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História

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Prévia do material em texto

História de Moçambique 
do Séc XVI ao Séc XVIII 
 
 
Curso de Licenciatura em Ensino de História 
Faculdade de Ciências Sociais e Filosofícas 
Departamento de História 
 
Universidade Pedagógica 
Rua João Carlos Raposo Beirão nº 135, Maputo 
Telefone: (+258) 21-320860/2 ou 21 – 306720 
Fax: (+258) 21-322113 
 
Centro de Educação Aberta e à Distancia 
Programa de Formação à Distância 
Av. de Moçambique, Condomínio Vila Olímpica, bloco 22 edifício 4, R/C, Zimpeto 
Telefone: (+258) 82 3050353 
e-mail: cead@up.ac.mz / up.cead@gmail.com 
 
 
 
Ficha técnica 
 
Autoria:Maria Amida Maman e 
 
 José Francisco Bambo Sumburane 
Revisão Científica: Eceu Muianga 
Revisão da Engenharia de EAD e Desenho Instrucional: Augusta Guilima 
Edição Linguistica: Salomão Massingue 
Edição técnica/Maquetização: Aurélio Armando Pires Ribeiro 
Imagem base da Capa: Gaël Epiney 
 
 
 
 
 
© 2018 Universidade Pedagógica 
Primeira Edição 
Impresso e Encadernado por 
 
 
 
 
© Todos os direitos reservados. Não pode ser publicado ou reproduzido em nenhuma forma ou meio –mecânico ou 
eletrónico- sem a permissão da Universidade Pedagógica. 
 
 
 
Índice 
Visão Geral do Módulo de 1 
Unidade 1: MOÇAMBIQUE DURANTE O PERÍODO DO COMÉRCIO DE OURO 1 
Lição n° 1 3 
Caracterização de Moçambique nos finais do século XV ............................................... 3 
Lição n° 2 8 
Caracterização Regional de Moçambique ....................................................................... 8 
Lição n° 3 14 
A presença portuguesa em Moçambique ....................................................................... 14 
Lição n° 4 21 
Administração portuguesa em Moçambique de 1505 a 1675 ........................................ 21 
Lição n° 5 26 
"O comércio do ouro" .................................................................................................... 26 
Lição n° 6 31 
"O impacto do comércio de ouro" ................................................................................. 31 
Unidade 2: O COMÉRCIO DE MARFIM, SÉCULOS XVII – XVIII 35 
Lição n° 7 38 
"A administração de Moçambique, 1675-1752" ............................................................ 38 
Lição n° 8 46 
"O comércio de marfim, no século XVII e XVIII" ........................................................ 46 
Lição n° 9 57 
"Os prazos do vale do zambeze: A origem" .................................................................. 57 
Lição n° 10 71 
"As formulações legais sobre a origem prazos do vale do zambeze" ............................ 71 
Lição n° 11 86 
"Actividades económicas dos prazos" ........................................................................... 86 
Lição n° 12 92 
"As relações sociais nos prazos" .................................................................................... 92 
Lição n° 13 104 
"O redimensionamento dos prazos em estados militares" ........................................... 104 
Lição n° 14 114 
"Nascimento do Comércio de Escravos" ..................................................................... 114 
Lição n° 15 129 
"Moçambique e a grande seca" .................................................................................... 129 
Bibliografia 137 
 
 
 
 
 
1 
 
 
Visão Geral do Módulo de 
Caro(a) estudante, 
Tem em sua posse o Módulode História de Moçambique do 
Século XVI ao Século XVIII,que integra a grelha curricular do 
Curso de História oferecido pela Universidade Pedagógica, na 
modalidade de Educação a Distância. 
EsteMódulo é constituído por duas unidades e tem por finalidade 
orientar os seus estudos individuais neste semestre. Ao estudar a 
disciplina de História de Moçambique do Século XVI ao Século 
XVIII, você irá integrar os conhecimentos de História de 
Moçambique no conjunto da História de África e da história 
mundial; contextualizar a situação de Moçambique no panorama 
histórico internacional; caracterizar o comércio do ouro; analisar a 
formação e o desenvolvimento de instituições resultantes do 
comércio e da presença européia e árabe na região; identificar o 
impacto social, económico – político e cultural da presença árabe e 
europeia. 
OMódulocontempla textos introdutórios para situar o assunto que 
será estudado; os objectivos a serem alcançados ao término de cada 
unidade temática e aula, a indicação de textos como leituras 
obrigatórias que você deve realizar; as diversas actividades que 
favorecem a compreensão dos textos lidos, seguidos de um 
feedback. No guia poderá encontrar, também,a indicação de 
leituras complementares, isto é, indicações de outros textos, livros e 
materiais relacionados ao tema em estudo, para ampliar as suas 
possibilidades de reflectir, investigar e dialogar sobre aspectos do 
seu interesse. Ao longo das lições vai encontrar exercícios de auto - 
avaliação e respectivos comentários no final de cada unidade. 
 
 
2 
 
Para além da auto-avaliação, você será avaliado através da 
realização de trabalhos individuais e de grupo, dois testes escritos e 
um exame final. 
Esta é a minha proposta para o estudo desta disciplina neste curso. 
Ao receber o módulo, sinta-se como um actor que se apropria de 
um texto para expressar a sua inteligência, sensibilidade e emoção, 
pois você é também um(a) autor(a) no processo da sua formação 
em História. Os seus estudos individuais, a partir deste guia, 
conduzir-nos-ão a muitos diálogos e a novos encontros. 
Nós, na qualidade de elaboradores e organizadores deste guia, 
sentimo-nos honrados em tê-lo(a) como interlocutor(a) em 
constantes diálogos motivados por um interesse comum, a 
educação de pessoas e a melhoria contínua das bases para o 
aumento do emprego e renda no país. 
Seja muito bem-vindo(a) ao nosso convívio e a seguir veja o índice 
temático que vai orientar os seus estudos. 
 
UNIDADE I: Moçambique durante o período do comércio do 
ouro 
Lição 1: Caracterização de Moçambique nos finais do século XV; 
Lição 2: Caracterização das regiões de Moçambique: litoral, 
interior a norte e sul do Zambeze e a região do sul do rio Save; 
Lição 3: A presença portuguesa em Moçambique; 
Lição 4: Administração portuguesa em Moçambique; 
Lição 5: O comércio do ouro; 
Lição 6: O impacto do comércio de ouro. 
 
 
 
 
 
 
3 
 
Unidade II: Moçambique durante o período do comércio do 
marfim 
Lição 7: A administração de Moçambique, 1675-1752; 
Lição 8: O comércio de marfim, no século XVII e XVIII; 
Lição 9: Os prazos do vale do zambeze: A origem; 
Lição 10: As formulações legais sobre a origem dos prazos do vale 
do zambeze; 
Lição 11: Actividades económicas dos prazos; 
Lição 12: As relações sociais nos prazos; 
Lição 13: O redimensionamento dos prazos em estados militares; 
Lição 14: O nascimento do Comércio de Escravos; 
Lição 15: Moçambique e a grande seca. 
 
 
Objectivos do Módulo 
 
O módulo visa ajudá-lo a ser capaz de: 
 Compreender a história de Moçambique no período do século 
XVI ao século XVI 
 Analisar os processos de reestruturação da sociedade faceà 
presença comercial estrangeira 
 
 
A quem se destina o Módulo 
Este Módulo foi elaborado para os estudantes do segundo ano do 
curso de ensino em História. 
 
 
 
4 
 
 
Avaliação 
As modalidades de avaliação sumativa serão combinadas com o 
Tutor Geral. Em geral, tais actividades poderão variar em número e 
tipologia, por exemplo, testes escritos, trabalhos independentes em 
grupo ou individuais), actividades de campo, fichas de leitura, entre 
outras.Ícones de Actividades 
 
 
Caro estudante, para lhe ajudar a orientar-se no estudo deste módulo e 
facilmente foram usados marcadores de texto do tipo ícones. Os ícones 
foram escolhidos pelo CEMEC (Centro de Estudos Moçambicanos e 
Etnociência) da Universidade Pedagógica. Tomou-se em consideração a 
diversidade cultural Moçambicana. Encontre, a seguir, a lista de ícones, o 
que a figura representa e a descrição do que cada um deles indica no 
módulo: 
 
1. Exercício 
 
[enxada em actividade] 
2. Actividade 
 
[colher de pau com alimento 
para provar] 
3. Auto-Avaliação 
 
[peneira] 
 
 
5 
 
4. Exemplo/estudo de 
caso 
 
[Jogo Ntxuva] 
5. Debate 
 
[fogueira] 
6. Trabalho em grupo 
 
[mãos unidas] 
7. Tome nota/Atenção 
 
[batuque soando] 
8. Objectivos 
 
[estrela cintilante] 
9. Leitura 
 
[livro aberto] 
10. Reflexão 
 
 
[embondeiro] 
11. Tempo 
 
[sol] 
12. Resumo 
 
[sentados à volta da 
fogueira] 
13. Terminologia 
Glossário 
 
[Dicionário] 
14. Video/Plataforma 
 
[computador] 
15. Comentários 
 
 
 
