Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PRINCÍPIOS PROCESSUAIS Com o advento do novo CPC, os princípios ganharam importância por estarem previstos em capítulo próprio: CAPÍTULO I- DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL, no qual se encontram diversos princípios que norteiam a aplicação das regras processuais. O novo texto legal representa o que a doutrina chama de constitucionalização do processo civil. Sua leitura deve ser ordenada, disciplinada e interpretada de acordo com o modelo constitucional, ou seja, as disposições do novo CPC devem ser interpretadas à luz da Constituição. Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. Importante ressaltar que os princípios elencados neste capítulo não se esgotam, pois há princípios constitucionais que não se encontram descritos no NCPC e há outras normas fundamentais esparsas pelo novo CPC. Assim sendo, esse rol de normas fundamentais não é exaustivo. Conceito De acordo com Didier, princípio é espécie normativa que estabelece um fim a ser atingido e possui eficácia direta e indireta. Eficácia direta: os princípios exercem uma função integrativa. Eficácia indireta: Há, porém, normas que servem à concretização dos princípios processuais, ou seja, elas atuam com a intermediação de outras normas. Princípios em espécie • Dispositivo ou da inércia jurisdicional • Impulso Oficial • Inafastabilidade do Poder Judiciário • Economia e eficiência processual / duração razoável do processo/primazia da decisão de mérito • Boa-fé processual • Cooperação • Igualdade e do contraditório/ vedação à não surpresa • Fins sociais e atender às exigências do bem comum, proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência 1. Princípio dispositivo ou da inércia jurisdicional e do impulso oficial: Art. 2º (art. 262 do CPC/1973) Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei. Para que ocorra o início da marcha processual é imprescindível, em regra, a provocação do Estado, a fim de que este, substituindo a atuação dos interessados, possa dar o provimento jurisdicional quanto ao direito material que lhe é apresentado. Desdobramento importante são os limites deste provimento. Isto porque o juiz deve se ater ao que lhe foi pedido, de modo que é vedado conhecer de matéria estranha aos autos (decisão extra, citra e ultra petita). Para questões de esclarecimento, relembremos esses conceitos: Sentença citra petita (infra) Sentença extra petita Sentença ultra petita No aspecto objetivo é aquela que não decide toda a demanda, assim o julgamento é aquém do pedido ou deixa de enfrentar e decidir causa de pedir ou alegação de defesa apresentada pelo réu. No aspecto subjetivo, também é citra petita a decisão que não resolve a demanda para todos os sujeitos processuais. Exemplo: o autor pediu indenização por danos emergentes e lucros cessantes. O juiz julgou procedente o pedido com relação aos danos emergentes, mas não fez qualquer referência aos lucros cessantes. Concede algo diferente do que foi pedido pelo autor. Também é extra petita a sentença que o juiz julga dentro do pedido, mas com causa de pedir diferente da formulada (sentença extra causa petendi). Exemplo: o autor pede a condenação em danos materiais e o juiz condena em danos morais. Está além do pedido (quantidade), ou seja, juiz concede ao autor da tutela jurisdicional o gênero do bem da vida pretendido, mas extrapola a quantidade indicada pelo autor. Exemplo: se o autor pediu indenização por danos emergentes, não pode o juiz condenar o réu também em lucros cessantes. Em relação às exceções, isto é, à atuação de oficio, o NCPC as restringiu a algumas hipóteses, tais como a arrecadação judicial dos bens vagos (art. 738) e da herança jacente (art. 744). Não há mais previsão de o inventário ser instaurado por determinação judicial (art. 989, CPC/ 73). Outra importante possibilidade de atuação de ofício do juiz é no procedimento de restauração de autos: Art. 712. Verificado o desaparecimento dos autos, eletrônicos ou não, pode o juiz, de ofício, qualquer das partes ou o Ministério Público, se for o caso, promover-lhes a restauração. Impulso oficial → Depois de ajuizada a demanda, cabe ao juiz determinar a realização dos atos processuais necessários. Cabe ao magistrado zelar pelas garantias, tendo em vista a necessidade de observância do devido processo legal. Em relação a este princípio, o mesmo ainda pode ser limitado pelo acordo entre as partes (princípio do autoregramento da vontade das partes1). 