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Prof. Leonardo Fetter PROCESSO CIVIL Sumário 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................. 3 1.1 Jurisdição ....................................................................................................... 3 1.2 Ação ............................................................................................................... 4 1.3 Rito ou procedimento ..................................................................................... 5 1.4 Competência .................................................................................................. 6 2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E PROCESSUAIS ........................................... 8 2.1 Princípio do devido processo legal ................................................................. 8 2.2 Princípio da isonomia ..................................................................................... 9 2.3 Princípio do juiz natural ou da imparcialidade do juiz ..................................... 9 2.4 Princípio do contraditório e da ampla defesa ................................................. 9 2.5 Princípio da motivação das decisões judiciais ............................................. 11 2.6 Princípio da boa-fé processual ..................................................................... 11 2.7 Princípio da duração razoável do processo ................................................. 12 2.8 Princípio do duplo grau de jurisdição ........................................................... 13 2.9 Princípio da proporcionalidade e razoabilidade ............................................ 13 2.10 Princípio da publicidade dos atos processuais ............................................. 13 3. ACESSO À JUSTIÇA ............................................................................................ 14 3.1 Custas e Despesas Processuais .................................................................. 14 3.2 Justiça gratuita ............................................................................................. 14 3.3 Honorários Advocatícios de Sucumbência ................................................... 16 3.4 Direitos do Advogado – Acesso aos autos ................................................... 16 3.5 Suspeição e Impedimento ............................................................................ 17 3.6 Litisconsórcio ............................................................................................... 19 3.7 Intervenção de Terceiros .............................................................................. 20 4. ATOS PROCESSUAIS .......................................................................................... 21 4.1 Intervenção do MP no Processo Civil........................................................... 22 4.2 Nulidades dos atos processuais ................................................................... 23 4.3 Tempo dos Atos Processuais ....................................................................... 24 4.4 Prazos dos Atos Processuais ....................................................................... 24 4.5 Preclusão lógica.............................................................................................25 4.6 Preclusão consumativa ................................................................................ 26 4.7 Possibilidade de alteração no Procedimento ............................................... 26 4.8 Comunicação dos atos processuais ............................................................. 27 4.8.1 Citação .......................................................................................................... 27 4.8.2 Intimação ...................................................................................................... 29 4.8.3 Cartas ........................................................................................................... 29 4.9 Suspensão do processo ................................................................................ 30 5. TUTELAS PROVISÓRIAS ..................................................................................... 31 6. AÇÃO DE CONHECIMENTO – PROCEDIMENTO COMUM ................................ 31 6.1 Petição Inicial ............................................................................................... 31 6.2 Emenda da Petição Inicial ............................................................................ 32 6.3 Indeferimento da Petição Inicial ................................................................... 33 6.4 Improcedência liminar do pedido ................................................................. 33 6.5 Audiência de mediação ou conciliação – art. 334 ........................................ 34 6.6 Contestação ................................................................................................. 35 6.7 Reconvenção ............................................................................................... 38 6.8 Julgamento antecipado ................................................................................ 39 6.9 Decisão de Organização e Saneamento do processo ................................. 41 6.10 Audiência de instrução ................................................................................. 42 6.11 Teoria Geral da Prova .................................................................................. 43 6.12 Prova em Espécie ........................................................................................ 45 6.13 Sentença ...................................................................................................... 52 7. AÇÃO DE EXECUÇÃO ......................................................................................... 57 7.1 Requisitos do título executivo (judicial e extrajudicial) .................................. 57 7.2 Responsabilidade patrimonial ....................................................................... 57 7.3 Princípio da disponibilidade da execução ..................................................... 58 7.4 Legitimidade na Execução ............................................................................ 58 7.5 A penhora de bens ........................................................................................ 60 7.6 Execução por quantia certa – título executivo extrajudicial ........................... 62 7.7 Embargos à execução .................................................................................. 66 7.8 Execução de título judicial – Cumprimento de Sentença .............................. 68 7.9 Cumprimento de sentença de quantia certa ................................................. 68 7.10 Impugnação ao cumprimento de sentença .................................................. 69 7.11 Cumprimento de Sentença contra Fazenda Pública .................................... 70 7.12 Execução contra fazenda pública ................................................................ 70 7.13 Fraude a Execução x Fraude contra Credores ............................................ 71 7.14 Protesto da Decisão Judicial ........................................................................ 72 7.15 A possibilidade de negativação do nome do devedor .................................. 72 7.16 Suspensão da Execução ............................................................................. 73 7.17 Extinção da execução .................................................................................. 74 7.18 Desistência da ação de execução X Embargos/Impugnação ...................... 74 7.19 Exceção de Pré-Executividade ....................................................................75 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS O Direito Processual Civil emerge, no mundo jurídico, com uma função bem específica – regular as formas, meios e maneiras do cidadão buscar seu direito material perante o Poder Judiciário. Aparece, então, como forma de igualdade (já que fixa as mesmas normas para todos os cidadãos, indistintamente) e instrumental (instrumento para busca do reconhecimento do direito material pretendido. Dessa forma e com esse objetivo, existem alguns conceitos básicos que devem ser entendidos e fixados. 