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literatura brasileira

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Atividade 1: (Relacionada ao objetivo 1)
Como você deve estar começando a perceber, as Cartas Chilenas relatavam no âmbito
ficcional registros similares aos acontecimentos da Capitania de Minas Gerais.
Circulando anonimamente em Vila Rica, por que era escrita sob pseudônimo de Critilo?
DEIXAR 10 LINHAS
Resposta comentada
As Cartas Chilenas foram escritas em tom satírico e muitas vezes até com certa
agressividade. Devido à repressão na época, nomes foram trocados para não haver
perseguição ao autor da carta. Logo, Chile seria uma formar de dizer que era situado
naquele lugar (Vila Rica), assim como Cunha Menezes foi satirizado sob pseudônimo
Fanfarrão Minésio. Há também ao longo das cartas Joaquim Silvério dos Reis chamado
de Silverino, assim como é escrita por um tal de “Critilo”, que escrevia a Doroteu. Após
estudos realizados, Doroteu era pseudônimo de Cláudio Manuel da Costa, amigo que
recebia as cartas de Critilo, ou Tomás Antônio Gonzaga.
Atividade 2: (Relacionada ao objetivo 2)
Como você pode observar, a carta tem notável relevância no âmbito da literatura. Nesse
gênero é possível fazer a passagem do “eu” para o “ele”, embora alguns críticos
discutam sobre o que pode permanecer do narrador ainda que não esteja mais
escrevendo em primeira pessoa. Como base nesse aspecto, o que seria o
“desnudamento
do eu” citado por Antonio Candido nas Cartas Chilenas?
10
DEIXAR 6 LINHAS
Resposta Comentada
Critilo tinha uma severa reprovação ao escrever sobre seus governantes, no entanto,
essa
motivação se agravava quando a construção fictícia denominada carta passava a expor
também o lado pessoal remanescente do autor graças à motivação da escrita. Através de
um engajamento, desnudava-se o eu a partir do desabafo diante da sociedade. Nesse
certame, Gonzaga demonstrava seu interesse ao repercutir nas cartas desejos de
reforma, assim como nota Candido ao expor a “experiência mineira” do poeta.
Atividade 3: (Relacionada ao objetivo 3)
Através do que você acompanhou da Primeira Carta, Critilo demonstra toda reprovação
ao governador, primeiro comparando-o com o anterior, chamado de “benigno” perto do
19
que o atual vinha fazendo. Logo, propõe o nome de Fanfarrão ao governador, em tom
crítico-satírico, a começar por ridicularizar não somente suas ações políticas, mas
também as feições físicas do mesmo. Comente um trecho da Primeira Carta que faça
alusão à crítica ou à sátira ao governador:
DEIXAR 6 LINHAS|
Resposta comentada
A carta de Critilo dirigida a Doroteu aproveita-se do pseudônimo para maldizer o
governador, de uma maneira que seria pesada até mesmo nos dias atuais. Ressalta-se a
capacidade de detalhar as feições do governador, desde “olhadura feia” ao “nariz
grande”. Zombar era uma forma de se posicionar, agredindo o agressor através de
palavras, ainda por cima sem se identificar, para evitar qualquer tipo de retaliação do
mesmo.
Atividade 4: (Atende ao objetivo 4)
Na segunda carta, por que Critilo não consegue dormir? Aponte pelos menos dois
trechos exemplificando sua “insônia”:
DEIXAR 8 LINHAS
Resposta comentada
Critilo não consegue dormir, pois, após um dia intenso, a noite passa a ser um momento
de reflexão, mas também de percepção de que as coisas não andavam conforme
deveriam. Ao invés de sossego, Critilo escreve para Doroteu em tom de desabafo, uma
vez que o governador assumia uma postura ditatorial, tomando conta de tudo que
acontecia. Pela noite também ecoavam vozes dos perseguidores, mostrando que ao
invés de descanso, ressoava o medo de ser preso ou ferido, como na passagem da carta
que fala do estrondo dos carros e dos berros dos soldados, impedindo repousar em seu
leito.
