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Soraia Cristina Tonon da Luz Janeisa Franck Virtuoso Tuany Pereira Maria Puhlmann Mariana Veras Coan Ana Paula Krüger Gesilani Júlia da Silva Honorio São Paulo 1ª Edição - 2011 Educação Perineal Progressiva E.P.P 2 Copyright ©2011 – Todos os direitos reservados a: Soraia Cristina Tonon da Luz Janeisa Franck Virtuoso Tuany Pereira Maria Puhlmann Mariana Veras Coan Ana Paula Krüger Gesilani Júlia da Silva Honorio ISBN: 978-85-7893-973-1 1ª Edição Agosto 2011 Direitos exclusivos para Língua Portuguesa cedidos à Biblioteca24horas, Seven System International Ltda. Rua Luís Coelho 320/32 Consolação São Paulo – SP – Brasil CEP 01309-000 (11) 3259-4224 leitor@biblioteca24horas.com Vendas: www.biblioteca24horas.com Todos os direitos reservados. Nenhuma parte do conteúdo deste livro poderá ser utilizada ou reproduzida em qualquer meio ou forma, seja ele impresso, digital, áudio ou visual sem a expressa autorização por escrito da Biblioteca24horas sob penas criminais e ações civis. Educação Perineal Progressiva E.P.P 3 Benefício Adicional Gratuito Ao adquirir ou receber este livro, o leitor ganha o direito a uma licença de uso (disponibilizada na penúltima página deste livro) no portal www.biblioteca24horas.com, por tempo pré-determinado, através de login (pessoal e intransferível) com os seguintes benefícios: Acesso ao Formato Digital – Acessar e ler este livro no seu formato digital via internet, através de navegador comum, por um período acumulado de (o total de tempo de 5 minutos X quantidade de páginas) minutos e/ou por um prazo máximo de 90 dias, a serem contados do primeiro acesso. Este benefício será válido até a data de vencimento da licença de uso em 30/12/2011. O autor reserva-se o direito de atualizar constantemente o conteúdo deste livro e/ou do conteúdo fornecido via internet sem prévio aviso. Copyright © 2011 - Todos os direitos referentes aos Benefícios Adicionais Gratuitos são reservados à Biblioteca24horas Seven System International. Educação Perineal Progressiva E.P.P 4 Educação Perineal Progressiva E.P.P 5 Agradecimentos A Deus pelo dom da vida, por seu amor incondicional, por sua infinita luz que nos guia para a evolução espiritual. Aos nossos familiares pelo amor, dedicação e apoio emocional em todos os momentos. Aos nossos amigos e colegas que nos incentivaram durante nossa jornada na área de uroginecologia. Obrigada pelas palavras de apoio. Aos nossos mestres que plantaram uma semente em nossos corações e que hoje floresce e brilha com a conclusão deste livro. Obrigada pelos ensinamentos. À Universidade do Estado de Santa Catarina que proporcionou a realização do projeto de extensão Fisioterapia Aplicada à Incontinência Urinária e fomentou as bolsas estimulando os alunos a participarem das atividades práticas. Aos profissionais da Maternidade Carmela Dutra, onde o projeto é realizado, pelo apoio à nossa iniciativa de proporcionar atendimento fisioterapêutico para mulheres com incontinência urinária. À todas as pacientes que foram ou estão sendo atendidas em nosso ambulatório de fisioterapia. Vocês foram nossa grande fonte de inspiração. Educação Perineal Progressiva E.P.P 6 Ao Estúdio fotográfico R&K, nas fotógrafas: Renata Kinderman e Adriana Bett Ribeiro Cataneo pela execução das fotos com precisão e paciência. Ao desenhista Dyogo Venicio da Costa e Souza pela execução da arte das figuras e da capa deste livro. Muito Obrigada! Educação Perineal Progressiva E.P.P 7 Prefácio O grande avanço científico relacionado à propedêutica da incontinência urinária permitiu melhor acesso ao tratamento adequado de mulheres que convivem com o desconforto higiênico e social causado pela perda involuntária de urina. A adequada assistência, nestes casos, envolve um trabalho multidisciplinar no diagnóstico e tratamento destas pacientes. A fisioterapia do assoalho pélvico se consolida como tratamento primário na incontinência urinária de esforço, eliminando potenciais riscos cirúrgicos inerentes às abordagens invasivas. Nesta obra, as autoras propõem um conjunto de exercícios específicos para a mulher portadora de incontinência urinária, descritos de forma direta e simples e fotografados individualmente para facilitar a compreensão no aprendizado. É síntese de um conjunto de trabalhos e artigos desenvolvidos por um grupo de profissionais amplamente dedicadas ao desenvolvimento do avanço científico no tratamento fisioterapêutico da incontinência urinária feminina. Proporciona ao profissional fisioterapeuta um importante instrumento de aprendizado técnico na propedêutica, bem como uma diagramação que lhe facilita na orientação às suas pacientes. Dr. Ricardo de Assis Ferreira Médico Uro-Ginecologista Maternidade Carmela Dutra Florianópolis, Santa Catarina, Brasil Educação Perineal Progressiva E.P.P 8 "A mulher é uma substância tal, que, por mais que a estudes, sempre encontrarás nela alguma coisa totalmente nova." (Léon Tolstoi) Educação Perineal Progressiva E.P.P 9 Sumário Agradecimentos .......................................................... 5 Prefácio .................................................................... 7 Capítulo 1 Introdução ................................................................. 11 Capítulo 2 Anatomia e Fisiologia do Assoalho Pélvico ............. 17 Capítulo 3 Incontinência Urinária Feminina ............................... 29 3.1 Definição e Prevalência ...................................... 29 3.2 Tipologia ............................................................. 29 3.3 Fatores de Risco ................................................. 32 3.4 Tratamentos ....................................................... 35 Capítulo 4 Mecanismo da Continência Urinária e Fisiologia da Micção .............................................. 43 Capítulo 5 Dinâmica Ventilatória e o Assoalho Pélvico ............. 51 Capítulo 6 Avaliação Fisioterapêutica do Assoalho Pélvico ...... 57 Ficha de Avaliação Uroginecológica ......................... 62 Capítulo 7 A E.P.P. – Educação Perineal Progressiva .............. 67 A quem se destina a Educação Perineal Progressiva – E.P.P.? .............................................. 68 A E.P.P. e Mulheres Fisicamente Ativas .................. 69 A E.P.P. em Gestantes e Puérperas ........................ 71 A E.P.P. e Mulheres Idosas ..................................... 73 Educação Perineal Progressiva E.P.P 10 A E.P.P. e Mulheres no Pós Operatório de Cirurgia Ginecológica (via vaginal ou abdominal) 74 Quanto às fases da Educação Perineal Progressiva – E.P.P. ................................................ 76 Capítulo 8 Considerações Sobre as Fases da E.P.P. ................ 81 Quanto aos critérios para a progressão da E.P.P. 86 Capítulo 9 Descrição dos Exercícios em Cada Fase da E.P.P. .......................................................... 91 E.P.P Proprioceptiva ................................................ 96 E.P.P. Simples .........................................................105 E.P.P. Elaborada ...................................................... 133 E.P.P Com Esforço ................................................... 165 Capítulo 10 Considerações Sobre a Manutenção da Continência Urinária Após o Tratamento Conservador ......................................... 189 Educação Perineal Progressiva E.P.P 11 Capítulo 1 Introdução O Grupo de Reabilitação do Assoalho Pélvico (GRAP) é fruto de um projeto de extensão da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) intitulado “Fisioterapia Aplicada à Incontinência Urinária” em parceria com uma Maternidade Pública do município de Florianópolis/SC. Está sendo possível, desde 2003, por meio desse vínculo de extensão universitária e hospital/maternidade pública, oferecer atendimento gratuito à mulheres com incontinência urinária. Nossa rotina de atendimentos conta com o apoio de médicos uroginecologistas voluntários da própria Maternidade, onde, após a avaliação clínica, encaminham as pacientes com indicação de tratamento conservador para o nosso serviço. A proposta cinesioterapêutica para a reabilitação do assoalho pélvico intitulada: Educação Perineal Progressiva – E.P.P. foi desenvolvida através de nossa observação quanto ao desconhecimento dos recursos fisioterapêuticos destinados à reabilitação desta musculatura na fala frequente das mulheres: “não sabia que existia fisioterapia para esta parte do corpo”. Somado a este fator, constatou-se também em nossa rotina a grande dificuldade das mulheres em realizar a contração muscular perineal dissociando-a dos demais grupos musculares conhecidos como “parasitas” (glúteos, adutores e abdominais) além da dificuldade de integralizar essas contrações aos hábitos motores, como caminhar ou levantar um