[Balão de fala] 
 
 
 
6 
 
1. Exercício (trabalho, exercitação) – A enxada relaciona-se com 
um tipo de trabalho, indica que é preciso trabalhar e pôr em prática 
ou aplicar o aprendido. 
2. Actividade - A colher com o alimento para provar indica que é 
momento de realizar uma actividade diferente da simples leitura, e 
verificar como está a ocorrer a aprendizagem. 
3. Auto-Avaliação – A peneira permite separar elementos, por isso 
indica que existe uma proposta para verificação do que foi ou não 
aprendido. 
4. Exemplo/Estudo de caso – Indica que há um caso a ser resolvido 
comparativamente ao jogo de Ntxuva em que cada jogo é um caso 
diferente. 
5. Debate – Indica a sugestão de se juntar a outros (presencialmente 
ou usando a plataforma digital) para troca de experiências, para 
novas aprendizagens, como é costume fazer-se à volta da fogueira. 
6. Trabalho em grupo –Para a sua realização há necessidade de 
entreajuda, que se apoiem uns aos outros 
7. Tome nota/Atenção – Chamada de atenção 
8. Objectivos – orientação para organização do seu estudo e daquilo 
que deverá aprender a fazer ou a fazer melhor 
9. Leitura adicional – O livro indica que é necessário obter 
informações adicionais através de livros ou outras fontes. 
10. Reflexão – O embondeiro é robusto e forte. Indica um momento 
para fortalecer as suas ideias, para construir o seu saber. 
11. Tempo – O sol indica o tempo aproximado que deve dedicar á 
realização de uma tarefa ou actividade, estudo de uma unidade ou 
lição. 
12. Resumo – Representado por pessoas sentadas à volta da fogueira 
como é costume fazer-se para se contar histórias. É o momento de 
sumarizar ou resumir aquilo que foi tratado na lição ou na unidade. 
13. Terminologia/Glossário – Representado por um livro de consulta, 
indica que se apresenta a terminologia importante nessa lição ou 
 
 
7 
 
então que se apresenta um Glossário com os termos mais 
importantes. 
14. Vídeo/Plataforma – O computador indica que existe um vídeo 
para ser visto ou que existe uma actividade a ser realizada na 
plataforma digital de ensino e aprendizagem. 
15. Balão com texto – Indica que existem comentários para lhe ajudar 
a verificar as suas respostas às actividades, exercícios e questões de 
auto-avaliação. 
 
 
 
 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 1: Título da Unidade 
 
 
 
Pág. 2 -34 
 
Conteúdos 
1 
U
N
ID
A
D
E
 
 
Lição n° 1 
Caracterização de Moçambique nos finais do 
século XV 
 
Lição n° 2 
Caracterização Regional de Moçambique 
 
Lição n° 3 
A presença portuguesa em Moçambique 
 
Lição n° 4 
Administração portuguesa em Moçambique de 
1505 a 1675 
 
Lição n° 5 
"O comércio do ouro" 
 
Lição n° 6 
"O impacto do comércio de ouro" 
 
MOÇAMBIQUE DURANTE O 
PERÍODO DO COMÉRCIO DE OURO 
 
 
2 
 
 
Introdução 
Caro estudante, esta unidade de aprendizagem permite-nos 
conhecer as transformações ocorridas durante a predominância do 
comércio de ouro dominado pelas comunidades islamizadas, e que 
a partir do século XVI passou a contar com a intervenção de 
comerciantes portugueses, provocando mudanças na estrutura da 
sociedade.Nesta unidade, vai aprender sobre acaracterização de 
Moçambique nos finais do século XV: litoral, interior a norte e sul 
do Zambeze e a região do sul do rio Save; a presença portuguesa 
em Moçambique;Administração portuguesa em Moçambique; o 
comércio do ouro; o impacto do comércio de ouro. 
 
 
Objectivos da unidade 
 
Ao completar esta unidade, você deve: 
 Caracterizar Moçambique entre o século XVI a XVII; 
 Descrever o desenvolvimento do comércio de ouro em 
Moçambique; 
 Explicar como foi aparticipação dos portugueses nesse 
comércio; 
 Descrever as relações entre os portugueses e o estado do 
Monomotapa. 
 
 
 
 
3 
 
 
Lição n° 1 
Caracterização de Moçambique nos finais do século XV 
 
 
Introdução 
Caro estudante, nesta lição vai aprender as características gerais de 
Moçambique, nos finais do século XV. A lição vai basear-se em 
extractos de documentos escritos por portugueses a quando da sua 
viagem marítima para a Índia entre 1497-98. Esta descrição 
permite-nos caracterizar aspectos importantes da vida das 
comunidades de Moçambique. Durante a aprendizagem, vai 
deparar-se com actividades e exercícios de auto-avaliação e espero 
que os resolva e, em caso de alguma dúvida, coloque-me para 
chegarmos a uma solução. 
 
Tempo 
 
 
 
Você vai precisar de 8 horas para estudar esta lição. 
 
 
Objectivos 
Ao completar esta lição, você deve ser capaz de: 
 Descrever a impressão dos portugueses sobre 
Moçambique nos finais do século XV; 
 Identificar aspectos do texto sobre a situação de 
Moçambique; 
 Caracterizar as bases económicas, políticas e sociais desse 
período. 
 
 
4 
 
Caracterização de Moçambique nos finais do século 
XV 
 
Leia com atenção o texto que se segue. Durante a leitura irá 
estranhar a sua redacção. Ele foi escrito aquando da viagem de 
Vasco da Gama, em 1477-1478, em direcção a Índia. 
E sendo uma quinta-feira, que eram 10 de Janeiro de 1498, 
houvemos vista de um rio pequeno e aqui pousamos ao longo 
da costa. E ao outro dia (Janeiro 11) fomos em os batéis a terra, 
onde achamos muitos homens e mulheres negros e são de 
grandes corpos, e um senhor entre eles (Álvaro Velho, Roteiro 
da primeira viagem de Vasco da Gama. 1497-1498. Edição 
anotada por Fontoura da Costa. Lisboa, MCMXL). 
Preste atenção à descriçãoque está sendo feitasobre as 
populações que os portugueses encontraram e as suas condições 
de vida. 
E o capitão-mor mandou sair em terra, um Martim Afonso que andou 
em Manicongo muito tempo, e ouro homem com ele; e eles lhe fizeram 
grande agasalho. E o capitão mandou àquele senhor uma jaqueta, e 
umas calças vermelhas, e uma carapuça, e uma manilha. E ele disse que 
qualquer coisa que houvesse em sua terra, que nos fosse necessária, que 
no-la daria de muita boa vontade; e isto entendia o dito Martim Afonso. 
E aquela noite foi o dito Martim Afonso e o outro, com aquele senhor, a 
dormir as suas casas, e nós tornamo-nos para nossos navios. 
E indo aquele senhor pelo caminho vestiu aquilo que lhe deram; e dizia, 
àqueles que o vinham receber, com muito contentamento;”vedeso que 
me deram?”. E eles batiam-lhe as palmas por cortesia; e isto fizeram por 
três ou quatro vezes até que chegou (a) aldeia, onde andou por todo o 
lugar assim vestido como ia, até que se meteu dentro de casa. E mandou 
agasalhar os dois homens que iam com ele em um cerado; e ali lhes 
mandou papas de milho, que há muito naquela terra, e uma galinha 
como as de Portugal. 
Tome nota sobre a descrição da população 
E, toda aquela noite vieram muitos homens e mulheres a vê-los. E 
quando veio a manhã (Janeiro 12), o senhor os foi ver e lhes disse que 
se viessem: deu-lhes galinhas para o capitão-mor dizendo-lhes ele que 
 
