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W la dm ir H en riq ue s M ot ta Fe lip e N un es D ua rt e A dm in is tr aç ão d a Pr od uç ão Wladmir Henriques Motta Felipe Nunes Duarte Administracao da Producao ~ ~ ç ç Curitiba 2016 Wladmir Henriques Motta Felipe Nunes Duarte Administracao da Produção ~ Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501 M921a Motta, Wladmir Henriques Administração da produção / Wladmir Henriques Motta, Felipe Nunes Duarte. – Curitiba: Fael, 2016. 154 p.: il. ISBN 978-85-60531-32-5 1. Administração da produção 2. Produto – Ciclo de vida I. Duarte, Felipe Nunes II. Título CDD 658.7 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão FabriCO Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/AntartStock Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao aluno | 5 1. Administração da Produção: Histórico e sua Evolução | 7 2. Competitividade e Estratégia | 19 3. Estrutura da Administração da Produção | 31 4. Localização, Arranjo Físico e Fluxo Produtivo | 47 5. Natureza do planejamento e controle da produção | 63 6. Gerenciamento da demanda e o planejamento agregado | 77 7. Programa Mestre da Produção e o Sistema MRP | 91 8. Just in time | 107 9. Planejamento e utilização da capacidade e as restrições no PCP | 121 10. O Ciclo de Vida do Produto: Mercado e Meio Ambiente | 133 Conclusão | 145 Referências | 147 Carta ao aluno Prezado aluno, o mundo contemporâneo vive um momento único, onde as práticas de produção e consumo são questionadas e a crise ecológica reconhecida como um dos maiores desafios para a humanidade. Dentro deste contexto a administração da produ- ção passa a ter um papel central quanto ao assunto produção. A presente obra não busca apresentar as questões ecológicas, mas sim trazer os pontos importantes e cruciais para que o administrador da produção possa atuar de forma plena e que otimize ao máximo a produção. O foco desta obra é o de apresentar ao aluno os conhecimen- tos básicos relacionados a administração da produção como os pro- cessos e sistemas de produção, também apresentando assuntos como a importância e a inserção da atividade no mundo globalizado, nas Administração da Produção – 6 – cadeias de valor e sua importância frente a estratégia organizacional. A obra apresenta ainda as principais funções e ferramentas utilizadas pelo adminis- trador da produção, como as ferramentas de PCP e seu detalhamento, formas de optar pela localização das instalações fabris, informações relevantes sobre o just in time - JIT, dentre outros conhecimentos básicos e inerentes a admi- nistração da produção. Apesar de não ter como objetivo principal a solução dos problemas eco- lógicos advindos da produção, o livro não poderia deixar de apresentar em seu último capítulo o assunto que vem sendo reconhecido como uma das mais importantes metodologias para a análise dos impactos ambientais gera- dos pelas organizações e seus produtos, trata-se da Análise do Ciclo de Vida – ACV. Neste momento, o curso irá proporcionar ao aluno os conhecimentos necessários para que ao ingressar no mundo corporativo, o mesmo tenha a compreensão da importância das questões ecológicas e mais do que isto, o entendimento de que ele poderá e deverá fazer parte na solução dos proble- mas relacionados à produção quanto as questões ambientais. Pode-se dizer que o objetivo desta aprendizagem é, portanto, proporcio- nar aos estudantes a capacidade de compreender conceitos básicos de admi- nistração da produção e transferi-los para os desafios que o gestor da produção certamente encontrará no mercado de trabalho. Estes desafios incluem, por exemplo, a redução dos custos nos processos produtivos, a promoção da qua- lidade dos produtos produzidos, a escolha do arranjo físico ideal para as insta- lações fabris, isto tudo nunca esquecendo que as questões ambientais devem ser contempladas antes, durante e depois do processo produtivo ocorrer, con- forme a ACV aponta, todo o ciclo de vida do produto deve ser considerado. 1 Administração da Produção: Histórico e sua Evolução Neste capítulo você terá contato com as definições de admi- nistração da produção, passando a entender seu papel nas organi- zações. As atividades do administrador da produção também serão abordadas aqui. Além destes conhecimentos, exploraremos os siste- mas de produção e suas classificações, conhecimentos estes que são básicos para a administração da produção. Por fim, será apresen- tado o momento atual da administração da produção e sua impor- tância como ferramenta gerencial nas organizações, trazendo a você os conhecimentos básicos para o aprofundamento dos estudos desta área, conhecimentos estes que podem auxiliar o administrador de produção em suas atividades profissionais. Administração da Produção – 8 – Objetivos de aprendizagem: 2 Definir o que é Administração da Produção. 2 Explicar o surgimento e a evolução da Administração da Produção. 2 Identificar os Sistemas de Produção e sua importância para a Fábrica. 1.1 Conceitos e Histórico Nas empresas, a área de produção é a responsável por elaborar e dispo- nibilizar os produtos e/ou serviços por meio de um processo que envolve o input (entrada - composta pelos insumos, energia, mão-de-obra), o processo de transformação em si e o output (saída – composta pelos produtos e ser- viços), visando atender seus clientes internos e externos. A administração da produção é por sua vez a responsável pelo gerenciamento destas operações físicas da empresa, sendo um dos ramos da Ciência da Administração que mais tem contribuído com as organizações industriais neste sentido, promo- vendo melhorias em diversos níveis. Como exemplo deste processo, pode-se ter o setor automobilístico, onde diversos insumos como motor, pneus e outros, somados às informações necessárias à sua produção, energia elétrica e força de trabalho, que são as entradas do processo, passam pelas linhas de produção das montadoras, que são os processos de transformação e finalmente geram os automóveis (junta- mente com os resíduos e emissões), que são as saídas deste processo. Figura 1 - Administração da Produção. ENTRADAS PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO SAÍDAS ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO Fonte: Elaborado pelo autor, 2015. – 9 – Administração da Produção: Histórico e sua Evolução Segundo Slack et al. (2002), a administração da produção trata da maneira pela qual as organizações produzem bens e serviços, sua principal responsabilidade é a de melhorar o desempenho dos recursos produtivos - homens, máquinas, materiais, tecnologia e sistemas de produção. Tal prática vem registrando, ao longo da história, uma grande evolução. Esta evolução ocorreu em resposta aos desafios surgidos desde seu surgi- mento como prática organizacional, sendo hoje uma importante combinação de práticas que se tornaram consagrada no passado da administração da pro- dução e as novas formas de se administrar os modernos sistemas produtivos. Segundo Gaither et al. (2001), esta evolução se pautou na adaptação aos desafios de cada nova era. Pode se considerar que a administração da produção nasceu há cerca de um século, com a Escola Científica de Frederick Winslow Taylor, que bus- cava uma forma de otimizar a produtividade sem elevar os custos de produ- ção. Modelo este que se baseava na aplicação do método científico, tendo como objetivo principal a redução dos desperdícios e a busca pela eficiência fabril. Esta eficiência erapautada na análise do trabalho, nos estudos de tempos e movimentos, ou seja, no corpo de métodos próprios da adminis- tração científica. Métodos estes que foram aplicados e aperfeiçoados na linha de produção em massa de Henry Ford (GAITHER, 2001; SLACK et al., 2002; WOMACK et al., 1992). Para Gaither (2001, p. 9-11), “o grande marco da administração científica ocorreu justamente na Ford Motor Company no início do século XX, quando Henry Ford projetou o modelo T para ser construído em linhas de montagem”. A proposta conduzida por Ford incorporou os principais elementos e princípios da administração cien- tífica – substituição de métodos empíricos por procedimentos cien- tíficos, padronização dos produtos, seleção dos operários segundo suas aptidões, produção em massa, ele- vação dos níveis de produtividade sem elevação dos custos de produ- ção e peças intercambiáveis. Figura 2 - A linha de montagem da Ford. F on te : O te m po , 2 01 5. Administração da Produção – 10 – Você sabia Que a linha de produção em massa da Ford, trouxe uma mudança ampla na forma de se produzir bens e serviços. Ela revolucionou a indústria trazendo a intercambialidade das peças, reduções de custo e volumes de produção jamais vistos.(SLACK et al., 2002; WOMACK et al., 1992) Glossário Intercambialidade: possibilidade de se produzir peças que serviriam para todos os produtos do mesmo modelo. Apesar de nos parecer óbvio no momento atual, no passado os produtos ditos iguais não tinham este bene- fício, já que por serem produzidas de forma artesanal, suas fôrmas não eram precisas e idênticas.(SLACK et al., 2002; WOMACK et al., 1992). 