peso. Educação Perineal Progressiva E.P.P 12 A necessidade de conscientizar as mulheres sobre a importância do assoalho pélvico e a busca de uma metodologia que integralizasse essa contração com movimentos e atividades funcionais cotidianas foram nossas grandes fontes de inspiração para o desenvolvimento desta obra. Em nosso serviço, além da cinesioterapia, utilizamos outros recursos para a reeducação e tratamento das mais variadas disfunções do assoalho pélvico como: biofeedback, eletroterapia e terapia comportamental. No entanto, pelo fato do treinamento da musculatura do assoalho pélvico ser um tratamento efetivo comprovado cientificamente, de baixo custo e recomendado como terapia de primeira linha, optou-se em descrever os exercícios na sequência que realizamos em nosso serviço preparando e fortalecendo a musculatura de forma gradual. A apresentação da Educação Perineal Progressiva – E.P.P. em forma de um manual fotográfico foi assim direcionada frente à necessidade de desenharmos os exercícios e descrevermos a sequência de seus movimentos, posições e ventilação adequada para que as pacientes não se esquecessem quando os mesmos fossem realizados em casa. Para facilitar o entendimento, ressaltamos que muitas vezes a nomenclatura dos exercícios foi inspirada na forma que a paciente os compreendia, assim, literalmente “apelidamos” cada exercício a fim de facilitar sua memorização. Nosso principal objetivo com essa obra é a informação e conscientização das mulheres e profissionais da saúde que trabalham nesta área, quanto à necessidade do conhecimento funcional do assoalho pélvico para a prevenção e/ou tratamento de Educação Perineal Progressiva E.P.P 13 disfunções do assoalho pélvico que mereçam reabilitação na busca de saúde e bem-estar. Não é propósito deste livro, propor protocolos fechados de tratamentos para cada uma das diversas disfunções do assoalho pélvico, mas, divulgar que a partir de uma avaliação fisioterapêutica individualizada, o profissional pode programar os exercícios estabelecendo as series e frequência de forma personalizada e individual. A Educação Perineal Progressiva – E.P.P. tem como objetivo preparar e fortalecer o assoalho pélvico desde o reconhecimento dessa musculatura até a realização de exercícios funcionais aos esforços. Esse crescente nível de complexidade da proposta permite ao fisioterapeuta, juntamente com a mulher em atendimento, identificarem o momento de finalizar uma série de exercícios e partir para a etapa seguinte. A metodologia de execução da Educação Perineal Progressiva (E.P.P.) é de fácil aplicabilidade, já que, tanto o espaço físico quanto materiais complementares como colchonetes, bolas terapêuticas, bastões, halteres e caneleiras, fazem parte das ferramentas de trabalho do fisioterapeuta e de baixo custo para aquisição pelas pacientes. A proposta é após os exercícios serem treinados e bem compreendidos pela paciente, possam ser realizados em domicílio e muitas vezes até no ambiente de trabalho. Destaca-se ainda que optou-se por destacar a terminologia Educação “Perineal” Progressiva, para enfocar a palavra períneo, pois é de fácil compreensão quanto ao local a que destina-se trabalhar e mais popularmente conhecida entre as mulheres. Esta obra contempla de forma introdutória a anatomia e fisiologia do assoalho pélvico, um modelo de ficha de avaliação fisioterapêutica utilizada em Educação Perineal Progressiva E.P.P 14 nosso serviço, a dinâmica ventilatória e pélvica, o objetivo de cada fase da E.P.P, sua progressão, além de um manual fotográfico com a descrição de cada exercício. Os músculos que compõem o assoalho pélvico podem e devem ser trabalhados de maneira voluntária e os recursos fisioterapêuticos vêm cada vez mais ganhando espaço no campo da Uroginecologia e Obstetrícia. A E.P.P. pode contribuir facilitando a aplicação prática da cinesioterapia na reabilitação do assoalho pélvico, sendo a persistência e motivação das pacientes, as peças chaves para completar as suas fases. É realidade que a atuação do fisioterapeuta na área preventiva ainda encontra-se bastante restrita, principalmente no que diz respeito à incontinência urinária feminina sendo observados poucos investimentos em programas de informação e conscientização das disfunções do assoalho pélvico a população. A formação de uma equipe multiprofissional e interdisciplinar nesta área possibilita um suporte adicional às mulheres e a integralização entre os diversos saberes é fundamental para o sucesso do tratamento. Nesse contexto, enfatizamos a necessidade de uma avaliação clínica e funcional (fisioterapêutica) bem conduzida. A mulher com disfunções do assoalho pélvico pode apresentar uma série de fatores de risco que precisam ser investigados, bem como, queixas clínicas importantes que afetam fortemente sua qualidade de vida. Portanto, uma avaliação que contemple as esferas física, psicológica e social garante uma parcela considerável no sucesso do tratamento. Educação Perineal Progressiva E.P.P 15 Espera-se que o “despertar do períneo” possa realmente ser divulgado, difundido e aplicado através da Educação Perineal Progressiva – E.P.P. tanto de forma terapêutica, para manutenção pós-tratamento e, principalmente, na prevenção primária. A proposta, e porque não dizer o desafio, é conscientizar mulheres, fisioterapeutas e demais profissionais quanto à importância do “despertar do períneo”, reforçando que o assoalho pélvico possui funções tão especiais quanto qualquer outra região do corpo e, assim sendo, quaisquer disfunções poderá acarretar em diminuição progressiva da qualidade de vida. Por fim, o períneo feminino é um local marcado por experiências intensas que são vivenciadas desde a infância até a maturidade, como por exemplo, o controle esfincteriano, o despertar sexual e o parto. Tais sentimentos que envolvem todas essasvivências tão distintas podem caracterizar situações de prazer ou dor e estarem associados a diversos tipos de estados psicológicos, emocionais e sociais. Nosso propósito é buscar o “despertar do períneo” integralizando a máxima potencialidade da mulher para esta região de seu corpo para que a mesma possa usufruir de uma qualidade de vida com saúde física, psíquica e sexual. Educação Perineal Progressiva E.P.P 16 Educação Perineal Progressiva E.P.P 17 Capítulo 2 Anatomia e Fisiologia do Assoalho Pélvico O assoalho pélvico representa o conjunto de partes moles que fecham a pelve e é formado por músculos, ligamentos e fáscias. Tem como objetivo, sustentar as vísceras abdominais e pélvicas, resistindo às pressões exercidas pelo aumento da pressão intra- abdominal 1 . Para Calais-Germain 2 , destina-se principalmente a sustentar as vísceras da pelve menor (bexiga, útero e reto). O assoalho pélvico é formado por três camadas: o diafragma pélvico, o diafragma urogenital e a fáscia endopélvica 3 . A primeira camada é a fáscia endopélvica formada de colágeno, elastina, músculo liso, ligamentos e constituída por dois folhetos. O primeiro reveste as paredes pélvicas e une-se com as fáscias dos músculos, e o segundo, considerado visceral, recobre o útero, a vagina, a bexiga e o reto. As fáscias viscerais interligam-se originando as fáscias vésico- vaginal e retovaginal, fundamentais para sustentação desses órgãos 3 . A segunda camada, conhecida como diafragma pélvico é formado pelos músculos elevadores do ânus e pelos pequenos músculos isquiococcígeos e suas fáscias de revestimento (Figura 1). Educação Perineal Progressiva E.P.P 18 Figura 1. Localização dos músculos pubococcígeo, iliococcígeo, puborretal e isquiococcígeo. Segundo Galhardo e Katayama 4 , o elevador do ânus é o principal componente do assoalho pélvico (90%), sendo responsável pela manutenção do tônus do hiato urogenital e contração reflexa em resposta ao aumento da pressão abdominal. As fibras musculares apresentam características peculiares para desempenhar tais funções: Fibras do tipo I: apresentam grande densidade de capilares sanguíneos, mitocôndrias e alta concentração de mioglobina (alto potencial aeróbico), caracterizando-se por contrair lentamente e por longos períodos sem sofrer fadiga. Sendo responsáveis pela Educação Perineal Progressiva E.P.P 19 manutenção do tônus muscular. Representam 70% das fibras do músculo elevador do ânus 3 . Fibras do tipo II: apresentam baixo potencial aeróbico pela grande quantidade de enzimas glicolíticas e pequena concentração de mitocôndrias, portanto são mais fatigáveis. Caracterizam-se por contrair rapidamente em resposta ao aumento súbito da pressão intra-abdominal. Representam 30% das fibras do músculo elevador do ânus 3 . A contração do elevador do ânus leva o reto para frente, indo a sua parede posterior ao encontro à anterior e a sua parede posterior ao encontro da