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Materiais de Construção I BETÕES Elementos Gerais, Natureza e Qualidade série MATERIAIS joão guerra martins nuno oliveira 2.ª edição / 2005 Apresentação Este texto resulta do trabalho de aplicação realizado pelos alunos da disciplina de Materiais de Construção I do curso de Engenharia Civil, sendo baseado no esforço daqueles que frequentaram a disciplina no ano lectivo de 1999/2000, vindo a ser anualmente melhorado e actualizado pelos cursos seguintes. A sua fonte assenta em bibliografia e pesquisas diversas. Contributo decisivo teve, igualmente, o Eng.º Nuno Oliveira, sendo parte importante do texto apresentado conteúdo revisto da monografia de licenciatura por si elaborada. Apresenta-se, deste modo, aquilo que se poderá designar de um texto bastante compacto, completo e claro, entendido não só como suficiente para a aprendizagem elementar do aluno de engenharia civil, quer para a prática profissional corrente. Pretende o seu teor evoluir permanentemente no sentido de responder quer à especificidade dos cursos da UFP, como contrair-se ao que se julga pertinente e alargar-se ao que se pensa omitido. Esta sebenta insere-se num conjunto que perfaz o total do programa da disciplina, existindo uma por cada um dos temas base do mesmo, ou seja: • Metais • Pedras Naturais • Ligantes • Argamassas • Betões • Aglomerados de Pedra Natural • Produtos cerâmicos • Madeiras • Derivados de Madeira • Vidros • Plásticos • Tintas e vernizes • Colas e mastiques Embora o texto tenha sido revisto, esta versão não é considerada definitiva, sendo de supor a existência de erros e imprecisões. Conta-se não só com uma crítica atenta, como com todos os contributos técnicos que possam ser endereçados. Ambos se aceitam e agradecem. João Guerra Martins Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade I Índice Geral Índice Geral ...............................................................................................................................I Índice de Figuras ..................................................................................................................... V Índice de Quadros ...............................................................................................................VIII 1. Introdução............................................................................................................................. 1 2. O Betão - tipos, qualidades, classes e componentes.......................................................... 5 2.1. Tipos de Betão ............................................................................................................................5 2.2. Qualidades do Betão ..................................................................................................................5 2.3. Classes de Betão..........................................................................................................................6 2.3.1 Betões do tipo B ............................................................................................................................ 6 2.3.2. Betões do tipo BD ........................................................................................................................ 7 2.4. Componentes do Betão...............................................................................................................8 2.4.1. Ligantes ........................................................................................................................................ 8 2.4.2. Agregados..................................................................................................................................... 8 2.4.2.1. Classificação dos agregados...................................................................................... 10 2.4.2.2. Propriedades dos agregados ...................................................................................... 15 2.4.3. Água............................................................................................................................................ 16 2.4.4. Aditivos ou Adjuvantes ............................................................................................................. 17 2.4.4.1. Classificação ............................................................................................................. 17 3. Composição do betão e sua resistência............................................................................. 22 3.1. Influência da composição granulométrica na resistência dos betões...................................22 3.1.1. Granulometria Contínua .......................................................................................................... 23 3.1.2. Granulometrias Descontínuas .................................................................................................. 28 3.1.3. Comparação de granulometrias............................................................................................... 30 3.2. Cálculo dos componentes de um betão em termos de resistência ........................................30 3.2.1. Cálculo da quantidade de agregados por metro cúbico de betão.......................................... 30 3.2.2. Determinação da quantidade de água da amassadura........................................................... 31 3.2.3. Fórmula de resistência do betão............................................................................................... 33 3.2.4. Exemplo da determinação e caracterização de um betão ...................................................... 34 3.3. Factores que influenciam a resistência do betão ...................................................................35 3.3.1. A dosificação .............................................................................................................................. 36 3.3.2. O método de fabrico e colocação em obra............................................................................... 37 3.3.3. O método de ensaio na determinação da resistência do betão .............................................. 37 3.3.4. Outros factores condicionantes da resistência do betão......................................................... 38 3.4. Alta resistência inicial e melhoria global das propriedades do betão..................................39 Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade II 3.4.1. Métodos baseados na tecnologia do betão ............................................................................... 40 3.5. Identificação e classificação correcta de um betão................................................................42 3.5.1. Classe de resistência .................................................................................................................. 42 3.5.2. Dimensão máxima do agregado ............................................................................................... 43 3.5.3. Classe de exposição ambiental.................................................................................................. 43 3.5.4. Classe de consistência................................................................................................................ 44 3.6. Características do betão fresco e endurecido.........................................................................45 3.6.1. Betão fresco ................................................................................................................................45 3.6.2. Betão endurecido ....................................................................................................................... 49 4. Ensaios sobre agregados e betões...................................................................................... 50 4.1. Ensaios sobre agregados ..........................................................................................................50 4.1.1. Determinação da tensão de rotura da rocha originária......................................................... 50 4.1.2. Ensaios de compressão confinada – esmagamento................................................................. 52 4.1.3. Ensaio de abrasão e desgaste .................................................................................................... 55 4.1.4. Ensaios sobre partículas individuais - caso dos agregados leves........................................... 56 4.1.5. Ensaios comparativos................................................................................................................ 57 4.1.6. Resistência à humidificação e secagem dos seus agregados................................................... 