito típico, é a denominação para o acúmulo de neutrófilos dentro da camada córnea Critérios de gravidade da psoríase Atualmente foram criados novos critérios para a avaliação da gravidade da psoríase, que levam em conta não apenas a extensão do quadro, mas, sobretudo o comprometimento da qualidade de vida do doente: - Psoríase leve: Não altera a qualidade de vida do doente; acomete até 2% de área corpórea - Psoríase moderada: Afeta a qualidade de vida do doente; acomete de 2 a 10% de área corpórea 15 Geovanna Mourão Pantoja - Psoríase grave: Afeta de forma significativa a qualidade de vida do doente; compromete mais de 10% de área corpórea. Outros fatores devem ser considerados na avaliação da gravidade: atitude do paciente em relação à doença, acometimento de áreas especiais (face, mãos e pés, genitais, unhas), sinais e sintomas (febre, sangramento, dor, rigidez articular, prurido). As psoríases eritrodérmica e pustulosa generalizada são formas graves e exigem a internação do doente. Comprometem o estado geral e podem ser mortais devido às complicações tanto infecciosas como de múltiplos órgãos. Diagnóstico Clínico, não se faz exame laboratorial para diagnostico. A biopsia pode ser feita. Tratamento - Tratamento tópico: administraçãode medicamento diretamente sobre a lesão cutânea permite minimizar possíveis efeitos colaterais em outros órgãos e na pele não lesada. Nas formas leves de psoríase, a terapêutica tópica, seja em monoterapia, seja combinada, costuma ser suficiente para o controle das lesões. Nas formas moderadas a graves, o tratamento local, quando associado à fototerapia e/ou à terapia sistêmica, propicia maior conforto ao paciente e acelera a melhora. Tópicos ceratolíticos, emolientes ou umectantes deverão sempre ser incluídos em qualquer programa terapêutico, seja como coadjuvante, seja em alternância com os produtos ativos e nas fases assintomáticas. OBS: - Sempre preferir terapia topica combinada e evitar corticoides, sobretudo em monoterapia e em alta potência. - Na face preferir imunomodulador, sendo contra indicado usar análogos de vitamina D - No couro cabeludo, pode-se usar shampoo com coaltar, antifúngico, ácido salicílico 2-3%. - Na unha pode usar corticoide tópico 16 Geovanna Mourão Pantoja - Tratamento tópico: Cerca de 25% dos doentes de psoríase requerem fototerapia ou tratamento sistêmico. Este também é indicado quando não há resposta à medicação tópica ou quando a psoríase ocorre em localizações que comprometem a qualidade de vida do doente, como face, mãos e pés. Algumas formas de psoríase, mesmo quando a pele não está afetada de forma generalizada, requerem tratamento sistêmico: a psoríase artropática, a pustulose palmo-plantar e a acrodermatite contínua, estas últimas por não responderem, via de regra, a tratamentos tópicos. Ver anexo V Na psoríase em gotas, focos infecciosos devem ser investigados e tratados. Fototerapia é o tratamento de eleição. Na psoríase eritrodérmica são indicados o metotrexato, a acitretina ou a ciclosporina. A resposta clínica costuma ser mais rápida com a ciclosporina. Fototerapia, na maioria dos casos, não está indicada de início. Pode ser associada a essas drogas na continuidade do tratamento. Agentes biológicos também podem ser ativos. Na psoríase pustulosa generalizada, a medicação de eleição é a acitretina, na dose de 1 mg/kg/dia. Essa droga não pode ser usada em mulher em idade fértil. O tratamento da psoríase vulgar moderada a grave é indicado segundo o algoritmo: OBS: corticoides sistêmicos Os esteróides sistêmicos são formalmente contra-indicados para tratamento da psoríase, pelo seu efeito rebote e possível desenvolvimento de formas graves da doença – psoríase pustulosa generalizada e psoríase eritrodérmica. Em ocasiões excepcionais são empregados por curtos períodos e, em geral, associados a outros tratamentos. Uma indicação do uso de corticosteróide sistêmico é o impetigo herpetiforme. 17 Geovanna Mourão Pantoja 18 Geovanna Mourão Pantoja PITIRÍASE ROSEA A pitiríase rósea é uma afecção inflamatória subaguda frequente, caracterizada por lesões eritematoescamosas disseminadas, sucessivas e progressivas, com regressão posterior e cura. Ocorre em ambos os sexos e em todas as etnias, sendo mais frequentemente observada em adultos jovens. No Brasil, é mais observada no outono e no verão. O quadro evolutivo e a ocorrência sazonal sugere etiologia infecciosa. Quadro clínico A erupção inicia-se com típica lesão ovalada ou arredondada, eritematoescamosa, chamada medalhão, com bordas ligeiramente elevadas e centro amarelado descamativo. Depois de 1 a 2 semanas, novas lesões, com as mesmas características, porém menores, surgem em grande número. Essas lesões têm o longo eixo pararelo às linhas de clivagem da pele e localizam-se geralmente em áreas cobertas da pele - tronco, raiz dos membros e pescoço. Raramento atinge face, mãos, pés. Couro cabeludo não e afetado. Prurido discreto e involui de 4-8 semanas. Diagnóstico Diagnóstico clínico. Pode ser diferenciada da dermatite seborreica pela localização, da psoríase pelo tipo de lesão e localização. A placa inicial pode ser confundida com dermatofitose e, em caso de dúvida, deve ser feito exame micológico. A roseola da sífilis secundária não tem as lesões ovalares características e costuma atingir palmas, plantas e mucosas, além de cursar com polimicroadenopatias; em caso de dúvida, a sorologia esclarece o diagnóstico. Tratamento Não é necessário, pois involui até 8 semanas. Em caso de prurido, pode usar corticoide tópico de baixa potencia.
Compartilhar