anterior, comprimindo a vagina, cujas paredes também se unem, aproximando-se da uretra e auxiliando na continência urinária aos esforços 1 . O músculo elevador do ânus divide-se em: músculo pubococcígeo, músculo iliococcígeo e músculo puborretal. A localização e função dos músculos do diafragma pélvico estão expostos no Quadro 1. Músculo Localização Função Músculo pubococcígeo Tem origem na face interna do ramo superior do osso púbico e se dirige para trás (em sentido dorsal), acompanhado pelo músculo puborreto, para se inserir nas últimas vértebras sacrais Não participa de forma direta da elevação dos órgãos, mas forma um contra forte muscular estático. Músculo puborretal Tem origem abaixo do músculo pubococcígeo e não possuem inserção óssea. Constitui as fibras intermediárias do Exerce tração para a frente sobre os órgãos, levanta-os em sentido craniano e fecha a vagina e o Educação Perineal Progressiva E.P.P 20 elvador do ânus. reto. Músculo iliococcígeo Situa-se atrás do músculo pubococcígeo. Origina-se na fáscia acima do músculo obturador interno (no arco tendinoso do músculo elevador do ânus), a qual se prolonga até a espinha isquiática, e se dirige ao cóccix. Constitui as fibras posteriores do elevador do ânus. É capaz de tracionar o cóccix para o lado e de elevar o reto. Músculo isquiococcígeo Tem origem nas margens da espinha isquiática e se inserem na extremidade inferior do sacro e na parte superior do cóccix Auxilia o elevador do ânus na sustentação das vísceras pélvicas, reforçando o assoalho pélvico. Quadro 1: Localização e função dos músculos do diafragma pélvico. Galhardo e Katayama 1 também mencionam o músculo pubovaginal (esfíncter da vagina) como constituinte das fibras anteriores do músculo elevador do ânus. Esse músculo envolve a vagina e se insere no corpo perineal. É a porção que se encontra mais sujeita a rupturas durante o parto e que pode ser seccionada durante a episiotomia. A terceira camada corresponde ao diafragma urogenital que localiza-se externamente ao diafragma pélvico e é formada pelos músculos transverso profundo e superficial do períneo, isquiocavernoso, bulboesponjoso (constritor da vagina) e os esfíncteres externos anal e uretral 1 . (Figura 2). Educação Perineal Progressiva E.P.P 21 Figura 2. Localização dos músculos bulbocavernoso, transverso profundo e superficial do períneo e esfíncter anal externo. Diafragma Pélvico O diafragma urogenital recebe esse nome por sua localização no trígono urogenial ou períneo anterior 3 , portanto, é atravessado pela uretra e pela vagina, proporcionando sustentação por fixação da vagina e do corpo perineal aos ramos isquiopúbicos 1 . A função básica do diafragma urogenial consiste na sustentação do assoalho pélvico contra os efeitos do aumento da pressão intra-abdominal e contra os efeitos da gravidade 1 . Educação Perineal Progressiva E.P.P 22 A localização e função dos músculos do diafragma urogenital estão expostos no Quadro 2. Músculo Localização Função Músculo transverso profundo do períneo Consiste em uma lâmina musculofibrosa que ocupa o espaço livre situado entre as bordas internas dos elevadores do ânus e o trígono perineal posterior. Proteção do músculo elevador do ânus. É o principal componente do diafragma urogenital. Músculo transverso superficial do períneo Origina-se no ramo do osso isquiático, acima do músculo isquicavernoso. Segue um trajeto transversal e se insere no períneo. Elevar a camada superficial do assoalho pélvico e proteger o músculo elevador do ânus. Músculo isquiocavernoso Tem origem logo abaixo do músculo transverso superficial do períneo, no ramo do osso isquiático, e se dirige ao clitóris. Manter a ereção do clitóris em caso de excitação sexual. Músculo bulboesponjoso (constritor da vagina) Origina-se no corpo perinal, contorna a vagina e a uretra e se insere no clitóris. Reduzir o diâmetro do intróito vaginal, inclusive durante a excitação vaginal. Esfíncter anal externo Origina-se no corpo do períneo e insere- se na tela subcutânea ao redor do ânus e ligamento anococcígeo. Continência fecal. Educação Perineal Progressiva E.P.P23 Esfíncter uretal externo Origina-se e insere- se no músculo anular ao redor do óstio externo da uretra. Continência urinária. Quadro 2: Localização e função dos músculos do diafragma urogenital. Ressalta-se aqui a terminologia períneo, que geralmente é utilizada como sinônimo de assoalho pélvico. Entretanto, anatomicamente, o períneo se constitui na região superficial do assoalho pélvico em forma losangular delimitada anteriormente pela sínfise pubiana e pelos ramos ísquio-pubianos, posteriormente pelo cóccix e lateralmente pelas tuberosidades isquiáticas 4 . A região perineal é habitualmente dividida em dois trígonos (anterior e posterior), conforme a Figura 3. A porção anterior ou região urogenital contem a vagina e a uretra, e a região posterior que contem o ânus. A linha que divide as duas regiões passa transversalmente através da porção central do períneo unindo as extremidades inferiores das tuberosidades isquiáticas 5,6 . Educação Perineal Progressiva E.P.P 24 Figura 3: Trígonos (anterior e posterior) do assoalho pélvico A resistência do assoalho da pelve deve-se a uma estrutura que fica no centro do períneo, servindo de ponto de apoio e sustentação para todas as camadas, denominado corpo perineal. Trata-se de um nódulo compacto, fibromuscular no plano mediano, 1,5 cm em frente à margem anal, com vários músculos convergindo em sua direção: músculo bulboesponjoso, músculos transverso superficial e profundo do períneo, fibras pré-retais do elevador do ânus e da parede do reto, fibras superficiais do esfíncter anal, fibras musculares uretrovaginais e algumas fibras musculares lisas retovaginais 1,6 . Educação Perineal Progressiva E.P.P 25 As variações de pressão da cavidade abdominal são transmitidas para a pelve a todo o momento. Para proteção dessas estruturas, o diafragma pélvico, bem como ligações de tecido conjuntivo e ligamentoso, mantém as vísceras intra-abdominais acima da porção fechada do assoalho pélvico 7 . Analogicamente, pode-se comparar o assoalho pélvico à fundação de uma casa. Assim, o teto seria o diafragma respiratório; a parede anterior, posterior e lateral seriam respectivamente os músculos retos abdominais, a coluna e musculatura para-espinhal e os músculos transversos abdominais, conforme ilustra a Figura 4. Figura 4: Esquema representando a analogia das estruturas corporais e assoalho pélvico com uma casa. Educação Perineal Progressiva E.P.P 26 O envelhecimento, por si só, não é a causa da incontinência urinária (IU), mas induz algumas mudanças funcionais e estruturais no sistema urinário que podem predispor à perda involuntária de urina 8 . Nas últimas décadas, com o aumento da expectativa de vida da população, a mulher passa cerca de um terço da sua vida em situação de hipoestrogenismo, sofrendo suas eventuais consequências 9 . A diminuição da elasticidade do tecido conjuntivo, a deficiência de estrógenos e as consequências de gestações e partos pregressos, resultam em fraqueza dos músculos do assoalho pélvico levando a perda involuntária de urina 10 . Sabe-se que a IU ocorre entre 30 e 60% de todas as mulheres durante o período de climatério e na menopausa, tendo importância, portanto, pela sua alta incidência e também porque afeta negativamente a qualidade de vida dessas mulheres 11,12,13 . Os mais idosos (acima de 75 anos) constituem o grupo mais provável para sofrer de incontinência 14 . Diante disso, faz-se necessário trabalhar a musculatura do assoalho pélvico em todas as fases da vida da mulher, propiciando flexibilidade e, ao mesmo tempo, tonicidade para garantir a devida sustentação aos órgãos. Educação Perineal Progressiva E.P.P 27 Referências: 1 Galhardo, C; Katayama, M Anatomia e Fisiologia do Trato Urinário Inferior Feminino. In: Chiarapa, TR; Cacho, DP; Alves, AFD (Org.) Incontinência urinária feminina: assistência fisioterapêutica e multidisciplinar. São Paulo: Livraria Médica Paulista, 2007. 236 p. 2 Calais-Germain, B. O períneo feminino e o parto: elementos de anatomia e exercícios práticos. Barueri: Manole, 2005. 158 p. 3 Coletti, SH.; Haddad, JM; Barros, JPF. Avaliação Funcional do Assoalho Pélvico. In: Amaro, JL. Reabilitação do assoalho pélvico nas disfunções urinárias e anorretais. São Paulo: Segmento Farma, 2005. 328 p. 4 Grosse, PD; Sengler, J. Reeducação Perineal. São Paulo: Manole, 2002. 143p. 5 Gardner, ED; Gray, DJ; O'Rahilly, R. Anatomia: estudo regional do corpo humano . 4. ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1988. 815 p. 6 Pelozo Júnior, O; Garbelloti Júnior, SA. Anatomia Funcional da Pelve e do Períneo. In: Moreno, AL. (Org). Fisioterapia em Uroginecologia. São Paulo: Manole, 2004. 