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Análise Crítica da obra: Trilogia Tebana

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1. ÉDIPO REI
''Édipo Rei'' é uma história que mostra claramente a impotência dos homens perante as orientações dos oráculos divinos e o papel do destino como limitador das ações e da sorte humana. Apesar de a personagem Édipo tentar fugir de seu destino, este sutilmente continua controlando sua vida, concretizando a profecia e mostrando a superioridade dos deuses sobre os mortais. Isto pode ser constatado no trecho da obra em que o Coro diz que: ''As leis que os regem [meus atos] habituam nas alturas: elas nasceram no celeste éter, e o Olimpo é seu único pai; nenhum ser mortal as criou; jamais o esquecimento as fará adormecer: um deus poderoso existe nelas, um deus que não envelhece. ''
A partir disso, pode-se apreender que é retratado um conflito envolvendo as determinações divinas (misticismo) e a possibilidade de autonomia do ser humano (racionalidade).
Isso ocorre porque, inicialmente, Édipo tenta estabelecer o controle de suas próprias decisões e ações, não aceitando a possibilidade de ser marionete dos deuses. Isso se expressa desde sua partida de Corinto, quando foge para que a profecia que rege sua vida não se concretize. Dessa forma, ele já está se negando a obedecer às ordens de um ente maior em detrimento de suas próprias convicções. Apesar da causa da fuga ser compreensível (a sua renúncia em algum dia ter de matar o pai e desposar a mãe) ele se mostra um rebelde contra os deuses, considerados detentores da justiça natural. Assim, Édipo se desvincula da justiça dos deuses e começa a seguir seus próprios princípios, buscando uma autonomia.
Em vários diálogos ao longo do livro percebe-se que o que é considerado certo ou errado advém do ponto de vista de Édipo. No início este podia ser considerado como um rebelde, no entanto, com o passar do tempo se torna um tirano, pois agora não era só ele que seguia suas próprias regras, mas sim uma cidade inteira.
Todavia suas convicções não conseguem explicar totalmente muitos fatos e com isso, metaforicamente é revelada mais uma característica da personagem: a cegueira. Nesse ponto, a história nos leva a uma reflexão de que a deliberação do agir humano é suscetível a erros.
A renúncia em ver a realidade, transforma a vida de Édipo numa verdadeira mentira, já que querendo ou não este concretizou a profecia. Quando surge alguma possibilidade de sair de sua ilusão, Édipo a contesta até o fim, de forma agressiva, com descontrole e sem prudência, negando ao máximo aceitar o verdadeiro conhecimento.
Isto pode ser claramente visualizado nos diálogos entre Édipo e Tirésias, momento este que é possível de ser analisado como um conflito entre os dois mundos propostos pelo filósofo Platão: O Mundo Sensível e o Mundo Inteligível. O vidente, mesmo sendo cego fisicamente, representa uma figura que enxerga melhor a realidade e tenta revelar a luz dos reais fatos para Édipo, que, em contra partida, demostra extrema desconfiança por ainda estar acorrentado pelo olhar da sensibilidade.
Durante esse embate de ideias, Édipo age sem ponderações e tenta acabar com o canal de diálogo, ameaçando Tirésias se esse insistisse em continuar a expressar suas ideias. Então Tirésias diz: ''Tu reinas; mas tenho também meu direito, que deves reconhecer o direito de responder-te ponto por ponto em minha vez, e esse direito é incontestavelmente meu. Não é a ti que sirvo, sirvo a Apolo (...)'', nesta fala de Tirésias é exposto que o direito de livre expressão é tido como uma garantia dada pelos deuses, ou seja, um direito natural que deveria prevalecer sobre as imposições criadas pelos governantes.
A ilusão de Édipo só termina quando este busca o autoconhecimento, ou seja, descobre sua verdadeira origem e se depara com a prova incontestável de que matou o próprio pai e se casou com sua mãe. O choque se mostrou tão impactante que Édipo fura os olhos buscando a cegueira, já que ao finalmente conseguir ver a verdadeira realidade, não conseguia suporta-la, pois esta era extremamente dolorosa.
Após renunciar tantas vezes ao conhecimento da verdade, ele se vê obrigado a rever todos os seus valores, normas e leis da tradição. Não suportando tal realidade se torna cego fisicamente, renunciando a tudo que tinha, incluindo o seu poder de governante de Tebas.
2. ÉDIPO EM COLONO
A mudança ocorrida em Édipo no decorrer dos anos em que esteve exilado se reflete desde sua primeira aparição. Suas atitudes ao chegar à nova terra demonstram a forma como os anos passados como um expatriado, mendigo e cego mudaram sua forma de decisão perante as situações que se apresentaram perante ele.
