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OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS - PROFª TÂNIA MARA GRASSI - AULA 01 Plano de Ensino O trabalho psicopedagógico com oficinas se configura em uma prática que possibilita a aprendizagem e o desenvolvimento integral de sujeitos numa perspectiva preventiva e terapêutica. Tem-se como objetivos, apresentar as oficinas psicopedagógicas de modo a propiciar o conhecimento enquanto recursos de avaliação e intervenção, compreender o seu caráter preventivo e terapêutico; conhecer as diferentes definições para o termo oficina, para caracterizar o trabalho específico desenvolvido no contexto psicopedagógico; compreender o trabalho psicopedagógico desenvolvido nas oficinas, suas especificidades, caracterizando-as enquanto espaços de construção de conhecimentos, estabelecimento de vínculos, superação de dificuldades, aprendizagem e desenvolvimento, por meio de mediação. Apresentam-se os conceitos, sua caracterização e especificidades de modo a instrumentalizar o aluno em formação. Conversa Inicial Pelos transtornos e dificuldades de ensino e aprendizagem, o encaminhamento para avaliação e intervenção psicopedagógicas tem sido frequente. Na busca por uma intervenção psicopedagógica, que auxilie na resolução dessas dificuldades e na compreensão dos processos de ensino e aprendizagem em diferentes espaços e com diferentes sujeitos, as oficinas psicopedagógicas foram se desenvolvendo como uma forma de atuação em que a ludicidade tem uma função central. É um recurso privilegiado, que pode ser utilizado tanto na avaliação, quanto na intervenção psicopedagógica, que usando diferentes linguagens, possibilita um movimento de criação e experimentação, vivências e relações em que sentimentos e pensamentos se expressam, funções psicomotoras e funções psicológicas superiores são exercitadas, aprendizagem e desenvolvimento se efetivam. As oficinas psicopedagógicas são importantes recursos para avaliação e intervenção psicopedagógicas, possibilitando aprendizagem e desenvolvimento. 01 - Oficinas psicopedagógicas: construindo um conceito As oficinas psicopedagógicas podem ser definidas como espaços privilegiados de construção de conhecimentos, expressão de pensamentos e sentimentos, estabelecimento de relações entre ensinantes e aprendentes, em que há vínculo e mediação, aprendizagem e desenvolvimento. O termo oficina é utilizado em diferentes contextos, diferentes áreas de conhecimento e trabalho. Tem origem no latim officina, cujo significado é "local onde se exerce um ofício". É um local ou espaço de trabalho em que profissionais exercem suas funções, há apropriação de conhecimentos, há produção, há criação, há interação, ação, movimento e aprendizagem. É um recurso de ensino e aprendizagem em que diferentes conhecimentos podem ser trabalhados, sendo possível ensinar e, também, aprender. É uma forma de apresentar os conhecimentos aos sujeitos, propor atividades, acompanhar suas produções, mediar, verificar se houve ou não aprendizagem, retomar e refazer. Nas oficinas psicopedagógicas conhecimentos são construídos: é possível ensinar e aprende. Veja a definição de oficina psicopedagógica no vídeo a seguir. Tema 02 - Oficinas psicopedagógicas: laboratórios de aprendizagem O termo oficina psicopedagógica é apresentado por Grassi (2018) como uma construção que se originou de práticas psicopedagógicas desenvolvidas, de modo experimental, cujos resultados positivos possibilitaram sua consolidação como recurso ou instrumento de intervenção psicopedagógica. Laboratórios de aprendizagem em que seus participantes constroem juntos o conhecimento, vivenciando diferentes papéis, experimentando, criando, expressando pensamentos e sentimentos, em que é possível errar, refazer, desconstruir, testar limites e possibilidades, superando dificuldades, aprendendo e ensinando, por meio de uma relação mediada, em que há vínculo afetivo, interação, diálogo, um olhar atento e uma escuta diferenciada. As oficinas se desenvolvem em uma proposta semiestruturada, em que há planejamento prévio, mas flexível, cujas modificações são feiras a partir das necessidades do grupo, das relações estabelecidas e da percepção do mediador. Vocês devem estar curiosos para saber como se caracteriza o trabalho desenvolvido nas oficinas psicopedagógicas. Tema 03 – O trabalho psicopedagógico nas oficinas: caracterização O trabalho psicopedagógico desenvolvido nas oficinas psicopedagógicas têm algumas características: São espaços de trabalho em que as atividades lúdicas estão presentes em diferentes linguagens; os sujeitos são convidados a participar ativamente das atividades propostas, com autonomia, respeito ao outro e responsabilidade, mas sempre com mediação. A mediação caracteriza a relação entre o profissional e os participantes; seu caráter lúdico se configura em recurso que possibilita a aprendizagem e o desenvolvimento; trabalham-se as funções psicológicas superiores que possibilitam a aprendizagem dos conteúdos escolares; tem caráter preventivo e terapêutico; recurso para avaliação e intervenção psicopedagógica clínica e/ou institucional; o erro é vivenciado de modo lúdico, como expressão do pensamento e natural no processo de aprendizagem; espaços de experimentação, construção de conhecimentos e expressão de sentimentos. O trabalho nas oficinas psicopedagógicas é mediado. A mediação é uma condição essencial para que o trabalho psicopedagógico se efetive. Vamos refletir sobre esta questão no vídeo a seguir. Tema 04 - A mediação: condição essencial para o trabalho psicopedagógico com oficinas O trabalho desenvolvido nas oficinas psicopedagógicas é caracterizado pela relação mediada entre o profissional e os participantes: ensinante e aprendente. O conhecimento é apresentado com uma situação problema a ser resolvida, da linguagem lúdica, da produção de algo e da possibilidade de refazer, sempre que necessário. Este processo é acompanhado pelo profissional que faz a mediação. Mediar significa colocar-se entre o sujeito e o conhecimento, aproximando-os, intervindo de modo a resolver os conflitos existentes, melhorar o diálogo e a comunicação, possibilitar a apropriação do conhecimento, por parte do sujeito. Nas oficinas psicopedagógicas a mediação é uma condição sem a qual o trabalho não se desenvolve. O psicopedagogo é quem promove a mediação, e utilizando instrumentos e signos próprios de sua cultura, possibilita o desenvolvimento das funções psicológicas superiores necessárias a aprendizagem e ao desenvolvimento. As oficinas psicopedagógicas são recursos para avaliação e para intervenção psicopedagógicas. Chegou o momento de conhecer essas duas possibilidades de utilização das oficinas psicopedagógicas. Tema 05 - Avaliação e intervenção psicopedagógica com oficinas A avaliação psicopedagógica é um processo cujos instrumentos de investigação possibilitam o diagnóstico e a análise do perfil de desenvolvimento e aprendizagem do sujeito. As oficinas psicopedagógicas enriquecem esta análise, investigam aspectos complementares, confirmando ou não hipóteses, levantando