FIM DA RESPOSTA
A partir da leitura da aula, você será capaz de responder às seguintes perguntas:
1. Como podemos observar o teor político nas Cartas Chilenas?
Segundo vimos na aula, há um cruzamento entre o campo literário com o não-literário,
e isso se dá, por exemplo, a partir do âmbito político. O direito de expor o
descontentamento com as atitudes políticas representam o almejo popular em se
manifestar, e o que aparentemente soa como literário, passa a se transformar em ideal,
não apenas um registro fictício, mas sim a composição de um cenário crítico capaz de
revelar o autoritarismo e a truculência de um governador, assim como a revolta de parte
da população na voz do autor da carta.
Como poderíamos relacionar as Cartas Chilenas com a quebra de decoro?
Não é de hoje que há o anseio por denunciar uma situação que se considera errada ou
incorreta. Conforme desenvolve-se nas Cartas Chilenas, Gonzaga promove, sob
pseudônimo Critilo, uma denúncia aos hábitos e costumes do Governante, chamado por
ele de Fanfarrão Minésio. Mesmo sem citar o real nome, decodificam-se as críticas
lançadas na carta com a realidade existente em Vila Rica, fazendo com que Gonzaga
permaneça preso pelo período de três anos. Embora pouca comprovação de
engajamento político, apenas o teor satírico das cartas tiveram peso de resistência e
rebeldia por parte Gonzaga, sendo acusado por zombar de uma autoridade, por mais
errada que ela estivesse.
As Cartas Chilenas, escritas por Tomás Antônio Gonzaga, formam um dos primeiros
registros de sátiras ao governo no período das Capitanias no Brasil. Através do uso de
pseudônimo, Gonzaga dá voz a Critilo, invocando Doroteu a uma discussão ante a
corrupção e ao autoritarismo truculento do governador vigente em Vila Rica, em Minas
Gerais. Sob o pseudônimo de Fanfarrão Minésio, Critilo zombava e satirizava do
governador Meneses e buscava, assim, reivindicar um governo mais justo no período da
inconfidência mineira. A república do Chile é o “fictício” lugar para que o autor não
fosse perseguido em sua própria terra natal, criando assim um dos principais registros
críticos no cerne literário brasileiro.
1- Na primeira parte, intitulada “O despertar do Romantismo no Brasil”, o crítico Antonio
Bosi cita que devemos ter cuidado para não cairmos em um reducionismo ao classificar
o Romantismo. Cite o porquê da seguinte afirmativa. (mínino de 5 linhas)
Resposta comentada: Segundo Bosi, o romantismo é complexo demais para
procurarmos uma definição instantânea. O gênero tem como característica uma
representação singular, e se procurarmos uma definição, podemos cair num
reducionismo. Então, podemos situar um recorte histórico da época para entendermos
qual era a situação de classes, o que era elucidado enquanto condição para vermos a
repercussão do movimento literário. Nota-se também que a ascensão da burguesia
modificou todo um cenário econômico, social e político, trazendo ao romantismo
sentimentos e contradições do seu tempo.
Atividade 2 – Atende ao Objetivo 2:
Na segunda parte, intitulada “Romance e romantismo”, há no romantismo brasileiro,
primeiramente uma herança portuguesa, e conseguinte, uma herança francesa. Disserte
sobre quais foram as diferenças entre ambas para a constituição do romance no Brasil
(mínimo de 6 linhas)
Resposta comentada: Segundo Antonio Candido, havia uma atmosfera de reivindicação
no Romantismo europeu, o que tardiamente se manifestou aqui no Brasil no âmbito
literário. O espírito reivindicador vinha da França, e a nossa consciência social se
desenvolveu com a denúncia da exploração portuguesa. A consciência literária, então,
recorre a essa “herança” exploradora, também conhecida como uma terceira margem do
mundo, uma vez que, para Jacobbi, Portugal já seria a segunda, levando a expressão
literária a se influenciar por uma “segunda Europa”.
