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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CLÍNICA MÉDICA III – NEFROLOGIA ANTÔNIO CASTRO ATM 2022.1 INJURIA RENAL AGUDA (IRA) Síndrome caracterizada pela queda abrupta da TFG, oriundo de um grupo heterogêneo de doenças, ocasionando retenção de metabólitos nitrogenados e outros que seriam excretados pelos rins; com manifestação pelo aumento da creatinina e redução da diurese. Esse insulto renal é tido como potencialmente reversível, porem suficientemente capaz de prejudicar a função renal (levando de 48h a 21 dias para reestabelecimento da função renal normal) Azotemia: padrão laboratorial de aumento de excretas nitrogenadas retidas no organismo. Uremia: manifestações clínicas do aumento de excretas nitrogenadas retidas no organismo. Anúria: > 12h volume filtrado de urina ou micção. Definição KDIGO: risco (grau 1), injúria (grau 2) e falência ou insuficiência renal (grau 3). 1. Aumento de 1,5x na creatinina em 7 dias ou 0,3 nos últimos 2 dias ou redução < 0,5ml/Kg/h nas últimas 6-12h. 2. Aumento de 2x a creatinina ou redução < 0,5ml/Kg/h nos últimos 12h. 3. Aumento de 3x a creatinina ou redução < 0,5ml/Kg/h nos últimos 24h. Etiologia: Pré-Renal: relacionados à hipoperfusão/vasodilatação, é a causa mais comum (60%) e está ligado a patologias como ICC, hipoalbuminemia, sepse, uso de AINEs e iECAs. A redução da perfusão renal resulta em depleção do volume intravascular, contudo, o quadro se estabelece após falha dos mecanismos de autorregulação (SRAA, SNSimpático com liberação de catecolaminas resultando em vasoconstrição periférica, ADH com o aumento da reabsorção de sódio e reflexo miogênico com vasodilatação por liberação de protaglandinas na arteríola aferente). A isquemia prolongada evolui para Necrose Tubular Aguda (NTA) que se manifesta por urina concentrada, com baixa concentração de sódio e oligúria. Renal: relacionados à lesão de parênquima renal (vasos, glomérulo, túbulos ou interstício), segunda causa mais comum (35%), ligado a patologias como Necrose Tubular Aguda (isquemia, toxinas endo ou exógenas), nefrites intersticiais, doença vascular e glomerulopatias. Tanto por isquemia como por toxicidade, ocorrerá redução da geração de ATP intracelular, levando a desorganização do citoesqueleto, deslocamento dos canais de sódio/potássio e perda de função da célula, o que resulta em morte celular e obstrução dos túbulos. A perda de sódio estimula a mácula densa, levando a inibição do SRAA e aumento de adenosina (fechando a arteríola aferente). Desse feedback túbulo-glomerular, ocorre redução da TFG, a urina torna-se diluída e com alta concentração de sódio. Pós-Renal: relacionados a processos de obstrução do fluxo (alta deve ser bilateral; baixa acometendo bexiga ou uretra; ou unilateral e alta se rim único). Geralmente ocorre em pacientes com Hiperplasia Prostática Benigna. Ocorre refluxo do filtrado e aumento na pressão hidrostática na capsula de Bowmann, o que desfavorece a filtração. Clínica: Assintomático, oliguria, anuria súbita (<100ml/24h), mal-estar inespecífico, síndrome urêmica (náuseas, vômitos, prurido, anorexia, sangramento gastrointestinal, pericardite, alteração hematológicas e neurológicas), dispneia, edema periférico, ascite, crepitação, distensão de jugulares, arritmias, sinal de Chvostek e Trousseau (hipocalemia) Diagnóstico: HDA, Exame Físico, sódio, potássio, cálcio e fosforo, Creatinina, diurese, EQU, USG de vias urinárias e biópsia (somente se suspeita de doença sistêmica como etiologia da IRA). UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CLÍNICA MÉDICA III – NEFROLOGIA ANTÔNIO CASTRO ATM 2022.1 Tratamento: correção da causa