 
5 
 
ia mostrar aquilo que lhe deram a um grande senhor que eles tinham, e, 
segundo nos parecia, que seria o Rei daquela terra; e quando chegaram 
ao porto, onde os barcos estavam, já vinham com eles bem 200 homens 
que vinham a vê-los. 
Esta parte do texto mostra-nos a existência de relações de 
subordinação – senhor, grande senhor. 
Esta terra, segundo nos pareceu, é muito povoada e há nela, muitos 
senhores, e as mulheres nos pareceu que eram mais (do) que os 
homens, porque, onde vinham 20 homens, vinham 40 mulheres. E as 
casas desta terra são de palha; e as armas desta gente são arcos muito 
grandes, e flechas e azagaias de ferro. E há nesta terra, segundo nos 
pareceu, muito cobre, o qual trazem nas pernas e pelos braços e pelos 
cabelos retorcidos. Isso mesmo, há nesta terra, estanho, que eles trazem 
numas guarnições de punhais; e as bainhas são de marfim. E a gente 
desta terra preza muito (o) pano de linho; e nos davam muito deste 
cobre por camisas, se lhas nós quiséramos dar. Esta gente traz umas 
cabaças grandes, em que levam do mar para o sertão água salgada; e 
deitam-na em umas poças na terra e fazem dela sal. 
(…) E nós estávamos ancorados ao longo da costa, no rolo do mar. E a 
esta terra pusemos (o) nome “Terra de Boa Gente”, e ao rio “do 
Cobre”. (Álvaro Velho, Roteiro da primeira viagem de Vasco da Gama. 
1497-1498. Edição anotada por Fontoura da Costa. Lisboa, MCMXL). 
A passagem na ilha de Moçambique: 
(…) Os homens desta terra sam ruyvos e de boons corpos e da seita de 
Mafamede e falam como mouros e as suas vestiduras sam de pano de 
linho e d’algodam muito delgados e de muitas cores de listras e sam 
ricos e lavrados e todos trazem toucas nas cabeças com vivos lavrados 
com fio d’ouro e sam mercadores e tratam com mouros brancos… 
(…) Em este lugar e ilha aque chamão Momçobiquy estava huum 
senhor a que elles chamavam Colyytam que era como visso rey o quall 
veo aos nossos navios per muitas vezes com outros seus que com elle 
vinham… 
 (Álvaro Velho, Roteiro da primeira viagem de Vasco da Gama. 1497-
1498. Edição anotada por Fontoura da Costa. Lisboa, MCMXL). 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
Actividade 1 
Actividade: 
Esta descrição remete-nos para traços da cultura swahili que 
estudou no primeiro ano. Identifique esses traços/aspectos no 
texto. Como organizar a informação desta última parte do texto? 
São aspectos económicos, políticos ou sociais? Faça a distinção 
entre eles. 
 
 
Comentários da feedback 
Este texto traz aspectos sobre uma das comunidades de Moçambique 
dos finais do século XV. Refere-se à população, suas habitações, 
armas usadas, actividades desenvolvidas (produção de sal, por 
exemplo). 
 
Auto-avaliação 
 
1. A que região actual de Moçambique o texto se refere? Já 
ouviu falar da terra da boa gente? 
2. Caracterize a situação de Moçambique nos finais do 
século XV. 
 
 
Chave de correção 
 1. Este texto descreve a impressão dos portugueses sobre a 
região de Inhambane, por eles considerada “ terra de Boa 
Gente”. Esse facto resultou da boa recepção que tiveram na 
região costeira de Inhambane. 
2. Pode-se perceber que as zonas costeiras de Moçambique eram 
bastante povoadas e existiam reinos e outras formas de 
organização política, manifestando relações de subordinação. 
A alimentação, os instrumentos de defesa e trabalho também 
 
 
7 
 
caracterizam económica e socialmente essas comunidades. 
Eram comunidades organizadas do ponto de vista político, 
económico e social. 
 
 
Resumo da Lição 
 
Esta descrição permite-nos concluir que nos finais do século XV e 
princípios do século XVI, a população de Moçambique estava 
organizada em reinos de diferentes dimensões. A prática da 
agricultura e da criação de animais foi testemunhada pela presença do 
milho e de galinhas. A utilização de metais como ferro, cobre e bronze 
era comum no fabrico de armas, de outros utensílios e objectos de 
adorno. 
Informação sobre a próxima lição: 
Esta lição permitiu-nos iniciar a caracterização de parte de 
Moçambique no início do nosso período de estudo. O recurso ao 
roteiro de viagem de Vasco da Gama é uma mais-valia, pois a 
história escreve-se a partir de fontes primárias. Na próxima lição 
vamos dar continuidade a este tema. 
 
 
Leitura Complementar 
 
NEWITT, Malyn; História de Moçambique. Mira Sintra: Publicações 
Europa América, 1997. 
ALBUQUERQUE, Luís. Relação da viagem de Vasco da Gama. 
Algueirão (Portugal), Editora do M.E., 1990. 
Departamento de História da UEM: História de Moçambique, vol. I, 2ª 
edição, Maputo: Tempo, 1988. 
 
 
 
8 
 
Lição n° 2 
Caracterização Regional de Moçambique 
 
Introdução 
Nesta lição vamos estudar a situação de Moçambique, 
considerando a subdivisão em regiões com características próprias 
e o envolvimento no comércio da região litoral do Oceano Índico. 
Moçambique estava inserido na região da costa oriental africana 
que envolvia uma actividade comercial intensa. 
 
Tempo 
 
 
 
Você vai precisar de 8 horas para estudar esta lição. 
 
 
Objectivos 
Ao completar esta lição, você deve ser capaz de: 
 Caracterizar as regiões de Moçambique; 
 Inferir sobre a participação de Moçambique no comércio 
internacional. 
 
 
 
9 
 
 
Caracterização Regional de Moçambique 
 
Já estudou, nas aulas de Geografia e História, a regionalização de 
Moçambique em norte, centro e sul. Em algumas situações, 
considera-se o litoral como uma das regiões. Historicamente, pela 
sua importância comercial, essa região é integrada no complexo 
comercial da África Oriental ou do Oceano Índico. 
Leia este texto sobre as grandes regiões de Moçambique: 
Litoral de Moçambique 
Antes do século XVI, o comércio no Oceano Índico era controlado 
pelos muçulmanos. Refugiados árabes instalaram-se na costa 
africana e criaram cidades mercantis como Bravo e Mogadoxo e 
controlavam o comércio de Sofala. 
Ao longo da costa oriental moçambicana, Sofala situada a sul da 
baía do rio Búzi, nas terras baixas, era um dos principais 
entrepostos comerciais. Povoado desde muito cedo, Sofala possuía 
cerca de 10 mil habitantes à volta da baía, com pelo menos duas 
aldeias fora do centro comercial. A actividade comercial era 
complementada pela construção de navios e pela pesca. 
Sofala enquadrava-se na rede comercial e política de Kilwa, 
dominada por famílias de comerciantes muçulmanos. O sheik 
muçulmano reinante de Sofala, com apoio de famílias de Kilwa e 
da costa somali, controlava a actividade comercial. 
Essas famílias de comerciantes muçulmanos criaram alianças com 
linhagens africanas, principalmente através de casamentos 
poligâmicos e da expansão do islamismo pelos chefes africanos 
(Newitt, 1997). 
 
Veja a importância estratégica de Sofala para o comércio do 
Oceano Índico 
 
 
10 
 
Sofala era um porto do comércio internacional de ouro, marfim, 
pérola e outros produtos,por excelência. Havia uma forte ligação 
entre Sofala e Madagáscar e, através desta com a Índia e a 
Indonésia. Em algumas situações, Sofala era apresentada como 
colónia de Kilwa. Ao nível local fazia-se o comércio de sal, 
alimentos, algodão/roupas e cestos. 
Outros centros comerciais, ao longo da costa ao sul do rio Save, 
eram Chiluane (vila de mouros), Chibuene, Mambone, Hucica 
(Bazaruto). Ao longo da costa centro e norte destacaram-se 
Angoche e Quelimane que tinham o rio Zambeze, como importante 
via de comunicação. A Ilha de Moçambique era outra referência de 
destaque, como colónia árabe e povoação swahili. A sua 
localização fazia com que servisse de ponto de ligação entre a 
Europa e a Ásia (Newitt, 1997). 
 
A região interior do norte e sul do Zambeze 
A região a norte do Zambeze era dominada por chefaturas 
formadas a partir da 2ª metade do século XVI, através de migrações 
de diferentes grupos para a região norte do Zambeze, conquistando 
a população lá existente. 
Os maraves, subdivididos em 3 grupos, Nyanja, Chewa e 
Nsenga,pertencem a uma vaga de imigrantes que cerca de 1500 
parte do norte de Catanga e descem até ao vale do rio Zambeze, 
retrocedem para norte. No século XVI, o comércio de marfim era 
um aspecto central na história dos maraves, com destaque para as 
chefaturas Lundo e Undi. 
 
 
Quais eram os outros reinos da região norte? 
Os reinos Yao viviam principalmente da agricultura, caça e 
recolecção. A sua especialização como ferreiros contribuía para a 
prática do comércio com destaque para o comércio de sal com a 
Maganja. 
 
 
11 
 
Os reinos macua do interior e maconde com ligações comerciais e 
de subordinação com os outros grupos étnicos, tinham a linhagem 
como unidade básica da organização social e política. 
 
