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Rinossinusite – Brenner Boconcelo INFECÇÃO DOS SEIOS PARANASAIS ・ O termo rinossinusite refere-se ao quadro inflamatório que envolve os seios paranasais. ・ Na maioria dos casos, a rinossinusite envolve o acometimento de mais de um seio paranasal, donde o seio maxilar é o mais envolvido, seguido do seio etmoidal, frontais e esfenoidais. ・ Todos os seios paranasais são revestidos por epitélio respiratório produtor de muco, esse muco é transportado pela ação ciliar, por meio do óstio sinusal, para dentro da cavidade nasal. Normalmente o muco não se acumula nos seios, que permanecem praticamente estéreis. ・ A obstrução dos óstios dos seios, ou a deficiência parcial ou total do movimento ciliar pode resultar na retenção de secreções, o que desencadeia os sinais e sintomas típicos de rinossinusite. ・ O acúmulo das secreções com a obstrução as torna mais suscetíveis à infecção por diversos patógenos, incluindo virus, bactérias, fungos. ・ A rinossinusite é classificada segundo seu tempo de duração em: Rinossinusite aguda: quando tem duração < 4 semanas Rinossinusite crônica: ・ É classificada em infecciosa ou não infecciosa, e quando infecciosa segundo o tipo de patógeno em rinossinusite viral, rinossinusite bacteriana, rinossinusite fúngica. Rinossinusite aguda: ・ As rinossinusite agudas possuem uma duração dos sintomas < 4 semanas, e representam a maioria dos casos das rinossinusites. ・ Ocorre principalmente como consequência de uma infecção das vias aéreas superiores virais precedente. Etiologia: ・ A obstrução dos óstios na rinossinusite pode ocorrer em função de causas infecciosas e não infecciosas. ・ Entre as etiologias não infecciosas estão: Rinite alérgica (decorrente do edema da mucosa nasal ou por obstrução por pólipos nasais) Barotrauma (por mergulho em águas profundas) Exposição à químicos e irritantes Obstrução por tumores nasais ou paranasais (carcinoma epidermóide) Doenças granulomatosas (granulomatose com poliangeíte, rinoescleroma) Fibrose cística (por causar modificação da composição do muco, levando a alterações na sua depuração) Intubação nasotraqueal (é um fator de risco importante) ・ A rinossinusite viral é muito mais comum que a rinossinusite bacteriana, donde os virus mais encontrados estão: Rinovírus Vírus da parainfuenza Vírus da influenza ・ As causas bacterianas de rinossinusite são mais bem caracterizadas, nos casos adquiridos na comunidade, o Streptococcus pneumoniae e o Haemophilus influenzae não tipavel são os agentes mais comuns, sendo responsáveis por 50-60% dos casos. ・ A Moraxella catarrhalis é responsável por uma proporção maior em crianças, mas não é tão comum em adultos. ・ Outras espécies de Streptococcus e Staphylococcus aureus causam apenas uma pequena porcentagem de casos. ・ Os anaeróbios ocasionalmente são encontrados associados a infecções das raízes dos pré-molares com disseminação para os seios maxilares adjacentes. ・ Casos hospitalares estão comumente associados a bactérias prevalentes nesse ambiente, como os Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosas, Serratia marcescens, Klebsiella pneumoniae e espécies de Enterobacter. Com frequência tais infecções são polimicrobianas, envolvendo microrganismos altamente resistentes a vários antibióticos. ・ Os fungos também são causadores de rinossinusite aguda, na maioria dos casos em pacientes imunocomprometidos, e são infecções invasivas que ameaçam a vida. ・ O exemplo mais conhecido é a mucormicose rinocerebral, causada por fungos da ordem mucorales, como Rhizopus, Rhizomucor, Mucor, LIchtheimia, Cunninghamella. ・ Essas infecções fúngicas geralmente ocorrem em pacientes diabéticos com cetoacidose, em receptores transplantados, portadores de cânceres hematológicos, pacientes em uso crônico de corticoides ou de deferoxamina. ・ Outros fungos hialinos como Aspergillus e Fusarium também são as causas ocasionais dessa doença. Manifestações clínicas: ・ Em sua maioria, os casos de rinossinusite aguda ocorrem após ou durante uma ITRS viral, onde grande parte dos pacientes com resfriado tem inflamação dos seios paranasais, ainda que 0,2 a 2 destes casos se complique com infecção bacteriana. ・ Entre os sinais e sintomas mais comuns incluem: Corrimento nasal Congestão nasal Dor facial à compressão Cefaleia Tosse Espirro Febre Dor de dente (principalmente quando afeta molares superiores) Halitose (ocasionalmente associada à infecção bacteriana) ・ O corrimento nasal espesso e purulento também ocorre como sintoma inicial nas infecções virais, como nos resfriados comuns, não só bacterianas. ・ Na rinossinusite aguda, a dor sinusal à compressão muitas vezes tem a mesma localização do seio acometido, (particularmente o seio maxilar) que se intensifica quando o paciente se curva ou se deita. ・ As manifestações das rinossinusites esfenoidais ou etmoidais avançadas podem ser intensas, como: Dor frontal Dor retro-orbital intensa com irradiação para o occipício Trombose de seio cavernoso Celulite orbital ・ A rinossinusite focal aguda não é comum, mas deve ser considerada em sintomas intensos envolvendo o seio maxilar e febre, independente da duração da doença. ・ Os pacientes com rinossinusite frontal