1.1 Jurisdição Objetivamente, é o Poder-Dever do Estado de compor/solucionar litígios, conflitos de interesse. Diante das regras inerentes ao Estado Democrático de Direito, necessário identificar quem tem esse poder, essa responsabilidade (não se pode deixar que os cidadãos, pelas próprias mãos, busquem soluções para seus conflitos). Então, como forma de organização, esta função jurisdicional delegada pelo Estado ao Poder Judiciário (e este Poder não pode transferir para ninguém mais, é indelegável). Se diz, então, que o Poder Judiciário é investido em jurisdição. O exercício da jurisdição (este poder/dever de compor litígios) é inerte – ou seja, para ser exercido existe a necessidade de provocação (o juiz não tem autonomia para agir por conta própria, ou seja, de ofício, deve necessariamente ser provocado pela parte interessada, conforme o artigo 2º do CPC). É o chamado de princípio da ação ou da demanda, ou princípio da iniciativa da parte. Nesse sentido, surge um segundo conceito de suma importância: o de ação. 1.2 Ação O cidadão, para tirar o Poder Judiciário da sua inércia, para provocar tal poder, tem uma fora específica – A Ação judicial. Ou seja, a ação é a forma de provocar o Poder Judiciário, de tirá-lo da sua inércia para que ele exerça o poder ao qual foi investido (a Jurisdição – poder/dever de solucionar/compor litígios). O chamado direito de Ação é abstrato (e não concreto), ou seja, para entrar com uma ação o autor não precisa ter o direito material garantido (perfeitamente possível, dessa forma, que uma ação seja julgada improcedente – pensar diferente se chegaria no absurdo de dizer que o autor somente poderia entrar com a ação se fosse ganhar – ou seja, o direito de ação para ser exercido deveria ser concreto). O sistema processual brasileiro definiu dois tipos de ação: a) Ação de Conhecimento; e b) Ação de Execução Apenas essas, então, as ações possíveis de serem apresentadas com o objetivo de busca a prestação jurisdicional. Identificado o pedido (a pretensão que a parte vai levar ao Poder Judiciário), será possível identificar o rito pelo qual este pedido vai tramitar perante o Poder Judiciário. Emerge, então, um terceiro conceito clássico e necessário: o de rito ou procedimento. 1.3 Rito ou procedimento Frise-se, já de início, que rito ou procedimento são sinônimos. E, de forma bem objetiva e simples, o rito/procedimento nada mais é do que a forma (regras) estabelecida pela lei processual para o tramitar da ação perante o Poder Judiciário. Ou seja, a lei define a soma de atos processuais que deverão acontecer entre o início (petição inicial) e o fim da ação (sentença). Basicamente, temos a seguinte divisão quanto aos ritos ou procedimentos: a) Rito ou Procedimento Comum; e b) Ritos ou Procedimentos Especiais E a forma de identificar o uso de um ou outro é relativamente singela – e aqui uma DICA OLHOS DE TIGRE: Mas qual a forma desta identificação? A mais singela será simplesmente verificar o índice do CPC – lá consta (a partir do art. 539) o capítulo dos Procedimentos Especiais. Ou seja: todos os pedidos que vão tramitar utilizando ou respeitando um rito/procedimento especial devem ter previsão expressa no CPC (importante: ou em lei especial – Ex.: Lei de Alimentos prevê procedimento especial para o pedido de alimentos). E o Procedimento Comum? O uso deste também é definido pelo pedido, mas de uma forma ainda mais simples: para todos os pedidos que não tiverem previsão de uso do procedimento especial, será utilizado o procedimento comum (simples assim). Para encerrar estas considerações iniciais, vale fazer referência a um último e indispensável conceito: o de competência. 1.4 Competência Todo o órgão do Poder Judiciário (juiz, desembargador, Ministro) tem jurisdição. No entanto, o exercício desta jurisdição é limitado pelas regras de competência – as quais limitam tal exercício. Competência é, então, o limite de atuação dos órgãos jurisdicionais. Dentro de seu campo de atuação é outorgado ao juiz poder para decidir sobre os conflitos. A grande divisão diz respeito a competência ESTADUAL e FEDERAL. Diante disso, para fixar a competência federal basta verificar o art. 109 da Constituição Federal – ali ficou definido quais seriam as circunstâncias que acarretam a competência federal (da Justiça Federal). DICA OLHO DE TIGRE A incompetência é dividida em ABSOLUTA e RELATIVA. ABSOLUTA pode ser reconhecida de ofício e em qualquer grau de jurisdição (art. 64, parágrafo primeiro, do CPC) - a competência absoluta trata dos casos de interesses públicos. RELATIVA não pode ser reconhecida de ofício (art. 337, parágrafo quinto, do CPC) e deve ser alegada em preliminar da contestação (art. 337, II, do CPC), sob pena de prorrogação (art. 65 do CPC) - a competência relativa disciplina os casos de interesses privados. Já a competência estadual (Justiça Estadual) é definida de forma residual – o que não for de competência federal, será de competência estatual. IMPORTANTE – as regras de competência fixadas pelo CPC são territoriais, ou seja, definem o lugar onde deverá ser proposta a ação. Também IMPORTANTE – a competência do JEC, JEF e JEFP é definida, também, pelo valor da causa (no estado causas de valor até 40 Salários Mínimos e nos juizados federais causas de até 60 Salários Mínimos). O reconhecimento da Incompetência (tanto relativa quando absoluta) gera a remessa dos autos para o juízo competente (e não sua extinção) – art. 64, parágrafo terceiro, do CPC. IMPORTANTE – O reconhecimento da incompetência no JEC acarreta a extinção do processo sem resolução do mérito (artigo 51, inciso III, da Lei 9.099/95), A modificação da competência poderá ocorrer apenas na competência relativa, não sendo possível na competência absoluta. Está disciplinada nos artigos 54 a 63 do CPC e tem as seguintes causas de modificação: Conexão: Está prevista no artigo 55 do CPC e determina que duas ou mais ações podem se reunir para julgamento conjunto, quando o pedido e a causa de pedir lhes forem comuns. Busca evitar que ações iguais tenham julgamentos diferentes. Continência: Está disciplinada no artigo 56 do CPC e determina que para haver a modificação de competência é necessário que duas ou mais ações tenham identidade quanto às partes e a causa de pedir, e que o pedido de uma, por ser mais amplo, abranja o das demais. Aqui também ocorre a reunião de duas ou mais ações, visando evitar decisões divergentes. As regras aplicadas à conexão aplicam-se também a continência. Prevenção: Visa confirmar e manter a competência de um juiz respectivo quando houver mais de um juízo competentepara o julgamento de uma mesma causa. Conforme previsto no artigo 59 do CPC, o que torna o juízo prevento é o registro ou a distribuição da petição inicial. 2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E PROCESSUAIS 2.1 Princípio do devido processo legal O direito ao processo é uma das garantias constitucionais, direito fundamental previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal, portanto, é um princípio constitucional e processual. O devido processo legal está relacionado com outros princípios, como contraditório, ampla defesa e duração razoável do processo. A finalidade do devido processo legal é não permitir o abuso de direito, ou seja, prezar por um processo justo e equânime. 2.2 Princípio da isonomia Trata-se de um princípio que visa dar tratamento igual às partes, objetivando um processo justo e equilibrado. Encontra-se presente no artigo 5º, caput, da Constituição Federal, bem como no artigo 7º do CPC: Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. 2.3 Princípio do juiz natural ou da imparcialidade do juiz O princípio do juiz natural determina que as partes têm direito a um julgamento realizado por um juiz competente e imparcial (artigo 5º, LIII e XXXVII, da CF). O primeiro inciso dispõe que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente, e o segundo, que não haverá juízo ou tribunal de exceção. Requisitos para caracterização do juiz natural: a) o julgamento deve ser proferido por alguém investido de jurisdição; b) o órgão deve ser preexistente; c) a causa deve ser submetida ao juiz competente, de acordo com as regras postas pela CF e por lei. 2.4 Princípio do contraditório e da ampla defesa DICA OLHO DE TIGRE Exceção – o art. 9º, parágrafo único, prevê as situações onde o juiz poderá decidir sem ouvir a outra parte. Objetivamente é o direito de reação - garante às partes a oportunidade de se manifestar em todos os atos do processo, tratamento paritário para dialogar com o juiz, sob pena de nulidade, não podendo, assim, o juiz julgar qualquer ação sem que os litigantes tenham tido a oportunidade de se defender. Art. 5º, LV, CF: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Encontra amparo legal no artigo, art. 7º, 9º e 10, do CPC. Importante, aqui, chamar a atenção para o fato que o juiz não pode proferir nenhuma decisão sem antes ter ouvido todas as partes, é vedada a decisão surpresa, nem mesmo quando se tratar de matéria que deva ser decidida de ofício (arts. 9º e 10 do CPC). ATENÇÃO: Cabe ao Poder Judiciário fazer com que o devido processo legal e o contraditório sejam respeitados, na forma da parte final do art. 7º do Código de Processo Civil. Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: I - assegurar às partes igualdade de tratamento; DICA OLHO DE TIGRE O art. 489, parágrafo primeiro, do CPC prevê o que não poderá ser considerado como fundamento de uma decisão judicial. Vale recordar, a respeito, a possibilidade de ampliação do Contraditório prevista no art. 139 do CPC: Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito; 2.5 Princípio da motivação das decisões judiciais Este princípio disciplina que todas as decisões judiciais devem obrigatoriamente ser fundamentadas, de acordo com o artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal e artigo 11 do CPC: Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. Art. 93. (...) IX. todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação. 2.6 Princípio da boa-fé processual De acordo com este princípio as partes do processo devem sempre se comportar com boa-fé, lealdade e urbanidade, este princípio está intimamente ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana, pois visa promovê-lo no ordenamento jurídico, no julgamento da causa (artigo 5º do CPC). A parte que agir com má-fé pode ser penalizada com multa. As práticas consideradas má-fé estão previstas no art. 80 do CPC: Art. 79. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como autor, réu ou interveniente. Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que: I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II - alterar a verdade dos fatos; III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI - provocar incidente manifestamente infundado; VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório. Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou. § 1º Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na proporção de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária. § 2º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo. § 3º O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos. 2.7 Princípio da duração razoável do processo O princípio da duração razoável do processo é também conhecido como princípio da celeridade processual. Não há na lei uma predeterminação de duração do processo, todavia não se pode tolerar a procrastinação injustificável do Judiciário e seus serviços. DICA OLHO DE TIGRE O exemplo clássico de aplicação dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade emerge com a fixação do quantum (valor) devido na obrigação alimentar. Está previsto no artigo 5º, inciso LXXVIII, da CF (“a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”) e nos artigos 4º e 6º do CPC. 2.8 Princípio do duplo grau de jurisdição Este princípio não se encontra expresso na Constituição Federal, mas diante de teremsido criados juízos e tribunais, cuja competência é julgar os recursos contra as decisões de primeiro grau, automaticamente estabeleceu-se o duplo grau de jurisdição, que busca reanalisar os atos judiciais que geram inconformismo na parte e estão substanciados por falhas, ilegalidades, provas, através do julgamento de um órgão superior. 2.9 Princípio da proporcionalidade e razoabilidade De acordo com o artigo 8º do CPC o juiz, ao aplicar as normas, deverá atender os fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. 2.10 Princípio da publicidade dos atos processuais Está previsto nos artigos 5º, LX, 93, X, ambos da CF e artigos 11, caput, e 368 ambos do CPC, impõe que sejam públicos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário, justifica-se no fato de haver interesse público maior que somente das partes, pois visa a garantia da paz e harmonia social. IMPORTANTE – recordar a exceção a este princípio: processos que tramitam com segredo de justiça (art. 189 do CPC). 3. ACESSO À JUSTIÇA 3.1 Custas e Despesas Processuais Foi definido, no art. 82 do CPC, que o autor, ao propor uma ação, deverá fazer o adiantamento das custas processuais (ou seja, a parte autora deverá fazer o recolhimento das custas para ter sua ação distribuída). Objetivamente, o Estado cobra para prestar Jurisdição. A respeito, vale ressaltar duas situações: a) O conceito de custas está inserido no art. 84 do CPC; b) A sentença (ao final do processo – quando da sua extinção), condenará a parte vencida ao pagamento (para a parte vencedora) das custas e despesas que esta (parte vencedora) antecipou (art. 82, parágrafo segundo, do CPC). 3.2 Justiça gratuita O próprio art. 82 do CPC prevê que no caso de Justiça Gratuita restará a parte isenta do pagamento de custas e despesas processuais. Nesse sentido, o artigo 98 do CPC garante à pessoa natural ou jurídica, tanto brasileira, quanto estrangeira, que tenha insuficiência de recursos para o pagamento das custas, das despesas processuais e dos honorários advocatícios, o direito à justiça gratuita. É concedido a qualquer das partes, podendo ser, inclusive, a um terceiro que interveio no processo, desde que cumpra os requisitos impostos na lei. O pedido ao benefício poderá ser feito em várias fases do processo, na inicial, contestação, em recursos ou até mesmo na petição que traz um terceiro ao processo. Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso. § 1o Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância, o pedido poderá ser formulado por petição simples, nos autos do próprio processo, e não suspenderá seu curso. § 2o O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos. § 3o Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural. § 4o A assistência do requerente por advogado particular não impede a concessão de gratuidade da justiça. § 5o Na hipótese do § 4o, o recurso que verse exclusivamente sobre valor de honorários de sucumbência fixados em favor do advogado de beneficiário estará sujeito a preparo, salvo se o próprio advogado demonstrar que tem direito à gratuidade. § 6o O direito à gratuidade da justiça é pessoal, não se estendendo a litisconsorte ou a sucessor do beneficiário, salvo requerimento e deferimento expressos. § 7o Requerida a concessão de gratuidade da justiça em recurso, o recorrente estará dispensado de comprovar o recolhimento do preparo, incumbindo ao relator, neste caso, apreciar o requerimento e, se indeferi-lo, fixar prazo para realização do recolhimento. No caso da pessoa natural, basta a alegação de ser hipossuficiente, não podendo o juiz indeferir o benefício sem que esteja evidenciado no processo o contrário. Nesse caso, ainda, antes do indeferimento, a parte tem a oportunidade de provar o contrário (art. 99, parágrafo segundo e terceiro, do CPC). Diferentemente é a situação da pessoa jurídica, que para fazer jus à justiça gratuita deve provar ser financeiramente hipossuficiente. 3.3 Honorários Advocatícios de Sucumbência A parte vencida no processo é denominada de sucumbente – e deverá arcar com os ônus desta derrota (da sucumbência). Dentre os ônus está o pagamento das custas (art. 82, parágrafo segundo, do CPC) para a parte vencedora (como já referido anteriormente). E, por segundo, será também a parte vencida condenada a pagar os honorários advocatícios ao ADVOGADO da parte vencedora (conforme previsão expressa do art. 85). Tal condenação deverá ser fixada na forma estabelecida no art. 85, parágrafo segundo, do CPC. 3.4 Direitos do Advogado – Acesso aos autos O advogado pode ter vista de qualquer processo judicial em tramitação, mesmo sem procuração, desde que não estejam sob a proteção do segredo de justiça, caso em que é necessária procuração (art. 107, I, do CPC) IMPORTANTE – Este mesmo direito é assegurado aos processos eletrônicos, conforme previsão do art. 107, parágrafo quinto, do CPC. Tem o advogado direito a carga (levar consigo) dos autos do processo em tramitação, situação onde será necessário apresentar procuração (107, II e III, do CPC). DICA OLHO DE TIGRE Para que o advogado faça carga dos processos que estão arquivados, não é necessária procuração (art. 7º, XVI da Lei 8.906/1994 – Estatuto da advocacia e da OAB), salvo processos em segredo de justiça (art. 7º, parágrafo primeiro, número um, da mesma lei antes citada). 