Os macondesnegociavamcom os indianos da costa, pólvora e armas 
em troca de marfim, goma copal, borracha e escravos. 
E a sul do Zambeze? 
A região a sul do rio Zambeze, correspondente ao centro de 
Moçambique, era parte doEstado do Monomotapa, com plena 
independência política, baseado na produção agrícola, relações de 
subordinação, rituais religiosos de submissão. 
Havia um intenso comércio com a participação de duas facções 
comerciais muçulmanas que competiam pelo comércio de ouro do 
Zimbabwe – comerciantes do sultanato de Angoche que utilizavam 
o rio Zambeze como rota comercial para as terras altas do 
Zimbabwe e comerciantes de Sofala que atravessavam por terra 
através de Manica. Esse comércio criou vilas, bazares como centros 
comerciais – Otonga, Mombara ou Mambare. 
A presença de muçulmanos no interior das terras do estado do 
Monomotapa passava pelo controlo político dos mutapas (paz e 
segurança) sobre o monopólio comercial muçulmano 
(Departamento de História da UEM, 1988). 
 
A região do sul do rio Save 
Na região a sul do rio Save formaram-se reinos que se baseavam no 
comércio entre o interior e a costa marítima. A caça ao elefante 
para a obtenção do marfim era uma actividade incentivada pela 
procura do marfim. Produtos marinhos e agrícolas também eram 
incluídos no circuito comercial. Dos reinos da região destacaram-se 
os seguintes: Nyaka, Tembe, Mpfumo, Libombo, Manhiça, Matola, 
Moamba e Ntimane. 
 
 
 
 
12 
 
 
 
Actividade 2 
Actividade: 
Use um mapa de Moçambique para localizar as regiões de 
Moçambique. 
 
 
Comentários da feedback 
As regiões de Moçambique são o litoral, o interior do norte e do sul 
do rio Zambeze e a região ao sul do rio Save. Use a localização do 
Oceano Índico e dos rios Zambeze e Save, como pontos de partida. 
 
 
Auto-avaliação 
 
1. Caracterize, de forma resumida, as três regiões de 
Moçambique; norte, centro e sul. 
2. Infira sobre a contribuição do comércio para a formação 
de estados, reinos e chefaturas. 
 
Chave de correção 
 1. Nas três regiões de Moçambique verificou-se a formação de 
estruturas políticas diversas. A produção agrícola, artesanal e 
mineira criou condições para o desenvolvimento da actividade 
comercial. 
 
2. O comércio, por sua vez, contribuiu para a fortificação desses 
estados, através da cobrança de tributos, aquisição de bens de 
prestígio, controlo das rotas comerciais. A actividade 
comercial criou uma disputa pelo domínio de regiões 
 
 
13 
 
costeiras, vias de acesso terrestre e fluvial que garantiam a 
circulação comercial. A criação dum exército, a aquisição de 
armas de fogo e a própria organização interna contribuiu para 
a formação de estados, reinos e chefaturas. 
 
 
Resumo da Lição 
 
Moçambique nos finais do século XV era um território fragmentado, 
constituído por reinos, chefaturas e outras formas de organização 
política baseada em relações de parentesco, conquista e económicas. A 
actividade comercial tinha criado laços e redes de acordo com os 
interesses desse período. A presença de comerciantes estrangeiros, 
principalmente ao longo da costa, caracterizava esse período. 
 
Informação sobre a próxima lição: 
Para a próxima lição vamos estudar a presença portuguesa em 
Moçambique, a partir das viagens feitas para a Índia. Moçambique 
passou a ser uma referência para os navegadores portugueses e 
despertou o seu interesse comercial. 
 
 
Leitura Complementar 
 
Departamento de História da UEM: História de Moçambique, vol. I, 2ª 
edição, Maputo: Tempo, 1988. 
NEWITT, Malyn; História de Moçambique. Mira Sintra: Publicações 
Europa América, 1997. 
SENGULANE, Hipólito. História das Instituições do Poder Político 
em Moçambique. Maputo: Autor, 2013. 
 
 
 
14 
 
Lição n° 3 
A presença portuguesa em Moçambique 
 
 
Introdução 
Nesta lição, você vai estudar a presença portuguesa em 
Moçambique, considerando duas fases: a fixação portuguesa ao 
longo da costa e, mais tarde, para o interior. Este é o período em 
que os interesses portugueses estavam virados para a actividade 
comercial ao longo da costa oriental africana e com a Índia. 
 
Tempo 
 
 
 
Você vai precisar de 8 horas para estudar esta lição. 
 
 
Objectivos 
Ao completar esta lição, você deve ser capaz de: 
 Descrever a ocupação de Sofala e da Ilha de Moçambique 
pelos portugueses; 
 Caracterizar o povoamento português nesses locais; 
 Explicar os interesses portugueses na costa oriental 
africana. 
 
 
 
15 
 
 
"A presença portuguesa em Moçambique" 
 
 
Actividade 3 
Actividade: 
Na nossa primeira lição trabalhamos com o texto do roteiro de 
Vasco da Gama. Vamos retomá-lopara descrever como foi o 
contacto entre navegadores portugueses e a população da região 
de Inhambane. 
 
 
Comentários da feedback 
O texto do roteiro de Vasco da Gama refere-se a impressão dos 
portugueses sobre a população de Inhambane, considerando-a de 
“terra de boa gente” pela calorosa recepção que tiveram. 
 
A viagem de Vasco da Gamaem 1498, que tinha como destino a 
Índia permitiu o primeiro contacto com as regiões costeiras de 
Inhambane, Quelimane e Ilha de Moçambique. 
Depois da 2ª viagem a Índia, em 1502, os portugueses começaram a 
ter dificuldades financeiras em manter o comércio de especiarias. Os 
portugueses apostaram no domínio político e marítimo na região da 
costa oriental africana através do estabelecimento militar e naval. 
Que estratégias foram adoptadas pelos portugueses para 
controlar esse comércio? 
As primeiras instruções para obter poder político no oceano Índico 
datam de 1505 e foram dadas pelo vice-rei, Francisco de Almeida. 
Os portugueses acreditavam que o volume do comércio do ouro deSofala e Kílwa era enorme. Pêro de Anaia, numa 2ª expedição, 
obtêm autorização do sheik Yussuf para construir uma feitoria e 
estabelecer uma fortificação em Sofala. 
Em 1530, com a intensificação do comércio, os portugueses 
reforçaram a sua presença militar com um regimento permanente de 
80 homens. Por outro lado, alguns portugueses aventuraram-se para 
o interior, estabeleceram alianças, casamentos, comércio privado. 
 
 
16 
 
António Fernandes realiza viagens para o interior (1511-1530) e 
obtém informações sobre rotas fluviais, feiras, condições do 
comércio, situação política no interior (Monomotapa). Mais tarde, os 
portugueses prepararam-se para explorar as rotas do Zambeze mais 
detalhadamente e estabelecer feitorias com a intenção de bloquear os 
comerciantes muçulmanos de Angoche. 
A necessidade de ter um porto de escala e entreposto entre Sofala e 
Kílwa para a reparação de navios e obter provisões e água levou os 
portugueses a estabelecerem-se na Ilha de Moçambique como 
entreposto na rota do ouro e especiarias. 
Em 1507 fundou-se um estabelecimento permanente português que 
servia de feitoria, hospital, igreja e fortificação. Foi construída a 
torre de S. Gabriel (hoje palácio de S. Paulo). Organiza-se uma 
povoação portuguesa a volta da Torre velha. 
Em 1558 iniciou a construção da fortaleza de S. Sebastião e um 
baluarte artilhado para defesa da entrada do porto, ao lado da capela 
de Nossa senhora do Baluarte (1521-1522). 
A Ilha de Moçambique passou a funcionar como entreposto de troca 
de panos e missangas da Índia por ouro, escravos, marfim, pau-preto 
e também como ponto de partida das viagens comerciais para 
Quelimane, Sofala, Inhambane, Lourenço Marques e daí para o 
interior (Newitt, 1997). 
 
Penetração portuguesa para o interior: comércio e 
conquista 
As fortificações da costa eram quentes, pouco saudáveis, falta de 
alimentos,os pagamentos eram baixos e chegavam irregularmente, 
poucas mulheres portuguesas. Alguns militares e comerciantes 
abandonaram, a título individual, a protecção dos fortes. 
Concomitantemente a isso procuraram outros caminhos para o 
interior, onde comercializavam armas de fogo, combatiam em 
guerras africanas, casavam com mulheres locais e adoptaram um 
estilo de vida dos comerciantes muçulmanos. E, finalmente, 
 
 
17 
 
estabeleceram-se nas ilhas a norte e sul de Sofala, tão longe como 
Pemba, vivendo da pesca e do comércio na costa. 
O incremento do interesse oficial em penetrar no interior foi a 
procura de alimentos para os fortes - exploram aldeias, enseadas 
estuários e costas do norte e sul de Sofala, terras baixas do rio 
Púngue (Newitt, 1997). 
Na região centro do Moçambique, o rio Quaqua foi usado como 
ponto de entrada para as viagens comerciais. Quelimane era o porto 
mais seguro de acesso ao Zambeze. Para atingir as feiras de ouro do 
planalto norte, era necessário percorrer 200 milhas a partir de 
Quelimane e através do Zambeze antes de iniciar a viagem terrestre. 
Centros urbanos e portos fluviais como Sena (serviam as regiões de 
Manica e Barué) e Tete (servia as feiras de Mazoe e monte Darwin) 
foram ganhando importância comercial e estratégica. 
As rivalidades entre portugueses e comerciantes muçulmanos 
manifestaram-se por todo o lado. Quando os portugueses 
compreenderam que Angoche era o centro do comércio clandestino 
organizaram uma expedição militar que reduziu a cidade a cinzas e 
capturou o principal xerife. O comércio muçulmano manteve-se; os 
portos e feiras do Zambeze continuavam livres da interferência dos 
portugueses. 
Chiloane, ilhas Quirimbas continuavam a florescer como cidades 
comerciais muçulmanas. Os portugueses não tinham intenção de 
destruir esse comércio, apenas quebrar o domínio do tráfico 
internacional do ouro por famílias xarifadas. 
Até 1530 ainda não havia uma presença portuguesa permanente no 
Zambeze. Em 1531, Vicente Pegado passou a ser capitão de 
Moçambique. Em 1540 os portugueses estabelecem-se em 
Quelimane, mas não assumiu logo grande importância para os 
portugueses. Em 1570, padre Monclaros encontrou apenas 2 a 3 
portugueses nessa aldeia. Cerca de 10 portugueses em Sena, alguns 
na corte do Monomotapa (Sengulane, 2013). 
 
