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13 - Tranquilizantes

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INTRODUÇÃO
Neste  capítulo  são  apresentados  os  principais  grupos  de medicamentos  empregados  para  auxiliar  o médico­
veterinário  no  manejo  dos  animais  (contenção  química)  ou  como  medicação  pré­anestésica.  Alguns  desses
grupos  farmacológicos  aqui  comentados  são  também  empregados  para  o  tratamento  de  transtornos  do
comportamento animal, sendo, com essa finalidade, abordados em detalhes no Capítulo 16.
TRANQUILIZANTES
O  termo  tranquilizantes,  embora  usado  com  restrições,  refere­se  a  medicamentos  que  produzem  a
tranquilização  do  animal,  isto  é,  acalmam  a  agitação  e  a  hiperatividade.  Sedativo,  sedante,  calmante  são
denominações  também  empregadas  por  alguns  como  sinônimo  de  tranquilizante.  Essas  denominações
começaram  a  ser  utilizadas  na  década  de  1950,  quando  foi  introduzido  um  grupo  de  medicamentos  que
revolucionou  o  tratamento  das  doenças  mentais.  Esses  medicamentos,  em  pacientes  psicóticos,  produziam
certa sedação sem a sonolência. Mais tarde apareceu outro grupo de medicamentos usados para o tratamento
de doenças mentais, as neuroses, consideradas menos graves que as psicoses. Tais medicamentos passaram a
ser  chamados  de  tranquilizantes menores,  pois  eram  usados  no  tratamento  de  doenças menores  ou menos
graves,  e  os  primeiros,  chamados  de  tranquilizantes  maiores,  empregados  para  o  tratamento  das  psicoses,
doenças consideradas mais graves. Em Medicina Veterinária, tanto os tranquilizantes maiores como os menores
são  usados  principalmente  para  a  contenção  química  dos  animais  e  na  pré­anestesia,  além  de  transtornos
comportamentais (ver Capítulo 16), porém, como têm características farmacológicas bastante diferentes, serão
apresentados, a seguir, em separado.
Tranquilizantes maiores
Esses medicamentos são também denominados antipsicóticos, pois são empregados em seres humanos para
tratar,  entre  outros  transtornos  mentais,  as  psicoses  e  a  esquizofrenia.  Como  produzem  também  efeitos
colaterais  neurológicos,  são  também  denominados  neurolépticos.  Essas  substâncias  bloqueiam  receptores
dopaminérgicos e produzem ataraxia (estado de relativa indiferença aos estímulos externos); portanto, podem
ainda ser denominados de ataráxicos. São também encontradas outras sinonímias: psicolépticos, psicoplégicos,
impregnantes e antiesquizofrênicos.
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Classificação
Os  tranquilizantes  maiores  em  uso  atualmente  são  classificados  em  vários  grupos,  conforme  sua  estrutura
química, sendo os mais tradicionais:
Derivados fenotiazínicos (clorpromazina, levomepromazina, acepromazina)
Derivados butirofenônicos (haloperidol, droperidol, azaperona)
Derivados tioxantênicos (tiotixeno, clorprotixeno)
Ortopramidas ou benzamidas substituídas (sulpirida, tiaprida).
Os  componentes  desses  grupos  diferem  quanto  à  capacidade  de  produzir  sedação  ou  outros  efeitos
colaterais  (hipotensão, efeitos hipercinéticos etc.) e, por  isso, em Medicina Veterinária, são usados apenas os
derivados fenotiazínicos e os butirofenônicos (Figura 14.1), os quais serão comentados a seguir.
Farmacocinética
Tanto  os  derivados  fenotiazínicos  como  os  butirofenônicos  são  absorvidos  pelo  trato  gastrintestinal  e  por  via
parenteral. Uma vez absorvidos, são amplamente distribuídos pelos  tecidos (principalmente  fígado, pulmões e
encéfalo),  sofrendo  diferentes  processos  de  biotransformação  (oxidação,  hidroxilação,  conjugação),  sendo
eliminados pela urina e também pelas fezes.
Efeitos terapêuticos e colaterais
Os tranquilizantes maiores atuam seletivamente em algumas regiões do sistema nervoso central (SNC): núcleos
talâmicos, hipotálamo, vias aferentes sensitivas, estruturas  límbicas e sistema motor;  também são capazes de
atuar na periferia, afetando o sistema nervoso autônomo.
Inúmeras pesquisas  têm demonstrado que estes medicamentos  induzem alterações no  funcionamento da
neurotransmissão dopaminérgica; o mecanismo se estabelece por bloqueio do receptor pós­sináptico, tornando­
o  incapaz  de  responder  ao  neurotransmissor  endógeno,  a  dopamina,  presente,  em  particular,  nos  sistemas
nigroestriatal,  mesocortical  e  mesolímbico.  Atuam  também  em  receptores  dopaminérgicos  pré­sinápticos,  os
quais  são  responsáveis  pela  regulação  da  síntese  e  pela  liberação  do  neurotransmissor.  O  bloqueio  dos
receptores dopaminérgicos promove aumento da produção e da liberação da dopamina, na tentativa de vencer
o  bloqueio.  Este  efeito  faz  com  que  haja  um  incremento  na  degradação  enzimática  da  dopamina  e,
consequentemente, aumento na concentração dos metabólitos da dopamina cerebral (ácido homovanílico, HVA;
e ácido di­hidroxifenilacético, DOPAC), sem alterar os níveis de dopamina; ocorre, então, aumento na taxa de
renovação (turnover) do neurotransmissor.
O  bloqueio  dos  receptores  dopaminérgicos  do  sistema  nigroestriatal  é  responsável  pela  catalepsia  (i.  e.,
perda da motilidade voluntária, com rigidez espástica dos músculos, permitindo que os membros permaneçam
em  qualquer  posição  em  que  sejam  colocados,  por  tempo  indeterminado),  pela  abolição  de  estereotipia
(movimentos  que  se  repetem  compulsivamente  no  tempo,  sem  variação  e  aparentemente  sem  objetivo)
provocada por agonistas dopaminérgicos (como a apomorfina) ou por agentes liberadores de dopamina (como a
anfetamina)  e,  devido  ao  uso  prolongado,  no  ser  humano,  manifesta­se  a  síndrome  extrapiramidal
(caracterizada por alterações do psiquismo, da motricidade e das funções neurovegetativas).
O  bloqueio  dos  receptores  do  sistema  mesocortical  ou  mesolímbico  é  responsável  pela  atividade
antipsicótica e pelo antagonismo da toxicidade provocada pela anfetamina.
O  bloqueio  dos  receptores  dopaminérgicos  do  sistema  tuberoinfundibular  explica  a  hipersecreção  de
prolactina e algumas alterações endócrinas, como a diminuição da secreção dos neuro­hormônios hipotalâmicos
(TSH, ACTH, LH, FSH e ADH) e, ainda, hipotermia.
O centro emético, localizado na formação reticular lateral do bulbo, comunica­se por meio de fibras nervosas
com a  zona  deflagradora  dos  quimiorreceptores  que  apresenta  receptores  dopaminérgicos;  estes  podem  ser
bloqueados pelos neurolépticos, o que explica seu efeito antiemético.