3.5 Suspeição e Impedimento O magistrado, como órgão do Poder Judiciário, deve atuar com imparcialidade. No entanto, existem circunstâncias que acarretam a sua parcialidade, as quais são definidas como suspeição e impedimento. As causas que fundamentam o impedimento estão inseridas no art. 144 e as de suspeição no art. 145, ambos do CPC. Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha; II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão; III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo; VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes; VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral,até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado. Art. 145. Há suspeição do juiz: I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados; II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio; III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive; IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes. Os mesmos motivos de impedimento e suspeição vão ser aplicados ao Ministério Público, auxiliares da justiça e demais sujeitos imparciais do processo (quando a testemunha, impedimento e suspeição serão alegados através da contradita). Art. 148. Aplicam-se os motivos de impedimento e de suspeição: I - ao membro do Ministério Público; II - aos auxiliares da justiça; III - aos demais sujeitos imparciais do processo. § 1º A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a suspeição, em petição fundamentada e devidamente instruída, na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos. § 2º O juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão do processo, ouvindo o arguido no prazo de 15 (quinze) dias e facultando a produção de prova, quando necessária. § 3º Nos tribunais, a arguição a que se refere o § 1o será disciplinada pelo regimento interno. § 4º O disposto nos §§ 1º e 2º não se aplica à arguição de impedimento ou de suspeição de testemunha. Verificada a parcialidade do juiz, através dessas duas hipóteses, não será declara extinção do processo – deverá o magistrado ser afastado do processo e os autos encaminhados ao seu substituto legal (sendo que os atos decisórios praticados até a substituição devem ser invalidados). No prazo de 15 dias, a contar do conhecimento do fato, a parte deverá alegar o impedimento ou suspeição, em petição específica, dirigida ao juiz do processo, na qual deverá ser indicada o fundamento da recusa, podendo instruí-la com documentos em que se fundar a alegação e com rol de testemunhas (art. 146 do CPC). Se reconhecer o impedimento ou a suspeição, o juiz ordenará imediatamente remessa dos autos a seu substituto legal, caso contrário (não reconhecendo sua parcialidade), determinará a autuação em apartado e no prazo de 15 dias deverá apresentar suas razões, acompanhadas de documentos e de rol de testemunhas, se houver, ordenando remessa ao tribunal para que julgue o incidente (§1º, art. 146, CPC). O juiz poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar suas razões (§1º, art. 145, CPC), protegendo a sua intimidade. 3.6 Litisconsórcio O litisconsórcio ocorre quando duas ou mais pessoas são partes em um mesmo processo: Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir; III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito. No caso de haver mais de um autor, o litisconsórcio será chamado de ativo, havendo mais de um réu, litisconsórcio passivo, e se houver pluralidade de autores e réus, será chamado de misto. O litisconsórcio pode ser obrigatório ou facultativo. O litisconsórcio necessário ou obrigatório decorre de expressa previsão legal, como no caso do artigo 73 do CPC, que exige que ambos os cônjuges ou companheiros figurem conjuntamente em ações que versem sobre direito real imobiliário ou, ainda, devido à natureza da relação entre as partes. Já o litisconsórcio facultativo deriva apenas da vontade da parte autora, que pode optar por propor uma única ação contra todos os réus que tenham ligação na demanda. Ainda, o litisconsórcio poderá ser simples, quando a sentença não tiver que ser igual para todos os litisconsortes, ou unitário, quando necessariamente precisar ser igual para todos. 3.7 Intervenção de Terceiros A intervenção de terceiros pode se dar através das seguintes formas: a) Assistência: Trata-se de uma intervenção voluntária, em que um terceiro interessado no conteúdo da sentença intervém no processo a fim de assistir e ajudar a parte com a qual tenha relação jurídica. b) Denunciação da lide: Aqui a intervenção é originada pela iniciativa de uma das partes, que será chamado de denunciante, cujo objetivo é garantir o direito de regresso no caso de improcedência do processo. Somente acontece nos casos do art. 125 do CPC. IMPORTANTE - Esse direito de regresso somente será julgado pelo juiz se o denunciante perder a ação principal. c) Chamamento ao processo: Ocorre quando o réu chama a integrar o polo passivo da demanda (apenas em processos de conhecimento) os demais devedores da mesma dívida, configurando o litisconsórcio passivo. d) Incidente de desconsideração da personalidade jurídica: O incidente de desconsideração da personalidade jurídica vem regulado nos art. 133 a 137 do Código de Processo Civil. Sua finalidade é a responsabilização das pessoas físicas, sócias de empresas, pelos atos da pessoa jurídica. Os requisitos para as relações civis são: Abuso de poder, confusão patrimonial ou desvio de finalidade, conforme art. 50 do Código Civil, bem como aqueles inseridos no Código de Defesa ao Consumidor (art. 28). e) Amicus Curie: O amicus Curie está previsto no art. 138 do Código de Processo Civil e sua finalidade é auxiliar na formação de convencimento do juiz. Para que seja admitido o Amicus Curie, deverá ser observada a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda e a repercussão social da controvérsia. 4. ATOS PROCESSUAIS O processo consiste em uma sucessão de atos. Atos processuais são os atos humanos realizados no processo, os quais devem ser praticados em conformidade com o que determina a lei. Podem ser orais ou por escrito, todavia, sempre que forem orais, serão reduzidos a termo pelo escrivão, para sua documentação nos autos. Independentemente de sua forma, em regra, os atos processuais serão públicos, salvo aqueles cuja ação tramitar em segredo de justiça: art. 189 (...) I - em que o exija o interesse público ou social; DICA OLHO DE TIGRE A extinção do processo vai sempre acontecer por sentença (art. 316). II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. É possível a prática de atos processuais também por meio eletrônico. Atos processuais do juiz: o pronunciamento do juiz poderá ser feito através de sentenças, decisões interlocutórias e despachos. De acordo com art. 203, §1º, do CPC, sentença é o meio pelo qual o juiz extingue a ação e a execução, com ou sem resolução do mérito (artigos 487 e 485 do CPC). Decisão interlocutória é toda decisão judicial que não se enquadra no conceito de sentença (§ 2º). E despacho são os demaisprocedimentos do juiz realizados no processo, de ofício ou a requerimento da parte (§ 3º). 4.1 Intervenção do MP no Processo Civil A atuação do MP pode acontecer como parte ou como fiscal da ordem jurídica. Sua atuação como fiscal da ordem jurídica será emitindo parecer/opinião – e esta atuação se restringe aos casos definidos no art. 178 do CPC. Nestes casos definidos no art. 178 do CPC, a intimação do MP será obrigatória (179, I, do CPC), sendo que a falta de intimação acarretará a nulidade do processo (art. 279 do CPC). 