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FUNDAÇÕES PROFUNDAS OBSERVAÇÃO: O material apresentado abaixo é parte integrante da apostila de Fundações II elaborada pelos professores: Dr. Mauro Leandro Menegotto e Msc. Sílvio Edmundo Pilz. Figura 1: Tabela para dimensionamento de Blocos; 2 1 TUBULÕES 1.1 GENERALIDADES 1.1 Definição De acordo com a NBR 6122/96 item 3.10, tubulão é: “Elemento de fundação profunda, cilíndrico, em que, pelo menos na sua etapa final, há descida de operário. Pode ser feito a céu aberto ou sob ar comprimido (pneumático) e ter ou não base alargada. Pode ser executado com ou sem revestimento, podendo este ser de aço ou de concreto. No caso de revestimento de aço (camisa metálica), este poderá ser perdido ou recuperado.” Então os tubulões diferem da estacas, porque pelo menos na etapa final há descida de operário (fig. 4.1) para completar a geometria da escavação, como por exemplo a base alargada (fig. 4.2) ou fazer a limpeza do solo. A figura 4.3 num corte longitudinal define bem um tubulão. 3 Figura 1 – Operário escavando o tubulão Figura 2 – Vista do fuste a partir da base alargada Figura 3 – Tubulão e suas partes 4 1.1.2 Vantagens dos tubulões Os tubulões quando comparados a outros tipos de fundações apresentam uma série de vantagens: a) os custos de mobilização e de desmobilização são menores que os de bateestacas e outros equipamentos, aspecto importante para pequenas obras (excetuando-se os tubulões a ar comprimido que tem utilização bastante específica); b) o processo construtivo não produz vibrações e ruídos elevados, importante em obras urbanas; c) pode-se observar e classificar o solo retirado durante a escavação e comparálo às condições de subsolo prevista no projeto; d) diâmetro e o comprimento dos tubulões podem ser modificados durante a escavação para compensar condições de subsolo diferentes das previstas; e) as escavações podem atravessar solos com pedras e matacões, sendo possível até penetrar em vários tipos de rocha; f) em regra geral, é possível apoiar cada pilar em um fuste único, em lugar de diversas estacas, eliminando a necessidade de bloco de coroamento. 1.1.3 Comentários gerais A NBR 6122 recomenda que a base do tubulão deve ser dimensionada a evitar alturas H superiores a 2 (dois) metros. Somente em casos excepcionais, devidamente justificados, admitem-se alturas maiores. Quando a base se apoia em solo, deve-se evitar que entre o término da execução do seu alargamento e a concretagem passe mais de 24 horas. Se isto ocorrer, deve ser efetuado uma nova inspeção antes da concretagem, para avaliação. Também é válido esta inspeção, se neste meio tempo ocorrer uma chuva, que pode levar detritos e lama ao fundo da escavação. 5 Quando a base se apoia em rocha, deve-se verificar a continuidade da mesma e sua inclinação. Em rochas inclinadas o assentamento da base deve ser precedido do preparo da superfície de modo a evitar o deslizamento do tubulão: Chumbamento de barras metálicas na rocha Escalonamento do fundo em superfícies horizontais Outro cuidado é com tubulões com bases assentes em cotas variáveis iniciar pelos mais profundos, passando em seguir pelos mais rasos. Deve-se evitar o trabalho simultâneo em bases alargadas de tubulões próximos, com distância, de centro a centro, seja menor que 2 , da maior base. A recomendação acima vale também para a escavação e concretagem, principalmente em casos de tubulões a ar comprimido. Devem ser tomadas todas as medidas de segurança para os funcionários, que podem ser encontradas no Manual de Especificações de Produtos e Procedimentos da ABEF – Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia, como por exemplo: Em tubulões a céu aberto devem ser mantido cobertas com estrados as escavações, sempre que houver interrupção dos trabalhos. O concreto do topo do tubulão, se não estiver satisfatório, deve ser removido Ao redor da borda do tubulão deve ser efetuado um rodapé de madeira com 20 cm de altura para impedir a queda de solo ou entulho sobre o poceiro, e as águas de chuvas devem ser desviadas por meio de valetas. 1.1.4 Tubulões não revestidos Os tubulões não revestidos devem ser executados acima do nível de água, natural ou rebaixado. Em casos em que seja possível bombear a água sem que 6 haja risco de desmoronamento ou perturbação no terreno de fundação, também é possível o tubulão. (7.8.12.1). Ainda em caso de riscos de desmoronamento da escavação, pode-se utilizar, total ou parcialmente, escoramento de madeira, aço ou concreto (7.8.12.2 nota a). A concretagem em tubulões não revestidos pode ser feita da seguinte forma (7.8.12.3): Quando a escavação é seca (acima do NA) o concreto é simplesmente lançado da superfície, através de um funil, com comprimento do tubo do funil não inferior a cinco vezes o seu diâmetro. Quando a escavação é com água o concreto é lançado através de tremonha ou outro processo de eficiência comprovada. Não é aconselhável o uso de vibrador, em virtude da possibilidade de desmoronamento da terra e mistura com o concreto. O concreto então deve ter a plasticidade adequada. 1.1.5 Tubulões revestidos Algumas observações: Em tubulão com escoramento, quando atingida a cota prevista, e se for necessário ao alargamento da base, a camisa deve ser escorada de modo a evitar a sua descida. Qualquer que seja o processo de instalação da camisa, (principalmente camisa metálica), deve ser dimensionada para possibilitar a cravação do tubo até a cota prevista, sem deformar longitudinalmente ou transversalmente. uso de tubulão a ar comprimido está ficando mais restrito em obras especiais (pontes), pois a metodologia exige uma lenta descompressão 7 do funcionário e há um rigor bastante grande por parte do Ministério do Trabalho através das Normas Regulamentadoras (NRs). 1.2 COMPORTAMENTO DOS TUBULÕES Os tubulões são empregados para transferir, ao solo, cargas verticais de compressão ou tração, bem como cargas horizontais (fig. 4.2). Figura 4 – Transferência de cargas em tubulões Para a condição de equilíbrio temos: Q + G = Qb + Qs Onde: Q = carga vertical aplicada G = peso próprio do tubulão Qb = parcela de resistência de base 8 Qs = parcela de resistência lateral Tem sido prática corrente admitir que é nula a parcela de resistência lateral ao longo do fuste e compensatória ao peso próprio. Desta forma toda a carga do pilar é transferida ao subsolo pela parcela de resistência de base. Parece razoável considerar esta hipótese em algumas situações: Em tubulões curtos Na existência de espaço circundante entre tubulão e escavação, preenchido com material mal compactado Se o material circundante for argila mole Mas de forma geral, várias provas de carga realizadas em tubulões indicam que sob baixas deformações (admissíveis) a parcela de resistência lateral, para tubulões longos, é significativa e se desenvolve plenamente, com deformações da ordem de 5 a 10 mm, independentemente do diâmetro do fuste. Mas a plena mobilização da base somente se efetiva para grandes deformações. Portanto, para a carga de trabalho o tubulão pode ter um comportamento muito diferente do previsto em projeto,caso a parcela de resistência lateral não seja considerada. 1.2.1 – DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL O projeto estrutural de tubulões em concreto, sem revestimento, é feito em 3 etapas (fig. 4.3): a) Cálculo da pressão de contato entre o pilar e o tubulão (com definição da eventual armadura de fretagem) bloco de apoio de seção reduzida armadura de fretagem. 