novas hipóteses, verificando interações e compreendendo as relações. Sua realização será na escola em que o sujeito estuda, com seus colegas e a professora, planejada para levantar uma informação específica, analisar relações, observar comportamentos e interações, agendada e com enquadramento. Na intervenção psicopedagógica, as oficinas psicopedagógicas são recursos que possibilitam a construção de conhecimentos, o desenvolvimento de funções psicológicas superiores, a ressignificação dos conteúdos escolares, a expressão de afetos, a prevenção e a resolução de problemas, a superação das dificuldades e a aprendizagem, por meio da ludicidade. Vamos conhecer as práticas desenvolvidasnas oficinas psicopedagógicas. Na Prática Você já participou de uma Oficina? E de uma Oficina Psicopedagógica? Há semelhanças entre elas? O que podemos trabalhar durante as oficinas psicopedagógicas e como elas são organizadas? Laura tem 10 anos, cursa o 5º ano e está sendo avaliada. Como queixa, mencionam-se dificuldades de relacionamento em sala de aula, além das dificuldades de leitura e escrita. Optou-se pela realização de uma Oficina no processo de avaliação psicopedagógica. A oficina foi realizada na escola em que ela estuda e com sua turma, composta por 10 meninos e 8 meninas, na faixa etária de 9 a 11 anos. Observou-se dificuldades de interação entre Laura e os colegas, isolamento e rejeição. Como você organizaria uma oficina de avaliação? Que atividades você escolheria? Por que? Qual seria sua função? O que você observaria? Faça uma reflexão sobre a oficina psicopedagógica como recurso de avaliação diagnóstica. Que medidas de intervenção você implementaria para Laura? Finalizando A oficina é um local ou espaço de trabalho em que se desenvolvem atividades profissionais, em que há produção, circulação de conhecimentos, movimento, ação e aprendizagem. Nela, conhecimentos diversos podem ser apresentados aos sujeitos, havendo um processo de produção que permite verificar se houve ou não apropriação dos conhecimentos. Na oficina, há o desenvolvimento de uma atividade profissional ou artística, uma aula ou curso prático, um processo de ensino e aprendizagem. Já na oficina psicopedagógica, há um processo de construção de conhecimentos em que se destacam a ludicidade enquanto linguagem, a possibilidade de criação e de expressão de pensamentos e sentimentos; o exercício das funções psicológicas superiores. A proposta de trabalho é semiestruturada, há planejamento prévio, flexibilidade e possibilidade de mudanças em função das necessidades do grupo, das relações estabelecidas e da percepção do mediador. Referências GRASSI, M. Oficinas psicopedagógicas. Curitiba: Ibpex, 2012. OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS - PROFª TÂNIA MARA GRASSI - AULA 02 Plano de Ensino Nesta aula vamos conhecer melhor as oficinas psicopedagógicas, como se estruturam e se organizam, como são planejadas, apresentando-se também as propostas de Márcia Torres, de Cristiane Dias Allessandrini e de Tânia Mara Grassi. O objetivo é propiciar o conhecimento sobre as oficinas e sua organização, sobre as propostas das três autoras, cuja estrutura básica é a mesma: sensibilização, desenvolvimento e avaliação. O trabalho psicopedagógico carrega em seu interior um espaço para a autoria em que o profissional da psicopedagogia, enquanto pesquisador, vai atuar estruturando novas práticas, adaptando instrumentos e criando outros, produzindo conhecimento, desenvolvendo uma teoria, objetivando propiciar ao sujeito/aprendente o melhor atendimento possível. As oficinas psicopedagógicas se estruturaram a partir desta busca e com o objetivo de promover a aprendizagem e o desenvolvimento. Conversa Inicial Em um contexto marcado pela presença, cada vez maior, de dificuldades de aprendizagem, pelo fracasso escolar, pelo desinteresse, por vínculos negativos com a aprendizagem escolar, pela desvalorização da educação e do professor, pela falta de investimentos e recursos e pela violência, as oficinas psicopedagógicas se apresentam como recurso importante para o trabalho psicopedagógico clínico e institucional. Estão em processo de construção e cada autor tem participado ativamente, sistematizando suas propostas, as organizando em prática, desenvolvendo as atividades, analisando os resultados, relatando experiências e produzindo conhecimento. O trabalho desenvolvido em seu espaço se organiza como propiciador de aprendizagens e desenvolvimento, elaboração de sentimentos, expressão de pensamentos, conquista de autonomia, estabelecimento de vínculos positivos, autoconhecimento e superação de dificuldades. Tema 01 – Caracterizando as oficinas psicopedagógicas As oficinas psicopedagógicas são recursos de avaliação psicopedagógica clínica e institucional e, também, de intervenção psicopedagógica clínica e institucional, tendo um caráter lúdico e uma função preventiva e/ou terapêutica. São planejadas seguindo um roteiro, que é flexível, podendo ser adaptado. A experiência vivenciada é única, mesmo que as atividades sejam repetidas, os resultados serão diferentes, pois as relações estabelecidas também serão. Não há modelos, mas sim, referências que norteiam o trabalho. O conhecimento é construído em seu espaço, as funções psicológicas superiores e as funções psicomotoras são mobilizadas e exercitadas, os pensamentos e sentimentos são expressados, levando a superação de dificuldades de aprendizagem. O vínculo, entre os participantes e o mediador é condição essencial para o trabalho. São desenvolvidas no período de um ano ou mais, em encontros semanais ou quinzenais com duração de uma hora e meia. Tema 02 – Organizando as oficinas psicopedagógicas A organização das oficinas psicopedagógicas acontece a partir da elaboração de um planejamento, construção que apresenta as constantes do trabalho, considerando os objetivos que se pretende alcançar, suas especificidades, os sujeitos que vão participar do processo e suas necessidades. Pode ser uma oficina para avaliação psicopedagógica clínica ou institucional, para intervenção clínica ou institucional, pode ter um caráter preventivo e/ou terapêutico, pode ser desenvolvida numa clínica ou consultório, em uma escola, em instituições diversas, pode ser individual ou grupal. Uma vez definido o tipo de oficina e seu objetivo, outras constantes serão definidas: duração do processo; número de encontros e duração; datas; horários; público; local e espaço. Definem-se os objetivos específicos e as dinâmicas que serão desenvolvidas, selecionando os materiais, descrevendo as atividades, adaptações, avaliação, continuidade e função do profissional. Tema 03 – A proposta de Torres: uma construção com jogos de regras A proposta de Márcia Torres (2001) é fruto de sua pesquisa de doutorado em educação, no laboratório de aprendizagem da USP com adolescentes, alunos de escolas públicas, com dificuldades de aprendizagem. As Oficinas Psicopedagógicas são organizadas em três momentos denominados de Hora da roda (estabelecimento de vínculos, diálogo e interação), Jogo do dia (jogos de regras e desafios