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artigo - O ESPACO DO ESTAGIO NA FORMACAO DOCENTE

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473 
 
 
O ESPAÇO DO ESTÁGIO NA FORMAÇÃO DOCENTE 
 
 Victor Hugo Davanço 
 
RESUMO 
 
O objetivo deste trabalho é analisar a importância do estágio na formação docente, tendo 
em vista a grande distância ou dicotomia existente entre o mundo teórico e o mundo prático, 
abordando as discussões a cerca do campo do estágio na formação docente do pedagogo. 
Para isso, delimitará o conceito de espaço a ser utilizado e fará um breve resgate da 
constituição dos cursos de formação docente influenciados pelas mudanças políticas, 
sociais e econômicas ocorridas em fins do século XX e início do século XXI. Por fim, 
apresentará algumas considerações sobre a organização da escola na atualidade. Como 
referencial trará documentos de base legal apresentando suas contradições e a importância 
do estágio assim como a necessária troca de idéias entre teoria e prática. 
Palavras - Chave: Estágio, docência, teoria e prática 
 
1. INTRODUÇÃO: O ESPAÇO DE FORMAÇÃO 
 
 Frente às indagações que sempre surgem quando se trata do processo de 
formação de docentes, sejam estes em formação inicial (estagiários) ou aqueles que 
já atuam e praticam a formação continuada, pode-se verificar que as discussões em 
torno dos espaços de formação docente fazem parte, na atualidade, de um grande 
esforço nacional pela melhoria da qualidade na educação ofertada à população. 
Este tem sido o desafio de educadores que se deparam com uma sociedade em 
constante mutação em que a cada dia novas tecnologias são incorporadas ao 
ambiente escolar. 
Ao tratar do estudo dos espaços de formação docente se faz necessário a 
priori delinear a concepção de espaço que será a base do estudo. A palavra espaço 
pode adquirir variadas formas de interpretação, ainda mais quando a relacionamos 
com o campo das ciências humanas e sociais. Segundo o dicionário Aurélio, espaço 
pode ser definido como um “lugar mais ou menos definido que pode ser ocupado por 
algo ou alguém, ou ser usado para determinado fim; uma extensão contínua e 
indefinida na qual as coisas existem e se movem”. 
Sendo assim, o espaço de formação docente é também esse lugar, mais ou 
menos definidos, onde as coisas (nesse caso pessoas e conhecimentos) existem e 
se movem. Dessa forma, especificamente, o espaço de formação docente pode ser 
entendido como um lugar onde se organizam e se instalam teoria e prática, marcado 
474 
 
por diferenças sociais e onde os sujeitos do processo desenvolvem seus habitus, 
por meio das interações de seus sujeitos. 
O sociólogo francês, Pierre Félix Bourdieu argumenta que o “espaço” é um 
local de relações dialéticas, onde existem estruturas no mundo social que podem 
coagir a ação dos indivíduos, e dessa forma os indivíduos incorporam a estrutura 
social na qual estão inseridos, legitimando-as e por fim reproduzindo-as. Tudo isso 
influenciado por quatro conceitos básicos: capital cultural, o capital econômico, 
capital social e o capital simbólico, que juntos criam assim o habitus. 
 
 Capital Cultural: são os saberes e conhecimentos adquiridos e que são 
reconhecidos por títulos, diplomas, que se legitimam nas relações sociais; 
 Capital Econômico: são as relações de renda, salários, bens acumulados; 
 Capital Social: relações com os demais e que podem ser capitalizadas, 
podem gerar frutos; 
 Capital simbólico: reconhecimento, honra, prestígio. 
 
Para Bourdieu a sociedade ocidental, é extremamente hierarquizada e 
dominada por essas forças simbólicas de dominação que ultrapassam o próprio 
indivíduo. Segundo ele, há um poder simbólico de representações que se articulam 
na tentativa de perpetuação do status quo. 
Essa hierarquização da sociedade pode ser sentida pelo docente em 
formação logo no instante em que a criança chega à escola carregando em si um 
capital cultural representativo do meio social na qual ela se encontra inserida e que 
pode e deve ser levado em consideração. Porém a estruturação escolar revela a 
separação em classes sociais, e a classe dominante acaba operando mecanismos 
de sujeição sobre a classe dominada impondo seu acervo cultural como superior. 
Isso pode ser verificado na escolha dos conhecimentos escolares, nas músicas 
consideradas de alto valor cultural ou ainda na valorização dos objetos de consumo 
necessários à vida, sendo esses os representativos, quase sempre, das classes 
dominantes. E por não terem acesso ao capital cultural hegemônico, as classes mais 
pobres são justamente as que mais se excluem desse meio e assim a igualdade não 
se instala efetivamente. 
Dessa forma a articulação dos docentes em formação com a rotina escolar 
seja com pais, alunos, professores, funcionários e demais agentes escolares, seja 
475 
 