9 b) Cálculo do fuste como elemento comprimido em concreto (simples ou armado). c) Cálculo da base alargada, com sua eventual armadura necessária (normalmente como bloco de seção plena). Figura 5 – Tubulão – corte – dimensionamento de seus componentes Figura 6 – Tubulão – planta – situação usual Db Df Cálculo da base alargada como bloco de seção plena Cálculo da s eção de contato como bloco de seção reduzida Cálculo do fuste como pilar curto Ac Ao Base alargada Fuste Pilar 10 1.2.1.1 – Pressão de contato entre pilar e tubulão A NBR 6118 – Pressão de contato em área reduzida determina que em havendo carga em área reduzida (fig. 4.4), deve ser disposta armadura para resistir a todos os esforços de tração, sempre que a possibilidade de fissuração puder comprometer a resistência do elemento estrutural. É o caso de tubulões (e blocos de coroamento de estacas). A figura 4.5 mostra os casos em que a fissuração pode comprometer a resistência do elemento e devemos dispor de armadura para combater os esforços de tração. Figura 7– Fissuração na região de contato do pilar A armadura nesta região será calculada dimensionando-se a área como bloco de seção reduzida e calculando-se assim uma armadura de fretagem. O detalhamento final do tubulão, com suas armaduras será, de maneira geral, conforme a figura 6, visto em corte: 11 Figura 8 – região de contato com pilar – armadura de fretagem 12 Figura 9 – Detalhe da armadura de fretagem 13 2 DIMENSIONAM. ESTRUTURAL ESTACAS 2.1 GENERALIDADES A capacidade de carga de uma estaca é obtida como o menor dos dois valores: a) resistência estrutural do material da estaca b) resistência do solo que lhe dá suporte Para a obtenção da resistência referente ao item b), podem-se usar os métodos de cálculo de transferência de carga, como os propostos por Aoki-Veloso, DécourtQuaresma e outros. Esses métodos foram estudados anteriormente na disciplina de Fundações 1. Se a estaca estiver submetida apenas a cargas de compressão que lhe imponham tensões médias inferiores a 5 MPa (considerando fck mínimo de 20 MPa), não haverá necessidade de armá-la; a não ser que o processo executivo exija alguma armadura. Se, porém, a tensão média ultrapassar esse valor, a estaca deverá ser armada no trecho que essa tensão for superior a 5 MPa até a profundidade na qual a transferência de carga, por atrito lateral, diminua a compressão no concreto para uma tensão inferior a 5 MPa. Cabe lembrar que a transferência de carga corresponde à parcela de atrito lateral (PL) resistida pelo solo ao longo do fuste e calculado pelo método de Aoki-Velloso, ou de Décourt- Quaresma, ou outros, como já dissemos. O dimensionamento do trecho comprimido da estaca com tensão superior a 5 Mpa ou de qualquer outro segmento da mesma, sujeito a outros esforços (tração, flexão, torção ou cortante) deverá ser feito de acordo com o disposto na norma NBR 6118, adotando-se os valores para resistência característica do concreto e os coeficientes de majoração das cargas e minoração das resistências indicados naquela norma e na NBR 6122 da ABNT. Na tabela abaixo apresenta-se um resumo dos valores propostos por essas normas. 14 No caso das estacas com revestimento metálico perdido e totalmente enterrado em solo natural, no qual o revestimento não sofra corrosão, pode-se levar em conta a contribuição da resistência desse revestimento desde que se desconte 1,5 mm sua espessura. Como, porém, o comportamento estrutural na ruptura de uma seção desse tipo de estacas é diferente do comportamento sob a ação das cargas em serviço, há necessidade de se verificar a resistência estrutural no estado limite de ruptura (quando se leva em conta a contribuição do revestimento metálico e os coeficientes indicados na tabela acima) e a resistência estrutural no estado limite de utilização (quando se despreza totalmente a contribuição do revestimento metálico e se adota 15 γf = 1 e γc = 1.3 No caso de existir base alargada, a armadura de transição entre o fuste e a base será feita apenas no estado-limite de ruptura. 2.1.1 – Dimensionamento na Compressão O cálculo estrutural de uma estaca sujeita a compressão com tensão média superior a 5 MPa é feito com base nas prescrições da NBR 6118. Segundo a NBR 6122, com exceção das estacas injetadas de pequeno diâmetro, as estacas total e permanentemente enterradas dispensam a verificação à flambagem quando em serviço. Se for constatado que a ruptura não ocorrerá por flambagem, o cálculo poderá ser feito majorando-se a carga de compressão na proporção (1 + 6/h) mas não menor que 1,1, em que h, medido em centímetros, seja o lado do quadrado inscrito na seção da estaca. A expressão a adotar será: Nd . (1 + 6/h) = 0,85. Ac . fcd + A’s . fyd em que: A armadura mínima a adotar será 0,4% A, em que A é a área da seção transversal da estaca. 16 2.1.2 – Dimensionamento na Tração Para este caso, a estaca será sempre armada, sendo a seção da armadura condicionada pela abertura máxima permitida para as fissuras. Como geralmente a taxa dessa armadura nas estacas é reduzida, podemos usar a fórmula simplificada abaixo: em que: é o diâmetro, em mm, das barras tracionadas ηb é o coeficiente de aderência, nunca superior a 1,8 . Geralmente = 1,5 Es é o módulo de elasticidade do aço, ou seja, 210.000 Mpa σs é a tensão máxima atuante no aço tracionado para garantir a abertura prefixada das fissuras (resultado em MPa). ftk é a resistência característica do concreto à tração (em Mpa), ou seja, 17 os valores de são: 1 para estacas não protegidas em meio agressivo (fissuras até 0.1 mm) 2 para estacas não protegidas em meio não-agressivo (fissuras até 0.2 mm) 3 para estacas protegidas (fissuras até 0.3 mm) 5.1.3 – Dimensionamento na Flexão Simples e Composta A flexão numa estaca pode ser decorrente de esforços devido ao manuseio e ao transporte (caso de estacas pré-moldadas) ou da própria estrutura. O cálculo das armaduras de flexão simples ou composta é efetuado na forma aprendida na disciplina de Concreto Armado 1 a 3. Cabe ressaltar que a armadura de flexão não deverá ser inferior a 0.15% A. Exemplos de aplicação podem ser encontrados no livro “Dimensionamento de Fundações Profundas” - Alonso Um aspecto importante no dimensionamento desse tipo de solicitação refere-se ao cortante. Se a estaca é de seção quadrada ou retangular, esse 18 dimensionamento não tem maiores dificuldades e é feito seguindo-se o prescrito na NBR 6118, ou seja: A armadura (Asw) é dada por sendo Vsd o cortante de cálculo na seção considerada. O cálculo da armadura é efetuado na forma aprendida na disciplina de Concreto Armado 1. 2.1.3 Exercício resolvido1 Determinar a armadura de uma estaca escavada (tipo Strauss), com diâmetro de Ø 32 cm, que está sendo submetida a tração de 16,0 tf. Para a armadura será usado Ø 12,5 mm (CA-50) e o concreto será da classe C25. Esta estaca estará colocado em meio considerado agressivo. Solução Neste caso temos uma estaca tracionada, sendo que deverá ser armada. Usaremos a fórmula geral de estaca tracionada. Para achar a área As de armadura na estaca, precisamos saber qual a tensão máxima ( σs )que podemos colocar na armadura para que as aberturas de fissuras não comprometam a durabilidade da estaca neste meio agressivo. O valor de σs deve ser isolado na equação abaixo. Cuidado com as unidades de entrada na fórmula. Verificação inicial e 19 = 1 estaca está em meio agressivo b = 1,5 (valor mais utilizado para as barras do CA-50 Es = 210.000 MPa (módulo de elasticidade do aço CA-50) Ntk = 16.000 kgf Inicialmente o valor de ftk Isolando e resolvendo σs = 166,5 MPa, logo MPa fck ftk 2 , 2 7 , 0 25 . 06 , 0 7 . 0 06 . 0 1 2 , 2 . 210000 . 3 75 , 0 ) 5 , 1 . 2 ( 5 , 12 . . 