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1 DIREITOS HUMANOS, DIREITOS FUNDAMENTAIS, GARANTIAS CONSTITUCIONAIS, DIREITOS NATURAIS Artigo apresentado à disciplina de Historia do Direito Brasileiro, ministrada pelo professor Nuno Miguel Branco de Sa Viana Rebelo aos alunos do primeiro período do curso de Direito. Stefano Moutinho, Kevin, Pablo, Wallid Belo Horizonte 08 Maio de 2019 2 DIREITOS HUMANOS, DIREITOS FUNDAMENTAIS, GARANTIAS CONSTITUCIONAIS, DIREITOS NATURAIS 1. Introdução O presente artigo versa sobre os direitos humanos, sua correlação aos direitos fundamentais, seu âmbito de cerceamento garantido na Constituição Federal e os direitos naturais inerentes à pessoa humana. Nesta seara, é válido salientar os conceitos dos ditames em questão, sua afetação prática e cotidiana na vida dos seres humanos e como tais direitos devem ser salvaguardados pela civilização, e se estão mesmo fazendo parte da vida em sociedade como um todo. Neste trabalho acadêmico ressalta-se, também, as importantes diferenças entre cada ditame de direitos, sejam eles humanos, fundamentais, naturais ou as garantias constitucionais. Embora seus conceitos possam parecer bastante análogos ou até mesmo repetitivos, é possível distingui-los quanto à origem e em que situações são empregados de forma prática. Além disso, a historicidade do surgimento destes conceitos é de suma importância para que se possa compreender o contexto de aplicabilidade e a necessidade que se tem de fazer valer o exercício de tais garantias que, apesar de terem eclodido em um momento específico, são atemporais e condizem com qualquer tipo de realidade. Ademais, a temática abordada também está intrinsecamente ligada à harmonização da dinâmica de convivência, não só entre indivíduos pertencentes a um mesmo meio social, mas também de todos os países do globo que se dispõem a compactuar com os princípios favoráveis à proteção da dignidade da pessoa humana e se afirmam como signatários da Organização das Nações Unidas, organização internacional defensora da paz e do desenvolvimento mundial. 3 2. Direitos Naturais Os Direitos Naturais nascem junto ao ser humano e são inerentes à sua natureza enquanto ser social dotado de manifestações de vontades, antes mesmo de se incubir de direitos e deveres frente aos seus semelhantes. Assim sendo, esses direitos não podem ser considerados uma concessão do Estado, e sim uma responsabilidade deste em assegurar e fazer dispor nas cartas legislativas. O direito à vida é uma exemplificação que deixa bastante clara a peculiaridade desse liame. Além deste, é válido citar também o direito à igualdade, liberdade, dignidade, dentre outros. Percebe-se, então, que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, apesar da tratativa essencialmente voltada aos direitos elencados em seu nome, oficializa tais direitos naturais como sendo humanos. Por direitos naturais, ou jusnaturalismo, considera-se que estes também se estruturam a partir de crenças e costumes difundidos por meio do senso comum e de conceitos universais (ao contrário do direito positivo que não é atemporal), a exemplo das concepções de paz e justiça. Isso porque o Direito Natural são imutáveis e advém de fontes diversas, sendo elas as leis divinas, as leis naturais e a razão própria do homem. De acordo com a concepção do célebre filósofo John Locke, todos os homens, desde o instante de seu nascimento, são contemplados pelos direitos à vida, à liberdade e à propriedade, sendo os governos criados com a finalidade de garantir esses direitos e salvaguardá-los da tirania. 3. Direitos Humanos Os chamados Direitos Humanos compreendem preceitos imprescindíveis à vivência do homem, e não só a sua mera vida propriamente dita, mas também sua sobrevivência com a dignidade preservada e com as necessidades básicas supridas, para assim ter possibilidades de conforto, prosperidade e, principalmente, bem estar em geral. 4 Nenhum direito humano possui maior relevância do que outro, todos estão em igual patamar de importância. