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ARTIGO Karl Barth e a Teologia Dialética: Apontamentos acerca da Teologia da Palavra. Daniel Veras Leví 1 Joana Lima Brito Rogério de Souza Lemos Melk dejanir Gomes de Oliveira 2 RESUMO Karl Barth, teólogo protestante suíço nascido em Basiléia, conhecido como o criador da teologia dialética do século XX. Obteve como critério transcendente não a razão ou a estética, e sim, a Palavra de Deus testemunhada nas Escrituras Sagradas, tendo Jesus, entendido como a encarnação de Deus, como chave hermenêutica. O percurso na pesquisa nos permite entender que continuamente a teologia perde a noção do caráter transcendente e extraordinário da revelação, palavras humanas são aceitadas como divinas, e isso não acontece sem causar danos à fé cristã. A teologia de Barth apresenta um grande serviço ao focar a transcendência da Palavra de Deus a todas as palavras humanas, a despeito de se servir delas dialeticamente para se comunicar, ela as transcende e as põe em crise, porque é perfeita e eterna enquanto as teologias, as filosofias, as éticas e as políticas são imperfeitas e incompletas. Assim, a comunidade cristã deve estar ciente de que se ele quer ser fiel ao seu chamado, ela jamais poderá se alinhar automaticamente a qualquer credo e partido político e ideológico, senão ao Evangelho. É desta maneira que o teólogo Barth compreende a fé cristã na respectiva teologia, aprimorou-se e procurou através da palavra de Deus demonstrar o quanto a fé cristã é verdadeira, eterna e essencial. Palavras-chave: Fé, Karl Barth, Teologia. 1 INTRODUÇÃO Karl Barth é um dos maiores teólogos da história da Igreja cristã. Sua teologia tem sido alvo de ataques de diferentes posições teológicas, seja de linha mais fundamentalista seja liberal. É o mais rico e produtivo desde Lutero, Calvino e Tomás de Aquino. Karl Barth é considerado conservador na Europa e liberal nos Estados Unidos e nos países onde o imperialismo norte-americano cumpre poder e autoridade. Ainda que educado sob a influência dos mais renomados teólogos do liberalismo europeu, entrou em crise quando seus antigos professores traíram sua confiança ao aprovar a política beligerante do Kaiser Guilherme II, que fez a Alemanha entrar em guerra em 1914. Este artigo leva-nos ao interesse de responder a perguntas de forma mais abrangentes e imediatas possíveis, como: Por que Karl Barth? O que o levou a defender a fé cristã? E em meio as 1 Acadêmico (s) do Curso de Ciências Teológicas da Faculdade Boas Novas (FBN). 2 Acadêmico (s) do Curso de Ciências Teológicas da Faculdade Boas Novas (FBN). 2 respostas analisar a fé cristã segundo Barth. Compreendendo seu caminho através de suas histórias de vida e seus pensamentos sobre o que realmente seria a teologia. Baseado então nesses fatores, o trabalho atual conta um pouco sobre a jornada de Karl Barth, coletada através de pesquisas publicada em blogs e sites da internet. Barth ao lado de outros grandes teólogos do século XX, buscou compreender a importância da teologia para a Igreja. É um componente daquele grupo de teólogos que não se pode compreender isoladamente. Sua influência se distende a múltiplos seguimentos da teologia entre as grandes guerras e depois, no pós-guerra. 2. KARL BARTH Karl Barth foi um dos maiores pensadores protestantes no século XX, teólogo de confissão calvinista, nasceu no dia 10 de maio de 1886 em Basel, Suíça. Foi civilizado em um ambiente onde havia pastores conservados e seus pais eram religiosos. Estudou em Berna, Berlim, Tuebingen, Marburgo. Teve como influências acadêmicas Kant, Hegel, Kierkegaard e teólogos como Calvino, Baur, Harnack e Hermann. Ainda Jovem, em 1911 esteve vinculado ao protestantismo liberal antidogmático e modernista de Adolf von Harnack (1851-1930), invertendo a seguir sua posição. Foi no período de 1911 à 1925 que começou a pastorear, em uma igreja pequena no interior da Suíça. Barth nessa época