Atividade 3- Atende ao Objetivo 3:
Na terceira parte, há uma discussão acerca das três fases. Aponte suas principais
diferenças. (mínimo de José de Alencar de 6 linhas)
Resposta comentada: O primeiro Alencar é marcado pelo heroísmo e pela galanteria,
como podemos ver, no personagem Peri. Essa primeira fase também é conhecida por ser
o Alencar dos rapazes, do triunfo heroico. Há também osegundo, o Alencar das
mocinhas, com questões sentimentais nos romances, tendo como pano de fundo as
festas na sociedade fluminense. As personagens femininas eram plenas, quase que
perfeitas, e a trama era desenvolvida através de um conflito amoroso. Por último,
surgem temas mais densos no terceiro Alencar, desenvolvidos a partir das divergências
entre sentimento e ascensão social. Os temas adultos prevalecem, até mesmo certo
erotismo e sexualidade entram em cena, sem perder a sutileza e a qualidade estética de
sua obra.
Como podemos ver, as referidas passagens sobre as fases de Alencar, ora representando
o heroísmo e a galanteria em romance cujo foco está em torno do homem e o ideal de
liberdade, ora como nos romances voltados para a figura pura feminina, cuja implicação
na obra geralmente não dá tom final à história, preenchem a terceira fase, com tons
adultos e focados em elementos pouco nobres ou heroicos. Essas fases dos “Alencares”
são marcas indeléveis do vigor que sua obra propõe no cenário do romance romântico
brasileiro, assim como “a percepção complexa do mal, do anormal, ou do recalque,
como obstáculos à perfeição e como elemento permanente na conduta humana.
(CANDIDO, A. 2009, p. 545). Suas múltiplas fases completam um nas outras,
compondo uma obra consistente capaz de abranger as mais diversas representações da
identidade nacional da sociedade brasileira de sua época. E como um clínico
anacronismo, sua obra tem força de representação até os dias atuais.
Resumo
Essa aula tem como objetivo identificar o contexto histórico situado na obra de José de
Alencar. Para tanto, sua obra ramifica em três fases, capazes de registrar a identidade
nacional, a sociedade burguesa e as tramas urbano-amorosas no Rio de Janeiro até a
temática indígena e regional. As fases de Alencar desenvolvem uma sólida e
diversificada obra, o que nos permite chamá-lo de “patriarca” do romantismo brasileiro.
Vamos nos deter mais nessa figura do albatroz. Leia o poema “L’albatros” de
Charles Baudelaire, publicado em 1857, e sua tradução:
L'albatros
Souvent, pour s'amuser, les hommes d'équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.
A peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l'azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d'eux.
7
Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau, qu'il est comique et laid!
L'un agace son bec avec un brûle-gueule,
L'autre mime, en boitant, l'infirme qui volait!
Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l'archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l'empêchent de marcher.
Fonte: BAUDELAIRE, Charles. Les fleurs du mal. In: BAUDELAIRE, Charles.
Oeuvres complètes. Paris: Robert Laffond, 1980.
O albatroz
Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.
Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.
Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico em cachimbo,
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!
O poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
A asa de gigante impedem-no de andar.
Fonte: BAUDELAIRE, Charles. O albatroz. Tradução de Guilherme de Almeida. In:
MAGALHÃES JÚNIOR, R. Antologia de poetas franceses do século XV ao século
XX. Rio de Janeiro: Gráfica Tupy, 1950.
Observe o que há de comum e diferente entre as imagens do albatroz nos
dois poemas “O albatroz” e “O navio negreiro” e redija um texto a respeito.