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi o documento que elenca tais ditos e visa a salvaguardar os pré-requisitos da justiça, democracia e paz. 3.1 Declaração Universal dos Direitos Humanos A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi legitimada pela Organização das Nações Unidas e seus signatários em 10 de dezembro de 1948, ainda no contexto histórico do fim da Segunda Guerra Mundial, catástrofe que culminou na destruição mútua de vários países. Diante da situação devastada em que se encontrava o mundo, era clara a necessidade de se firmar alguma negociação, um pacto internacional, que fortalecesse a fraternidade, a amistosidade,, a democracia e a multilateralidade para evitar a ocorrência de outras guerras e promover a reconstrução pautada no cumprimento efetivo das garantias fundamentais. Em seus artigos, a Declaração considera, preponderantemente, a dignidade da pessoa humana, os direitos iguais e inalienáveis, a liberdade, a justiça e a paz no mundo. Além disso, ressalta-se também a liberdade de crença, o repúdio à tirania e à opressão, sendo tais preceitos de obrigação protecionista dos Estados membros das Nações Unidas, por meio de suas respectivas legislações as quais devem explicitar o comprometimento cumprimento e respeito aos aos direitos elucidados. Na declaração em epígrafe, vale ressaltar que o espírito fraterno foi destacado como sendo de extensivo a todos os seres humanos, sem exceção. Todavia, isso não quer dizer em momento algum que não deve haver justiça punitiva para aqueles que atentam contra as normas, sendo aplicáveis, com o direito de defesa e a presunção de inocência, contudo, a legislação pertinente e o julgamento imparcial, independente e com igualdade de qualquer indivíduo perante a lei. Ademais, a honra, a privacidade, o direito de ir e vir, a nacionalidade, o casamento e a família, a propriedade, a livre consciência, pensamento, expressão, 5 crença e religião também são defendidos, juntamente com o preceito da livre escolha legítima e democrática por sufrágio universal dos governantes responsáveis por fazer valer todas essas prerrogativas e garantir o acesso a elas. No entanto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos ainda não é concretizada em seu inteiro teor, pois nela são mencionados tópicos como condições justas e favoráveis ao emprego, remuneração satisfatória e compatível com o trabalho, proteção social, lazer, bem estar, saúde, educação, habitação, dentre outras atribuições condizentes com um padrão mínimo de sobrevivência razoável. Porém, nem sempre tais condições são providas por todos os países signatários das Nações Unidas, inclusive o Brasil, em meio a um cenário de alarmante desigualdade social e disparidade na distribuição dos recursos sem precedentes, o que obsta as possibilidades de desenvolvimento nesse sentido. 4. Direitos Fundamentais Os Direitos Fundamentais, por sua vez, são compreendidos como aqueles princípios positivados e reconhecidos no âmbito do Direito Constitucional e das respectivas cartas-magnas dos países. Tais direitos positivados são consequência das calamidades ocorridas na história mundial que desembocaram em experiências as quais demandaram reestruturação das legislações vigentes. Isso quer dizer que, devido ao cenário calamitoso que o planeta já vivenciou, começaram a surgir reivindicações a respeito de justiça e comprometimento com os direitos inerentes à vida digna da pessoa humana, sendo necessário oficializar a obrigação quanto aeles por meio da lei. Nesta conjuntura, os direitos fundamentais fazem jus a tal denominação a partir do momento em que um Estado reconhece, através de seu poder constituinte, os direitos humanos. De tal sorte, os direitos humanos com respaldo jurídico constitucional ganham ainda mais força por meio da norma e se tornam mais protegidos de certa maneira. Os Direitos Fundamentais possuem características próprias, quais sejam a imprescritibilidade, indivisibilidade, inalienabilidade, irrenunciabilidade, vedação ao 6 retrocesso, historicidade, interdependência, efetividade e universalidade. Também são eles invioláveis, complementares e de aplicabilidade imediata devido à sua constitucionalização. Cabe ressaltar que os Direitos Fundamentais subdividem-se em gerações, de acordo com a época de maior demanda de certos assuntos os quais receberam ênfase segundo sua consagração. Os direitos de primeira geração são aqueles individuais, os quais exigem menos intervenção do Estado