 
18 
 
A partir da década de 40 do século XVI, foram organizadas viagens 
para a região sul de Moçambique, a região da baia de Maputo. Nos 
primeiros tempos não houve nenhuma tentativa de fixação 
permanente na baía “ ficava fora da linha normal de navegação que 
entre Moçambique e o Cabo procurava afastar-se da costa”. 
Aportavam a procura de abrigo e pequenas trocas comerciais. 
Entre 1544 e 1445, Lourenço Marques, navegador e comerciante 
português fez o reconhecimento de toda a região que confinava com 
a baía. Viagens anuais ou de 2 em 2 anos eram organizadas para a 
região sul, mais virado para o comércio de marfim (Sengulane, 
2013). 
 
 
Auto-avaliação 
 
1. Explique o interesse português pela região de 
Moçambique. 
2. Use um mapa de Moçambique para localizar Sofala e Ilha 
de Moçambique. 
3. Caracterize o comércio desse período. 
4. Por que razão Vasco da Gama viu obrigado a escalar em 
Inhambane? 
 
 
 
 
 
19 
 
 
 
Chave de correção 
 1. Os portugueses, nas suas viagens para a Índia, entraram em 
contacto com a costa oriental africana onde já havia um 
intenso comércio. Para participar nesse comércio, eles 
ocuparam Sofala e a Ilha de Moçambique. 
2. Pela localização de Sofala e Ilha de Moçambique ao longo da 
costa, pode-se entender a sua importância estratégica para o 
comércio marítimo. 
3. O comércio era caracterizado pela troca de produtos locais, 
principalmente ouro e marfim por tecidos, missangas e outros 
produtos trazidos pelos portugueses. 
4. A escala de Vasco da gama em Inhambane visava abastecer 
os navios de água potável, produtos alimentares e fazer a 
manutenção dos navios. 
 
 
Resumo da Lição 
 
A presença portuguesa em Moçambique iniciou pela ocupação de 
Sofala e, posteriormente, da Ilha de Moçambique. Nestes locais, ao 
longo da costa, os portugueses fundaram feitorias para realizar o 
comércio e, para o caso da Ilha de Moçambique, servia como local de 
abastecimento dos navios que iam e vinham da índia. Para controlar as 
fontes de produção e as rotas comerciais, os portugueses foram 
penetrando no interior de Moçambique. 
 
Informação sobre a próxima lição: 
Na próxima lição debruçar-nos-emos sobre a administração 
 
 
20 
 
portuguesa dos territórios ocupados a partir da actividade comercial. 
 
 
Leitura Complementar 
 
NEWITT, Malyn. História de Moçambique. Mira-Sintra, PEA, 1997. 
Departamento de História da UEM.História de Moçambique, vol. I, 2ª 
edição, Maputo: Tempo, 1988. 
SENGULANE, Hipólito. História das Instituições do Poder Político 
em Moçambique. Maputo: Autor, 2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
Lição n° 4 
Administração portuguesa em Moçambique de 1505 a 1675 
 
 
Introdução 
A actividade comercial levou os portugueses a fixarem, numa 
primeira fase, ao longo da costa, e, mais tarde no interior. Para 
controlar esse comércio eles foram criando um sistema de 
administração política, económica e social, visando garantir os 
interesses comerciais portugueses na região. 
Caro estudante, nesta lição vai aprender sobre o sistema 
administrativo montado pelos portugueses para controlar 
Moçambique para melhor tirar as suas riquezas. 
 
Tempo 
 
 
 
Você vai precisar de 8 horas para estudar esta lição.Objectivos 
Ao completar esta lição, você deve ser capaz de: 
 Explicar os interesses portugueses durante esse período; 
 Descrever a administração portuguesa em Moçambique; 
 Caracterizar as formas de administração portuguesa. 
 
 
 
22 
 
 
Administração portuguesa em Moçambique de 1505 a 
1675 
 
A medida que for lendo o texto, enquadre a administração de 
Moçambique na complexa rede comercial da África Oriental 
portuguesa. 
A expansão portuguesa na África Oriental foi exclusivamente de 
índole comercial, determinada pela existência de uma importante 
rede mercantil para o negócio de ouro. A primitiva ocupação 
territorial sertaneja não derivou de qualquer acção política do 
Estado planificada para isso. 
 A fixação portuguesa em Sofala, que era um dos portos 
importantes do comércio de ouro, ocorreu em 1505. O domínio 
português em Sofala reduzia-se à povoação e com alguns 
portugueses no interior, ilhas, aldeias ao longo da costa. 
Portugueses foram acarinhados e cobiçados pelos chefes africanos 
como aliados valiosos. Em troca de fato (tecidos), armas, pólvora e 
ajuda militar foram conquistando privilégios, terras, concessões e 
favores. 
Segundo Botelho (1934-36), as primeiras regras que nortearam a 
administração portuguesa em Moçambique foram dadas através da 
Provisão de 25 de Março de 1589, organizada em 23 capítulos 
aplicados a todas as fortalezas indistintamente e mais um número 
especialmentedestinadas a Moçambique (ilha) e Sofala. Esses 
capítulos versavam questões como a conversão dos gentios, a 
imparcialidade da justiça, controlo do comércio, controlo dos 
abusos que podiam ser cometidos pelos capitães. 
A capitania de Moçambique e Sofala era uma das maiores 
nomeações portuguesas nessa fase inicial. A responsabilidade pelos 
assuntos da África Oriental estava repartida entre os capitães de 
Kílwa e Sofala. O capitão de Sofala tinha o controlo da região sul e 
navios comerciais que por ai faziam o comércio. Apesar das 
regalias, salário e outros interessava-se cada vez mais pelo 
 
 
23 
 
comércio privado, em detrimento dos interesses comerciais da 
coroa portuguesa.O poder político e comercial estavam associados; 
os capitães iam ganhando espaçoà medida que reforçavam o seu 
controlo sobre o comércio. 
 
 
 
Actividade 4 
Actividade: 
Faça o enquadramento da administração de Moçambique na 
complexa rede comercial da África Oriental portuguesa. 
 
 
 
Comentários da feedback 
A actividade comercial foi responsável pela criação duma estrutura 
administrativa que defendesse os interesses dos portugueses. A 
criação da capitania de Sofala e Ilha de Moçambique visava o 
controlo da rede comercial. 
 
Qual era a relação entre Moçambique e o estado da Índia? 
A partir de 1530, a capital do Estado da Índia é fixada em Goa onde 
cresceu uma burocracia centralizada que reflectia a tendência de 
centralização da Europa renascentista. Goa, centro comercial, 
industrial, financeiro e também a capital religiosa respondia pelos 
assuntos de Moçambique. A coroa portuguesa criou a Junta do 
Comércio de Moçambique e Rios de Cuama, com assento em Goa. 
Moçambique esteve sob a administração directa do vice-rei de Goa. 
Os feitores de Moçambique (ilha), Sena, Quelimane e Tete eram 
escolhidos na Índia, pelo vice-rei, assim como os feitores dos 
quintos e foros de Sena. O Capitão de Moçambique recebia 
instruções regimentais e eventuais do vice-rei, mas correspondia-se 
directamente com o rei ou com o secretário de Estado (Newitt, 
1997). 
 