2. Inafastabilidade do Poder Judiciário: Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. O art.3º reproduz a garantia constitucional do art. 5º, inciso XXXV, da CF. Assim, acordo entre as partes não pode vedar o acesso ao Judiciário, sob pena de nulidade. Todavia, em que pese reafirmar o direito ao amplo e irrestrito acesso ao Judiciário, o dispositivo estimula outras formas de solução de conflitos em seus parágrafos. § 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. O CPC inova ao estimular que haja a solução consensual dos conflitos por outros meios, sem que haja a interferência do Estado-Juiz, entendendo, assim, que há hipóteses em que os mecanismos consensuais são mais eficazes para a contenda do que o provimento jurisdicional. Neste sentir, o § 2º traduz o princípio de promoção pelo Estado da solução por autocomposição, afirmando que o Estado deve atuar no sentido de promover que as partes resolvam os seus conflitos consensualmente. Este comando deve ser interpretado como uma política pública de solução dos conflitos e consagra a resolução 125/10 do CNJ. Em complementação, o §3º também impõe este dever no tramite processual em relação a todos os sujeitos processuais. 3. Princípio da economia e eficiência processual / duração razoável do processo/primazia da decisão de mérito Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa a) Princípio da duração razoável do processo : Combate a excessiva demora do curso processual sem que haja o descumprimento dos atos obrigatórios e reflete a previsão da EC 45/04, que incluiu o inciso LXXVIII no art.5º da CF/88 e acrescentou a alínea “e” ao inciso II do artigo 93 da CF/88. Assim, o processo não tem de ser rápido/ célere, mas tem que demorar o tempo necessário e adequado à solução do caso. Pretende-se com tal comando impedir dilações processuais indevidas verificadas no caso concreto. b) Princípios da eficiência e da efetividade: A duração razoável se desdobra na eficiência e efetividade. Assim, no tempo razoável para a realização dos atos necessários o provimento jurisdicional deve cumprir seu fim. O princípio da eficiência é um dos corolários da cláusula geral do devido processo legal. Ele resulta, ainda, da incidência do art.37, caput, da CF/88. Já o princípio da efetividade, de acordo com Didier, é uma cláusula que determina que os direitos devem ser reconhecidos e efetivados. Assim, o princípio da efetividade garanteo direito fundamental à tutela executiva, isto é, a concretização do direito na esfera do jurisdicionado. Eficiência é a gestão, enquanto a efetividade tem a ver com resultado. Um processo inefetivo não pode ser considerado eficiente. Estes postulados recaem na figura do juiz enquanto administrador de um processo. c) Princípio da primazia da decisão de mérito c/c art. 139, IX, NCPC: A solução de mérito (art. 487) é prioritária em relação à solução que não é de mérito (art. 485), havendo diversas disposições no CPC neste sentido. Assim, são exemplos deste princípio: (I) o juiz, verificando a existência de vícios processuais, deve determinar a correção; (II) não pode indeferir a petição inicial sem antes oportunizar que o autor a emende, (III) a apelação contra qualquer sentença que extinga o processo sem exame do mérito permite o juízo de retratação . Destaque-se também a previsão de que o relator, se verificar algum defeito sanável, deverá antes determinar a sua emenda. Por fim, o NCPC prevê que o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção ou desconsiderar um defeito dos recursos, exceto a tempestividade. Portanto, o juiz deve sempre procurar incidir na resolução do mérito. 4. Princípio da boa-fé Art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé. A boa fé objetiva se torna uma das bases do novo CPC e é um dever de todos que participam do processo. Assim, todos os sujeitos devem atuar de acordo com um padrão ético de conduta. É reputado, por exemplo, violação a este postulado: • qualquer conduta de má-fé (conduta processual dolosa é considerada ilícita); • abuso do direito; • Comportamento contraditório (proibição do venire contra factum proprium). Proibição de comportamento contraditório às próprias atitudes. 