e se aproximam da liberdade e direitos dos cidadãos, como os políticos e civis A segunda geração, por sua vez, compreende os direitos relacionados à igualdade, ou seja, a isonomia de todos dentro de todos no meios social no que concerne à coletividade, à cultura e à economia. Já os de terceira geração está relacionada à fraternidade e à proteção do ser humano por meio da solidariedade, do progresso e desenvolvimento autodeterminante dos povos, além da preservação da propriedade e do patrimônio. Há de se falar em uma quarta e última geração de direitos, embora não reconhecido com unanimidade pelos pensadores, sendo tal rol composto pela democracia e pluralismo de informações advindas do contexto da globalização política. 4.1 Diferença entre Direitos Humanos e Direitos Fundamentais Em se tratando de Direitos Humanos e Fundamentais, é pertinente diferenciá-los de modo que os primeiros estão previstos em tratados de plano internacional por serem considerados indispensáveis a qualquer pessoa, de qualquer país que seja. Os segundos, no que lhes concerne, dizem respeito à constitucionalização desses direitos de acordo com a aplicabilidade de um determinado rol escolhido para cada carta-magna de cada nação em específico. Isso significa que os direitos fundamentais encontram respaldo no estado democrático de direito que, além de ser o modelo defendido na então Declaração Universal dos Direitos Humanos, utiliza de sua jurisdicionalidade para elencar os 7 preceitos básicos de dignidade como sendo normas determinantes dentro do arcabouço jurídico de competência dentro dos limites de comando do Estado que instituir tais direitos. 4.2 Semelhança entre Direitos Humanos e Direitos Fundamentais Os direitos em epígrafe possuem a mesma essência e convergem quanto às suas finalidade relacionadas ao provimentos de condições de vida digna ao ser humano. Assim como mencionado no tópico anterior, contudo, o que os diferencia é a disposição em que são consagrados para assegurar o cumprimento dos objetivos quanto à dignidade da pessoa humana. 5. Garantias Constitucionais Tendo em vista os conceitos abordados, as garantias constitucionais também se relacionam à temática, no tocante à existência de prerrogativas vigentes de forma concreta no ordenamento jurídico. As garantias constitucionais são, portanto, os enunciados presentes na Constituição de conteúdo declaratório e que versam sobre o objetivo de reconhecer os direitos dos cidadãos. Em tais perspectivas, é possível afirmar que as garantias fundamentais são os artigos da Constituição propriamente ditos que salvaguardam as concepções dos direitos naturais, humanos e fundamentais. O exemplo mais claro e explicativo que se pode enunciar como diretriz dessas garantias é o artigo 5° da Constituição Federal brasileira de 1988. Esse artigo, dentre muitas de suas atribuições, elucida a livre expressão, a intimidade e a honra, a propriedade, a defesa do consumidor e todas as condições básicas de sobrevivência para os cidadãos, que, como destacado previamente, constituem as faculdades inerentes à dignidade da pessoa humana tão defendida ao longo da história pelos direitos humanos. As garantias são instrumentos de proteção dos direitos fundamentais e implicam comandos de poder para o exercício e usufruto de todos os cidadãos e exigibilidade das autoridades públicas no cumprimento da guarda desses princípios, 8 os quais podem servir de remédios jurídicos, outrossim, quando há a violação de algum direito e coibindo a ingerência. Não podem ser confundidas com direitos constitucionais, tendo em vista que estes dizem respeito a A Constituição Federal de 1988, em seu título II , nomeado Direitos e Garantias Fundamentais, subdivide-se em cinco subcapítulos de forma a criar um arcabouço jurídico de proteção aos direitos individuais e coletivos, direitos sociais, de nacionalidade, direitos políticos, e os relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos. No tocante a essas garantias constitucionais, a Constituição Federal elenca como direitos individuais e coletivos aqueles relacionados ao conceito de pessoa humana e à sua personalidade, bem como intrínseco à vida, à igualdade, à dignidade, à segurança, à honra, à liberdade e à propriedade, de tal sorte que