Os neurolépticos produzem também um estado de indiferença aos estímulos do meio ambiente, sem efeito
hipnótico e sem perda da consciência. Estes efeitos são demonstrados experimentalmente em animais através
do  bloqueio  das  respostas  condicionadas.  Neste  sentido,  o  teste  da  esquiva  ativa  tem  se  destacado,  dentre
outros,  como modelo  comportamental  para  caracterizar  os  efeitos  dos  neurolépticos. Neste  teste,  o  animal  é
treinado  para  se  esquivar  do  choque  elétrico  nas  patas  toda  vez  que  é  emitido  o  som  de  uma  campainha
(resposta condicionada de esquiva), deslocando­se para o outro lado da gaiola. Por outro lado, sob o efeito de
um neuroléptico, o animal não manifesta o comportamento já aprendido de esquiva ao ser apresentado o som,
porém foge na presença do estímulo incondicionado (o choque elétrico nas patas); este último efeito mostra que
o neuroléptico não interferiu na resposta motora do animal, alterando apenas a resposta condicionada.
■   Figura  14.1  Estrutura  química  dos  fenotiazínicos  clorpromazina  e  acepromazina  e  das  butirofenonas
haloperidol e droperidol.
Outros efeitos deste grupo de agentes são: diminuição da agressividade dos animais; inibição das reações
vegetativas emocionais; potencialização dos efeitos dos hipnóticos, dos anestésicos gerais, dos opiáceos e dos
analgésicos  anti­inflamatórios;  e  diminuição  do  limiar  convulsivo  (favorecem o  aparecimento  das  convulsões).
Este  último  efeito  é  consequência  da  inibição  doespraiamento  da  convulsão,  causada  pelo  bloqueio  de
receptores catecolaminérgicos, favorecendo o aparecimento de convulsões.
Os  tranquilizantes  maiores  deprimem  os  centros  bulbares  cardiovascular  e  respiratório.  Poucos  efeitos,
porém,  são  observados  sobre  a  respiração,  enquanto  os  reflexos  vasomotores mediados  pelo  hipotálamo ou
tronco cerebral são deprimidos, resultando em queda da pressão arterial mediada centralmente.
Além  de  atuarem  em  receptores  dopaminérgicos  no  SNC,  os  tranquilizantes  maiores  podem  também
bloquear  não  só  receptores  noradrenérgicos  e  serotoninérgicos  centrais,  bem como perifericamente  exercem
efeitos  α­adrenolítico,  anti­histaminérgico  H1,  antisserotoninérgico  e  anticolinérgico.  Estes  efeitos  podem  ser
maiores ou menores, dependendo do medicamento.
No  sistema  cardiovascular,  seus  efeitos  são  complexos:  agem  diretamente  sobre  o  coração  e  os  vasos
sanguíneos  e  também  têm  efeitos  indiretos  por meio  de  ações  específicas  no  SNC  e  reflexos  autonômicos.
Assim,  causam  hipotensão  principalmente  por  bloqueio  alfa­adrenérgico  periférico  e  parte  por  ação  central,
levando  a  taquicardia  reflexa.  Promovem  queda  da  temperatura  corpórea;  em  parte  devido  a  vasodilatação
cutânea  e  em  parte  por  ação  nos  mecanismos  termorreguladores  do  hipotálamo.  Apresentam  efeito
antiarrítmico semelhante ao dos anestésicos locais por serem estabilizadores de membrana.
Efeitos tóxicos
Os  tranquilizantes  maiores  apresentam  alto  índice  terapêutico,  sendo,  portanto,  medicamentos  bastante
seguros. Os efeitos colaterais são  fundamentalmente extensões das várias ações  farmacológicas  já descritas.
Os mais importantes são os efeitos sobre o SNC, o sistema cardiovascular e o sistema nervoso autônomo. Os
efeitos extrapiramidais e os endócrinos têm pouca importância em Medicina Veterinária, porém são importantes
em Medicina Humana, em função, principalmente, do uso prolongado destes medicamentos como antipsicóticos.
Sobre o SNC podem produzir: sonolência, apatia, excitação paradoxal em animais predispostos, diminuição
do  limiar  convulsivo  e  hipotermia  com  participação  periférica;  sobre  o  sistema  nervoso  autônomo  promovem
hipotensão com taquicardia reflexa.
Em  equinos,  descreveu­se  a  ocorrência  ocasional  de  priapismo  ou  prolapso  do  pênis  após  o  uso  dos
derivados  fenotiazínicos,  em  particular  da  acepromazina.  A  duração  e  extensão  do  prolapso  peniano  estão
relacionadas com a dose. Em parte, este efeito pode dever­se ao relaxamento dos músculos retratores do pênis,
que são inervados por fibras nervosas adrenérgicas, as quais são bloqueadas pela acepromazina.
Contraindicações
A administração de epinefrina é contraindicada quando se faz uso dos derivados fenotiazínicos, uma vez que os
receptores  alfa­adrenérgicos  estão  bloqueados.  Quando  se  empregam  anestésicos  epidurais,  também  são
contraindicados, pois potencializam a atividade hipotensora dos anestésicos locais. Os tranquilizantes maiores,
por diminuírem o  limiar  convulsivo,  não devem ser usados para o  controle de  convulsões e nem em animais
epilépticos.
O  Ministério  da  Agricultura,  Pecuária  e  Abastecimento  (MAPA)  a  partir  de  2008  passou  a  monitorar  a
presença de resíduos de clorpromazina e acepromazina em produtos de origem animal (carne bovina, suína e
equina). Isso ocorreu porque as agências internacionais (como European Medicines Evaluation Agency, EMEA;
e Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives, JECFA) alertaram que os resíduos de clorpromazina na
carne dos animais têm risco potencial para a saúde do consumidor, pois podem causar hipotensão ortostática,
icterícia  obstrutiva,  leucocitose,  leucopenia  e  reações  dermatológicas  no  ser  humano.  Assim,  alguns  países
baniram o uso de clorpromazina em animais produtores de alimento e estabeleceram limite máximo de resíduos
(LMR) para outros, como azaperona e acepromazina.
Usos, posologia e especialidades farmacêuticas
Os tranquilizantes maiores em Medicina Veterinária são usados principalmente como medicação pré­anestésica,
como  potencializadores  da  analgesia  (neuroleptoanalgesia)  e  como  antieméticos.  Quanto  à  utilização  dos
antipsicóticos  em  transtornos  comportamentais,  estes  são  pouco  empregados,  uma  vez  que  com  sua
administração  visando  à  diminuição,  por  exemplo,  do  comportamento  agressivo,  observa­se  a  ocorrência  de
catalepsia (imobilidade com aumento do tônus muscular e postura anormal), enquanto os reflexos são mantidos,
inclusive aquele relacionado à mordida. Outro motivo que inviabiliza o uso dos antipsicóticos para o controle de
agressividade é o fato de que estes medicamentos, além de não causarem a supressão de respostas instintivas,
promovem a diminuição de  resposta aos  comportamentos aprendidos;  portanto,  o animal  sob o efeito destes
medicamentos mais rapidamente responde agressivamente ao estímulo ou à situação aversiva. Além disso, os
antipsicóticos  propiciam  o  aparecimento  de  sinais  extrapiramidais  devido  ao  bloqueio  de  receptores
dopaminérgicos,  sendo  comumente  observados,  nestes  animais,  tremores,  rigidez  muscular  e  alteração  da
locomoção.  Verifica­se,  ainda,  que  alguns  antipsicóticos,  particularmente  a  acepromazina,  podem  induzir  ao
aparecimento  de  crises  convulsivas  em  animal  suscetíveis,  como,  por  exemplo,  naqueles  que  apresentam
epilepsia.
