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ENIELSON GAMA ESPAÇOS MÉTRICOS, ESPAÇOS NORMADOS E ESPAÇOS DE BANACH BELÉM-PA ”Bem-aventurado o homem que acha a sabedoria, e o homem que adquire conheci- mento.” Provérbios 3.13 Sumário 1 ESPAÇOS MÉTRICOS, ESPAÇOS NORMADOS E ESPAÇOS DE BANACH 4 1.1 Espaços Métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.2 Espaços Normados e Espaços de Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.3 Propriedade dos Espaços Normados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.3.1 Espaços Normados e Dimensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 1.3.2 Compacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 1.4 Operadores Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 1.5 Operador Linear Limitado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1.5.1 Funcionais Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 1.6 Espaço de Operadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 1.7 Mais Teoremas Envolvendo Espaços Normados e Espaços de Banach . . . . . . 29 1.7.1 Operador Adjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 1.7.2 Convergência Forte e Convergência Fraca . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 1.7.3 Aplicação Aberta e Gráfico Fechado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 3 Capítulo 1 ESPAÇOS MÉTRICOS, ESPAÇOS NORMADOS E ESPAÇOS DE BANACH Neste capítulo iremos apresentar alguns resultados de grande relevância para o avanço deste trabalho, que incluem alguns conceitos topológicos, convergência de sequência, espaços comple- tos etc. Este capítulo foi baseado nas referências [?], [?] e [?]. 1.1 Espaços Métricos Definição 1.1.1 (Métrica, Espaço Métrico). Uma métrica sobre um conjunto X 6= ∅ é uma apli- cação d : X ×X → R que satisfaz (M1) d(x, y) ≥ 0; (M2) d(x, y) = 0⇐⇒ x = y; (M3) d(x, y) = d(y, x); (M4) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y); para quaisquer x, y e z em X . O par (X, d) chamamos de espaço métrico. Um subespaço (Y, d˜) para (X, d) é obtido se tomarmos um subconjunto Y ⊂ X e restringirmos d a Y × Y , assim a métrica sobre Y é a restrição d˜ = d|Y×Y e dizemos que d˜ é a metrica induzida sobre Y por d. Exemplo 1.1 (Reta Real R). O conjunto R dos números reais, com a "métrica usual"da reta, definida por d(x, y) = |x− y| é um espaço métrico. 4 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Exemplo 1.2 (Espaço das Funções Contínuas). Seja X o conjunto de todas as funções reais x, y, . . . que são de uma variável independente t, definidas e contínuas em um determinado inter- valo fechado [a, b]. Escolhendo a métrica definida por d(x, y) = max t∈ [a,b] |x(t)− y(t)| onde max é o máximo, obtemos um espaço métrico denotado por C[a, b]. Este é um espaço de funções, pois cada ponto de C[a, b] é uma função. Exemplo 1.3 (Espaço B(A) das funções limitadas). Pela definição cada elemento x ∈ B(A) é uma função definita e limitada sobre um dado conjunto A, e a métrica é definida por d(x, y) = sup t∈A |x(t)− y(t)| onde sup é o supremo. No caso A = [a, b] ⊂ R, escrevemos B[a, b] para B(A). Definição 1.1.2 (Bola e Esfera). Sejam (X, d) um espaço métrico, x0 ∈ X e r > 0, definimos três tipos de conjuntos (a) B(x; r) = {x ∈ X/d(x, x0) < r} (Bola Aberta) (b) B˜(x; r) = {x ∈ X/d(x, x0) ≤ r} (Bola Fechada) (c) S(x; r) = {x ∈ X/d(x, x0) = r} (Esfera) Nos três casos, dizemos que x0 é o centro e r é o raio. Definição 1.1.3 (Conjunto Aberto, Conjunto fechado). Seja (M,d) um espaço métrico. Dizemos que X ⊂ M é um conjunto aberto, se para cada ponto x de X existe um bola aberta de centro x e raio r contida em X . Dizemos que Y ⊂ X é fechado se seu complementar em M é aberto. Chamamos de ε-vizinhança de x0 uma bola aberta de centro em x0 e raio ε. Uma vizinhança de x0 é um conjunto Y que contém uma ε-vizinhança de x0, claramente cada vizinhança de x0 contém x0. Também se Y é uma vizinhança de x0 e Y ⊂ X , então X é uma vizinhança para x0. Se Y ⊂ X é uma vizinhança para x0, então dizemos que x0 é um ponto interior do conjunto Y e denotamos por int Y o interior de Y que é o conjunto formado por todos os pontos interiores a Y . O int Y é o maior conjunto aberto contido em Y . Enielson Gama 5 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Definição 1.1.4 (Aplicação Contínua). Sejam (X, d) e (Y, d˜) espaços métricos. Dizemos que uma aplicação T : X → Y é contínua no ponto x0 ∈ X se para cada ε > 0 existe um δ > 0 tal que d˜(Tx, Tx0) < ε, para todo x satisfazendo d(x, x0) < δ. Se T é contínua em cada ponto x0 ∈ X , T é contínua. Teorema 1.1 (Aplicação Contínua). Uma aplicação T de um espaço métrico X para um espaço métrico Y é contínua se, e somente se, a imagem inversa de qualquer conjunto aberto de Y é um conjunto aberto em X . Demonstração. A prova possui duas partes. (⇒) Suponhamos que a aplicação T é contínua. Tomamos um conjunto aberto A ⊂ Y e seja A0 a imagem inversa de A. Se A0 = ∅, ele é aberto. Seja A0 6= ∅. Para cada x0 ∈ A0 seja y0 = Tx0. Como A é aberto, ele contém uma ε-vizinhança V de y0. Como T é contínua, x0 tem uma δ-vizinhança V0 que é uma aplicação sobre V . Uma vez que V ⊂ A, temos V0 ⊂ A0 e como x0 ∈ V0 foi arbitrário, V0 é aberto. (⇐) Reciprocamente, assumimos que a imagem inversa de cada conjunto aberto em Y é um aberto em X . Então para cada x0 ∈ X e cada ε-vizinhança V de Tx0, a imagem inversa V0 de V é aberta, pois V é aberto e V0 contém x0. Sendo assim, V0 contém uma δ-vizinhança de x0, que é uma aplicação sobre V . Portanto, pela definição T é contínua em x0. Logo T é contínua, pois x0 ∈ X foi arbitrário. � Definição 1.1.5 (Fecho, Denso, Separável). Seja X um espaço métrico e Y ⊂ X . Dizemos que um ponto x0 ∈ X é um ponto de acumulação de Y , se cada vizinhança de x0 contém pelo menos um ponto de Y distinto de x0. O fecho de Y denotado por Y é o conjunto formado pelos pontos de Y e seus pontos de acumulação. Dizemos que Y é denso em X se Y = X . Se Y é denso em X , então cada bola aberta em X contém pontos de y. Dizemos que X é separável se ele contém um subconjunto enumerável e denso em X . Seja X um espaço métrico. Toda aplicação n 7→ xn de N em X , é chamada de sequência dos elementos de X , a qual indicamos por (x1, x2, . . . , xn, . . .) ou, simplesmente, xn. Dada uma sequência (xn) em X , se {n1, n2, . . .