187 p. 7 Wallach S, Ostergard, D Anatomia pélvica feminina. In: D’ancona, CAL; Rodrigues Netto Jr N. Aplicações clínicas da urodinâmica; 3ed. São Paulo: Ed. Atheneu. 2001.284: 126-38 8 Maciel, AC. Incontinência Urinária. In: Freitas, EV. Tratado de geriatria e gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2006. 1573 p. 9 Sartori, JP et al. Distúrbios Urinários no Climatério: Avaliação Clínica e Urodinâmica. Revista Brasileira de Ginecoogia e Obstetrícia. 1999. 21 (2): 77-81. 10 Tata, GE. Incontinência. In Pickles B; Compton, A; Cott, R; Simpson, J; Vandervoort A. Fisioterapia na Terceira Idade. São Paulo: Santos, 1998. 11 Guarisi T., et al A. Incontinência urinária entre mulheres climatéricas brasileiras: inquérito domiciliar. Revista de Saúde Pública. 2001. 35 (5): 428-35. 12 Virtuoso JF, Tonon SC, Kruger AP. O Impacto do Tratamento Fisioterapêutico nos Aspectos Físico-Social e Afetivo Educação Perineal Progressiva E.P.P 28 em Mulheres com Incontinência Urinária de Esforço Usuárias do Sistema Único de Saúde. Revista Científica JOPEF, 2008. 1; 296- 300. 13 Honório GJS, Parucker NBB, Virtuoso JF,Tonon SC, Kruger AP. Análise da Qualidade de Vida em Mulheres com Incontinência Urinária Antes e Após Tratamento Fisioterapêutico. Arquivos Catarinenses de Medicina, 2009. 38 (4): 43-49. 14 Pauls, J. Incontinência Urinária e Comprometimento do Assoalho Pélvico no Idosos. In: Guccione, AA. Fisioterapia geriátrica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 470 p. Educação Perineal Progressiva E.P.P 29 Capítulo 3 Incontinência Urinária Feminina 3.1 Definição e Prevalência Segundo a Sociedade Internacional de Continência, incontinência urinária (IU) é definida como a queixa de qualquer perda involuntária de urina 1 . A prevalência desses sintomas costuma ser alta na população feminina, principalmente com o avanço da idade. Em uma pesquisa conduzida por Kinchen et al. 2 , foram entrevistadas 3.344 mulheres com idade entre 21 a 75 anos. A prevalência de perda urinária nos sete dias anteriores à pesquisa foi de 44%, sendo 34,3% entre as mulheres com idade inferior à 50 anos; 50,4% entre as mulheres com 51 a 64 anos e 51,8% para mulheres com idade superior à 65 anos. 3.2 Tipologia Os tipos mais comuns de IU são: Incontinência Urinária de Esforço (IUE): é definida como a queixa de qualquer perda involuntária de urina pela uretra durante o esforço físico, tosse ou espirro, na ausência da contração do músculo detrusor 1 . É o tipo de incontinência urinária que apresenta maior prevalência. Wehrberger et al. 3 , ao estudarem sintomas de perda urinária entre mulheres com idade de 20 a 84 anos nas últimas 4 semanas, Educação Perineal Progressiva E.P.P 30 encontraram uma prevalênciade 32%, sendo que destas, 34% eram IUE e 13% IUU. Entre as teorias inicialmente propostas para explicar a gênese da IUE, destacam-se as que consideravam a uretra curta e a perda do ângulo uretrovesical como causa da sintomatologia 4 . No entanto, ambas foram abandonadas, pois se demonstrou pouca correlação entre essas alterações e a IUE. Atualmente, a transmissão de pressão abdominal para a uretra proximal é a teoria mais conhecida. Preconiza que o deslocamento da uretra proximal para posição infrapúbica, durante o esforço, ocasiona falha na transmissão de pressão, levando ao aumento de pressão vesical em escala maior que da pressão uretral 4 . Assim, na falência dos mecanismos intrínsecos da uretra, a pressão de fechamento uretral se encontra constantemente em níveis muito baixos, cabendo ao esfíncter externo o papel de resistência ativa 5 . A perda urinária ocorre em qualquer aumento na pressão intra- abdominal, já que bexiga e uretra permanecem isobáricas, resultando em perda urinária aos mínimos esforços, conforme ilustra a Figura 5. Educação Perineal Progressiva E.P.P 31 Figura 5: Esquema representativo da perda urinária aos esforços. Incontinência Urinária de Urgência (IUU): é eliminação involuntária de urina acompanhada da urgência de urinar 6 . Segundo a Sociedade Internacional de Continência, a urgência miccional ocorre devido a presença de contrações do músculo detrusor durante a fase de enchimento vesical, desencadeada espontaneamente ou em resposta à estímulos e demonstrada de forma objetiva quando a paciente tenta inibir a contração 7 . Anderson et al. 8 , ao analisar mulheres incontinentes com idade entre 18 e 79 anos, encontraram 46% com sintomas de IUU, sendo que, com o avanço da idade, a prevalência do distúrbio aumenta: 38% (35 a 49 anos); 48% (50 a 64 anos) e 53% (65 a 79 anos). As pacientes com esses sintomas apresentam falta do controle da micção quando têm urgência miccional ou quando sentem a bexiga cheia 7 . Quando ambos os sintomas estão presentes, considera-se presença de Incontinência Urinária Mista (IUM). Educação Perineal Progressiva E.P.P 32 3.3 Fatores de Risco O aparecimento da IU feminina é de origem multifatorial 9 . Higa e Lopes 10 apontam a idade, a alteração de peso e a constipação como os principais fatores associados com os sintomas de perda urinária na mulher. Chiarapa, Cacho e Alves 11 ressaltam que antecedentes obstétricos como número de partos, tipo de parto, tipo de anestesia, realização da episiotomia e uso do fórceps também podem revelar danos ao assoalho pélvico, portanto, também devem ser investigados. O Quadro 3 resume os fatores de risco IU encontrados na literatura: Fatores de Risco Variáveis Literatura Fatores Obstétricos - número de gestações; - número de partos (cesáreas e normais); - realização de episiotomia; - ocorrência de laceração; - uso do fórceps; - tipo de anestesia realizada; - peso do recém nascido; Chiarapa, Cacho e Alves 11 ; Dellú, Zácaro e Schmitt 12 ; Moreno 13 ; Rogers, Leeman 14 ; Zhu et al 15 ; Goldberg ET al 16 Fatores Ginecológicos - tempo de menopausa; - realização de terapia de reposição hormonal; - medicamento utilizado na terapia Chiarapa,Cacho, Alves 11 ; Moreno 13 ; Rogers, Leeman 14 ; Zhu et al 15 . Educação Perineal Progressiva E.P.P 33 de reposição hormonal; - realização de procedimento cirúrgico ginecológico; - via de acesso cirúrgico (abdominal ou vaginal); - tempo do procedimento cirúrgico; Fatores Clínicos - presença de doenças; - uso de medicamentos; Kikuchi et al 17 ; Pauls 18 . Fatores Hereditários - raça; - histórico familiar de IU; Higa, Lopes, Reis 19 ; Zhu et al 15 ; Townsend, Curhan, Resnick 20 . Fatores Comportamentais - hábito de fumar; - hábito de beber; - hábito de consumir cafeína; - prática de exercícios físicos; - mudança de peso; - presença de constipação Higa e Lopes 10 ; Higa, Lopes, Reis 19 ; Caetano, Tavares, Lopes 21 ; Tampakoudis 22 . Fatores Posturais - desvio da cintura escapular; - desvio da cintura pélvica Chiarapa, Cacho e Alves (2007); Moreno (2004) Fatores Antropométricos - índice de massa corporal; - diâmetro da cintura; Higa e Lopes 10 ; Higa, Lopes, Reis 19 ; Dolan, Hilton 23 ; Washington, Erekson, Kassis 24 . Educação Perineal Progressiva E.P.P 34 Fatores Físicos - função do assoalho pélvico; - contração ciente do assoalho pélvico; - presença de prolapso; - tonicidade do núcleo tendíneo fibroso do períneo; - diástase dos retos abdominais; - Bernardes et al 25 ; Moreno 13 . Quadro 3: Síntese dos principais fatores de risco para a incontinência urinária feminina Educação Perineal Progressiva E.P.P 35 3.4 Tratamentos Classicamente, o tratamento da incontinência urinária feminina é cirúrgico, cuja eficácia muitas vezes é baixa por não se realizar um diagnóstico correto da incontinência urinária de urgência e, principalmente, da incontinência urinária de sintomas mistos 25 . Segundo a Sociedade Internacional de Continência, mulheres com sintomas de IUE devam ser tratadas primeiramente de modo conservador através de exercícios para o assoalho pélvico, mudança no estilo de vida e treinamento vesical, antes da intervenção farmacológica ou cirúrgica 1 . A terapêutica não cirúrgica pode ser realizada por meio de técnicas que visem o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico, uma vez que, a musculatura estriada do músculo elevador do ânus e periuretral assumem papel relevante no mecanismo da continência urinária da mulher 26 . O tratamento não-cirúrgico da incontinência urinária de esforço, por exemplo, ganhou importância nos últimos anos em razão de seus resultados e dos poucos efeitos colaterais que provoca. O alto custo do tratamento dessa afecção, assim com sua alta prevalência, justificam os estudos de técnicas mais simples, que consigam restaurar a continência urinária e, por conseguinte, a qualidade de vida da mulher 4 . O Quadro 4 resume os principais tratamentos não cirúrgicos para a incontinência urinária feminina respaldados na literatura e com resultados científicos comprovados: Educação Perineal Progressiva E.P.P 36 Tratamento