 
24 
 
 A coroa portuguesa determinou o povoamento por meio de casais 
que receberiam terrenos para seu sustento, recomendando o 
casamento de órfãs com portugueses do reino Sena povoação 
encravada nas terras do Monomotapa; Tete no reino de Inhabazoe; 
Quelimane vivia o capitão dos Rios, Francisco Brochado, não existia 
domínio territorial. Estas terras e mais 11 povoações foram as 
primeiras doadas a uma feitoria portuguesa. 
Na primeira metade do século XVI, as guarnições portuguesas na 
costa eram de dimensão considerável, e o seu número aumentava 
com a chegada de frotas da Índia. 
A primeira vez que se pôs o problema da conquista militar foi em 
1569, para vingar o assassinato do jesuíta Gonçalo da Silveira, mas 
sem sucesso. Em 1607, o Monomotapa concedeu minas ao rei de 
Portugal em troca de ajuda militar, mas não se constituiu domínio 
territorial. Em 1629, o Monomotapa cedeu terras em Tete (Botelho, 
1934-36). 
 
As minas de prata fizeram afluir a Moçambique, da Índia e de 
Portugal, muita gente que se fixou na Zambézia, negociando, 
usurpando e comprando terras. Contudo, nunca se estabeleceu a 
unidade do território. 
Com o desvio da rota comercial para o Zambeze e para Angoche e 
luta aberta com os mouros da costa, os portugueses subiram o rio 
Cuama (Zambeze) e esquadrinharam o sertão em busca do ouro. 
A partir do século XVII, na administração portuguesa de 
Moçambique havia uma subdivisão em territórios de soberania real 
portuguesa que eram as terras da coroa e zonas de influência que 
pertenciam aos povos livres, os reinos independentes cuja soberania 
se respeitava. 
 
 
 
 
 
25 
 
 
Auto-avaliação 
 
1. Relacione os interesses comerciais e a administração 
implantada pelos portugueses. 
2. Com base em leituras complementares, caracterize a 
relação administrativa entre Moçambique e Goa. 
 
 
 
Resumo da Lição 
 
A administração portuguesa de Moçambique, dependente do estado da 
Índia, resultou da presença comercial. Para controlar o comércio, os 
portugueses criaram um aparelho administrativo e comercial que se 
baseava em feitorias, presídios e outras fortificações a partir das quais 
se organizavam as caravanas comerciais para o sertão. 
 
Informação sobre a próxima lição: 
Dando continuidade ao nosso tema, iremos, na próxima 
lição,debruçarmo-nos sobre o comércio de ouro, que marca esse 
período da história de Moçambique. 
 
 
 
Leitura Complementar 
 
BOTELHO, José Justino Teixeira. História militar e política dos 
portugueses em Moçambique da descoberta a 1833. Lisboa, Centro de 
tipografia colonial, 1934-36. 
NEWITT, Malyn. História de Moçambique. Mira-Sintra, PEA, 1997. 
 
 
26 
 
Lição n° 5 
"O comércio do ouro" 
 
Introdução 
O comércio de ouro dominou um determinado período da história 
de Moçambique. O estudo do desenvolvimento do comércio nesse 
período, considerando os intervenientes, os lugares de produção e 
venda de ouro e outros aspectos é importante para compreender a 
história de Moçambique. 
 
Tempo 
 
 
 
Você vai precisar de 10 horas para estudar esta lição. 
 
 
Objectivos 
Ao completar esta lição, você deve ser capaz de: 
 Caracterizar o comércio de ouro em Moçambique; 
 Explicar o processo de produção e comercialização do 
ouro; 
 Descrever a importância do ouro na economia capitalista. 
 
 
 
27 
 
 
"O comércio do ouro" 
Ao longo da leitura do texto vai organizando, de forma 
esquemática, os aspectos relevantes do comércio de ouro. 
A exploração do ouro no planalto do Zambeze remonta do século 
XI, como resultado do trabalho dos camponeses que iam até aos 
rios extrair um pouco desse minério ou escavavam pequenos poços 
secos, onde o ouro e o quartzo se misturavam. Esse ouro era levado 
para as feiras onde a sua procura era assinalável. Dessa forma, foi 
crescendo o interesse por esta mercadoria. 
O estado do Monomotapa controlava regiões auríferas o que 
despertou o interesse de comerciantes muçulmanos e,mais tarde, 
portugueses. As minas de ouro e outros metais eram directamente 
controladas pelo Monomotapa ou pelos seus funcionários que ele 
enviava para as diversas regiões do Império. Todos os mercadores 
que vinham comercializarnas diversas feiras que se realizavam no 
Império tinham que pedir guias de passagem pelo território do 
Monomotapa. Os mercadores do Império que levavam ouro para a 
costa tinham que pagar pesados impostos sobre as mercadorias que 
traziam, que eram geralmente tecidos de algodão e outros produtos 
de luxo, tais como missangas, colares e outros adornos. 
O comércio de ouro criou uma rede comercial ao longo da costa 
oriental africana, envolvendo Sofala, Quíloa, Madagáscar, 
Mombaça e outros portos da África Oriental. O comércio no Índico 
era condicionado pelas monções; entre Outubro e Marco do Golfo e 
da Índia para a costa oriental africana; regresso entre Abril e 
Setembro. Cidades mais a norte eram entrepostos comerciais. 
Quíloa era local perfeito para ser intermediário, espécie de 
bifurcação rumo ao norte de Madagáscar via Comores e para sul 
para a costa de Sofala. Atraia famílias de mercadores muçulmanos 
de prestígio palácios, mesquitas, famílias reinantes. Nunca 
monopolizou o comércio costeiro. 
 
 
28 
 
Mombaça, Melindi, Domoni (Comores) foram centros comerciais 
internacionais, cujas famílias reinantes diziam-se pertencer a 
mesma linhagem dos sultões de Quíloa. A actividade mercantil 
local e colonatos satélites foram criando pequenas cidades 
comerciais como resultado das oportunidades de negócio, fundação 
de feudos e contradições nas famílias reinantes (Newitt, 1997). 
Zanzibar era um centro importante. Mafia produção de goma e 
tecelagem de corda e tapete em fibra de coco; Amisa tecelagem de 
tecidos; Ilha de Moçambique, centro de construção de 
embarcações. 
Qual foi o papel e a importância de Sofala para esse comércio? 
A fama de Sofala partiu do comércio de ouro, cuja rota ia de 
planalto de granito nas terras altas de Manica até ao Kalaari, a 
sudoeste. O ouro era extraído por esmagamento de rochas e 
posterior lavagem, vendido em feiras organizadas por chefes locais. 
Os mercadores de Sofala eram os principais compradores com 
destino a Índia e ao Golfo Pérsico. 
Sofala era um porto do comércio de ouro por excelência, fazendo a 
ligação entre o interior e a costa. Outros produtos desse comércio 
internacional eram marfim, pérola, carapaças de tartaruga. Ao nível 
do comércio local trocava-se sal, alimentos, algodão/roupas, 
esteiras e cestos por tecidos, armas, bebidas e outros. 
No contexto do comércio marítimo e fluvial, desenvolveu-se a área 
de construção de embarcações – 4 tipos – de grande porte, 
zambucos (Ilha de Moçambique e Comores) para navegação nas 
águas oceânicas; pangaios ou bangwas ao longo da costa e também 
no mar até Madagáscar. Os Lúzios eram usados nos estuários e 
canais e almadias que podiam ter dimensões consideráveis, 
transportar ate 20 toneladas – diversas actividades – pesca, captura 
de tartarugas e baleias, triagem de pérolas, viagens comerciais 
costeiras e longas viagens oceânicas até Kílwa, Madagáscar, Golfo 
e Índia (Departamento de História da UEM, 1988). 
 
 
29 
 
 
Quais foram as consequências imediatas desse comércio? 
Novos povoamentos e centros comerciais foram surgindo como 
resultado do incremento comercial e a reorientação do comércio de 
ouro na África central devido as rivalidades - Angoche era o mais 
importante, Quelimane e Ilha de Moçambique. As feiras do ouro 
foram crescendo como centros comerciais e criaram uma disputa 
pelo seu controlo entre chefes locais, portugueses e muçulmanos. 
As feiras de Manica, como Masekesa, Masapa, Bocuto, Luanze, 
eram frequentadas por comerciantes à procura de ouro. As 
autoridades portuguesas em Moçambique criaram o posto de 
capitão das feiras que era escolhido entre os membros da 
comunidade portuguesa. O conflito com os muçulmanos pelo 
monopólio do comércio de ouro conduziu a sua decadência e deu 
uma certa primazia ao comércio de marfim. 
 
 
Actividade 4 
Actividade: 
Acompanhe a sua leitura com um mapa da costa oriental africana. 
Vai localizando, no mapa, cada um desses portos. 
 
 
Comentários da feedback 
 
Kílwa, Mombaça, Melindi, Domoni e Zanzibar eram os principais 
portos da costa oriental africana. 
 
 
Auto-avaliação 
 
1. Com base nas actividadestidas ao longo do texto, faça uma 
síntese sobre esse comércio. 
2. Em leituras adicionais veja o papel do ouro na economia 
mercantil. 
3. Qual era a importância das feiras para o comércio de ouro? 
 