reversível, correção dos distúrbios hidroeletrolíticos e ácido- básico, evitar sobrecarga hídrica, evitar insultos renais, pode-se usar cateter vesical, imunossupressão e até diálise urgente se: Uremia sintomática: coma, encefalopatia, pericardite, sangramentos; Sobrecarga hídrica não responsiva a terapia farmacológica como edema agudo de pulmão, hipercalemia ou acidose metabólica; IRA por intoxicação de substâncias dialisáveis. Obs.: nesses casos de reposição renal, a mortalidade chega a 50%. Screening e Prevenção: atentar pacientes internados, por ser mais comum nessa população, além dos idosos e pacientes com DRC diagnosticada. Cabe ater-se que nesses pacientes deve- se evitar AINES, BRAs, iECAs, contraste, diuréticos; pode-se prescrever expansão volumétrica seja VO ou EV com solução salina isotônica, principalmente em pacientes submetidos a cirurgias cardíacas, com rabdomiólise, doença hemolítica ou em uso de drogas com potencial nefrotóxico. ANOTAÇÕES SEMINÁRIO: A adequação de injúria para lesão renal aguda teve como objetivo aumentar a sensibilidade (consequentemente diminuindo especificidade), possibilitando diagnóstico mais precoce do quadro (estágio 1 ou fase de risco) e permitindo manejo (reposição volêmica e suspensão de condutas possivelmente lesivas ao tecido renal) em um momento anterior a complicações do quadro. Lembrando que tem uma prevalência entorno de 20% dos pacientes internados, dos quais 10% irão necessitar de terapia de substituição renal. O diagnóstico se baseia sobre níveis da creatinina basal do paciente, por isso, principalmente em internados, é válido solicitar o exame de rotina para acompanhar evolução da função renal. Hoje se pesquisam outros marcadores mais confiáveis de função renal, como biomarcadores – em destaque a cistatina C sérica, proteína codificada pelo gene CST3 – que em teoria sofreriam menor influência de fatores do que a creatinina e refletirem um padrão mais confiável, já que o exame para mensuração da creatinina alteração somente quando a TFG está abaixo de 50% e método de obtenção desse valor é espectrofotométrico, demonstrando todas as proteínas que emitem mesmo comprimento de onda, quando o almejado hoje são exames radioisotópicos. Na prática clínica, é difícil mensurar o débito urinário, mesmo em pacientes internados, já que consideradas fatores como variantes no peso (que altera diariamente) e a precisão em horas. Esse cálculo fica mais restrito a pacientes em terapia de substituição renal. Além disso, em ambulatório, deve-se lembrar da relatividade e subjetividade de queixas como oligúria ou poliúria. Sabe-se hoje que o paciente que fizer IRA tem pior quadro da doença de base do que aqueles que não a fazem, contudo, o que se pesquisa é se a IRA é uma consequência desse pior quadro ou se a IRA é a causa da piora prognóstica. A monitorização desses pacientes pós IRA deve se estender até quando? Sabe-se que até 1 ano depois da IRA ainda é possível ter complicações oriundas de sua instalação, mas não se sabe ao certo os mecanismos fisiopatológicos relacionados com esse processo. A ureia tem maior elevação absoluta do que a creatinina em pacientes com IRA. A Taxa de Excreção de Sódio e o EQU são os exames a serem solicitados para diferencias lesão pré- renal de lesão renal, lembrando que causas pré-renais sempre cursaram com oligúria e redução da concentração de sódio urinário (medida de tentar reverter a hipoperfusão renal) e sem alterações maiores no EQU, exceto densidade e talvez presença de cilindros hialinos; em causas renais, pode-se ou não alterar o débito urinário e o EQU virá com alterações mais compatíveis com lesão renal aguda.
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