Considerações Literatu ra Eletroestimulação - aumenta a pressão uretral por meio da estimulação direta dos nervos eferentes para a musculatura periuretral; - aumenta o fluxo sanguíneo para os músculos da uretra e do assoalho pélvico; - restabelece as conexões neuromusculares melhorando o recrutamento das unidades contráteis; - melhora a função da fibra muscular, hipertrofiando-a e modificando o seu padrão de ação, por aumento do número de fibras musculares rápidas; Baracat, Lima 4 ; Haddad, Jorge Neto, Gallo 26 ; Barroso et al 27 ; Meyer et al 28 ; Carramão et al 29 ; Tonon et al 30 Cones vaginais - Estimula a contração involuntária do assoalho pélvico durante o aumento da pressão intra abdominal na tentativa de reter o cone por meio de uma oclusão vaginal; - Melhora a propriocepção da musculatura do assoalho pélvico; - Promove o fortalecimento da musculatura do Chiarap a, Cacho, Alves 11 ;Haddad, Jorge Neto, Gallo 26 , Peattie, Plevnik, Stanton 31 ; Kondo, Yamada, Niijima 32 . Educação Perineal Progressiva E.P.P 37 assoalho pélvico; - Promove o aumento de fibras musculares do tipo I; Cinesioterapia - reforça o controle esfincteriano uretral; - hipertrofia as fibras musculares do assoalho pélvico, aumentando a pressão de fechamento uretral; - melhora o suporte muscular do assoalho pélvico. Carramã o et al 29 ; Tonon et al 30 ; Balmforth et al 33 ; Bø 34 ; Dumoulin, Hay-Smith 35 . Biofeedback - registra a contração muscular do assoalho pélvico através de uma escala visual facilitando a compreensão da musculatura que deve ser recrutada durante os exercícios; - Auxilia na facilitação proprioceptiva das contrações voluntárias do assoalho pélvico; - Promove o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico; Chiarap a, Cacho, Alves 11 ; Moreno 13 ; Meyer et al 28 . Ginástica Hipopressiva - harmoniza as tensões intrínsecas musculoconjuntivo- aponeuróticas, permitindo uma queda significativa da pressão intraabdominal e, reflexamente, uma contração dos músculos do assoalho pélvico e Chiarap a, Cacho, Alves 11 ; Caufriez 36 . Educação Perineal Progressiva E.P.P 38 da cinta abdominal. - Promove o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico; - normaliza a posição dos órgãos pélvicos; Terapia Comportamental - Aumenta a capacidade vesical; - Restabelece o controle cortical da micção sobre a bexiga; - As principais técnicas utilizadas na terapia comportamental são: treinamento vesical, orientações quanto à ingestão de líquidos e educação sobre o trato urinário inferior. Chiarap a, Cacho, Alves 11 ; Moreno 13 . Quadro 4: Síntese dos principais tratamentos não cirúrgicos para a incontinência urinária feminina. Educação Perineal Progressiva E.P.P 39 Referências: 1 Abrams P, et al. 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Porto Alegre: Artmed, 2006. 584 p. 8 Andersson G, et al. Urinary incontinence prevalence, impact on daily living and desire for treatment: a population- based study. Scandinova Journal Urology Nephrologic, 2004.38(2): 125-30. 9 Agostinho, AD; Amaro, JL; Trindade, JCS. Epidemiologia da Incontinência Urinária Feminina. In: Amaro, JL. Reabilitação do assoalho pélvico nas disfunções urinárias e anorretais. São Paulo: Segmento Farma, 2005. 328 p. 10 Higa, R; Lopes, MHBM. Fatores associados com a incontinência urinária na mulher. Revista Brasileira de Enfermagem, 2005, 58(4); 422-428. 11 Chiarapa, TR; Cacho, DP; Alves, AFD. Avaliação Cinético Funcional. In: ____________. Incontinência urinária feminina: assistência fisioterapêutica e multidisciplinar. São Paulo: Livraria Médica Paulista, 2007. 236 p. 12 Dellú, MC; Zácaro, PMD; Schmitt, ACB. Prevalence of urinary symptoms and associated obstetric factors in adult Educação Perineal Progressiva E.P.P 40 women. Revista brasileira de fisioterapia, 200812(6): 482-87. 13 Moreno, AL. Avaliação Fisioterapêutica. In: ____________. Fisioterapia em Uroginecologia. São Paulo: Manole, 2004. 187 p. 14 Rogers RG; Leeman LL. Postpartum Genitourinary Changes. Urologic Clinics of North America. 2007. 34:13–21. 15 Zhu L; Lang J; Liu L; et al. Epidemiological study of urge urinary incontinence and risk factors in China. Internacional Urogynecology Journal. 2010. 21:589–593. 16 Goldberg RP; Kwon EC; Gandh ES; Atkuru E; Sand PK. Urinary incontinence after multiple gestation and delivery: impact on quality of life. Internacional Urogynecology Journal.2005. 16: 334–336 17 Kikuchi, A et al. Association between physical activity and urinary incontinence in a community-based elderly population aged 70 years and over. European Urology, 2007,52(1): 868-875. 18 Pauls, J. Incontinência Urinária e Comprometimento do Assoalho Pélvico no Idosos. In: Guccione, AA. Fisioterapia geriátrica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 470 p. 19 Higa, R; Lopes, MHBM; Reis, MJ. Fatores de risco para incontinência urinária na mulher. Revista da escola de enfermagem- USP, 2008, 42(1): 187-192. 20 Townsend MK; Curhan GC; Resnick NM et al. The incidence of urinary incontinence across Asian, black, and white women in the United States. American Journal Obstetrics Gynecology; 2010. 202:378. 21 Caetano, AS.; Tavares, MCGCF; Lopes, MHBM. Urinary incontinence and physical activity practice. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 2007.13(4): 270-274. 22 Tampakoudis P; Tantanassis T; Grimbizis G; Papaletsos M; Mantalenakis S. Cigarette smoking and urinary incontinence in women a new calculative method of estimating the exposure to smoke. European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology. 1995.63 27 30. 23 Dolan LM. Hilton P. Obstetric risk factors and pelvic floor dysfunction 20 years after first delivery. International Urogynecology Journal. 2010.21:535–544. 24 Washington BB; Erekson EA; Kassis NC; et al. The association between obesity and stage II or greater prolapse. American Journal Obstetrics Gynecology. 2010. 202:503.e1-4. Educação Perineal Progressiva E.P.P 41 25 Bernardes NO, et al. Métodos de tratamento utilizados na incontinência urinária de esforço genuína: um estudo comparativo entre cinesioterapia e eletroestimulação endovaginal. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 2000. 22(1): 49-54. 26 Haddad, JM; Jorge Neto, M; Gallo, AN. Cones Vaginais. In: Amaro, JL. Reabilitação do assoalho pélvico nas disfunções urinárias e anorretais. São Paulo: Segmento Farma, 2005. 328 p. 27 Barroso JC, Ramos JG, Martins-Costa S, et al. Transvaginal electrical stimulation in the treatment of urinary incontinence. British Journal Urology International. 2004; 93 (3): 319-323. 28 Meyer S, Dhenin T, Schmidt N, et al. Subjective and Objective Effects of Intravaginal Electrical Myostimulation and Biofeedback in Patients with Genuine Stress Urinary Incontinence. British Journal of Urology. 2008; 69 (6): 584-588. 29 Carramão SS, Pacetta AM, Carramão S et al. Avaliação da eletroestimulação na terapêutica da incontinência urinária de esforço feminina. Revista de Ginecologia e Obstetrícia, 2003; 14 (4): 166 - 169. 30 Tonon, SC, Honório GJS, Kruger AP, Virtuoso JF. Incontinência Urinária e Tratamento Fisioterapeutico: Avaliação dos Resultados. The FIEP Bulletin; 2007; 77 (1): 481-483. 31 Peattie AB, Plevnik S, Stanton SL. Vaginal cones: a conservative method of treating genuine stress incontinence.BJOG: An International Journal of Obstetrics & Gynaecology. 2005. 95 (10): 1049 - 1053. 32 Kondo A, Yamada Y, Niijima R. Treatment of stress incontinence by vaginal cones: short-and long-term results and predictive parameters. British Journal of Urology. 2008.76 (4): 464 - 466. 33 Balmforth JR, Mantle J, Bidmead J, et al. A prospective observational trial of pelvic floor muscle training for female stress urinary incontinence. British Journal Urology International 2006; 98 (4): 811-817. 34 Bø K. Pelvic floor muscle exercise training is effective in treatment of female stress urinary incontinence, but how does it work? Internetional Urogynecology 2004; 15: 76-84. 35 Dumoulin C, Hay-Smith J. Pelvic floor muscle training versus no treatment, or inactive control treatments, for urinary incontinence in women. Cochrane Database of Systematic Educação Perineal Progressiva E.P.P 42 Reviews 2010, Issue 1. 