escritos) e Cantinhos (organizados nos 4 cantos da sala em que a escolha pode ser exercitada), fundamentando sua proposta na epistemologia genética de Jean Piaget e no trabalho com jogos de Lino de Macedo, Ana Lúcia Sícoli Petty e Norimar Christe Passos. A utilização dos jogos de regras possibilita a prevenção de dificuldades de aprendizagem, além de sua correção, quando já instaladas; e o desenvolvimento de estruturas de pensamento mais complexas, caracterizando-se como uma prática construtivista com jogos, entendidos como objetos do conhecimento. Tema 04 – A proposta de Allessandrini: oficinas criativas A proposta de Allessandrini foi apresentada no livro Oficina criativa e psicopedagogia, adaptação de sua dissertação de mestrado, sob orientação de Lino de Macedo, publicado em 1996. Utiliza a linguagem artística, a ludicidade e a criatividade nas oficinas psicopedagógicas, favorecendo a aprendizagem e o desenvolvimento, através do autoconhecimento. O trabalho pode ser desenvolvido em grupos ou individualmente, tendo a duração de dois anos, com encontros semanais de uma hora e trinta minutos e cinquenta minutos, respectivamente. Nas oficinas criativas, a arte e a expressão funcionam como facilitadores para que o indivíduo volte a criar, estabelecendo uma relação positiva com o aprender.Embora dividida em etapas, a oficina se configura em uma continuidade dinâmica, cada etapa se vincula as outras, sem quebras: sensibilização, expressão livre, elaboração da expressão, comunicação ou transposição para linguagem oral e avaliação. Tema 05 – A proposta de Grassi: caminhando e construindo saberes A proposta de Grassi é fruto de sua experiência na intervenção psicopedagógica clínica e institucional. Organiza-se em etapas interligadas: Sensibilização - Estabelecendo vínculos e estreitando laços; Desenvolvimento - Construções psicopedagógicas: desenvolvendo funções e construindo conhecimentos; e Fechamento/Avaliação - Elaborando experiências e avaliando vivências. Objetiva a expressão de pensamentos e sentimentos, o exercício de funções psicomotoras e funções psicológicas superiores, de sujeitos que estão enfrentando dificuldades, através da linguagem lúdica. Há no espaço da oficina psicopedagógica, um interjogo entre o fazer e o refazer, um movimento de exploração e experimentação, em que o erro é natural, as dificuldades emergem no processo sendo trabalhadas e compreendidas, as interações se efetivam, o medo, a culpa, a vergonha e outros sentimentos emergem, mas a mediação dá segurança e acolhe, os vínculos, confiança e respeito. 15 Vamos conhecer uma proposta que utiliza diferentes linguagens nas oficinas psicopedagógicas. Na Prática Foi organizada uma oficina psicopedagógica na proposta de Torres, para um grupo de alunos de uma escola privada de ensino fundamental, com dificuldades de aprendizagem. Considere: Heitor, 8 anos, Laura, 8 anos, Ronaldo, 9 anos, Enzo, 9 anos, Jéssica, 10 anos e Pedro, 10 anos. Heitor e Laura, têm dificuldades na leitura e na escrita, participam de reforço escolar, atendimento psicopedagógico e psicológico. Ronaldo tem diagnóstico de transtorno de espectro autista, com acompanhante pedagógico em sala, faz atendimentos de fonoaudiologia, psicologia e psicopedagogia. Enzo e Jéssica tem TDAH, alteração no processamento auditivo central, recebendo atendimentos de fonoaudiologia, psicologia, psicopedagogia e reforço escolar e Pedro apresenta dislexia e discalculia. Estão, os 3 primeiros no terceiro ano e os outros, no quarto. Os meninos têm dificuldades de interação. Faça uma reflexão sobre o que foi considerado pelo profissional para a escolha desta proposta. Vamos refletir sobre a organização de uma oficina psicopedagógica na proposta de Torres. Finalizando A organização de uma oficina psicopedagógica pressupõe a elaboração de um planejamento que define suas constantes. O planejamento nada mais é do que a organização de elementos fundamentais para o alcance dos objetivos. O primeiro passo é considerar estes objetivos para então definir os outros elementos constitutivos do processo: tempo, espaço, duração, participantes, dinâmicas, atividades, recortes, adaptações, continuidade, avaliação. Na proposta de Torres, utilizam-se os jogos de regras, sendo três os momentos de sua dinâmica: Hora da Roda, Jogo do dia e Cantinhos. Na proposta de Alessandrini, as dinâmicas são organizadas em 5 momentos, em que há continuidade e encadeamento: Sensibilização, Expressão Livre, Elaboração da Expressão, Comunicação ou Transposição e Avaliação. Na proposta de Grassi, as oficinas são organizadas em 4 momentos, em que há interrelação: Sensibilização, Desenvolvimento, Fechamento e Avaliação. Referências ALESSANDRINI, C. D. Oficina criativa e psicopedagogia. São Paulo: Casa do psicólogo, 1999. GRASSI, T. M. Oficinas psicopedagógicas. Curitiba: Ibpex, 2008. TORRES, M. Z. Processos de desenvolvimento e aprendizagem de adolescentes em oficinas de jogos. Tese (Doutorado em Educação) Universidade Estadual de São Paulo, 2001. OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS - PROFª TÂNIA MARA GRASSI - AULA 03 Plano de Ensino Nesta aula vamos abordar as oficinas psicopedagógicas com brinquedos e jogos. O brincar é visto como uma atividade fundamental para o desenvolvimento humano e para a estruturação do sujeito, além de recurso pedagógico e psicopedagógico essencial nas práticas desenvolvidas no contexto escolar e psicopedagógico; vamos abordar também os jogos e sua importância nas práticas psicopedagógicas. Os objetivos são: Compreender o que é brincar e jogar e sua importância para o desenvolvimento da criança; Identificar os critérios para escolha dos brinquedos e jogos, compreendendo o brinquedo e o jogo como suportes para a ação de brincar e jogar; Entender a necessidade do planejamento das atividades lúdicas na prática psicopedagógica; Identificar os diferentes modos de brincar e jogar que vão se estruturando durante o processo de desenvolvimento; Conhecer a classificação de jogos e compreender sua importância para o trabalho psicopedagógico. Conversa Inicial O brincar está presente nas discussões sobre educação, práticas pedagógicas e psicopedagógicas. Fala-se muito sobre a importância do brincar na educação infantil e de seu resgate nas práticas pedagógicas no ensino fundamental, além de sua utilização no trabalho psicopedagógico. Quando as questões lúdicas são abordadas, o brincar e o jogar estão presentes e em geral, são tomados como sinônimos. Diferentes autores vão apresentar definições sobre o jogo que aproxima da brincadeira, mas que também a diferencia de forma sutil. Vamos refletir sobre essas definições na busca pela compreensão sobre o tema. O jogo e o jogar são atividades importantes para o desenvolvimento infantile, tanto quanto o brinquedo e a brincadeira. Estão presentes no cotidiano das crianças, adolescentes e adultos, seja em casa, na escola ou em outros espaços, sendo fundamentais na intervenção com as oficinas psicopedagógicas, por possibilitar a aprendizagem. O brincar e jogar como atividade fundamentais nas oficinas psicopedagógicas. Tema 