3 ) 75 , 0 2 ( 2 2 s tk s s b f E 20 Neste caso as armaduras estariam dispostas no perímetro da estaca, com cobrimento mínimo de 5 cm, e com estribos Ø 5,0 a cada 20 cm. Não há risco de flambagem das barras, pois as armaduras estão tracionadas. Esta armadura deve ser colocada em todo o comprimento da estaca, em que estará transmitindo os esforços para o solo 2.1.4 Exercício resolvido 2 Uma estaca escavada do tipo Strauss com diâmetro Ø 40 cm, foi executada num solo homogêneo em toda a profundidade e atingiu a capacidade de carga admissível de 840 kN, com 12,0 m de comprimento. A resistência de ponta foi desprezada no cálculo. Verificar a capacidade estrutural desta estaca e se necessário, armá-la à compressão. Concreto classe C20 e aço CA-50 Solução Inicialmente verificamos o nível de tensão atuante na estaca. Para isto precisamos saber a área desta estaca Ø 40 cm Ac = 1.256 cm2 A tensão atuante na estaca P/Ac = 84.000 kgf / 1.256 cm2 = 66,9 kgf/cm2 = 6,69 MPa Como a tensão atuante é maior que 5,0 MPa, precisamos armá-la. 21 Caso se optasse por fazer a estaca sem armadura (somente aços de espera) a carga máxima estrutural desta estaca seria de 50 kgf/cm2 x 1.256 cm2 = 62.800 kgf = 62,8 tf Então, apesar do solo nos permitir uma capacidade geotécnica de 84 tf, sem armadura a carga máxima nesta estaca estaria limitada a capacidade estrutural de 62,8 tf. Mas, vamos armar esta estaca e precisamos saber que armadura usar. Nd . (1 + 6/h) = 0,85. Ac . fcd + A’s . fyd lembrando que h, medido em cm, é o lado do quadrado inscrito na seção da estaca. Ver figura ao lado Neste caso h = 28,8 cm 1,4 x 84.000 kgf x (1 + 6/28)= (0,85. 1256 cm2 x 200/1,8) + (A’s x 4200 kgf/cm2) Isolando e resolvendo A’s = 5,75 cm2 Verificando armadura mínima A’s,min = 0,4% . Ac = 0,004 x 1256 = 5,03 cm2 Então A’s = 5,75 cm2 8 Ø 10,0 mm Para acharmos o comprimento de armação, precisamos saber o trecho em que a estaca está sujeita à tensão no concreto acima de 5 MPa. 22 Para esta tensão de 5 MPa a carga que atuaria é 62.800 kgf (já calculamos). A diferença que precisamos ter armadura enquanto a estaca transmite carga para o solo é de 84.000 kgf – 62.800 kgf = 21.200 kgf. Considerando que o solo é homogêneo e a estaca tem 12,0 m de comprimento para atingir a capacidade geotécnica de 84 tf, então temos que a cada metro de solo haverá uma transmissão de 7,0 tf. Para transmitir esta diferença de 21,2 tf precisamos 21,2 tf/ 7,0 tf/m = 3,03 m. Considerando ainda a ancoragem de ± 60 cm e uma espera de ± 80 cm que fica acima da estacas, para receber o bloco de coroamento, teríamos que ter armaduras com comprimento de 440 cm. Ver figura abaixo 23 2.2 – ESTACAS SUJEITAS A CARGA VERTICAL E MOMENTOS Quando dimensionamos uma fundação por estacas para um determinado pilar, levando em consideração apenas a carga vertical, todas as estacas necessárias para a transmissão da carga do pilar receberão a mesma parcela de carga Entretanto, se sobre este grupo de estacas atuar um ou dois momentos, a capacidade do grupo não mudará, mas a capacidade individual de cada estaca sofrerá um remanejamento em função da intensidade e direção dos momentos. Desta maneira poderemos calcular qual a parcela individual que cada estaca receberá, pela seguinte expressão: Onde: 24 e a convenção de sinais - Compressão e + Tração utilizando-se a regra da mão direita, para a determinação dos esforços de compressão e tração originadas nas estacas devido à flexão. Figura 5.1 – Conjunto de estacas junto a momentos fletores 2.3 – CARREGAMENTO HORIZONTAL EM ESTACAS Todas as fundações são submetidas a esforços horizontais. Porém, na maioria dos casos, os esforços verticais são dominantes. Não vamos estudar nesta disciplina todos os pormenores referentes ao carregamento horizontal em estacas. Estudos mais aprofundados de carregamento horizontal no topo e no fuste podem encontrados no livro “Dimensionamento de Fundações Profundas” - Alonso Uma das soluções normalmente adotadas quando em uma obra os esforços horizontais são de grandeza elevada e significativa é a utilização de estacas inclinadas para absorver estes esforços horizontais. 25 Os métodos mais utilizados e divulgados para calcular o estaqueamento com estacas inclinadas são: Método de Schiel utiliza a análise matricial do estaqueamento A forma de cálculo pode ser encontrada no livro “Dimensionamento de Fundações Profundas” - Alonso Método de Nökkentved é um método mais expedito, usado principalmente quando o estaqueamento é simétrico. 2.3.1 – Método de Nökkentved É um método mais expedito quando o estaqueamento é simétrico, embora também possa ser aplicado a um estaqueamento geral. Quando todas as estacas forem iguais e o estaqueamento for simétrico, como se indica na figura 5.2, a carga em cada estaca é obtida por Esta é uma aproximação a mais neste método, pois resulta que, para os esforços H, as cargas em algumas das estacas inclinadas são decorrentes de 26 suas componentes verticais. Entretanto, como os ângulos são de pequeno valor, o erro cometido também é pequeno e plenamente aceitável. Figura 10 – Conjunto de estacas junto a momentos fletores e forças horizontais 2.4 – RECOMENDAÇÕES DIVERSAS Algumas medidas construtivas durante o projeto estrutural da obra reduzem ou combatem, ou são necessários para evitar esforços parasitas com relação à esforços horizontais e momentos atuantes no estaqueamento. Pilares com uma estaca somente é recomendável que se faça um travamento de vigas baldrames nos dois sentidos ortogonalmente (fig 5.3). 27 Figura 11 – Travamento de pilar / fundação com uma única estaca Pilares com duas estacas, se torna necessário que se faça pelo menos uma viga baldrame de travamento no sentido perpendicular ao das estacas (fig. 5.4) Figura 12 – Travamento de bloco com duas estacas Pilares com 03 ou mais estacas, desde que não alinhadas não necessita de vigas baldramesde travamento. Verificar porém toda a atuação e esforços horizontais na estrutura, e neste caso os baldrames de travamento são necessário VIGA VIGA 28 Estando o centro de carga do pilar deslocado em relação ao centro de carga do estaqueamento (estaca individual ou do grupo), como é o caso de pilares de divisa, deve esta excentricidade ser resolvido por meio de recursos estruturais viga de equilíbrio 2.5 – CUIDADOS GERAIS 2.5.1 - Pilares muito próximos Quando dois pilares estão muito próximos, por questão executiva ou de ordem ecônomica, pode-se agrupar os mesmos e executar um bloco único. Neste caso o centro de carga das estacas deve coincidir com o centro de carga dos pilares. (fig 5.5). Figura 13 – Conjunto de estacas junto a momentos fletores 29 2.5.2 – Estaca perdida ou mal executada Quando ocorre de haver a perda de uma estaca durante a execução, por quebra ou dano irreparável em estacas pré-moldadas, ou por encontro de matacão ou outro problema executivo em qualquer estaca, modificam-se as posições das estacas a serem executadas. O centro de carga das estacas deve continuar coincidindo com o centro de carga do pilar ou pilares. A figura 5.6 ilustra alguns casos. Figura 14 – Soluções em situações de estacas perdidas no bloco 30 2.5.3 – Erro de inclinação de estacas O desvio de inclinação máximo permitido (desvio angular) sem a necessidade de medidas corretivas ou de verificação a estabilidade é de 1:100, de acordo com a NBR 6122. Para desvios maiores executar recursos estruturais para compensar. No caso de grupo de estacas ou tubulões, a verificação deve para o conjunto. 