36 Caufriez M, (1997) Gymnastique abdominale hypopressive, Bruxelles d/1997/5591/1 http://www.librospdf.net/gymnastique-abdominale- hypopressive/1/ Educação Perineal Progressiva E.P.P 43 Capítulo 4 Mecanismo da Continência Urinária e Fisiologia da Micção A qualidade da continência e da micção decorre de um importante equilíbrio entre forças de expulsão e forças de retenção de urina, mantidas pelo funcionamento adequado e coordenado do músculo detrusor e das estruturas uretrais 1,2 . Na mulher, as forças de retenção (tonicidade do esfíncter uretral liso e estriado; posição e configuração do colo vesical) são consideradas vulneráveis, pois o assoalho pélvico, que garante parte desse mecanismo, é frequentemente exposto a fatores que contribuem para a diminuição progressiva dessas forças de retenção como, por exemplo, os traumatismos obstétricos, o avanço da idade e as alterações hormonais decorrentes da menopausa 1 . O aumento da pressão intraabdominal e a ocorrência de contrações vesicais são consideradas forças de expulsão. Para que haja continência urinária, há necessidade de que a pressão intrauretral seja superior à pressão intravesical no repouso ou durante os esforços com pressão de fechamento uretral positiva 1,3 . Isso ocorre quando as forças de retenção são superiores às forças de expulsão. Segundo Abrams et al 4 , para um fechamento uretral efetivo durante períodos de aumento da pressão intraabdominal é necessário o perfeito funcionamento dos esfíncteres estriado (externo) e liso (interno), boa Educação Perineal Progressiva E.P.P 44 vascularização da mucosa e submucosa uretral e o suporte vaginal intacto. Para Wallner et al 5 , a contração simultânea do músculo elevador do ânus e do esfíncter uretral externo causa uma curva convexa anteriormente que fecha o lúmen da porção média da uretra. Diversas teorias foram descritas para explicar a gênese da incontinência urinária. A teoria de Petros e Ulmstem 6 tem sido a mais utilizada, pois propõe um modelo funcional, chamado Teoria Integral, que explica a manutenção da continência urinária através de linhas de força que garantem uma pressão de fechamento uretral positiva, através de três mecanismos, conforme o Quadro 5. Mecanismos Estruturas Responsáveis Considerações 1º Mecanismo Coordenação involuntária do esfíncter uretral estriado e do músculo pubococcígeo. O simples tônus desses dois músculos realizaria coaptação das paredes uretrais. Para que esse fechamento seja eficaz, a parede uretral deve preservar sua estrutura espongiforme e flexibilidade. 2º Mecanismo Fechamento do colo vesical que fica sobre a parede vaginal tensionada pelo músculo pubovaginal A contração anterior desse músculo imobiliza a uretra, os ligamentos pubo-uretrais agem como pontos de apoio. Contração dos músculos do elevador do ânus A contração lateral dos músculos do elevador do ânus tenciona a área anterior do terço superior da vagina, comprimindo o colo vesical contra a parede vaginal. Educação Perineal Progressiva E.P.P 45 3º Mecanismo Mediação de outros grupos musculares de contração voluntária A contração desses músculos, que podem ser influenciados pela reeducação perineal, realizam uma sustentação suburetral anterior, coaptando a uretra e garantindo um suporte aos receptores responsáveis pela sensação de imperiosidade miccional. Quadro 5: Síntese da Teoria Integral proposta por Petros e Ulmstem 6 . A partir da publicação da Teoria Integral, o assoalho pélvico ganha dimensão de estrutura única em que sua anatomia relaciona-se intimamente à sua função, explicando de forma integral os mecanismos fisiopatológicos envolvidos nas diversas disfunções dessa musculatura. Desse modo, as disfunções da zona anterior do assoalho pélvico determinam perda urinária aos esforços, aumento da frequência miccional e incontinência fecal. Já os defeitos posteriores, causam alterações de esvaziamento vesical, noctúria e dor pélvica 7,8 . Grewar e McLean9 também desenvolveram um modelo baseado em evidência, denominado “Sistema Integrado da Continência”, para explicar a gênese da incontinência urinária. Esse sistema sugere que a manutenção da continência urinária ocorre através da interação de três sistemas estruturais: o sistema de fechamento uretral intrínseco, o sistema de suporte uretral e o sistema de estabilidade lombopélvica. Ainda segundo o sistema desenvolvido pelas autoras, existem três fatores externos modificáveis que podem influenciar na função do sistema de continência Educação Perineal Progressiva E.P.P 46 urinária, conforme o quadro 6. Fatores Exemplos Controle Motor - Disfunção dos músculos do assoalho pélvico; - Disfunção postural ou de movimento; - Dores pélvicas ou lombares; - Desordens respiratórias. Músculo Esqueléticos - Diminuição da amplitude de movimento; - Diminuição da força muscular; - Diminuição da endurance muscular. Comportamentais - Situações de aumento crônico da pressão intraabdominal; - Inatividade física; - Anormalidades miccionais; - Pobre saúde psicossocial. Quadro 6: Síntese dos Fatores Modificáveis do “Sistema Integrado da Continência” proposto por Grewar e McLean 9 . Acrescenta-se ainda que a proposta do “Sistema Integrado da Continência” é auxiliar os fisioterapeutas a identificar e priorizar os déficits segundo os fatores modificáveis observados, além de desenvolver estratégias efetivas para modificá-los, bem como conduzir as decisões da prática clínica a fim de melhorar os resultados do tratamento conservador entre as mulheres com incontinência urinária. Além da continência, o trato urinário inferior tem outras duas importantes funções, o armazenamento e a eliminação periódica de urina reguladas por um complexo controle neural que envolvem múltiplos mecanismos para sua eficácia. Durante a fase de armazenamento, a bexiga funciona como um sistema de baixa pressão que Educação Perineal Progressiva E.P.P 47 acomoda crescente volume de urina sem haver qualquer elevação da pressão vesical, permanecendo inferior a 10 cm H2O 7,10 . O Sistema Nervoso Simpático (SNS), mediador da função de armazenamento de urina, origina-se na medula espinhal entre T10 e L2, conforme a Figura 6. A noradrenalina estimula os receptores alfa adrenérgicos na uretra aumentando o tônus e a pressão de fechamento uretral pela contração do esfíncter uretral. A estimulação dos receptores beta adrenérgicos, localizados na parede vesical, diminui o tônus muscular vesical, relaxandoas fibras musculares lisas e inibindo a contração vesical 7,11,12, . As propriedades viscoelásticas e eletromecânicas do músculo liso da parede vesical contribuem para a complacência durante o enchimento 11 . A sensação de repleção vesical após enchimento de determinado volume de urina (350 a 500 ml) é enviada ao encéfalo por receptores de tensão/estiramento presentes no interior do músculo detrusor. O reflexo da micção é desencadeado via neuronal aferente no momento e local que for considerado adequado 3,7 . A fase de esvaziamento inicia-se com o relaxamento do assoalho pélvico e do esfíncter externo da uretra 12 . Segundo Henscher 10 , nesse momento, o colo vesical desce, o músculo detrusor se contrai, a uretra se abre tornando-se mais curta e mais larga e o ângulo posterior entre bexiga e uretra desaparece. Essa fase é mediada, principalmente, pelo Sistema Nervoso Parassimpático (SNP) que é responsável pelo controle motor do detrusor, promovendo contração vesical efetiva 7 . A ação parassimpática origina-se na medula espinhal entre S2 e S4 e utiliza como Educação Perineal Progressiva E.P.P 48 neurotransmissor a acetilcolina que produz a contração do músculo detrusor e o relaxamento do esfíncter uretral externo 12 . A eliminação de urina ocorre devido o aumento da pressão vesical e, concomitante, diminuição da pressão de fechamento uretral. Educação Perineal Progressiva E.P.P 49 Figura 6: Esquema representativo dos principais eventos fisiológicos que ocorrem durante as fases de armazenamento e esvaziamento vesical Educação Perineal Progressiva E.P.P 50 Referências 1 Grosse, PD; Sengler, J. Reeducação Perineal. São Paulo: Manole, 2002. 143p. 2 Reis, AB, et al. Anatomia feminina. In: Baracho, E. Fisioterapia Aplicada à Obstetrícia: aspectos de ginecologia e neonatologia. 3ª ed. São Paulo: Medsi. 2002. 547 p. 3 Galhardo, C; Katayama, M. Anatomia e Fisiologia do Trato Urinário Inferior Feminino. In: Chiarapa, TR; Cacho, DP; Alves, A.D (Org.) Incontinência urinária feminina: assistência fisioterapêutica e multidisciplinar. São Paulo: Livraria Médica Paulista, 2007. 236 p. 4 Abrams P, Cardozo L, Khoury S, Wein A. Incontinence. 3rd ed. Plymouth, UK: Health Publication Ltd; 2005. 5 Wallner C, Dabhoiwala NF, DeRuiter MC, Lamers WH. The Anatomical. Components of Urinary Continence. European Urology. 2009; 55: 932–944. 6 Petros PE, Ulmsten U. An integral theory of female urinary incontinence. Acta Obstetricia et Gynecologica Scandinavica. 1990; 153:1-79. 7 Monteiro, MVC, Silva Filho, AL. Incontinência Urinária. In: Souza, ELBL. Fisioterapia aplicada à obstetrícia, uroginecologia e aspectos de mastologia. 4. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Médica e Científica: Guanabara Koogan, 2007. 579 p. 8 Rocha, LCA, Fraga, R. Anatomia do Assoalho Pélvico. In: Amaro, JL. Reabilitação do assoalho pélvico nas disfunções urinárias e anorretais. São Paulo: Segmento Farma, 2005. 