01 – O brincar, os brinquedos e as brincadeiras O brincar é uma necessidade interior do ser humano e, portanto, intrínseco ao processo de desenvolvimento. A criança, desde cedo, demonstra um impulso para explorar, experimentar e descobrir. Esse impulso direciona suas ações para com os outros e para os objetos que estão disponíveis em seu ambiente. Frente a um brinquedo, entendido como um objeto que dá suporte a brincadeira, as ações da criança são exploratórias. Ela vai, através de seu corpo e dos sentidos, de acordo com suas possibilidades psicomotoras e faixa etária, segurar, amassar, morder, cheirar, apertar, jogar, chutar, etc., enfim, interagir com o brinquedo até conhecê-lo. Nessa ação exploratória vai descobrindo o que é aquele objeto, para que serve, quais são suas características, experimentando suas possibilidades de utilização, e ao dominá-lo outras possibilidades vão sendo criadas, brincadeiras são inventadas, utiliza seu corpo experimentando e testando seus limites. Tema 02 – A seleção dos brinquedos e brincadeiras: critérios para escolha A seleção de brinquedos ou objetos que servirão de suporte para a ação de brincar é uma tarefa que exige responsabilidade e sensibilidade. Os critérios que serão utilizados para sua escolha, aquisição e utilização são: a segurança: a resistência do material deve ser verificada, pois a possibilidade de quebras traz insegurança, medo de brincar, culpa e frustração reprimindo o impulso natural de exploração; a presença de pontas e arestas que podem machucar quem brinca com eles, a presença de peças destacáveis e pequenas que podem ser ingeridas e causar engasgos, o material que deve ser atóxico, antialérgico e lavável, embalagens plásticas, como sacos e sacolas, bem como cartuchos de papel, barbantes e cordas que possam sufocar ou enforcar; a faixa-etária; o nível de desenvolvimento; os interesses dos sujeitos; as capacidades psicomotoras e perceptuais; osobjetivos a atingir e possíveis dificuldades que exijam adaptações. Tema 03 – O jogo nas oficinas psicopedagógicas: uma visão construtivista Embora possibilite diversão, o jogo, não deve ser visto como mero passatempo ou atividade puramente distrativa, visto que coloca em exercício as funções psicomotoras, as funções cognitivas e a afetividade, configurando-se em atividade psicopedagógica de grande valor educacional, estimulador do desenvolvimento e possibilitador de aprendizagem. O jogo é uma atividade voluntária que se desenvolve num tempo e num espaço determinado, seguindo regras que são obrigatórias, mas não impostas e sim previamente acordadas, com objetivos definidos, acompanhadas por sentimentos de tensão, prazer e desafio, sendo percebido como distinto da rotina e das obrigações cotidianas. Piaget classifica os jogos em: de exercício, simbólicos e de regras. Durante um jogo de regras, os participantes/jogadores solucionam uma situação-problema, orientados por regras que direcionam as ações implementadas para atingir seu objetivo. Tema 04 – Brinquedos e jogos enquanto recursos psicopedagógicos Os brinquedos e os jogos são considerados importantes recursos psicopedagógicos, nas práticas educacionais desenvolvidas na escola e, nas práticas psicopedagógicas desenvolvidas no trabalho de intervenção. A ação de jogar ou brincar desafia o sujeito, coloca em movimento suas funções cognitivas, psicomotoras, afetivas, promovendo aprendizagem e desenvolvimento. As funções necessárias para a ação de brincar ou jogar são estimuladas por ele. Enquanto brinca ou joga a criança aprende e se desenvolve e processos internos são despertados, relações novas e mais complexas entre os significantes e os significados, entre os objetos e as ações se estabelecem. Os brinquedos e os jogos, no trabalho psicopedagógico, têm uma função primordial, pois permitem investigação, diagnóstico e intervenção. A intervenção consiste em provocar análise, reflexão, tomada de consciência dos erros, problematização, compreensão e superação das dificuldades. 14 Tema 05 – A proposta de Lino de Macedo com jogos de regras Macedo, Petty e passos apresentam uma proposta de intervenção com jogos de regras utilizados em oficinas psicopedagógicas que se caracteriza como uma prática construtivista, desenvolvida em quatro etapas. A primeira etapa é a exploração dos materiais e aprendizagem das regras, caracterizada pela exploração integral do jogo. O mediador apresenta o jogo, verificando se eles o conhecem, conversam sobre o material que o compõe e suas regras. Na segunda etapa, prática do jogo e construção de estratégias, os participantes vão praticar o jogo. A terceira etapa é a construção de situações-problema, a partir das situações de jogo, permitindo ao mediador analisar a estrutura de pensamento do jogador, o que orienta suas intervenções, promove mudanças, a construção de conhecimentos e a superação das dificuldades; e a quarta etapa é a análise das implicações do jogar, que consiste na análise da experiência vivenciada na prática do jogo. Na Prática O jogo de dominó foi apresentado a um grupo composto por 10 crianças, na faixa etária de 8 anos. Elas foram convidadas a manusear as peças do jogo e conversar sobre ele, que todos conheciam. Exploraram as peças, conversando com o mediador sobre o material das peças, tamanho, forma, número de peças, outras variações: dominó de figuras, sílabas, palavras, sinônimos, antônimos, etc. Falaram sobre as regras e em seguida jogaram diversas partidas, exercitando as regras; em seguida problematizaram as situações de jogo, com a mediação do profissional, construíram gráficos das partidas jogadas e das estratégias utilizadas pelos ganhadores. Finalizaram analisando as implicações do jogar, estabelecendo relações com as situações escolares, situações do cotidiano, experiências pessoais, sempre com a mediação do profissional. Foram, então, estimulados a trazer para a próxima oficina material para a confeccionar o próprio jogo de dominó. Finalizando O brincar e o jogar são atividades essenciais para os processos de desenvolvimento e aprendizagem humanos. São, também, recursos para práticas pedagógicas e psicopedagógicas desenvolvidas em diferentes contextos, de valor significativo. Durante o processo de desenvolvimento da criança formas diferentes de brincar e jogar vão se organizando e tem seu predomínio de acordo com os estágios desse desenvolvimento, segundo a concepção construtivista: jogos de exercício, jogos simbólicos e jogos de regras. Estes, estão presentes por toda a vida, logo tanto adultos quanto crianças brincam e jogam, embora de maneiras diferentes. Na escolha de jogos e brincadeiras alguns critérios precisam ser considerados, entre eles destacam-se: segurança, faixa etária, nível de desenvolvimento, possibilidades psicomotoras, objetivos e interesses. Para brincar é preciso ter suportes para a brincadeira, espaço físico e psicológico, além de tempo e mediação. Referências MACEDO, L. Aprender com jogos e situações-problema. Porto Alegre: Artmed, 2000. MACEDO, L. PETTY, A. L. S.; PASSOS, N. C. 4 cores, senha e dominó: oficinas de jogos em uma perspectiva