dentro dos espaços institucionalmente constituídos da escola como a sala de aula, o 
pátio, a biblioteca, a sala dos professores, entre outros, observando o cotidiano 
escolar como algo em constante transformação, permite tanto a incorporação dos 
conhecimentos teóricos dos bancos universitários quanto a vivência com a prática 
escolar diária, compreendendo as particularidades de um espaço altamente 
importante para uma sociedade permeada por contradições e desafios. 
 
2. PRIMEIRAS PALAVRAS ACERCA DA NOSSA EDUCAÇÃO 
 
 A problemática educacional brasileira e seus vários espaços de formação 
docente vêm, ao longo dos tempos, sendo objeto de estudo de inúmeros 
pesquisadores. Isso nos faz refletir sobre a importância atribuída à educação 
enquanto possibilidade de mudança em uma sociedade que vive em constante 
transformação. 
Se a educação, entendida aqui como todo processo de construção e 
disseminação de conhecimentos, é também, vislumbrada como uma das 
possibilidades de transformação da sociedade. Portanto, seu papel é muito maior 
que meramente transmitir aos alunos os conhecimentos que foram construídos 
historicamente pela humanidade, é, acima de tudo, proporcionar que educandos e 
educadores desenvolvam seus conhecimentos em colaboração, onde ambos 
possam aprender e ensinar. Inserida em um contexto que a condiciona, podemos 
dizer que a educação escolar modifica e é modificada historicamente por meio das 
relações culturais, políticas, econômicas, sociais etc., da sociedade na qual a 
mesma se encontra instalada, criando assim um espaço único na sociedade que 
repercute tudo aquilo que nela acontece. 
Como diz Canário (2006), em relação à educação, temos um problema 
significativo, que se apresenta no século XX, que é o de conferir à escola a 
exclusividade no tratamento das questões relacionadas aos conhecimentos 
científicos e não considerá-la como uma das várias modalidades possíveis. Dessa 
forma, no século XX, acreditou-se que o meio pelo qual se aprendia estava 
predominantemente relacionado ao ambiente escolar e assim, “a educação tornou-
se refém da forma escolar” (CANÁRIO, 2006, p. 15), pré-estabelecendo a validade 
dos saberes desenvolvidos na escola em detrimento dos demais. Essa exclusividade 
da escola é colocada em xeque por alguns autores, como comenta o próprio Canário 
476 
 