328 p. 9 Grewar H, McLean L. 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A contração dos retosabdominais e do pubococcígeo fornece uma pressão equivalente na cavidade abdominal, para a bexiga e para a uretra proximal, mantendo a continência urinária 1 . Grosse e Sengler 2 explicam que o aumento da pressão intra-abdominal que ocorre durante os esforços, gera uma força vertical de cima para baixo no assoalho pélvico e sua contração cria uma tração para cima e para frente, provocando um fenômeno de cisalhamento que desvia a hiperpressão abdominal para baixo e para trás, onde encontra-se uma região fibrosa e resistente, o corpo perineal, própria para receber pressões. Nesse contexto, a relação biomecânica existente entre os músculos abdominais e o diafragma respiratório e pélvico também vem sendo abordada em muitos estudos 3, 4 . A sinergia abdomino-pélvica ocorre tanto na inspiração quanto na expiração. Durante o ato inspiratório, os músculos abdominais permanecem relaxados a fim de permitir a descida do diafragma Educação Perineal Progressiva E.P.P 52 respiratório, possibilitando o enchimento dos pulmões aumentando a pressão intra-abdominal deslocando as vísceras pélvicas anterior e inferiormente, que, por sua vez, são contidas pela parede abdominal e pelo assoalho pélvico 5 . O diafragma pélvico sofre um estiramento por conta desse aumento da pressão intra- abdominal realizando uma contração reflexa de proteção para compensar a pressão no sentido gravitacional a fim de manter a continência urinária. Por ser um ato passivo, durante a expiração não forçada, a musculatura abdominal permanece relaxada. Nesta fase, a subida do diafragma respiratório minimiza a carga imposta ao diafragma pélvico pelo aumento da pressão intra-abdominal, permitindo a saída do ar dos pulmões. Neste momento, o diafragma pélvico encontra-se em sua melhor condição para contrair-se, pois não está em situação de maior pressão, proporcionando um efetivo recrutamento de fibras musculares. Ocorre, então, um recrutamento reflexo no sentido cranial, estabelecendo um equilíbrio da pressão intra-abdominal e, principalmente, proporcionando o melhor momento para realização da contração ativa do períneo a partir da ação da musculatura que retorna à posição de maior estabilidade 5 . Essa dinâmica entre musculatura abdominal, pélvica e diafragmática pode ser observada na Figura 7. Educação Perineal Progressiva E.P.P 53 Figura 7: Esquema representativo da dinâmica entre a musculatura abdominal, pélvica e diafragmática durante o ato inspiratório e expiratório. Pia: pressão intra-abdominal. Essa estreita relação entre a musculatura abdominal e ambos os diafragmas sustentam a realização de exercícios perineais durante o ato expiratório. Gameiro; Moreira; Amaro 5 assemelham o funcionamento sinérgico entre os diafragmas respiratório e pélvico à um sistema de polias, sugerindo que o fortalecimento dos músculos abdominais sejam realizados concomitantes aos exercícios perineais associando-os com o movimento respiratório. Alguns estudos como o realizado por Nagib et al 3 , têm demonstrado que a manobra que melhor estimula a ação sinérgica entre os dois diafragmas é a execução da expiração forçada (PEmáx) e aquela que Educação Perineal Progressiva E.P.P 54 praticamente não possui nenhuma resposta sinérgica é a inspiração forçada (PImáx). Entretanto, a Educação Perineal Progressiva a realização dos exercícios durante o ato expiratório, devendo ser realizado de forma lenta e constante durante todo o arco de movimento a fim de que a paciente possa reconhecer esta sinergia e condicionar a reeducação integralizando com a tarefamotora estabelecida. Educação Perineal Progressiva E.P.P 55 Referências 1 Galhardo, C; Katayama, M. Anatomia e Fisiologia do Trato Urinário Inferior Feminino. In: Chiarapa, TR; Cacho, DP; Alves, AFD. (Org.) Incontinência urinária feminina: assistência fisioterapêutica e multidisciplinar. São Paulo: Livraria Médica Paulista, 2007. 236 p. 2 Grosse, PD; Sengler, J. Reeducação Perineal. São Paulo: Manole, 2002. 143p. 3 Nagib, ABL, et al. Avaliação da sinergia da musculatura abdomino-pélvica em nulíparas com eletromiografia e biofeedback perineal. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 2005. 27 (4): 210 – 215. 4 Moreira ECH, et al. Estudo da ação sinérgica dos músculos respiratórios e do assoalho pélvico. Revista Brasileira de Fisioterapia, 2002. 6 (2): 71 – 76. 5 Gameiro MO; Moreira ECH; Amaro JL. Exercícios Perineais. In: Amaro, JL. Reabilitação do assoalho pélvico nas disfunções urinárias e anorretais. São Paulo: Segmento Farma, 2005. 328 p. Educação Perineal Progressiva E.P.P 56 Educação Perineal Progressiva E.P.P 57 Capítulo 6 Avaliação Fisioterapêutica do Assoalho Pélvico A musculatura do assoalho pélvico pode ser classificada em diferentes graus funcionais. Esta avaliação pode ser realizada por vários métodos tais como: palpação digital intravaginal, esquema PERFECT, perineômetro, cones vaginais, eletromiografia e ultra-sonografia 1 . Para adequação da mulher à proposta da Educação Perineal Progressiva – E.P.P., a avaliação fisioterapêutica do assoalho pélvico é peça fundamental. A partir desta avaliação, o fisioterapeuta poderá distribuir as fases da E.P.P. no plano de tratamento,ou seja, poderá programar a fase que a mulher deverá iniciar. Esta avaliação, em geral, costuma ser longa já que inclui: queixa principal, antecedentes clínicos, ginecológicos e obstétricos, achados urodinâmicos e o exame físico. Em nossa rotina de atendimentos, costumamos aplicar o esquema PERFECT para avaliação da função muscular perineal de nossas pacientes, tendo em vista que o esquema considera todos os tipos de fibras e propriedades musculares . Este esquema (Quadro 4) foi desenvolvido por Bø e Larsen 2 em 1990 e tem como objetivo quantificar a intensidade, a duração e a sustentação da contração muscular perineal. Educação Perineal Progressiva E.P.P 58 Esquema PERFECT P Power Força muscular E Endurance Manutenção da contração R Repetitions Repetição das contrações mantidas F Fast Número de contrações rápidas E Every Monitoramento do progresso por meio da cronometragem das contrações C Contractions T Timed Quadro 6: Esquema PERFECT de avaliação funcional subjetiva do assoalho pélvico. A força muscular (P - Power) é graduada de zero a cinco, avaliando, assim, a presença e a intensidade da contração muscular voluntária, de acordo com o sistema Oxford adaptado (Quadro 7). Grau Avaliação da Força Muscular do Assoalho Pélvico 0 Ausência de contração muscular dos músculos perineais. 1 Esboço de contração muscular não sustentada. 2 Presença de contração de pequena intensidade, mas que se sustenta. 3 Contração moderada, sentida como um aumento de pressão intra-vaginal, que comprime os dedos do examinador com a pequena elevação cranial da parede vaginal. 4 Contração satisfatória, aquela que aperta os dedos do examinador com elevação da parede vaginal em direção a sínfise púbica. 5 Contração forte: compressão firme dos dedos do examinador com movimento positivo em direção à sínfise púbica. Quadro 7: Graus de força muscular segundo o sistema Oxford adaptado. Educação Perineal Progressiva E.P.P 59 A manutenção da contração perineal (E - Endurance) corresponde ao tempo, em segundos, em que a paciente é capaz de realizar uma contração voluntária mantida e sustentada, resultado das fibras musculares lentas. Registra-se o tempo alcançado (no máximo dez segundos). As repetições das contrações mantidas (R - Repetition) correspondem ao número de contrações com sustentações satisfatórias (de cinco segundos), em que a paciente consegue realizar após um período de repouso de quatro segundos entre as mesmas. O número de contrações realizadas sem comprometimento da intensidade é registrado (no máximo dez repetições). O número de contrações rápidas (F - Fast) corresponde a verificação da funcionalidade das fibras musculares rápidas determinadas após dois minutos de repouso. Anota-se os número de contrações rápidas de um segundo sem comprometimento da intensidade (no máximo dez vezes). E - Every; C - Contractions e T – Timed são os itens que tem como objetivo monitorar o progresso do tratamento. Para realização desse exame, a participante será posicionada em decúbito dorsal em uma maca, com a cabeça apoiada em um travesseiro, o quadril levemente abduzido e os joelhos apoiados em uma cunha de aproximadamente 20 centímetros de altura. Nessa posição realiza-se um toque bidigital intravaginal em que o examinador, utilizando luvas estéreis, introduz diagonalmente os dedos indicador e médio no canal vaginal e, em seguida, realiza pronação do punho. Após finalizar os itens do esquema PERFECT, o examinador retorna a posição inicial, com o punho Educação Perineal Progressiva E.P.P 