57 4.1.7. Resistência à congelação dos seus agregados .......................................................................... 58 4.2. Ensaios sobre o Betão...............................................................................................................59 4.2.1. Resistência efectiva do betão estudado .................................................................................... 59 4.2.2. Plasticidade do betão estudado ................................................................................................ 60 4.2.3. Maneira correcta de realizar amostras de betão fresco. ........................................................ 61 4.2.4. Trabalhabilidade em graus V.B ( VêBê ) ................................................................................ 64 4.2.5. Método para fabricar e conservar provetes de betão............................................................. 65 4.2.6. Tipos gerais de Ensaios ............................................................................................................. 68 5. Colocação, compactação, cura e betão pronto................................................................. 78 5.1. Colocação ..................................................................................................................................78 5.2. Compactação ............................................................................................................................85 5.3. Cura ............................................................................................................................................... 91 5.3.1. Efeitos das temperaturas ambiente e do betão fresco ............................................................ 93 5.3.2. Efeito das temperaturas no Verão ........................................................................................... 93 5.3.3. Efeito das temperaturas no Inverno ........................................................................................ 94 5.3.5. Betonar no Inverno ................................................................................................................... 96 5.4. Cofragens ...................................................................................................................................... 97 5.4.1. Condição que deve reunir uma cofragem ............................................................................... 99 5.4.2. Quando se deve descofrar....................................................................................................... 101 5.5. Cuidados com a superfície do betão .....................................................................................103 Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade III 5.5.1. Como evitar vazios na superfície do betão ............................................................................ 103 5,5,2. Reparação ................................................................................................................................ 104 5.5.3. Prevenção ................................................................................................................................. 104 5.5.4. Como evitar manchas nas superfícies de betão .................................................................... 105 5.6. Como encomendar um betão pronto ....................................................................................105 5.6.1. Controlo do betão pronto pelo empreiteiro........................................................................... 105 6. Betões Especiais ................................................................................................................ 107 6.1. Betão Ciclópico .......................................................................................................................107 6.2. Betão de Jôrra ........................................................................................................................107 6.3. Betão sem Finos .......................................................................................................................... 108 6.4. Betão Celular ..........................................................................................................................108 6.4.1. Características ......................................................................................................................... 108 6.4.2. Aplicações de betão celular..................................................................................................... 109 6.5. Betões Coloidais (Betões injectados).....................................................................................110 6.6. Betão tratado pelo vácuo .......................................................................................................110 6.7. Betão de ar controlado...........................................................................................................111 6.8. Betões Refractários (até cerca de 1400 ºC) ..........................................................................112 6.9. Betões Super-Refractários (de 1400 a 1800 ºC) ...................................................................112 6.10. Betões com fibras..................................................................................................................112 6.11. Betões Leves ..........................................................................................................................113 6.11.1. Características ....................................................................................................................... 113 6.11.2. Utilizações .............................................................................................................................. 113 6.12. Betões Pesados ......................................................................................................................114 7. Patologias do betão........................................................................................................... 115 7.1. Causas primárias das fissuras...............................................................................................115 7.2. Fissuração devido a tensões...................................................................................................115 7.3. Fissuras de retracção .............................................................................................................116 7.3.1. Fissuras de retracção hidráulica ............................................................................................116 7.3.2. Fissuras de retracção térmica ................................................................................................ 117 7.3. Fissuras de delaminação ........................................................................................................117 7.4. Reacção Inerte-Álcali .............................................................................................................117 7.4.1. Definição................................................................................................................................... 117 7.4.2. Manifestação da patologia ...................................................................................................... 118 7.5. Porque aparecem as fissuras .................................................................................................119 7.5.1. Fissuras devidas a variações espontâneas: ............................................................................ 119 7.6. Como evitar as fissuras nas superfícies de betão.................................................................120 7.6.1. Fissuração durante a fase construtiva ................................................................................... 121 Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade IV 7.6.2. Fissuração posterior à fase construtiva ................................................................................. 122 7.7. Juntas ......................................................................................................................................123 7,7,1. Juntas de construção ............................................................................................................... 123 7.7.2. Juntas de contracção ............................................................................................................... 123 7.7..3. Juntas de dilatação ................................................................................................................. 