tinha como grande desafio, o que pregar em cada domingo, durante essa jornada conheceu um amigo essencial que o acompanhou em suas reflexões teológicas, Eduard Thuneysen. Mediante isto, em 1914, Barth e Thuneysen decidiram buscar uma resposta ao desafio da pregação. Foram quatro anos de estudo, onde Barth estudou Paulo e Thuneysen Schleiermacher. Como consequência desses estudos, Barth Publicou seu Comentário à Epístola aos Romanos no ano de 1919, que teria uma segunda edição praticamente reformulada em 1922. A Carta aos Romanos é considerada o texto mais representativo da teologia dialética, foi nela que Barth enfatizou a transcendência de Deus, Deus como “absolutamente outro”, a “distinção qualitativa infinita” entre Deus e o Homem. Desde então a teologia passou a ser o estudo da Palavra de Deus, não um estudo de filosofia ou experimento religioso. Barth Pastoreou um tempo em Genebra e em Safenwil e a partir de 1921 ensinou teologia em Goettingen, universidade alemã; na de Muenster, em 1925 e na de Bonn, em 1930. Por ter uma atitude anti-nazista, em 1935, foi obrigado a refugiar-se em Basiléia por Hitler e também foi professor na universidade do local até 1961. Karl Barth em conjunto a E. Brunner, J. Moltmann, R. Bultmann, F. Gogarten e outros, fazem parte da chamada “teologia dialética” ou “da crise”. 3 Barth nomeou um movimento chamado Barthismo, que indica uma total e coerente adesão à Palavra de Deus, paralela ao objetivismo da revelação bíblica e ao fato histórico da encarnação, contra o imanentismo da cultura moderna geral e em particular do “protestantismo liberal”. Em 1768 à 1834, buscou renovar a teologia desligando-a da tradição fideísta de Schleiermacher, para recoloca-la na reforma do século XVI. A teologia de Barth recebe nomes diversos como: Teologia da crise, teologia dialética, teologia Kerigmática e teologia da Palavra. É contra a cultura do Romantismo e do Iluminismo, rejeitou a afinidade entre Deus e a criatura, para destacar a transcendência divina, aconselhando que somente é válida a via negativa de acesso a Deus, de acordo com a expressão de Kierkegaard sobre a infinita diferença qualitativa entre o tempo e a eternidade. Com o destaque da transcendência divina abriu amplo espaço entre Deus e o homem. Desamparado o homem existencialmente a si mesmo, não tendo senão a fé como caminho para o alto. Cristo é o intermediário, como se diz na Epistola aos Romanos, e muito falada por Bart. Karl Barth faleceu em dezembro de 1969, mas sua doutrina está presente em seus numerosos discípulos e em sua valiosa e ampla obra escrita, como seu monumental Die Kirchliche Dogmatik (10 volumes, 1955) e o Comentário à Epistola aos Romanos (1919); Humanismus (1950), e várias outras. 3. KARL BARTH E A FÉ Fé significa experimentar, conhecer, ser objeto da auto revelação de Deus. A fé é também uma decisão. Barth compreendia a fé como um salto, uma razão superior, que se origina na revelação, uma herança da influência de Soren Kierkegaard. Tendo escrito sua obra mais volumosa com este nome “Dogmática Eclesiástica” que ficou inacabada, Karl Barth era um defensor da Dogmática. Dogmática, significa uma dedicação ao estudo das doutrinas ou aos dogmas da igreja, antes da construção de sistemas especulativos ou próprios. Os teólogos liberais teriam diminuído a transcendência de Deus, com sua pretensão de tornar a fé conhecida com soluções do método histórico-crítico, da cultura e da filosofia. Barth rebateu a isto, assegurando que Deus é "o Totalmente Outro", sendo inútil tentar captá-lo com instrumentos humanos. Segundo ele, "Deus é o Deus desconhecido[…]. A nobreza de Deus sobre todos os deuses, a sua característica como Deus, como Criador e Redentor, está no fato de que nós não podemos saber nada de Deus, no fato de que nós não somos Deus, no fato de que o Senhor deve ser temido. Por isso, é autêntica a indisciplina contra o Deus que é fruto de uma religião que, como a