O  Quadro  14.1  mostra  a  posologia,  para  diferentes  espécies  animais,  dos  tranquilizantes  maiores  e  as
respectivas especialidades farmacêuticas disponíveis no mercado.
QUADRO 14.1 Dose dos tranquilizantes maiores (doses para uso na pré­anestesia ou na contenção química
  
■
dos animais).
Tranquilizante maior Dose Especialidades farmacêuticas
Derivados fenotiazínicos
Acepromazina Cães e gatos: 0,03 a 0,1 mg/kg, IM, IV; 1 a 3 mg/kg, VO
Suínos: 0,03 a 0,04 mg/kg, IM, IV
Equinos: 0,02 a 0,1 mg/kg, IM, IV
Ruminantes: 0,05 mg/kg, IV; 0,1 a 0,4 mg/kg, IM
Acepran®,V Aceproven®,V Aceprovets®V
Clorpromazina Cães e gatos: 0,5 a 4 mg/kg, IV; 1 a 6 mg/kg, IM; 3 a 8 mg/kg,
VO
Suínos: 1 a 2 mg/kg, IM, IV
Equinos: 1 a 2 mg/kg, IM
Ruminantes: 0,2 a 1 mg/kg, IV; 1 a 4 mg/kg, IM
Amplictil®,H Clorpromazina®,H Longactil®H
Levomepromazina Cães e gatos: 1 mg/kg, IM, IV
Suínos: 1 mg/kg, IM, IV
Equinos: 0,5 a 1 mg/kg, IM
Ruminantes: 0,3 a 0,5 mg/kg, IV; 1 mg/kg, IM
Neozine®H
Derivados butirofenônicos
Azaperona Suínos: 2 a 8 mg/kg, IM Destress Injetável®,V Des-Vet®,V Suicalm®V
Droperidol Cães e gatos: 0,5 a 2 mg/kg, IV; 2 a 3 mg/kg, IM
Suínos: 0,1 a 0,4 mg/kg, IM
Inoval®,H* Nilperidol®H*
IM: via intramuscular; IV: via intravenosa; VO: via oral. *Associação com fentanila. HLinha humana. VLinha veterinária.
Tranquilizantes menores
São  denominados  também:  ansiolíticos,  calmantes,  psico­harmonizantes,  psicossedativos,  estabilizadores
emocionais e tranquilizantes.
O emprego de drogas com a finalidade de reduzir a ansiedade é há muito conhecido pela humanidade. De
fato, o álcool etílico (etanol) e o ópio são exemplos de drogas com efeito ansiolítico. No final do século 19 e início
do 20, surgiram os brometos e, dentre os barbitúricos, o fenobarbital, que foram usados com esta finalidade. A
história recente dos ansiolíticos inicia­se com o surgimento do primeiro derivado propanodiol, a mefenesina, que
foi empregada como miorrelaxante e tranquilizante muito antes da clorpromazina e da reserpina. Por causa de
seu efeito  fugaz e do pequeno índice  terapêutico, a mefenesina  foi substituída em meados de 1950 por outro
derivado propanodiol, o meprobamato. Nas décadas de 1950 e 1960 surgiram os derivados benzodiazepínicos,
que se tornaram bastante populares. Outros ansiolíticos têm surgido e dentre elesdestaca­se a buspirona.
Classificação
Os ansiolíticos em uso atualmente podem ser agrupados, conforme sua estrutura química, em:
Benzodiazepínicos (diazepam, clordiazepóxido etc.)
■
■
■
Buspirona
Bloqueadores beta­adrenérgicos (propranolol, oxprenolol)
Propanodiólicos (meprobamato, carisoprodol, clormezazona).
Destes, em Medicina Veterinária, são usados principalmente os benzodiazepínicos e, mais recentemente, a
buspirona  e  os  betabloqueadores  adrenérgicos.  Os  propanodiólicos  são  empregados  na  espécie  humana
visando a outros efeitos, além do uso como ansiolítico, como, por exemplo, descontraturantes da musculatura
esquelética.
Benzodiazepínicos
Os  benzodiazepínicos  possuem  efeitos  ansiolítico­tranquilizante,  hipnótico­sedativo,  anticonvulsivante,
miorrelaxante,  e  induzem  amnésia  e  alterações  psicomotoras.  Todos  os  benzodiazepínicos  induzem  esses
efeitos em maior ou menor grau, sendo a indicação clínica baseada na relação entre as intensidades relativas
desses  vários  efeitos.  Assim,  por  exemplo,  alguns  são  mais  empregados  visando  ao  efeito  ansiolítico­
tranquilizante e outros como hipnóticos na pré­anestesia.
Farmacocinética
Os benzodiazepínicos apresentam diferenças no início, na intensidade e na duração dos seus efeitos, as quais
são atribuídas, na maioria das vezes, às suas propriedades farmacocinéticas. Todos têm alta lipossolubilidade e
são  rapidamente  absorvidos  pelas  diferentes  vias  de  administração.  O  diazepam  e  o  clorazepato  são
rapidamente  absorvidos  pelo  trato  gastrintestinal,  com  rápido  início  de  ação,  enquanto  o  lorazepam  e  o
clordiazepóxido têm absorção e início de ação intermediário. Pela via intramuscular, a velocidade de absorção é
influenciada  por  outros  fatores;  por  exemplo,  o  diazepam  e  o  clordiazepóxido  apresentam  absorção  lenta  e
errática, com picos de concentração plasmática  inferiores aos obtidos após administração oral, possivelmente
devido à formação de precipitados no local da injeção. Já a absorção do lorazepam por via intramuscular é mais
rápida e completa; o midazolam, por ser hidrossolúvel, é rapidamente absorvido e bem tolerado, não causando
irritação no local da injeção.
Os benzodiazepínicos mais apropriados para o uso como ansiolíticos e anticonvulsivantes são aqueles que
atingem o pico plasmático mais lentamente, com declínio gradual da concentração, enquanto os mais indicados
como indutores do sono são os lipossolúveis, devido a seu rápido início de ação.
A  distribuição  dos  benzodiazepínicos  é  ampla  por  todo  o  organismo;  eles  atravessam  a  barreira
hematencefálica  e  alcançam  concentrações  fetais  semelhantes  às maternas,  bem  como  são  eliminados  pelo
leite materno. Ligam­se intensamente às proteínas plasmáticas.
As reações de biotransformação dos benzodiazepínicos são a dealquilação e a hidroxilação, com posterior
conjugação glicurônica, realizadas no microssoma hepático. Existem, entretanto, diferenças importantes entre os
diferentes  benzodiazepínicos  devido  ao  aparecimento  de metabólitos  ativos  (Quadro 14.2),  comuns  a  vários
deles, que prolongam a duração dos efeitos (Figura 14.2). A eliminação faz­se fundamentalmente pela urina em
forma de metabólitos conjugados com o ácido glicurônico, portanto inativos.
Efeitos terapêuticos
No SNC, os benzodiazepínicos agem fundamentalmente sobre o sistema límbico (septo, hipocampo, amígdala,
formação reticular) e também reduzem a atividade funcional do hipotálamo e córtex.