(2006, p. 44), com a possibilidade de uma sociedade sem escolas, sugerida por Ivan 
Illich. 
Assim, inserida em um contexto que absolutiza seus poderes, a educação, 
sobretudo a escolar, ao mesmo tempo em que proporciona ao aluno conhecer os 
saberes sistematizados e desenvolvidos ao longo do percurso histórico humano, 
pode contribuir para modificar as relações atuais da sociedade, sendo estas as 
relações deste aluno com seus saberes e também em suas relações com os demais. 
Dessa maneira, as relações da sociedade em determinada época histórica 
conferem à educação objetivos específicos, determinando o tipo de educação que 
teremos. Pensandoassim, a estrutura curricular escolar pode ser entendida sobre 
duas vertentes: como um método de manutenção da sociedade para atender às 
necessidades dela mesma, ou seja, estrutura-se a educação com o objetivo de 
manutenção da sociedade atual, manutenção das estruturas e, sobretudo, a 
manutenção do poder. Por outro lado, tem-se o objetivo de, por meio da educação, 
aprimorar e modificar as estruturas encontradas no presente, vislumbrando uma 
possibilidade de futuro diferente. 
Pensar na mudança estrutural só é possível com uma mudança na concepção 
educacional atual, pois ambas estão diretamente relacionadas. É preciso conceber e 
pensar em outros meios e caminhos de aquisição e produção de conhecimento, para 
que a relação ensino-aprendizagem não fique presa a uma única instância 
formadora. Como disse Canário (2006) precisamos deixar de ser reféns de uma 
única possibilidade de formação, pois, como afirma Moraes: 
A mente humana, ou seja, o equipamento cognitivo do indivíduo, é 
influenciada pela cultura, pela coletividade que fornece a língua, pelos 
sistemas de classificação, pelos conceitos, pelas analogias, pelas metáforas 
e pelas imagens. Portanto, qualquer alteração nas técnicas de 
armazenamento, na transformação e na transmissão das representações da 
informação e do saber provoca mudanças no meio ecológico no qual as 
representações se propagam, provocando mudanças culturais e mudanças 
de saber. (MORAES, 1997, p. 124). 
As mudanças culturais e as mudanças de saber, sobretudo relacionadas com 
as novas tecnologias, resultam em novas relações humanas e até mesmo em 
transformações na organização familiar, social, econômica e educacional. Morin 
(2003) reforça as palavras de Moraes (1997) dizendo que a cultura está presente em 
nós por meio de normas, leis, da linguagem, ou seja, a influência acontece 
477 
 
sutilmente e precisa ser entendida e percebida, sendo que qualquer modificação, por 
mais relevante que seja, acarreta modificações em nossas vidas. 
Dessa forma, podemos associar também que a escolha de determinados 
conteúdos, métodos e procedimentos no meio escolar atendem aos objetivos que se 
tem com a educação. E neste momento, a preocupação com os conteúdos em 
estudo, deve refletir também a preocupação com o futuro que se espera para esses 
alunos, um futuro no qual será primordial o pensamento coletivo para problemas 
coletivos, para que nossos alunos possam desenvolver plenamente seus saberes. 
Isso porque a estrutura social na qual estamos vivendo permite e, mais que 
isso, obriga-nos a pensar as relações sociais em contexto global. Como afirma Morin 
(2003), estamos vivendo um período de globalização, que se instala num processo 
mais amplo de planetarização, ou seja, o processo de globalização, sobretudo no 
final do século XX. Este processo abriu as portas das economias mundiais que 
passaram a operar fora dos marcos nacionais e a integração de todo o globo 
terrestre. Sendo assim, há atualmente a necessidade de formar um educando que 
consiga pensar o local atrelado ao planetário e às necessidades atuais, 
considerando todos os seus paradoxos e contradições. 
É nesse contexto que o estágio docente enquanto espaço de formação 
profissional nos ajuda a pensar novos caminhos para a educação, ou seja, uma 
educação que esteja atenta aos valores universais e à diversidade cultural e social. 
Nesse aspecto, Paulo Freire chama atenção para duas situações, a necessidade de 
um novo paradigma educacional voltado ao ser humano que atua em âmbito global 
e uma nova postura dos profissionais da educação a fim de que realmente 
modifiquem o quadro educacional de sua época. 
 
3. SOCIEDADE EM TRANSIÇÃO: ESCOLA EM MUTAÇÃO 
 
Discutir sobre a nossa educação e a forma de organização do estágio atual, 
exige compreender as formas de estruturação dos cursos formadores no contexto da 
sociedade capitalista do final do século XX e inicio do século XIX. 
 No período dado, a sociedade passa por inúmeras e intensas 
transformações, que alteram de forma significativa a sua estruturação. Podemos 
destacar, dentre elas, as mudanças ocorridas e que continuam a ocorrer nos 
478 
 