4.2 Nulidades dos atos processuais Um ato processual será considerado nulo quando não observar todos os requisitos de validade e acarretar algum prejuízo. Se o juiz identificar uma nulidade durante o processo, ordenará que seja corrigida, avaliando, inclusive, se os atos posteriores que dele dependam também devem ser reparados (artigo 282 do CPC). A nulidade de um ato só poderá anular os atos posteriores que dele dependam, não prejudicando os atos posteriores independentes, conforme disciplina o artigo 281 do CPC. De acordo com o artigo 277 do CPC, o ato será considerado válido pelo juiz, desde que tenha alcançado a finalidade para o qual foi previsto, mesmo que tenha sido realizado de forma contrária a lei. Isso porque adota-se o princípio da instrumentalidade das formas, que diz que a forma é necessária apenas para que o ato alcance o seu objetivo, sendo que se atingir o objetivo por outro meio não existirá o vício (exemplo: o réu é citado de forma incorreta, mas comparece à audiência e se defende - o ato que inicialmente era nulo se tornará válido). DICA OLHO DE TIGRE Identificando que o ato processual, mesmo nulo, não trouxe PREJUÍZO e alcançou a sua FINALIDADE, não será decretada sua nulidade. 4.3 Tempo dos Atos Processuais Os atos processuais serão praticados em dias úteis, das 06 às 20 horas, conforme o artigo 212 do CPC. Para efeito processual, além dos declarados em lei, também se consideram como feriados, os sábados, os domingos e os dias em que não haja expediente nos órgãos jurisdicionais (artigo 216 do CPC). Ou seja, são dias úteis aqueles que não forem considerados feriado. 4.4 Prazos dos Atos Processuais Os prazos, no direito processual civil, serão contados apenas em dias úteis (art. 219 do CPC). Para contagem dos prazos, como regra, será identificado o dia do começo (art. 231 do CPC), excluindo-se tal dia conforme o art. 224 do CPC (exclui-se o dia do começo e inclui-se o do final). Na contagem de prazos quando a intimação acontecer via publicação no Diário da Justiça Eletrônico, serão levados em consideração os parágrafos segundo e terceiro do art. 224 do CPC. Ocorrendo uma causa interruptiva de prazo, terminada a interrupção, o prazo reiniciará na sua integralidade (terminada a causa interruptiva a parte tem todo o prazo de volta). Emergindo uma causa suspensiva, encerrada a mesma, a parte terá apenas o que restou (o saldo) do prazo. São causas que geram a modificação do prazo – contagem em dobro – aquelas previstas no art. 180 do CPC (MP), art. 183 do CPC (Fazenda Pública), art. 186 do CPC (Defensoria Pública) e art. 186, parágrafo terceiro, do CPC (escritórios de prática jurídica das faculdades de direito). Também incidirá o prazo em dobro no caso do art. 229 do CPC (litisconsórcio com diferentes procuradores de escritórios distintos) – IMPORTANTE: segundo o parágrafo segundo do 229 do CPC, tal dispositivo não se aplica aos processos em autos eletrônicos. Para as partes, a consequência da não observância dos prazos processuais é a preclusão temporal, ou seja, a perda do direito de manifestação: Art. 223. Decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar ou de emendar o ato processual, independentemente de declaração judicial, ficando assegurado, porém, à parte provar que não o realizou por justa causa. Trata-se de um mecanismo que gera a perda da faculdade processual, ou seja, a parte não poderá mais praticar determinado ato processual, podendo ser gerada por não ter sido exercida no tempo devido (preclusão temporal). 4.5 Preclusão lógica A parte deixa de ter a possibilidade de praticar algum ato, diante de já ter realizado ato anterior incompatível com o mesmo. Exemplo: Artigo 1.000 do CPC. 4.6 Preclusão consumativa Trata-se da impossibilidade da parte refazer ou aperfeiçoar algum ato já realizado. Por exemplo: a reconvenção deverá ser apresentada junto com a contestação, nem antes, nem depois, junto. O magistrado também deverá obedecer a prazos processuais, na forma do art. 226 do CPC: Art. 226. O juiz proferirá: I - os despachos no prazo de 5 (cinco) dias; II - as decisões interlocutórias no prazo de 10 (dez) dias; III - as sentenças no prazo de 30 (trinta) dias. Art. 235. Qualquer parte, o Ministério Público ou a Defensoria Pública poderá representar ao corregedor do tribunal ou ao Conselho Nacional de Justiça contra juiz ou relator que injustificadamente exceder os prazos previstos em lei, regulamento ou regimento interno. § 1º Distribuída a representação ao órgão competente e ouvido previamente o juiz, não sendo caso de arquivamento liminar, será instaurado procedimento para apuração da responsabilidade, com intimação do representado por meio eletrônico para, querendo, apresentar justificativa no prazo de 15 (quinze) dias. § 2º Sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis, em até 48 (quarenta e oito) horas após a apresentação ou não da justificativa de que trata o § 1o, se for o caso, o corregedor do tribunal ou o relator no Conselho Nacional de Justiça determinará a intimação do representado por meio eletrônico para que, em 10 (dez) dias, pratique o ato. § 3º Mantida a inércia, os autos serão remetidos ao substituto legal do juiz ou do relator contra o qual se representou para decisão em 10 (dez) dias. IMPORTANTE – contra o magistrado não existe preclusão temporal. 4.7 Possibilidade de alteração no Procedimento Conforme previsão do art. 190 do CPC, as partes podem estipular, de comum acordo, mudanças no procedimento: Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade. E, nesse sentido, poderão inclusive criar um calendário processual próprio (art. 191 do CPC). IMPORTANTE: O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados (§1º, art. 191 do CPC). Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou a realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário (§2º, art. 191, CPC). 4.8 Comunicação dos atos processuais 4.8.1 Citação Formas de citação: Art. 246. A citação será feita: I – pelo correio; II – por oficial de justiça; III - pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer em cartório; IV - por edital; V - por meioeletrônico, conforme regulado em lei. Segundo o artigo 247 do CPC, a citação não poderá ser por correio quando: I - nas ações de estado, observado o disposto no art. 695, § 3º; II - quando o citando for incapaz; III - quando o citando for pessoa de direito público; IV - quando o citando residir em local não atendido pela entrega domiciliar de correspondência; V - quando o autor, justificadamente, a requerer de outra forma. A chamada citação por hora certa, nada mais é do que após duas tentativas de citação pelo oficial de justiça, poderá o réu ser citado por hora certa, desde que seja suspeito de ocultação (art. 252 do CPC) Cuidado: o oficial que vai duas vezes na casa do réu e ele não se encontra porque está trabalhando, não dá motivos para fazer a citação por hora certa. A citação por edital ocorrerá nos casos do art. 256 do CPC. IMPORTANTE – para que a parte seja considerada em local incerto e não sabido são necessárias as diligências do art. 256, parágrafo terceiro, do CPC. O Edital será publicado em plataformas digitais, no site do Tribunal de Justiça (se em âmbito estadual) e do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), sendo FACULTATIVA a publicação em jornal local. Os efeitos da citação estão elencados no artigo 240 do CPC: Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos § 1o A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação. § 2o Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as providências necessárias para viabilizar a citação, sob pena de não se aplicar o disposto no § 1o. § 3o A parte não será prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário. § 4o O efeito retroativo a que se refere o § 1o aplica-se à decadência e aos demais prazos extintivos previstos em lei. Em se tratando de pessoa jurídica a citação poderá ser do gerente ou até mesmo do empregado responsável pelo recebimento de correspondência, de acordo com o §2º, do artigo 248 da CPC. IMPORTANTE – O CPC prevê que o comparecimento espontâneo do réu supre a nulidade da citação: Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido. § 1o O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação de contestação ou de embargos à execução. De acordo com o artigo 244 e 245 do CPC, não poderão ser citados, salvo para evitar perecimento do direito: Art. 244. I - de quem estiver participando de ato de culto religioso; II - de cônjuge, de companheiro ou de qualquer parente do morto, consanguíneo ou afim, em linha reta ou na linha colateral em segundo grau, no dia do falecimento e nos 7 (sete) dias seguintes; III - de noivos, nos 3 (três) primeiros dias seguintes ao casamento; IV - de doente, enquanto grave o seu estado. Art. 245. Não se fará citação quando se verificar que o citando é mentalmente incapaz ou está impossibilitado de recebê-la. 4.8.2 Intimação Forma de dar ciência as partes sobre atos e termos do processo – art. 269 do CPC. Intimação direta – feita pelo advogado de uma das partes para o advogado da parte adversa, na forma do 269, parágrafo primeiro e segundo, do CPC. 4.8.3 Cartas Segundo o art. 67 do CPC, são formas de cooperação entre órgãos jurisdicionais. O art. 69, parágrafo segundo, do CPC elenca alguns atos processuais que poderão ser produzidos via Cartas. Os tipos de cartas existentes estão definidos no art. 237 do CPC: ordem, rogatória, precatória e arbitral. IMPORTANTE - Há dois tipos de carta rogatória: a carta rogatória ativa, que é expedida no Brasil (no juiz deprecante) e encaminhada para outro país para ser cumprida pelo juiz deprecado e; a carta rogatória passiva, quando algum país estrangeiro expede carta rogatória para oitiva de alguma testemunha no Brasil. Nesses casos compete ao STJ autorizar o cumprimento da carta rogatória passiva, chamado exequatur (art. 105, I, “i” da CF), mas cuidado, o STJ apenas vai autorizar a execução da carta rogatória, pois quem vai de fato executar, escutar a testemunha ou parte, será o juiz federal (art. 109, X, da CF). 