1.1.1 Conceitos A administração da produção é uma importante atividade empresarial que representa o ato de criação de produtos e serviços, que por sua vez é a principal razão da existência de qualquer organização. Devido a sua impor- tância e amplitude de atuação, a administração da produção tem diversas definições, que serão apresentadas a seguir: Quadro 1 - Conceitos da Administração da Produção. Autor Definição Gaither e Frazier (2001) A administração da produção é a administração do sis- tema de produção de uma organização, que transforma insu- mos nos produtos e/ou serviços de uma organização. Machline et al. (1981) Administração da Produção é o conjunto de atividades auxi- liares de planejamento e controle, indispensáveis à fabri- cação bem sucedida dos produtos industriais. – 11 – Administração da Produção: Histórico e sua Evolução Autor Definição Mayer (1984) Administração da Produção como sendo a especialização administrativa que trata do planejamento, organização, dire- ção e controle do setor de produção de uma empresa. Monks (1987) Administração da Produção é a atividade pela qual os recursos, fluindo dento de um sistema definido, são reunidos e transforma- dos de uma forma controlada, a fim de agregar valor, de acordo com os objetivos empresariais. A responsabilidade da adminis- tração da produção inclui a reunião dos insumos em um plano de produção aceitável que realmente utilize os materiais, a capaci- dade e o conhecimento disponíveis nas instalações da produção. Rocha (1995) Administração da Produção como sendo a parte da Administração que comanda o processo produtivo pela utilização dos meios de produção e dos processos administrativos, buscando a elevação da produtividade. Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado de Escorsim et al., 2005. Como pode-se ver no Quadro 1, são definições distintas, mas que apon- tam para a mesma proposta e objetivo, que são o atendimento das necessi- dades do mercado consumidor por meio da utilização dos recursos fabris da organização, por meio de seus processos produtivos. Para atingir seus objetivos e cumprir efetivamente seu papel de apoio e de fornecer o ferramental aos tomadores de decisão, a administração da produção deve responder a questões básicas como: o que, quando e quanto deverá ser produzido e comprado. Ao responder estas questões, a adminis- tração da produção cumpre seu papel planejando a produção, gerenciando a utilização dos recursos necessários, assim como os prazos e as quantidades adequadas para que os objetivos da organização sejam atendidos e os clientes tenham os produtos/serviços disponíveis. Além das definições já apresentadas, Harding (1981) aponta ainda que a Administração da Produção envolve elementos quantitativos e qualitativos de administração. Onde os elementos quantitativos são os elementos que auxiliam as tomadas de decisão por meio de dados estruturados, que podem ser, por exemplo, a programação da produção ou os gráficos de controle estatístico de qualidade que trarão informações detalhadas e claras para os administradores. Administração da Produção – 12 – Já os elementos qualitativos referem-se às áreas que não foram quantificadas e na qual o gerente trabalha de acordo com a sua experiência. São dados subjeti- vos e não estruturados, são informações construídas socialmente, podendo ser considerado como o elemento intuitivo na decisão a ser tomada. Neste contexto, o administrador da produção atua diretamente nos recursos (mão-de-obra, material e capital) junto aos sistemas de produção, buscando uma abordagem sistêmica que integre todas as atividades do sis- tema, planejando e controlando as atividades de transformação e agregação de valor nos recursos. Importante O administrador da produção atua frente a função central da organi- zação, pois efetivamente a produção que possibilita a empresa alcan- çar seu objetivo principal, que é o atendimento ao cliente por meio dos seus produtos e/ou serviços. Mayer (1984) afirma que o administrador da produção é o responsável pela produção de bens e serviços na organização, considerando ainda a quan- tidade exigida e quando deve estar disponível para poder satisfazer o prazo estipulado para a entrega ao cliente. Ele também é responsável pela qualidade desta produção. Já para Chiavenato (2008), uma das principais funções de um administrador da produção é planejar e controlar o processo produtivo, apontando alternativas para a obtenção do resultado. 1.2 Sistemas de Produção O sistema de produção é o modo pelo qual as organizações se estru- turam para realizar suas operações produtivas. Cada organização adota o sistema de produção mais adequado, segundo sua realidade, buscando realizar suas operações e produzir seus produtos ou serviços da melhor maneira possível, garantindo assim sua eficiência e eficácia Chiavenato (2005) define sistema como sendo um conjunto integrado de partes inter- relacionadas que existem para atingir um determinado objetivo ou cumprir – 13 – Administração da Produção: Histórico e sua Evolução um determinado propósito. Ele é composto por entradas, processamento, saídas e sistema de controle. Sistemas de produção são um conjunto de atividades e operações inter- -relacionadas envolvidas na produção de bens (indústria) ou serviços. Os sis- temas de produção, segundo Laugeni e Martins (2006) são definidos como aqueles que têm por objetivo a fabricação de bens manufaturados, a prestação de serviços ou o fornecimento de informações. Kalpakjian (1997) define o sistema de produção de uma forma mais ampla, como o processo de transformação de materiais brutos em produtos, abrangendo desde o desenho de projeto e processamento de bens por meio de vários métodos e técnicas de produção. A figura a seguir ilustra um sistema de produção, fazendo a separação dos “inputs”, recursos a serem transformados que são os insumos para a produção, neste caso as matérias primas e as infor- mações. Já os recursos de transformação, são as próprias instalações fabris e os seus funcionários. Figura 3 - Sistema de produção. Recursos a serem transformadosRecursos de transformação ENTRADA Processos deTransformação SAÍDA Bens e Serviços Ambiente Ambiente Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado de Slack et al, 2002. O sistema de produção não funciona de forma isolada. Ele sofre influên- cias, de dentro e de fora da empresa. Influências estas que afetam seu desempe- nho. Dentre estas influências, pode-se citar a qualidade demandada pelo mer- cado que irá impactar diretamente no sistema produtivo escolhido para este produto, como exemplo, de um fator externo e como fator interno, pode-se citar a capacidade do maquinário frente ao volume de produção necessário. Administração da Produção – 14 – O principal objetivo do sistema produtivo é geralmente o de gerar lucro para a organização. Para tanto o sistema tem que ser competitivo e os fatores de produção devem estar dimensionados para o tipo de produto, os recursos produtivos disponíveis e sua demanda de mercado. A definição do sistema de produção mais adequado ao produto ou serviço que se deseja produzir tem relação direta com a eficiência e eficácia da produção. Pode-se dizer que o objetivo do sistema de produção é enriquecer a sociedade por meio da produção de produtos com funcionalidades desejá- veis, esteticamente satisfatórios, não agressivos ao meio ambiente, economi- camente viáveis, altamente confiáveis e de boa qualidade (ASKIN, 1993). 1.2.1 Classificação dos sistemas produtivos São distintas as formas como os sistemas produtivos são classificados, veja: Figura 4 - Classificação dos sistemas produtivos. pelo grau de padronização dos produtos; pelo tipo de operação que sofrem os produtos; pelo natureza do produto. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Esta classificação dos sistemas produtivos visa facilitar o entendi- mento das características referentes a cada sistema de produção, assim como sua relação com a complexidade das atividades de planejamento e controle da produção. 1.2.1.1 Sistemas produtivos segundo o grau de padronização Na classificação quanto a padronização, os sistemas produtivos são divi- didos nos que fazem produtos padronizados e os sistemas que fazem produtos sob medida. – 15 – Administração da Produção: Histórico e sua Evolução Os produtos padronizados são aqueles bens/serviços que apresentam alto grau de uniformidade, sendo produzidos em grande escala e geralmente encontrados a disposição no mercado. Este sistema facilita o planejamento do uso dos recursos produtivos e os métodos de trabalho, pelo fato de produzir grandes volumes sob o mesmo padrão. Já os produtos sob encomenda são os que acabam sendo produzidos de forma customizada para determinado cliente. Nesta proposta, o planeja- mento e controle da produção se tornam mais difíceis pela especificidade do produto e pelo baixo volume produzido. 1.2.1.2 Sistemas produtivos segundo o tipo de operação que sofrem os produtos Os sistemas de produção, segundo esta classificação, podem ser dividi- dos em dois grandes grupos: Figura 5 - Classificação dos sistemas de produção. processos contínuos processos discretos Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Os processos contínuos recebem esta denominação devido às caracterís- ticas de continuidade da produção dos bens, onde seus componentes/maté- rias primas não podem ser separados e identificados individualmente durante o processo produtivo. Este processo é constituído por uma série de reações físico-químicas, diferentemente do que ocorre na indústria tradicional, que tem seus processos determinados por transformações mecânicas sobre seus componentes/matérias primas. Neste caso, os processos são altamente uniformes, os volumes produzi- dos e a demanda para estes bens são elevados. Outra característica deste pro- cesso é referente à interdependência existente, isto favorece a automatização destes processos e cria uma rigidez referente a possíveis alterações no fluxo do Administração da Produção – 16 – processo produtivo. Um bom exemplo é a produção de energia elétrica, que é produzida de forma uniforme, em volume e seus processos são interligados. Já os processos discretos podem ser subdivididos em três categorias: Figura 6 - Categorias dos processos discretos. Processos repetitivos em massa Processos repetitivos em lote Processos por projeto são aqueles empregados na produção em grande escala de produtos altamente padronizados, geralmente produzidos em linhas de produção; são aqueles relacionados a produção de um volume médio de bens/serviços padronizados em lotes, feitas por encomenda, sendo que cada lote segue uma série de operações que necessita ser programada a medida que as operações anteriores forem sendo realizadas; são aqueles que tem como �nalidade o atendimento de uma necessidade especí�ca do cliente, sendo bem distinto dos anteriores. São projetos que geram produtos únicos. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. 1.2.1.3 Sistemas produtivos segundo a natureza do produto Esta classificação do sistema produtivo faz apenas a distinção entre o que é um bem e o que é um serviço. Onde o bem é aquele que sofre um processo de transformação no qual o output é um produto tangível, como um telefone, por exemplo. Já no caso do serviço, o produto gerado é intangível, como um atendimento médico, por exemplo. 1.3 Momento atual da Administração da Produção Na medida em que a pesquisa operacional e a tecnologia da informação se desenvolveram e passaram a fazer parte integrante da administração da pro- dução, a indústria ingressou em uma era de automação crescente. A informa- – 17 – Administração da Produção: Histórico e sua Evolução tização dos sistemas produtivos trouxe uma maior flexibilidade a estes, pos- sibilitando novas formas produtivas de se atender às demandas de mercado. A administração da produção passou a ser uma ampla disciplina geren- cial com aplicações tanto no segmento industrial como no de serviços, pre- ocupando-se com o planejamento, a organização e o controle dos sistemas produtivos, buscando atender aos objetivos da organização. Estas funções gerenciais da administração da produção podem ser clas- sificadas em três níveis: Figura 7 - Classificação das funções gerenciais. Estratégico • nível em que o planejamento e a tomada das decisões são mais amplos e envolvem as políticas coorporativas, abrangendo decisões de longo prazo; Tático • nível menos amplo que o estratégico e envolve basicamente a alocação e a utilização de recursos; Operacional • nível relacionado apenas as decisões operacionais produtivas, abrangendo curtos horizontes de tempo. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. No nível estratégico se estabelece um plano de produção para deter- minado período à frente, geralmente de médio a longo prazo, segundo as previsões de demanda tomadas frente ao histórico de vendas, levando-se em consideração a disponibilidade de recursos financeiros e produtivos para que o plano consiga atender a esta demanda. Sendo assim um planejamento futuro e mais amplo. Já no nível operacional, se estabelece um plano de produção dos produ- tos finais, detalhando de curto prazo, tendo como base as previsões de vendas de curto prazo somada aos pedidos recebidos e já confirmados. Sendo este o nível responsável pela decisão relativa ao momento certo e a quantidade de insumos a serem comprados, assim como o responsável pelo planejamento da produção do chão de fábrica. Administração da Produção – 18 – Saiba mais 1 Tenha mais informações sobre os tipos de organização e suas atividades, compreendendo melhor as inter-relações existentes entre a administração da produção e as outras atividades das orga- nizações. Ainda neste capítulo, a evolução da administração da produção éapresentado. – Administração da Produção: Operações Industriais e de Ser- viços, Jurandir Peinado e Alexandre Reis Graeml, Editora: Unicemp, 2007. Disponível em: <http://www.paulorodri- gues.pro.br/arquivos/livro2folhas.pdf>. 2 Aqui você consegue compreender melhor a evolução da admi- nistração, tendo ainda informações sobre sua consolidação e prá- tica no Brasil. – Artigo Evolução da Administração da Produção no Brasil, Claude Machline, ERA, 1994. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/rae/v34n3/a08v34n3.pdf>. Resumindo Os avanços tecnológicos vêm trazendo como consequência a evolução dos negócios e juntamente a isto um considerável aumento da concorrência, fatos estes que vêm obrigando as organizações a se preocuparem cada vez mais com a produção, buscando sempre uma maior eficácia e eficiência em seus produtos/serviços. Em sua origem, a administração da produção tinha o obje- tivo de estudar e planejar os setores produtivos das organizações industriais. Atualmente muitas das suas técnicas vêm sendo também aplicadas em ativida- des relacionadas à área de serviços. Este capítulo abordou brevemente o tema administração da produção, mostrando a sua área de atuação, suas principais definições e seu momento atual. Foi apresentado também o que é um sistema produtivo e suas classi- ficações, demonstrando suas relações com as demandas e fluxos produtivos. Tais ensinamentos servem como base para a evolução do aprendizado sobre a administração da produção e suas funções e inter-relações com os fornecedo- res, as outras áreas da organização e com o mercado consumidor. 2 Competitividade e Estratégia Neste capítulo você terá contato com as definições de cadeia de valor e estratégia, passando a entender sua importância junto à administração da produção. Antes de ter o contato com estas duas novas definições, você entenderá o que é a globalização e seu papel relevante tanto na cadeia de valor quanto na estratégia operacional e corporativa. Ao estudar a cadeia de valor, você passará a compre- ender seu funcionamento e as atividades que a compõem, e verificar também a importância da administração da produção nesta cadeia de valor. A estratégia será apresentada como uma necessidade para que as organizações se mantenham no mercado e suas correlações com a globalização, a cadeia de valor e principalmente com a admi- nistração da produção serão pontuadas. Administração da Produção – 20 – Objetivos de aprendizagem: 2 Compreender a influência da Globalização e da Cadeia de Valor no Processo de Administração da Produção 2 Identificar a importância da Administração da Produção na Cadeia de Valor 2 Avaliar as possíveis estratégias de Operações frente a Cadeia de Valor 2 Discutir as Estratégias Operacionais nas Relações Globais 2.1 Globalização Conforme Alcoforado (2006), no período após a Segunda Guerra Mun- dial houve uma reorganização do espaço mundial e mudanças de ordem estrutural surgiram em diversas áreas, principalmente em relação a aspectos econômicos. O termo usado para descrever esta reorganização e estas mudan- ças é a Globalização. Esta globalização pode ser entendida como um processo socioeconômico que estabeleceu uma integração entre países e pessoas de forma global, ela aborda justamente as transformações socioeconômicas pelas quais o mundo vem passando nos últimos anos. Segundo Chiavenato ( 2009), o mundo contemporâneo é caracterizado por rápidas e relevantes mudanças, derivadas em grande parte do avanço tec- nológico e que têm impactos diretos sobre os sistemas produtivos e na socie- dade. Esta nova realidade nos levou a um cenário competitivo jamais visto, gerando uma maior competição entre as empresas tanto no âmbito nacional quanto no internacional. Competição esta que tem imposto às empresas uma nova forma de agir em suas operações e na sua gestão, tendo como foco a busca de uma maior eficiência e consequente competitividade no mercado. Esta nova forma de agir trouxe também uma complexidade no funcio- namento das organizações, pois elas deixaram de operar de forma vertical como antes, onde grande parte das operações referentes à produção era reali- zada por uma única empresa, e passaram a operar de forma horizontalizada, onde as barreiras das organizações foram quebradas e cadeias de valor foram criadas. Assim, as organizações deixaram de ser as únicas responsáveis pelas operações necessárias para atender às necessidades dos consumidores e passa- ram a contar com a participação de organizações parceiras que cuidavam de partes destas operações, agregando valor ao produto final (SANTOS, 2003). – 21 – Competitividade e Estratégia 2.2 Cadeia de Valor No mundo contemporâneo é necessário se ter o entendimento das relações entre os diversos processos que compõem as organizações, ou seja, compreender qual seu papel dentro da cadeia global de atividades à qual ela pertence, sua cadeia de valor. Para Porter (1986), a cadeia de valor é o entendimento de que a orga- nização é na verdade uma série de processos inter-relacionados que geram valor. A cadeia de valor é a forma pela qual as organizações geram valor por meio de suas atividades de projetar, produzir e distribuir seus produtos, tendo ainda a participação de outras atividades que dão suporte e sustentação a estas. Todas estas atividades acrescentam valor ao produto, valor este que é mensurado no momento em que o cliente paga por este bem ou serviço. Esta definição é derivada do fato de que a produção do bem/serviço ocorre em diferentes estágios e cada um destes agregam valor a este bem/serviço, ao final da cadeia de valor o bem/serviço estará pronto e o valor final a ser pago por este tem que ser superior a todos os custos envolvidos nestes diversos estágios. Ao se analisar esta cadeia de valor, pode-se entender claramente a partici- pação de cada uma das organizações nas operações como um todo, e a partir desta análise, propor