Foram descritas inúmeras modificações bioquímicas e eletrofisiológicas produzidas pelos benzodiazepínicos
em  várias  regiões  do  SNC.  Estudos  de  fixação  estereoespecífica  em  membranas  neuronais  identificaram
moléculas  que  podem  ser  consideradas  farmacologicamente  como  receptores  benzodiazepínicos.  Como  os
benzodiazepínicos  são  moléculas  artificiais  obtidas  por  síntese  laboratorial,  supõe­se  que  devam  existir
substâncias endógenas capazes de atuar fisiologicamente nos mesmos locais. Portanto, agentes tranquilizantes
ou  ansiogênicos  endógenos,  com  ações  respectivamente  como  agonista  ou  antagonista,  devem  existir  no
organismo animal para a regulação da ansiedade normal ou patológica.
Os  benzodiazepínicos  atuam  em  receptores  do  ácido  γ­aminobutírico  (GABA)  no  cérebro.  O  GABA  é  o
principal  transmissor  inibitório  do  SNC,  existindo  em  quase  todas  as  regiões  do  encéfalo,  embora  em
concentrações variáveis. Há  três  tipos de  receptores GABAérgicos: GABAA, GABAB  e GABAC. Os  receptores
GABAA e GABAC são receptores ionotrópicos, e o receptor GABAB é metabotrópico, isto é, é um receptor ligado
a  uma  proteína  G,  o  qual  abre  canais  iônicos  através  de  segundos  mensageiros.  Os  receptores  GABAA  e
GABAC estão acoplados aos canais de cloro, cuja abertura reduz a excitabilidade da membrana neuronal. Os
receptores GABAC têm distribuição mais localizada, estando mais concentrados na retina.
Os  benzodiazepínicos  são  considerados  agonistas  dos  receptores  GABAA,  assim  com  os  barbitúricos,  o
etanol, o mucimol, entre outros; são antagonistas desses receptores o flumazenil, a bicuculina e a picrotoxina.
Os  agonistas  de  receptores  GABAB  são  o  baclofeno  e  o  γ­hidroxibutirato  (GHB,  uma  droga  de  abuso);  o
faclofeno é um antagonista desses receptores.
QUADRO 14.2 Meia­vida, presença de metabólito ativo e dose dos benzodiazepínicos mais usados em
Medicina Veterinária.
Benzodiazepínico Meia-vida (h) No de metabólito
ativo (meia-vida
em horas)
Dose Especialidades
farmacêuticas
Alprazolam 11 a 16 0 Cão: 0,01 a 0,1 mg/kg, VO (ansiedade)
Gato: 0,125 a 0,25 mg, VO, a cada 12 h; ou 0,0125 a 0,025
mg/kg, VO, a cada 12 h (ansiedade)
Frontal®,
Tranquinal®, Apraz®
Clonazepam 18 a 50 0 Cão: 0,05 a 0,2 mg/kg, IV; ou 0,5 mg/kg, VO, 2 vezes/dia
(medicação adjuvante no tratamento de convulsões)
Rivotril®, Clonotril®,
Uni-Clonazepax®,
Clopan®
ClorazepatoLA –* 2 (5 a 100) Cão: 0,5 mg/kg, VO, 2 ou 3 vezes/dia (medicação adjuvante no
tratamento de convulsões)
Tranxilene®
DiazepamLA 20 a 70 3 (5 a 100) Cão: 0,2 a 0,6 mg/kg, IV (sedação); 1 a 4 mg/kg, VO, dividido 3
a 4 vezes/dia (convulsão); 0,1 mg/kg, IV (pré-anestesia)
Gato: 0,5 a 1 mg/kg, VO, diariamente (convulsão)
Bovino: 0,4 mg/kg, IV (sedação); 0,5 a 1,5 mg/kg, IM, IV
(convulsão)
Cavalo: 25 a 50 mg, IV (convulsão)
Suíno: 0,5 a 1 mg/kg, IM (tranquilização); 0,5 a 1,5 mg/kg, IM,
IV (convulsão)
Valium®, Diempax®,
Compaz®, Kiatrium®,
Episol®V
FlurazepamLA 2,3 2 (2 a 100) Cão: 0,2 a 0,4 mg/kg, VO, por 4 a 7 dias (alteração no
parâmetro de sono devido à ansiedade); 0,5 mg/kg, VO, a cada
12 a 24 h (estimulante do apetite)
Gato: 0,2 a 0,4 mg/kg ,VO, por 4 a 7 dias (alteração no
parâmetro de sono devido à ansiedade); 0,2 mg/kg, VO, a cada
12 a 24 h (estimulante do apetite)
Dalmadorm®
Lorazepam 10 a 20 0 Cão: 0,02 a 0,1 mg/kg, VO, a cada 8 a 24 h (ansiedade, fobias,
medo e aversão a outros cães)
Lorax®, Sedacalm®
Midazolam 1 a 5 2 (1 a 5) Cão e gato: 0,06 a 0,22 mg/kg, IM, IV (pré-anestesia)
Cavalo: 0,01 a 0,04 mg/kg, IV (pré-anestesia)
Dormonid®,
Dormire®, Dormium®,
Induson®
IM: via  intramuscular;  IV: via  intravenosa; VO: via oral. LAConsiderado de meia­vida  longa devido à  formação de metabólito ativo que prolonga o
efeito farmacológico. *O clorazepato é hidrolisado no estômago na sua forma ativa, o desmetildiazepam, que tem meia­vida de 30 a 100 h. VProduto
veterinário: associação com fenitoína.
■ Figura 14.2 Biotransformação e estrutura química de alguns benzodiazepínicos. Note que a biotransformação
do diazepam e do clorazepato dá origem ao oxazepam. Esses três benzodiazepínicos encontram­se disponíveis
no mercado.
O receptor GABAA é constituído de cinco subunidades simetricamente dispostas, formando um poro central
de  conduçãodo  ânion  cloreto  (Figura 14.3).  Os  benzodiazepínicos  ligam­se  em  locais  distintos  daqueles  do
GABA sobre oreceptor GABAA; enquanto locais de ligação do GABA estão situados entre as subunidades α e β,
os dos benzodiazepínicos estão situados entre as subunidades α e γ. Os benzodiazepínicos, ao se ligarem ao
receptor  do  GABAA,  abrem  o  canal  de  cloreto.  A  entrada  do  íon  para  dentro  do  neurônio  promove  a
hiperpolarização da membrana pós­sináptica, impedindo a passagem do estímulo nervoso.
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■ Figura 14.3 Receptor do ácido γ­aminobutírico do tipo A (GABAA), mostrando suas cinco subunidades (duas
α, duas β e uma γ). O local de ligação do GABA está situado entre as subunidades α e β, e o local de ligação
dos benzodiazepínicos está entre as subunidades α e γ.
Foram demonstrados quatro efeitos principais dos benzodiazepínicos, podendo haver predominância de um
ou mais deles:
Efeito miorrelaxante:  ocorre  sobre  a musculatura  esquelética  e  é  consequência  da  atuação  depressora
sobre os reflexos supraespinais, responsáveis pelo tônus muscular e por bloqueio da transmissão no nível de
neurônios intercalares. Agindo, também, sobre a formação reticular,  inibem os influxos hipertônicos através
do sistema gama medular
Efeito ansiolítico: ocorre em consequência da atuação no sistema reticular ativador que mantém o estado
de  alerta,  no  sistema  límbico  responsável  pelo  conteúdo  evocador  de  ansiedade  e  no  hipotálamo  que
organiza as respostas fisiológicas (manifestações vegetativas) à ansiedade. Há redução do comportamento
agressivo, quer aquele espontâneo, quer induzido
Efeito sedativo/hipnótico: alguns benzodiazepínicos produzem hipnose  importante devido à sua atuação
na formação reticular e no sistema límbico, diretamente relacionado com o ciclo vigília­sono
Efeito anticonvulsivante:  evitam as  convulsões  induzidas  quimicamente  (por  estricnina,  pentilenotetrazol
etc.) ou por lesões corticais.