4.9 Suspensão do processo Das causas de suspensão, elencadas no artigo 313 do CPC, algumas são aplicáveis a todos os tipos (I, II, III e VI), outras são específicas do processo de conhecimento (IV e V), já as do processo de execução são tratadas no artigo 921 do CPC. Art. 313. Suspende-se o processo: I - pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu procurador; II - pela convenção das partes; III - pela arguição de impedimento ou de suspeição; IV- pela admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas; V - quando a sentença de mérito: a) depender do julgamento de outra causa ou da declaração de existência ou de inexistência de relação jurídica que constitua o objeto principal de outro processo pendente; b) tiver de ser proferida somente após a verificação de determinado fato ou a produção de certa prova, requisitada a outro juízo; VI - por motivo de força maior; VII - quando se discutir em juízo questão decorrente de acidentes e fatos da navegação de competência do Tribunal Marítimo; VIII - nos demais casos que este Código regula. (...) DICA OLHO DE TIGRE O instituto da Estabilização da Tutela somente será aplicável nos pedidos de Tutela Provisória de Urgência Antecipada Antecedente (art. 304 do CPC). 5. TUTELAS PROVISÓRIAS As tutelas provisórias são divididas em Evidência e Urgência. A tutela provisória de evidência somente poderá ser pedida (e concedida/deferida) nos casos do art. 311 do CPC – e sua análise será incidental. Por outro lado, a tutela de urgência exige, para sua concessão, a presença dos requisitos do art. 300 do CPC (podendo ser requerida e analisada de forma incidente ou antecedente). A Tutela de Urgência ainda se subdivide em Antecipada (garantir direitos materiais) e Cautelar (garantir direitos processuais). Especificamente as tutelas de urgência poderão ser requeridas de forma antecedente – a antecipada antecedente está regulada nos arts. 303 e 304 do CPC, enquanto a cautelar antecedente tem sua regulação no art. 305 e seguintes do CPC. 6. AÇÃO DE CONHECIMENTO – PROCEDIMENTO COMUM 6.1 Petição Inicial DICA OLHO DE TIGRE Toda petição inicial deverá ter, obrigatoriamente, valor da causa. O valor da causa, como regra, corresponde ao valor do pedido (ou dos pedidos, caso ocorra a cumulação) – art. 292 do CPC. O juiz não age por ofício nos processos, isto é, faz-se necessário a iniciativa da parte - a petição inicial é a peça exordial para a inauguração do processo civil, independente do rito. Tal peça – petição inicial - deve obedecer aos requisitos dos artigos 319 e 320 do CPC. Importante ressaltar, a respeito: A petição inicial deverá indicar se o autor deseja ou não de que lhe seja designada audiência de conciliação ou mediação (art. 334 do CPC), bem como, deverá juntar a procuração contendo nome do advogado, OAB, endereço completo (art. 105, §2º, do CPC). A não juntada será admitida somente,para evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado urgente (art. 287, parágrafo único, I c/c art. 104 do CPC). IMPORTANTE: Se o autor for absolutamente ou relativamente incapaz, deverá ser indicado a pessoa que o representa ou assiste. 6.2 Emenda da Petição Inicial Se a petição inicial estiver irregular, por faltar algum dos requisitos dos arts. 319/320 do CPC, ou apresentar defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, o juiz determinará que o autor emende ou a complete, no prazo de 15 dias (informando, com precisão, o que deve ser corrigido ou completado - artigo 321, do CPC). Não cumprida tal diligência, a petição inicial será indeferida (art. 321, parágrafo único, do CPC) – restando a ação extinta sem resolução do mérito, na forma do art. 485, I, do CPC. 6.3 Indeferimento da Petição Inicial As hipóteses de indeferimento são aquelas previstas no art. 330, CPC. Identificada pelo magistrado alguma das situações do art. 330 do CPC, deverá intimar o autor para emendar/completar a inicial (art. 321, combinado com o art. 317 do CPC). A decisão que indefere a inicial, por gerar a extinção sem resolução do mérito, é uma sentença (recorrível via apelação). No caso de apelação, segundo o artigo 331 do CPC, o juiz poderá retratar-se de sua decisão de indeferimento, no prazo de 05 dias, se não se retratar, o réu será citado para responder ao recurso. 6.4 Improcedência liminar do pedido Quando o juiz verificar que a inicial preenche os requisitos, determinará a citação do réu para que possa ser integrado ao processo, mas se verificar uma das hipóteses do artigo 332, do CPC, estará autorizado a proferir decisão liminar de total improcedência, sentença com resolução do mérito (art. 487, I, do CPC). Para que não viole o princípio da ampla defesa e do contraditório, o juiz deverá ouvir o autor. DICA OLHO DE TIGRE Também pode configurar causa/fundamento para a improcedência liminar dos pedidos a identificação de prescrição ou decadência (art. 332, parágrafo primeiro, do CPC) – neste caso, haverá extinção com resolução de mérito conforme o art. 487, II, do CPC. No entanto, não é necessária a oitiva do réu pois as causas de improcedência liminar não prejudicam o réu, apenas ao autor, ademais, essa decisão liminar ocorre antes da citação do réu. Assim como no indeferimento, a improcedência liminar gera a extinção (mas com mérito) – dessa forma, tal decisão será classificada como sentença (art. 316 do CPC), restando a apelação como recurso adequado (art. 1009 do CPC). Vale recordar, ainda, que interposta a apelação o juiz poderá retratar-se no prazo de cinco dias, se houve a retratação o juiz irá determinar o prosseguimento do processo, com a citação do réu, contudo se não houver retratação, determinará que o réu apresente contrarrazões, no prazo de 15 dias. 6.5 Audiência de mediação ou conciliação – art. 334 do CPC De acordo com o artigo 334 do CPC, o juiz ao receber a petição e não for caso de improcedência liminar ou indeferimento, deverá designar a audiência de conciliação ou mediação com antecedência mínima de 30 dias, sendo que o réu terá que ser citado, pelo menos 20 dias antes da audiência, Lembrando que, para não ocorrer a audiência ambas as partes deverão demonstrar desinteresse (o autor deve afirmar na petição inicial e o réu até 10 dias antes da audiência, por simples petição) – art. 334, parágrafo quarto, I, do CPC. A audiência também não será realizada se o juiz, ao receber a inicial, entender que não é o caso de autocomposição – situação onde mandará citar o réu para contestar. Ocorrendo a audiência, o comparecimento das partes é obrigatório, sob pena de ato atentatório contra à dignidade da justiça e sob pena de multa de 2% da vantagem econômica pretendia ou do valor da causa (art. 334, §8º, do CPC). As partes devem comparecer e estarem acompanhadas de seus respectivos advogados ou defensores públicos (art. 334, parágrafo 9º, do CPC) Contudo, se a parte não puder comparecer, poderá ser representada por seu advogado, desde que tenha procuração com poderes específicos (art. 334, §10, do CPC). 