} ⊂ N e n1 < n2 < . . ., então a aplicação dada por ni 7→ xni é indicada por (xn1 , xn2 , . . . , xni , . . .) e recebe o nome de subsequência de (xn). Definição 1.1.6 (Convergência, Limite, Conjunto Limitado). Dizemos que uma sequência (xn) Enielson Gama 6 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach em um espaço métrico X é convergente se existe x ∈ X tal que lim n→∞ d(xn, x) = 0 onde x é o limite de (xn) e escrevemos lim n→∞ xn = x ou xn → x E dizemos que (xn) tem o limite x ou (xn) converge para x. Então se xn → x, para cada ε > 0, existe um N = N(ε) tal que toda xn com n > N se encontra na bola aberta B(x; ε). Se (xn) não converge, dizemos que (xn) é divergente. Dizemos que conjunto não vazio Y ⊂ X é um conjunto limitado, quando existe uma constante c > 0 tal que d(x, y) ≤ c para quaisquer x, y ∈ Y . E definimos o diâmetro de um conjunto limitado Y ⊂ X como sendo o número real δ(Y ) = sup x,y ∈Y d(x, y). A sequência (xn) em X é uma sequência limitada se seus correspondentes pontos formam um subconjunto limitado em X . Se Y é limitado, então Y ⊂ B(x0; r), onde x0 ∈ X é um ponto qualquer e r é um número real suficientemente grande. Lema 1.1 (Limite, Limitação). Seja X um espaço métrico, então: (a) Uma sequência convergente em X é limitada e seu limite é único. (b) Se xn → x e yn → y em X , então d(xn, yn)→ d(x, y). Demonstração. (a) Suponhamos que xn →x, tomando ε = 1, podemos encontrar um N tal que d(xn, x) < 1 para todo n > N . Então pela propriedade (M4), para todo n, temos que d(xn, x) < 1 + a, onde a = max{d(x1, x), . . . , d(xN , x)} Isso mostra que (xn) é limitada. Assumindo que xn → x e xn → z, a partir de (M4), temos que 0 ≤ d(x, z) ≤ d(x, xn) + d(xn, z) n→∞−→ 0 + 0. Enielson Gama 7 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach A partir de (M2), concluímos que x = z. (b) Por (M2), temos que d(xn, yn) ≤ d(xn, y) + d(y, yn) ≤ d(xn, x) + d(x, y) + d(y, yn). Logo, d(xn, yn)− d(x, y) ≤ d(xn, x) + d(yn, y). Também d(x, y) ≤ d(x, xn) + d(xn, y) ≤ d(x, xn) + d(xn, yn) + d(yn, y). Logo, d(x, y)− d(xn, yn) ≤ d(xn, x) + d(yn, y). Das desigualdades acima, concluímos que |d(xn, yn)− d(x, y)| ≤ d(xn, x) + d(yn, y) n→∞−→ 0. � Definição 1.1.7 (Sequência de Cauchy, Espaço Completo). Dizemos que uma sequência (xn) em um espaço métrico X é de Cauchy se para cada ε > 0 existe um N ,tal que d(xn, xm) < ε para cada m,n > N Se X tem a propriedade de que toda sequência (xn) de Cauchy em X converge, isto é, xn → x ∈ X , então dizemos que X é completo. Teorema 1.2 (Sequência convergente). Toda sequência convergente em um espaço métrico é uma seqùência de Cauchy. Demonstração. Se xn → x, então para cada ε > 0, existe um N , tal que d(xn, x) < ε 2 para cada n > N Então, para cada m,n > N , obtemos d(xn, xm) ≤ d(xn, x) + d(xm, x) < ε 2 + ε 2 = ε. E isso mostra que (xn) é de Cauchy. � Enielson Gama 8 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Teorema 1.3 (Fecho, Conjunto Fechado). Sejam X 6= ∅ um subconjunto de um espaço métrico M e X seu fecho.Então: (a) x ∈ X ⇐⇒ existe uma sequência (xn) em X tal que xn → x. (b) X é fechado⇐⇒ A situação xn ∈ X , com xn → x, implicar que x ∈ X . Demonstração. (a) Dividimos a prova em duas partes: (⇒) Tomamos x ∈ X . Se x ∈ X , a sequência é (x, x, . . . ). Caso contrário, x é um ponto de acumulação de X . Assim, para cada n = 1, 2, . . . a bola B(x; 1 n ) contém xn ∈ X , e xn → x pois 1 n → 0, quando n→∞. (⇐) Agora se xn ∈ X e xn → x, então x ∈ X ou cada vizinhança de x contém pontos xn 6= x de modo que x é um ponto de acumulação de X . E pela definição x ∈ X . (b) Sabe-se que X é fechado se, e somente se, X = X . Então, (b) segue imediatamente de (a). � Teorema 1.4 (Subespaço Completo). Um subespaço X de um espaço métrico completo M é completo se, e somente se, o conjunto X é fechado em M . Demonstração. De fato: (⇒) Assumimos que X é completo. Pelo teorema 1.3(a), para cada x ∈ X , existe (xn) em X , tal que xn → x. Pelo teorema 1.2, (xn) é de Cauchy. Como X é completo, (xn) converge em X e seu limite é único pelo teorema 1.1. Daí x ∈ X . Desde que x ∈ X foi arbitrário, concluímos que X ⊂ X , mas também sabemos que X ⊂ X , logo X = X . Portanto X é fechado. (⇐) Reciprocamente, seja X fechado e (xn) de Cauchy em X . Então xn → x ∈M , pelo teorema 1.3(a), temos que x ∈ X e uma vez que X = X , teremos x ∈ X . Daí a sequência arbitrária de Cauchy (xn) converge em X , o que prova que X é completo. � Teorema 1.5 (Aplicação Contínua). Sejam (X, d) e (Y, d˜) espaços métricos, então uma aplicação T : X → Y é contínua no ponto x0 se, e somente se, xn → x implicar que Txn → Tx. Demonstração. Em duas etapas, temos que: (⇒) Assumindo que T é contínua em x0. Então pela definição, para cada ε > 0 dado, existe δ > 0 tal que Enielson Gama 9 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach d(x, x0) < δ implica d˜(Tx, Tx0) < ε. Seja xn → x0. Então existe um N , tal que, para cada n > N , temos d˜(Txn, Tx0) < ε. o que significa que Txn → Tx0. (⇐) Reciprocamente, assumimos que xn → x0, implica Txn → Tx0. Supondo que T não é contínuo em x0. Então existe um ε > 0 tal que, para todo δ > 0 existe um x 6= x0 satisfazendo d(x, x0) < δ , mas d˜(Tx, Tx0) ≥ ε. Em particular, para δ = 1 n existe xn satisfazendo d(xn, x0) < δ e d˜(Txn, Tx0) ≥ ε. Claramente vemos que xn → x, porém (Txn) não converge para Tx0, o que contraria a hipótese. Portanto T é contínua. � Exemplo 1.4 (Exemplo de Espaço Completo). O espaço de funçõesC[a, b] é completo, onde [a, b] é qualquer intervalo fechado em R. Demonstração. Seja (xn) uma sequência de Cauchy em C[a, b]. Então dado ε > 0, existe um N , tal que, para todo m,n > N , temos d(xm, xn) = max t∈ [a,b] |xm(t)− xn(t)| < ε (1.1) Então para qualquer fixo t = t0 ∈ [a, b], temos que |xm(t0)− xn(t0)| < ε (m,n > N) Isso mostra que (x1(t0), x2(t0), . . . ) é uma sequência de Cauchy de números reais. Como R é completo, a sequência converge, digamos, xm(t0) → x(t0) com m → ∞. Dessa forma podemos associar com cada t ∈ [a, b] um único número real x(t). Isso define uma função x sobre [a, b]. Enielson Gama 10 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Mostraremos que x ∈ C[a, b] e que xm → x. De (1.1) com n→∞, temos max t∈ [a,b] |xm(t)− x(t)| ≤ ε (m > N) Então para cada t ∈ [a, b] |xm(t)− x(t)| ≤ ε (m > N) E isso mostra que (xm(t)) converge uniformemente para x(t) em C[a, b]. Desde que as xm′s são contínuas em [a, b] e a convergência é uniforme, o limite x é uma função contínua em [a, b], logo x ∈ C[a, b]. Também xn → x. E concluí-se que C[a, b] é completo. 1.2 Espaços Normados e Espaços de Banach Definição 1.2.1. Uma norma em um espaço vetorial X sobre um corpo K (R ouC), é uma apli- cação ‖.