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A Plasticidade da Psique na Infância

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A Plasticidade da Psique na Primeira Infância.
O primeiro ano de vida é o mais plástico do desenvolvimento humano. Nunca mais será aprendido tanto em tão pouco tempo. Nesse período o bebê passa por estágios progressivos de aprendizado que serão superiores aos estágios anteriores.
O primeiro estágio que tem que ser superado é o estágio do desamparo, da não diferenciação. O final desse estágio é marcado pelo aparecimento do sorriso e ocorre, geralmente, ao final do 3° mês de vida. O desamparo ocorre pela plasticidade do sistema Psíquico e pela ausência, nos primeiros 6 meses, de uma organização de ego solidamente estabelecida.
No próximo estágio, o bebê passa do desamparo e da passividade dos primeiros 3 meses para um estágio em que a ação é mais estruturada e a atividade é mais conscientemente dirigida. Nesse estágio, lá pelo 7º mês, o bebê explora, experimenta e expande seu território através de trocas e interações que antes estavam presente com outras características mais primitivas. Então, ele passa da atividade para a ação. Nessas trocas com o objeto pré-libidinal ele estabelece limites de suas capacidades e traduz em ações dirigidas, não mais caóticas, a pressão de suas pulsões libidinais e agressivas.
A passagem de um estágio para o outro se faz por tentativa e erro, o que faz com que haja muitos perigos. A criança passa de um estágio não objetal de uma atividade não dirigida (até os 3 meses) para uma atividade estruturada e dirigida ao ego (até os 7 meses), o que gera um maior poder de interação.
Nesse primeiro ano, as experiências têm maiores consequências de longo prazo do que nos outros anos, quando seu psiquismo já é mais estável. Traumas nessa fase podem levar a consequências específicas e sérias, pois cada estágio de transição é vulnerável a alguns traumas, mas não a outros; vistos que há mecanismos adaptativos que protegem a criança. Contudo, essas novas aquisições adaptativas não estão totalmente prontas no início de cada estágio, o que faz com que o bebê use as aquisições incipientes e as antigas, embora essas já não sejam suficientes para as novas tarefas. Isso gera uma zona imprecisa em que o bebê está mais vulnerável que o período que o precede e ao que será seguido. Sendo assim, um mesmo estímulo assume significados inteiramente diferentes e uma mesma experiência é percebida de forma diferente e tem uma resposta diferente dependendo do estágio no qual o bebê se encontra.
O autor faz uma experiência com um mesmo bebê aos 3 meses, aos 7 meses e aos 14 meses para demonstrar esses estágios de amadurecimento do ego e a integração psicológica de um estágio para o outro mais complexo. Primeiro, ele brinca com o bebê sem máscara e, depois, ele coloca uma máscara sorridente para brincar com o bebê. Ele faz isso da mesma forma nas 3 idades diferentes. 
Resultado: 
3 meses: o bebê sorri.
7 meses: a criança sorri para a máscara, brinca com ela e tenta arrancar os olhos da mascara que são duas bolinhas.
14 meses: criança brinca com a observadora. Quando ela coloca a máscara, a criança chora e corre para longe. Só quando a máscara é retirada, e após muita conversa, é que o bebê se aproxima e começa e mexer na máscara que está na mão da observadora.
Como interpretar as 3 respostas diferente:
3 meses: a criança enxerga pedaços como se fossem um todo (gestalt sinal). Ex: olhos, boca e nariz = ser humano. Então, nessa fase não objetal, a gestalt sinal assinala a aproximação de algo que satisfaz suas necessidades, outro ser humano. Então, de forma positiva, a criança sorri. Nesse momento o ego tem um desempenho rudimentar de limitar-se à percepção de satisfação de necessidade. Um primeiro ego rudimentar foi integrado a partir de vários núcleos separados de ego. Ex: ego boca, ego mão, ego braço... são só sensações... percepções. Não faz distinção entre um amigo e um estranho. O ego não protege a criança de perigo. Nessa fase a criança opera adequadamente porque a mãe funciona como ego auxiliar, que é externo à criança.
7 meses: nessa fase, a criança está no estágio de transição da gestalt sinal para o estágio de reconhecimento e diferenciação do próprio objeto libidinal. A gestalt não perdeu sua eficácia e nem o objeto libidinal propriamente dito está definido. Então, a criança sorri e inicia um intercâmbio com a examinadora, iniciando um intenso intercâmbio de ação. Seu ego está numa posição central de controle e seu corpo serve para realizar suas intenções e para obedecer a sua vontade. Esse é o começo do ego propriamente dito e essas trocas estão no centro das relações objetais da criança. Nessa fase, o ego da criança assume parte do papel de mãe e leva o bebê a se esforçar, mas ele ainda não tem o papel protetor da mãe. A máscara funciona como um brinquedo que a amiga oferece. O ego surge então como mediador entre as pulsões instintivas que se tornam mais diferenciadas e são expressas com conotações afetivas na forma de necessidade, desejos esforçoes e evitações.