campos político, econômico e social, frutos de uma sociedade altamente capitalista e 
neoliberal, e que fortemente influenciam o desenvolvimento educacional. 
 Essas mudanças tiveram terreno para se propagarem após a superação da 
tentativa de implantação de um modelo de sociedade socialista. A partir do momento 
em que o mundo capitalista se defronta com uma realidade ímpar, a inexistência de 
um modelo oposicionista que tivesse força para refutá-lo, cria-se condições para sua 
total disseminação pelo mundo. 
 O avanço deste modelo econômico, social e político (capitalismo) se deu de 
maneira acelerada, obrigando o mundo todo a se reorganizar rapidamente. Foram 
os tempos da globalização de empresas, das privatizações, das terceirizações 
“motivadas palas necessidades de alcançar níveis de qualidade e produtividade 
superiores” (ROSAR, 1999, p.86). Ou seja, foram e ainda são tempos em que as 
diversas economias nacionais se articulam e se desenvolvem juntas, buscando 
sempre um estado mínimo e lucro máximo, carregadas muito mais de aspectos 
políticos e econômicos, que social. 
 Tendo por base as décadas de 1980 e 1990, analisamos no Brasil um 
acelerado processo de transformação da sociedade nacional tanto nos aspectos 
relacionados ao governo quanto da (re) organização da vida social. 
A década de 1980 marca-se pela insatisfação popular frente ao Regime Militar 
opressor que se instalou desde 1964 e que sufocou os direitos dos cidadãos. Em 
consonância há a luta pela redemocratização do país, que se desenvolve 
lentamente com manifestações públicas como a Passeata das Diretas Já 
culminando com as eleições diretas em 1985 e a retomada do Estado Democrático. 
Com as eleições Diretas, forma-se a Assembléia Constituinte tendo o dever 
de elaborar a nova Constituição que irá reger o país nessa nova fase em que se 
encontra. Assim em 1988 é promulgada a Constituição Federal, conhecida como a 
Constituição Cidadã, pois devolve aos cidadãos vários benefícios rechaçados pela 
Ditadura Militar e dentre estes, o direito de acesso à educação que passa a ser 
entendido com direito de todo cidadão e dever do estado. 
Já na década de 90 quando todos imaginavam que o processo político estava 
estabilizado, ocorre à cassação do Presidente Collor por inúmeras acusações de 
irregularidades, mas, antes deste fim trágico o Presidente já havia lançado a 
sociedade brasileira nos braços da globalização, incluindo-se a educação que passa 
479 
 
a atender e responder por obrigações juntos aos organismos internacionais 
financiadores como a UNESCO e o FMI. 
Várias foram às reuniões, encontros e eventos internacionais que passaram a 
debater, elaborar e encaminhar propostas acerca da direção que a escola deveria 
assumir com vistas a atender as exigências da nova sociedade que se formava, 
dentre elas podemos destacar a Declaração Mundial sobre Educação para Todos 
(Conferência de Jomtien 1990) e a V Reunião do Comitê Regional 
Intergovernamental do Projeto Principal de Educação para a América Latina e 
Caribe (PROMEDLAC V 1993), que definiram muitas das bases educacionais para 
os países subdesenvolvidos. 
 Em meio a isso, temos no Brasil a aprovação da Lei nº 9394/96, a Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) que adota várias destas 
recomendações como a obrigação do estado oferecer o acesso ao ensino básico, e 
a abertura de espaço para instituições privadas. 
 Assim, no campo educacional, essas mudanças refletiram na constituição de 
todoo processo, e as transformações anteriormente citadas (conhecidas como 
neoliberalismo) começam a fazer parte da realidade educacional mundial, com a 
utilização de novos elementos tecnológicos aliado aos discursos de organismos 
internacionais que passam a politizar a educação, apregoando-a atribuições 
voltadas a atender as necessidades de estruturação do mercado. 
A política educacional concebida e implementada durante o atual governo 
pode ser avaliada como sendo adequada aos critérios definidos pelos 
organismos financiadores da educação em toda América Latina (Banco 
Mundial, BID, UNESCO). (ROSAR, 1999, p.92).” 
 Podemos observar esses discursos, no contexto nacional, em documentos 
oficiais, decretos e leis, dentre eles, destacam-se a Constituição Federal (CF) de 
1988, o Plano Decenal de Educação (PCNs) de 1993 e a Leis de Diretrizes e Bases 
da Educação Nacional (LDBEN ou LDB) de 1996. Forjadas em meio a esse ciclo de 
transformações mundiais, as mesmas trazem em seu interior, uma forte 
preocupação com a capacitação de profissionais para o mercado de trabalho. 
 A LDB de 1996 trouxe alguns avanços, assim como deixou alguns pontos 
pouco esclarecidos, por exemplo, ao mesmo tempo que exigiu nos artigos 62 e 63 a 
graduação em universidades ou em institutos de nível superior para professores da 
educação infantil básica em substituição aos cursos de formação de docentes em 
480 
 