construtivista e psicopedagógica. São Paulo: Casa do psicólogo, 1997. OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS - PROFª TÂNIA MARA GRASSI - AULA 04 Plano de Ensino Esta aula tem como objetivo propiciar conhecimentos sobre as diferentes linguagens que podem ser utilizadas na composição das Oficinas Psicopedagógicas. Explorar linguagens em que o caráter lúdico está presente enquanto movimento de experimentação, exploração e criação. Instrumentalizar o futuro psicopedagogo para fazer escolhas selecionando as diferentes linguagens, considerando as necessidades dos sujeitos que compõe um grupo, os objetivos a atingir, as experiências que precisam ser propiciadas, os recursos que vão oferecer essas experiências. Entre as linguagens destacam-se a história e a literatura, os jogos dramáticos e o teatro, a música, o canto e a dança, as artes visuais e as dinâmicas de grupo. O objetivo é propiciar o conhecimento sobre cada uma dessas linguagens de modo a compreender a ludicidade presente nelas, como elemento essencial na prática psicopedagógica com as Oficinas Psicopedagógicas, na avaliação e na intervenção. Conversa Inicial A ludicidade, presença essencial no espaço das Oficinas Psicopedagógicas, não se restringe a brincadeiras e jogos. Outras linguagens trazem em seu interior o caráter lúdico enquanto movimento de exploração, experimentação e criação. Diferentes materiais e linguagens possibilitam esse movimento e sua presença nas oficinas por meio de temáticas interessantes, promovem aprendizagem e desenvolvimento, oferecendo aos participantes experiências marcantes e ricas em possibilidades. Considerando sempre os sujeitos e suas necessidades, escolhe-se a linguagem mais adequada ao grupo e elabora-se o planejamento, que será desenvolvido na oficina. É possível organizar as oficinas com uma linguagem apenas, ou com mais de uma linguagem nos diferentes momentos, o que é escolhido em função da faixa etária, das dificuldades, dos interesses, das necessidades e das vivências que precisam ser propiciadas ao grupo ou a um participante em especial. Tema 01 – Oficinas psicopedagógicas com história e literatura A linguagem literária pode e deve ser utilizada nas oficinas psicopedagógicas, representando um recurso atrativo e que abre várias possibilidades de trabalho. As crianças e os adultos gostam, se interessam e sentem prazer em ouvir histórias. Diferentes gêneros textuais atraem a atenção e se apresentam como possibilidades lúdicas, em que há um jogo com palavras, sons, ritmo, imaginação, registro eaudição: histórias, contos, contos de fadas, mitos, fábulas, lendas, jogos de linguagem e poesias. As histórias, são lúdicas por natureza, pois quando de sua escrita ou de sua narração há uma brincadeira com as palavras, há um jogo de faz de conta, em que o leitor ou o ouvinte também participa. Há um espaço para a imaginação, criação e construção. Ler, escrever, contar ou ouvir histórias coloca em movimento as funções psicológicas superiores, a imaginação e a criatividade, a expresão de pensamentos e sentimentos, possibilitando a aprendizagem. Tema 02 – Oficinas psicopedagógicas com jogos dramáticos e teatro A linguagem teatral possibilita a vivência de experiências simbólicas que contribuem para o desenvolvimento do sujeito, no contexto das Oficinas Psicopedagógicas. Enquanto linguagem lúdica não tem preocupação com as exigências de uma representação convencional. O processo de construção e as experiências vivenciadas são mais importantes do que o produto final. Jogo simbólico, de faz de conta, linguagem lúdica, em que é possível através da dramatização, dos jogos dramáticos, da imitação, da mímica, do teatro de fantoches, estimular a expressão de pensamentos e sentimentos, principalmente de sujeitos que apresentam dificuldades de aprendizagem. A dramatização se configura em um exercício de criação, uma brincadeira em que personagens são desenvolvidos, papéis são vivenciados, comportamentos são imitados, ações são experimentadas, sentimentos são expressados. Envolvem interações, comunicação, planejamento, organização e aprendizagem. Tema 03 – Oficinas psicopedagógicas com música, canto e dança A música, em sua essência, é jogo, afirma Delalande. O jogo sensório-motor foi relacionado pelo autor ao exercício e exploração de sons e gestos; o jogo simbólico, a expressão e ao significado da linguagem musical; e o jogo de regras, a organização e estruturação da linguagem musical. A dança é uma atividade corporal que possibilita a expressão através do movimento, em qualquer espaço e tempo, de modo lúdico. É uma linguagem e uma forma de comunicação em que os movimentos são espontâneos, exploratórios e expressivos. Dançando o senso estético se desenvolve, o sujeito percebe e controla o próprio corpo e suas possibilidades motrizes. Nas Oficinas Psicopedagógicas a música, o canto e a dança podem ser utilizadas como recursos de apoio ou como atividades principais, o que é orientado pelos objetivos definidos quando da elaboração do planejamento e pela consideração das características dos sujeitos que vão participar. Tema 04 – Oficinas psicopedagógicas com artes visuais As artes visuais são essenciais no trabalho psicopedagógico, representando um recurso fundamental para a expressão do sujeito. A criação é um processo em que há aprendizagem e desenvolvimento, um momento especial em que o sujeito representa simbolicamente seus desejos, necessidades e interesses, mas também, angústias, dificuldades e conflitos internos. Diante dos materiais que são disponibilizados ao sujeito, ele é convidado a produzir algo, criar e construir. Nesse processo percebe-se capaz de planejar, criar e se expressar, com liberdade, autonomia e resiliência. Nas Oficinas Psicopedagógicas com artes visuais diversos materiais e instrumentos (riscantes e suportes) podem ser utilizados de modo a estimular a imaginação, criatividade, as condutas psicomotoras e as funções psicológicas superiores, através de desenho, pintura, colagem, modelagem, escultura e construções diversas, formas de expressão bidimensionais e tridimensionais. Tema 05 – Oficinas psicopedagógicas com dinâmicas de grupo No trabalho desenvolvido nas oficinas psicopedagógicas, as dinâmicas de grupo se apresentam como recursos essenciais. Em sua organização podem ser escolhidas para a sensibilização, para o desenvolvimento, para o fechamento e para a avaliação, ou apenas para um desses momentos. Considerando-se os objetivos, a temática, as características do grupo e o número de participantes, escolhe-se o espaço em que serão realizadas e define-se o tempo necessário. Sua linguagem também é lúdica, possibilitando o exercício de diferentes funções através de jogos e brincadeiras, em que há exercício, exploração, experimentação, simbolização, cooperação e regras. O objetivo é promover a melhoria das relações interpessoais em contextos onde atividades em grupo são constantes e fundamentais: na escola, na empresa, no comércio e na intervenção psicopedagógica. As atividades são escolhidas considerando-se as características do grupo e as funções a