124 7.8. Como recuperar os defeitos superficiais do betão...............................................................125 7.8.1. Reparações com materiais asfálticos ..................................................................................... 125 7.8.2. Reparações com argamassa................................................................................................126 7.8.3. Reparações com resinas epoxy ............................................................................................... 126 8.Derivados de Betão......................................................................................................................... 143 8.1. Betão Armado.........................................................................................................................127 8.2. Elementos estruturais de betão pré- fabricado....................................................................127 8.3. Betão Pré-Esforçado ..............................................................................................................129 8.3.1. Betão Pós Tencionado ............................................................................................................. 129 8.4. Blocos de betão .......................................................................................................................129 8.4.1. Outros tipos de blocos ............................................................................................................. 130 8.5. Telhas de cimento...................................................................................................................131 8.5.1. Tipos de telhas de betão e suas aplicações............................................................................. 131 8.6. Marmorites .............................................................................................................................133 8.6.1. Tipos de Marmorites ............................................................................................................... 133 8.6.2. Tecnicas de Execução.............................................................................................................. 134 8.7. Ladrilhos Hidráulicos ............................................................................................................135 8.7.1. Mosaicos Hidráulicos .............................................................................................................. 135 8.8. Pavimento Impresso...............................................................................................................136 8.8.1. Sistema Betão Impresso .......................................................................................................... 137 8.8.2. Tecnicas de aplicação de betão impresso................................................................................138 8.8.3. Tecnicas de aplicaçaõ do sistema Stencil............................................................................... 141 8.9. Tubos de Betão .......................................................................................................................142 8.10. Fibrocimentos .......................................................................................................................143 Conclusão ........................................................................................................................................... 145 Bibliografia ........................................................................................................................... 147 ANEXO I - LÉXICO SOBRE BETÃO .............................................................................. 149 ANEXO II - NORMAS PORTUGUESAS ......................................................................... 153 Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade V Índice de Figuras Figura 1 – Variação dos valores da resistência à compressão do betão no tempo 1 Figura 2 – Central de betão: a importância dos agregados que ocupam 70 a 80% do volume do betão) 2 Figura 3 – Situações de uso de betão para efeitos de resistência e enchimento/regularização. 3 Figura 4 – Variação da resistência à compressão de betões em função da massa volúmica de agregados leves (adaptado de Construction Materrials, 1994). 13 Figura 5 - O efeito de D-máxima dimensão do agregado grosso e da razão água/cimento na resistência do betão (Construction Materials,1994) 24 Figura 6 - O efeito da quantidade de agregado e da razão água/cimento na resistência do betão (Construction Materials, 1994) 25 Figura 7 – Parábola de Bolomey e curva de Fuller. 26 Figura 8 - Exemplos de curvas granulométricas de uma areia, de uma brita e de uma mistura desses agregados e variação respectiva da compacidade (Construction Materials, 1994). 27 Figura 9 - Efeito da relação A/C na resistência mecânica 40 Figura 10 - Espalhamento e compactação de betões com consistência seca ou plástica com equipamento pesado 47 Figura 11 – Determinação da tensão de rotura por compreensão 50 Figura 12 - Corte transversal do recipiente e esmagador (adaptado NP-1039, 1974). 52 Figura 13 – Equipamento utilizado no ensaio do esmagamento: C- êmbolo, A- manga de aço, B- varão de 52 Figura 14 – Ensaio de esmagamento do agregado (Coutinho, 1998) 53 Figura 15 – Máquina Amsler-Laffon. 55 Figura 16 - Escamação do betão provocada pela baixa resistência do agregadoà congelação da água nos seus poros (CEB, 1992) 57 Figura 17 - Escama provocada por agregado geladiço (ACI E 1-78, 1978). 57 Figura 18 - Cone de Abrams. - Esquema do molde (cotas em mm) 63 Figura 19 – Sequência de moldagem de provetes (Fonte: Coutinho, A.S., Fabrico e propriedades do Betão) 66 Figura 20 – Quarto de cura em câmara húmida (Fonte: Andriolo, Francisco Rodrigues (1993), Inspecção e Controlo de Qualidade do concreto) 66 Figura 21 – Cura dos provetes por imersão em água 67 Figura 22 - Prensa hidráulica 68 Figura 23 –Provete cilíndrico na rotura 69 Figura 24 – Compressão diametral 69 Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade VI Figura 25 – Ensaio de flexão 70 Figura 26 – Esclerómetro mecânico 71 Figura 27 – Martelo de Schmidt mecânico 71 Figura 28 – Martelo de Schmit digital 72 Figura 29 – Bigorna de calibração de martelo de Schmidt 72 Figura 30 – Medição da resistência do betão por ondas 73 Figura 31 – Ensaio de fractura interna 74 Figura 32 – Relação entre a tensão de rotura e a torção 75 Figura 33 – Bomba de betão 78 Figura 34 – Colocação de betão num pavimento com recurso a bombagem 78 Figura 35 – Camião-bomba 79 Figura 36 – Colocação de betão com recurso a bombagem 80 Figura 37 – Colocação de betão em fundações com recurso a bombagem 80 Figura 38 – Bombagem na vertical 81 Figura 39 – Bomba de betão móvel (atrelado) 81 Figura 40 – Colocação de betão através de projecção 82 Figura 41 – Bomba para projecção de betão 82 Figura 42 – Projecção de argamassas em paredes de alvenaria. 82 Figura 43 – Deposição directa de betão em pavimentos 83 Figura 44 – Deposição directa de betão em pilares 83 Figura 45 – Mesas vibratórias 85 Figura 46 – Réguas vibratórias 86 Figura 47 – Acabamento de um pavimento com régua vibratória 86 Figura 48 – Talocha mecânica 87 Figura 49 – Vibrador de placa com motor de combustão 87 Figura 50 – Vibrador de placa com motor eléctrico 88 Figura 51 – Vibrador de cofragem 89 Figura 52 –Aplicação de vibrador de cofragem a régua niveladora 89 Figura 53 –Vibrador de agulha 90 Figura 54 – Incremento da resistência à compressão com a idade do betão 90 Figura 55 – Tipos de cofragens 97 Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade VII Figura 56 – Dispositivo de vácuo 109 Figura 57 – Alguns dos diferentes tipos de fibras 111 Figura 58 – Mecanismo de funcionamento das fibras 112 Figura 59 – Exemplo de fissuração pela reacção InerteÁlcali. Fonte: Coutinho, A., S. Fabrico e Propriedades do Betão 117 Figura 60 – Tratamento de junta de contracção 123 Figura 61 – Junta de dilatação de pavimento, por rolamento dos veículos. 