nível médio, deixou a ressalva no mesmo artigo 62 de admitir profissionais com 
formação mínima nos mesmos cursos de formação sem porém esclarecer que isso 
se recomendaria apenas a locais onde as universidades ou os Institutos Superiores 
de Educação inexistissem (ARANHA, 2006). 
 Outro ponto que pode ser destacado e que vem confirmar a questão dos 
valores neoliberais incutidos nos cursos de formação docente, reiterando o que foi 
anteriormente citado, é encontrado na CF de 1988 onde deve existir como diz 
Aranha: 
A integração das ações do poder público que conduzam à 
erradicação do analfabetismo, universalização do atendimento 
escolar, melhoria da qualidade do ensino, formação para o 
trabalho, promoção humanística, científica e tecnológica do 
país. (ARANHA, 2006, p.324). 
 Verificamos então que essas ações do poder público servem de instrumentos 
para a manutenção da ordem econômica que prevê no fim do processo a formação 
para o mercado de trabalho. 
Existem também as Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia, 
editado em 2006 e que trouxeram grandes mudanças ao curso de formação, 
entretanto mais uma vez colocando-o a serviço da estrutura de mercado. Essas 
diretrizes servem de referência para a elaboração dos cursos de formação em todo o 
território nacional e entre outras orientações, busca adaptar-se as demandas de 
mercado e dar ênfase na formação geral e que tornam, com certeza, a estrutura do 
curso mais flexível e ao mesmo tempo mais dependente da economia. 
Assim sendo, como aborda Arce (2001), cria-se um problema dentro do qual a 
forte influência dos postulados neoliberais e pós-modernos nas políticas 
educacionais e de formação docente contribuem para aumentar a preocupação não 
com o desenvolvimento de uma educação crítica e sim com que o educando se 
adeque as necessidades que a sociedade e a economia capitalista lhes impõem. 
Essa formação orientada tende a disciplinar todos, professores e alunos, de 
que o correto está dado e cabe à eles adaptarem-se ao modelo a ser seguido, mais 
cômodo e fácil é claro, pois a discussão crítica é muito mais trabalhosa e exige de 
todos um compromisso que parece estar distante da realidade atual. Ainda mais 
quando se fala em espaço de formação docente, a abertura ao novo está sempre 
distante da realidade. 
481 
 
Essa adaptação ao mercado pode ser constatada tanto nos cursos de 
formação técnica ofertados concomitantemente com o ensino médio, que preparam 
o estudante para o ingresso ao mercado de trabalho, quanto na utilização 
indiscriminada de meios tecnológicos na preparação e fundamentação de aulas, pois 
os mesmos criam a armadilha, no mesmo instante que trazem infinitas contribuições 
aos estudos, não devem de maneira alguma se tornar únicos e muito menos 
substitutos de docentes. 
Diante desse quadro, há que se lutar por uma formação que possa favorecer 
o campo teórico aliado ao prático sendo o estágio um importante instrumento para 
conhecer a realidade escolar e ao mesmo tempo preparar o docente para 
desempenhar suas funções. Mas qual importância do estágio na formação docente? 
Como o mesmo é visto pela comunidade escolar e pelas universidades? 
 
4. AS POSSIBILIDADES DO ESTÁGIO DOCENTE 
 
O estágio apresenta um papel fundamental na formação docente, pois é por 
meio do mesmo que começa a ser construída a sua identidade profissional. É a 
partir do estágio que se estabelece os primeiros contatos com o campo de atuação 
podendo este encontrar sua identidade, conhecer o campo de trabalho que lhe atrai, 
para que com esta identidade pré-construída possa ao término do curso procurar se 
inserir com maior facilidade na escola, de forma que não fique sem um norte ao se 
deparar com o mercado de trabalho e suas contradições. 
 O exercício da atividade docente requer preparo. Preparo que não se esgota 
nos cursos de formação, mas para o qual o estágio docente pode ter uma 
contribuição específica enquanto conhecimento sistemático da realidade do ensino-
aprendizagem na sociedade historicamente situada, enquanto possibilidade de 
antever a realidade que se quer (estabelecimento de finalidades, direção de 
sentido), e enquanto identificação e criação das condições técnico-instrumentais 
propiciadoras da efetivação da realidade que se quer. Enfim, enquanto formação 
teórica (onde a unidade teoria e pratica é fundamental) para a práxis transformadora, 
Pimenta nos diz: 
O processo educativo é mais amplo, complexo e inclui situações especificas 
de treino, mas não pode ser reduzido a este. Parece-nos que, em um certo 
nível, é possível falar em domínio de determinadas técnicas instrumentos e 
482 
 