2.5.4 – Erro de excentricidade nas estacas A tolerância quanto a excentricidade, da execução de uma estaca, sem qualquer correção é da ordem de 10% do diâmetro da estaca ou fuste do tubulão, quando não travadas. Para desvios superiores a este, deve ser feito uma verificação estrutural, devido a nova solicitação de flexão composta. Caso o dimensionamento da estaca diante desta nova situação seja insuficiente, deve-se corrigir a excentricidade total mediante recurso estrutural (viga de equilíbrio, por exemplo). Para o caso de grupo de estacas, e a excentricidade no plano das estacas ou tubulões, deve ser verificada a solicitação nas estacas ou tubulões, admitindo- se, sem correção, um acréscimo de no máximo 15% sobre a carga admissível da estacas e de 10% na carga admissível do tubulão (fig 5.7). Acréscimos superiores a estes devem ser corrigidos mediante acréscimo de estacas ou tubulões, ou recurso estrutural 31 Figura 15 – Excentricidade devido a má locação de estacas 2.5.5 – Sequência executiva de estacas Em estacas que fazem parte de grupo, deve-se considerar os efeitos da execução destas sobre o solo Levantamento Deslocamento lateral Tais efeitos podem ser reduzidos, na medida do possível : a) Pela escolha adequada da estaca b) Espaçamento entre estacas adequado c) Técnica executiva A sequência de execução, em qualquer caso, deve ser do centro do grupo para a periferia, ou de um bordo em direção ao outro. No caso de ser contatado levantamento de estacas (fenômeno que ocorre com mais frequência em estacas pré-moldadas), deve adotar providências capaz de anular o seu efeito sobre a capacidade de carga da estaca e, eventualmente, sobre sua integridade: 32 Se a estaca for de madeira, metálica ou pré-moldada, ela deve ser recravada. Se a estaca for moldada no solo, não armada, a estaca não deve ser utilizada. O efeito de deslocamento lateral deve ser analisado em cada caso. Deve verificar os danos ao fuste por deformação horizontal. 2.6 – OBSERVAÇÕES GERAIS SOBRE ESTACAS Sobre tudo o que foi falado até agora sobre fundações, apresentamos a seguir um resumo simplificado sobre vantagens, desvantagens, características. 2.6.1 – Estacas Strauss a) Características: NSPT 20 Porém tem-se executado estacas com NSPT = 25 a 30 Ponta do tubo aberta para escavação; Encamisamento com tubo metálico recuperável; Equipamento leve e simples; Diâmetro variável – 20 a 55 cm, podendo chegar a Ø 70 cm; Capacidade de carga intermediária – 20 a 90 tf; Pouca interferência com vizinhos (não causa vibrações) soquete 300 kg 33 Comprimento e diâmetro podem ser facilmente alterado na obra. A contratação: Empresas pequenas – encarregado; Responsabilidade dividida: empresa – obra; Concreto produzido no canteiro devido ao pequeno volume ( Φ25 cm com 7,0 m de profundidade 0,4m³) Controle recomendado: Pelo próprio engenheiro – mestre ou encarregado de confiança; Comprimento especificado em projeto; Verticalidade da camisa; Acompanhamento da concretagem (retirada da camisa e apiloamento – velocidade controlada e constante); Tomada de decisões quanto a imprevistos (matacões); Material que sai da cota de fundo; Limitações: Comprimento máximo – 15 m; Não utilizável em presença de água (só quando puder garantir estanqueidade com revestimento e não for forte o fluxo de água); Pode ocorrer estrangulamento e desvio do fuste; 2.6.2 – Estaca Franki Características: NSPT = 25 Encamisamento com tubo metálico (recuperável ou perdido) Ponta do tubo fechado com bucha; 34 Equipamento pesado; Diâmetro variável – 35 a 60 cm; Capacidade de carga elevada – 50 a 170 tf. Peso do pilão – 1 a 3t grande vibração na vizinhança Desvio e estrangulamento do fuste; Comprimento – 5 a 30m. Contratação: Empresas de médio e grande porte; Responsabilidade definida; Pessoal qualificado na direção do serviço; Tomadas de decisões com consultor de fundações. Controle pela obra Amostragem durante a execução; Locação do equipamento; Velocidade de execução; Volume de concreto; Cota de ponta da estaca; Retirada da camisa. 2.6.3 – Estacas pré-moldadas Características: 35 NSPT = 20/22 Capacidade de carga intermediária : 20 a 90 tf (centrifugado); Comprimento – 3 a 10 ou 14 m /18 m (protendida); Contratação: Empresa de médio porte; Responsabilidade da empresa é bem definida em função do porte da obra fica apenas um encarregado; Vantagens Controle do material Pré-determinação e nega Estável em solos compressíveis / colapsíveis Não há problemas associados ao lençol freático Aumento no nível de tensões e densidade cravação Rapidez Desvantagens Deslocamentos podem afetar fundações vizinhas Armadura elevada – manuseio e transporte Pode sofrer danos durante a cravação Vibrações Limitações de altura de equipamento Não se pode modificar comprimento com rapidez 36 Custo elevado em terrenos muitos variáveis devido a perdas Corte da cabeça da estaca Cuidado Martelo em altura inadequada: Altura adequada – 1,0 a 1,5 m Abaixo da adequada falsa nega; Acima da adequada possibilidade de dano à estaca mas, maior rendimento 2.6.4 – Fundações Rasas Adequadas a obras de pequeno porte Cargas relativamente pequenas Terreno com capacidade de suporte baixa Simplicidade na execução; Não necessitam equipamentos; Execução pela própria obra; Não produzem abalos nosvizinhos; Vantagens para estruturas de alvenaria ou paredes portantes. 2.6.5 – Tubulões Suportam cargas elevadas; A céu aberto: simples porém lentos; Não produzem vibrações ou abalos; Permitem exame do solo retirado e inspeção da camada de apoio; 37 2.6.6 – Strauss e Franki (1) x Pré-moldadas (2) (1) Comprimento exato; (2) Pode faltar ou sobrar; (1) sem problemas de transporte; (2) comprimento limitado pelo transporte. 2.6.7 – Capacidade de carga em estacas Broca < Strauss < Pré-moldada < Franki Exemplo: Calcular as cargas atuantes nas estacas abaixo. As estacas são do tipo escavada de 50cm e tem uma capacidade de carga admissível de 750 kN (75 tf) Calcular para as três hipóteses abaixo. Caso as cargas atuantes nas estacas ultrapassem a carga admissível, efetuar em rearranjo das estacas, mantendo a quantidade de estacas utilizar para o espaçamento entre as estacas valores múltiplos de 5 cm 38 1ª hipótese: N = - 230 tf; Mx = +- 32 tfm; My = 0 2ª hipótese: N = - 230 tf; Mx = +- 32 tfm; My = 18 tfm 3ª hipótese: N = - 230 tf; Mx = +- 80 tfm; My = 0 Solução: Para a disposição inicial temos que calcular as distâncias xi e yi para cada estaca 39 E1 x1=0,75m / y1=0,75m E2 x2=0,75m / y2=0,75m E3 x3=0,75m / y3=0,75m E4 x4=0,75m / y4=0,75m Agora iremos calcular o somatório das distâncias ao quadrado. Como todas são iguais, temos: Σ xi ² = 4 x 0,75 ² = 2,25m2 Σ yi ² = 4 x 0,75 ² = 2,25m2 Agora já podemos calcular a carga atuante em cada estaca. Observar que os momentos atuantes são positivos e negativos, mas como o nosso bloco é simétrico, podemos considera somente um valor (vamos considerar os momento como positivos). Assim temos: 1 Hipótese Q1 = Q2 = −230 4 + 32 𝑥 0,75 2,25 + 0 𝑥 0,75 2,25 = - 46,83 tf Q3 = Q4 = −230 4 - 32 𝑥 0,75 2,25 - 0 𝑥 0,75 2,25 = - 68,17 tf Como as cargas atuantes em nehuma estaca ultrapasam a admissível (75tf) então OK!, o arranjo inicial atende para esta hipótese de carregamento 40 2ª Hipótese As distâncias e os somátórios dos quadrados das distâncias são os mesmos, então: Q1 = −230 4 + 32 𝑥 0,75 2,25 + 18 𝑥 0,75 2,25 = - 40,83 tf Q2 = −230 4 + 32 𝑥 0,75 2,25 - 18 𝑥 0,75 2,25 = - 52,83 tf Q3 = −230 4 - 32 𝑥 0,75 2,25 + 18 𝑥 0,75 2,25 = - 62,17 tf Q4 = −230 4 - 32 𝑥 0,75 2,25 - 18 𝑥 0,75 2,25 = - 74,17 tf Como ainda as cargas atuantes não são maiores que a admissível OK!, o arranjo inicial atende para esta hipótese de carregamento 3 Hipótese As distâncias e os somátórios dos quadrados das distâncias são os mesmos, então: Q1 = Q 2 = −230 4 + 80 𝑥 0,75 2,25 = - 30,83 tf Q3 = Q 4 = −230 4 - 80 𝑥 0,75 2,25 = - 84,17 tf Para esta situação temos cargas atuantes maiores que a capacidade da estacas Temos que rearranjar as distâncias estacas no bloco 41 1 Tentativa Considerar a distância passando de 0,75 m para 0,95 m. Como My = 0 não precisamos de Σ xi² Σ yi² = 4 * 0,95 ² = 3,61 m² Q1 = Q 2 = −230 4 + 80 𝑥 0,95 3,61 = - 36,45 tf Q3 = Q4 = −230 4 - 80 𝑥 0,95 3,61 = - 78,55 tf Ainda temos que as cargas atuantes são maiores que a capacidade das estacas 2 Tentativa Consideramos agora 1,15 m Σ yi² = 4 * 1,15 ² = 5,29 m² Q1 = Q 2 = −230 4 + 80 𝑥 1,15 5,29 = - 40,11 tf Q3 = Q4 = −230 4 - 80 𝑥 1,15 5,29 = - 74,89 tf Agora sim, atende as condições! 