 
30 
 
 
 
Resumo da Lição 
 
O comércio de ouro foi dominante durante o período entre os séculos 
XV e XVI. Essa actividade atraiu mercadores estrangeiros asiáticos e 
portugueses que foram rivalizando entre si, pelo seu monopólio. Nas 
sociedades e estados locais, esse comércio desviou os camponeses da 
produção agrícola e provocou fome e fugas de comunidades. O ouro 
tinha um papel importante no processo de desenvolvimento do 
capitalismo europeu. 
 
Informação sobre a próxima lição: 
Na próxima lição vamos dar continuidade ao nosso estudo, olhando 
para o impacto do comércio de ouro. 
 
 
Leitura Complementar 
 
Costa, António Nogueira da. Penetração e impacto do capital 
mercantil português em Moçambique nos séculos XVI e XVII: o caso 
do Monomotapa. Maputo, Cadernos tempo, 1982. 
 
NEWITT, Malyn. História de Moçambique. Mira-Sintra, PEA, 1997. 
 
 
 
31 
 
 
Lição n° 6 
"O impacto do comércio de ouro" 
 
Introdução 
Caro estudante, nesta lição vai aprender sobre as mudanças 
ocorridas a partir da introdução do comércio do ouro bem como do 
impacto deste, considerando o percurso de Moçambique durante 
esse período. Não se esqueça de dar atenção às actividades e 
questões de aprimoramento da matéria. 
 
 
Tempo 
 
 
 
Você vai precisar de 8 horas para estudar esta lição. 
 
 
Objectivos 
Ao completar esta lição, você deve ser capaz de: 
 Caracterizar as mudanças ocorridas a partir do comércio 
de ouro; 
 Inferir sobre o impacto desse comércio. 
 
 
 
32 
 
 
"O impacto do comércio de ouro" 
Leia os trechos seguintes: 
“ Dizia a tradição que essas regiões eram riquíssimas em ouro, 
e para obter bastava levantá-lo do chão. Esta crença chegou até 
ao Reino, onde todos estavam prontos a acreditar nas 
maravilhas do Oriente e onde as necessidades em ouro eram 
cada vez maiores para poderem suportar os gastos com a 
manutenção de tão dilatado império” . ( Alberto M. Vara 
Branco. Ensaio de portugalidade em terras africanas durante 
agovernação d´el-rei D. Sebastião. D. Francisco Barreto em 
Moçambique e na região do Monomotapa). 
 
 
Actividade 4 
 
Actividade: 
Com base em leituras complementares, comente a ilusão ou o 
mito criado a volta da existência de ouro na região do estado do 
Monomotapa. Porquê essa grande procura de ouro? 
“ (…) acudiam sessenta, oitenta mil negros (…) abriam uma cova na 
forma de um poço (…) começavam a minar por baixo (…) algumas vezes 
caiu achando-se em baixo trinta, quarenta mil negros (…) é tanta gente 
que concorre, que suprem em dobro os enterrados (…) (Anónimo, sobre 
os Rios de Cuama, Biblioteca da Ajuda, 1683)”. 
 
Era o processo de extracção de ouro das minas nas terras do 
Monomotapa. Com base nele podemos ver que as condições de 
trabalho nas minas eram precárias. 
 
“ todo o ouro que se tirar das ditas minas se porá em boa arrecadação, e 
de todo ele se fará a reseita sobre o feitor (…) de toda a somado dito 
ouro se tirará, e arrecadará para a minha fazenda o que montar da despeza 
que se fizer das minas (…) as quais despezas se entenderá serem 
ordenados dos officiaes, e soldos das pessoas que no negócio das minas 
 
 
33 
 
entenderem e mantimentos delles, e minições e todos os outros custos das 
ditas minas; e nisto não entrarão soldos e mantimentos de soldados” 
(Treslado do Regimento que leva Francisco Barreto sobre a Repartição 
do ouro das minas do Manamotapa Regimento no 1º XII F.93) 
 
Quais são as despesas aqui indicadas? Quais eram as 
expectativas dos portugueses em relação ao ouro? 
 
 
Comentários da feedback 
 
No contexto europeu, Portugal estava a procura de metais preciosos 
que constituíam as bases para a acumulação de capital, necessário 
para o seu desenvolvimento económico. 
 
 
Auto-avaliação 
 
1. Da leitura dos trechos acima infira sobre a importância do 
comércio de ouro. 
2. Caracterize as transformações ocorridas em Moçambique 
durante esse período. 
3. Procure na bibliografia recomendada o conceito de 
acumulação de capital. Estabeleça uma relação com o 
período do comércio de ouro. 
 
Resumo da Lição 
 
O comércio de ouro provocou transformações nas sociedades 
locais. Por um lado, houve a fixação de portugueses nas regiões 
do interior para controlar esse comércio. Formaram-se pequenas 
comunidades mestiças, a partir de comerciantes que se 
foramintegrando nas comunidades locais, casando com mulheres 
locais e adoptando o estilo de vida dos comerciantes islâmicos. 
 
 
34 
 
Os povoamentos portugueses foram crescendo como centros 
urbanos, com destaque para a ilha de Moçambique, Quelimane, 
Sena, Tete. 
No estado do Monomotapa, o comércio de ouro contribuiu para 
a erosão da economia natural das aldeias (mushas) ao provocar 
uma procura crescente do ouro. A exigência do trabalho nas 
minas provocou também a fuga de comunidades inteiras. 
 
Informação sobre a próxima lição: 
Com esta lição terminamos a unidade de aprendizagem sobre 
Moçambique no período do comércio de ouro. Na unidade 
seguinte iremos estudar o período do comércio de marfim. 
 
 
 
Leitura Complementar 
 
NEWITT, Malyn. História de Moçambique. Mira-Sintra, PEA, 1997. 
SERRA, Carlos. Como a penetração estrangeira transformou o modo 
de produção dos camponeses moçambicanos. Maputo, Núcleo Editorial 
da Universidade Eduardo Mondlane, 1986. 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 1: Título da Unidade 
 
 
 
Pág. 36 -138 
 
Conteúdos 
2 
U
N
ID
A
D
E
 
 
Lição n° 7 
A administração de Moçambique, 1675-1752 
Lição n° 8 
O comércio de marfim, no século XVII e XVIII 
 
Lição n° 9 
"Os prazos do vale do zambeze: A origem" 
 
Lição n° 10 
As formulaçoes legais sobre a origem prazos do 
vale do zambeze 
 
Lição n° 11 
"Actividades económicas dos prazos" 
 
Lição n° 12 
"As relações sociais nos prazos" 
 
Lição n° 13 
O redimensionamento dos prazos em estados 
militares 
 
Lição n° 14 
"Nascimento do Comércio de Escravos" 
 
Lição n° 15 
"Moçambique e a grande seca" 
 
O COMÉRCIO DE MARFIM, 
SÉCULOS XVII – XVIII 
 
 
36 
 
 
Introdução 
Desde o início da conquista, os portugueses descobriram a importância 
estratégica de Moçambique para a realização do comércio da costa 
oriental africana, mas também como base de apoio do comércio com a 
Índia e para a navegação de longo curso. Na primeira fase, século XVI, o 
interesse dos mercadores portugueses era fundamentalmente o ouro do 
Monomotapa que saia por Sofala e era capturado pelos mercadores 
árabes. Ao lado do ouro, resgatavam também outros géneros como 
marfim, cera, escravos, etc. Mas, do final do século XVII a meados do 
século XVIII, o marfim constituiu em volume e valor, a mercadoria mais 
importante que se tirava da costa africana para alimentar o comércio 
indiano. 
No ciclo do marfim, predominaramduas modalidades de comércio: uma 
delas consistia em traficar regularmente com os Macuas de reinos 
vizinhos e sazonalmente com mercadores Ajaua que, vindos do Lago 
Niassa, traziam essencialmente marfim e em menor escala tabaco e 
azagaias. A segunda consistia em enviar ao sertão os patamares 
correspondentes aos mussambases do vale do Zambeze que eram 
mercadores africanos que recebiam a mercadoria nos portos da costa e a 
introduziam no interior, feiras e aldeias, onde realizavam as trocas. 
Nesta unidade vai estudar sobre a emergência e desenvolvimento do 
comércio de marfim, a administração de Moçambique de 1675 a 1752, o 
sistema de prazos e a caracterização geral da situação da seca do século 
XVIII e seu impacto na África Austral. Durante a leitura dos textos fixe-
se também nas actividades, chamadas de atenção para a exploração do 
conteúdo e nos exercícios de auto - avaliação. 
 
 
 
 
 
37 
 
 
Objectivos da unidade 
 
Ao completar esta unidade, você deve: 
 Explicar a emergência e desenvolvimento do comércio de 
marfim; 
 Caracterizar o comércio de marfim; 
 Reflectir sobre a administração de Moçambique de 1675 a 
1752; 
 Descrever o sistema de prazos olhando a origem, a formulação 
legal, as actividades económicas e o funcionamento da 
sociedade; 
 Analisar o impacto da seca do século XVIII nas transformações 
políticas e económicas em Moçambique. 
 