desenvolver. Na Prática Em um trabalho psicopedagógico realizado com um grupo de 8 crianças, alunos do quarto ano do ensino fundamental, que apresentam diferentes dificuldades de aprendizagem, mas cuja queixa principal é a dificuldade de produção textual e artística, além de dificuldades de interação, timidez e problemas familiares, a mediadora fez a opção de utilizar as oficinas psicopedagógicas com artes visuais, jogos dramáticos e teatro, além de música, canto e dança. Considerando a dificuldade de produção de texto e artística, planejou-se atividades de expressão por meio das artes visuais: desenho, pintura e modelagem, com a produção, posterior, de textos sobre as obras e as experiências vivenciadas; os jogos dramáticos e o teatro foram escolhidos em função das dificuldades de interação, timidez e problemas familiares que poderiam se expressar por meio desta linguagem; e, finalmente a música, o canto e a dança, para expressão de sentimentos e pensamentos. Finalizando Diferentes linguagens podem ser utilizadas nas oficinas psicopedagógicas como recursos para o trabalho psicopedagógico: A literatura se configura em um rico recurso para o seu desenvolvimento, trazendo infinitas possibilidades: histórias, contos, contos de fadas, mitos, lendas, fábulas, poesias e jogos de linguagens, utilizadas para sensibilização, para o desenvolvimento, para o fechamento ou, ainda, como disparador. A ludicidade está presente nas atividades de linguagem visual, linguagem teatral, linguagem musical e movimento, dança, bem como nas dinâmicas de grupo. O sujeito brinca e joga com diferentes materiais criando. Durante o processo de criação desenha, pinta, cola, dobra, modela, canta, dança, representa, planeja, constrói, desconstrói, refaz, desfaz, imagina, dramatiza, imita, desafia, improvisa, arrisca, experimenta, descobre, explora, aprende e se desenvolve, supera suas dificuldades e vai além de suas possibilidades. Referências ALLESSANDRINI, C. D. Oficina criativa e psicopedagogia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. DELALANDE, F. Le son des musiques, entre technologie et esthétique, Paris: Ina/Buchet-Chastel, 2001. REVERBEL, O. Oficina de teatro. Porto Alegre: Kuarup, 1993. CUNHA, S. R. V. Cor, som e movimento: a expressão plástica, musical e dramática no cotidiano da criança. Porto Alegre: Mediação, 2004. OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS - PROFª TÂNIA MARA GRASSI - AULA 05 Plano de Ensino Esta aula objetiva proporcionar aos alunos conhecimentos sobre as Oficinas Psicopedagógicas como recurso de avaliação e intervenção psicopedagógica clínica e institucional. Tem também, como objetivos levar o aluno a: compreender o caráter preventivo e terapêutico das Oficinas Psicopedagógicas; Conhecer como se caracteriza o trabalho específico desenvolvido no contexto psicopedagógico; Compreender que o trabalho psicopedagógico desenvolvido nas Oficinas requer planejamento criterioso e mediação, que possibilita aprendizagem e desenvolvimento, Estabelecimento de um vínculo positivo com a aprendizagem e a superação das dificuldades de aprendizagem; conhecer as especificidades do trabalho em grupo e individual na avaliação e na intervenção psicopedagógica comas Oficinas Psicopedagógicas. Conversa Inicial O trabalho psicopedagógico com Oficinas se configura em uma prática que possibilita a aprendizagem e o desenvolvimento integral de sujeitos numa perspectiva preventiva e terapêutica. Considerar o caráter preventivo e terapêutico do trabalho psicopedagógico significa compreender a responsabilidade que temos ao fazer uma avaliação diagnóstica e organizar, encaminhar e implementar um processo de intervenção. As oficinas psicopedagógicas são instrumentos que podem ser utilizados nos processos de avaliação e intervenção psicopedagógica clínica e institucional, principalmente em função de seu caráter lúdico, que oferece infinitas possibilidades, tanto para crianças, quanto para adolescentes e adultos. A diversidade de atividades e linguagens que podem compor as Oficinas Psicopedagógicas possibilitam coletar dados, em um processo de avaliação diagnóstica clínica ou institucional, e implementar a intervenção psicopedagógica. Vamos conhecer as oficinas psicopedagógicas enquanto instrumentos de avaliação e intervenção psicopedagógica. Tema 01 – Oficinas psicopedagógicas e avaliação diagnóstica Em um processo de avaliação psicopedagógica clínica ou institucional há uma série de instrumentos que possibilitam a coleta de dados sobre o sujeito ou sobre a instituição. Recebe-se uma queixa e em função dela organiza-se uma investigação, escolhendo os instrumentos que serão utilizados. Essa escolha é norteada por uma linha teórica que fundamenta a prática psicopedagógica. Muitos profissionais têm desenvolvido instrumentos próprios para a avaliação psicopedagógica, cuja utilização tem contribuído para investigar aspectos e funções específicas no processo de aprendizagem e desenvolvimento. Entre estes instrumentos estão as oficinas psicopedagógicas: utilizadas quando o profissional entender que podem contribuir para a investigação, sendo planejadas e organizadas para se obter informações sobre as relações e interações estabelecidas entre os sujeitos num processo grupal, além das funções psicológicas superiores e funções psicomotoras. As oficinas psicopedagógicas: instrumentos de avaliação e intervenção. Tema 02 – O trabalho em grupos durante a avaliação diagnóstica clínica e institucional Embora possam ser realizadas oficinas psicopedagógicas individuais, elas se caracterizam como uma modalidade de trabalho em grupo, mesmo quando as atividades são individualizadas em um processo de avaliação psicopedagógica clínica, embora o sujeito em avaliação seja apenas um, a realização de uma oficina com seu grupo de colegas pode trazer informações importantes sobre ele, suas interações e relações, dificuldades e conflitos presentes nessas relações, como e quando participa, se há ou não envolvimento, cooperação, competição, organização, papéis e funções definidas na realização das tarefas. Na avaliação psicopedagógica institucional, as oficinas com diferentes grupos permitem conhecer a organização sistêmica da instituição, os conflitos presentes, questões e relações que interferem no trabalho até para organizar intervenções posteriores. Observa-se a temática, a dinâmica e o produto. Vamos conhecer o trabalho em grupo nas oficinas psicopedagógicas. Tema 03 – Oficinas psicopedagógicas e intervenção clínica e institucional. A intervenção psicopedagógica clínica ou institucional é um processo em que o profissional atua fazendo a mediação entre o sujeito e o conhecimento, entre o sujeito e a aprendizagem, sendo seu principal objetivo possibilitar o alcance de autonomia e do protagonismo, superando as dificuldades que obstaculizam a aprendizagem. Uma série de recursos podem ser utilizados na intervenção psicopedagógica clínica e/ou institucional, e as oficinas psicopedagógicas são um desses recursos. As oficinas psicopedagógicas de intervenção são realizadas em um processo, composto por várias