42 3 BLOCOS DE COROAMENTO DE ESTACAS 3.1 – BLOCOS SOBRE ESTACAS – CONSIDERAÇÕES INICIAIS Em princípio, os blocos de fundação devem ser peças suficientemente rígidas para que sua deformabilidade não afete os esforços atuantes na superestrutura nem no próprio terreno de fundação. Para isto, a altura do bloco deve permitir a transmissão direta da carga, desde a base do pilar no topo do bloco até o topo das estacas na base do bloco, por meio de bielas comprimidas (fig 6.1). Figura 16 – Inclinação das bielas comprimidas Admite-se que essa possibilidade exista desde que as bielas fiquem inclinadas de ângulo não inferior a arctg ½ em relação à horizontal. Todavia, por segurança, recomenda-se que o bloco tenha altura suficiente para que a estaca mais afastada não exija biela com inclinação menor que arctg 2/3 em relação à horizontal. Desse modo, as bielas mais 43 abatidas ficam com inclinação na faixa entre arctg 2/3 e arctg 1, conforme vemos na figura anterior. A inclinação das bielas pode ser determinada pela reta que une o centro da estaca ao ponto convencional da seção da base do pilar mostrado na figura 6.2, correspondente a uma distribuição aproximadamente equilibrada da carga do pilar pelas deferentes estacas. Este ponto de referência é tomada a uma distância de 0,25 da medida da face do pilar no sentido referenciado Figura 17 – Distância entre pontos de reações nas estacas 3.2 – ANCORAGENS DE ARMADURAS DOS PILARES Nos blocos que suportam pilares submetidos à compressão centrada, todas as barras da armadura longitudinal do pilar estão submetidas ao mesmo nível de tensões e sua ancoragem se dá essencialmente na região superior do bloco, sob a ação da compressão transversal das bielas diagonais, figura abaixo. Todavia a altura do bloco deve permitir que as barras de armadura do pilar tenham pelo menos o comprimento 0,6 lbo dentro do bloco (fig. 6.3). 44 Figura 18 – Ancoragem da armaduras dos pilares no bloco De qualquer modo, a armadura do pilar será sempre prolongada até o fundo do bloco, apoiando-se durante a construção por meio de dobras sobre a armadura horizontal do fundo do bloco. Para garantir a posição da armadura de arranque do pilar durante a concretagem, os estribos do pilar são colocados até o fundo do bloco (figura 6.3). No caso de pilares com pequena excentricidade de carga, a figura 6.4 mostra como se dá o equilíbrio de esforços internos. Note-se que na armadura horizontal do bloco as forças RS1 e RS2 em princípio podem ser iguais. As forças RC1 e RC2 nas bielas diagonais ajustam-se por suas inclinações para garantir o equilíbrio vertical dos nós correspondentes a estacas com diferentes reações de apoio. Figura 19 – Pequena excentricidade no conjunto 45 A figura 6.5 está mostrando o equilíbrio de esforços internos quando o pilar está submetido a grande excentricidades de carga, mas a posição da resultante das cargas ainda fica entre as estacas. Figura 20 – Grande excentricidade no conjunto Já, na figura 6.6, mostra-se o caso particular em que uma das estacas tem reação nula e na figura 6.7 quando uma das estacas já está submetida a reações negativas. 46 Figura 21 – Excentricidade com estaca com reação nula Figura 22 – Excentricidade gerando reação negativa 47 Casos particulares de blocos de coroamento Blocos sobre 1 estaca Blocos sobre 2 estaca Blocos sobre 3 estaca serão estudados durante os exercícios, com o formulário já desenvolvido para estes casos, a partir do método dasbielas. 3.3 BLOCO DE COROAMENTO DE 1 ESTACA Figura 23 – Bloco de 1 estaca – esquema geral 48 3.4 BLOCO DE COROAMENTO DE 2 ESTACAS Figura 24 – Bloco de 2 estacas – esquema geral 49 d’ ≥ 0,15 Øe (minímo 10 cm) ; b’ ≥ 10 cm B = Øe + 2b’ ; L = e + Øe + 2b’ O valor entre a semi-carga (P/2) e a reação na estaca (P/2) está de acordo com a teoria das bielas. Então a altura do bloco deve ser: d’ ≥ 0,5 (e – 0,5.b) 50 Observações: 1) Se a altura do bloco for menor que 0,5 (e – 0,5.b) , o bloco deve ser calculado como uma viga de vão “e” e largura “B” e altura “H” e altura útil “d”. Verificar deformações nesta viga 2) Quando temos excentricidade elevada (ou a resultante da carga vertical com um momento atuante) resultar em carga negativa numa estaca (tração), As2 deve ser calculado passando-se uma seção de referência a 0,25.b, calculando se o momento atuante e determinar a armadura como se fosse uma viga. 3) É obrigatório a colocação de uma viga de travamento, ortogonal ao bloco (ortogonal a medida “L”), capaz de resistir ao momento M = P . Øe/10. Este momento deve ser considerado positivo/negativo, resultando armadura longitudinal simétrica nesta viga. Também deverá ser verificada esta viga a flexão, em função do seu vão e eventual carregamento extra. 51 4 FUNDAÇÕES MISTAS 4.1 – INTRODUÇÃO Nos projetos convencionais de fundações profundas, a contribuição dos blocos na transferência das cargas ao solo tem sido totalmente desprezada. A idéia de se levar em conta a contribuição dos blocos nos projetos de fundações por estacas foi proposta pela primeira vez, há mais de 45 anos, por Kishida e Meyerhof (1965). As primeiras análises racionais desse tipo de fundação foram feitas por Poulos (1968). Hoje em dia, esse tipo de fundação vem tendo crescente aceitação em todo o mundo diante das suas características extremamente atraentes de segurança, economia e rapidez. Isso não significa que não haja ainda uma certa desconfiança quanto ao funcionamento desse sistema, principalmente pela pouca divulgação de seus princípios de funcionamento. Porém, “contra factus non valit argumentum”, como diziam os antigos romanos, ou seja, “contra fatos não valem argumentos”. Um dos edifícios mais alto da Europa, o Messe Turn, com 250 m de altura, cuja construção terminou em Frankfurt em torno de 1993, tem suas fundações constituídas por “radiers” estaqueados, onde as cargas estruturais são distribuídas ao solo tanto pelas estacas quanto pelo radiers. Entre os edifícios mais altos do mundo, com 450 m de altura, o Petrona Towers, em Kuala Lampur, na Malásia, têm também suas fundações constituídas por radiers estaqueados. 52 4.2 – TIPOS DE FUNDAÇÕES MISTAS Designa-se aqui por fundações mistas aquelas compostas por dois elementos, um vertical e um horizontal. A transferência das cargas estruturais ao solo se faz por três maneiras: ao longo do fuste e da ponta do elemento vertical como nas estacas convencionais e também pelo seu topo, como nas fundações rasas. Em função da proporção das cargas transferidas por cada elemento, duas situações típicas são definidas. 4.2.1 – Fundações Basicamente Profundas Diante das características do terreno, as fundações são projetadas basicamente em estacas. Não se despreza porém a contribuição do elemento horizontal, o que faz com que o número total de estacas possa vir a ser reduzido. Essa redução é tipicamente de 20 a 40%. A rigidez do conjunto, entretanto, pouco difere da rigidez do grupo de estacas. 