o modelo ideal de sistema produtivo a ser utilizado. Segundo Porter (1989), as atividades de valor são agrupadas em ativida- des primárias e atividades de suporte, na qual as atividades primárias são as diretamente relacionadas à criação física do produto, sua comercialização, seu transporte e também seu serviço de pós-venda. Já as atividades de apoio, são as que dão suporte às atividades primárias. A figura 1 ilustra estas atividades. Figura 1 – Cadeia de Valor Genérica. DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA LOGÍSTICA INTERNA ATIVIDADES DE APOIO OPERAÇÕES LOGÍSTICA EXTERNA ATIVIDADES PRIMÁRIAS AQUISIÇÃO GERÊNCIA DE RECURSOS HUMANOS INFRA-ESTRUTURA DA EMPRESA MARKETING & VENDAS SERVIÇO M ARGEM M ARGEM Fonte: Porter, 1989. Administração da Produção – 22 – As atividades primárias possuem (PORTER, 1986): 2 logística interna, referente às atividades de movimentação interna de matérias-primas, insumos e produtos, controle de estoque, etc.; 2 operações, referentes aos processos que transformam as matérias- -primas e insumos de forma geral no produto acabado; 2 logística externa, referente à movimentação externa e estocagem dos produtos acabados; 2 marketing e vendas, referente à divulgação e à comercialização dos produtos acabados; 2 serviços, referente à valorização do produto acabado perante o con- sumidor final. Nas atividades de apoio, tem-se (PORTER, 1986): 2 infraestrutura, referente às funções existentes nas organizações que dão apoio e mantém em funcionamento toda a cadeia de valor da organização; 2 gerência de recursos humanos, referente ao provimento de pessoal para exercer as atividades necessárias à cadeia de valor; 2 desenvolvimento de tecnologia, referente às tecnologias criadas para dar suporte a cada uma das atividades geradoras de valor da cadeia; 2 aquisição, referente à aquisiçãode todos os insumos necessários para o funcionamento da cadeia de valor. Novaes (2001) aponta a importância de se formarem parcerias entre os atores da cadeia, tendo como foco o atendimento as necessidades dos clientes e a busca de uma otimização do custo final dos bens/serviços. Estas parcerias podem promover uma agregação de valor mais sólida e trazer maiores ganhos para todos os evolvidos. Para tal, deve-se analisar a cadeia de valor para se poder ter os subsí- dios necessários para a elaboração da estratégia para as organizações. Segundo Rocha (1999), esta análise tem por objetivos: 2 identificar oportunidades e ameaças; – 23 – Competitividade e Estratégia 2 revelar quais os estágios fortes e fracos; 2 apontar oportunidades de diferenciação; 2 identificar os principais determinantes de custos; 2 localizar oportunidades de redução de custos; 2 fazer um comparativo entre a cadeia estudada e as cadeias de valor dos concorrentes. Esta análise pode ser apontada como um importante subsidio para a ela- boração da estratégia competitiva da cadeia de valor e sua implementação efe- tiva, visando por meio desta conquistar uma vantagem competitiva duradoura. 2.2.1 Administração da Produção na Cadeia de Valor Conforme apresentado, a cadeia de valor representa uma sequência de atividades necessárias para que um produto ou serviço sejam disponibili- zados para seus consumidores. Quando se aborda a administração da pro- dução, a formação desta cadeia de valor pode abranger atividades internas à organização (os próprios processos produtivos que levam a disponibiliza- ção do bem/serviço ao mercado, assim como os processos internos que dão suporte a esta produção) e externas à mesma (a comercialização dos bens/ serviços e sua entrega). A cadeia de valor é constituída por diversos tipos de organizações desde pequenas a grandes, mas todas desempenham seus papéis na cria- ção de valor nos bens/serviços que esta cadeia irá produzir. A adminis- tração da produção tem grande importância na cadeia de valor ao com- preender a participação de cada uma destas organizações na criação de valor do bem/serviço a ser disponibilizado ao mercado e ao planejar a produção e a inter-relação entre os diversos estágios produtivos que ocor- rem durante esta agregação de valor ao bem/serviço final. É importante se entender que o valor agregado ao longo da cadeia vai aumentando de forma significativa ao passo que o bem/serviço chega perto de sua finali- zação e que este bem/serviço final é fruto de uma participação de todos que integram esta cadeia de valor (PORTER, 1989; NOVAES, 2001; BRIMSOM, 1996; OHMAE, 1998). Administração da Produção – 24 – 2.3 Estratégia de Operações Estratégia é o processo selecionado pela organização, por meio do qual se pretende atingir seus objetivos futuros. A globalização impulsionou a neces- sidade da estratégia, considerando que o papel é o de gerar uma vantagem sobre seus concorrentes (PORTER, 1986). 2.3.1 Estratégia Segundo Porter (1986), a estratégia competitiva tem o objetivo de esti- pular uma condição de lucratividade frente às forças que determinam a com- petição industrial. Para Porter (1986), são cinco as forças que determinam a dinâmica da competição industrial, são elas: 2 entrada de novos concorrentes, diz respeito à possibilidade de entrada de novas organizações no seu mercado, concorrendo pelos mesmos clientes; 2 ameaça de substitutos, diz respeito a bens/serviços oferecidos por organizações concorrentes que apesar de não oferecerem os mesmo bens/serviços, possam atender as necessidades dos clientes atendi- dos anteriormente por sua organização; 2 poder de barganha dos clientes, diz respeito ao poder que a nego- ciação tem ao forçar a redução dos preços de bens/serviços, assim como a qualidade dos mesmos; 2 poder de barganha dos fornecedores, diz respeito à ameaça que os fornecedores exercem ao desempenho das organizações pertencen- tes a um segmento industrial ao elevarem os preços ou a reduzirem a qualidade dos bens/serviços; 2 rivalidade entre os concorrentes, diz respeito aos movimentos com- petitivos das organizações em seu segmento industrial, movimentos estes que podem gerar retaliações das organizações concorrentes. Estas cinco forças mencionadas anteriormente são conhecidas como as cinco forças de Porter, sendo utilizadas para analisar o grau de atividade de um setor da economia, por meio da identificação dos fatores que afetam a competiti- – 25 – Competitividade e Estratégia vidade. Destas forças, uma ( a concorrência) se encontra dentro do próprio setor industrial e as outras quatro são externas, conforme demonstrado na Figura 2. Figura 2 - Cinco forças de Porter. CompradoresFornecedores Entrantes Potenciais Substitutos Concorrentes na Indústria Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado de Porter, 2015. Ao se deparar com estas cinco forças competitivas, as organizações devem promover estratégias para enfrentar estas forças e poder atingir seus objetivos. Porter (1986) propôs a formulação de 3 estratégias que ele chamou de genéricas, são elas: 2 Liderança no custo total, baseia-se na redução dos custos da orga- nização em relação aos dos concorrentes. Neste caso, a organização busca uma maior participação no mercado; 2 Diferenciação, baseia-se na oferta de produtos/serviços que aten- dam às necessidades dos consumidores, mas que além disso sejam diferenciados dos oferecidos pela concorrência; 2 Enfoque, baseia-se no direcionamento para o atendimento de um nicho específico do mercado, utilizando a liderança no custo e/ ou a diferenciação como forma de se distinguir no nicho de mercado escolhido, proporcionando um atendimento diferenciado aos seus consumidores. Administração da Produção – 26 – A figura 3 apresenta as três estratégias, reforçando que o alvo estratégico do enfoque é dado em apenas um segmento, já o das outras duas estratégias atinge o âmbito da indústria de forma mais abrangente. Quanto a vantagem estratégica que pode ser gerada, reforça que a estratégia da diferenciação foca na unicidade percebida pelo cliente e a estratégia da liderança no custo total foca na posição de baixo custo. Figura 3 - Estratégias genéricas de Porter. VANTAGEM ESTRATÉGICA DIFERENCIAÇÃO ENFOQUE LIDERANÇA NO CUSTO TOTAL A LV O E ST RA TÉ G IC O Unidade observada pelo cliente No âmbito de toda a indústria No âmbito de apenas um segmento particular Posição de baixo custo Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado de Porter, 1986. Saiba mais Que Michael E. Porter é considerado o mais importante nome da atualidade em estratégia competitiva. Seu trabalho deu origem a conceitos de estratégia que revolucionaram a disciplina, tais como as cinco forças competitivas da indústria e as estratégias genéricas. (PORTAL DA ADMINISTRAÇÃO). – 27 – Competitividade e Estratégia Vantagem Competitiva é o termo que define a vantagem de uma empresa sobre seus concorren- tes, normalmente demonstrada por meio de seu desempenho econômico (PORTER, 1986). A opção por uma destas estratégias é consequência da atuação das forças de competição industrial, e ao tomar esta opção a organização passa a con- duzir um processo de longo prazo, tendo como foco o atingimento de seus objetivos. Nesta condução, a organização necessita do apoio da administração da produção, que tem o papel de planejar as estratégias de operações para dar suporte à estratégia corporativa da organização. A estratégia de operações define políticas e planos quanto ao uso dos recursos da organização, podendo ser considerada como parte do processo de planejamento responsável pela coordenação das metas da operação com as metas corporativas. Vale lembrar que muitas destas cadeiasde valor têm uma amplitude que ultrapassa as fronteiras dos países, sendo cadeias globais. Desta forma, as estra- tégias, tanto corporativas quanto operacionais, também passam a ter amplitu- des globais e abrangem decisões e planejamentos que necessitam de uma visão sistêmica por parte do gestor e de uma integração total dos stakeholders. Stakeholder é um termo muito usado no mundo corpora- tivo e indica a parte interessada ou participante no negó- cio, podendo ser um indivíduo ou grupo de pessoas. Como exemplo no caso da cadeia de valor, pode se citar os fornecedores, os acionistas das empresas envolvidas, dentre outros (CLARKSON,1994 FREEMAN, 1984). 