podem ser conferidos no artigo 5º e seus incisos. Os direitos sociais se relacionam ao Estado Democrático de Direito, o qual é responsável por assegurar as liberdades positivas aos indivíduos, sendo estes de cunho ligado à educação, saúde, trabalho, previdência social, lazer, segurança, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados, cujo objetivo é melhorar das condições de vida dos desfavorecidos e menos privilegiados econômico-socialmente, alcançando, dessa forma, a igualdade social, pela prerrogativa a partir do artigo 6º. Em relação às nacionalidade, esta pode ser entendida como a identidade jurídica e política que vincula um indivíduo a um determinado Estado, tornando-o um componente do povo. São os direitos políticos, e os relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos. 6. Conclusão O reconhecimento mundial dos Direitos Humanos e Fundamentais é de suma importância para que o homem, enquanto ser de direitos e deveres, possa viver 9 dentro das condições mínimas de uma sociedade justa e com as possibilidades de desenvolvimento confortável e harmonioso. As Nações Unidas detêm um papel primordial nas defesa de tais direitos enquanto invioláveis e de caráter internacional, não podendo ser excluídos das Constituições e dos planos de governo. Nessa perspectiva, pode-se concluir que os direitos fundamentais são fruto da positivação dos direitos humanos na qualidade de integrantes das legislações dos países membros das Nações Unidas e, além disso, esses mesmos direitos são inerentes a cada ser humano, ou seja, nascem como direitos naturais intrínsecos a cada pessoa e constituem garantias de extrema necessidade à sobrevivência. Todos os conceitos apresentados, cada qual com sua relevância e aplicabilidade, são convergentes quanto à sua imprescindibilidade na vida de todo ser em sociedade e na coexistência em prol da fraternidade entre as nações. É importante salientar que a proteção das condições básicas ao desenvolvimento humano se faz necessária por intermédio das garantias constitucionais salvaguardadas na carta-magna, a qual é responsável por elencar, em campo legítimo e democrático, os direitos do indivíduo e da sociedade como um todo. Nesta seara, a Constituição é o mecanismo que torna tais preceitos exigíveise de responsabilidade do poder público estatal, tendo em vista sua conversão em artigos concretos e positivados. Os direitos elencados no presente artigo são de suma importância para que cada pessoa possa usufruir de suas prerrogativas enquanto cidadãos para se munir de certa dignidade para viver. Entretanto, em virtude de despreparo governamental e dos votantes que escolhem os dirigentes do poder, os direitos estão severamente ameaçados em nome de interesses de alguns e em detrimento de outros, quando na verdade deveriam estar sendo concretizados. Conclusivamente, a presente Constituição Federal de 1988, expressão digna do que se almeja alcançar no tocante à dignidade da pessoa humana, foi claramente inspirada na Declaração Universal dos Direitos Humano elaborada pela Organização das Nações Unidas. Apesar de não observado o implemento prático da integralidade de seus artigos na real conjuntura da sociedade contemporânea, cabe 10 aos cidadãos fazer exigir a efetivação desses dispositivos e escolher representantes que melhor desempenhem o papel de resguardo. 7. Referências 11 <https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos> acesso em 22 de abril de 2019. <https://www.direitocom.com/declaracao-universal-dos-direitos-humanos> acesso em 22 de abril de 2019. <http://www.lex.com.br/doutrina_27021556_CONCEITO__OBJETIVO__DIFERENC A_ENTRE_DIREITOS_HUMANOS_E_DIREITOS_FUNDAMENTAIS.aspx> acesso em 23 de abril de 2019. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. 9. ed. São Paulo: Campos, 2014. <http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=117 49> acesso em 23 de abril de 2019. <http://www.dhnet.org.br/direitos/textos/oquee/oquedh.htm> acesso em 24 de abril de 2019. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. REALE, Miguel. Filosofia do direito. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1986. <https://nacoesunidas.org/conheca/> acesso em 06 de maio de 2019.
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