sessões, durante um tempo previamente determinado, ao término do qual se analisam os resultados e se opta por sua continuidade e mudanças. Os encontros podem ser semanais ou quinzenais, por um ou dois anos. Cada encontro tem a duração de uma hora e trinta minutos a duas horas e engloba uma dinâmica com começo, meio e fim, e que indica sua continuidade. Tema 04 – O atendimento individual e o atendimento em grupo nas oficinas psicopedagógicas de intervenção. Reunir pessoas em um mesmo espaço não significa compor um grupo. Um grupo se constitui nas relações, na compreensão de que cada elemento é parte de um todo. O processo grupal vai se constituindo progressivamente por meio de interações em que os sujeitos vão se conhecendo, descobrindo características comuns e distintas, observando semelhanças e diferenças em relação a gostos, preferências, ideias, valores, concepções, articulando-se de modo a conquistar harmonia e equilíbrio, realizando as tarefas que competem ao grupo, cada um fazendo sua parte, contribuindo para o alcance dos objetivos e respeitando-se mutuamente. Trabalhar em grupo, constituindo-se como tal, não é uma tarefa fácil, exige esforço e transformação, que pode causar dor e resistências, num longo processo, em que se são convidados a pensar e construir o conhecimento em conjunto, buscando executar uma tarefa, mas com mediação. Tema 05 – Acompanhamento do trabalho de intervenção com Oficinas psicopedagógicas O mediador é quem acompanha o processo de intervenção, planejando e organizando as oficinas, definindo os objetivos, selecionando atividades e materiais, dialogando com os familiares e/ou responsáveis pelos sujeitos, dialogando com a escola e com outros profissionais em espaços diversos, desenvolvendo e coordenando as atividades, pesquisando, estudando e desenvolvendo novas estratégias e instrumentos. Ao término de cada encontro é feita uma avaliação das vivências pelo sujeito ou pelo grupo de participantes, em que estes analisam o processo e expressam sentimentos e pensamentos. Neste momento, o mediador pode também avaliar o processo e fazer suas colocações, registrando suas observações. A avaliação do processo acontece a cada sessão e a análise do processo grupal ou do desenvolvimento individual do sujeito, em relação a progressos e mudanças, serve de referencial para novos encaminhamentos e orientações para a escola e familiares. Na Prática O grupo para intervenção com oficinas psicopedagógicas foi formado após a avaliação diagnóstica psicopedagógica. Inicialmente eram apenas 10 crianças, na faixa etária de 9 e 10 anos, todos meninos, alunos do quarto e quinto ano do ensino fundamental, de escolas diferentes. Foram agrupados considerando-se os interesses comuns e necessidades de atendimento psicopedagógico. Os vínculos foram sendo estabelecidos progressivamente, e as oficinas psicopedagógicas foram desenvolvidas semanalmente por um ano. Após dois meses de trabalho foi possível considerá-los como um grupo no qual as tarefas propostas eram realizadas com envolvimento e participação de seus componentes, com respeito, interesse, cada um contribuindo de modo a alcançar os objetivos. As interações feitas com respeito, sendo possível a cada um expressar seus pensamentos e, principalmente, seus sentimentos. A atuação do mediador é essencial neste processo, fazendo as intervenções. Finalizando As Oficinas Psicopedagógicas são instrumentos importantes nos processos de avaliação psicopedagógica clínica e institucional e na intervenção, clínica e institucional. Podem ser desenvolvidas individualmente, mas sua construção teórico-prática aponta para o trabalho em grupos. O grupo não é apenas a reunião de pessoas, e sim, uma organização sistêmica que se constitui nas interações, sendo essencial a intervenção do mediador. Este profissional acompanha todo o processo,seja ele de avaliação ou de intervenção, e atua de modo preventivo e terapêutico. Avalia os progressos, planeja as atividades, define os objetivos, seleciona as dinâmicas e desenvolve as oficinas, reavaliando e planejando adaptações e sua continuidade. Tem como objetivo principal possibilitar vivências que estimulem funções psicológicas superiores, promovam aprendizagem e desenvolvimento, superação de dificuldades, alcance de autonomia e resiliência. Referências GASPARIAN, M. C. C. Psicopedagogia institucional sistêmica. São Paulo: Lemos Editorial, 1997. MIRANDA, S. de. Oficinas de dinâmicas de grupos para empresas, escolas e grupos comunitários. Vol. 1 e 2. São Paulo: Papirus, 1996 e 2000. GRASSI, T. Oficinas psicopedagógicas. Curitiba: Ibpex, 2012. OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS - PROFª TÂNIA MARA GRASSI - AULA 06 Plano de Ensino Tem-se como objetivo apresentar práticas psicopedagógicas desenvolvidas nas oficinas psicopedagógicas de modo a propiciar conhecimentos sobre sua organização, planejamento e desenvolvimento, de acordo com as propostas de Torres, Allessandrini e Grassi. Objetiva-se instrumentalizar o aluno em formação para que tenha conhecimentos que possibilitem realizar o planejamento e o desenvolvimento das oficinas psicopedagógicas para avaliação diagnóstica clínica e institucional, para intervenção clínica e institucional, compreendendo seu caráter preventivo e também, terapêutico; para que selecione as dinâmicas, recursos e materiais, compreendendo a importância do trabalho em grupo, a importância da mediação, da observação da dinâmica, temática e produto, acompanhando o processo de produção e interação grupal, promovendo adaptações e intervenções; compreender a importância de se considerar os sujeitos, seus interesses e necessidades. Conversa Inicial As oficinas psicopedagógicas apresentam-se como recursos importantes para a intervenção psicopedagógica, mas devem ser escolhidas quando, após a avaliação se configurarem em uma alternativa de atendimento pertinente, considerando-se as necessidades, habilidades e dificuldades do sujeito. Geralmente, são utilizadas com outros recursos e instrumentos, representando mais uma possibilidade de atendimento e que por ser em grupo, pode ser indicada após um trabalho individual ter sido implementado. Destaca-se a importância do planejamento das oficinas psicopedagógicas, sugerindo-se um roteiro para sua organização. Relatam-se algumas práticas com oficinas psicopedagógicas que foram desenvolvidas no trabalho psicopedagógico, preventivo e terapêutico, clínico e institucional. O objetivo é possibilitar, aos psicopedagogos em formação um contato mais próximo com as oficinas, compartilhando experiências profissionais como referência. Vamos conhecer o trabalho desenvolvido nas oficinas psicopedagógicas. Tema 01: Planejamento e organização das Oficinas Psicopedagógicas O trabalho psicopedagógico, seja na avaliação ou na intervenção, requer uma organização para atender seus objetivos. Ao se optar pela utilização das oficinas psicopedagógicas no trabalho psicopedagógico é preciso elaborar um planejamento, que vai orientar o encaminhamento das atividades e, escolher uma proposta de trabalho que vai lhe dar estrutura. Planejar