6.6 Contestação Forma processual do réu/demandado apresentar sua defesa. Deverá ser protocolada no prazo de 15 dias, obedecido o art. 335 do CPC: Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será a data: I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição; II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4o, inciso I; III - prevista no art. 231, de acordo com o modo como foi feita a citação, nos demais casos. § 1o No caso de litisconsórcio passivo, ocorrendo a hipótese do art. 334, § 6o, o termo inicial previsto no inciso II será, para cada um dos réus, a data de apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da audiência. § 2o Quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4o, inciso II, havendo litisconsórcio passivo e o autor desistir da ação em relação a réu ainda não citado, o prazo para resposta correrá da data de intimação da decisão que homologar a desistência. Em resumo, o prazo para contestação será contado: a) Da audiência (se ocorrer audiência); b) Da citação, se o réu for citado para contestar; c) Da juntada do último comprovante citatório se vários forem os réus e todos forem citados para contestar; d) Do protocolo do pedido de cancelamento da audiência do art. 334 do CPC, caso ela não ocorra por vontade das partes (sendo que, neste caso, ocorrendo litisconsórcio no polo passivo, o prazo será independente para casa réu, a partir do respectivo protocolo). Princípio da Eventualidade ou da concentração de defesa Ao contrário do que ocorrer na petição inicial, a Contestação não possuí requisitos a serem preenchidos obrigatoriamente. Cabe ao réu alegar na contestação toda matéria de defesa, de forma específica, expondo as razões de fato e de direito para impugnar o pedido do autor (art. 336, do CPC). Ônus da impugnação especificada O Réu não pode apresentar, como regra, contestação genérica, devendo enfrentar de forma específica tudo aquilo que foi alegado pelo autor, na petição inicial. Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se: I - não for admissível, a seu respeito, a confissão; II - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato; III - estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto. Parágrafo único. O ônus da impugnação especificada dos fatos não se aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial (BRASIL, 2015). E, aqui, fato não contestado será considerado presumidamente verdadeiro. Excepcionalmente, conforme previsão do art. 341, parágrafo único, será autorizada e permitida a contestação genérica. O réu pode então, na contestação, apresentar sua defesa processual (as denominadas Preliminares, previstas no art. 337 do CPC) e de mérito (rebatendo de forma específica os fatos – art. 341 do CPC –e os pedidos, art. 336 do CPC). Quanto as preliminares, vale recordar algumas situações específicas: Incorreção do valor da causa A não impugnação pelo réu, gera a preclusão, isto é, de acordo com o artigo 293, do CPC, não haverá outro momento para impugnar o valor da causa. Ausência de legitimidade ou de interesse processual, artigo 337, inciso XI, do CPC Neste caso será permitido ao autor, segundo o art. 338 do CPC, concordar com a alegação de ilegitimidade do réu, aceitando a sua exclusão e redirecionando a ação contra o demandado correto. Indevida concessão do benefício da gratuidade de justiça, artigo 337, inciso XIII, do CPC DICA OLHO DE TIGRE Contestação não tem valor da causa, mas reconvenção tem (art. 292 do CPC). Se a gratuidade da justiça for concedida após a petição inicial, o pedido de revogação será formulado por petição simples, no prazo de quinze dias (art. 100, caput, CPC). 6.7 Reconvenção Além da contestação, o réu poderá se valer da reconvenção para contra-atacar o autor, isto é, através da reconvenção o réu poderá formular pretensões, assim como fez o autor na petição inicial. Segundo a expressa previsão do art. 343 do CPC, deverá a reconvenção ser apresentada na Contestação (entenda-se que não será em peça separada e no prazo da contestação). A desistência da ação ou a ocorrência de alguma causa extintiva que impeça o exame do mérito da petição inicial, não prejudicará o prosseguimento do processo quanto à reconvenção (§2º, do artigo 343, do CPC). Revelia A revelia é configurada pela inércia do réu, que deixa de apresentar defesa em relação aos fatos narrados na inicial – objetivamente, ocorrerá a revelia quando o réu não apresentar contestação. DICA OLHO DE TIGRE O art. 349 do CPC permitiu, de forma expressa, que o réu, mesmo sendo revel, possa produzir prova no processo. A revelia do réu acarreta na presunção de veracidade dos fatos narrados na petição inicial (art. 344, segunda parte, do CPC) – os chamados efeitos da revelia; e a desnecessidade de sua intimação para os demais atos do processo caso não tenha constituído procurador nos autos, Importante recordar que os do art. 345 do CPC são hipóteses que afastam a aplicação dos efeitos da revelia (o réu permanece revel, mas contra ele não se aplicam os efeitos, ou seja, a presunção de veracidade dos fatos): Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se: I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis; III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova do ato; IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos. 6.8 Julgamento antecipado Se já foram cumpridas as providências preliminares, o juiz procederá ao julgamento conforme estado do processo, momento em que deverá analisar o destino da relação processual, assim, ocorrendo qualquer hipótese prevista nos artigos 485 e 487, inciso II e III, do CPC o juiz proferirá sentença, conforme artigo 354, do Código de Processo Civil. IMPORTANTE - essa decisão poderá ser apenas uma parcela do processo, caso em que será impugnável por agravo de instrumento, conforme parágrafo único, do artigo 354, do CPC. Julgamento antecipado do mérito - Total Reconhecendo o magistrado a desnecessidade de produção de mais provas em audiência de instrução e julgamento (provas orais, periciais e inspeção judicial), estará autorizado a proferir sentença com resolução de mérito, segundo artigo 355, do Código de Processo Civil: Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando: I - não houver necessidade de produção de outras provas; II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver requerimento de prova, na forma do art. 349. Essa decisão extinguirá o processo com resolução do mérito, na forma do 487, I, do CPC – e será recorrível via apelação (pois é uma sentença – art. 1009 do CPC). Julgamento antecipado parcial do mérito O CPC também contempla a possibilidade de serem proferidas decisões parciais de mérito, ou seja, e objetivamente: alguns pedidos serem terem o mérito julgado e o processo prosseguir quanto aos demais (produzindo, quanto a esses, a instrução): Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles: I - mostrar-se incontroverso; II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355. Da decisão de julgamento antecipado parcial do mérito cabe agravo de instrumento, como instrumento correto para impugnação, segundo o §5º, do artigo 356, do Código de Processo Civil. DICA OLHO DE TIGRE Caso seja marcada a audiência do art. 357, parágrafo terceiro, do CPC o prazo para arrolar testemunhas muda, devendo o rol de testemunhas ser apresentado na audiência de saneamento (art. 357, parágrafo quinto, do CPC). 6.9 Decisão de Organização e Saneamento do processo Passada a fase de providências preliminar e não sendo o caso de julgamento antecipado do mérito, o juiz proferirá decisão de organização e saneamento do processo, conforme art. 357 do CPC: I – Resolvendo e julgando as questões processuais pendentes; II – Fixando os fatos controvertidos (os quais serão objeto de produção probatória); III – Estabelecendo o ônus (obrigação) de produzir a prova (respeitado o art. 373); IV – Definindo os meios de prova; V – Identificando as questões de direito relevantes (até em respeito ao art. 10); VI – Aprazando audiência de instrução e julgamento, caso necessário. Havendo necessidade de produção de prova testemunhal, o juiz fixará o prazo não superior a quinze dias para que as partes apresentem o rol de testemunhas (parágrafo quarto) - até dez, sendo no máximo três para cada fato, conforme art. 357, §6º, do CPC – podendo o juiz delimitar o número de testemunhas levando em conta a complexidade da causa e dos fatos individualmente considerados. IMPORTANTE – pode o juiz, se entender necessário, marcar uma audiência de saneamento em cooperação, prevista no parágrafo terceiro do art. 357 do CPC – com o objetivo de tomar as decisões referentes ao saneamento nesta audiência. 