DEIXAR 15 LINHAS
Resposta comentada:
Espera-se que o aluno destaque, a partir da leitura dos dois poemas, a respeito da
figura do albatroz: 1) representa o poeta; 2) é a imagem de um ser majestoso; 3)
está em tensão com a figura dos homens do navio; 4) representa o poeta em uma
missão de beleza ou justiça, em “O navio negreiro”, conforme escreve Antonio
Candido no livro Formação da literatura brasileira: momentos decisivos, 1750-1880.
A respeito dos dois poemas, espera-se que o aluno destaque que: 1) a
presença do mar sugere imensidade, profundidade, abismo; 2) enquanto “O
albatroz” rompe com o mito do poeta com aura, “O navio negreiro” ressalta o lugar
elevado do poeta; 3) os poemas são criação de dois poetas contemporâneos; mas
enquanto Castro Alves é considerado um autor romântico, Charles Baudelaire é
considerado um dos precursores do Simbolismo e fundador da tradição moderna em
poesia.
CONCLUSÃO
Castro Alves ousou tocar em uma situação social iníqua que já não era
tolerada por muitos na sociedade que se tornava mais liberal e democrática. No
entanto, a confiança na República expressa no poema “O navio negreiro” mostrouse
um engodo. As consequências da escravidão ainda hoje estão presentes na
sociedade brasileira.
ATIVIDADE FINAL
(Atende aos objetivos 1, 2 e 3)
1. Castro Alves morreu antes de ver o Treze de Maio. Segundo Alfredo Bosi (1996,
p. 266), “[...] no dia seguinte à Lei Áurea, os escravos foram lançados à própria
sorte”.
Comente uma das obras de autores diferentes de Castro Alves citadas no texto
intitulado “Sob o signo de Cam”, ou outra do mesmo período, confrontando com a
esperança expressa na última estrofe de “O navio negreiro”.
Espera-se que o aluno redija um texto abordando uma das obras de Lima Barreto
ou Cruz e Sousa citadas no texto (Triste fim de Policarpo Quaresma, Recordações
do escrivão Isaías Caminha, Os bruzundangas e Clara dos Anjos de Lima Barreto e
“Emparedado” de Cruz e Sousa) enfocando as críticas presentes às instituições
como a República e o Exército, aos intelectuais negros, aos ideais republicanos e ao
nacionalismo ufanista, entre outras. O aluno deve citar trechos desses textos para
exemplificar a crítica contida no romance ou poema escolhido.
Leia atentamente o poema “África” do poeta moçambicano José Craveirinha
publicado no livro Xigubo, em 1964:
África
Em meus lábios grossos fermenta
a farinha do sarcasmo que coloniza minha Mãe África
e meus ouvidos não levam ao coração seco
misturada com o sal dos pensamentos
a sintaxe anglo-latina de novas palavras.
Amam-me com a única verdade dos seus evangelhos
a mística das suas missangas e da sua pólvora
a lógica das suas rajadas de metralhadora
e enchem-me de sons que não sinto
das canções das suas terras
que não conheço.
E dão-me
a única permitida grandeza dos seus heróis
a glória dos seus monumentos de pedra
a sedução dos seus pornográficos Rols-Royce
e a dádiva quotidiana das suas casas de passe.
Ajoelham-me aos pés dos seus deuses de cabelos lisos
e na minha boca diluem o abstracto
sabor da carne de hóstias em milionésimas
circunferências hipóteses católicas de pão.
E em vez dos meus amuletos de garras de leopardo
vendem-me a sua desinfectante benção
a vergonha de uma certidão de filho de pai incógnito
uma educativa sessão de “strip-tease” e meio litro
de vinho tinto com graduação de álcool de branco
exacta só para negro
um gramofone de magaíza
um filme de heróis de carabina ao vencer traiçoeiros
selvagens armados de penas e flechas
e o ósculo das suas balas e dos seus gases lacrimogéneos
civiliza o mau casto impudor africano.
Efígies de Cristo suspendem ao meu pescoço
em rodelas de latão em vez dos meus autênticos
mutovanas da chuva e da fecundidade das virgens
do ciúme e da colheita de amendoim novo.