4.2.2 – Fundações Basicamente Rasas O terreno superficial é de qualidade razoavelmente boa, sendo os coeficientes de segurança de fundações rasas perante a ruptura do solo plenamente satisfatórios. Porém, ou por motivo de espaço físico para a implantação das sapatas ou por receio de que os recalques totais e/ou diferenciais possam vir a ser elevados, algumas poucas estacas são colocadas sob o “radier” ou sob as sapatas (elementos horizontais), com o objetivo único da redução dos recalques. Nesses casos , o número de estacas a ser utilizados é pequeno, tipicamente três a quatro vezes menores do que o correspondente à alternativa em fundação profunda convencional, ou seja, as reduções são da ordem de 65 a 75%. A rigidez da fundação é nesses casos substancialmente aumentada. A estaca-T apresentada adiante é um caso particular extremamente importante desse tipo de solução, onde a fundação de um pilar é composta por um único elemento vertical (estaca convencional) associado a um elemento horizontal (sapata). 53 4.2.3 – Sapatas Estaqueadas A utilização de sapatas estaqueadas começou a ser intensamente utilizada no Brasil ao final de 1992. As duas soluções desse tipo já em uso são a seguir apresentadas. 4.3 – ESTACAS E SAPATAS COM CONTATO FÍSICO. 4.3.1 – Fundações tipo Estaca-T - Generalidades Essas fundações são formadas a partir de um elemento vertical único, em geral um fuste de estaca de concreto armado e de um elemento horizontal, designado por topo, normalmente concretado na obra. A ligação entre o elemento horizontal e o vertical é feita de modo tal que, idealmente, apenas esforços verticais de compressão sejam transferidos ao elemento vertical (estaca convencional). O elemento horizontal simplesmente se apoia sobre a cabeça do elemento vertical, sem que haja qualquer tipo de engastamento. Esforços horizontais e momentos fletores são pois transferidos diretamente ao solo pelo topo. Na figura 7.1 é apresentada de forma esquemática uma fundação tipo Estaca-T. A conceituação de segurança é totalmente diversa da utilizada para estacas isoladas. Contrariamente ao caso dessas últimas, onde a ruptura frágil é a regra geral, a fundação tipo Estaca-T é, praticamente, impossível de sofrer ruptura por plastificação do solo (ruptura geotécnica). Se a carga aplicada à estaca atingir valores superiores dos previstos o que irá ocorrer será apenas um recalque adicional, de proporção relativamente moderada, jamais uma ruptura plena. 54 Análises numéricas assim como de casos de obras indicam que para fundações bem projetadas, a carga de trabalho do elemento vertical corresponderá a cerca de 80% de sua carga última, determinada da maneira tradicional. O maior cuidado nesses casos é garantir-se que a carga transferida ao elemento vertical não irá superar sua carga admissível estrutural. Daí o fato de dar-se preferência a elementos verticais de elevada resistência estrutural. Ao contrário das estacas convencionais onde o solo é, via de regra, o elo mais fraco da corrente, aqui o risco maior seria de o elemento vertical vir a receber cargas muito superiores às previstas e assim se tornar o elemento mais vulnerável do conjunto. Um bom projeto avaliará a carga “máxima” possível de ser transferida ao elemento vertical e o dimensionará estruturalmente para esse nível de solicitação. Os controles rotineiramente disponíveis no caso de estacas pré-moldadas cravadas, tais como medidas de repique, medidas com o PDA (Pile Driving Analyser) e as provas de cargas dinâmicas, poderão ser acionados para uma verificação de campo da capacidade de carga geotécnica do elemento vertical. O requisito básico para o sucesso desse novo tipo de fundação é que o terreno sob o topo tenha características de resistência e de compressibilidade superiores a um certo mínimo.De uma maneira geral, solos com valores de Neq (N equivalente do STP-T) Figura 25: Fundação em estaca T 55 iguais ou superiores a cerca de seis, permitem a utilização vantajosa desse tipo de fundação. 4.3.2 – Processo Simplificado para o Dimensionamento de Fundação tipo Estaca-T De uma forma simplificada, porém suficientemente correta para ser utilizada com sucesso na prática da engenharia, essa fundação pode ser dimensionada como segue: a) Com base no SPT-T ou em outro ensaio qualquer julgado adequado, é feita a avaliação da capacidade de carga da estaca convencional. b) Admite-se, a favor da segurança, que 70% dessa capacidade de carga seja mobilizada para recalque de seu topo de 15 a 20mm. c) Tipicamente uma estaca (ou eventualmente mais de uma) é selecionada e seu topo é projetado como um misto de bloco de coroamento e fundação rasa. A carga líquida a ser suportada pelo topo é admitida igual a carga nominal do pilar menos a carga suportada pela (s) estaca (s), aproximadamente 70% de sua carga de ruptura. 4.4 – ESTACA(S) E SAPATA SEM CONTATO FÍSICO. 4.4.1 – Fundações Tipo “Estapata” Trata-se de um outro tipo de fundação que utiliza simultaneamente sapatas e estacas. A semelhança entre esses dois tipos de fundações é, porém, apenas aparente. No projeto de uma fundação tipo “Estapata” é feita a previsão dos recalques das sapatas, por exemplo 20mm. É cravada estaca no local da sapata e deixa-se sobre a mesma um disco de isopor de espessura igual à do recalque calculado. Esse disco impede o contato físico entre a estaca e a sapata. Contato físico somente virá a ocorrer caso o recalque supere o calculado. Nesse caso, e somente nesse caso, a estaca passará a atuar, como que freando a evolução do recalque. 56 Figura 26 – Fundação tipo estapata A vantagem desse tipo de fundação sobre as fundações rasas convencionais é a garantia que recalques muito maiores do que os previstos não irão ocorrer. 57 5 RADIER (transcrito da coluna “Como construir” da revista Téchne da autoria do Eng. Yopanan Conrado P. Rabello 5.1 - INTRODUÇÃO São bem conhecidos por todos nós os prejuízos que a auto-medicação pode provocar a saúde, podendo mesmo nos levar à morte. Esse lembrete tem o intuito de alertar para a indispensável necessidade de se ter sempre a orientação de um consultor de solos quando tratarmos de assuntos relativos à mecânica dos solos. Mas, a exemplo da auto- medicação, como ninguém vai ao médico só porque sentiu o estômago pesado após uma farta refeição, há na nossa área situações corriqueiras que envolvem dúvidas que uma boa dose de experiência é suficiente para dirimir. É dentro desses limites que este artigo foi escrito. A norma brasileira define o radier como uma sapata associada que abrange todos os pilares da obra. Em outras palavras, o radier é um tipo de fundação direta ou rasa composta por uma única placa de concreto armado no qual se apoiam todos os pilares e paredes da estrutura. As cargas são distribuídas diretamente ao solo, normalmente nas primeiras camadas, de forma que as tensões originadas, sejam inferiores, ou no máximo iguais, àquelas suportadas pelo solo. 5.2 - APLICAÇÕES DO RADIER Em princípio, o radier pode ser utilizado em qualquer tipo de solo, dos menos aos mais resistentes; nos solos menos resistentes é que encontramos uma utilização mais freqüente, já que o radier é uma fundação que, pela sua característica monolítica, pode minimizar os efeitos dos recalques diferenciais. A opção pelo radier pode se dar também pela maior facilidade de execução: pode ser uma placa única, não exige execução de fôrmas e armações mais complicadas, como aquelas que são feitas quando usamos vigas-baldrames e sapatas isoladas. A fôrma do radier é executada apenas com sarrafos laterais e a armação é constituída de uma 58 simples malha, com barras igualmente espaçadas nas duas direções. É possível, ainda, optar pelo radier em obras em que a execução de uma fundação em