‖ : X → R que satisfaz: (N1) ‖x‖ ≥ 0 (N2) ‖x‖ = 0⇐⇒ x = 0 (N3) ‖αx‖ = |α| ‖x‖ (N4) ‖x+ y‖ ≤ ‖x‖+ ‖y‖ (Desigualdade Triangular) para quaisquer x, y ∈ X e α ∈ K. O par (X, ‖.‖) é um espaço vetorial normado. Uma norma sobre X , define uma métrica d em X , que é dada por d(x, y) = ‖x− y‖ que é chamada de métrica induzida pela norma. Se X é um espaço vetorial normado completo (completo na métrica induzida pela norma), dizemos que X é um espaço de Banach. Proposição 1.1 (Continuidade da norma). A norma é contínua, isto é, x → ‖x‖ é uma aplicação contínua de (X, ‖.‖) em R. Enielson Gama 11 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Prova. Pela propriedade (N4), temos que ‖x‖ = ‖x+ y − y‖ ≤ ‖x− y‖+ ‖y‖ ⇒ ‖x‖ − ‖y‖ ≤ ‖x− y‖ e ‖y‖ = ‖y − x+ x‖ ≤ ‖y − x‖+ ‖x‖ ⇒ ‖y‖ − ‖x‖ ≤ ‖x− y‖ Das desigualdades acima, obtemos |‖x‖ − ‖y‖| ≤ ‖x− y‖ (1.2) Então, fazendo δ = ε, por (1.2), temos que ‖x− y‖ < δ =⇒ |‖x‖ − ‖y‖| < ε E pela definição 1.1.4, a norma é contínua. 1.3 Propriedade dos Espaços Normados Um subespaço Y de um espaço normado X é obtido ao restringirmos a norma de X para um subconjunto Y de X . E dizemos que a norma de Y é induzida pela norma em X . Dizemos que Y ⊂ X é um subespaço fechado de X se Y é fechado em X . Teorema 1.6 (Subespaço de um Espaço de Banach). Um subespaço Y de um espaço de Banach X é completo se, e somente se, o conjunto Y é fechado em X . Demonstração. O resultado segue a partir do teorema 1.4. A partir das definições 1.1.6 e 1.1.7 e usando o fato de que d(x, y) = ‖x− y‖, temos a seguinte definição: Definição 1.3.1 (Sequências). Para um espaço normado X: (a) A sequência (xn) em X é convergente se existe x ∈ X , tal que lim n→∞ ‖xn − x‖ = 0 Escrevemos xn → x, onde x é o limite de (xn). Enielson Gama 12 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach (b) A sequência (xn) em X é de Cauchy se para cada ε > 0 existe um N , tal que ‖xn − xm‖ < ε para todo n,m > N Definição 1.3.2 (Série Infinita). Seja (xk) uma sequência em um espaço normado X , associamos a (xk) um sequência (sn) de somas parciais sn = x1 + x2 + . . .+ xn, em que n = 1, 2, . . .. Se (sn) converge, digamos, sn → s, isto é, ‖sn − s‖ → 0, então dizemos que a série infinita ∞∑ k=1 xk = x1 + x2 + . . . converge, ou que é convergente. s é chamado de soma da série, assim escrevemoss = ∞∑ k=1 xk. Dizemos que ∞∑ k=1 xk é absolutamente convergente se ∞∑ k=1 ‖xk‖ converge. Teorema 1.7 (Convergência Absoluta). Se X é um espaço de Banach, então toda série em X absolutamente convergente é convergente. Demonstração. Suponhamos que X é um espaço de Banach e seja ∞∑ j=1 ‖xn‖ uma série absoluta- mente convergente. Vamos mostrar que ∞∑ j=1 xn <∞. De fato, sejam Sm := x1 + x2 + . . .+ xm e Tm := ‖x1‖+ ‖x2‖+ . . .+ ‖xm‖ as somas parciais das séries ∞∑ j=1 xn e ∞∑ j=1 ‖xn‖, respectivamente. Dessa forma, para todo m > n, temos ‖Sm − Sn‖ = ‖xn+1 + xn+2 + . . .+ xm‖ ≤ ‖xn+1‖+ ‖xn+2‖+ . . .+ ‖xm‖ = |Tm − Tn| < ε Enielson Gama 13 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Logo, a sequência de somas parciais Sn é de Cauchy e portanto converge no espaço de Banach X . Em outros termos ∞∑ j=1 xn converge em X . � 1.3.1 Espaços Normados e Dimensão Lema 1.2 (Combinação Linear). SejamX um espaço normado de qualquer dimensão e {x1, . . . , xn} um conjunto linearmente independente em X . Então existe c > 0, tal que, para cada escolha de escalares λ1, . . . , λn, temos ‖λ1x1 + · · ·+ λnxn‖ ≥ c(|λ1|+ · · ·+ |λn|) (1.3) Demonstração. Seja s = |λ1|+ · · ·+ |λn|. Se s = 0, temos λj = 0, então a desigualdade (1.3) é válida para todo c > 0. Seja s > 0. Ao dividirmos (1.3) por s e escrevendo βj = λj s , obtemos ‖β1x1 + · · ·+ βnxn‖ ≥ c (1.4) (∑ |βj| = 1 ) Logo, provar (1.3) é equivalente a provar a existência de um c > 0, tal que (1.4) é válida para todas n-uplas de escalares β1, . . . , βn com ∑ |βj| = 1. Supondo que isso é falso. Então existe uma sequência (ym) de vetores ym = β (m) 1 x1 + · · ·+ β(m)n xn (∑ |βj| = 1 ) tal que ‖ym‖ → 0 quando m→∞ Como ∑ |β(m)j | = 1, temos |β(m)j | ≤ 1. Assim, para cada j fixo, a sequência (β(m)j ) = (β(1)j , β(2)j , . . .) é limitada. Consequentemente, pelo teorema de Bolzano-Weierstrass, (β(m)1 ) tem uma subsequên- cia convergente. Seja β1 o limite dessa subsequência e seja (y1,m) a correspondente subsequência de (ym). Pelo mesmo motivo, (β (m) 2 ) tem uma subsequência convergente. Seja β2 o limite da subsequência e seja (y2,m) a correspondente subsequência de (y1,m). Dessa maneira, após n etapas, obtemos uma subsequência (yn,m) = (yn,1, yn,2, . . .) de (ym), cujos termos são da forma yn,m = n∑ j=1 α (m) j xj ( n∑ j=1 |α(m)j | = 1 ) Enielson Gama 14 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach em que α(m)j → βj com m→∞. Daí, se m→∞, yn,m −→ y = n∑ j=1 βjxj onde ∑ |βj| = lim m→∞ n∑ j=1 |α(m)j | = 1, de modo que devemos ter algum bj 6= 0. Como o conjunto {x1, . . . , xn} é linearmente independente, temos que y 6= 0. Por outro lado, pela continuidade da norma, (yn,m) → y implica ‖yn,m‖ → ‖y‖. Como por suposição ‖ym‖ → 0 e (yn,m) é uma subsequência de (ym), devemos ter ‖yn,m‖ → 0. E por consequênica, ‖y‖ = 0, e pela propriedade (N2), y = 0. Mas isso contradiz o fato de que y 6= 0. O que prova o lema. � Teorema 1.8 (Completo). Todo subespaço de dimensão finita Y de um espaço normado X é completo. Em particular, todo espaço de dimensão finita é completo. Demonstração. Seja (ym) uma sequência arbitrária de Cauchy em Y . Mostraremos que (ym) converge em Y . Se dimY = n e {e1, . . . , en} é uma base qualquer de Y , então cada ym tem uma única repre- sentação da forma ym = α (m) 1 e1 + · · ·+ α(m)n en Como (ym) é de Cauchy, para cada ε > 0 existe um N , tal que ‖ym − yr‖ < ε, onde m, r > N . Pelo lema 1.2, existe c > 0 de modo que ε > ‖ym − yn‖ = ∥∥∥∥∥ n∑ j=1 (α (m) j − α(r)j )ej ∥∥∥∥∥ ≥ c n∑ j=1 |α(m)j − α(r)j | (m, r > N) Dividindo por c > 0, temos que |α(m)j − α(r)j | ≤ n∑ j=1 |α(m)j − α(r)j | < ε c (m, r > N) Logo, para cada n a sequência (α (m) j ) = (α (1) j , α (2) j , . . . ) j = 1, . . . , n é de Cauchy em R ou C, e portanto converge, digamos, α(m)j → αj . A partir dos n limites α1, . . . , αn, definimos y = α1e1 + · · ·+ αnen Enielson Gama 15 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Claramente, y ∈ Y . De ‖ym − y‖ = ∥∥∥∥∥ n∑ j=1 (α (m) j − αj)ej ∥∥∥∥∥ ≤ n∑ j=1 |α(m)j − α| ‖ej‖ vemos que ‖ym − y‖ → 0, isto é, ym → y, pois na direita, α(m)j → αj . Mostramos assim que (ym) converge em Y , logo Y é completo. � A partir desse teorema e do teorema 1.4, temos o seguinte resultado. Teorema 1.9 (Subespaço Fechado). Sejam X um espaço normado e Y um subespaço de X . Se Y tem dimensão finita, então Y é fechado em X . 