E aprendo que os homens que inventaram
a confortável cadeira eléctrica
17
a técnica de Buchenwald e as bombas V2
acenderam fogos de artifício nas pupilas
de ex-meninosvivos de Varsóvia
criaram Al Capone, Hollywood, Harlem
a seita Ku-Klux-Klan, Cato Mannor e Sharpeville
e emprenharam o pássaro que fez o choco
sobre o ninhos mornos de Hiroshima e Nagasaki
conheciam o segredo das parábolas de Charlie Chaplin
leem Platão, Marx, Gandhi, Einstein e Jean-Paul Sartre
e sabem que Garcia Lorca não morreu mas foi assassinado
são os filhos dos santos que descobriram a Inquisição
perverteram de labaredas a crucificada nudez
da sua Joana D’Arc e agora vêm
arar os meus campos com charruas “made in Germany”
mas já não ouvem a subtil voz das árvores
nos ouvidos surdos do espasmo das turbinas
não leem nos meus livros de nuvens
o sinal das cheias e das secas
e nos seus olhos ofuscados pelos clarões metalúrgicos
extinguiu-se a eloquente epidérmica beleza de todas
as cores das flores do universo
e já não entendem o gorjeio romântico das aves de casta
instintos de asas em bando nas pistas do éter
infalíveis e simultâneos bicos trespassando sôfregos
a infinita côdea impalpável de um céu que não existe.
E no colo macio das ondas não adivinham os vermelhos
sulcos das quilhas negreiras e não sentem
como eu sinto o prenúncio mágico sob os transatlânticos
da cólera das catanas de ossos nos batuques do mar.
E no coração deles a grandeza do sentimento
é do tamanho cow-boy do nimbo dos átomos
desfolhados no duplo rodeo aéreo do Japão.
Mas nos verdes caminhos oníricos do nosso desespero
perdoo-lhes a sua bela civilização à custa do sangue
ouro, marfim, améns
e bíceps do meu povo.
E ao som másculo dos tantãs tribais o eros
do meu grito fecunda o húmus dos navios negreiros...
E ergo no equinócio da minha Terra
o moçambicano rubi do mais belo canto xi-ronga
e na insólita brancura dos rins da plena Madrugada
a necessária carícia dos meus dedos selvagens
é a tácita harmonia de azagaias no cio das raças
belas como altivos falos de ouro
erectos no ventre nervoso da noite africana.
Fonte: CRAVEIRINHA, José. Xigubo. 2. ed. Lisboa: Edições 70, 1980. p. 15-17.
18
Redija um texto comparando os poemas “África” de José Craveirinha e “O
navio negreiro” de Castro Alves. Cite os versos dos dois poemas para ilustrar seus
argumentos.
Espera-se que o aluno redija um texto citando versos dos poemas e
contemplando os seguintes pontos: 1) a valorização da natureza e de suas forças
telúricas nos dois poemas; 2) a visão da África como a de um conjunto, um cosmo. A
figura da África também é a figura da mãe, da nação que protege e dá vida. Nos dois
poemas, não há países distinguidos, com exceção do verso “o moçambicano rubi do
mais belo canto xi-ronga”, do poema “África”, em que o eu lírico valoriza um lugar
determinado, Moçambique; 3) a atuação política e o julgamento ético feito pelos dois
poetas expressos nos poemas interpretados; 4) a presença forte e poética do mar:
caminho da escravidão, segundo o poema de Castro Alves, ou caminho da
escravidão e da libertação, segundo o poema de José Craveirinha; 5) o vocabulário
usado nos poemas como expressão da cultura, do tempo e do lugar em que os
poetas viveram; 6) temática negra como novidade na poesia brasileira do século XIX
e na poesia que se rebelou contra o domínio português nos países africanos.
19
RESUMO
Segundo Alfredo Bosi, Castro Alves é um dos maiores poetas brasileiros. Sua
poesia participante representa o que há de melhor em crítica social além de
contribuir para a existência de outros gestos abolicionistas.