estacas, ou a execução de escavações profundas pode pôr em risco a integridade de edifícios vizinhos. Em edificações de pequeno porte, em que a placa de fundação tem espessura ligeiramente superior ao contrapiso, o sistema também apresenta vantagens. O radier é uma solução de fundação mais cara que as sapatas isoladas e corridas, pois tende a consumir um volume maior de concreto. Entretanto, há estudos que mostram que o custo do radier diminui com o aumento do número de pavimentos do edifício e que, a partir de edifícios com sete andares, seu custo pode ser inferior ao daquelas sapatas (corridas e isoladas), dependendo, obviamente, do tipo de solo e das características da estrutura. De qualquer modo, o radier será sempre mais econômico quando a soma das cargas da estrutura, dividida pela taxa admissível do solo, exceder à metade da área a ser edificada. Para melhor vizualização dessa variação de custos, observe o gráfico apresentado na figura 8.1, extraído do livro “O custo das decisões arquitetônicas”, do engenheiro Juan Luis Mascaró. Variação do custo das sapatas isoladas e contínuas em relação às cargas transmitidas pelos pilares ao sistema de fundação Figura 27 – Variação do custo de fundações diretas em função do número de andares 59 O radier para pequenos edifícios, com residências térreas ou assobradadas, ou mesmo para habitações populares, é muito comum, apesar de o custo inicial ser mais elevado. As vantagens, como a facilidade de execução e a possibilidade de se adaptar aos mais diferentes tipos de solo, já foram assinaladas anteriormente. Abaixo é apresentado um quadro para escolha do tipo de fundação, de autoria de Goodman e Karol, no qual podemos ver a presença constante do radier como solução técnica adequada para as mais variadas condições de solo. Nas regiões litorâneas é freqüente encontrar situações de solo bastante desfavoráveis, com a presença de argila marinha e nível de água elevado. Nesta situação, quando tratamos de obras de pequeno porte, o radier pode ser a única solução técnica e economicamente viável. O radier deverá assentar-se sobre uma camada de solo de melhor qualidade que a natural, obtida pela troca de solo numa camada de aproximadamente 1 m de profundidade, ou pela colocação sobre o terreno natural de uma camada de solo mais resistente, de mesma profundidade. Em ambos os casos, os solos deverão ser compactados, pelo menos, com a passada constante do trator sobre camadas em torno de 30 cm de espessura. A troca de solo é uma solução mais eficaz, porém mais dispendiosa. Uma saída não muito comum, mas bastante eficiente, é a melhoria da capacidade do solo pelo seu confinamento em um anel externo à área de apoio do radier, executado em alvenaria estrutural ou concreto armado (Figura 8.2). 60 Figura 28 – Radier sobre solo melhorado - confinado 5.3 - COMPORTAMENTO DO RADIER As cargas que atuam sobre o radier são distribuídas ao solo originando tensões. O solo reage aplicando sobre o radier um carregamento de igual intensidade (figura 8.3). Nestas condições, o radier passa a receber o carregamento devido à reação do solo, comportando-se como uma laje de piso invertida, “apoiando-se” nos pilares que estão sobre ele (figura 8.4). Figura 29 – Tensões geradas no solo pelo radier 61 Figura 30 – Comportamento do radier como laje invertida Note-se que os esforços são idênticos aqueles que acontecem nas lajes, ou seja, momentos fletorese forças cortantes, só que ao contrário. Sabemos que nas lajes normais, as armações junto dos apoios (armações negativas) são colocadas na face superior das vigas e lajes e as armações nos vãos (armações positivas), na face inferior. No radier, isso tudo fica ao contrário. Armações no meio da laje são colocadas na face superior e assim por diante. Essa observação talvez seja óbvia para muitos, mas o desconhecimento de tal fato pode provocar a total inversão do posicionamento das armaduras na obra, prejudicando o desempenho da fundação (figura 8.5). 62 Figura 31 – Posicionamento correto de armadura em radier Como o radier se comporta como uma laje de piso invertida, todas as possibilidades de estruturação de lajes valem para o radier. Assim, poderemos ter radiers com lajes maciças “apoiadas” diretamente sobre os pilares ou paredes (lajes cogumelo), veja figura 8.6. A opção por uma dessas soluções depende de fatores técnicos e econômicos. 63 O radier formado por lajes e sem vigas (cogumelo) é muito mais simples de ser executado, mas em contrapartida é menos rígido e mais sujeito a recalques diferenciais. As soluções de radiers com vigas no contorno das lajes terão nervuras ou não, dependendo dos vãos entre vigas. Quando crescem os vãos, pode-se economizar no volume de concreto, utilizando as soluções nervuradas e em grelhas. O radier torna-se mais econômico quando o utilizamos como contrapiso do pavimento térreo. Para isso, devemos executar a laje ao nível do piso acabado, o que nem sempre é possível devido às características do solo (figura 8.7). Figura 32: Sistemas estruturais usuais com pilares 64 Figura 33 – Radier juntamente como contrapiso Para que a distribuição de tensões no solo seja uniforme, o que é sempre desejável para que se minimizem os efeitos de recalques, o centro de gravidade do radier deverá coincidir com o centro de gravidade das cargas. Daí ocorre de nem sempre o centro do radier encontrar-se no centro do edifício. Esta condição é mais necessária quanto pior for o solo (figura 8.8). Figura 34 – Coincidir centro de carga pilares com centro de gravidade do radier 65 Apesar de o radier ser uma solução aplicável a qualquer tipo de solo, para um melhor comportamento é aconselhável que os solo de fundação se apresente em camadas de altura aproximadamente constante e de características uniformes ao longo do terreno. 5.4 - O USO DE RADIER EM PEQUENAS OBRAS Apesar de, em princípio, o radier ter um custo maior que o de sapatas isoladas e corridas, é por sua facilidade construtiva, sua adaptação a quase todos os tipos de solo e sua maior rigidez que ele é muito utilizado em pequenas obras, inclusive naquelas voltadas para habitações populares. Quando a solução da superestrutura prevê o uso de pilares para a transmissão das cargas à fundação, a melhor solução de radier é a de laje maciça com vigas no contorno, mais econômica e mais rígida que a do tipo cogumelo. Para que se evite a torção nas vigas periféricas ao radier, é recomendável que a laje avance aproximadamente 50 cm além da face externa da viga, como mostra a figura 8.9. No caso de a solução de a superestrutura ser em alvenaria estrutural, a melhor solução do radier é de laje maciça sem viga, o que contribui para a simplificação da sua execução. Esta é a solução usada freqüentemente nas fundações de conjuntos habitacionais, construídos, inclusive, pelo sistema de mutirão. Como no caso anterior, é recomendável que a laje do radier avance 50 cm além da alvenaria periférica. Figura 35 – Avanço do radier para evitar torção na viga periférica 66 Para que o radier possa ser coerente com as dimensões do pequeno edifício, é necessário que as lajes que o constituem tenham vãos de no máximo 4,0 m. Ou seja, que as paredes, vigas e pilares que constituem o edifício não estejam muito acima deste limite (Figura 8.10). Figura 36 – Vãos ideais para solução em alvenaria estrutural Para a execução do radier, o terreno deve ser nivelado e sobre ele espalhada uma camada de pelo menos 5 cm de brita nº 2 bem compactada. Sobre essa brita deve ser lançada a armação, constituída de malha de aço feita no local ou na forma de tela soldada. A espessura de recobrimento da armação deverá ser