Efeitos colaterais e tóxicos
Os benzodiazepínicos apresentam escassa  incidência de efeitos colaterais e, em particular, os  transtornos do
tipo extrapiramidal ou do sistema nervoso vegetativo, como aqueles que ocorrem com o uso dos antipsicóticos,
são excepcionais.
Os efeitos  indesejáveis mais  comuns são as ataxias e em alguns casos descreveu­se o aparecimento de
excitação paradoxal, provavelmente devido à desinibição, como aquela produzida pelo etanol, da agressividade
ou  hostilidade  latentes.  Em  especial,  o  diazepam  afeta  severamente  a  percepção,  podendo  propiciar,  por
exemplo,  quedas  em  gatos.  Ainda,  nesta  espécie  é  relatada  hiperatividade  paradoxal  em  algumas  raças,
aumento de vocalização e aumento de comportamento predatório. O aparecimento da amnésia foi constatado
com  o  uso  de  alguns  destes medicamentos,  sendo  este  efeito  benéfico  quando  se  considera  seu  uso  como
medicação pré­anestésica. Por outro lado, este efeito pode mascarar certos comportamentos aprendidos.
O  médico­veterinário  deve  lembrar­se  de  que,  embora  os  benzodiazepínicos  promovam  relaxamento
muscular, os animais são ainda capazes de responder de maneira agressiva, por exemplo, mordendo, quando
se sentirem ameaçados.
O diazepam, em particular, produz em felinos um quadro de necrose hepática idiopática, cuja causa é ainda
desconhecida.  Esta  alteração  é  observada  em  gatos  que  recebem  prolongadamente  baixas  doses  do
benzodiazepínico (administração por 7 dias ou mais) e, embora não tenha alta incidência, geralmente todos os
animais acometidos vêm a óbito.
Atualmente estão em discussão os possíveis efeitos teratogênico e carcinogênico dos benzodiazepínicos. Na
espécie humana, a ingestão materna de clordiazepóxido ou diazepam foi associada ao aparecimento de fenda
palatina. Portanto, deve­se evitar o emprego de benzodiazepínicos em animais destinados à reprodução.
Ainda,  deve  ser  destacado  que  os  benzodiazepínicos  causam  aumento  do  apetite  (ver  Capítulo  32)  e,
dependendo da situação, esse efeito pode ser considerado indesejável.
Antagonista.  Embora  os  benzodiazepínicos  tenham  alta  margem  de  segurança,  em  algumas  situações  os
animais  podem  ficar  expostos  a  doses  elevadas;  nestes  casos,  recomenda­se  a  utilização  de  flumazenil,  um
antagonista de receptores dos benzodiazepínicos (Lanexat®, Flumazen®), descoberto em 1981. Recomenda­se,
em cães e gatos, flumazenil na dose de 0,1 mg/kg por via intravenosa.
Usos, posologia e especialidades farmacêuticas
Os  benzodiazepínicos  em  Medicina  Veterinária  são  usados,  tanto  em  cães  como  em  gatos,  para  reduzir  a
ansiedade  geral,  bem  como  medos  e  fobias,  sem  que  haja  alteração  de  outros  comportamentos.  Estes
medicamentos,  no  entanto,  não  são  aqueles  de  escolha  para  reduzir  a  agressividade  (para  detalhes,  ver
Capítulo 16).
Os benzodiazepínicos, particularmente o diazepam, são a primeira opção para  tratamento de emergência
nas  diferentes  espécies  animais  em  status  epilepticus  (ver  Capítulo  13),  mesmo  em  cães,  nos  quais  este
benzodiazepínico  apresenta  meia­vida  muito  curta.  Os  benzodiazepínicos  são  também  empregados  para
promover miorrelaxamento de ação central, e, associados ou não, aos tranquilizantes maiores, são usados na
pré­anestesia.  Encontra­se,  ainda,  disponível  no  mercado  nacional  para  uso  em  Medicina  Veterinária,  o
zolazepam associado ao anestésico dissociativo  tiletamina, sendo comercializado com os nomes de Zoletil®  e
Telazol®.
Quando  o  emprego  do  benzodiazepínico  é  prolongado  e  a  terapia  com  estes medicamentos  não  é mais
requerida,  recomenda­se a  retirada gradual,  reduzindo­se a dose diariamente, em um  total  de 10 a 25% por
semana.
O Quadro 14.2  mostra  a  posologia  de  alguns  benzodiazepínicos  utilizados  em  Medicina  Veterinária.  Há
vários  outros,  porém  as  doses  ainda  não  foram  estabelecidas  para  animais,  como:  bromazepam  (Lexotan®,
Somalium®),  clordiazepóxido  (Limbitrol®,  associação  com  amitriptilina),  estazolam  (Noctal®),  flunitrazepam
(Rohypnol®) etc.
Buspirona
A buspirona é uma azapirona  (azaspirona, azaperona ou azaspirodecanodiona), sendo a única  representante
desse  grupo  comercializada  no  Brasil.  Em  seres  humanos,  a  buspirona  é  empregada  no  tratamento  da
ansiedade. A vantagem da buspirona em relação aos benzodiazepínicos inclui a ausência de efeito sedativo e a
sua  grande margem de  segurança. Por  outro  lado,  a  buspirona  deve  ser  administrada  por  no mínimo  1  a  2
semanas para se verificarem os efeitos benéficos.
A buspirona é rapidamente absorvida por via oral, mas sofre extensa biotransformação devido ao efeito de
primeira passagem, por processos de hidroxilação e dealquilação, formando, assim, diversos metabólitos ativos.
O exato mecanismo de ação da buspirona ainda não é  totalmente conhecido, no entanto, acredita­se que
seu  efeito  ansiolítico  seja  devido  a  sua  atuação  como  agonista  parcial  em  receptores  serotoninérgicos,  com
grande  afinidade  aos  receptores  5­HT1A:  nos  receptores  pré­sinápticos  somatodendríticos  (autorreceptores)
diminui  a  frequência  de  disparos  do  neurônio  serotoninérgico  pré­sináptico  e  nos  receptores  pós­sinápticos
compete  com  a  serotonina  por  esses  receptores  e,  consequentemente,  reduz  sua  ação.  Além  disto,  este
medicamento também atua em receptores dopaminérgicos (antagonista D2), mas acredita­se que este fato não
contribua  para  o  efeito  ansiolítico  deste  medicamento.  A  buspirona  não  atua  diretamente  em  receptores
GABAérgicos, no entanto, potencializa a ligação de benzodiazepínicos no seu receptor.
  
Quanto  aos  efeitos  adversos,  tem  sido  descritos,  em  seres  humanos,  bradicardia/taquicardia,  irritação,
distúrbios gastrintestinais, comportamento estereotipadoe cansaço.