1.3.2 Compacidade Definição 1.3.3 (Compacidade). Seja X um espaço métrico. Se toda sequência em X possui uma subsequência convergente, então dizemos que X é compacto. Um subconjunto Y de X é compacto, se Y como um subespaço de X é compacto, ou seja, se toda sequência em Y possui uma subsequência cujo limite é um elemento de Y . Lema 1.3 (Compacidade). Se um subconjunto Y de um espaço métrico X é compacto, então ele é fechado e limitado. Demonstração. Para cada x ∈ Y existe uma sequência (xn) ∈ Y ,tal que xn → x, onde x ∈ Y , pois Y é compacto. Portanto, como x ∈ Y foi arbitrário, Y é fechado. Provaremos que Y é limitado. Se Y fosse ilimitado, existiria uma sequência (yn) ∈ Y tal que d(yn, y) > n, em que y é um elemento fixo qualquer. Claramente essa sequência não possui subsequência convergente, pois uma subsequência convergente é limitada, e isso contraria a com- pacidade de Y . Logo, Y é limitado. � Lema 1.4 (Riesz’s). SejaX um espaço normado de qualquer dimensão e sejam Y e Z subespaços de X . Se Y é fechado e é um subespaço próprio de Z, então para qualquer número real θ no in- tervalo (0, 1) existe um z ∈ Z tal que ‖z‖ = 1 , ‖z − y‖ ≥ θ para todo y ∈ Y . Enielson Gama 16 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Figura 1.1: Notações da demonstração do Lema de Riessz’s Demonstração. Iniciamos tomando um v ∈ Z − Y qualquer e denotamos a distância de v para Y por a, que é a = inf y∈Y ‖v − y‖ Temos que a > 0 pois se tivéssemos a = inf y∈Y ‖v − y‖ = 0, pela definição de ínfimu, existiria uma sequência (yn) ∈ Y tal que ‖v − yn‖ → a = 0, logo yn → v, onde v 6∈ Y , o que contraria o fato de que Y é fechado, então de fato a > 0 . Seja θ ∈ (0, 1) qualquer. Pela definição de ínfimo existe um yo ∈ Y tal que a ≤ ‖v − y0‖ ≤ a θ (1.5) (notamos que a θ > a, pois 0 < θ < 1). Seja z = c(v − y0) onde c = 1‖v − y0‖ . Então ‖z‖ = 1 e mostraremos que ‖z − y‖ ≥ θ para cada y ∈ Y . Temos ‖z − y‖ = ‖c(v − y0)− y‖ = c ‖v − y0 − c−1y‖ = c ‖v − y1‖ onde y1 = y0 + c−1y. A forma de y1 mostra que y1 ∈ Y . Então ‖v − y1‖ ≥ a = inf y∈Y ‖v − y‖. Usando a equação anterior e usando (1.5), obtemos ‖z − y‖ = c ‖v − y1‖ ≥ ca = a‖v − y0‖ ≥ a a/θ = θ � Enielson Gama 17 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Teorema 1.10 (Dimensão Finita). Sejam X é um espaço normado e M = {x ∈ X/ ‖x‖ ≤ 1} a bola fechada unitária. Se M ⊂ X é compacta, então X tem dimensão finita. Demonstração. Por hipótese assumimos que M é compacto e que a dimX = ∞, mostraremos que isso produz uma contradição. Tomamos um x1 qualquer tal que ‖x1‖ = 1. Esse x1 gera uma subespaço unidimensional X1 de X , que é fechado pelo teorema 1.9 e como dimX = ∞, X1 é um subespaço próprio de X . Pelo lema de Riesz’s existe um x2 ∈ X , onde ‖x2‖ = 1, tal que ‖x2 − x1‖ ≥ θ = 1 2 Da mesma forma x1, x2 geram um subespaço próprio fechado X2 de X , em que dimX2 = 2. Pelo lema de Riesz’s existe um x3, onde ‖x3‖ = 1, tal que para todo x ∈ X2, temos ‖x3 − x‖ ≥ 12 em particular ‖x3 − x1‖ ≥ 12 ‖x3 − x2‖ ≥ 12 Prosseguindo desse modo, iremos obter uma sequência (xn) de elementos xn ∈M , tal que ‖xm − xn‖ ≥ 12 (m 6= n) Obviamente, (xn) não possui subsequência convergente. Istocontradiz a compacidade de M . Por isso, nossa hipótese que dimX =∞ é falsa, e portanto dimX <∞. � 1.4 Operadores Lineares Definição 1.4.1. Um operador linear entre espaços vetoriais X e Y é uma aplicação T : D(T ) ⊂ X → Y em que seu domínio D(T ) é um subespaço de X e T (x+ λy) = Tx+ λTy para todo x, y ∈ D(T ) e todo λ ∈ K. Obs: Note que T0X = 0Y . Enielson Gama 18 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Definição 1.4.2. Definimos como espaço nulo (núcleo) de T , denotado porN (T ), e a imagem de T , denotada porR(T ) ou Im(T ), os conjuntos: N (T ) = {x ∈ D(T ) ; Tx = 0Y } R(T ) = {y ∈ Y ; ∃x ∈ D(T ) com Tx = y} Teorema 1.11 (Imagem e Espaço Nulo). Seja T um operador linear. Então: (a) A imagenR(T ) é um espaço vetorial. (b) Se dimD(T ) = n <∞, então dimR(T ) ≤ n. (c) O espaço nulo N (T ) é um espaço vetorial. Demonstração. (a) Tomamos y1, y2 ∈ R(T ), logo temos que y1 = Tx1 e y2 = Tx2 para alguns x1, x2 ∈ D(T ), e αx1 + βx2 ∈ D(T ), pois D(T ) é um espaço vetorial. De T (αx1 + βx2) = αTx1 + βTx2 = αy1 + βy2, vemos que αy1 + βy2 ∈ R(T ), e isso prova que a imagem de T é um espaço vetorial. (b) Sejam y1, . . . , yn+1 ∈ R(T ). Então, temos y1 = Tx1, . . . , yn+1 = Txn+1 para alguns x1, . . . , xn+1 ∈ D(T ). Como dimD(T ) = n, o conjunto {x1, . . . , xn+1} é linearmente depen- dente. Então para alguns escalares λ1, . . . , λn+1 nem todos zeros, temos λ1x1 + · · ·+ λn+1xn+1 = 0. Aplicando T em ambos os lados, temos que T (λ1x1 + · · ·+ λn+1xn+1) = λ1y1 + · · ·+ λn+1yn+1 = 0. Logo, o conjunto {y1, . . . , yn+1} é linearmente dependente, pois alguns dos λj′s é diferente de zero. Concluímos que R(T ) não possui subconjuntos linearmente independentes de n + 1 ou mais elementos. Pela definição dimR(T ) ≤ n. (c) Sejam x1, x2 ∈ N (T ). Então Tx1 = Tx2 = 0. Para qualquer escalares α, β, temos T (αx1 + βx2) = αTx1 + βTx2 = 0. Portanto, αx1 + βx2 ∈ N (T ) e assim N (T ) é um espaço vetorial. � Enielson Gama 19 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach O operador T : D(T )→ Y é injetivo se para quaisquer x1, x2 ∈ D(T ) x1 6= x2 =⇒ Tx1 6= Tx2, (1.6) ou equivalentemente, Tx1 = Tx2 =⇒ x1 = x2. (1.7) Neste caso T−1 : R(T ) → D(T ) y0 7→ x0 (1.8) existe e leva y0 ∈ R(T ) para x0 ∈ D(T ), onde y0 = Tx0. Teorema 1.12 (Operador Inverso). Sejam X, Y espaços vetoriais reais ou complexos. Seja T : D(T ) ⊂ X → R(T ) ⊂ Y um operador linear. Então: (a) A inversa T−1 : R(T )→ D(T ) existe se, e somente se Tx = 0 =⇒ x = 0. (b) Se T−1 existe, também é linear. (c) Se dimD(T ) = n <∞ e T−1 existe, então dimR(T ) = dimD(T ). Demonstração. (a) (⇒) Supondo que T−1 existe. Então Tx1 = Tx2, implica x1 = x2 e como T é linear T0 = 0. Daí Tx1 = T0 = 0 implica x1 = 0 (⇐) Supondo que Tx = 0, implica x = 0. Seja Tx1 = Tx2. Logo T (x1−x2) = Tx1−Tx2 = 0, onde x1 − x2 = 0. Daí x1 = x2, e por (1.7), T−1 existe. (b) O domínio de T−1 é R(T ) que é um espaço vetorial. Seja x1, x2 ∈ D(T ) e suas imagens y1 = Tx1 e y2 = Tx2. Então x1 = T−1y1 e x2 = T−1y2. Como T é linear, temos para α, β ∈ K que αy1 + βy2 = αTx1 + βTx2 = T (αx1 + βx2) o que implica que T−1(αy1 + βy2) = αx1 + βx2 = αT−1x1 + βT−1x2. E prova que T−1 é linear. (c) Pelo teorema 1.11(b) temos que dimR(T ) ≤ dimD(T ) e para T−1 que a dimD(T ) ≤ dimR(T ), então dimD(T ) = dimR(T ). � Enielson Gama 20 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Lema 1.5 (Inversa do Produto). Sejam T : X → Y e S : Y → Z operadores lineares bijetivos, onde X, Y e Z são espaços vetoriais. Então a inversa (ST )−1 : Z → X do produto ST existe e (ST )−1 = T−1S−1. (1.9) Demonstração. Por hipótese ST : X → Z é bijetivo, então (ST )−1 existe. Assim ST (ST )−1 = IZ onde IZ é o operador identidade de Z. Aplicando S−1 e usando S−1S = IY , obtemos S−1ST (ST )−1 = T (ST )−1 = S−1IZ = S−1. Agora aplicando T−1 e usando que T−1T = IX , obtemos (ST )−1 = T−1T (ST )−1 = T−1S−1, como queríamos. � 1.5 Operador Linear Limitado Definição 1.5.1. Sejam X, Y espaços normados e T : D(T ) → Y um operador linear. Dizemos que T é limitado se existe um número real c, tal que, para todo x ∈ D(T ), temos ‖Tx‖ ≤ c ‖x‖ (1.10) De ‖Tx‖ ‖x‖ ≤ c (x 6= 0) Temos que o menor c possível , tal que (1.10) vale para todo x 6= 0 é o supremo. Então, definimos ‖T‖ = sup x∈D(T ) x 6=0 ‖Tx‖ ‖x‖ (1.11) Da definição, segue que ‖Tx‖ ≤ ‖T‖ ‖x‖. Lema 1.6 (Norma). Se T é um operador linear limitado, então: (a) ‖T‖ = sup x∈D(T ) x 6=0 ‖Tx‖ ‖x‖ = supx∈D(T ) ‖x‖=1 ‖Tx‖ Enielson Gama 21 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach (b) A norma definida em (1.11) satisfaz as propriedades (N1), (N2), (N3) e (N4). Demonstração. (a) Seja x 6= 0 e y = x‖x‖ . Então ‖y‖ = 1. Como T é linear, temos ‖T‖ = sup x∈D(T ) x 6=0 ‖Tx‖ ‖x‖ = supx∈D(T ) x 6=0 ∥∥∥∥T ( 1‖x‖ ) x ∥∥∥∥ = sup y∈D(T ) ‖y‖=1 ‖Ty‖ . Escrevendo x no lugar de y na direita, temos o resultado. (b) (N1) é óbvio. De ‖T‖ = 0, temos Tx = 0 para todo x ∈ D(T ), logo T = 0. Assim (N2) também é satisfeito. Além disso, de ‖αT‖ = sup ‖x‖=1 ‖αTx‖ = sup ‖x‖=1 |α| ‖Tx‖ = |α| sup ‖x‖=1 ‖Tx‖ = |α| ‖T‖ , temos (N3), onde x ∈ D(T ). E finalmente, de sup ‖x‖=1 ‖(T1 + T2)x‖ = sup ‖x‖=1 ‖T1x+ T2x‖ ≤ sup ‖x‖=1 ‖T1x‖+ sup ‖x‖=1 ‖T2x‖ , em que x ∈ D(T ), temos (N4). � Teorema 1.13 (Continuidade-Limitação). Sejam X , Y espaços normados e T : D(T ) ⊂ X → Y um operador linear. Então: (a) T é contínuo se, e somente se, T é limitado. (b) Se T é contínuo em um ponto, então T é contínuo. Demonstração. (a) Se T = 0 é imediato. Seja T 6= 0, então ‖T‖ 6= 0. Assim, (⇒) Assumimos que T é limitado. Seja x0 ∈ D(T ) arbitrário e ε > 0 qualquer dado. Como T é linear, para cada x ∈ D(T ) tal que ‖x− x0‖ < δ onde δ = ε‖T‖ obtemos ‖Tx− Tx0‖ = ‖T (x− x0)‖ ≤ ‖T‖ ‖x− x0‖ < ‖T‖ δ = ε o que mostra que T é contínuo. (⇐) Assumimos que T é contínuo. Seja x0 ∈ D(T ) arbitrário, então dado qualquer ε > 0, existe Enielson Gama 22 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach δ > 0, tal que ‖Tx− Tx0‖ ≤ ε ‖x− x0‖ ≤ δ (1.12)para todo x satisfazendo Agora seja y ∈ D(T ), de modo que y 6= 0, definimos x = x0 + δ ‖y‖y x− x0 = δ ‖y‖yequivalentemente Logo ‖x− x0‖ = δ, então usando (1.12) e a linearidade de T , obtemos ‖Tx− Tx0‖ = ‖T (x− x0)‖ = ∥∥∥∥T ( δ‖y‖y )∥∥∥∥ = δ‖y‖ ‖Ty‖ < ε Da última parte, resulta que ‖Ty‖ ≤ ε δ ‖y‖ Reescrevendo, temos ‖Ty‖ ≤ c ‖y‖, onde c = ε δ . Portanto T é limitado. (b) Se T é contínuo em um ponto, pela segunda parte de (a), T é limitado, e se T é limitado a primeira parte de (a) mostra que T é contínuo. � Corolário 1.1 (Continuidade, Espaço Nulo). Se T é um operador linear limitado, então: (a) Se limxn = x, em que xn, x ∈ D(T ), então limTxn = Tx, (b) O espaço nulo N (T ) é fechado. Demonstração. (a) Pelo teorema 1.13(a), T é contínuo, logo o resultado segue a partir do teorema 1.5. (b) Pelo teorema 1.3(a), para cada x ∈ N (T ) existe uma sequência (xn) em N (T ) tal que xn → x. Pela parte (a) do corolário Txn → Tx. Como Txn = 0, devemos ter Tx = 0, de modo que x ∈ N (T ). Portanto N (T ) é fechado. � Proposição 1.2. Seja T um operador linear limitado, então ‖T n‖ ≤ ‖T‖n, para todo n ∈ N. Demonstração. Dividimos em duas partes. (a) Sejam T1 : Y → Z e T2 : X → Y operadores lineares limitados, onde X, Y e Z são espaços Enielson Gama 23 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach normados, então para x 6= 0, temos que ‖T1T2x‖ = ‖T1 ◦ T2(x)‖ = ‖T1(T2x)‖ ≤ ‖T1‖ ‖T2x‖ ≤ ‖T1‖ ‖T2‖ ‖x‖ Assim ‖T1T2x‖ ‖x‖ ≤ ‖T1‖ ‖T2‖ Daí ‖T1T2‖ = sup x∈X x 6=0 ‖T1T2x‖ ‖x‖ ≤ ‖T1‖ ‖T2‖ (1.13) (b) Em particular se T1 = T2, (1.13) dá ‖T 2‖ ≤ ‖T‖2. Supondo que ‖T n−1‖ ≤ ‖T‖n−1, fazendo T1 = T n−1 e T2 = T e usando(a), obtemos ∥∥T n−1T∥∥∥∥T n−1∥∥ ‖T‖ ≤ ‖T‖n−1 ‖T‖ ≤ ‖T‖n−1 ‖T‖ = ‖T‖n Portanto, concluímos que ‖T n‖ ≤ ‖T‖n para todo n ∈ N. � Definição 1.5.2 (Restrição e Extensão). Seja T : D(T )→ Y um operador linear. (a) A restrição de T a um subconjunto B ⊂ D(T ) é denotado por T |B e é um operador definido por T |B : B → Y ; T |Bx = Tx para todo x ∈ B. (b) A extensão de T a um conjunto X ⊃ D(T ) é o operador T˜ : X → Y ; T˜ |D(T ) = T , isto é, T˜ x = Tx para todo x ∈ D(T ). Teorema 1.14 (Extensão Linear Limitada). Seja T : D(T ) ⊂ X → Y um operador linear limitado, em que X é um espaço normado e Y é um espaço de Banach. Então T tem uma extensão T˜ : D(T )→ Y , onde T˜ é um operador linear limitado e ‖T˜‖ = ‖T‖ . Demonstração. Seja x ∈ D(T ), então existe uma sequência (xn) em D(T ), tal que xn → x. Por hipótese T é linear e limitada, logo Enielson Gama 24 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach ‖Txn − Txm‖ = ‖T (xn − xm)‖ ≤ ‖T‖ ‖xn − xm‖ , então como (xn) converge, temos que (Txn) converge, digamos Txn → y ∈ Y Definimos T˜ por T˜ x = y Mostraremos que T˜ está bem definida em cada x ∈ D(T ) e que independente da escolha particular da sequência em D(T ) convergindo para x. Supondo que xn → x e zn → x. Seja (vm) a sequência (vm) = (x1, z1, x2, v2, . . .) Claramente vm → x. Pelo teorema 1.1(a), (Tvm) converge e suas duas subsequências devem ter o limite x. T˜ é linear e T˜ x = Tx para cada x ∈ D(T ), de modo que T˜ é uma extensão de T . Usando que ‖Txn‖ ≤ ‖T‖ ‖xn‖ e seja n → ∞. Então Txn → y = T˜ x e como a norma é contínua, temos que ‖Txn‖ → ‖T˜ x‖, logo ‖T˜ x‖ ≤ ‖T‖ ‖x‖ Então T˜ é limitado e ‖T˜‖ ≤ ‖T‖. Como T˜ é uma estensão de T , temos ‖T˜‖ ≥ ‖T‖, pela definição. Portanto ‖T˜‖ = ‖T‖. � 1.5.1 Funcionais Lineares Definição 1.5.3 (Funcional Linear). Um operador linear f cujo domínio é um espaço vetorial X com imagem no corpo K de X , isto é, f : D(f) ⊂ X → K onde K = R se X é real ou K = C se X é complexo, é chamado de funcional linear. Definição 1.5.4. Um funcional linear é limitado