garantida por espaçadores industrializados ou feitos de argamassa na própria obra. Quanto ao posicionamento das telas de armaduras, temos duas opções: a) Telas duplas locadas na face superior e inferior da laje, absorvendo os momentos fletores negativos e positivos, respectivamente (figura 8.11); b) Tela locada no meio da espessura da laje, ora absorvendo momento negativo, ora positivo (figura 8.12). Malhas Cobrimento 67 Figura 37 – Radier com dupla armadura A primeira solução (telas duplas) apresenta como vantagem uma redução na espessura da laje e um comportamento mais adequado do radier junto à fissuração; como desvantagem, um maior consumo de armação e mais dispêndio de mão-de-obra. A segunda possibilidade resulta um radier mais espesso, pois é preciso manter a altura útil (distância entre o centro de gravidade da armadura e a fibra mais comprimida do concreto) para a absorção dos momentos fletores. A vantagem dessa solução é o menor consumo de armação e economia de mão-de-obra. Tem como desvantagem o maior consumo de concreto e maior possibilidade de fissuração da placa (figura 8.12). Figura 38 – Radier com armadura simples Na região das instalações de esgoto, o radier não deverá ser executado, de forma a possibilitar fácil acesso à canalização quando de sua manutenção (figura 8.13). Quanto à impermeabilização, procede-se como na forma tradicional. No caso de solos coesivos (argilas), é necessário que haja uma drenagem perfeita sobre o lastro de brita. O uso de uma lona plástica sob o radier, colocada antes da sua concretagem, seria uma solução quase perfeita, não fosse a possibilidade de essa lona sofrer danos durante execução do radier, o que prejudicaria sensivelmente seu desempenho. 68 Região não executada para posicionamento das instalações Figura 8.13 – Região dos esgotos em radier É bom lembrar, ainda, que sendo o radier uma fundação direta, devemos sempre evitar interferências com fundações profundas, mesmo em se tratando de simples brocas manuais. As fundações diretas e profundas tendem a ter comportamentos diferentes quanto à intensidade de recalques; portanto, o uso simultâneo de fundações diretas e profundas, em vez de criar reforço de uma em outra, tende a provocar recalques diferenciais que podem ser prejudiciais para a superestrutura. Quando for inevitável a ocorrência de soluções diferentes de fundação numa mesma obra, devem ser previstas juntas nas fundações e na superestrutura que permitam o trabalho diferenciado das diferentes partes da obra, sem consequências negativas para a superestrutura. 5.5 – PRÉ-DIMENSIONAMENTO DO RADIER Para um rápido pré-dimensionamento da espessura e da armação a ser usada nos radiers dos pequenos edifícios, podem usar a fórmula empírica apresentada abaixo. d = 3,5 + n√𝑒 cm e Af = 0,33 x d Onde: d = espessura do radier (em cm) n = número de pavimentos (máximo n = 3) e = espaçamento máximo entre paredes do edifício (em metro) 69 Af = área da armação para malha dupla (faces superior e inferior).Exemplo: espaçamento entre paredes = 3,0 n número de pavimentos = 1 d = 7,5 + 1√3 cm d = 8,0 cm Af = 0,33 x 8,0 = 2,6 cm²/m ( 6,3 mm C/ 14) 5.6 - CÁLCULO EXATO DO RADIER Em princípio, não existe um cálculo preciso do radier, já que a interação entre o radier e o solo é pouco conhecida. Entretanto, existem alguns métodos que fornecem resultados bastante confiáveis. Infelizmente, o espaço aqui disponível não nos permite discorrer sobre eles. Por isso, para aqueles que desejarem conhecer com maior profundidade esses métodos de cálculo, sugerimos consultar o livro “Tratado de Concreto Armado”, de A. Guerrin, volume 2, páginas de 150 a 178. 5.7 - CUIDADOS NA EXECUÇÃO E CONTROLES Um dos cuidados mais importantes com a execução do radier é semelhante ao que temos com a execução de uma laje maciça – a manutenção do correto posicionamento da armação em relação à seus espaçamentos e recobrimentos e a regularidade na espessura de concreto da placa. Para o controle dos espaçamentos recomenda-se a utilização de um gabarito. Para um trabalho de maior qualidade sugere-se o uso de telas soldadas. O controle da espessura do radier pode ser feito com o uso de gabaritos, mas a condição para uma boa regularidade é o adequado nivelamento do solo-base do radier. O uso de uma fina camada de concreto magro desempenada e nivelada, executada com os mesmos cuidados com que são executados os contrapisos, apesar 70 de encarecer a execução, apresenta um ótimo resultado, tanto na regularidade da espessura da placa quanto na melhoria da interação entre ela e o solo. Outros cuidados devem ser reservados às condições do solo sob o radier, a começar pela sua adequada compactação. Seria desejável um controle tecnológico dessa compactação; entretanto, como nem sempre isso é possível, alguém com experiência na área deverá ser consultado, para opinar sobre a qualidade da compactação, mesmo que utilizando métodos empíricos de avaliação. Deverá ser afastada qualquer possibilidade de infiltração de água que possa carrear o solo sob o radier, descalçando-o, ou provocar expansão do solo, situações que poderão introduzir esforços danosos ao radier. Uma das medidas para evitar a percolação da água, desviando-a, é proteger o entorno do radier com revestimento impermeabilizante, como calçadas e canaletas. Uma situação que requer muita atenção é a execução do radier próximo a taludes. Para evitar danos ao comportamento do radier, é necessário garantir a total estabilização do talude, ou mesmo a execução de arrimo. Quando isso não for possível, deverá ser previsto um afastamento adequado entre o radier e a crista do talude, para que qualquer desestabilização deste não comprometa o radier. Quanto à concretagem e ao adensamento da placa, deverão ser seguidos todos os procedimentos normais da boa execução de estruturas de concreto, tais como: Vibrar o concreto, nunca a armação, para evitar a desagregação do concreto junto da armação, prejudicando a aderência entre os dois materiais; Manter a umidificação da superfície de concreto, regando-a nos primeiros dias de cura, para minimizar os efeitos da retração; Evitar que chuvas fortes atinjam a superfície do concreto recém lançado, para que o cimento não seja lavado, alterando a resistência do concreto. Na eventualidade da aproximação de uma tempestade, a superfície da placa deverá ser protegida com lona plástica ou material similar. A superfície do radier deverá receber o acabamento adequado ao tipo de revestimento final a se aplicado. Todos os procedimentos normais utilizados para uma boa execução de piso deverão ser observados. 71 Condições do subsolo Possibilidade de fundação Estruturas leves, flexíveis Estruturas pesadas rígidas Camada resistente à pequena profundidade Sapatas ou blocos 1. Sapatas ou blocos 2. Radier raso Camada compressível de grande profundidade 1. Sapatas em solo não coesivo previamente compactado 2. Radier raso 3. Estacas flutuantes 1. Radier profundo com eventual estrutura de enrijecimento 2. Estacas de grande comprimento 3. Estacas flutuantes Camadas fracas sobre camadas resistentes 1. Estacas de ponta 2. Sapatas ou blocos em solo não coesivo previamente compactado ou pré-carregado 3. Radier raso 1. Estacas de ponta ou tubulões 2. Radier profundo Camada resistente sobre camada fraca 1. Sapatas ou blocos 2. Radier raso 1. Radier profundo 2. Estacas de grande comprimento ou tubulões, atravessando a camada fraca Camadas fracas e resistentes alternadas 1. Sapatas ou blocos 2. Radier raso 1. Radier profundo 2. Estacas ou tubulões com apoio numa camada resistente 72 73 74
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