5. Princípio da cooperação Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Formado a partir do conjunto dos seguintes princípios: devido processo legal, boa- fé processual e contraditório. Tem por fim definir o modo como o processo civil deve estruturar-se. A condução do processo deixa de ser determinada pela vontade das partes para que haja um constante diálogo entre o juiz e as partes. Entretanto, deve haver lealdade (princípio da boa-fé), isto é, deveres objetivos de não atrapalhar. São deveres de não transformar o processo em um ambiente de guerra, hostil. Há os seguintes desdobramentos em relação à figura do magistrado: • Dever de consulta • Dever de prevenção • Dever de esclarecimento: dar decisões claras e dever de pedir esclarecimento da parte se ele não compreender 6. Princípio da igualdade e do contraditório/ vedação às decisões-surpresa Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: I - à tutela provisória de urgência; II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III; III - à decisão prevista no art. 701. Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. a) Igualdade Na clássica lição aristotélica, significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. Para que isso ocorra não basta o juiz formalmente oferecer oportunidades iguais de defesa e participação para as partes, devendo também oportunizar sua efetiva participação no processo. O princípio da igualdade está previsto no art. 7º, mas se desdobra em diversas previsões no NCPC e exige a observância de quatro aspectos: • Imparcialidade do juiz • Igualdade no acesso à justiça • Igualdade nos momentos em que se reduz as dificuldades do acesso à justiça (a parte poderá sustentar oralmente no STJ via videoconferência, sem ter que ir à Brasília, por exemplo). • Dificuldade de comunicação (o novo CPC prevê a utilização da língua brasileira de sinais para pessoas surdas e mudas) b) Contraditório A Constituição Federal prevê o contraditório no inciso LV do art.5º. O NCPC traz o Contraditório no sentido de participação e cooperação efetivas e aptas a contribuir para o processo. Assim, passa a garantir às partes o poder de se manifestar sobre qualquer questão que seja relevante. Nesta toada, o juiz, para garantir o contraditório, pode dilatar os prazos processuais (artigo 139, VI, do Novo CPC). Entretanto, ressalta a doutrina que essa dilatação de prazo não pode ser feita depois que o prazo acabou. Essa foi a conclusão dos processualistas no Fórum permanente de processualistas civis de nº 129. O art. 9º, PÚ traz exceções ao contraditório prévio. Logo, no caso de decisão de natureza provisória, não há necessidade de ouvir a parte contrária previamente. Haverá, na hipótese, o contraditório diferido/ postergado. c) Vedação à decisão-surpresa: Desdobramento do contraditório substancial, o art. 10 (c/c artigo 491, artigo 932 ) traz o dever de consulta, segundo o qual o juiz deve ouvir as partes antes de proferir alguma decisão a elas contrária, sob pena de a decisão ser nula. Ex: o juiz, mesmo que verifique de ofício a sua incompetência absoluta para a causa, não pode pronunciá-la sem antes ouvir as partes. OBS: O Princípio da ampla defesa tem relação com o contraditório no sentido de participação, de cooperação, de colaboração. 7. Fins sociais e às exigências do bem comum, proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. 8. Princípio da publicidade Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público. Trata-se de direito com duas dimensões • Interna: proteger as partes contra juízos arbitrários, dando a publicidade dos atos processuais para elas; • Externo: permitir o controle da opinião pública sobre o exercício da atividade jurisdicional, dando publicidade perante terceiros. OBS: Segrego de Justiça: Como regra o processo é público, mas o art. 189 traz algumas hipóteses em que o processo tramitará em segredo de justiça, tais como casamento, alimentos etc. Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os processos: I - em que o exija o interesse público ou social; II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. Nestes casos,o direito de acesso aos autos é mais restrito, conforme prevê os parágrafos do 189: § 1º O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus procuradores. § 2º O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e de partilha resultantes de divórcio ou separação. OBS: Ordem cronológica Art. 12. Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) O objetivo desta previsão é poder cumprir o princípio da duração razoável do processo, tendo relação, ainda, com o binômio eficiência e efetividade (a gestão do juiz como administrador do acervo do seu cartório). Importante ainda mencionar que o §2º do art. 12 exclui desta preferência algumas decisões, como as sentenças proferidas em audiência e as sentenças de improcedência liminar. Vale destacar que, na redação original do CPC15, essa ordem cronológica era impositiva, mas a Lei nº 13.256, de 2016 passou a prever que seria uma ordem “preferencial”, o que reduz um pouco a eficácia prática do dispositivo.
Compartilhar