60 em posição neutra, e retira lentamente os dedos do canal vaginal. A definição proposta por Bø e Larsen 2 , ao adaptar o sistema Oxford para avaliação da força (P – Power) do esquema PERFECT mostrou-se de difícil aplicabilidade na prática, principalmente para a distinção entre contração perineal moderada (grau 3); contração perineal satisfatória (grau 4) e contração perineal forte (grau 5). Dessa forma, para a avaliação da força (P – Power) em nosso serviço, utilizamos o AFA proposto por por Ortiz et al 3 . Trata-se de uma avaliação também subjetiva da atividade contrátil da musculatura do assoalho pélvico, porém, de fácil entendimento e amplamente utilizada 1,4,5 , conforme observa-se no Quadro 8. Avaliação Funcional do Assoalho Pélvico (AFA) Grau 0 Sem função perineal objetiva, nem mesmo a palpação. Grau 1 Função perineal objetiva ausente, contração reconhecível somente à palpação. Grau 2 Função perinel objetiva débil, contração reconhecível à palpação. Grau 3 Função perineal objetiva presente e resistência opositora não mantida mais do que cinco segundos à palpação. Grau 4 Função perineal objetiva presente e resistência opositora mantida mais do que cinco segundos à palpação. Quadro 8: Avaliação Funcional do Assoalho Pélvico (AFA). Para a mensuração do AFA, a participante permanecerá na mesma posição que o fora solicitada no esquema PERFECT, de forma que não prejudicará a continuidade do exame. Acrescenta-se ainda que as etapas do esquema PERFECT não resultam em um Educação Perineal Progressiva E.P.P 61 somatório total, dessa forma, não haverá qualquer prejuízo na substituição da avaliação da força (P – Power) pela Avaliação Funcional do Assoalho Pélvico (AFA). Essa avaliação permite identificar em quais domínios é necessário mais atenção durante o tratamento. Além disso, a mensuração do tempo de contração das fibras lentas (endurance), rápidas (fast) e suas capacidades de repetição permitem planejar o tratamento dentro das possibilidades individuais de cada um. Destacamos a seguir, o modelo de ficha utilizado em nosso serviço, com os principais tópicos consideradosna avaliação inicial da paciente. Educação Perineal Progressiva E.P.P 62 Ficha de Avaliação Uroginecológica 1. DADOS PESSOAIS Nome: _______________________________________________ Idade: _________ Data de Nasc: ____/ ____ / _______. Estado Civil:___________________ Endereço: ____________________________________________ Peso:___________ Altura: __________ IMC:_______________ Cor: ___________________ Profissão: _____________ Procedência:________________ Escolaridade: ______________ Encaminhamento: _____________________________________ Telefone:______________ Clínica: _____________________________ Data da Avaliação:_______________________ 2. SINAIS VITAIS FC: _________bpm FR____________rpm PA ________________mmHg 3. QUEIXA PRINCIPAL _____________________________________________________ _____________________________________________________ ____________________________________________________ 4. ACHADOS URODINÂMICOS _____________________________________________________ _____________________________________________________ ____________________________________________________ 5. ANTECEDENTES MÉDICOS GERAIS Problemas respiratórios ( ) Sim ( ) Não Quais? _____________________________________________________ Educação Perineal Progressiva E.P.P 63 Diabetes Hipertensão Obesidade Sedentarismo TCE Convulsões Alterações na coluna vertebral Infecção Infecção Urinária DST Prótese Metálica Alergia ____________ Doenças Anteriores: ___________________________________ Medicamentos:_________________________________________ 6. HÁBITOS DE VIDA Etilismo: ( ) Sim ( ) Não Tabagismo: ( ) Sim ( ) Não Atividade Física: ( ) Sim ( ) Não ( ) Regular ( ) Esporádica Qual Esporte? _________________________________________ Consumo Diário de Líquido (L): __________ Bebidas Diuréticas: Café_____ Chá_____ Refrigerante_____ Vinho_____ Cerveja_____ 7. ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS: (Número) Gestações ______ Partos ______ Abortos_____ Normais ______ Cesáreos ________ Fórceps _______ Episiotomia _______ Lacerações______ 8. CARECTERÍSTICAS UROLÓGICAS: Caráter da Disfunção: Diurna Noturna Esforço Contínua Há quanto tempo apareceram as alterações _________________ Já realizou tratamentos Anteriores: ( ) Sim ( ) Não Fisioterapêutico Farmacológico ( ) Cirúrgico. Resultado do Tratamento: Cura Melhora Melhora Momentânea Piora Recidiva Sem alterações Frequência do Distúrbio: ( ) Nunca ( ) Às vezes ( ) Sempre Educação Perineal Progressiva E.P.P 64 Durante a Micção: Dor ao início Dor ao Final Dificuldade para iniciar Imperiosa Urgência Não consegue esvaziamento total Dor persistente Força Abdominal Dificuldade em segurar a urina Volume Miccional é: Pequeno Médio Grande Menopausa: Sim Não Há quanto tempo: ________________ Quantas vezes vai ao banheiro: (_____) Durante o Dia (_____) Durante a noite Necessita de Proteção Diária? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) Número de trocas Atividades que ocorrem perdas urinária (ESFORÇO) : Saltar Correr Ginástica Levantar peso Espirrar Tossir Trocar de Posição Subir escadas Rir Relação Sexual Outros : _____________________________________ Instabilidade Vesical: Stress ( ) Vontade de urinar ( ) Perda Urinária Frio ( ) Vontade de urinar ( ) Perda Urinária Barulho de água ( ) Vontade de urinar ( ) Perda Urinária Mãos em contato com água ( ) Vontade de urinar ( ) Perda Urinária Possui Incontinência Fecal? ( ) Nunca ( ) As Vezes ( ) Sempre Possui Constipação? ( ) Nunca ( ) As Vezes ( ) Sempre Dificuldade em Evacuar (discrasia)? ( ) Nunca ( ) As Vezes ( ) Sempre Hemorróidas? ( ) Nunca ( ) As Vezes ( ) Sempre Educação Perineal Progressiva E.P.P 65 9. EXAME FÍSICO Padrão respiratório: Costal Alta Paradoxal Diafragmática Ms acessória Diástase Abdominal Sim Não Quanto? ___________________ Inspeção: Cicatriz:_______________________________________________ Irritação: ______________________________________________ Tonicidade do NFCP : ( ) Normotônico ( ) Hipotônico ( ) Hipertônico Contração do AP: Ciente Não Ciente Musculatura Parasita: Adutores Glúteos Abdominais Anteversão do quadril Retroversão do quadril Ausência de movimento Exame de Sensibilidade : S2________________________ S3___________________ S4_______________________ Tipo de Prolapso: ( ) Cistocele ( ) Retocele ( ) Uretrocele ( ) Histeroptose 10. TESTE DE FUNÇÃO DOS ELEVADORES: PERFECT - POWER : ( ) Grau 0 ( ) Grau 1 ( ) Grau 2 ( ) Grau 3 ( ) Grau 4 - ENDURANCE : ______ tempo de manutenção da contração (segundos) - REPETICIONS: ________ Número de contrações ______ tempo da contração (segundos) - FAST : ________ Número de contrações em 1 minuto com repouso de 2 segundos. Educação Perineal Progressiva E.P.P 66 Referências 1 Coletti, SH; Haddad, JM; Barros, JPF. Avaliação Funcional do Assoalho Pélvico. In: Amaro, JL. Reabilitação do assoalho pélvico nas disfunções urinárias e anorretais. São Paulo: Segmento Farma, 2005. 328 p. 2 Bø K; Larsen, S. Classification and characterization of responders to pelvis floor muscle exercise for female stress urinary incontinence. Neurourology and Urodynamics Journal , 1990. 9 (1): 395-6. 3 Ortiz, OC, et al. Valoración dinâmica de La disfuncion perineal em La mujer. Propuesta de classificación. Bo Sociedade Latinoamericana de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal. 1994.1: 7- 9. 4 Barbosa AMP, et al. Efeito da via de parto sobre a força muscular do assoalho pélvico. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 2005. 27(11): 677-682. 5 Moreno, AL. Avaliação Fisioterapêutica. In: ____________. Fisioterapia em Uroginecologia. São Paulo: Manole, 2004. 187 p. Educação Perineal Progressiva E.P.P 67 Capítulo 7 A E.P.P. – Educação Perineal Progressiva O desenvolvimento da E.P.P. surgiu a partir da necessidade de informar, conscientizar e tratar as mulheres ressaltando as funções do assoalho pélvico e a importância da estabilidade dessa musculatura. É fato que a cinesioterapia para o assoalho pélvico é uma alternativa não cirúrgica eficaz e de baixo custo para solucionar o quadro de perdas urinárias. Os exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico são recomendados como tratamento inicial das perdas urinárias e as taxas de cura / melhora clínica nos ensaios clínicos randomizados que incluem pacientes com incontinência mista e de esforço variam de 56 a 70 % 1 . Bø 2 e Balmforth et al 3 relatam que o treinamento da musculatura do assoalho pélvico é um tratamento efetivo para a incontinência urinária de esforço e de sintomas mistos e, por isso, deve ser recomendada como terapia de primeira linha. A elaboração desta proposta objetivou: conscientizar as mulheres
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