A maneira de agir ao encontrar o novo local que poderia, ou não, lhe oferecer abrigo, mostra a diferença entre a personalidade do personagem enquanto jovem e a de após anos de dura luta pela sobrevivência com uma única aliada, sua filha Antígona.
Nessa obra, Édipo se mostra humilde e prudente quanto à maneira de agir, como um reflexo dos anos que viveu longe das terras que eram seu lar e, portanto, locais onde ele corria riscos que poderiam ser evitados com cautela.
Não devemos deixar de notar a forma como a personagem lida com suas paixões ao reencontrar a filha da qual não tinha notícias há muito tempo e ao saber da guerra pelo poder instaurada por seus dois filhos. Assim como também se torna importante notar a forma como Édipo, ao ser acusado por Creonte, utiliza-se da experiência adquirida para inutilizar as investidas falaciosas e fazer prevalecer à verdade diante dos anciãos.
Utilizando da mesma prudência ele consegue convencer o rei de Atenas, Teseu, primeiro de que era inocente dos crimes que muitos o julgavam irremediavelmente culpado, e, segundo, de que tinha valor para a cidade e que aquele que o estendesse a mão teria o que outros desejavam ter: prosperidade e a calma digna de uma cidade que não fosse afetada pelo infortúnio.
O personagem se vê, inclusive, em uma situação onde tem que julgar se seu filho merece ou não sua ajuda e como isso refletiria em sua antiga pátria. Nesse momento, Édipo enfrenta uma luta interior de valores, que envolvem a sua prudência, adquirida com as experiências vividas, e suas paixões, já que ele guarda intenso rancor para com os dois filhos que o abandonaram e que preferiram o poder. Essa discussão o leva à decisão de que ambos os filhos não merecem sua ajuda e que ambos irão perecer como consequência de suas escolhas.
Antígona tenta alertar seu irmão para a escolha que ele tem entre se deixar levar por sua moral e escolher seguir um caminho diferente ao que ele acredita ser correto, entretanto o mesmo é sufocado pela decisão que tomou. Portanto, percebe-se que a questão da decidibilidade é um tema bem marcante durante a narrativa.
A base que se segue no livro após o diálogo entre Polinices e Édipo é a de redenção e gratidão pela ajuda que a personagem recebeu de Teseu ao ter suas filhas sequestradas e ao ser protegido pelo mesmo. Dessa forma, percebe-se que Édipo deixa para trás definitivamente o que passou em Tebas e se firma na ideia de um novo patriotismo já que foi acolhido pela nova terra e antevê seu momento de partida, deixando o rei responsável pela proteção de seu túmulo e de suas duas filhas.
Pode-se dizer que as ponderações em torna da prudência apresentada por Sófocles nesta obra, foram utilizadas em seguida por Aristóteles quanto à questão da ética e a questão das experiências humanas mudando a forma do agir. Essa perspectiva se baseia na maturidade das relações cotidianas, a maneira como as experiências externas influenciam a capacidade de tomar decisões que melhor atendem a situação, isto é, a “retenção” das paixões para alcançar um olhar racional.
Por fim, ao trazer a questão do exílio para os dias atuais, percebemos que só há uma alternativa que seja compatível: a extradição. Essencialmente, no ordenamento jurídico brasileiro, esta seria utilizada como forma de punição, mas que não poderia ser aplicada aos cidadãos natos.
3. ANTÍGONA
A obra literária “Antígona” expõe em sua temática um conflito de pensamento existente entre os gregos naAntiguidade: estes reconheciam a necessidade das leis criadas pelos homens para convivência na pólis, mas, por influência religiosa, também tinham a crença de estarem submetidos aos preceitos impostos pelas divindades.
Durante a narrativa, essa problemática se concretiza pelo confronto entre o posicionamento político do rei Creonte, que decreta uma lei proibindo o sepultamento de Polinices (acusado de trair a cidade de Tebas), e os ideais morais de Antígona, que defende um preceito religioso segundo o qual haveria a obrigação de prestar homenagem fúnebre aos parentes mortos.
Ao retratar uma situação em que a lei da cidade e a lei dos deuses divergem, a obra desenvolve uma discussão sobre qual das leis teria maior valor e deveria ser obedecida. A partir desse fato, podemos estabelecer uma reflexão inicial acerca dos possíveis conflitos entre os chamados Direito Natural e Direito Positivo.