123 Figura 62 – Esquema de sapatas de pilares pré-fabricados em betão: 128 Figura 63 – Blocos de Pavimentos 130 Figura 64 – Tipos de Telha 132 Figura 65 – Tipos de Acabamentos 132 Figura 66 – Operação de sarrafar 134 Figura 67 – Interior de uma Sala 137 Figura 68 – Entrada 137 Figura 69 – Modelos de Pavimento 138 Figura 70 – Alisamento do pavimento 139 Figura 71 – Aplicação do Cimento em pó 139 Figura 72 – Estampagem com Moldes 139 Figura 73 – Eliminação do Excesso do desmoldante 139 Figura 74 – Aplicação da laca 140 Figura 75 – Acabado 140 Figura 76 – Escadas em pavimento Impresso 140 Figura 77 – Aplicação do betão 141 Figura 78 –Disposição da rede 141 Figura 79 – Posicionamento da rede 142 Figura 80– Aplicação de Permaculor 142 Figura 81 – Talochamento da Superficie 142 Figura 82 – Retirar a rede 142 Figura 83 – Tubos de Betão pré - fabricados 143 Figura 75 – Cobertura de fibrocimento 144 Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade VIII Índice de Quadros Quadro 1 – Tipos e qualidades de betão 6 Quadro 2 – Características físicas e mecânicas das rochas mais utilizadas como agregados em betão (adaptado de Bertolini e Pedefferi, 1995) 11 Quadro 3 – Classificação do agregado quanto à baridade e principais aplicações do betão com fabricado (adaptado e actualizado de Coutinho, 1988) 14 Quadro 4 – Composição granulométrica dos materiais 22 Quadro 5 – Tipo de agregado e sua consistência 28 Quadro 6 – Cargas de rotura obtidas com granulometrias contínuas e descontínuas 29 Quadro 7 - Quantidade de água em litros/m3 a aplicar a vários tipos de betão 32 Quadro 8 – Traços (volumes) dos Betões (AICCOPN) 33 Quadro 9 – Quantidades de Materiais por Classes de Betões 33 Quadro 10 - Betões por tipos de consistência 49 Quadro 11 - Peneiros (ASTM, E11-70) utilizados na determinação da resistência do agregado ao esmagamento NP 1039) 55 Quadro 12 - Tabela para determinação da pressão estática exercida pelo betão fresco sobre a cofragem 99 Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 1 1. Introdução O betão é um material constituído pela mistura, devidamente proporcionada, de britas e areias, com um ligante hidráulico, água e, eventualmente, adjuvantes. O ligante reage com a água endurecendo e a mistura adquire coesão e resistência que lhe permite servir como material de construção. Ás britas dá-se, muitas vezes, a designação genérica de pedras numa perspectiva de as individualizar das areias, pelas suas maiores dimensões. Contudo e na verdade, britas e areais são derivados de pedras naturais. O betão é um material de construção de custo comparativamente reduzido, cuja produção e uso tem vindo a crescer em todos os tipos de obras a nível mundial. Mesmo em estruturas onde os outros materiais de construção são usados como materiais estruturais, tais como o aço ou a madeira, o betão surgem como praticamente imprescindível, por exemplo, nas fundações e muros de contenção de solos. As propriedades do betão endurecido são muito importantes e dependem de variadíssimos factores. No entanto, ao contrário da maioria dos materiais estruturais, que são fornecidos pela fábrica já prontos a serem utilizados nas construções, a produção, transporte, colocação e compactação do betão são da responsabilidade dos técnicos de engenharia civil. Também é de referir que as propriedades do betão endurecido não são estáticas e vão evoluindo ao longo do tempo. Por exemplo, cerca de 50 a 60% da resistência final desenvolve-se nos primeiros 7 dias, 80 a 85% em 28 dias e mesmo ao fim de 30 anos de idade do betão, têm-se verificado aumentos mensuráveis de resistência (Fígura1). 0 Variação da resistência à compressão de cubos de 20 cm de aresta (usados até a NP ENV 206 entrar em vigor), de betão com razão água/cimento igual a 0,50 e agregado rolado com dimensões maxima de 50 mm, conservados em ambiente húmido a 20ºC ±2ºC 5 10 15 2040 35 30 25 45 50 1 A 2 A 4 A3 A 7 A 8 A6 A5 A 10 A9 A IDADE (anos) R ES IS TÊ N C IA À C O M PR ES SÃ O (M PA ) Figura 1 – Variação dos valores da resistência à compressão do betão no tempo Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 2 Basicamente, os constituintes do betão são: ? Ligantes (cimento ou cimento e adições); ? Água; ? Agregados (também designados por inertes); ? Aditivos e adjuvantes (eventualmente). Os agregados ocupam em geral 70-80% do volume do betão isto é, cerca de ¾ do volume total (Figura2). Por exemplo, 1 metro cúbico de betão poderá ter a seguinte composição: - 300 kg de cimento (corresponde a cerca de 100 litros do volume do betão), - 150 litros de água, e portanto, ter-se-á cerca de - 750 litros de agregado. A presa e o endurecimento do betão ocorrem devido a uma série de reacções químicas entre o ligante e a água a que se dá o nome de hidratação. Figura 2 – Central de betão: a importância dos agregados que ocupam 70 a 80% do volume do betão. Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 3 O principal objectivo da dosagem consiste em encontrar a mistura mais económica para a obtenção de um betão, com características capazes de atender às condições de serviço, utilizando os materiais disponíveis. É óbvio que as vantagens decorrentes do tempo despendido na procura de uma mistura de cimento e agregados mais económicos só se evidenciam quando se trata de volumes razoáveis de betão. Há, portanto, muitos pequenos trabalhos nos quais se justificam plenamente traços já especificados e aplicados em obras semelhantes. Nesses casos, o esforço envolvido no processo de dosagem é perfeitamente dispensável. As exigências relativas ao betão endurecido são especificadas pelo projectista da estrutura (classe de resistência e outras especificidades: compacidade, impermeabilidade, porosidade, etc) e as concernentes à do betão fresco dependem do tipo da construção e das técnicas de transporte, lançamento e adensamento. Esses dois conjuntos de exigências habilitam o engenheiro a determinar a composição da mistura tendo em mente o grau de controle que será exercido na obra. O aspecto económico do problema deve, no entanto, ser considerado. O custo da betonagem de qualquer tipo de obra depende do custo dos materiais componentes, da mão de obra e do equipamento. A variação do custo dos materiais decorre principalmente do facto de que o cimento é muitas vezes mais caro do que o agregado, daí o interesse pela utilização de misturas com o mínimo possível desse material, mas com que se mantenham as qualidades exigidas. Dessa forma, pode-se obter um primeiro traço provisório que deverá ser aperfeiçoado no laboratório e corrigido na obra. Esta ultima providência, recomendada por muitos especialistas, decorre do facto de ser impossível reproduzir no laboratório todas as condições de produção do betão. A resistência mecânica do betão é tida, comumente, como a sua propriedade mais importante, apesar de, em muitos casos, outras características, como a durabilidade e a impermeabilidade, serem consideradas como tais (Figura3). Figura 3 – Situações de uso de betão para efeitos de resistência e enchimento/regularização. Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 4 A resistência de um betão, convenientemente adensado, a uma determinada idade e curado em condições favoráveis, é significativamente função do factor água/cimento adequado. Conclui-se, então, que nas obras onde é baixo o padrão de qualidade de execução deverá ser mais baixa a razão água/cimento para que se possa garantir a tensão mínima de ruptura especificada no projecto. Os métodos estatísticos actualmente adaptados são, sem dúvida, os meios mais adequados para relacionar esses parâmetros. Assim, sendo conhecido o padrão de qualidade de execução, pode avaliar-se a razão água/cimento desde que seja fixada a probabilidade de ocorrência dos valores de tensão de ruptura abaixo do mínimo especificado. O controle da trabalhabilidade é indispensável para que se possam obter as propriedades previstas para o betão endurecido. Esta característica facilita o processo de execução, mas não deve ser obtida á custa de água em excesso. Para o seu incremento à produtos próprios que não comprometem outras qualidades essenciais (caso de aditivos como os plastificantes, de que se falará em local próprio) Ela compreende a consistência apropriada ao processo de adensamento e às dimensões da peça, tendo em vista a melhor compacidade, para que se possa garantir resistência, durabilidade e boa aparência do betão. Para se obter a trabalhabilidade satisfatória é necessário, portanto e preferivelmente, escolher agregado com diâmetro máximo conveniente e que a consistência da mistura seja adequada às condições de aplicação. O diâmetro máximo do agregado graúdo deverá, em principio, ser a maior compatível com as dimensões da peça a betonar e com o espaçamento dos varões de armadura. Isto porque, para agregados da mesma natureza, à medida que se consideram diâmetros máximos mais elevados, é sempre possível obter-se uma composição granulométrica que resulte em betão mais económico, em igualdade de consistência e de relação água/cimento, devido à redução da quantidade de pasta necessária para preencher os vazios e envolver os grãos do agregado. Para que o betão seja trabalhável é preciso, além de prepará-lo com agregado de diâmetro máximo conveniente, que a consistência da mistura fresca também seja adequada à aplicação em vista. Há vários meios através dos quais se pode medir a consistência do betão. Dentre os mais conhecidos devem ser citados o do cone de Abrams, o do aparelho de Powers e, mais modernamente, o VêBê. Nenhum, todavia, pode ser considerado inteiramente satisfatório, pois os valores que fornecem não são, em geral, comparáveis quando se referem a misturas feitas com materiais de características diferentes. Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 5 2. O Betão - tipos, qualidades, classes e componentes O betão é portanto uma mistura em proporções convenientes de cimento, areia, brita e água. Ou seja, o betão é uma argamassa em que aparece mais um material inerte de dimensões bastante superiores às da areia. Esta mistura tem a propriedade de fazer presa e endurecer com o decorrer do tempo. Genericamente, o betão deve ter todas as qualidades indicadas para as argamassas. Contudo, podemos fazer sobressair duas: a resistência mecânica e a compacidade. A estas deve-se acrescentar, ainda, a facilidade de moldagem, propriedade muito importante pois é uma das razões que faz deste material o mais utilizado no fabrico de estruturas (porque, praticamente, permite qualquer tipo de forma à peça e a permite fabricar em obra). Por outro lado, o betão deve evitar a sua própria segregação, que é o fenómeno que consiste na separação dos inertes grossos devido às vibrações durante o transporte descarga e colocação em obra. O antigo regulamento (Regulamentode Betões e Ligantes Hidráulicos – R.B.L.H.) indicava-nos como um betão normal, aquele que seria composto de 300 Kg de cimento, 400 L.tos de areia, 800 L.tos de brita e 140 L.tos de água. Este documento classificava os betões em “Tipos”, “Classes” e “Qualidades”, entendendo-se que permanece como fundamental o seu estudo cuidado, pois a simplicidade é uma forma de facilitar o entendimento e sistematizar conceitos e procedimentos. 2.1. Tipos de Betão Eram designados dois tipos elementares de betão: Tipo B - Betão que é caracterizado pela sua resistência mecânica. Tipo BD - Betão que é caracterizado pela durabilidade em meios ambientes agressivos. Poderia acontecer que um betão fosse, ou seja, ao mesmo tempo do tipo B e BD 2.2. Qualidades do Betão As qualidades dos betões são definidas em função dos valores do desvio padrão ou do coeficiente de variação das distribuições estatísticas das tensões de ruptura por compressão ou Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 6 por flexão aos 28 dias. As qualidades dos betões são determinadas por ensaios realizados sobre provetes cúbicos com 20cm de aresta ou sobre provetes cilíndricos com 15cm de diâmetro e 30cm de altura. A avaliação do resultado de tais ensaios conduz à definição das seguintes qualidades: ? Qualidade 1; ? Qualidade 2; ? Qualidade 3. 2.3. Classes de Betão 2.3.1 Betões do tipo B A classe de betão é designada pelo número que exprime o valor característico mínimo da sua tensão de rotura por compressão aos 28 dias, expresso em MPa. No caso de a classe ser definida por tensões de rotura por flexão, à designação da classe dever-se-á acrescentar a letra”F” a seguir ao número. As classes dos betões devem estar relacionadas com as “qualidades” que atrás foram referidas (Quadro1). Quadro 1 – Tipos e qualidades de betão Tipo de Betão Qualidade mínima exigida Betões B30 (B 4,5 F) ou superiores 1 Betões compreendidos entre B15 e B30 2 Betões B15 ou inferiores 3 De acordo com o R.E.B.A.P. (Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré- Esforçadas), os betões a utilizar em estruturas de betão armado devem ser das classes B15, B20, B25, B30, B35, B40, B50, B55. (art. 12 a 20) Os betões de Classe B15 só podem ser utilizados em estruturas de pequena importância; por outro lado tais betões podem ser dispensados de realização de estudo prévio de Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 7 composição e de ensaios de recepção, desde que seja satisfeita a dosagem de cimento não inferior a 300Kg por m3 de betão. Não devem ser utilizados betões de classe inferior a B30 em elementos de Betão Pré- esforçado. Conforme a Norma Comunitária ENV 206 (que substitui o R.B.L.H.), a classificação actual vem corrigida para a letra “C” (de “concrete” como betão em língua inglesa), acrescida do valor da resistência característica de rotura para provestes cilíndricos e cúbicos. Assim, a um B25 corresponde, agora, um C20/25. 2.3.2. Betões do tipo BD Os betões BD vêm sempre associados ao betão B, sendo que o contrário não é verdade. O betão B pode ser utilizado quando não são necessárias as acrescidas propriedades atrás apresentadas para o betão BD. As classes de betões do tipo BD consideradas no RBLH são: Classe 1: Betão que é caracterizado pela durabilidade quando em contacto com águas de elevada agressividade química. Classe 2: Betão que é caracterizado pela durabilidade quando em contacto com águas de moderada agressividade química. Classe 3: Betão que é caracterizado pela durabilidade quando exposto a ambientes em que a temperatura pode atingir com frequência valores inferiores a 5ºC Observação: A agressividade química das águas em contacto com o betão está definida no quadro III do R.B.L.H. Resumindo, um Betão é, em geral, designado por uma sigla formada pela sucessão dos indicativos do Tipo, da Classe e da Qualidade. Ex: B35.1 – Betão do tipo B, da classe 35 e da qualidade 1. Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 8 2.4. Componentes do Betão 2.4.1. Ligantes Os ligantes a utilizar devem ser escolhidos em função do tipo e classe do betão a fabricar, de acordo com o quadro V do R.B.L.H (ou, mais recentemente, pela ENV 206). Em estruturas de betão armado e de acordo com o R.E.B.A.P., o ligante a utilizar em betões do tipo B deve, em geral ser o cimento Portland normal. Em betonagens de grandes massas (peças c/ dimensões superiores a 1,5 m) usam-se ligantes que produzam baixo calor de hidratação, tais como cimento de alto forno 60/80 e o cimento Pozolânico. Nos betões do tipo B não é autorizado o emprego de cimento natural, cais e pozolanas porquanto estes não asseguram a resistência dos betões dada a grande dispersão de propriedades daqueles ligantes. 2.4.2. Agregados O uso de apenas pasta de cimento (cimento e água) endurecida como material de construção, seria possível devido à sua resistência, mas com as seguintes duas grandes desvantagens: • Instabilidade dimensional (fluência elevada e retracção elevada); • Custo elevado (o cimento é um material caro – cerca de 5€ por saco de 50 kg (2004), pois a sua produção envolve consumos elevados de energia). Estas desvantagens podem ser ultrapassadas, o, pelo menos minimizadas, acrescentando agregados à pasta de cimento isto é, usando BETÃO. O objectivo deve ser o uso da maior quantidade possível de agregados tal que as suas partículas sejam aglomeradas pela pasta de cimento, ou seja, deve ser utilizado o agregado com partículas da maior dimensão possível compatível com as condições da obra. Isto, dito desta maneira simplista pode ser enganador, pois que temos que considerar a necessidade de uma granulometria heterogénea. Na verdade, os agregados (também designados por inertes) tem que ter várias dimensões para que, encaixando-se uns nos outros, possam preencher os vazios que uma só granulometria provocaria. Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 9 Assim, desde a areia fina ao agregado mais grosso (brita de maiores dimensões), deve- se seleccionar a melhor, ou mesmo a óptima, proporção entre os agregados disponíveis para o fabrico de determinado betão. Isto de modo a minimizar o conteúdo em vazios, na mistura de agregados, como também a quantidade de pasta de cimento necessária. Assim, a mistura de agregados deve ter a maior compacidade possível o que, em geral, conduz a um volume de 70 a 80% do volume total do betão. O agregado é constituído por partículas, sobretudo de rochas, ou por partículas provenientes de depósitos arenosos, por partículas artificiais especificamente fabricadas para o emprego em betão, ou, ainda, por partículas obtidas reciclagem de determinados materiais. A sua dimensão que varia, geralmente, entre cerca de 0,1 mm e 30 cm e estão dispersas pela pasta de cimento, sendo necessário tomar em conta que as características do agregado afectam profundamente o comportamento do betão. Será bom salientar,que o valor de 30cm refere-se já a tipos de betões especiais, como o ciclópico, a que nos referiremos a seu tempo, pois que para betões correntes o valor comum máximo anda na casa dos 20 a 25 mm.. Como se disse, também se usa entre nós o termo “inerte”, mas as partículas de rochas que constitui não são realmente inactivas, na medida em que as suas propriedades físicas, térmicas e, por vezes, químicas afectam o desempenho do betão com elas fabricadas (Neville, 1995). Isto é, as partículas de agregado podem em certas condições reagir com a matriz cimentícia do betão (bertolini et Pedefferi, 1995). Aliás, na versão portuguesa da Norma Europeia ENV 206 (1990), “Betão, comportamento, produção, colocação e critérios de conformidade” – NP ENV 206 (1993), ainda é utilizado o termo inerte em vez de agregado que é definido como sendo: “Material constituído por substâncias naturais ou artificiais, britadas ou não, com partículas de tamanho e forma adequados para o fabrico de betão.” As propriedades mais importantes exigidas a um agregado para produzir o betão são de natureza geométrica, física e química que se apresentam: 1. Adequada forma e dimensões proporcionadas (granulometria), segundo determinadas regras; 2. Adequada resistência mecânica; Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 10 3. Adequadas propriedades térmicas; 4. Adequadas propriedades químicas relativamente ao ligante e ás acções exteriores; 5. Isenção de substâncias prejudiciais. A melhor informação que se pode obter sobre a qualidade de um agregado é a observação do comportamento do betão produzido com esse agregado e, em última análise ou caso de dúvida, os agregados devem ser julgados a partir das propriedades do betão que com eles se confecciona e não exclusivamente a partir de resultados de diversos ensaios que dão indicações sobre a qualidade do agregado, permitindo apenas prever o seu comportamento no betão. De facto, se um dado agregado submetido aos diversos ensaios apresenta todas as propriedades adequadas, então é sempre possível produzir um betão de qualidade com esse agregado. É de referir que se tem verificado que um agregado aparentemente inadequado relativamente a uma ou outra propriedade poderá conduzir a um betão de boa qualidade. Por exemplo, o agregado proveniente de uma rocha que resiste mal a ciclos de gelo e degelo (rocha geladiça) poderá ter um comportamento satisfatório no betão, sobretudo se as partículas desse agregado estiverem bem envolvidas por pasta de cimento hidratada de baixa permeabilidade. 2.4.2.1. Classificação dos agregados Os agregados podem ser de origem natural, como os agregados naturais (por exemplo as areias, os godos) ou os agregados obtidos por britagem de materiais naturais (por exemplo as britas, areias britadas). Existem também agregados artificiais que são obtidos industrialmente com vista à produção do betão com determinadas propriedades, por exemplo a argila ou xisto expandidos (betão leve). Outros constituintes empreguem no fabrico de betões são subprodutos industriais, tais como as cinzas volantes, obtidas por combustão do carvão nas centrais térmicas, as escórias de alto forno, subproduto do fabrico do aço, subprodutos da indústria corticeira e ainda outros produtos como poliestireno expandido (usado em betão leve de enchimento, como para cobrimento de infra-estruturas em pavimentos, ou camadas de forma para inclinação de Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 11 coberturas horizontais1). Mais recentemente tem-se utilizado agregados obtidos por reciclagem de materiais, como materiais obtidos por trituração de betão endurecido, como escombros de betão armado ou betão em massa. No Quadro 2 apresentam-se algumas características físicas e mecânicas das rochas mais utilizadas como agregados em betão. Quadro 2 – Características físicas e mecânicas das rochas mais utilizadas como agregados em betão (adaptado de Bertolini e Pedefferi, 1995) Densidade aparente Porosidade aparente Resistência à compressão Modulo de elasticidade Resistência à abrasão Rocha g (cm3)-1 % volume MPa GPa * Rochas Ignias Granito e sienito Diorito e gabro Pórfiro ácido Basalto Pedra-pomes Tufo vulcânico 2.6-2.8 2.8-3.0 2.6-2.8 2.9-3.0 0.5-1.1 1.1-1.8 0.4-1.4 0.5-1.5 0.4-1.5 0.3-0.7 25-60 25-50 160-240 170-300 180-300 200-400 5-20 - 50-60 80-100 50-70 90-120 10-30 - 1 1-1.5 1-1.5 1-2 - - Rochas sedimentares Calcário Mole Calcário compacto Dolomite Travertino 1.7-2.6 2.7-2.9 2.3-2.8 2.4-2.5 0.5-2.5 0.5-2 0.5-2 4-10 20-90 80-190 20-60 - 30-60 40-70 20-50 - 4-9 4-8 7-12 - Rochas metamórficas Gneisse Xisto metamórfico Mármore Quartzito 2.6-3.0 2.7-2.8 2.7-2.8 2.6-2.7 0.3-2 1.4-1.8 0.5-2 0.2-0.6 160-280 90-100 100-180 150-300 30-40 20-60 40-70 50-70 1-2 4-8 4-8 1-5 1 É claro que neste caso podemos ter alguns problemas de designar esta mistura por betão, dado a classificação de argamassa também ser justificada. Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 12 Já a classificação dos minerais constituintes das rochas poderá dar indicações sobre as propriedades do agregado, mas não permite prever o seu comportamento no betão pois a presença de dado mineral no agregado pode não ser sempre desejável e apenas existem alguns minerais que, decididamente, são sempre indesejáveis tais como: • Sulforeto, gesso, anidrite; • Óxidos de ferro; • Minerais argilosos. Os minerais que não causam problemas são a calcite e os minerais siliciosos (excluindo os feldspatos alterados ou em vias de alteração). Os agregados são também classificados de acordo com a massa volúmica. Conforme a massa volúmica ( γ ) do agregado a classificação é feita da seguinte forma: - Agregados leves ............................................................................ < 2000 kg/m3 - Agregados normais .............................................................. 2000 a 3000 kg/m3 - Agregados pesados ....................................................................... > 3000 kg/m3 Nota: Massa volúmica, γ, é a massa por unidade de volume real do agregado. Os agregados mais utilizados são de massa volúmica normal: • Areias em geral; • Os obtidos de rochas ígneas, tais como os granitos ou basaltos; • De rochas sedimentares mais resistentes, tais como arenitos e calcários. Os betões obtidos com estes agregados, para razões de água/ligante usuais, terão massas volúmicas semelhantes dependendo da composição de cada um (2250 a 2450 kg/m3) e correspondem a betões comuns. No caso dos agregados leves, estes são usados para fabrico do betão leve com o fim de diminuir o peso próprio em determinadas estruturas e com a vantagemde permitir um melhor isolamento térmico relativamente a um betão comum. A maior desvantagem da utilização de agregados leves é conduzirem a betões de menor resistência. Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 13 A qualidade e propriedades de cada agregado leve são muito variáveis, pelo que tem como efeito relações diferentes de resistência com a massa volúmica, como se observa na figura 4. R es is tê nc ia à c om pr es sã o (M pa ) 40 30 20 10 500 1000 1500 2000 Massa volúmica (Kg/m³) Argila expandida Cinzas volantes sintetizadas Xisto expandido Escórias expandidas Pedra-pomes Figura 4 – Variação da resistência à compressão de betões em função da massa volúmica de agregados leves (adaptado de Construction Materrials, 1994). No caso dos agregados pesados, estes utilizam-se quando é necessário recorrer a betão de massa volúmica elevada, por exemplo para protecção de radiações. Como agregados pesados cite-se, por exemplo, os obtidos da barite (sulfato de bário), magnetite ou escórias, com os quais é possível produzir betões de massa volúmica na gama dos 3500 a 4500kg/m3. A baridade ( δ ) de um agregado é definida como a massa por unidade de volume do agregado contida num recipiente, isto é, o volume inclui os espaços entre as partículas do agregado e entre as partículas e o recipiente (é um volume "aparente" maior que o volume real que as partículas ocupam). É evidente que o intervalo granulométrico que compõe o agregado, a forma das partículas e o seu arranjo no recipiente (compacidade) contribuem para o valor da baridade. A Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 14 sua classificação segundo a baridade é equivalente à classificação segundo a massa volúmica, como se verifica no Quadro 3. Quadro 3 – Classificação do agregado quanto à baridade e principais aplicações do betão com fabricado (adaptado e actualizado de Coutinho, 1988). Classificação do agregado Baridade [δ] Kg/m3 Exemplos de agregados Aplicação e designação do betão Ultraleve <300 Polistireno expandido Polistireno expandido peletizado (d = 4-5mm) Vermiculite Perlite expandida Vidro expandido Com funções estritamente de isolamento térmico e sem funções de resistência Leve 300 a 1200 Argila expandida (d = 5-20 mm) Xisto expandido Escória de alto forno expandida Cinzas volantes sintetizadas Pedra-pomes Granulado de cortiça (d = 5-20 mm) Granulado de cortiça com banho de calda de cimento (d =5-20) Com funções de isolamento térmico, com funções de resistência (betão estrutural) e diminuição do peso próprio Denso (normal) 1200 a 1600 1200 a 1400 1300 a 1500 Areia Godo Rocha Britada Normal, com função de resistência (betão estrutural) Extradenso >1700 Limonite Magnetite Barite Com funções de protecção contra as radiações atómicas e com funções resistentes Na classificação segundo o ponto de vista das dimensões, o agregado que fica retido no peneiro com malha de 5mm de abertura é designado por agregado grosso, que pode ser godo quando é de origem sedimentar, rolado (calhau ou seixo) ou por brita quando é partido artificialmente (britado). O agregado fino, com dimensões inferiores a 5mm, é designado por areia, rolada quando natural de origem sedimentar e britada quando obtida por fractura artificial. A combinação mais usada no betão é a brita e a areia rolada. Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 15 Abertura da malha (#)# > 5 mm# 5 mm Natural Por britagem # 5 mm Godo Brita Agregado Grosso # < 5 mm Areia rolada Areia britada Areia Os agregados, de acordo com a sua granulometria, podem ser: Médias (0.5 mm < Ø ? 2 mm) Grossas (2 mm < Ø ? 5 mm)Finas (Ø ? 5 mm) GodosBritas Filler (Ø <0.1 mm)Areias (0.1 mm < Ø ? 5 mm) Pequenas dimensões (Ø ? 5 mm) Graúdos (Ø > 5 mm) Tipos de Inertes 2.4.2.2. Propriedades dos agregados Para além da massa volúmica dos agregados, que influência, como referido, a do betão, as propriedades dos agregados com maior repercussão no comportamento do betão fresco ou endurecido são: • Granulometria; • Forma das partículas; • Porosidade; • Absorção; • Elasticidade; • Resistência mecânica; Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 16 • Características da superfície das partículas que afectam a aderência à pasta de cimento endurecida. É importante que o betão fresco seja trabalhável, isto é, possa ser rápida mas eficientemente amassado, para que se obtenha uma distribuição uniforme dos vários constituintes na mistura. Também e igualmente de grande importância, que o betão seja colocado, compactado e acabado sem demasiadas bolsas de ar ou água, nem outras cavidades. Por outro lado, o betão fresco deve ser suficientemente coeso, para que a amassadura, colocação, compactação e acabamento decorram sem segregação dos constituintes, bem como qualquer exsudação de água. Os agregados tem a maior influência sobre a trabalhabilidade do betão segundo dois principais aspectos: 1. Modificação das propriedades reológicas, sobretudo relacionada com a granulometria e forma das partículas do agregado; 2. Influência do conteúdo de água lubrificante necessária para se obter a trabalhabilidade desejada, que é função das características das partículas assim como da capacidade de absorção destas (sendo certo que toda a água para além daquela estritamente necessária à hidratação do ligante do betão, vai reduzir à resistência final do mesmo, inexoravelmente). A comprovação das características dos agregados faz-se através de ensaios, cujos resultados devem obedecer às condições expressas no quadro VI do R.B.L.H. ou à ENV 206 2.4.3. Água A água da amassadura não deve conter impurezas (materiais em suspensão, sais dissolvidos e matéria orgânica) em quantidades prejudiciais. A água potável pode ser usada, sem reservas, no fabrico de betão. O quadro VII do R.B.L.H, ou Quadro 14 da ENV 206 e norma ISO aplicável, indica os limites máximos de impurezas a observar na água de amassadura (referente à quantidade de halogenetos, sulfuretos, sulfatos e álcalis contidos em todos os componentes). Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 17 2.4.4. Aditivos ou Adjuvantes Como definição académica, e muito genérica, podemos dizer que: “Pode-se definir como ADITIVO todo produto não indispensável à composição e finalidade do betão, que colocado na betoneira imediatamente antes ou durante a mistura do concreto, em quantidades geralmente pequenas e bem homogeneizadas, faz aparecer ou reforça certas características”. Um texto mais desenvolvido sobre este assunto pode ser encontrado na sebenta da “Betão – Adjuvantes e Aditivos”, da disciplina de Materiais de Construção I, da Universidade Fernando Pessoa.Também segundo este documento, designa-se por adjuvante a substância utilizada em percentagem inferior a 5 % da massa de cimento, adicionada durante a amassadura, aos componentes normais das argamassas e betões, com o fim de modificar certas propriedades destes materiais, quer no estado fluido, quer no estado sólido, quer ainda no momento da passagem dum estado a outro. Por outro lado, deveria chamar-se aditivo a toda a substância que se adiciona ao cimento, numa argamassa ou betão, em quantidade superior a 5 % da massa do cimento, ou, quando adicionada em quantidade inferior a esta, não tenha qualquer acção quer no estado fluido, quer no sólido, ou ainda na passagem do estado líquido ao estado sólido. No trabalho presente não faremos distinção entre uma ou outra designação. 2.4.4.1. Classificação A classificação dos aditivos pode ser baseada na acção ou nos efeitos. O critério baseado na acção é mais científico e distingue apenas as acções puramente química, física ou físico-química. Propõe-se os agrupamentos seguintes para classificação e estudo das características principais ou predominantes dos aditivos, tendo como base as finalidades procuradas pela sua aplicação. Aditivos destinados a melhorar a trabalhabilidade do betão • Plastificadores redutores; Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 18 • Incorporadores de ar; • Dispersantes ou fluidificantes. Modificadores das resistências mecânicas • Redutores plastificantes. Modificadores das resistências do betão a condições especiais de exposição • Incorporadores de ar. Modificadores de tempo de pega e endurecimento • Retardadores; • Aceleradores. Impermeabilizantes • Repelentes à absorção capilar; • Redutores da permeabilidade. Expansores • Geradores de gás; • Estabilizadores de volume; • Geradores de espuma. Adesivos Anticorrosivos Corantes Fungicidas, Germicidas e Inseticidas Devem ser utilizados apenas os que a experiência aconselha. No que se referir a novos produtos, estes devem ser submetidos a ensaios. Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 19 Aditivos são materiais que se utilizam em muito pequena quantidade, tendo em vista modificar ou conferir ao betão uma qualidade específica. Como exemplo de aplicação de aditivos, ilustre-se uma situação em que, partindo do princípio que o betão feito com cimento vulgar (Portland normal) e materiais vulgares, apresenta uma presa no fim de 3 ou 4 horas e tem um endurecimento que proporciona ao fim de 3 dias uma resistência à compressão de cerca de 45 % da resistência aos 28 dias. Ora, isto pode ser alterado, pode-nos interessar que haja um desenvolvimento mais rápido da resistência. Para isso podemos juntar um acelerador de presa e endurecimento (aditivo, como o cloreto de cálcio), conseguindo idênticos valores de resistência ao fim de 24 horas (ou menos, dependendo do aditivo). Para obter o inverso, ou seja, retardar a presa, também utilizamos aditivos, como, por exemplo, o gesso, açúcar e, em geral, todos os hidratos de carbono. Temos também aditivos para impermeabilizar, os chamados hidrófugos de massa. Como exemplo destes, podemos citar os produtos extraídos das algas, silicatos, fluorsilicatos, sabões, posolana, etc. Existem também aditivos para assegurar uma maior resistência ao desgaste e a produtos químicos, que são, por exemplo, usados na pavimentação de laboratórios químicos, oficinas ou espaços industriais. Há ainda a possibilidade de actuar sobre o processo de compactação, há certos produtos que se juntam ao betão reduzindo a resistência de atrito dos diversos componentes, aumentando a plasticidade do betão, designando-se por plastificantes, precisamente. Sabemos que um betão tem de apresentar certa fluidez, e que contem um certo volume de água com este fim, ora se estes produtos apresentam a mesma trabalhabilidade que a água e que para além disso aumentam a resistência, então são preferíveis à água (que, pelo contrário, a diminui). Alguns destes plastificantes não só aumentam a trabalhabilidade como também são libertadores de água. Há uma enorme gama de aditivos, para além dos já referidos, existem outros como: introdutores de ar e expansivos (para que em caso da passagem ao estado sólido - gelo - da água contida no betão, o aumento de volume da mesma não provoque fracturas), inibidores de corrosão das armaduras, pigmentos, etc. Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 20 Os aditivos devem ser utilizados em percentagens muito pequenas. Assim, como referência, numa amassadura de 250 L de betão, utiliza-se normalmente 1,5 saco de cimento e apenas 0,2 % de aditivo, ou seja, 150 g. A mistura deve ser homogénea, porque senão ficamos com uma zona que contém todo o aditivo e outra sem qualquer aditivo. Exemplo (com base em substância comercial): Tipo: Plastiment BV 40 é um plastificante universal para betão, de elevada concentração, isento de cloretos. Princípio de actuação: Plastiment BV 40 tem uma acção essencialmente física sobre as partículas do cimento e dos inertes mais finos (que são revestidas temporariamente por uma camada microscópica do plastificante). Plastiment BV 40 permite: 1. Aumentar a trabalhabilidade mantendo o mesmo nível de resistências: utilização como plastificante; 2. Reduzir a água, mantendo a trabalhabilidade: utilização como redutor de água. Então, as resistências mecânicas aumentam (se mantivermos a dosagem em cimento) ou mantêm-se ao nível do padrão (se reduzirmos ao cimento); Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 21 3. Um compromisso entre os dois efeitos alternativos anteriores: por exemplo, melhorar um pouco as resistências e a facilidade de colocação e, ao mesmo tempo, baixar o custo do betão (se bem que o aditivo também o tem, obviamente, devendo sempre efectuar-se o balanço entre ganhos e perdas, desempenho versus gastos); 4. Em qualquer dos casos: • Pode existir maior economia: o cimento utilizado é rentabilizado ao máximo; • A homogeneidade é maior: o betão tende a ter as mesmas propriedades em todas as zonas; • A compacidade pode ser bastante melhorada: betão mais impermeável; • A retracção pode ser nitidamente diminuída: menores riscos de fissuração; • A trabalhabilidade sofre significativo acréscimo; • A necessidade de água diminui: a resistência aumenta; • Não é alterado o processo químico de hidratação do cimento: os produtos finais são os mesmos, não há qualquer efeito prejudicial a longo prazo sobre a durabilidade do betão, pelo contrário. = 0,5 % sobre o peso do cimento A/C = 0,45 Ar = 1,5 % = 0,2 % sobre o peso do cimento A/C = 0,46 Ar = 1,5 % = Padrão A/C = 0,50 Ar = 1,4 % 2 3 7 90 36528 100 200 300 400 600 500 Kg/cm² dias Plastiment BV Evolução típica da resistência à compressão (cf. EMPA. nº 56239 - Dubendorf - Suíça) C = 300 Kg/m³, Holderbanh Slump = 3 cm; Dmáx = 30 mm In./C = 6.7 BetõesElementos Gerais, Natureza e Qualidade 22 3. Composição do betão e sua resistência 3.1. Influência da composição granulométrica na resistência dos betões. Numerosos ensaios têm posto em evidência a importância da proporção relativa dos vários tamanhos e da preparação da mistura granulométrica (Quadro 4). Quadro 4 – Composição granulométrica dos materiais Cimento Areia Pedra (brita) Resistência (MPa) 1 2 6 22,4 1 3 5 20,0 1 4 4 14,7 1 5 3 10,6 1 6 2 7,1 Este quadro resulta das experiências de Feret e mostra até que ponto vai aquela influência. Mas se é importante a composição granulometrica dos materiais, a proporção de água na relação água/cimento também o é. A distribuição das partículas de um dado agregado segundo as dimensões dessas partículas é designada por granulometria e tem uma enorme influência sobre as propriedades do betão, particularmente no que se refere à compacidade e à trabalhabilidade (maior ou menor facilidade com que o betão é amassado, transportado, colocado, compactado e acabado e a menor ou maior facilidade de segregação durante essas operações). A composição granulométrica deverá ser tal que se obtenha a maior resistência, compacidade e economia de betão. Várias são as fórmulas ou métodos que permitem determinar a melhor granulometria. Fundamentalmente tais métodos agrupam-se em dois tipos: Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 23 1. Granulometrias contínuas; 2. Granulometrias descontínuas. 3.1.1. Granulometria Contínua Se a granulometria é contínua (partículas distribuídas uniformemente por todas as dimensões da mais pequena à maior) e se as partículas tem uma forma adequada, é possível obter-se betão muito compacto e resistente para uma dosagem mínima de cimento, reduzindo o risco de segregação, paralelamente (Lea, 1998). De facto variações de: • Dimensão máxima (D) do agregado; • Razão entre agregado grosso e fino (areia); • Conteúdos de finos influenciam a quantidade de água necessária e, portanto, a trabalhabilidade. Em geral, é a superfície específica (a razão entre a superfície total e o volume das partículas) de um agregado que determina a quantidade de água necessária para molhar e lubrificar a mistura (quanto maior a dimensão das partículas menor a superfície específica). Realmente, para agregados de dimensão entre 150 microns e cerca de 40 milímetros, se a dimensão máxima do agregado aumenta será necessário menos água para a mesma trabalhabilidade (aumento da resistência do betão) ou, então, se mantivermos a quantidade de água, a trabalhabilidade será maior. Para agregados de dimensão superior a cerca de 40 milímetros aquela relação simples não se traduz da mesma forma. Estudos experimentais demonstram que o emprego de um agregado grosso com dimensão máxima maior reduz a resistência do betão, quando das mesmas quantidades dos restantes componentes. Esta redução é mais significativa em betões com razão água/cimento reduzida e para agregados de dimensão superior a cerca de 40mm (Figura 5). Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 24 5 0.70 0.55 R es is tê nc ia à c om pr es sã o (M pa ) a/c = 0.4 50 40 30 20 7537.520 Dimensão máxima do agregado D 10 Figura 5 - O efeito de D-máxima dimensão do agregado grosso e da razão água/cimento na resistência do betão (Construction Materials,1994) De facto, o agregado de maior dimensão, embora tenha uma superfície de aderência menor relativamente ao agregado mais pequeno, em betões com as mesmas quantidades dos restantes componentes, leva a que se forme uma zona de transição muito menos resistente, sendo este efeito ainda mais evidente em betões de baixa razão água/cimento (Construction Materials, 1994). Portanto, nestes casos, para uma dada razão água/cimento a resistência diminui com o aumento da dimensão máxima do agregado. Para partículas finas, isto é, de dimensão inferior a 150 microns, em que a superfície específica é grande, não é necessário uma quantidade de água proporcionalmente grande, na medida em que estas partículas parecem exibir efeitos de lubrificação sem estarem completamente molhadas. A influência da granulometria e conteúdo de finos na trabalhabilidade, varia com a dosagem de cimento. Em geral a influência da granulometria diminui com o aumento da dosagem de cimento, enquanto que o aumento de finos pode afectar a coesão da mistura, isto é, pode haver perigo de segregação (Lea, 1998). Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 25 Em relação à quantidade de agregado usado num betão, se esta for aumentada mantendo a razão água/ligante constante, então a resistência será ligeiramente superior (Figura 6). Este efeito é considerado válido apenas se a quantidade de pasta é ainda suficiente para preencher os vazios do conjunto agregado grosso/fino, permitindo uma consolidação completa do betão. Isto é, na prática, verifica-se um limite máximo da quantidade de agregado a utilizar no betão (Construction Materials, 1994). 80 50 40 30 R es is tê nc ia à c om pr es sã o (M pa ) 0.30 0.500.450.40 1 : 2.5 1 : 3.5 1 : 4.5 1 : 5.5 Razão cimento : agregado 10 0.35 Razão a/c Figura 6 - O efeito da quantidade de agregado e da razão água/cimento na resistência do betão (Construction Materials, 1994). Para este tipo de granulometria, recorremos ao Método de Füller e ao Método de Bolomey. Contudo, antes da apresentação destes métodos convém definir um conceito importante: o de curva granulométrica. Curvas granulométricas Chama-se curva granulométrica à linha contínua que une os pontos que representam o resultado da análise granulométrica, isto é, os pontos em que as abcissas correspondem às aberturas das malhas dos peneiros e as ordenadas dos passados acumulados. As curvas granulométricas são fundamentais para apreciar rapidamente a granulometria do agregado e as deficiências que possa ter a nível de certas fracções granulométricas, por exemplo, a falta de partículas de dada dimensão. As curvas granulométricas são também um Betões Elementos Gerais, Natureza e Qualidade 26 D dp 100= elemento de cálculo fundamental para certos métodos usados na composição de betão (métodos que permitem definir as quantidades dos componentes do betão). É também importante referir que é possivel obter a curva granulométrica de uma mistura de agregados diferentes a partir das curvas de cada um deles. Método de Füller Segundo o Método de Füller, a curva ideal corresponde a uma lei dada pela seguinte fórmula: Em que: p - % de agregado que passa pelo peneiro de abertura d; d - abertura do peneiro; D - tamanho máximo do inerte. Começa-se fazendo tentativas com diversas proporções de areia e brita, desenhando-se as curvas granulométricas destas misturas. Considera-se que a curva
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