2.3.2 Estratégia aplicada as Operações Segundo Maia (2006), diferentes denominações vêm sendo utilizadas para definir estratégia de operações. Para este autor, em um primeiro momento se Administração da Produção – 28 – usava o termo “estratégia de manufatura”, que evoluiu para “estratégia de produção” e que no mundo contemporâneo é a “estratégia de operações”. Existem várias formas de se definir este assunto, com focos distintos quanto a gestão de operações, mas a definição de Hayes et al. (2004), que aponta a estratégia de operações como um conjunto de objetivos, políticas e restrições impostas as organizações que irão direcionar seus investimentos para o alcance dos objetivos traçados pelas organizações. Onde este planeja- mento estratégico deve dar sustentação a estratégia competitiva proposta por esta organização. Em grande parte das organizações, os sistemas produtivos são compostos por diferentes elementos e utilizados para realizar diferentes tarefas, o que leva a diferentes formas de atingir as estratégias competitivas destas organizações. Desta forma, segundo aponta Nogueira (2002), deve se considerar que ao se projetar um sistema de produção, existem possibilidades de se deparar com diversos trade-offs envolvendo variáveis como qualidade dos bens/serviços, custos operacionais, dentre outros. Trade-off é uma expressão bastante utilizada no mundo corporativo que indica uma opção entre uma possibili- dade em detrimento de outra, gerando perdas e ganhos, dependendo da opção escolhida. Conhecida também como “perde-e-ganha” (CORRÊA;CORRÊA, 2006). As questões inerentes aos trade-offs estão presentes na estratégia de ope- rações a todo momento, e se tornaram cada vez mais presentes devido às novas demandas da sociedade moderna e as novas tecnologias e processos de produção. O importante aqui é que esta tomada de decisão frente ao trade- -off existente seja benéfica à organização e propicie a realização das operações necessárias ao atendimento da estratégia competitiva da mesma. Quanto a estas tomadas de decisão, Hayes et al. (1988) propuseram dez áreas de decisão, agrupadas sob duas categorias: estruturais e infraestruturais. As decisões estruturais possuem impactos de longo prazo, requerendo gran- des investimentos e sendo dificilmente modificados. Já as decisões de natu- – 29 – Competitividade e Estratégia reza infraestruturas dizem respeito a aspectos operacionais e trazem resultados de curto a longo prazo. Esta proposta fica melhor detalhada na Figura 4. Figura 4 - Decisões estruturais e infraestruturais. VANTAGEM ESTRATÉGICA DIFERENCIAÇÃO ENFOQUE LIDERANÇA NO CUSTO TOTAL A LV O E ST RA TÉ G IC O Unidade observada pelo cliente No âmbito de toda a indústria No âmbito de apenas um segmento particular Posição de baixo custo Fonte: elaborado pelo autor, adaptado de Hayes et al., 1988. O foco das organizações contemporâneas é a satisfação do cliente e esta rea- lidade impõe ao administrador de produção um grande desafio quanto a correta implementação da estratégia operacional na cadeia de valor, tornando-se necessá- rio que haja uma grande integração e coordenação entre seus stakeholders. Esta busca pela satisfação dos clientes juntamente as novas tecnologias tem alterado o padrão de competição deste mercado global onde as orga- nizações estão inseridas, o que tem criado uma necessidade imperativa de alinhamento estratégico entre os componentes destas cadeias de valor e como consequência um alinhamento entre as estratégias de operação. Importante A participação efetiva da administração da produção na cadeia de valor é um fator importante a ser utilizado como estratégia competi- tiva, frente ao acirramento da concorrência internacional decorrente da globalização. Administração da Produção – 30 – Saiba mais 1. Neste material complementar, você encontrará mais informações sobre a importância da administração da produção junto à estraté- gia competitiva. – A Administração da Produção como Ferramenta de Estratégia Competitiva : Um Estudo de Caso na Empresa “Beta”, José Jamil Adum, Faculdade de Ciências Econômicas de Juiz de Fora Disponível em: http://www.ead.fea.usp.br/Semead/8semead/ resultado/trabalhosPDF/187.pdf 2. Neste artigo você consegue compreender melhor a relação direta da estratégia com a cadeia de valor e ainda adquire um novo conhecimento sobre a rede de valor de operações. – Artigo Estratégia de produção: conceituação, critérios com- petitivos e categorias de decisão, José Antonio Valle Antu- nes Júnior e Marcelo Klippel, III Seget, 2006. Disponível em: http://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos06/687_ Seget% 202006%20-%20Estrategia%20Producao%20Final.pdf Resumindo A globalização e as mudanças tecnológicas e/ ou organizacionais promo- vidas por ela, trouxeram reflexos diretos na organização das atividades indus- triais. Foi apresentada neste capítulo a mudança desta estrutura organizacional industrial, no qual houve uma migração do modelo vertical para o modelo horizontal, sendo apresentada a tendência das organizações de concentra- rem seus esforços em algumas competências e transferir a terceiros (parceiros industriais) as atividades restantes, atividades estas que anteriormente eram de sua responsabilidade. Desta forma, a cadeia de valor a qual estas faziam parte passou a abranger mais organizações e a romper as fronteiras dos países. Frente a esta nova realidade, a competitividade tornou-se mais acir- rada e a necessidade de elaboração de estratégias para que as organizações se mantivessem no mercado passou a ser crítica. Sendo assim, a importância da administração da produção na criação de uma vantagem competitiva para as organizações integrantes da cadeia de valor é apontada como fator essencial para a manutenção de sua existência. 3 Estrutura da Administração da Produção O capítulo apresenta algumas definições e conhecimentos básicos necessários para a administração da produção. Primeira- mente será apresentada, com maior profundidade, as definições e classificações dos processos, entendimento essencial para uma boa gestão e um bom planejamento da produção. Outros conhecimentos abordados serão referentes à quali- dade e à produtividade, fatores indispensáveis para que os objetivos da organização sejam alcançados, já que por estar inserida em um mercado global e altamente competitivo, a organização que não con- seguir atender às necessidades de seu mercado consumidor por meio de processos de qualidade e que tenham altos níveis de produtividade, terão muitas dificuldades em se manter no mercado. Administração da Produção – 32 – Objetivos de aprendizagem: 2 Identificar os principais processos envolvidos na produção 2 Reconhecer os diferentes conceitos de Produtividade 2 Reconhecer os Diferentes Conceitos da Qualidade 2 Relacionar as Diversas Dimensões da Qualidade 2 Identificar os Tipos de Operação de Produção 3.1 Processos O processo produtivo envolve um conjunto de recursos de entrada (input), usados no processo de transformação que são convertidos em saí- das(output). Qualquer atividade produtiva pode ser entendida conforme o modelo entrada – transformação – saída (GAITHER E FRAZIER, 2001; SLACK et al., 2002), onde: 2 Entradas (inputs) são os recursos a serem transformados e sofrerão agregação de valor após o processo de transformação, podendo ser: energia, materiais, informações ou consumidores; 2 Processos/ Recursos de Transformação são as instalações, equipamen- tos e os funcionários que irão agir sobre as entradas e lhes agregar valor; 2 Saídas (outputs) são os produtos finais ou serviços que serão ofere- cidos ao mercado/ consumidores. Nas organizações, todas as atividades são efetivamente processos, não existe um produto ou serviço que tenha sido fornecido por uma organização que não tenha sido gerado por um processo. O problema é que muitos des- tes processos, principalmente os que pertencem a áreas não fabris, não são conhecidos. Isso ocorre, pois os processos fabris (produtivos) geralmente têm um início e fim bem definidos e suas fases são facilmente visualizadas e por isso acompanhadas. Já os processos que não são fabris, não têm suas fases tão visíveis, o que dificulta seu acompanhamento e controle. Esta distinção entre os processos fabris e não fabris também pode rece- ber outras designações: são os processos produtivos ou macroprocessos e os – 33 – Estrutura da Administração da Produção processos empresariais ou sub-processos, no qual os processos produtivos são definidos como sendo os que entram em contato direto com o produto ou serviço, ou seja, a atividade fim da empresa, já os processos empresariais são que dão apoio ao processo produtivo, apoiando os objetivos da organização que são alcançados efetivamente por meio dos processos produtivos. Estas duas categorias de processos têm características distintas que podem ser melhor comparadas por meio da figura 1: Figura 1: Características dos Processos Produtivos versus Processos Empresariais. Características Produção Empresariais (macroprocessos) (subprocessos) Propriedade (quem é o responsável) De�nição geralmente clara Tende a ser ambígua ou o processo tem vários donos Fronteiras (pontos inicial e �nal) Claramente de�nidas Pouco nítidas, difusas Pontos de controle (regulam qualidade e dão feedback) Estabelecidos de forma clara e formal Frequentemente não existem Medições (base estatística do funcionamento) Fáceis de de�nir e de gerenciar Difíceis de de�nir, geralmente não existem Ações corretivas (correção de variações) Muito frequentes as ações preventivas Geralmente ocorrem de forma reativa Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado de Gonçalves, 2000. Administração da Produção – 34 – Os processos, de forma geral, possuem características básicas que dão suporte a seu gerenciamento, segundo Gonçalves (2000), são elas: 2 Fluxo de Valor – refere-se à agregação de valor ao transformar as entradas em saídas; 2 Eficácia – avalia o atingimento dos objetivos da organização; 2 Eficiência – avalia o meio pelo qual se atingiu os objetivos da organização; 2 Tempo de ciclo – refere-se ao tempo necessário para se transformar a entrada em saída; 2 Custos – referem-se aos custos necessários para que as entradas sejam transformadas em saídas. A preocupação das organizações, no passado, era voltada para o entendi- mento e à administração dos processos produtivos, pois por serem relacionados à atividade fim da empresa, eram considerados os mais importantes e os que deveriam ser observados de perto. No mundo contemporâneo, ao se utilizar os princípios do gerenciamento de processos, passou-se a entender que os processos empresariais tinham maiores possibilidades de melhorias e de trazer benefícios às organizações. Segundo Gonçalves (2000), as empresas do futuro deixarão de enxergar processo apenas na área industrial, passando a se organizar por meio de seus processos empresariais e direcionarão seus esforços para seus clientes. 3.2 Qualidade e Produtividade Estes dois elementos são fatores chave para a competitividade no setor produtivo. Ao se iniciar a industrialização, a maior preocupação foi com a produtividade, remetendo a uma maior atenção à eficiência nos processos de produção. Neste momento, ainda não se tinha uma visão de que esta preocu- pação direcionada apenas ao processo produtivo não abordava outros aspec- tos da transformação produtiva relacionada à agregação de valor nos bens/ serviços fornecidos pela organização ao mercado. Uma das consequências da economia globalizada foi o acirramento da competitividade organizacional, onde a qualidade passou a ser um – 35 – Estrutura da Administração da Produção diferencial competitivo que garantia a sobrevivência das organizações no mercado. Esta preocupação com a qualidade evidenciou que a falta desta gerava custos com produtos defeituosos e retrabalho, além da insatisfação dos clientes e assistência técnica. Percebeu-se então que o aumento da produtividade deveria ser pautado de uma preocupação direta com a qualidade em todos os processos envolvi- dos, tanto os produtivos como os empresariais, possibilitando que a organiza- ção obtivesse maiores ganhos em todas as fases de suas operações. 3.2.1 Produtividade É crescente a preocupação com a eficiência e a produtividade nas cadeias de valor. A eficiência é uma relação com os meios utilizados para se alcançar um determinado resultado, com a otimização do uso destes meios. Já a produtividade, inicialmente, era considerada no sentido de apontar a capacidade de produção da organização, esta definição inicial migrou para uma relação entre o que foi produzido pela organização (output) e os recur- sos necessários para tal (input). A relação existente entre a eficiência e a produtividade é direta, quanto mais eficientemente é realizado o processo de transformação do input em output, maior é a produtividade, ou seja, uma melhoria na eficiência de um processo produtivo leva a uma melhor pro- dutividade. A produtividade é, na verdade, um índice valioso que pode ser usado para mensurar os processos produtivos realizados em uma organização (MARTINS E LAUGENI, 2001; SLACK et al., 2008). Para Martins e Laugeni (2001), ao se determinar um índice de produ- tividade deve-se levar em consideração a produtividade total, onde todos os recursos utilizados para a produção do bem/ serviço são contemplados, ou de forma parcial onde apenas um dos recursos é considerado, tem-se então: 2 Produtividade parcial: relação entre o output total e o input de um dos insumos utilizados, podendo calcular então a produtividade da energia utilizada, de um insumo específico utilizado, da mão-de- -obra, entre outros. Produtividade = OUTPUT INPUT Administração da Produção – 36 – Exemplo 1 Determinar a produtividade parcial da mão-de-obra de uma organiza- ção que faturou R$100.000,00 em determinado mês e que para tal utilizou 3.400 homens/hora (20 funcionários trabalhando 170 horas por mês). Solução: Output = R$100.000,00 Mão-de-obra (input) = 3.400 homens.hora/mês Produtividade Produtividade =1000 = R$29,41/ homem/ hora 3.400 *Este resultado nos informa que cada homem/ hora trabalhou nesta empresa gerando um output de R$29,41. 2 Produtividade Total: relação entre o output total e o input total utilizado pela organização. Exemplo 2 Determinar a produtividade de uma organização que produziu 1.000 toneladas em um mês e para tal gastou R$200.000,00. Output = 1.000 toneladas Input = R$200.000,00 Produtividade = 1.000 1.000 = 0,005 t/ R$ 200.000 *Este resultado nos informa que a cada real gasto pela empresa. Foram produzidos 0,005 toneladas ou 5 kg de produto. 3.2.2 Qualidade A qualidade, em um primeiro momento, foi associada apenas ao bemou ao serviço a ser fornecido ao mercado, mas nos dias atuais esta qualidade está presente no gerenciamento das organizações de forma mais ampla. – 37 – Estrutura da Administração da Produção Apesar de se ter uma visão de que a qualidade de um bem ou serviço seja referente à sua excelência, o termo é altamente subjetivo, pois na realidade, a qualidade de um bem ou serviço tem relação direta com seu uso, ou seja, esta qua- lidade é relacionada ao fato de: para que e para quem o produto foi produzido. A qualidade de um bem/serviço pode ser vista pela ótica do produtor e a ótica do cliente, para o produtor a qualidade está associada à busca pelo aten- dimento da necessidade do cliente, e para o cliente a qualidade está associada à utilidade que ele reconhece no produto. A qualidade sempre esteve presente nesta relação produtor/consumidor. No passado existia uma inspeção da qualidade, onde na verdade se separa- vam os produtos “aceitáveis” dos produtos “rejeitados”, sendo uma forma de controle que, efetivamente, não gerava qualidade e sim separava os produtos defeituosos ao final da produção, sem trazer nenhum benefício ao processo produtivo. No período da inspeção, a ênfase dada era sempre em relação à conformidade, pois se acreditava que o cliente buscava produtos que atendiam às especificações estabelecidas pelos fabricantes, este era o entendimento de qualidade da época (LONGO, 1996; SLACK et al., 2009; CAMPOS, 1992). Após a era da inspeção, veio a era do controle estatístico da qualidade, que surgiu juntamente com a produção em massa, com a introdução de téc- nicas estatísticas de amostragem no controle da qualidade. No âmbito da organização surgiu o setor de controle da qualidade. Foi neste momento que se passou a reconhecer que a variabilidade era uma realidade nos processos produtivos e que ela seria entendida por meio da estatística. Percebeu-se que a inspeção em 100% dos itens produzidos não era a melhor forma de separar os produtos aceitáveis dos rejeitados, passando-se a utilizar a amostragem para esta verificação. Após esta era, veio a garantia da qualidade, onde a qualidade deixou de ser uma prática restrita e baseada na produção fabril, passou a ter implicações mais amplas ligadas efetivamente ao gerenciamento. Nesta era havia quatro elementos distintos a serem focados: 2 Quantificação dos custos da qualidade: referente ao custo para se atingir um determinado nível de qualidade. Estes custos se divi- diam em evitáveis e inevitáveis, onde os evitáveis eram os referentes Administração da Produção – 38 – às falhas nos produtos e os inevitáveis eram os referentes aos custos de amostragem, inspeção e outras iniciativas relacionadas; 2 Controle total da qualidade: referente ao controle dos projetos de novos produtos, controle de materiais e controle de produtos. Tal controle era executado de forma colaborativa envolvendo diver- sos departamentos das organizações, como por exemplo: compras, engenharia e marketing; 2 Engenharia da confiabilidade: referente à prevenção da ocorrên- cia de defeitos, focada nas habilidades de engenharia, onde a quali- dade deveria estar presente durante todo o processo; 2 Zero defeito: referente, principalmente, à filosofia, foi o último movimento da era da garantia da qualidade. A era da garantia da qualidade foi a última antes da era vivida nos dias de hoje. Surgiu então a preocupação com a gestão estratégica da qua- lidade. Nesta nova era, as organizações associaram a qualidade à lucra- tividade, passando a pensar a qualidade do ponto de vista do cliente. Tais mudanças surgiram como resposta às perdas de rentabilidade e de participação de mercado com a má qualidade. Surgiu então uma nova filosofia gerencial, a gestão da qualidade total, que trouxe a concepção de um sistema de qualidade. Nesta era, a qualidade passou a ser uma respon- sabilidade de toda a organização (LONGO, 1996; SLACK et al., 2009; CAMPOS, 1992). 