O poema “O navio negreiro” visto aqui ressalta as qualidades de um poeta
romântico comprometido com as questões políticas e sociais. O poema também põe
em relevo o estilo vibrante de Castro Alves, sua maestria em usar as metáforas,
hipérboles e antíteses e sua opção em usar uma natureza magnificada para reforçar
sua mensagem.
A interpretação do poema “Vozes d’África” feita por Alfredo Bosi (1996), no
texto citado “Sob o signo de Cam”, esmiúça as várias referências feitas pelo poema
que indicam a erudição do jovem Castro Alves. É interessante ler o texto e
completar com pesquisa a respeito dessas referências.
ATIVIDADES
1) Após estudo de textos críticos citados durante as aulas (por exemplo, de Merquior, de
Bosi, Lúcia Miguel Pereira, etc), identifique as qualidades que considera definitivas
para o romance realista e para o romance naturalista.
2) Ao ler textos de História, indicados durante as aulas, o tema da ciência é tratado em
sua dimensão social, mostrando o quanto a vacina, por exemplo, atingiu em cheio as
crenças e os preconceitos dos populares. Em sua opinião, a ciência conseguiu
ultrapassar as barreiras dos preconceitos? Comente.
3) A linguagem dos romances de Aluísio Azevedo primam pela descrição, em prejuízo
da narração. A descrição favorece a compreensão do ambiente social e também do
psicológico. Dos trechos citados dos romances, destaque um que exemplifique essa
afirmação, e, depois, comente.
ATIVIDADE 1
(Atende ao objetivo 1. Reconhecer algumas características da poesia modernista)
O estudo do vocabulário do poema “A meditação sobre o Tietê” é uma fonte
para se conhecer as opções estéticas e ideológicas do grupo modernista. As figuras
de linguagem também. Uma delas é a prosopopeia “[...] que consiste em atribuir
vida, ou qualidades humanas, a seres inanimados, irracionais, ausentes, mortos ou
abstratos. Espécie de humanização ou animismo, pode dar-se de vários modos”
(MOISÉS, 2004, p. 374). Identifique e comente as ocorrências de prosopopeia no
poema.
DEIXAR 10 LINHAS
Resposta comentada: Espera-se que o aluno destaque que a prosopopeia modifica
o sentido das palavras rio e águas, contribuindo para aproximá-las da imagem dos
seres humanos, como nos casos em que se observa essa figura de linguagem: na
segunda estrofe: “peito do rio”; águas” que “se aplacam / Num gemido”; na terceira
estrofe: “Sarcástico rio”; e outros exemplos. Também outras palavras têm seu
sentido modificado pela prosopopeia como “mãos que me traem” na quarta estrofe;
ondas que “cantam” na sétima estrofe; “cauda de pavão, tão pesada e ilusória” na
décima sexta estrofe. Na décima terceira estrofe, os peixes têm características
humanas em um recurso à prosopopeia.
CONCLUSÃO
Os poemas vistos aqui trazem, em dois momentos diferentes de produção, a
novidade e o engajamento da escrita modernista. Revelam, especialmente, uma
poesia social e de circunstância, como definiu o próprio Mário de Andrade em carta a
Henriqueta Lisboa:
Pra esclarecer, eu acho que não se deve chamar de poesia ‘social’ a que
tem preocupações com a coletividade . Porque toda poesia, toda obra-dearte
é ‘social’, porque, mesmo se preocupando exclusivamente com as
reações pessoais do artista, interessa à coletividade. Muito embora não
cante, não se preocupe com a coletividade. O que em geral andamos por aí
chamando de poesia social, é poema de circunstância, é arte de combate
(ANDRADE, M., 2013, p. 42).
Essa preocupação social diferenciou a obra de Mário de Andrade e
influenciou seus contemporâneos e outros escritores. Especialmente, em “A
meditação sobre o Tietê”, há uma reflexão sobre o ato de escrever que escancara as
tensões entre o poeta, seus temas e sua arte que pertencem à coletividade citada.
