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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA LETRAS PORTUGUÊS - INGLÊS ISABELLE CORDEIRO PEDROSA TEORIAS DA NARRATIVA RIO DE JANEIRO - RJ 2019 1 ISABELLE CORDEIRO PEDROSA TEORIAS DA NARRATIVA Trabalho apresentado no Curso de Letras - Português / Inglês Habilitação na Universidade Veiga de Almeida para a disciplina Teorias da Narrativa. Professor: Diogo Oliveira Polo: Tijuca RIO DE JANEIRO - RJ 2019 2 No conto ‘’O Cobrador’’ de Rubem Fonseca, vemos um homem narrando seus atos em primeira pessoa e fazendo justiça com próprias mãos; porém, com uma justiça para sua autossatisfação, algo íntimo. Antes de chegarmos à próxima página, já presenciamos um embate entre nosso protagonista e um dentista cujo serviço ele se nega a pagar. Como forma de justificar o ato de negar-se ao pagamento, destruir o consultório e acertar o profissional na perna, ele simplesmente diz: “Odeio dentistas, comerciantes, advogados, industriais, funcionários, médicos, executivos, essa canalha inteira; Todos eles estão me devendo muito. ”(FONSECA,1979,p.162) e ainda “eu não pago mais nada! Cansei de pagar! [... ] agora eu só cobro! ” (FONSECA,1979, p.162) E neste momento, se parássemos a leitura provavelmente, ficar íamos com a impressão de que o crédito que ele busca é monetário. Contudo, não é bem assim. Mas o quê o personagem busca? Quem lhe deve? O quê lhe é devido? De acordo com nosso protagonista muitas coisas lhe são devidas, algumas que jamais cruzariam a minha mente, como por exemplo: “[... ] está todo mundo me devendo ! Estão me devendo comida, buceta, cobertor, sapato, casa, automóvel, relógio, dentes, estão me devendo.’’ (FONSECA,1979,p.162 ). Dando seguimento à leitura verificamos que o buscado é o mínimo para a subsistência e afirmação da dignidade da pessoa. O requerido é, a grosso modo, dignidade, saúde, lazer e educação. Nada mais, nada menos. 3 O conflito é instalado quando o protagonista se autonomeia “justiceiro” e passa a efetuar as “cobranças”, sendo a única forma de pagamento a vida da pessoa cobrada. Não há outra moeda. Todos que possuem algo que ele almeja passam imediatamente para sua lista de devedores e a cobrança pode ser efetuada a qualquer momento. É notório o prazer que o protagonista extrai dos seus atos, já que premedita os meios e busca aprimorar os já utilizados. O ápice da vida do nosso protagonista sem nome fica por conta do encontro com Ana que, além de aceitar seus atos, o orienta quanto as formas mais eficazes de revoltar-se contra o sistema, assim como quanto aos reais responsáveis pela fomentação e manutenção das desigualdades que tanto o afetam. No decorrer do texto, o cobrador atira em um homem dirigindo um Mercedes, em um contrabandista vendendo armas, em um jovem casal rico, em um executivo e, finalmente, estupra uma mulher. Em todos esses casos, os crimes são contra pessoas que possuem algo que ele não possui. Não importa se conversível em moeda ou não. Existem apenas dois momentos em que ele não recorre à violência. O primeiro é com uma mulher que ele descreve como “fodida”(FONSECA, 1979, p.168) e decide que ela não lhe deve nada. O segundo é com a jovem e rica Ana (potencialmente suicida) que ele toma como algo que lhe é devido e, assim, não a faz mal. No fim, nossas ações, como as do cobrador são pautadas pelos princípios de justiça nos quais acreditamos. Retirando a vida das pessoas que ele acreditava estarem usurpando algo dele, o cobrador, ao seu modo fez “justiça”. Contudo, me pergunto se a força motriz de seus atos não tenha sido a inveja. Desde o princípio nosso protagonista proclama que todos lhe devem; o que me faz concluir que a sequência de eventos que presenciamos, nada mais foi do que o desfecho da fúria de alguém que não queria/aceitava jogar com as cartas que lhe foram dadas. 4 Referências: Material na plataforma do aluno (UVA) 20:37h 26/08/2019
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