nada mais é do que definir um caminho a seguir, o que torna o trabalho organizado e otimiza o tempo. Planejar as oficinas significa organizá-las de modo que se configurem em espaços privilegiados de construção de conhecimentos, expressão de pensamentos e sentimentos, superação de dificuldades e aprendizagem. Sugestão de roteiro: Público; Tema; Objetivo Geral; Objetivos Específicos. Tempo: data, horário e duração. Espaço; Dinâmica: atividades organizadas em três momentos; Materiais; Adaptações; Função do profissional; Conteúdo e funções; Avaliação e continuidade. Tema 02: Oficinas psicopedagógicas de avaliação diagnóstica: exemplos de uma prática Por meio da o oficina para avaliação diagnóstica psicopedagógica é possível conhecer melhor o sujeito, como interage com os colegas e consigo mesmo, como lida com desafios, competição, cooperação, observar comportamentos, a expressão de sentimentos e de pensamentos, como participa de atividades de construção ou produção coletiva, atividades lúdicas, de criação, de imaginação, atividades artísticas, compreender suas dificuldades, conhecer suas habilidades, confirmar e levantar novas hipóteses, fechar um diagnóstico, proceder os encaminhamentos e fazer as orientações para os profissionais da escola e para a família, propondo a intervenção psicopedagógica. Pode ser realizada na escola onde o sujeito que está sendo avaliado estuda, com os colegas de sua turma e/ou com a professora, planejada para se levantar uma informação específica, analisar as relações, observar comportamentos e interações. Tema 03: A intervenção psicopedagógica com Oficinas psicopedagógicas: atuação terapêutica. A intervenção psicopedagógica é o trabalho realizado pelo psicopedagogo no processo de aprendizagem e de desenvolvimento de um sujeito com dificuldades, em que pela interferência planejada e organizada se procura modificar os processos, equacionando as dificuldades e resgatando as possibilidades de aprendizagem. Procura-se compreender o processo de aprendizagem do sujeito, analisando o processo de ensino e aprendizagem a que está submetido no contexto escolar e familiar, bem como os fatores intervenientes, que dificultam esses processos e determinam a não aprendizagem, resgatando as possibilidades de aprendizagem através da intervenção mediada, sendo o vínculo condição essencial para a intervenção. O trabalho em grupo, as interações estabelecidas e a mediação presentes na intervenção possibilitam experiências novas, experimentações que estimulam a criação, a cooperação, desafiam o sujeito a resolver problemas e expressar sentimentos. Vamos conhecer uma oficina para intervenção. Tema 04: Práticas com Oficinas Psicopedagógicas na escola: atuação preventiva. As oficinas psicopedagógicas podem ser utilizadas também no contexto escolar, numa perspectiva preventiva ou formativa. Em sala de aula, com sujeitos de diferentes idades visando estimular o desenvolvimento e a aprendizagem. Com a equipe de profissionais da escola, com o objetivo de melhorar as relações, sensibilizar e propiciar vivências e reflexões sobre aprendizagem, interações e formação continuada, também como atividade de formação inicial para grupos de estudantes, futuros profissionais. É preciso planejar e organizar as oficinas, considerando os participantes, seus interesses e necessidades, os objetivos do trabalho de modo a atuar preventivamente. Os encontros devem ser realizados com o mesmo grupo, semanalmente ou quinzenalmente, por um ano, tempo mínimo para se efetivar um trabalho grupal e preventivo, em que os participantes se relacionem estabelecendo vínculos, em que a mediação ocorra e possibilite aprendizagem. Vamos conhecer um trabalho preventivo com Oficinas Psicopedagógicas. Tema 05: Construções psicopedagógicas com adultos: relatos de uma práxis. A oficina psicopedagógica foi desenvolvida com um grupo de alunos de um curso superior com dificuldades de aprendizagem e interação. O planejamento foi organizado na proposta de Grassi em que diferentes linguagens são utilizadas e as dinâmicas acontecem em três momentos. Grupo composto por 1 homem e 13 mulheres, de 19 a 35 anos do terceiro ano do curso. Foram recepcionados na entrada e com papel colorido organizaram uma cartela de bingo, jogaram, e ao final, restaram dois ganhadores. Para ganhar o prêmio estes deveriam realizar uma atividade com auxílio de um colega que escolheu o castigo. Houve muita risada. Receberam uma folha e material para construir um desenho que retratassesua fisionomia durante a atividade anterior. Apresentaram os desenhos, pendurados num varal, falando sobre a experiência e escolhendo uma palavra que a sintetizasse. Foi possível constatar lideranças negativas, dificuldades de interação e agressividade na escolha dos castigos. Vamos observar uma prática com oficinas psicopedagógicas para adultos. Na Prática Desenvolver oficinas psicopedagógicas requer considerar os sujeitos e suas necessidades. Relatamos a seguir uma prática com crianças. O grupo tinha 18 crianças de 5 e 6 anos: iniciou-se a Oficina com uma atividade de relaxamento em que as crianças foram convidadas a caminhar pela sala, ao som de músicas instrumentais: caminhar rapidamente, lentamente, em um pé só, com os pés afastados, com os pés bem juntinhos, pé-ante-pé, rastejar, rolar, pular, nadar, imitar o vento, as ondas do mar, um peixe, um tubarão, um golfinho, a chuva, um caranguejo, etc. Foram convidados a ouvir uma história e fazer uma dobradura (a história de Mário marinheiro: carta e envelope, barraca, chapéu, chapéu menor, barco, colete salva vidas). Com os coletes em mãos, foram convidadas a decorar o colete salva vidas; produzir coletivamente a carta de Mário, que aparece na história, contando suas aventuras. Receberam uma dobradura de um peixe para encerrar a oficina. Finalizando Há, na realização das oficinas psicopedagógicas, um movimento de construção de conhecimentos em que se exercitam funções psicológicas superiores e funções psicomotoras, em que se expressam sentimentos e pensamentos, em que há aprendizagem e desenvolvimento, processo em que se estabelecem vínculos, interações, em que há mediação, superação de dificuldades e conquista de autonomia. As vivências permitem que, ludicamente, o sujeito experimente, crie, erre, refaça, construa e desconstrua, escreva, desenhe, leia, escute, observe, cante, dance, expresse, represente, dramatize, simbolize, improvise, imite, desafie, planeje, pinte, imagine, analise, sintetize, mude, tente, invente, desista, retome, aprenda, supere e transcenda limites. O planejamento orienta todo o processo, serve como elemento norteador das práticas que se desenvolvem nas oficinas e devem ser feitos cuidadosamente, considerando os sujeitos, seus interesses e necessidades e suas possibilidades. Referências ALESSANDRINI, C. D. Oficina criativa e psicopedagogia. São Paulo: Casa do psicólogo, 1999. GRASSI, T. M. Oficinas psicopedagógicas: caminhando e construindo saberes. Curitiba: InterSaberes, 2018. _____. Oficinas Psicopedagógicas. Curitiba: Ibpex, 2012.
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