14 meses: as relações objetais com a mãe foram firmemente estabelecidas e a díade começa a perder força sua exclusividade como forma de relação social. À relação “multidão de dois” que existia com a mãe, são acrescidas relações objetais secundárias com vários “amigos” que ainda são reconhecido por atributos externos, sobretudo rostos familiares e o estágio da onipotência do bebê não perdeu totalmente sua vigência. A magia ainda é força poderosa no universo mental do bebê e ele ainda funciona muito por mecanismos primitivos de cisão, identificação projetiva, identificação e projeção. Assim como acha que pode mudar e criar o mundo, acredita que os outros também podem. Dá exemplo da criança que pediu para o pai fazer chover de novo. Quando o rosto da amiga observadora, magicamente se transforma no rosto de um estranho, ela não entende sobre reversibilidade e se assusta e foge. Só quando a amiga volta e o ambiente parece seguro é que ela se aproxima. Nessa fase, acontece uma mudança radical no ego, ele passa a ser protetor e dá sinal de perigo, seguindo-se a ansiedade e a fuga. Então o ego se desenvolve em direção à ação e depois em direção à proteção.
O autor traz que o bebê não é igual a um adulto. E a diferença é seletiva, se aplicando a diferentes setores do organismo. Indiferença, falta de empatia e falta de imaginação são crueldades para um bebê. Se a criança reage melhor a situação que são catastróficas ao adulto, o inverso também é verdadeiro. Modificações no ambiente podem exercer profundas influências sobre o bebê e adoecê-lo, o que para um adulto seria tido como normal.
O desenvolvimento no 1° ano não se desenvolve em curva uniforme. Os aprendizados são regularmente repetidos até que surjam uma reorganização da estrutura psíquica e surja o aparecimento de novos aspectos e capacidades da personalidade. Cada estágio sucessivo reflete uma transição de um determinado nível de desenvolvimento para um seguinte superior e é marcado por mais elaboração do aparelho mental.
Os fatores que governam esses processos de amadurecimento são chamados de organizadores da psique. Todo o estágio de desenvolvimento apresenta algumas fases que são críticas. Esse processo é delicado e vulnerável, mas quando bem sucedido leva à estruturação do sistema psíquico em um nível maior complexidade e conduz aos organizadores.
Quando períodos críticos são superados, levam à integração e temos como marcadores os organizadores. O sorriso dos 3 meses é um indicador de que um desses organizadores foi estabelecido. Esses organizadores e esses pontos críticos são de suma importância para a progressão ordenada e livre do desenvolvimento infantil. E o sucesso em uma fase, leva ao próximo organizador.
Quando há insucesso, o desenvolvimento é interrompido, apesar da maturação continuar. (maturação é físico, desenvolvimento é mental!!!)
A própria plasticidade psíquica facilita o aparecimento do desequilíbrio maturação/ desenvolvimento e esse desequilíbrio é limitado, em grande parte, ao primeiro ano. Como há falta de estrutura psíquicapré-estabelecida como padrão, há essa plasticidade da personalidade.
O recém-nascido não tem ego, então não pode lidar com estímulos que recebe e é protegido deles por um alto limiar perceptivo de barreira de estímulo. Mas os estímulos são suficientemente fortes para romperem a barreira de estímulos e modificar a personalidade do bebê.
No curso posterior do desenvolvimento do ego, inícios rudimentares de constituintes do ego surgem em conexão com os primórdios do ego. Por um lado, os núcleos do ego são integrados; por outro, ocorre uma redução progressiva do limiar perceptivo. Estímulos vindos de fora começam agora a modificar essa organização rudimentar da personalidade. Eles a forçam a reagir e a iniciar um processo formativo. Nesse processo, as respostas do bebê são gradualmente coordenadas e integradas em uma estrutura vagamente coerente. Esse processo precede o início do ego rudimentar, ao qual competirá a tarefa de lidar subsequentemente com estímulos externos e internos. O desenvolvimento posterior da estrutura do ego, da sua eficácia, de suas reservas de tenacidade e força será lento e gradual. No decorrer de meses e anos de intercâmbio constante, o ego lida com os estímulos que recebe e os domina. A maneira como determinado ego se estrutura e se organiza é determinada pela maneira como são dominados os estímulos ambientais e internos; as experiências que se impõe à personalidade plástica do bebê são utilizadas para modificar esta mesma personalidade. Desenrola-se aqui um processo interminável e gradual de modificações, que mal começamos a explorar. Entretanto, não é fácil explicar a maneira pela qual é moldada a personalidade infantil. As forças formativas não são violentas.

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