se existe um número real c, tal que, para todo x ∈ D(T ), temos |f(x)| ≤ c ‖x‖ Enielson Gama 25 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach E definimos ‖f‖ = sup x∈D(f) x 6=0 |f(x)| ‖x‖ ‖f‖ = supx∈D(f) ‖x‖=1 |f(x)|equivalentemente Da definição |f(x)| ≤ ‖f‖ ‖x‖. A partir do teorema 1.13, temos o seguinte resultado. Teorema 1.15 (Continuidade e Limitação). Um funcional linear f com domínio D(f) em um espaço normado é contínuo se, e somente se, é limitado. Definição 1.5.5 (Dual Algébrico). Seja X um espaço normado, com dimX = n. O conjunto dos funcionais lineares com domínio em X , constituem o dual algébrico X∗ de X . Teorema 1.16 (Dimensão do X∗). Seja X um espaço vetorial de dimensão n e E = {e1, . . . , en} uma base de X . Então F = {f1, . . . , fn} dado por fk(ek) = δjk = 0 se j 6= k1 se j = k (1.14) é uma base do dual algébrico X∗ de X , e dimX∗ = dimX = n. Demonstração. Afirmamos que F é um conjunto linearmente independente. De fato, de n∑ k=1 βkfk(x) = 0 (1.15)(x ∈ X) com x = ej , vemos que n∑ k=1 βkfk(ej) = n∑ k=1 βkδjk = βj = 0 de modo que os βk′s em (1.15) são nulos. Agora vamos mostrar que cada f ∈ X∗ tem uma única representação como combinação linear dos elementos de F . Escrevendo f(ej) = αj , temos que x ∈ X é da forma x = ξ1e1, . . . , ξnen, logo f(x) = f ( n∑ j=1 ξjej ) = n∑ j=1 ξjf(ej) = n∑ j=1 ξjαj Enielson Gama 26 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach para cada x ∈ X , onde f é exclusivamente determinado pelos valores αj na base de X . E de (1.14), temos que fj(x) = fj(ξ1e1, . . . , ξnen) = ξj. Assim f(x) = n∑ j=1 αjfj(x) Então f = α1f1 + · · · + αnfn é a única representação do funcional linear f sobre X em termos dos funcionais f1, . . . , fn. � 1.6 Espaço de Operadores Definição 1.6.1. Sejam X e Y espaços normados. O conjunto de todos os operadores lineares limitados definidos em todo X e com imagem em Y , denotamos por B(X, Y ). Para T1, T2 ∈ B(X, Y ), definimos a soma T1 + T2, como (T1 + T2)x = T1x+ T2x e o produto αT1, como (αT1)x = αT1x Pelo lema 1.6(b), temos o seguinte resultado. Teorema 1.17 (EspaçoB(X, Y )). O espaçoB(X, Y ) é um espaço normado, com a norma definida por ‖f‖ = sup x∈D(f) x 6=0 ‖f(x)‖ ‖x‖ = supx∈D(f) ‖x‖=1 ‖f(x)‖ Agora vamos analisar uma condição para que B(X, Y ) seja completo. Teorema 1.18 (Espaço de Banach). Se Y é um espaço de Banach, então B(X, Y ) é um espaço de Banach. Demonstração. Seja (Tn) uma sequência de Cauchy arbitrária em B(X, Y ). Mostraremos que Tn → T ∈ B(X, Y ). Enielson Gama 27 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Como (Tn) é de Cauchy, para cada ε > 0, existe um N< tal que ‖Tn − Tm‖ < ε (m,n > N) Para todo x ∈ X e m,n > N , temos que ‖Tnx− Tmx‖ = ‖(Tn − Tm)x‖ ≤ ‖Tn − Tm‖ ‖x‖ < ε ‖x‖ (1.16) Para um x fixo qualquer, determinamos um εx > 0, de modo que ε ‖x‖ < εx. De (1.16), temos ‖Tnx− Tmx‖ < εx Então (Tnx) é de Cauchy em Y que é completo, e portanto converge, digamos, Tnx→ y. O limite y ∈ Y , depende da escolha de x ∈ X . Isso define um operador T : X → Y , onde y = Tx. T é linear, pois: T (x+ λz) = lim n→∞ [Tn(x+ λz)] = lim n→∞ (Tnx+ λTnz) = lim n→∞ Tnx+ λ lim n→∞ Tnz = Tx+ λTz Também T é limitado, pois: Como (1.16) é válido para todo m > N e Tmx → Tx, podemos fazer m → ∞. Desde que a norma é contínua, obtemos a partir de (1.16) para cada n > N e todo x ∈ X que ‖(Tn − T )x‖ = ‖Tnx− Tx‖ = ∥∥∥Tnx− lim n→∞ Tmx ∥∥∥ = lim n→∞ ‖Tnx− Tmz‖ ≤ ε ‖x‖ (1.17) Então para n > N o operador Tn − T é limitado. E como Tn é limitado, T = Tn − (Tn − T ) é limitado. Em (1.17) tomando o supremo sobre todo x de norma 1, obtemos ‖Tn − T‖ < ε (n > N) Então ‖Tn − T‖ → 0. � Definição 1.6.2 (Espaço Dual X ′). Seja X um espaço normado. O espaço dual de X , denotado Enielson Gama 28 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach por X ′, é o conjunto de todos os funcionais lineares limitados sobre X . Definimos em X ′ a seguinte norma ‖f‖ = sup x∈D(f) x 6=0 |f(x)| ‖x‖ = supx∈D(f) ‖x‖=1 |f(x)| Como R e C, com suas métricas usuais, são completos. A partir do teorema 1.18 com Y = R ou C, temos o seguinte resultado Teorema 1.19 (Dual). O espaço Dual X ′ de um espaço normado X é um espaço de Banach. 1.7 Mais Teoremas Envolvendo Espaços Normados e Espaços de Banach Teorema 1.20 (Hahn- Banach). Sejam Z um subespaço de um espaço normado X e f um fun- cional linear limitado sobre Z. Então existe um funcional linear limitado f˜ sobre X que é a extensão de f para X e ‖f˜‖X = ‖f‖Z (1.18) onde ‖f˜‖X = sup x∈X ‖x‖=1 |f˜(x)| ‖f‖Z = sup x∈X ‖x‖=1 |f(x)| e ‖f‖Z = 0 no caso trivial Z = {0}. Demonstração. Se Z = {0}, então f = 0, e assim a extensão é f˜ = 0. Agora seja Z 6= {0}. Para todo x ∈ Z, temos |f(x)| ≤ ‖f‖Z ‖x‖ . Definimos p(x) = ‖f‖Z ‖x‖ . Vemos que p está definido sobre todo X . Além disso, vemos que p é linear satisfaz P (x+ y) = ‖f‖Z ‖x+ y‖ ≤ ‖f‖Z (‖x‖+ ‖y‖) = p(x) + p(y) e também p(αx) = ‖f‖Z ‖αx‖ = |α| ‖f‖Z ‖x‖ = |α|p(x). Enielson Gama 29 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Então aplicando o teorema 4.3-1, pag. 219 de [?], concluímos que existe um funcional linear f˜ sobre X que é uma extensão de f e satisfaz |f˜(x)| ≤ p(x) = ‖f‖Z ‖x‖ (x ∈ X) Tomando o supremo para todo x ∈ X de norma um, obtemos a seguinte desigualdade ‖f˜‖ = sup x∈X ‖x‖=1 |f˜(x)| ≤ ‖f‖Z E como f˜ é uma extensão de f , também temos ‖f˜‖X ≥ ‖f‖Z . Portanto ‖f˜‖X = ‖f‖Z . � Teorema 1.21 (Funcional Linear Limitado). Seja X um espaço normado e x0 6= 0 um elemento qualquer de X . Então existe um funcionallinear limitado f˜ sobre X tal que ‖f˜‖ = 1, f˜(x0) = ‖x0‖. Demonstração. Seja Z, o subespaço de X formado por todos os elementos x = αx0, onde α é um escalar. Definimos um funcional linear f sobre Z, por f(x) = f(αx0) = α ‖x0‖ . (1.19) De |f(x)| = |f(αx0)| = |α| ‖x0‖ = ‖αx0‖ = ‖x‖, vemos que ‖f‖ = 1. Pelo teorema 1.20, f tem uma extensão f˜ sobre X , e ‖f˜‖ = ‖f‖ = 1. De (1.19), temos que f˜(x0) = f(x0) = ‖x0‖. � Corolário 1.2 (Norma, Vetor Nulo). Para cada x ∈ X , temos ‖x‖ = sup f ∈X′ f 6=0 |f(x)| ‖f‖ (1.20) Então se x0 é tal que f(x0) = 0 para toda f ∈ X ′, então x0 = 0. Demonstração. A partir do teorema (1.21), escrevendo x ao invés de x0, temos que sup f 6=0 f∈X′ |f˜(x)| ‖f‖ ≥ ‖x‖ 1 = ‖x‖ , Enielson Gama 30 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach e a partir de |f(x)| ≤ ‖f‖ ‖x‖, obtemos sup f 6=0 f∈X′ |f˜(x)| ‖f‖ ≤ ‖x‖ . E a prova está completa. � 1.7.1 Operador Adjunto Seja T : X → Y um operador linear limitado, onde X e Y são espaços normados, vamos definir o