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a um grupo de conceitos previamente aprendidos, modificando-os. Assim, a questão não se coloca apenas na fixação de novos conhecimentos a conhecimentos anteriores, mas na maneira como essa fixação ocorre, a saber, por intermédio de interações adaptativas (acomodações), que alteram o conhecimento anterior em função de uma pressão organizativa dos esquemas cognitivos. Assim, um grupo de conceitos/conhecimentos já aprendidos atua como âncora, integrando o novo conhecimento aos anteriores e o modificando. Tal idéia se apresenta no interior de uma das mais importantes formulações de Ausubel sobre o processo de aprender: o conceito de ancoragem. A ancoragem é o processo responsável por ligar os conhecimentos já adquiridos aos novos conhecimentos, colocando-os em interação. Desse modo, segundo Ausubel, quando um novo conhecimento é ancorado, atrelado a outros já formulados, há uma maior probabilidade de esse conhecimento não se perder, levando à ocorrência de uma aprendizagem mais significativa. Isso significa dizer, por exemplo, que quando fazemos relação entre o que estamos estudando com outros conhecimentos que já possuímos (que podem ser de ordem teórica ou prática), a relação entre eles produz um conhecimento ampliado, modificado, que não é mais o anterior em si, nem o novo conhecimento isolado, mas sim um novo conhecimento oriundo de interações entre diferentes elementos cognitivos. Desse modo, uma vez ligados, ou melhor, ancorados, tais conhecimentos tendem a não se perder dentro do conjunto de outros tantos conhecimentos que possuímos, caracterizando o que Ausubel chama de aprendizagem significativa. A aprendizagem significativa A aprendizagem significativa pode ser entendida como um processo que envolve sucessivas ancoragens por meio da ligação do novo conhecimento ao conhecimento subsunçor1. O contrário da aprendizagem significativa seria, para Ausubel, a aprendizagem mecânica, que ocorre por meio de pouca ou nenhuma interação entre os conceitos/conhecimentos anteriores (subsunçores) e os novos conceitos/conhecimentos. No ambiente escolar estamos acostumados a chamar a aprendizagem mecânica de “decoreba”. Segundo Ausubel, a “decoreba” não descarta a possibilidade de uma relação com a aprendizagem significativa, mas esta última fica menos favorecida quanto menos nos colocarmos de forma ativa no processo de aprender. 1Conhecimento subsunçor: conhecimento anterior que é acionado para agir no agencia- mento de novas aprendizagens. Ausubel e a aprendizagem significativa 135 Dessa forma, a aprendizagem significativa é um conceito central na teoria de Ausubel e, como tal, é em torno desse conceito que ele formula várias outras noções sobre o processo de aprender. O primeiro conceito a ser compreendido é o de elementos subsunçores, que nada mais são que elementos facilitadores do processo de aprender. Tais elementos são representados pelos conhecimentos prévios e por conceitos anteriores já formulados pelo aprendiz. Além disso, podemos também considerar como elementos subsunçores aqueles utilizados pelo professor para auxiliar na organização do conhecimento a ser construído pelo aluno. Nesse sentido, os materiais, as explanações introdutórias e toda a gama de atividades voltadas para a construção de uma idéia inicial sobre algum conteúdo podem ser consideradas um elemento subsunçor, contanto que atue, de fato, como facilitador da aprendizagem. Assim, podemos dizer que a aprendizagem significativa só ocorre diante de condições específicas voltadas para o ato de aprender. A essas condições Ausubel chamou de condições de ocorrência da aprendizagem que dizem respeito ao conhecimento a ser transmitido e a disposição do aluno para o ato de aprender. Sobre o conhecimento a ser transmitido, Ausubel nos diz que um conhecimento para ser compreendido por um aluno deve ser relacionável com outros conhecimentos e incorporável ao conjunto de esquemas cognitivos (modos de aprender) de cada aluno. Isso significa dizer que o conteúdo deve se relacionar com os interesses dos alunos, ou seja, fazer sentido, para que o aluno continue estimulado para a aprendizagem. Já a disposição do aluno para aprender nos aponta para o fato de que, para haver aprendizagem é necessário, antes, que exista um esforço por parte do aprendiz; é preciso que o aprendiz queira realizar a ligação entre a nova informação e os conceitos já existentes em sua mente. Tal esforço, segundo Ausubel, deve ser espontâneo para que a aprendizagem não acabe se transformando em um ato mecânico de “decoreba”. Mas, qual a evidência de existência de uma aprendizagem significativa? Segundo Moreira (1983, p. 65), tais evidências são difíceis de serem percebidas ou observadas, uma vez que os alunos podem simular a aprendizagem por meio de memorizações. Desse modo, para obter evidências sobre uma aprendizagem significativa, Moreira (1983, p. 65) recomenda o trabalho de avaliação voltado para mapearmos os conceitos já adquiridos pelos alunos, o que poderia ser feito com questionários ou atividades do tipo “desafio”. Tal preocupação com as evidências de aprendizagem se devem também em parte pelo fato de Ausubel considerar que a aprendizagem significativa pode ocorrer de três formas distintas: por meio da aprendizagem representacional (de tipo mais básico em que o aprendiz liga os símbolos a seus significados, atribuindo significado ao símbolo); por meio da aprendizagem de conceitos, ligada à representação de conceitos amplos (genéricos), classificados em categorias pelo aprendiz. Nesse tipo de aprendizagem, o aprendiz já é capaz de fazer abstrações a partir do símbolo, ou seja, já é capaz de representar o símbolo, descolando-o do seu real significado, utilizando-o para outros fins; e a aprendizagem proposicional, Teorias da Aprendizagem 136 relativa à aprendizagem dos significados das idéias a partir de proposições. Segundo Ausubel, as proposições são combinações de conceitos, ou seja, um conjunto de idéias do qual se pode extrair o significado de vários conteúdos. Além de classificar a aprendizagem significativa em três tipos, Ausubel também se preocupa em classificar as aprendizagens significativas por força de atração organizativa, ou seja, procurando demonstrar se a pressão para a ocorrência da aprendizagem partiu dos conhecimentos anteriores já existentes na estrutura cognitiva do aprendiz, se partiu dos novos conhecimentos ou se partiu de ambos. Desse modo, Ausubel nos diz que as aprendizagens significativas também podem ser subordinadas, superordenadas e combinatórias. Na aprendizagem significativa subordinada, o novo conhecimento encontra-se subordinado ao conhecimento anterior, ou seja, depende do conhecimento prévio para poder se ancorar (fixar). Na aprendizagem significativa superordenada, é o novo material já assimilado que, por meio de acomodações na estrutura cognitiva, passa a ser responsável por se ligar aos conhecimentos prévios, assimilando-os. Já na aprendizagem significativa combinatória a nova informação, por meio de pressões recíprocas entre os conhecimentos anteriores e os novos conhecimentos, torna-se potencialmente significativa, não necessitando impor uma subordinação ou superordenação dos conhecimentos. Além dos conceitos já apresentados até aqui, Ausubel também desenvolveu mais dois: o de diferenciação progressiva e o de reconciliação integrativa. A diferenciação progressiva diz respeito à modificação do conceito subsunçor (conhecimento prévio) através da elaboração hierárquica de proposições e conceitos na estrutura cognitiva, de modo que as idéias mais inclusivas a serem aprendidas sejam apresentadas primeiro. E então, diferenciada em termos de detalhes e especificidade. (MOREIRA, 1983, p. 69). Já a reconciliação integrativa é definida como um processo que reorganiza a estrutura