liberal, transforma Deus em ídolo. Ela, porém, não atinge a Deus, mas somente 4 sua caricatura humana […]. Contra Zeus, o não-Deus que tomou o seu lugar, Prometeu revolta-se com toda razão". O Historiador do dogma, Adolf von Harnack, que tentava relacionar religião e cultura numa harmonia cientifica, impressionou Karl Barth fortemente e conseguiu permissão para frequentar seu seminário. Mas pode-se dizer que sua melhor influencia na época de 1908, foi Wilhelm Herrmann, professor de Barth. Era chamado por ele de “o mais piedoso teólogo liberal de seus dias”. Com ele aprendeu o conceito da “auto-pistia” da fé, por exemplo, a fé não precisa do suporte da ciência para sua legitimidade. Por causa desse pensamento liberal, que o professor Herrmann marcou a formação intelectual de Karl Barth. Afirmando desta forma “É o professor com que aprendi algo básico e fundamental”. A afirmação sobre a fé acendeu a suspeita da impossibilidade do conhecimento de Deus por meio do esclarecimento acadêmico. Neste ponto que começa a se estabelecer a diferença entre Barth e Harnack. Duas maneiras diferentes de falar de Deus. Nas cartas trocadas a partir de 1923, Harnack diz que a tarefa da teologia é como a tarefa da ciência em geral. E Barth, ao contrário afirma que a tarefa da teologia é a tarefa da pregação, pois ela consiste em tomar e passar adiante a Palavra de Cristo. O encontro tornou possível o diálogo entre duas tendências que passaram por uma profunda ruptura. As cartas trocadas entre os dois98, nesse primeiro período de correspondências, são ricas em desafios, declarações e clarificações. Ao romper com a teologia liberal, Barth abandonou de vez o método positivo aprendido com seus antigos professores. Sua dialética é kierkegaardiana, de oposição e negação de tudo que é humano. 4. TÓPICOS IMPORTANTES DA TEOLOGIA DE KARL BARTH Barth é considerado por muitos o responsável de ter causado uma mudança de paradigma no campo do conhecimento de Deus e da revelação divina. Resumidamente, a teologia de Karl Barth destaca a total transcendência de Deus. Deus é o único positivo, o ser. O homem, no entanto, da mesma forma que o mundo, é a negação, o não ser. Justamente por não ser nada, o homem não tem a possibilidade de auto redenção; nem ao menos de conhecer Deus, mas somente de saber que não o conhece. A teologia de Barth é, a teologia da palavra. Onde diz que revelação de Deus é o objeto da teologia. Que a iniciativa vem de Deus, que irrompe no mundo do homem através de sua revelação e palavra. Barth centra toda a sua atenção na revelação e palavra de Deus na Bíblia. 5 Barth diz que a palavra de Deus não é um objeto que nós controlamos como se fosse um corpo morto que podemos analisar e dissecar, é como um sujeito que nos controla e atua sobre nós, fazendo-nos reagir de um jeito ou de outro. O prezado teólogo vê a revelação de Deus na Bíblia como algo dinâmico, não estático. A Palavra de Deus é o acontecimento mediante o qual Deus fala e se revela ao homem através de Jesus Cristo. E como isto se torna realidade? A Bíblia, Palavra escrita de Deus, é a testemunha do acontecimento da Revelação de Deus. O Antigo e o Novo Testamento colocam Jesus Cristo como o “Cordeiro de Deus”, anunciado por João Batista. Por isso, desde seus primeiros anos como pastor, Barth teve sobre sua mesa a pintura de Grünewald em que João Batista mostra Jesus Cristo crucificado. A ênfase da teologia de Barth está na revelação de Deus em Jesus Cristo. A única palavra de Deus está em Jesus Cristo. Toda relação de Deus com o homem se dá em Cristo e através de Cristo. Em sua forma negativa, isto significa a exclusão da teologia natural. Positivamente, tudo deve ser visto e interpretado a partir de Cristo ou, empregando a expressão barthiana, a partir da “concentração cristológica”. O pecado original não pode ser entendido independentemente de Cristo. A fé também não é fruto de um raciocínio nem está fundamentada em um