operador adjunto T× de T . Para isso, seja g ∈ Y ′, logo g está definida para todo y ∈ Y . Definimos um funcional f sobre X por f(x) = g(Tx) x ∈ X (1.21) em que y = Tx. Como g e T são lineares, f é linear. Também f é limitada, pois |f(x)| = |g(Tx)| ≤ ‖g‖ ‖Tx‖ ≤ ‖g‖ ‖T‖ ‖x‖ . Tomando o supremo sobre todo x ∈ X de norma um, obtemos ‖f‖ ≤ ‖g‖ ‖T‖ (1.22) Isso mostra que f ∈ X ′. Definição 1.7.1 (Operador Adjunto). Seja T : X → Y um operador linear limitado, onde X e Y são epaços normados. Definimos o operador adjunto T× : Y ′ → X ′ de T por f(x) = (T×g)(x) = g(Tx) (g ∈ Y ′) (1.23) onde X ′ é o dual de X e Y ′ é o dual de Y . Teorema 1.22 (Norma do Operador Adjunto). O operador adjunto T× da definição 1.7.1 é linear, limitado e ∥∥T×∥∥ = ‖T‖ . (1.24) Enielson Gama 31 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Demonstração. T× é linear, pois: (T×(αg1 + βg2))(x) = (αg1 + βg2)(Tx) = αg1(Tx) + βg2(Tx) = α(T×g1)(x) + β(T×g2)(x) Agora, por (1.23) temos que f = T×g, e usando (1.22), obtemos ∥∥T×g∥∥ = ‖f‖ ≤ ‖g‖ ‖T‖ . Portanto T× é limitada. E tomando o supremo para toda g ∈ Y ′ de norma um, obtemos a de- sigualdade ∥∥T×∥∥ ≤ ‖T‖ . (1.25) Resta mostrar que ‖T×‖ ≤ ‖T‖. Pelo teorema 1.21, temos que, para cada x0 ∈ X não nulo, existe uma g0 ∈ Y ′ tal que ‖g0‖ = 1 e g0(Tx0) = ‖Tx0‖ Pela definição de operador adjunto g0(Tx0) = (T×g0)(x). Logo ‖Tx0‖ = g0(Tx0) = (T×g0)(x) ≤ ‖T×g‖ ‖x‖ ≤ ‖T×‖ ‖g0‖ ‖x0‖ . Como ‖g0‖ = 1, temos para cada x0 ∈ X que ‖Tx0‖ ≤ ∥∥T×∥∥ ‖x0‖ . (o que inclui x0 = 0, pois T0 = 0). Mas ‖Tx0‖ ≤ ‖T‖ ‖x0‖ , onde c = ‖T‖ é a menor constante c tal que ‖Tx0‖ ≤ c ‖x0‖, para todo x0 ∈ X . Assim, percebemos que ‖T‖ ≤ T×. Portanto ‖T‖ = ‖T×‖. � Consideremos agora um espaço normado X , e o seu dual X ′. O espaço dual (X ′)′ de X ′ é Enielson Gama 32 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach denotado por X ′′ e é chamado de segundo dual de X (ou espaço bidual de X). Definimos um funcional gx sobre X ′ pela escolha de um x ∈ X fixo por gx(f) = f(x) (1.26) onde f ∈ X ′ é variável. A partir disso temos o seguinte lema. Lema 1.7 (Norma de gx). Seja X um espaço normado. Então para cada x ∈ X fixo, o funcional gx definido em (1.26) é um funcional linear limitado sobre X ′, de modo que gx ∈ X ′′, e ‖gx‖ = ‖x‖ . (1.27) Demonstração. A linearidade de gx segue a partir da seção 1.5.1, e (1.27) segue de (1.26) e do corolário 1.2, temos que ‖gx‖ = sup f∈X′ f 6=0 |gx(f)| ‖f‖ = supf∈X′ f 6=0 |f(x)| ‖f‖ = ‖x‖ . � Para cada x ∈ X existe um único correspondente funcional linear limitado gx ∈ X ′′ definido em (1.26). Isso define uma aplicação C : X → X ′′ x 7→ gx C é chamada de Aplicação Canônica de X em X ′′. Lema 1.8 (Existência de um Funcional). Seja X um espaço normado e Y um subespaço próprio fechado de X . Seja x0 ∈ X − Y e δ = inf y˜ ∈Y ‖y˜ − x0‖ (1.28) a distância de x0 para Y . Então existe uma f˜ ∈ X ′ tal que ‖f˜‖ = 1, f˜(y) = 0 para cada y ∈ Y , f(x0) = δ Enielson Gama 33 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Demonstração. Seja Z ⊂ X um subespaço gerado por Y e x0. Cada z ∈ [Y ∪ {x0}] tem uma única representação z = y + αx0 (y ∈ Y ). Definimos em Z um funcional linear f por f(z) = f(y + αx0) = αδ y ∈ Y. (1.29) A f é linear e como Y é fechado, δ > 0, de modo que f 6= 0. Se α = 0, temos f(y) = 0 para todo y ∈ Y . Para α = 1 e y = 0, temos f(x0) = δ. Mostraremos que f é limitada. De fato, se α = 0, temos f(z) = 0. Seja α 6= 0. Por (1.28) e notando que − ( 1 α ) y ∈ Y , obtemos |f(z)| = |α|δ = |α| inf y˜∈Y ‖y˜ − x0‖ ≤ |α| ∥∥∥∥− 1αy − x0 ∥∥∥∥ = ‖y + αx0‖ = ‖z‖ Logo f é limitada e ‖f‖ = 1. Mostraremos que ‖f‖ > 1. De fato, pela definição de ínfimo, Y contém uma sequência (yn) tal que ‖yn → x0‖ → δ. Seja zn = yn − x0. Então, por (1.29) f(zn) = f(yn − x0) = −δ, onde α = −1. Também ‖f‖ = sup z∈Z z 6=0 |f(z)| ‖z‖ ≥ |f(z)| ‖zn‖ = δ zn n→∞−→ δ δ = 1 Então ‖f‖ ≥ 1, de modo que ‖f‖ = 1. Pelo teorema 1.20, existe f˜ que é a extensão da f e ‖f˜‖ = ‖f‖. � Teorema 1.23 (Limitação Uniforme). Seja (Tn) uma sequência de operadores limitados Tn : X → Y , onde X é um espaço de Banach e Y é um espaço normado, tal que (‖Tn‖) é limitada Enielson Gama 34 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach para cada x ∈ X , digamos ‖Tnx‖ ≤ cx n = 1, 2, . . . (1.30) onde cx é um número real. Então a sequência de normas ‖Tn‖ é limitada, ou seja, existe c tal que ‖Tn‖ ≤ c n = 1, 2, . . . Demonstração. Para cada k ∈ N, seja Ak ⊂ X o conjunto formado por todo x tal que ‖Tnx‖ ≤ k para todo n. Notemos que para qualquer x ∈ Ak, existe uma sequência (xj) emAk convergindo para x.Isso quer dizer que para cada n, temos ‖Tnxj‖ ≤ k. Como Tn é contínuo, Tnxj → Tnx, e a norma também é contínua, logo ‖Tnxj‖ → ‖Tnx‖, assim ‖Tnx‖ ≤ k. Então x ∈ Ak. Disso concluímos que Ak é fechado. Por (1.30), cada x ∈ X pertence a algum Ak. Então X = ∞⋃ k=1 Ak . Como X é completo, o teorema de Baire (veja a seção 4.7 de [?]) implica que cada Ak contém uma bola aberta, digamos, B0 = B(x0; r) ⊂ Ak0 (1.31) Seja um não nulo x ∈ X arbitrário. No conjunto z = x0 + γx γ = r 2‖x‖ (1.32) temos que ‖z − x0‖ < r, de modo que z ∈ B0. De (1.31) e da definição de Ak0 , temos que ‖Tnz‖ ≤ k0 para todo n. E como x0 ∈ B0, também temos ‖Tnx0‖ ≤ k0. A partir de (1.32), obtemos x = 1 γ (z − x0). Enielson Gama 35 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Então para cada n, ‖Tnx‖ = 1 γ ‖Tn(z − x0)‖ ≤ 1 γ (‖Tnz‖+ ‖Tnx0‖) ≤ 1 γ 2k0 ≤ 2‖x‖ r 2k0 = 4 r ‖x‖ k0. Assim ‖Tn‖ = sup ‖x‖=1 ‖Tnx‖ ≤ 4 r k0, para todo n. Portanto ‖Tn‖ ≤ c, onde c = 4k0/r. � 1.7.2 Convergência Forte e Convergência Fraca Definição 1.7.2 (Convergência Forte). A sequência (xn) em um espaço normado X é dita forte- mente convergente (ou converge na norma) se existe um x ∈ X tal que lim n→∞ ‖xn − x‖ = 0 Escrevemos lim n→∞ xn = x ou xn → x. x é chamado de limite forte de (xn) e dizemos que (xn) converge fortemente para x. Definição 1.7.3 (Convergência Fraca). A sequência (xn) em um espaço normado X é dita fraca- mente convergente se existe um x ∈ X tal que para toda f ∈ X ′ temos lim n→∞ f(xn) = f(x) e denotamos por xn ⇀ x. Lema 1.9 (Convergência Fraca). Seja (xn) uma sequência fracamente convergente em um espaço normado X , digamos xn ⇀ x. Então: (a) O limite fraco de (xn) é único. (b) Toda subsequência de (xn) converge fracamente para x. (c) A sequência (‖xn‖) é limitada. Demonstração. (a) Suponha que xn ⇀ x e também xn ⇀ y. Então f(xn) → f(x) e também f(xn) → f(y). Uma vez que (f(xn)) é uma sequência de números, seu limite é único. Então