6.10 Audiência de instrução A audiência de instrução serve, basicamente, para produzir prova oral – art. 361 do CPC (podendo, ainda, neste ato, serem esclarecidas questões de perícia, produzir debates orais e decidir a causa) A audiência é pública, ressalvada algumas exceções legais (art. 368 e 189, CPC): Segundo os incisos do art. 361 do CPC, acontecerá nesta audiência a ouvida do perito e assistentes técnicos (se existente a prova pericial), os depoimentos pessoais do autor e do réu (ouvida das partes) e a inquirição de testemunhas. A possibilidade de adiamento de tal audiência está prevista no artigo 362 do CPC, nas hipóteses de: Art. 362. A audiência poderá ser adiada: I - Por convenção das partes; II - Se não puder comparecer, por motivo justificado, qualquer pessoa que dela deva necessariamente participar; III - por atraso injustificado de seu início em tempo superior a 30 (trinta) minutos do horário marcado. IMPORTANTE - o Juiz poderá dispensar a produção das provas requeridas pela partecujo advogado ou defensor público não tenha comparecido e nem tenha justificado, aplicando a mesma regra ao Ministério Público (§2º, art. 362, CPC). Finda a instrução, o juiz passará a palavra para o advogado do autor, logo depois, ao advogado do réu, bem como, ao membro do Ministério Público, se for o caso de sua intervenção. Cada um terá o prazo de vinte minutos, prazo que poderá ser prorrogado por mais dez minutos, se o juiz achar necessário (art. 364, CPC). Quando a causa apresentar complexidade em fatos ou de direito, o debate oral poderá ser substituído por razões finais escritas (antigamente classificados como memoriais), que serão apresentados pelo autor e pelo réu, bem como, pelo Ministério Público se for o caso de intervenção, em prazos sucessivos de 15 dias para cada, sendo assegurada vista aos autos (§2º, 364, CPC). Encerrados os debates orais ou oferecidas as razões finais, o juiz proferirá sentença em audiência, ou no prazo de 30 dias (art. 366, CPC). 6.11 Teoria Geral da Prova Conceito de prova A prova é um instrumento ou meio hábil para demonstrar a existência de um fato (o objeto da prova serão, então, os fatos controvertidos, aqueles que tem mais de uma versão nos autos). Os meios legais de prova legais e “moralmente legítimos” (art. 369 do CPC). São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos, segundo o inciso LVI, do artigo 5º da Constituição Federal. Não depende de prova, de acordo com o artigo 374 do CPC, os fatos: a) Notórios: de conhecimento geral, como datas históricas; b) Afirmados por uma parte e confessados pela outra parte: quando a parte confirma as alegações da parte contrária; c) Admitidos no processo como incontroversos; d) Em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade. Cabe ao juiz apreciar a prova constante nos autos, independentemente de quem a tiver promovido e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento (art. 371, CPC). A quem cabe o requerimento de produção de provas? As partes, em regra, têm o dever de requer a produção das provas e cabe ao poder judiciário deferir ou não. O juiz não pode substituir a vontade de uma das partes determinando a produção de alguma prova que a parte não produziu ou nem mesmo citou, exceto quando se tratar de direito indisponível, ocasião em que poderá solicitar de ofício a produção de provas, tratando-se de uma exceção. Ônus da prova Caberá o ônus da prova ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito, e ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, essa é a regra geral (art. 373, CPC). O art. 373, parágrafo primeiro, do CPC autoriza o julgador, mediante decisão fundamentada, a inverter o ônus da prova – é a chamada distribuição diversa do ônus da prova (ou distribuição dinâmica). Essa alteração ou inversão do ônus da prova também poderá ser feita, acertada entre as partes, conforme prevê os parágrafos terceiro e quarto do art. 373. Prova emprestada Em nome do princípio da economia processual e da celeridade, o juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que considerar adequado, observado o contraditório (art. 372 do CPC) Produção antecipada de provas A prova pode ser antecipada (art. 381, CPC): a) Quando exista fundado receio de impossibilidade ou dificuldade de verificação de certos fatos; a) Com o objetivo de alcançar provas que motivem as partes para autocomposição; b) Identificar fatos que possam justificar ou evitar o ajuizamento de uma ação. 6.12 Prova em Espécie Ata notarial A ata notarial é um documento lavrado pelo tabelião de notas exclusivamente, Ela tem a finalidade de atestar a existência ou o estado de coisas. Art. 384. A existência e o modo de existir de algum fato podem ser atestados ou documentados, a requerimento do interessado, mediante ata lavrada por tabelião. Parágrafo único. Dados representados por imagem ou som gravados em arquivos eletrônicos poderão constar da ata notarial. Depoimento pessoal Depoimento das partes – autor e réu. Cabe à parte adversa requerer o depoimento pessoal da outra parte (artigo 385, do CPC). IMPORTANTE - Se a parte, pessoalmente intimada para prestar depoimento pessoal não comparecer, ou se comparecer, recursar-se a depor, aplicar-se-á pena de confissão (Art. 385, §1º, CPC), desde que advertida da pena de confesso no ato da intimação (que deve ser pessoal). Em caso de pessoa jurídica, o depoimento poderá ser prestado por seus representantes legais ou prepostos indicados pelo contrato social, desde que tenham poderes para isso e, obviamente, tenham conhecimento dos fatos. As partes serão ouvidas em separado, sendo vedado quem ainda não depôs, assistir ao interrogatório da outra parte (Art. 385, §2º, CPC). Somente não será obrigada a prestar depoimento pessoal nas hipóteses elencadas no artigo 388, do CPC (ou seja, nestes casos a negativa de prestar depoimento ou de responder as perguntas não acarreterá a pena de confissão): Art. 388. A parte não é obrigada a depor sobre fatos: I - Criminosos ou torpes que lhe forem imputados; II - A cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo; III - acerca dos quais não possa responder sem desonra própria, de seu cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau sucessível; IV - Que coloquem em perigo a vida do depoente ou das pessoas referidas no inciso III. Parágrafo único. Esta disposição não se aplica às ações de estado e de família. Confissão Segundo o artigo 389 do Código de Processo Civil, há confissão quando a parte admite a verdade de um fato, contrário ao seu próprio interesse e favorável aos interesses do adversário. Eficácia da confissão por representante (art. 392, §2º, CPC e 213, parágrafo único, CC): é possível a confissão espontânea feita pelo representante legal, contudo, quem confessa é o representado, o representante é quem apresentará a confissão espontânea ao magistrado, ou seja, ele é mero condutor da vontade declarada pelo real confitente. Para isso serão necessários poderes especiais (Art. 390, §1º, e 105, do CPC). A confissão, uma vez feita, é irrevogável, salvo se for provado que ela acontece em decorrência de erro de fato ou coação (art. 393, caput, do CPC) – nesse caso poderá ser anulada. Exibição de documento ou coisa O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa que se encontre em seu poder, sempre que o exame desses bens seja útil ou necessário para a instrução processual (art. 396, CPC). Quando o juiz não admitirá a recusa da exibição por parte do demandado? Conforme artigo 399 do CPC, o juiz não admitirá a recusa se: I - O requerido tiver obrigação legal de exibir: obrigação prevista em lei, como por exemplo, a exibição de livros mercantis (art. 1190 e 1191, do CC). II - O requerido tiver aludido ao documento ou à coisa, no processo, com o intuito de constituir prova: o requerido afirmou durante o processo a existência de tal documento ou coisa. III - o documento, por seu conteúdo, for comum às partes: como o recibo, seu conteúdo é comum às partes que litigam sobre determinado negócio jurídico. Se o requerido não efetuar a exibição, nem fizer nenhuma declaração no prazo de cinco dias, o juiz admitirá como verdadeiros os fatos que a parte contrária pretendia demonstrar pelo documento ou coisa
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