sentimento subjetivo. “Em Jesus Cristo não há separação do homem de Deus, nem de Deus do homem.” Hoje, através da Palavra proclamada, a Igreja é testemunha da Palavra revelada. Sua proclamação baseia-se na palavra escrita, a Bíblia. Deus serve-se desta palavra proclamada e escrita, e se transforma em palavra revelada de Deus, quando ele quer falar-nos através dela. Barth prega que “a mensagem da graça de Deus é mais urgente que a mensagem da Lei de Deus, de sua ira, de sua acusação e de seu juízo”. A teologia de Barth exerceu e continua exercendo uma influência decisiva na constante procura da palavra autêntica e verdadeira de Deus. Sua condição de “crente” que não invoca nenhum mérito diante de Deus é o melhor estímulo para os cristãos de todos os tempos. Produziu obra volumosa, ainda que sob poucos títulos:- Comentário à epístola aos romanos (1919);- O cristão na sociedade (1920);- A ressurreição dos mortos (1924);- A palavra de Deus e a teologia (1925);- A dogmática cristã (26 vols, 1932-1969);- A teologia protestante no século 19 (1947). 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Muitos cristãos evangélicos pensam que a teologia é um instrumento de destruição da fé. E os seminários teológicos para muitos virou lugar de desencanto, morte da fé e cria de inimigos da igreja local. Infelizmente, para muitos pertencentes à igreja de Jesus "teologia" tornou-se um termo 6 pejorativo. Mas, será que em toda a história de teologia sempre foi assim? O que houve do tempo dos "pais da igreja" ou dos reformadores até os nossos dias para que a fama da teologia estivesse tão em baixa? Quem já não ouviu a frase: "cuidado irmão, a letra mata viu!". Eu já escutei um seminarista me dizer: "rapaz, depois daquela aula de teologia, me deu vontade de ir num bar encher a cara". De certo modo, somos todos escribas, pois temos acesso a Bíblia, nós carregamos a Bíblia e reproduzimos cópias dela por todo o mundo. De fato Barth foi um revolucionário dentro do pensamento teológico do século XX, sua vida foi um exemplo para aqueles que querem exercer um fazer teológico, que de fato aproxime “vida e palavra”, suas obras ainda são fonte de inspiração a todos os pensadores teológicos que querem fazer da teologia um veículo de aproximação vital da revelação de Deus ao homem. A temática é bíblica e encontra-se nos profetas e também em vários escritores do Novo Testamento. A teologia como meio que promove, assessora e organiza a missão da Igreja tem uma função propedêutica em Barth. Não se parte dela para daí surgirem os caminhos para a tarefa cristã da Igreja no mundo. Primeiro se é comunidade, se experimenta a fé, se vive a relação com aquele que promove a esperança em meio às lutas. Para Barth a primeira comunidade cristã não foi aquela do Senhor com seus discípulos. É antes aquela em que Ele se solidariza com os dois ladrões e vive com eles uma comunidade de dor e sofrimento. Ele foi crucificado em meio aos malfeitores. Estamos vivendo o tempo da meia-luz de Romanos (13,12) “a noite está adiantada, o dia já está chegando.” É o tempo do “já e do ainda não”. (C. H. Dodd). É nesse contexto, da madrugada do tempo que a Igreja deve exercer seu ministério para o mundo. Barth nos conduz a deixarmos o moderno antropocentrismo para uma nova teocentricidade onde Jesus é o Senhor do tempo e da história.7 6. REFERÊNCIAS APOLOGETICA DEFESA DA FÉ, Disponível em <https://defesaapologetica.blogspot.com/2016/08/karl-barth-1886-1969.html> acessado em 24/07/2018 às 19:35 h; GOSPEL PRIME, Disponível em < https://artigos.gospelprime.com.br/karl-barth- marco-historia-pensamento-teologico/> acessado em 24/07/18 às 20:55 h; WIKIPÉDIA, Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia_de_Karl_Barth> acessado em 25/07/2018 ás 16:00 h; NORMAS E REGRAS. Disponível em https://www.normaseregras.com/normas-abnt/ acessado em 29 de novembro de 2018 ás 18:00 h.
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