Em Medicina  Veterinária,  a  buspirona  vem  sendo  empregada  principalmente  em  felinos,  em  quadros  de
ansiedade, como no  tratamento do comportamento de urinar  inapropriado  (aspersão de urina e marcação de
território) e também em quadros de agressividade entre felinos. Em cães, pode ser utilizado para o controle de
agressividade e da ansiedade.
A dose de buspirona (Ansitec®, Buspar®) indicada para cães é de 1 a 2 mg/kg, VO, a cada 8 a 12 h; para
felinos, recomenda­se administrar 0,5 a 1 mg/kg, VO, a cada 8 a 24 h.
Bloqueadores beta-adrenérgicos
O  mecanismo  de  ação  dos  betabloqueadores  é  descrito  em  detalhes  no  Capítulo  7.  A  utilização  destes
medicamentos, particularmente o propranolol (Cardix®, Propramed®; e como cloridrato de propranolol, Inderal®,
além de diversos medicamentos genéricos) e o pindolol (Viskaldix®, Visken®), se refere ao bloqueio de alguns
efeitos produzidos pela norepinefrina, neurotransmissor que é liberado em situações de medo ou de ansiedade.
Assim, estes betabloqueadores são utilizados em seres humanos para diminuir algumas manifestações de medo
e/ou ansiedade,  como  tremores, agitação,  taquicardia e alterações do  trato gastrintestinal. Em animais, estes
medicamentos vêm sendo empregados em situações de fobia ao barulho. Além deste efeito, os bloqueadores
beta­adrenérgicos, principalmente o pindolol, são utilizados em cães que apresentam comportamento agressivo,
uma vez que esta substância bloqueia receptores serotoninérgicos.
A dose recomendada de propranolol para cães é de 5 a 40 mg/kg, por via oral, a cada 8 h; para felinos a
dose é de 0,2 a 1 mg/kg, também por via oral, a cada 8 h. Em relação ao pindolol, indica­se a dose de 0,125 a
0,25 mg/kg, por via oral, a cada 12 h; não havendo dose deste betabloqueador indicada para gatos.
AGONISTAS DE α2-ADRENORRECEPTORES
Os  agonistas  de  receptores  α2­adrenérgicos  são:  xilazina  (Figura  14.4),  detomidina,  medetomidina,
dexmedetomidina  (enantiômero  dextrógiro  da medetomidina)  e  romifidina;  são mais  comumente  empregados
nas espécies  canina,  felina e equina. A  xilazina,  um medicamento  com propriedades  tranquilizante,  relaxante
muscular de ação central e analgésica,  foi sintetizada na Alemanha em 1962. É o membro mais antigo desta
classe de medicamentos usados em Medicina Veterinária. Os efeitos destes medicamentos são consequência
de  sua  atuação  como  agonistas  em  α2­adrenorreceptores  tanto  centrais  como  periféricos  e,  portanto,
apresentam  efeitos  farmacológicos  qualitativamente  similares. Os  α2­agonistas  podem  ser  classificados  como
sedativos hipnóticos, possuindo adicionalmente propriedades analgésicas e relaxantes musculares.
Farmacocinética
Dentre os componentes desta classe de medicamento, têm sido mais amplamente estudadas as características
farmacocinéticas da xilazina. Após a administração pelas vias parenterais, a xilazina é rapidamente distribuída
pelos vários tecidos, em particular o SNC, e biotransformada. Os ruminantes são mais sensíveis aos efeitos da
xilazina e especula­se que isto seja consequência da atividade de um ou mais metabólitos ativos formados por
estas espécies animais. A principal via de eliminação é a renal.
Em função da similaridade da estrutura química da xilazina com aquela da lidocaína, especula­se a respeito
do possível efeito anestésico local produzido pela xilazina.
  
  
■ Figura 14.4 Estrutura química da xilazina.
Efeitos terapêuticos e colaterais
Xilazina, detomidina, medetomidina, dexmedetomidina e romifidina são agonistas de receptores α2­adrenérgicos
localizados pré­sinapticamente, os quais, quando estimulados, impedem a liberação de norepinefrina através da
inibição do influxo de íons Ca++ na membrana neuronal. A estimulação destes receptores no SNC promove efeito
hipotensor  e  tranquilizante;  este  último  é  resultado  da  diminuição  da  atividade  da  projeção  noradrenérgica
ascendente da formação reticular. A participação da norepinefrina na modulação da dor é mais complexa, pois
envolve  outros  neurotransmissores,  como  a  serotonina  e  endorfinas;  sabe­se  que  a  norepinefrina  inibe
neurônios nociceptivos espinais, porém a origem anatômica da projeção noradrenérgica descendente ainda não
foi estabelecida.
Os α2­adrenorreceptores  centrais  são  similares  aos  periféricos,  porém na musculatura  lisa  vascular  estes
receptores têm localização pós­sináptica e, quando estimulados, promovem vasoconstrição.
Os efeitos sobre o SNC observados quando da administração dos agonistas de α2­adrenorreceptores são:
sedação, hipnose, relaxamento muscular, ataxia, analgesia, depressão do centro vasomotor e aumento tanto do
tônus vagal como da atividade dos barorreceptores. Os efeitos periféricos são caracterizados por: bradicardia;
bloqueio  cardíaco  de  segundo  grau;  inicialmente  aumento  transitório  da  pressão  arterial,  seguido  de  queda
moderada;  aumento  da  pressão  venosa  central;  redução  da  frequência  respiratória  e  do  volume  corrente;
relaxamento da musculatura do trato respiratório superior.
Outros  efeitos  dos  agonistas  de  adrenorreceptores  incluem:  diminuição  da  secreção  de  hormônio
antidiurético e consequente diurese aumentada; hiperglicemia; hipoinsulinemia; tanto aumento como diminuição
da motilidade gastrintestinal; aumento da resistência vascular e do consumo de oxigênio do trato gastrintestinal;
efeito  ocitócico  em  bovinos,  porém  não  em  éguas  prenhes;  salivação;  piloereção,  transpiração,  prolapso
peniano, tremor muscular leve e abaixamento da cabeça em equinos.
A xilazina exerce excelente efeito analgésico visceral, no entanto, deve­se considerar que o efeito analgésico
tem  duração  de  até  20  min  após  a  aministração  de  xilazina  ou  detomidina,  enquanto  o  efeito  sedativo  é
observado por maior período de tempo. Este fato tem relevância, pois ao se administrarem estes medicamentos,
após  um  determinado  período  de  tempo,  o  animal  pode  sentir  dor,  porém,  devido  aos  efeitos  sedativos  e
hipnóticos, este não consegue responder ao estímulo doloroso.
Antagonistas. Ioimbina (Yomax®, Libiplus®, Tonoklen®), tolazolina, atipamezol (Antisedan®, produto veterinário,
para uso em cães e gatos)) e piperoxam são antagonistas de α2­adrenorreceptores que podem ser empregados
em situações nas quais usou­se dose excessiva ou quando da ocorrência de complicações após a administração
de  doses  adequadas  dos  agonistas  de  α2­adrenorreceptores.  Alguns  clínicos  utilizam  esses  antagonistas  até
mesmo para obter uma recuperação mais rápida do animal.