3.2.3 Dimensões da Qualidade Segundo Juran (1994), a origem da satisfação de um cliente, com um bem ou serviço, está em suas características e por este motivo tais clientes o adquirirem. Em contrapartida, a insatisfação com os bens/serviços é baseada nas não conformidades percebidas durante a experimentação dos mesmos. Neste sentido, as dimensões da qualidade são atributos esperados de um bem/serviço quanto ao atendimento das necessidades dos clientes, que cola- boram no entendimento da melhor forma para se atingir este atendimento das necessidades. Estas dimensões ou características da qualidade associadas aos bens/serviços, segundo Ligeiro (1996) são: – 39 – Estrutura da Administração da Produção 2 Desempenho: trata das características básicas de um bem/ser- viço, seriam seus requisitos técnicos. Esta dimensão deve atender as minimamente as expectativas do cliente. Caso contrário haverá espaço para que o cliente rejeite ou devolva o produto; 2 Características: são os atributos complementares relacionados ao funcionamento do bem/serviço, eles agregam valor, mas não são exigências do cliente. Entretanto o não atendimento destes valo- res pode alterar a percepção do cliente em relação ao bem/serviço possibilitando uma perda deste cliente. Na verdade estes atributos podem gerar uma diferenciação perante a concorrência; 2 Confiabilidade: reflete a ocorrência de interrupções inespera- das ou mau funcionamento do bem/serviço, sendo avaliada atra- vés da probabilidade de que esta falha ocorra. Do ponto de vista do cliente, sua expectativa quanto ao produto pode ser frustrada ou não, dependendo deste índice de confiabilidade do produto. Quanto maior o índice, menor a chance de frustrações; 2 Conformidade: reflete o grau de atendimento às características preestabelecidas, frente à especificação do bem/serviço. Estas carac- terísticas abrangem diversos atributos do produto que possam ser reconhecidos pelo cliente; 2 Durabilidade: é referente a durabilidade do produto, sua vida útil. Esta vida útil contempla reparos viáveis economicamente e tecnicamente. Pode ser definido como o tempo pelo qual um bem/serviço mantém suas características básicas e seu funciona- mento normal; 2 Atendimento: é diretamente relacionada ao uso do bem/serviço, sendo a interface do cliente com o bem/serviço durante todos os momentos de contato. Este atributo tem uma força de afetar a per- cepção do cliente quanto ao bem/serviço; 2 Estética: esta dimensão está relacionada ao ponto de vista do cliente. Abrange os aspectos estéticos e sensoriais relacionados ao produto, são baseadas em questões individuais de cada um dos clientes e clientes potenciais do bem/serviço; Administração da Produção – 40 – 2 Qualidade percebida: esta dimensão é relativa a expectativa do cliente quanto ao bem/serviço ou quanto a seu produtor. Quanto ao reconhecimento do produtor, este reconhecimento pode ser projetado para outros bens/serviços fornecidos ao mercado por este produtor sem ser o específico mencionado anteriorment 3.2.4 – Gestão da Qualidade Para Juran (1994) a qualidade é a adequação ao uso de um bem/ser- viço. As deficiências causam problemas aos clientes e, portanto, provocam a sua insatisfação. Segundo este autor, a gestão da qualidade tem 3 pontos fundamentais, a trilogia Juran: Figura 2: Trilogia Juran. PLANEJAMENTO DA QUALIDADE MELHORIA DA QUALIDADE CONTROLE DA QUALIDADE Identi�car os clientes, determinar as suas necessidades, criar características de produto que satisfaçam essas necessidades, criar processos capazes de satisfazer essas necessidades e transferir a liderança desses processos para o nível operacional. Reconhecer as necessidades de melhoria, transformar as oportunidades de melhoria numa tarefa de todos os trabalhadores, criar um conselho de qualidade que selecione projetosde melhoria, promover a formação em qualidade, avaliar a progressão dos projetos, premiar as equipas vencedoras, publicar os resultados, rever os sistemas de recompensa para aumentar o nível de melhorias e incluir os objetivos de melhoria nos planos de negócio da empresa. Avaliar o nível de desempenho atual, comparar com objetivos �xados, tomar medidas para reduzir a diferença entreo desempenho atual e previsto. Fonte: elaborado pelo autor, adaptado de Juran, 1994. Na figura 2 Juran apresenta os pontos fundamentais e sua sequência para promover a satisfação do cliente na aquisição de bens e serviços. O primeiro ponto trata do planejamento, ou seja, criar as metodologias necessárias para determinar – 41 – Estrutura da Administração da Produção as ações a fim de alcançar os objetivos traçados. No segundo ponto é o momento de reconhecer há necessidade de melhoria e lançar propostas envolvendo os cola- boradores para auxiliar nas atividades dos projetos, por meio de comissões e do conselho de qualidade e, assim, recompensa-los pelos resultados alcançados. Já no último ponto da trilogia é o momento da manutenção e controle das ações criadas, verificando possíveis erros e falhas a fim de eliminá-las ou minimizá-las. Você sabia JOSEPH MOSES JURAN é considerado um dos “Gurus da Qualidade”. Juran é considerado o primeiro guru que aplicou a qualidade à estratégia empresarial ao invés de pensa-la em refe- rência a estatística ou outros métodos de controle da qualidade. (CORRÊA;CORRÊA,2006). 3.3 Tipos de Operações de Produção As operações, de certa forma, são similares entre si ao transformarem inputs em outputs. Mas existem diferenças entre elas que trazem implicações para a administração da produção. Para Slack et al. (2009) são 4 as dimensões que podem ser usadas para diferenciar as operações, sendo elas: 2 volume de output, sendo a característica de uma operação que pro- duz grandes volumes de um mesmo produto, característica esta que tem relação direta com a forma como a produção será organizada. Nesta dimensão é percebido um alto grau de repetição das tarefas, e por este motivo a especialização em tarefas se torna uma prática usual. Os custos unitários de cada item produzido são reduzidos; 2 variedade de output, sendo a característica de uma operação que produz um grande mix de produtos. Esta variedade de bens/ servi- ços oferecidos traz a possibilidade de pleno atendimento das neces- sidades dos clientes, mas tem seu preço, que acaba sendo repassado ao cliente final; Administração da Produção – 42 – 2 variação da demanda do output, sendo a característica de uma operação que produz para atender uma demanda que é variável, sofrendo impactos de uma sazonalidade. A implicação desta varia- ção de demanda é que a operação deve se planejar para adequar sua capacidade frente a esta demanda flutuante; 2 grau de contato com o cliente envolvido na produção do output, sendo relativa ao contato que o cliente tem com a operação, o que gera uma expectativa de atendimento e com isso uma baixa tolerância à espera, por parte deste cliente, tornando a operação mais cara. Mix de produtos é o termo utilizado para definir a mis- tura/ variação de todos os bens/serviços que uma organi- zação oferece/disponibiliza ao mercado, ou seja, refere-se ao conjunto de bens/ serviços que a organização produz/ presta serviço aos seus clientes.(CRÚZIO, 2003) Sazonalidade é a diferença de demanda ou venda de produtos que ocorre durante determinado período de tempo, esta varia- ção tem aplicações diretas no planejamento de uma organi- zação, já que ela deverá se preparar para atender maiores ou menores volumes de venda nestes períodos. (ARAÚJO, 2009) Segundo Slack et al. (2009), a posição dessas dimensões irão determinar muitas das características de sua produção, chegando ao fim ao custo unitário da produção de bens e serviços. 3.4 A administração da produção e as operações de produção Todas as organizações possuem a função produção, já que qualquer uma delas tem como objetivo produzir algum bem ou serviço. Desta forma, a fun- ção produção na organização representa a atividade diretamente relacionada – 43 – Estrutura da Administração da Produção a sua “atividade fim” e reúne os recursos destinados e necessários à produção de seus bens/ serviços. Apesar da produção ser a função central nas organizações industriais, ela não é única, e não necessariamente a mais importante, já que para que ela ocorra são necessárias outras atividades de suporte. Este fato é semelhante ao já apresentado no item 3.1 deste capítulo, quanto aos processos, onde tem-se o processo produtivo (atividade fim) e os processos empresariais (atividades de suporte). Para Slack et al. (2009), as principais funções de uma organiza- ção são: 2 função marketing; 2 função contábil - financeira; 2 função desenvolvimento de produtos/ serviços; 2 função recursos humanos; 2 função compras. Além das responsabilidades, tradicionalmente, relacionadas à adminis- tração da produção, como: o desenvolvimento das estratégias de produção e os seus desdobramentos, existe a necessidade da administração da produção de discutir e informar as demais áreas sobre estas estratégias e como colocá- -las em prática, buscando desta forma usar eficientemente todos os recursos disponíveis e gerar por meio deles os melhores bens/serviços possíveis, otimi- zando os ganhos para a organização. Para que um departamento de produção possa entender plenamente sua contribuição com a organização, ele deve estar ciente de quais dos objetivos de desempenho definidos para seu departamento são os que mais contribuem com as aspirações estratégicas da empresa. Para Slack et al. (2009), são cinco os objetivos de desempenho bási- cos que se aplicam a todos os tipos de operações produtivas, segundo Slack (2002), são eles: 2 qualidade; 2 rapidez; 2 confiabilidade; Administração da Produção – 44 – 2 flexibilidade 2 custo. Estes objetivos apontados reforçam o que foi apontado acima sobre a importância da inter-relação das operações de produção com as outras operações realizadas na organização, pois para se alcançar estes objetivos propostos é necessária a participação ativa dos outros departamentos. Importante A administração da produção que tem como uma de suas funções alcançar os objetivos da organização por meio do planejamento da produção, também tem relação direta com as outras áreas da orga- nização, pois sem a participação destas áreas distintas, os objetivos produtivos não poderão ser alcançados.. (ARAÚJO, 2009) Saiba mais 1. Neste material complementar, o tema gestão da qualidade será relacionado diretamente às questões de produtividade. – Gestão da qualidade e gestão do conhecimento: fatores- -chave para produtividade e competitividade empresarial, Marino (2006), XIII Simpep. Disponível em : http://www.simpep.feb.unesp.br/anais/ anais_13/artigos/598.pdf 2. Este artigo apresenta um estudo de caso sobre a análise e pro- posta de melhoria para um processo produtivo, agregando novos conhecimentos sobre o assunto abordado no capítulo. – Padronização e melhoria de processos produtivos em empresas de panificação: estudo de múltiplos casos, Teixiera et al. (2014), Production. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/prod/v24n2/ aop_1037-12.pdf – 45 – Estrutura da Administração da Produção Resumindo Devido às diversas transformações ocorridas no cenário das organiza- ções, a questão relacionada a como competir neste novo cenário passaram a ser cruciais para a continuidade destas no mercado. De forma simples e direta, as organizações devem ofertar produtos e serviços que atendam às necessidades e expectativas do mercado. Para que isto aconteça a administra-ção da produção deve entender questões básicas quanto aos processos com os quais está trabalhando, sua qualidade e como avaliar sua produtividade. Deve entender também que os processos produtivos têm relações muito próximas com outras atividades dentro das organizações e depende delas para poder atingir seus objetivos. Este capítulo apresentou alguns destes pontos básicos e essenciais para que a administração da produção atinja seus objetivos e principalmente os objetivos da organização. 4 Localização, Arranjo Físico e Fluxo Produtivo A administração da produção é a responsável pelo planeja- mento da atividade de reunir os recursos que serão transformados em bens/ serviços, mas também pelas fases anteriores a este pro- cesso, ao fazer parte da definição dos que serão realizados e, por meio disto, colaborar diretamente com o arranjo físico da planta fabril, assuntos abordados neste capítulo. Um outro processo decisório, que antecede a esta fase, e que tem uma função estratégica de longo prazo nas organizações, é a decisão quanto ao local/região onde instalar a planta fabril, esta definição pode levar em consideração diversas variáveis econômicas, financeiras e sociais. Administração da Produção – 48 – Ao estudar estes novos assuntos, você passará a compreender sua relação direta com as atividades relativas à administração da produção, em um nível anterior ao planejamento, verificando a importância desta área. Necessário compreender que as decisões tomadas em relação ao que será apresentado neste capitulo são referentes a aspectos que podem colaborar para o sucesso ou fracasso de uma organização. Objetivos de aprendizagem: 2 Identificar os fatores que afetam as escolhas de localização das plan- tas fabris 2 Aplicar os métodos para localização 2 Determinar os métodos adequados de arranjo físico 2 Mapear o fluxo produtivo 4.1 Localização da Organização A determinação do local ideal para a instalação é um fator de grande rele- vância para as organizações contemporâneas, geralmente inseridas em cadeias de valor globais. Para que esta importante decisão seja tomada da melhor forma, alguns fatores diretamente relacionados a ela devem ser contemplados, tais como: onde se encontra o mercado consumidor; os fornecedores; onde se tem mão de obra qualificada para atender às necessidades da organização; onde os custos fixos para a instalação serão otimizados; dentre outros. Entretanto, existe uma variação considerável que depende do segmento industrial no qual a organização atua (SLACK et al., 2009; CORRÊA et al., 2006; PEINADO et al.,2007). Esta avaliação da localização deve levar em consideração ainda os fatores quantificáveis como os custos com água, luz, taxa, impostos e equipamentos, assim como com os não quantificáveis ou subjetivos: os sindicatos, as condi- ções ambientais e a qualidade de vida. Segundo Slack et al. (2009) existem vários motivos que podem levar a busca de uma nova localidade para instalação de uma nova sede ou organização como: 2 criação efetiva de uma nova organização, um novo negócio; – 49 – Localização, Arranjo Físico e Fluxo Produtivo 2 ao esgotamento de espaço da organização atual, a busca de uma nova instalação para ampliação da capacidade produtiva; 2 fechamento da instalação atual e mudança para um novo local, o que pode ocorrer devido a fatores como esgotamento de recursos básicos, redução de custos operacionais, busca de localidades mais próximas do mercado consumidor e fornecedor, busca de locais que ofereçam incentivos fiscais, etc. Peinado e Graemi (2007) afirmam que, para se determinar o local para uma instalação, é necessário encontrar um local ideal, onde se possa operar (fabricar produtos ou prestar serviços), visando a criação de vantagens competitivas. Cor- rêa e Corrêa (2006) complementam, ao apontar que a localização de uma opera- ção afeta diretamente a competitividade frente a questões internas e externas. O que se pode verificar é que a localização exerce um forte impacto na organização, devendo ser considerado um fator crítico para atingir sua estratégia competitiva. Apesar de ser uma avaliação complexa, a decisão sobre a localização da empresa tem alguns métodos de fácil utilização, que podem ser fundamentais na tomada de decisão. Dentre eles, podemos citar os seguintes: método do cen- tro de gravidade; do ponto de equilíbrio e da avaliação dos fatores qualitativos. Método do centro de gravidade: são levadas em consideração as dis- tâncias da instalação a serem construídas, seus consumidores e fornecedores. Neste método, deve-se primeiramente determinar as coordenadas X e Y dos pontos de consumo e de fornecimento, considerando também os volumes a serem transportados e suas respectivas taxas de transporte. Após estas defini- ções, deve-se utilizar a fórmula: Localização Vertical = ∑ Q.C.Y / ∑Q.C Localização Horizontal = ∑Q.C.X / ∑Q.C onde Q = quantidade a ser transportada C = custo de transporte Y = coordenada vertical X = coordenada horizontal ∑= soma das variáveis. Administração da Produção – 50 – Exemplo 1: Um mapa, em escala 1:200.000 (cada 1cm no mapa equivale a 2km reais), apresenta a disposição de algumas pequenas cidades do interior do Rio Grande do Sul onde está localizado o ponto de insumos Anta Gorda e os pontos de con- sumo Arvorezinha, Ilópolis e Encantado. Determinar a melhor localização para a empresa considerando as localizações das cidades onde há pontos de insumos / consumo, os custos de transporte e as quantidades a serem transportadas. Gráfico 1 - Distribuição dos locais referente ao exemplo 1. Anta Gorda y 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 x (0,5) Arvorezinha Ilópolis Encantado (2,1) (4,4) (4,2) Fonte: Elaborado pelo autor, 2015. O mapa foi colocado sobre coordenadas cartesianas, onde as distâncias entre as marcações é de 1 cm. A tabela 1 apresenta as quantidades a serem transportadas (em tonela- das) e o custo do transporte ($ por tonelada por km). Também foram acres- centadas as informações sobre as coordenadas obtidas pelo mapa. – 51 – Localização, Arranjo Físico e Fluxo Produtivo Tabela 1 – Coordenadas entre as distâncias percorridas Local Quantidade Custos Transp Coord Horiz X Cord Vert Y Anta Gorda 500 200 0 5 Arvorezinha 300 100 4 4 Ilópolis 400 150 4 2 Encantado 350 170 2 1 Fonte: Elaborada pelo autor, 2015 As quantidades a serem transportadas, seus respectivos custos e a consoli- dação das posições horizontais (eixo x) e verticais (eixo y) são apresentadas con- siderando que cada eixo representa a distância a ser percorrida em quilômetros. O cálculo matemático é feito com base nos dados apresentados, utili- zando-se a fórmula: ∑ Q.C.Y / ∑Q.C Figura 1 - Cálculos referentes ao exemplo 1. Localização Horizontal: ______________________________________________________ (500 x 200 ) + (300 x 100) + (400 x 150) + (350 x 170) (500 x 200 x 0) + (300 x 100 x 4) + (400 x 150 x 4) + (350 x 170 x 2) = = 0 + 120.000 + 240.000 + 119.000___________________________ 100.000 + 30.000 + 60.000 + 59.500 = 479.000________ 249.500 1,92 ______________________________________________________ (500 x 200 ) + (300 x 100) + (400 x 150) + (350 x 170) (500 x 200 x 5) + (300 x 100 x 4) + (400 x 150 x 2) + (350 x 170 x 1) = 500.000 + 120.000 + 120.000 + 59.500_______________________________ 100.000 + 30.000 + 60.000 + 59.500 = 799.500________ 249.500 = = 3,20 Localização Vertical: ~ ~ = Fonte: Elaborada pelo autor, 2015 Administração da Produção – 52 – Gráfico 2 – Coordenadas de localização da empresa Anta Gorda y 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 x (0,5) Arvorezinha Ilópolis Encantado (2,1) (4,4) (4,2) (1,92, 3,20) E Fonte:
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