Na história, Antígona decide infringir a lei estatal para cumprir a “lei divina”, justificando que esta seria universal e imutável, transcendendo assim o poder passageiro de um soberano. Tal atitude demonstra a crença em uma lei mais antiga, não escrita, transmitida pela família e com origem na moral, que traria em si um ideal de justiça natural.
Essas “leis divinas” corresponderiam aos chamados Direitos Naturais, que atualmente persistem sob a forma dos direitos humanos fundamentais. Ao analisar o comportamento de Antígona em defesa da existência de um direito natural de respeito aos mortos, podemos dizer que ela faz uma referência a um valor ético que na nossa atual Constituição Federal aparece como sendo o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana.
Torna-se importante destacar que nem sempre as leis criadas em uma sociedade são condizentes com a ética ou a moralidade dos indivíduos que a compõe. Diante dessas situações, cria-se um tormento interior nos indivíduos, que ficam divididos entre serem submissos às normas e viverem com a culpa de não seguir seus valores éticos ou terem coragem de enfrentar leis arbitrarias, como fez Antígona, para cumprir com suas obrigações morais.
Tal dilema se mostrou presente em diversos episódios da história mundial. Como exemplo, podemos citar o período do nazismo, em que nem todos os alemães concordavam com as leis estabelecidas na época, que impunham um tratamento cruel e desumano aos judeus, e por isso, alguns contrariavam essas leis ao ajudarem famílias judias a se esconderem ou fugirem do país. Outro exemplo refere-se aos tempos de ditadura que ocorreram no Brasil: as famílias daqueles que foram presos e desapareceram em decorrência das leis arbitrarias do período citado, exigem do governo brasileiro o direito de esclarecimento sobre os fatos, para que possam realizar um sepultamento digno dos parentes.
Após estabelecer reflexões sobre a personagem Antígona, devemos também fazer uma análise sobre o personagem Creonte para entender as questões que envolvem seu comportamento.
Percebemos que Creonte seria representante dos Direitos Positivos, pois é defensor extremo da obediência das leis que emanam de sua autoridade. Ao ter conhecimento sobre o ato de desobediência a sua ordem, Creonte é extremo em sua decisão de punir Antígona, sem se importar com os argumentos desenvolvidos pela personagem, que o alertava sobre a injustiça daquela lei.
Se fossemos analisar essa situação a partir das ideias do filosofo Platão, poderíamos dizer que a atitude de Creonte não levaria a uma justiça ideal, pois segundo Platão esta tem como um dos requisitos ser exercida por homens virtuosos, ou seja, por aqueles que têm temperança, bom-senso e agem querendo o melhor para a sua sociedade. A partir dessas ideias, Creonte não seria considerado virtuoso, uma vez que agiu de forma autoritária ao decretar uma lei motivada pelas paixões (sentimento de vingança) e não visando o bem comum da sociedade, além de suas decisões demostrarem um desequilíbrio de ponderações.
Outra reflexão que poderia ser feita seria em considerar a lei de Creonte como arbitrária por não possuir legitimidade.
Na narrativa, mostra-se um sentimento de indignação perante tal lei estatal, uma vez que esta não estaria em sintonia com o ideal de justiça desejado pelos tebanos, e dessa forma outros personagens, como Hêmon, advertem o rei sobre a concordância da população com a atitude de Antígona. Hêmon tenta convencer Creonte a desistir da lei, argumentando que o não sepultamento seria ilegítimo, pois estava em discordância com a vontade dos tebanos, que desejavam ver aplicado o direito divino.
Dessa forma, a obra abre um espaço também para uma discussão sobre a origem da legitimidade do poder do soberano e quais seriam seus limites de exercício.
Por fim, ao analisarmos o desfecho da obra, percebemos que tanto Antígona quanto Creonte foram castigados por serem radicais em relação as suas atitudes, sem chegar a realizar um acordo.
Desse modo, podemos dizer que uma das conclusões possíveis de serem elaboradas seria a de que talvez a obra pretende-se mostrar a necessidade de se buscar uma coexistência harmônica entre lei da cidade e lei divina (Direito Positivo e Direito Natural), com a finalidade de encontrar um equilíbrio das condutas. Portanto, se utilizarmos as ideias de Aristóteles, podemos concluir que a busca por se fazer justiça estaria centrada no estabelecimento de um meio-termo, ou seja, na prudência: elemento que seria fundamental para o bom agir.
REFERÊNCIA
SÓFOCLES. A Trilogia Tebana: Édipo Rei, Édipo em Colono e Antí¬gona. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

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