Usos, posologia e especialidades farmacêuticas
Os agonistas de α2­adrenorreceptores são usados para a contenção de animais, promoção de analgesia e de
miorrelaxamento de ação central e como agente pré­anestésico. Estes medicamentos potencializam os efeitos
dos anestésicos de maneira mais  eficiente que os  tranquilizantes maiores  (neurolépticos);  podem ser  usados
isoladamente ou associados a outros medicamentos pré­anestésicos, a  fim de  reduzir  seus efeitos colaterais,
como, por exemplo, com os tranquilizantes maiores (acepromazina) e, ainda, na neuroleptoanalgesia.
Os  agonistas  de  α2­adrenorreceptores  diferem  entre  si  na  potência  e  duração  dos  efeitos.  O  início  dos
efeitos após a administração por via intravenosa é quase imediato (1 a 3 min), enquanto o início é de 3 a 5 min
após a administração por via  intramuscular. O pico do efeito sedativo ocorre aproximadamente 15 min após a
administração. A  intensidade  e  a  duração  dos  efeitos  são  dose­dependentes;  de modo  geral,  a  duração  dos
efeitos da xilazina varia de 30 a 60 min e da detomidina de 60 a 150 min. A medetomidina e a dexmedetomidina
tem  sido  indicada  para  cães  e  gatos,  sendo  a  primeira  cerca  de  20  vezes  mais  potente  que  a  xilazina.  A
romifidina é indicada para equinos;nesta espécie animal produz menos ataxia que os demais agonistas de α2­
adrenorreceptores e a duração dos efeitos é maior (de 40 a 80 min). O Quadro 14.3 mostra as especialidades
  
farmacêuticas e posologia desses medicamentos.
RELAXANTES MUSCULARES DE AÇÃO CENTRAL
Os  relaxantes musculares  podem  ser  de  ação  periférica  (estudados  no Capítulo  8)  ou  de  ação  central.  Este
último  grupo  determina  relaxamento muscular  transitório  e  reversível,  sem  deprimir  a  condução  nervosa  em
nível periférico, a  transmissão neuromuscular, a excitabilidade ou a contratilidade muscular. São utilizados no
tratamento do espasmo da musculatura, que se caracteriza por aumento nos reflexos de extensão e dolorosos
espasmos de músculos flexores. São várias as condições clínicas nas quais se verifica este quadro, tais como
no tétano, na intoxicação por estricnina, nas miosites, em entorse ou estiramento de ligamentos e, até mesmo,
na  ansiedade.  Esse  grupo  de  medicamentos  também  pode  ser  usado  como  medicação  pré­anestésica,
particularmente a guaifenesina.
QUADRO 14.3 Dose dos agonistas de α2­adrenorreceptores.
Agonista de α2-
adrenorreceptores
Dose Produtos veterinários
Xilazina Equinos: 0,5 a 1,1 mg/kg, IV; 1 a 2 mg/kg, IM
Bovinos: 0,03 a 0,1 mg/kg, IV; 0,1 a 0,2 mg/kg, IM
Ovinos: 0,05 a 0,1 mg/kg, IV; 0,1 a 0,3 mg/kg, IM
Caprinos: 0,01 a 0,5 mg/kg, IV; 0,05 a 0,5 mg/kg, IM
Suínos: 2 a 3 mg/kg, IM
Cães e gatos: 0,5 a 1 mg/kg, IV; 1 a 3 mg/kg, IM
Rompun®, Anasedan®, Dopaser®, Dorcipec®,
Virbaxyl®, Kensol®, Sedazine®, Sedomin®
Detomidina Equinos: 0,01 a 0,04 mg/kg, IV; 0,04 a 0,08 mg/kg, IM
Bovinos: 0,03 a 0,06 mg/kg, IV
Domosedan®, Eqdomin®, Dormiun V®
Medetomidina Cães: 0,03 a 0,04 mg/kg, IM
Gatos: 0,08 a 0,11 mg/kg, IM
Medetor®*
Dexmedetomidina Cães: 375 µg/m2, IV; 500 µg/m2, IM
Gatos: 40 µg/kg, IM
Dexdomitor®
Romifidina Equinos: 0,04 a 0,1 mg/kg, IV
Cães: 40 a 120 µg/kg, IV, IM, SC
Gatos: 200 a 400 µg/kg, IM, IV
Sedivet®*
IM: via intramuscular; IV: via intravenosa; SC: via subcutânea; VO: via oral. *Produto comercial não disponível no Brasil.
Para que se possa melhor entender o mecanismo de ação destes medicamentos é necessário conhecer o
funcionamento  das  estruturas  envolvidas  com  a  espasticidade  e  controle  reflexo  do  movimento  no  nível  da
medula espinal e periferia.
Bases anatomofisiológicas do arco reflexo
O  fuso  muscular  é  uma  estrutura  fusiforme  sensorial  complexa  dentro  do  músculo  que  serve  para  sinalizar
alterações  de  extensão  muscular.  Sua  terminação  sensorial  primária  (terminação  distal  de  fibras  nervosas
  
aferentes  mielinizadas)  está  envolta  por  fibras  musculares  muito  pequenas.  Estas  fibras  musculares  são
denominadas fibras musculares  intrafusais, para diferenciá­las das fibras extrafusais, que estão fora do fuso e
cuja estimulação produz a contração da musculatura (Figura 14.5).
Como  o  fuso  muscular  encontra­se  em  paralelo  com  as  fibras  extrafusais,  o  alongamento  da  massa
muscular, como um todo, é acompanhado por um estiramento do fuso muscular, produzindo impulsos nervosos,
os  quais  são  conduzidos  por  neurônios  aferentes  (Ia)  até  a  medula  espinal.  O  Ia,  no  nível  da  medula,  faz
sinapses com motoneurônios α e γ, os quais, por sua vez, fazem sinapse com as células de Renshaw e com as
células internunciais. As fibras eferentes motoras liberam acetilcolina (ACh) em suas junções neuromusculares,
nas fibras  intrafusais, exatamente como as fibras dos motoneurônios α fazem nas fibras extrafusais. Toda vez
que ocorrer  relaxamentode  fibras musculares  intrafusais,  isto  acarretará a geração de um potencial  de ação,
fazendo com que os motoneurônios α e γ contraiam as fibras musculares. O tônus muscular é a consequência
da descarga sucessiva e reiterada dos motoneurônios α, sendo o funcionamento destes regulado pela atividade
do sistema de motoneurônios do tipo γ, os quais regulam e sensibilizam a resposta do reflexo miotático (Figura
14.5).
Os  motoneurônios  a  fazem  ainda  sinapse,  no  nível  da  medula,  com  fibras  descendentes,  colinérgicas  e
dopaminérgicas, e esses dois sistemas promovem efeitos contrários e equilíbrio de efeitos em estado normal.
Assim, o predomínio de transmissão colinérgica produz hipertonia e rigidez muscular, ao passo que a dopamina
desempenha papel inibidor dos motoneurônios α, levando, consequentemente, ao relaxamento da musculatura.
Miorrelaxantes de ação central
Guaifenesina
A guaifenesina (guaiacolato de glicerila, éter glicerila guaiacol – comercializado apenas em outros países, com o
nome de Gecolate™) é um eficaz relaxante muscular, comumente utilizado com esta finalidade em equinos e,
com menos frequência, em cães, bovinos e suínos. Seu mecanismo de ação não está completamente elucidado;
acredita­se que a guaifenesina atue como agonista glicinérgico. Este neurotransmissor é encontrado no tronco
cerebral  e  na  medula  espinal  (células  de  Renshaw),  promovendo  hiperpolarização  pós­sináptica  nos
motoneurônios.