f(x) = f(y),isto é, para toda f ∈ X ′, nós temos f(x)− f(y) = f(x− y) = 0 Enielson Gama 36 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Pelo corolário 1.2 o limite fraco é único, assim Isso x− y = 0. (b) Resulta do fato que (f(xn)) é uma sequência convergente de números , que toda subsequência de (f(xn)) converge e tem o mesmo limite da sequência. (c) Uma vez que (f(xn)) é uma sequência convergente de números, ela é limitada, digamos |f(xn)| ≤ cf para todo n, onde cf é a constante que depende de f e não de n. Usando a aplicação canônica C : X −→ X ′′ Nós podemos definir gxn ∈ X ′′ por gxn(f) = f(xn) f ∈ X ′ Então para todo n, |gxn(f)| = |f(xn)| ≤ cf isto é, a sequência (|gxn(f)|) é limitada para cada f ∈ X ′. Uma vez que X ′ é completo por 1.19, o teorema da limitação uniforme 1.23 pode ser aplicado e implica que (‖gxn‖) é limitada. Agora ‖gxn‖ = ‖xn‖ por 1.7, assim (c) está provado. � Teorema 1.24 (Convergência Forte e Fraca). Seja (xn) uma sequência no espaço normado X . Então: (a) Convergência forte implica convergência fraca com o mesmo limite. (b) Se dimX <∞, estão convergência fraca implica convergência forte. Demonstração. (a) Pela definição, xn → x então ‖xn − x‖ → 0 e implica que para toda f ∈ X ′, |f(xn)− f(x)| = |f(xn − x) ≤ ‖f‖ ‖xn − x‖ → 0 Isto mostra que xn ⇀ x. (b) Suponha xn ⇀ x e dimX = k. Seja {e1, . . . , ek} uma base qualquer de X e digamos xn = α (n) 1 e1 + · · ·+ α(n)k ek e x = α1e1 + · · ·+ αkek Pela hipótese, f(xn)→ f(x) para toda f ∈ X ′. Nós tomamos em particular f1, . . . , fk definido em 1.16 Enielson Gama 37 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach fj(ej) = 1 fj(em) = 0 (m 6= j) Então: fj(xn) = α (n) j e fj(x) = αj Daí fj(xn)→ fj(x) implica α(n)j → αj . A partir disso nós obtemos facilmente ‖xn − x‖ = ∥∥∥∥∥ k∑ j=1 (α (n) j − αj)ej ∥∥∥∥∥ ≤ k∑ j=1 |α(n)j − αj| ‖ej‖ → 0 com n→∞. Portanto xn converge fortemente para x. � 1.7.3 Aplicação Aberta e Gráfico Fechado Definição 1.7.4 (Aplicação Aberta). Dizemos que uma aplicação T : D(T ) ⊂ X → Y , onde X e Y são espaços métricos, é uma aplicação aberta se para conjunto aberto no D(T ) tem como imagem um conjunto aberto em Y . Teorema 1.25 (Aplicação Aberta, Inversa Limitada). Se um operador linear limitado T : X → Y , onde X e Y são espaços de Banach, é uma aplicação aberta, então T é uma bijeção e T−1 é contínua e assim limitada. Para a prova veja, por exemplo, a seção 4.12 de [?]. Definição 1.7.5 (Operador Linear Fechado). Seja T : D(T ) ⊂ X → Y , onde X e Y são espaços normados. Dizemos que T é um operador linear fechado se seu gráfico G (T ) = {(x, y)/x ∈ X, y = Tx} é fechado no espaço normadoX×Y , isto é, se (xn, yn) ∈ G (T ) é tal que (xn, yn)→ (x, y), então (x, y) ∈ G (T ). Ressaltamos que as duas operações algébricas em X × Y são definidas por (x1, y1) + (x2, y2) = (x1 + x2, y1 + y2) α(x, y) = (αx, αy), onde α é um escalar, e a norma em X × Y é definida por ‖(x, y)‖ = ‖x‖+ ‖y‖ . (1.33) Enielson Gama 38 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach Teorema 1.26 (Gráfico Fechado). Seja T : D(T ) ⊂ X → Y um operador linear fechado, onde X e Y são espaços de Banach. Então se D(T ) é fechado em X , o operador T é limitado. Demonstração. Primeiramente vamos mostrar que de acordo com as presentes hipóteses o espaço X × Y com a norma definida por ‖(x, y)‖ = ‖x‖+ ‖y‖ é completo. (a) Seja zn = (xn, yn) uma sequência de Cauchy em X × Y . Então para todo ε > 0 existe um N tal que ‖zn − zm‖ = ‖(xn − xm, yn − ym)‖ = ‖xn − xm‖+ ‖yn − ym‖ < ε (1.34) para m,n > N . Daí (xn) e (yn) são de Cauchy nos espaços de Banach X e Y , respectivamente, portanto convergem, digamos xn → x e yn → y Isso implica que zn → z = (x, y). Segue a partir de (1.34) com m→∞ que ‖zn − z‖ ≤ ε (n > N). Como a sequência de Cauchy (zn) foi arbitrária, X × Y é completo. (b) Por hipótese, G (T ) é fechado em X × Y e D(T ) é fechado em X . Então, pelo teorema 1.4, G (T ) e D(T ) são completos. Consideremos a sequinte aplicação P : G (T ) → D(T ) (x, Tx) 7→ x. P é linear, pois P [α(x, y) + β(w, z)] = P (αx+ βw, αy + βz) = αx+ βw = αP (x, y) + βP (w, z). Também P é limitada, pois ‖P (x, Tx)‖ = ‖x‖ ≤ ‖x‖+ ‖Tx‖ = ‖(x, Tx)‖ . Enielson Gama 39 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach P é uma bijeção, pois a aplicação inversa de P é P−1 : D(T ) → G (T ) x 7→ (x, Tx). Como G (T ) e D(T ) são completos, pelo teorema 1.25, P−1 é limitada, digamos, ‖(x, Tx)‖ ≤ c ‖x‖ para cada c e todo x ∈ D(T ). Assim T é limidada, pois ‖Tx‖ ≤ ‖Tx‖+ ‖x‖ = ‖(x, Tx)‖ ≤ c ‖x‖ para todo x ∈ D(T ). � Pela hipótese G (T ) é fechado se, e somente se, z = (x, y) ∈ G (T ) implica z ∈ G (T ). A partir do teorema 1.3(a) vemos que z ∈ G (T ) se, e somente se, existe zn = (xn, Txn) ∈ G (T ) tal que xn → x, Txn → y; e z ∈ G (T ) se, e somente se, x ∈ D(T ) e y = Tx. Assim temos o seguinte resultado. Teorema 1.27 (Operador Linear Fechado). Seja T : D(T ) ⊂ X → Y um operador linear, onde X e Y são espaços normados. Então T é fechado se, e somente se, tem a seguinte propriedade. Se xn → x, onde xn ∈ D(T ), Txn → y, então x ∈ D(T ) e Tx = y. Lema 1.10 (Operador Fechado). Seja T : D(T ) ⊂ X → Y um operador linear limitado, onde X e Y são espaços normados. Então: (a) Se D(T ) é um subconjunto fechado de X , então T é fechado. (b) Se T é fechado e Y é completo, então D(T ) é um subconjunto fechado de X . Demonstração. (a) Se (xn) está emD(T ) e converge, digamos, xn → x, é tal que (Txn) também converge, como D(T ) = D(T ), x ∈ D(T ), e Txn → Tx pois T é contínuo. Portanto, pelo teorema 1.27, T é fechado. Enielson Gama 40 Análise Funcional Espaços Métricos, Normados e de Banach (b) Para cada x ∈ D(T ) existe (xn) em D(T ), tal que xn → x. Da limitação de T , segue que ‖Txn − Txm‖ = ‖T (xn − xm)‖ ≤ ‖T‖ ‖xn − xm‖ . Isso mostra que (Txn) é de Cauchy. Como Y é Banach, (Txn) converge, digamos, Txn → y ∈ Y . Uma vez que T é fechado, o teorema 1.27 implica que x ∈ D(T ) e Tx = y. Portanto, D(T ) é fechado´, pois x ∈ D(T ) foi arbitrário. � Enielson Gama 41 ESPAÇOS MÉTRICOS, ESPAÇOS NORMADOS E ESPAÇOS DE BANACH Espaços Métricos Espaços Normados e Espaços de Banach Propriedade dos Espaços Normados Espaços Normados e Dimensão Compacidade Operadores Lineares Operador Linear Limitado Funcionais Lineares Espaço de Operadores Mais Teoremas Envolvendo Espaços Normados e Espaços de Banach Operador Adjunto Convergência Forte e Convergência Fraca Aplicação Aberta e Gráfico Fechado
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