recursos para o desenvolvimento de determinadas habilidades em situação. 
Portanto, a habilidade que o professor deve desenvolver é saber lançar mão 
adequadamente das técnicas conforme as diversas e diferentes situações 
em que o ensino ocorre, o que necessariamente implica a criação de novas 
técnicas (PIMENTA, 2002, p. 38). 
Ou seja, aliar situações de treino com desenvolvimento de novas técnicas, 
sempre balizadas por uma formação teórica sólida com objetivo de construir a 
identidade profissional. 
Entretanto, é valido ressaltar, a existência de estágios que não cumprem seu 
papel, em que há falhas tanto por parte do professor supervisor, quanto do conteúdo 
das aulas presenciadas, onde muitas vezes não acontece um acompanhamento do 
professor para oferecer as possíveis orientações. Segundo Gatti (2000), os controles 
dos estágios muitas vezes se dão por meio de relatórios bimestrais ou até mesmo 
semestrais, revelando certa negligência por parte dos professores supervisores. 
Outro fator que causa a ineficiência do estágio em seu objetivo já citado é a 
falta de tempo dos alunos para cumprirem as horas exigidas. A maioria dos alunos 
optam por estudar no período noturno, visto que necessitam trabalhar o dia todo, e 
desta maneira o estágio é realizado durante o período de serviço. Nesta perspectiva, 
Gatti (2000) argumenta que justamente uma das características dos cursos de 
formação é o aumento crescente de seu funcionamento em período noturno onde 
sem a compreensão de patrões se inviabiliza a execução do estágio de formação. 
Porém, o estágioprecisa ser visto de forma mais valorizada, pois ele é uma 
disciplina com uma importância especial, ele é pesquisa, é conhecimento, por meio 
dele que conhecemos um mundo amplo na área pedagógica, que descobrimos 
funções atribuídas aos docentes nos lugares mais inesperados, bem como a 
importância e as multitarefas que o pedagogo/docente exerce nestes lugares. O 
estágio proporciona adquirir os conhecimentos transmitidos pelas suas teorias 
vivenciando a prática, é um processo de perfeita combinação entre teoria e prática, é 
um espaço de desenvolvimento da ação pedagógica sendo que Pimenta diz: 
... denominamos ação pedagógica as atividades que os professores 
realizam no coletivo escolar supondo o desenvolvimento de certas 
atividades materiais orientadas e estruturadas. Tais atividades têm por 
finalidade a efetivação do ensino e da aprendizagem por parte de 
professores e alunos.(PIMENTA,2008, p.42). 
 Nesse processo, o papel das teorias é iluminar e oferecer instrumentos e 
esquemas para a análise e investigação que permitam questionar as práticas 
483 
 