ATIVIDADE FINAL
(Atende aos objetivos: 1. Reconhecer algumas características da poesia modernista;
2. Identificar a influência do Modernismo na poesia contemporânea)
Torre de marfim:
"Expressão bíblica (Cântico dos cânticos, 7, 4), posta em uso literariamente por
Sainte-Beuve, em 1835, para designar a atitude quimérica, aristocrática, idealista,
egocêntrica e melancólica de certos poetas, como, por exemplo, Vigny.
Difundida largamente pelo século XIX, a expressão acabou por avizinhar-se da ‘arte
pela arte’, sinalizando a recusa do escritor em participar das controvérsias de vária
ordem que agitam o ambiente social à sua volta. Virado totalmente para a sua obra,
num egotismo marcado de sofisticação e requinte estético, não se compromete com
as lutassociais, em especial de feição política: concentra-se exclusivamente na sua
arte, apurando-a ao extremo da sutileza estética. Encerrado na sua torre de marfim,
vislumbra a produção do seu artefato literário como o destino máximo que a vida lhe
reservou.
A expressão ‘torre de marfim’ acabou adquirindo sentido pejorativo: aponta a
indiferença do artista e do escritor em relação às pugnas socioeconômicas e o
desdém por todas as formas estéticas de ação sobre o meio circulante” (MOISÉS,
2004, p. 448).
Observe que no poema “A meditação sobre o Tietê”, há várias passagens que
demonstram que seu autor não se isolava em uma torre de marfim. Inclusive, há a
26
alusão às torres da ponte das Bandeiras. Analise a posição do eu lírico em relação
a essas duas torres. Ele é protegido por elas? Elas são um elemento que o
envolvem ou que fazem parte dele? Quais são os versos dos poemas vistos – “Dois
poemas acreanos” e “A meditação sobre o Tietê” – que atestam que Mário de
Andrade não se refugiava em uma torre de marfim?
Resposta comentada: Espera-se que o aluno perceba que Mário de Andrade tem
uma posição crítica em relação ao motivo da torre de marfim. O poema “A meditação
sobre o Tietê” expressa as tensões de um indivíduo burguês, de um poeta
“humano”, impedido de ter a “fama das tempestades do Atlântico”, “melancólico e
frágil”, “engruvinhado” (encarquilhado) e outros exemplos.
O mesmo pode ser observado no conjunto de poemas “Dois poemas
acreanos”, que mostra o poeta como um ser que tem dúvidas ou se sente miserável
por não conhecer o outro, como uma pessoa comum que joga boxa e tem dívidas
financeiras, ou que deseja se aproximar do outro embora não consiga.
FIM DA ATIVIDADE FINAL
RESUMO
Nesta aula vimos três poemas de duas fases diferentes de Mário de Andrade.
Embora separados no tempo, os dois primeiros escritos no auge do movimento
modernista e o terceiro, após o poeta já ter realizado uma avaliação do Modernismo,
esses poemas trazem igualmente preocupações sociais do autor com críticas à
exclusão social e a abordagem de temas brasileiros, não só paulistas. Nos poemas,
há uma necessidade do eu lírico aproximar-se do objeto criado no texto: a imagem
do seringueiro ou a do rio.
Neles se percebem as inovações que marcaram o movimento modernista.
Podem-se ressaltar as características do movimento como a liberdade em relação à
métrica e à rima, o uso de vocabulário e sintaxe populares, a sintaxe e a sonoridade
próximas da prosa, a preocupação com temas do cotidiano, a ironia, as
onamatopeias, o uso de reticências.
O poema “A meditação sobre o Tietê” não foi inteiramente transcrito neste
texto. É interessante que você o leia por inteiro, chegando às suas próprias
conclusões, meditando sobre a literatura e fazendo a atividade final proposta.

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