avançada podem apresentar com um quadro denominado tumor edematoso de Pott, com tumefação dos tecidos moles e edema com cacifo sobre o osso frontal, causado por abscesso subperiosteal comunicante. ・ Algumas complicações da rinossinusite potencialmente fatais são: Meningite Abscesso extradural Abscesso cerebral ・ Pacientes com rinossinusite fungica aguda como a mucormicose frequentemente apresentam sintomas decorrentes do aumento da pressão, principalmente quando a infecção se estende para órbitas e seios cavernosos. ・ Sinais como edema e celulite orbitários, proptose, ptose, diminuição dos movimentos extraoculares são comuns, assim como dor retro-orbital ou periorbital. ・ Ulcerações nasofaríngeas, epistaxe, cefaleia, também são comuns, e há descrições de acometimento dos V e VII nervos cranianos em casos graves. ・ A erosão óssea pode ser evidente ao exame ou à endoscopia. ・ Os pacientes com rinossinusite aguda hospitalar com frequência estão em estado crítico e por esse motivo não apresentam as características clínicas típicas da doença sinusal. ATENÇÃO: deve-se suspeitar do diagnostico quando pacientes em terapia intensiva com intubação nasotraqueal apresentar febre sem outra causa evidente. Diagnóstico: ・ A rinossinusite bacteriana é incomum em pacientes com sintomas com < 10 dias, e deve ser reservado este diagnóstico para pacientes crianças com sintomas entre 10-14 dias e adultos com sintomas com > 10 dias acompanhados de 3 sinais cardinais: Secreção nasal purulenta Obstrução nasal Dor na face ・ Não se recomenda o uso rotineiro de TC ou radiografia dos seios paranasais para doença aguda, principalmente no inicio do quadro ou com < 10 dias de sintomas. ・ Na avaliação de rinossinusite cronica, a TC dos seios paranasais passa a ser o método radiológico de escolha. ・ Os casos suspeitos de rinossinusite hospitalar devem ser confirmados por TC dos seios da face, com tratamento direcionado para o agente causal com o auxilio da realização de culturas com teste de sensibilidade, e iniciar o quanto possível antes a antibioticoterapia. Tratamento: ・ A maioria dos pacientes com sinusites aguda melhora sem antibióticos, e a conduta inicial nos pacientes com sintomas leves a moderados de curta duração deve ser a prescrição de medidas terapêuticas para aliviar os sintomas e facilitar a drenagem dos seios paranasais, com o uso de descongestionantes,lavagem nasal com soro fisiológico 0,9% e ao menos em pacientes com antecedentes de alergia e rinossinusite crônica glicocorticoides nasais. ・ Pode-se considerar antibioticoterapia em pacientes adultos que não apresentam melhoras após 10 dias, e qualquer paciente com sintomas mais graves independente da duração deve ser tratado com antibióticos. ・ A antibioticoterapia empírica para adultos com rinossinusite adquirida na comunidade deve ser feita com o agente de espectro mais estreito a cobrir os patógenos bacterianos mais comuns, incluindo: Streptococcus pneumoniae Haemophilus influenzae ・ Deve-se lembrar que o Haemophilus influenzae é produtor de beta-lactamase. ・ Para pacientes que não responderem à antibioticoterapia inicial, deve-se solicitar a avaliação pelo serviço de otorrinolaringologia quanto à indicação para aspiração ou lavagem dos seios paranasais. ・ Não se recomenda o uso profilático de antibióticos para a prevenção de recorrências de rinossinusite bacteriana aguda. ・ A intervenção cirúrgica e a administração por via intravenosa de antibióticos geralmente são reservadas aos pacientes com doença grave ou com complicações intracranianas, como abscessos ou acometimento da órbita. ・ Os pacientes imunocomprometidos com rinossinusite fúngica invasiva aguda em geral necessitam de desbridamento cirúrgico extenso e de tratamento com antifúngicos intravenosos ativos contra Hifas como a Anfotericina B, onde deve-se individualizar o tratamento específico de acordo com a espécie fungica, suas suscetibilidades e as características individuais do paciente. ・ O tratamento da rinossinusite hospitalar deve começar com antibióticos de amplo espectro ativos contra patógenos comuns e frequentemente resistentes, como o staphylococcus aureus e os bacilos gram-negativos. Deve-se modificar o tratamento de acordo com os resultados da cultura e do teste de sensibilidade dos aspirados dos seios paranasais. DIRETRIZES PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA RINOSSINUSITE AGUDA EM ADULTOS: ・ Sintomas moderados: Purulência Congestão nasal Tosse > 10 dias ・ Sintomas intensos de qualquer duração: Edema facial unilateral Edema facial focal Dor no dente − Amoxicilina 500 mg, via oral, cada 08 horas por 7 dias. − Amoxicilina + clavulanato 500 + 125 mg, via oral, cada 08 horas por 07 dias. Se alergia à penicilina: − Clindamicina 300 mg, via oral, cada 08 horas por 07 dias. − Doxiciclina 100 mg, via oral, cada 12 horas por 07 dias. ・ Se exposição prévia à antibióticos: nos últimos 30 dias ou fracasso terapêutico recente: − Amoxicilina + Clavulanato 875 + 125 mg, via oral, cada 12 horas por 07 dias. − Moxifloxacino 400 mg, via oral, cada 24 horas, por 07 dias. − Amoxicilina + Clavulanato 2.000 + 125 mg, via oral, cada 12 horas por 07 dias.
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