institucionalizadas e as ações dos sujeitos e, ao mesmo tempo, colocar elas próprias 
em questionamento, uma vez que as teorias são explicações sempre provisórias da 
realidade. 
 É também por meio do mesmo processo que é possível observar que a ação 
pedagógica esta inserida não só nas instituições escolares como é do pensamento 
de muitos, mas em diversos locais, tais como, ambientes hospitalares, empresariais, 
casas de detenção, em todos os lugares onde a educação e o desejo de 
humanização estejam presentes. 
 A atuação pedagógica dentro dos hospitais acontece de forma muito valiosa 
e significativa. É através deste profissional que as crianças doentes tem um amparo 
para não se atrasarem com o conteúdo escolar, crianças que passam meses e até 
mesmo anos dentro de hospitais em tratamento conseguem por intermédio da ação 
pedagógica desenvolver seus estudos, ter a educação presente em suas vidas, 
mesmo distantes das salas de aula. Esta ação hospitalar está além do ensinar 
conteúdos escolares, ela é uma forma de suprir o sofrimento e a angústia dessas 
crianças que passam tanto tempo de suas vidas confinadas em um quarto de 
hospital, sem um contato com a sociedade e com o mundo. Afinal, neste ato 
pedagógico também esta presente a afetividade, que é algo de essencial 
importância no processo de desenvolvimento da criança. 
 O estágio é então uma porta que se abre ao estudante, para que o mesmo 
verifique o que realmente acontece no âmbito educacional nos mais variados 
espaços sociais escolares e não-escolares, sendo indispensável para uma efetiva 
atuação do profissional, um conhecimento das práticas que podem ser empregadas, 
assim como a fundamentação teórica que o ajudará no desenvolvimento de suas 
funções nos variados espaços. 
 É necessário que o estagiário tenha contato na prática com as teorias que o 
mesmo estuda em sala, para que a mesma não se torne algo fora e divergente do 
contexto analisado, tornando-se um problema tanto para o desempenho do 
professor quanto do educando, teoria e prática devem caminhar lado a lado. Paulo 
Freire, ao falar sobre o distanciamento entre o que se fala e o que se vive nos dá um 
exemplo disso dizendo que: 
Por isto mesmo que, muitas vezes, educadores e políticos falam e não são 
entendidos. Sua linguagem não sintoniza com a situação concreta dos 
484 
 
homens a quem falam. E sua fala é um discurso a mais, alienado e 
alienante. (FREIRE, 1970, p. 102). 
 Podemos assim explicar por que muitas vezes ouvimos frases do tipo “na 
teoria é dessa maneira, na prática é outra”, ou ainda “sou um professor teórico e não 
prático”, pois a idéia de união entre as duas está longe dos mesmos, ou ainda pior, o 
discurso teórico está conflitando com a prática. 
 Assim o estágio se fortifica, tornando um ponto indispensável e de 
fundamental importância na formação dos estudantes dos cursos de formação 
docente. Para que o desempenho profissional atinja as expectativas que sua função 
necessita e para que proporcione uma visão da necessária união entre teoria e 
prática, espera-se que o mesmo seja tratado com seriedade, que seja bem 
organizado e planejado, se efetivando em um ato prazeroso de comunicação teórica 
e prática. 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Este trabalho, observou as contribuições possíveis do campo do estágio para 
a formação docente, englobando atitudes e ações às quais os educadores devem 
estar atentos durante a prática educativa. Ao longo do estágio, é premente instituir 
práticas dialógicas para a ação docente, pois, caso contrário, a escola continuará 
sendo, grande parte dela, uma mera reprodutora de conteúdos. 
Há que se salientar que a articulação entre teoria e prática por meio do 
estágio fortifica a formação do futuro docente e no mesmo instante proporciona um 
contato com a realidade escolar. 
Assim, as interações dos alunos com o meio escolar e com os docentes em 
formação passam a retratar a tentativa de mudança de postura, onde busca-se 
construir uma prática além do pensamento sobre o outro, refletindo então com o 
outro por meio das interações das práticas vividas. 
Este agir com é o principio da atuação na escola. É importante destacar que 
no espaço de formação docente observa-se também se as práticas desenvolvidas 
nas universidades estão presentes na escola e como as múltiplas formações dos 
agentes ali presentes, se destacam e se relacionam. 
Este processo de interação de professores em formação com professores em 
atuação, e de ambos com os alunos e toda a comunidade escolar já é esperado no 
485 
 
contexto da escola e pode propor possibilidades de ensinar e aprender ao mesmo 
tempo. Há a necessidade de considerar a pluralidade escolar para não reduzir a 
importância do estágio e compreendê-lo em suas múltiplas relações. 
Por fim, acredito que o estágio na formação docente, espaço esse de 
construção coletiva mediada por signos, gestos, olhares e inter-relação entre 
professores em formação e professores em atuação, pode fomentar uma relação 
onde ambos podem aprender, experimentar e ensinar contribuindo para a 
construção de escola reflexiva e aproximando teoria e prática. 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS: 
 
 
AGUIAR. M. A. S. Gestão da Educação: impasses perspectivas e compromissos/ Naura 
Syria Carapeto Ferreira. Márcia Ângela da S. Aguiar, (orgs.) – 3. ed. – São Paulo: Cortez, 
2001. 
 
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