Os primeiros músculos  nos  quais  se  observa  o  relaxamento  são aqueles  dos membros,  ao  contrário  dos
respiratórios, que, em geral, não são afetados. Assim, opostamente aos bloqueadores musculares periféricos, a
guaifenesina  não  causa  relaxamento  do  diafragma,  podendo,  por  isso,  ser  utilizada  sem  a  necessidade  de
respiração artificial. Este relaxante muscular possui também, como vantagem, leve efeito analgésico e sedativo;
assim, a guaifenesina potencializa o efeito de medicação pré­anestesia ou anestésica.
■  Figura 14.5  Esquema  do  arco  reflexo:  (1)  fuso  muscular;  (2)  neurônio  aferente;  (3)  motoneurônio  α;  (4)
motoneurônio γ; (5) célula de Renshaw; (6) célula internuncial.
A guaifenesina é administrada preferencialmente por via intravenosa, podendo também ser administrada por
via oral. Normalmente este medicamento é associado, em concentração a 5%, à solução estéril de dextrose a
5% e administrado através de um cateter de grosso calibre (12 a 14 G). A solução de guaifenesina é estável;
entretanto,  pode  ocorrer  precipitação,  recomendando­se,  assim,  que  a  solução  seja  preparada  em  dextrose
aquecida, imediatamente antes do uso.
O fígado é o principal sítio de biotransformação da guaifenesina, onde sofre dealquilação, formando catecol,
e a seguir sendo conjugado a substâncias mais polares.
Diferentemente do que ocorre com os bloqueadores neuromusculares, a guaifenesina atravessa a barreira
placentária, podendo promover depressão de movimentos  fetais. Portanto, embora possa ser empregada em
gestantes, deve­se ter cuidado ao se administrar este medicamento em animais prenhes.
As  principais  indicações  para  o  uso  da  guaifenesina,  em  equinos,  são  na  pré­medicação  anestésica,  no
tratamento de tétano, na intoxicação por estricnina, na contenção química e ainda em manobras obstétricas. O
Quadro 14.4 apresenta a posologia da guaifenesina para diferentes espécies animais.
A guaifenesina apresenta ampla margem de segurança, ocasionando mínima depressão respiratória com as
doses  preconizadas.  O  uso  de  soluções  concentradas  de  guaifenesina  pode  causar  hemólise  intravascular,
sendo a extensão da hemólise proporcional à concentração do medicamento usado e não propriamente à dose
total empregada. Desta maneira, o fator limitante para o uso de guaifenesina, em animais de pequeno porte, é o
grande volume de solução que deverá ser infundido.
O principal efeito tóxico da administração de doses elevadas de guaifenesina é o aparecimento de violentos
espasmos de músculos extensores, seguindo­se um estágio semelhante à anestesia. A morte ocorre por parada
cardíaca, precedida ou não por parada respiratória.
Metocarbamol
O metocarbamol  (comercializado, porém não no Brasil,  com os nomes Methocarbamol™,Robaxin­V™) é um
eficiente relaxante muscular usado em equinos, cães e gatos, tendo como principal indicação a terapia da dor de
origem  muscular  esquelética,  como  na  miopatia  de  esforço,  espasmo  da  musculatura,  trauma  da  medula
espinal, inflamação em articulações, nas intoxicações por estricnina e por piretroides e no tétano.
O mecanismo de ação deste medicamento não está perfeitamente elucidado; acredita­se que o relaxamento
muscular se faça por ação específica nos neurônios internunciais, promovendo bloqueio prolongado nas vias de
reflexos polissinápticos.
A  dose  e  a  frequência  de  administração  do  metocarbamol  dependem  da  gravidade  do  processo  e  da
resposta do paciente. Para cães e gatos, em condições moderadas, recomenda­se a administração oral de 44
mg/kg, 3 vezes/dia. Em condições graves, recomenda­se a administração intravenosa do relaxante muscular, na
dose de 55 a 220 mg/kg. Em equinos, somente a IV é utilizada, recomendando­se, para condições moderadas,
a dose de 4,4 a 22 mg/kg e, em condições graves, como no tétano, a administração de 22 a 55 mg/kg.
QUADRO 14.4 Dose da guaifenesina, sozinha ou associada, para diferentes espécies animais.
Espécie animal Finalidade Dose (mg/kg) Associações (mg/kg)
Cães Indução de anestesia
Relaxamento da musculatura (no tétano ou
intoxicação por estricnina)
44 a 88, IV
110, IV
33 a 88 de guaifenesina + 1,1 de cetamina IV
Equinos Indução de anestesia 110, IV* 50 de guaifenesina + 2,2 de xilazina + 17 de
cetamina IV
Bovinos Indução de anestesia 66 a 132 44 a 88 de guaifenesina + 0,66 a 1,1 cetamina
IV
Suínos Indução de anestesia 44 a 88 33 a 88 de guaifenesina + 1,1 cetamina IV
Caprinos Indução de anestesia 66 a 132 33 a 88 de guaifenesina + 1,1 cetamina IV
IV: via intravenosa. *Administrar 1/3 ou 1/2 da dose total até que o animal se deite; deve­se administrar então o restante, observando se não há
alterações respiratórias ou cardíacas.
Os  principais  efeitos  colaterais  relacionados  com  as  doses  elevadas  de  metocarbamol  são  salivação
excessiva, vômitos, fraqueza muscular e  incoordenação motora. Não se recomenda o uso deste medicamento
na gestação; também não se indica o uso de metocarbamol injetável em animais com comprometimento renal,
pois  o  produto  nesta  apresentação  contém polietilenoglicol  300,  que,  em humanos  com doença  renal  prévia,
induz  ao  aumento  de  acidose  e  retenção  de  ureia.  A  injeção  perivascular  do metocarbamol  pode  promover
inflamação aguda e necrose.
Benzodiazepínicos | Diazepam
Foram discutidos anteriormente os efeitos miorrelaxantes dos benzodiazepínicos.
Baclofeno
O  baclofeno  (comercializado  com  o  nome  de  Lioresal®)  é  um  derivado  sintético  do  GABA,  atuando  como
agonista de receptores GABAB. Propõe­se que seu efeito relaxante muscular se faça em nível medular, atuando
nos  receptores  GABAB,  os  quais  desempenhariam  função  inibitória  pré­sináptica,  reduzindo  a  liberação  de
neurotransmissores excitatórios de neurônios aferentes da medula espinal.
O baclofeno é tão eficiente quanto o diazepam na produção de miorrelaxamento, entretanto produz menos
sedação, sendo este fator limitante para seu uso na pré­anestesia; por isto, em Medicina Veterinária, vem sendo
usado, basicamente, no tratamento de retenção urinária em cães. Outro inconveniente, quando da utilização do
baclofeno na clínica veterinária, é o fato de estar disponível somente por via oral.
Pouco  se  conhece  sobre  seus  efeitos  colaterais  nas  diferentes  espécies  animais  domésticas,  pois  são
escassos os estudos clínicos deste medicamento em animais domésticos. Recomenda­se que, quando houver a
descontinuidade de uso do medicamento, deve­se fazê­lo de maneira gradativa, pois alucinações e convulsões
foram descritas em humanos após parada abrupta do uso deste relaxante muscular.
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