 
 
 
38 
 
 
Lição n° 7 
"A administração de Moçambique, 1675-1752" 
 
Introdução 
Durante o período do monopólio comercial do capitão, registou-se a 
ocorrência de uma divisão contenciosa entre as administrações comercial 
e política dos territórios portugueses situados na África Oriental. 
Enquanto o capitão possuía plenos poderes militar e políticos em relação a 
todas as feitorias e assentamentos, o seu monopólio privado cobria apenas 
a Zambézia, Sofala e Angoche. O fim deste monopólio deveria ter posto 
ponto final à semelhante anomalia, mas, na prática, a Coroa não estava em 
condições de criar uma administração unificada, continuando 
Moçambique a sofrer os tormentos ocasionados por uma sériede 
confusões graves no capítulo das jurisdições. 
 
Tempo 
 
 
 
Você vai precisar de 10 horas para estudar esta lição. 
 
 
Objectivos 
Ao completar esta lição, você deve ser capaz de: 
 Caracterizar a administração de Moçambique até 1752; 
 Mostrar a sobreposição de poderes a partir de 1675 em 
Moçambique; 
 Identificar as competências de tenente geral dos Rios; 
 
 
39 
 
 Identifique os funcionários que coadjuvavam o tenente-
general nas suas actividades; 
 Descrever a estrutura administrativa de Moçambique de 
1675 a 1752; 
 Caracterizar a estrutura administrativa de Moçambique a 
partir de 1752. 
 
 
 
40 
 
 
"A administração de Moçambique, 1675-1752" 
 
Sabe quando é que tem poder e ao mesmo tempo não tem? Leiao 
parágrafo que se segue e perceba a situação do capitão de Moçambique. 
Embora à cabeça do governo continuasse a figura do capitão de 
Moçambique, este era agora um simples funcionário executivo que tratava 
de obedecer ao vice-rei de Goa, sendo que às vezes a sua figura é muito 
simplesmente refinada como o “castelão de Moçambique”. Apesar de, e 
em termos nominais, ser o chefe de todo um governo, na prática limitava-
se a controlar a Ilha de Moçambique e os assentamentos de Inhambane, 
Sofala e Cabo Delgado e tinha uma espécie de suserania nominal emrelação a alguns dos xarifados islâmicos da costa. Na maior parte destes 
lugares, a administração pouco mais era que residual-actuando o capitão 
nomeado para os assentamentos como feitor e juiz (Newitt, 1997). 
Veja como o vice- rei de Goa estruturou a governação de Moçambique. 
A Zambézia, agora chamada Rios de Sena, acabava por funcionar como 
um governo à parte. Com o fim do monopólio do capitão, as nomeações 
para o posto de capitão-mor dos Rios passaram a ser da competência do 
vice-rei, criando-se o título de “tenente general dos Rios”. Em 1709, o 
tenente-general viu serem-lhe concedidos poderes praticamente 
independentes, entre eles o direito a levar a cabo as operações militares 
que bem lhe aprouvessem e o controlo de todos os súbditos portugueses. 
O próprio vice-rei tratou de lhe fornecer um grupo de instruções 
(regimento) que nada tinha a ver com os demais. O tenente-general, cujo 
quartel-general ficou instalado em Sena durante a primeira metade do 
século, procedia às nomeações para as capitais subordinadas de Tete, 
Zumbo e Manica. Era ele quem nomeava os capitães-mor que deveriam 
controlar as minas, bem como os funcionários que chefiavam a guarnição 
do Zimbabwe. Os capitães subordinados actuavam todos como juízes nas 
áreas por si controladas. O tenente-general contava com a ajuda de dois 
importantes funcionários: o capitão-mor dos Rios, um colono local 
 
 
41 
 
nomeado para actuar como seu procurador, e o “feitor dos faros e 
quintos”, uma espécie de tesoureiro responsável pela verificação de tudo o 
que se relacionasse com direitos fiscais da coroa no arrendamento das 
terras e na exploração das minas. 
 
A nova estrutura criada pelo vice - rei de Goa veio criar poderes 
paralelos ou mesmo uma sobreposição. Outro aspecto que chama 
atenção é a forma como foi gerida a actividade comercial. Leia e retire 
evidências. 
A relação entre o tenente-general e o capitão de Moçambique nunca 
chegou realmente a ser definida, sendo que, pelo menos numa área 
importante, soprepunham-se os poderes de um sobre os outros. O porto de 
Quelimane terá ficado sob jurisdição de ambos os funcionários. Se isto já 
não bastava para criar uma série de confusões, há ainda que mencionar 
outro facto, ou seja, que até às reformas administrativas de 1752, o 
capitão de Moçambique acumulou estas funções com as de 
superintendente da Junta de Comércio, a qual controlava todo o comércio 
praticado pelos assentamentos da religião dos Rios. 
Em 1675, a administração comercial da zona oriental de África fora 
subtraída ao controlo do capitão. O comércio praticado em quase toda a 
costa foi considerado susceptível de ser levado a cabo por qualquer 
cidadão português, tendo sido criada em Moçambique uma espécie de 
casa aduaneira onde era suposto os mercadores pagarem as suas taxas. 
Bastante maiores eram as preocupações dadas pela actividade comercial 
dos Rios. Numa primeira fase, a Coroa entregouàuma Junta de Comércio, 
a qual operava a partir de Goa. Contudo, esta Junta foi tudo menos um 
sucesso, e, depois de um período de liberalização do comércio nesta zona, 
criou-se uma companhia cuja finalidade era encarregar-se de todas as 
operações comerciais com os assentamentos do Zambeze. A companhia 
teve um período de funcionamento que durou de 1696 a 1699. A Junta foi 
restaurada e exerceu as funções de principal agente comercial até 1739, 
quando as suas responsabilidades passaram para o Conselho da Fazenda 
 
 
42 
 
do Estado da Índia, em Goa. Este Conselho administrou o comércio dos 
Rios até 1752, altura em que Moçambique foi separado do governo de 
Goa, constituindo-se como um governo independente. Durante o período 
de tempo em que o comércio de Moçambique esteve sob a alçada da 
Junta, o capitão, agindo na qualidade de superintendente, controlava de 
forma absoluta toda a política comercial da zona. 
A confusão só podia ser óbvia. Na Zambézia, tanto os assuntos do foro 
político como os do foro militar eram controlados pelo tenente-general, 
que, apesar de se encontrar nominalmente subordinado ao capitão de 
Moçambique, actuava por sua conta e risco. Porém, na qualidade de 
superintendente da Junta, o capitão dominava a vida comercial dos Rios, 
embora não sucedesse o mesmo com as finanças do governo, as quais 
ficavam a cargo do feitor dos foros e quintos. 
Até 1752, territórios controlados pelos Portugueses continuaram a ser 
administrados de um modo muito pessoal, quase medieval. Em grande 
parte devido à distância que separava estes assentamentos de Portugal e 
de Goa, a administração consistia nas acções de uns quantos indivíduos a 
quem a Coroa conferiria poderes executivos, legislativos e judiciais 
embora a coroa se tivesse reservado o direito de intervir ou legislar 
directamente sempre que tal considerasse necessário. Depois de 1552, 
mesmo a África Oriental sentiu, se bem que de um modo muito difuso, os 
efeitos do Iluminismo, e tentou-se criar uma administração mais moderna, 
de directrizes bem definidas no capítulo da autoridade e que deveria 
instaurar formas de auto - governo nos diferentes assentamentos. 
 
Actividade 1 
Actividade: 
Depois da leitura do texto, apresente a estrutura administrativa de 
Moçambique de 1675 a 1752. 
Ao responder esta questão, não se esqueça que o vice-rei da índia 
nomeou o tenente general como responsável máximo seguido do 
capitão-mor. Veja a responsabilidade destes e outros elementos 
que coadjuvavam o tenente general. 
 
 
43 
 
 
1752, marca a separação de Moçambique de Goa. Veja como ficou 
estruturada a administração de Moçambique. Leia e retire dados que 
mostram a estrutura administrativa montada a partir deste período. 
 
Em 1752, o governo de Moçambique foi formalmente separado de Goa, e 
o governador, agora chamado capitão-general, e posteriormente, 
governador-geral, passou a estar sob o controlo directo de Lisboa. Foi 
ainda criado um secretariado na Ilha de Moçambique, sendo também aí 
que acabou por ficar instalada a única repartição aduaneira na zona. 
Contudo, as dificuldades de comunicação entre os muitos isolados 
entrepostos comerciais que se estendiam de Cabo Delgado à baia de 
Delagoa significava gozarem os governadores subordinados de um alto 
grau de independência. Na década de sessenta, a maior parte dos 
assentamentos foi oficialmente elevada ao estatuto de cidades, tendo cada 
uma delas ficado com o seu próprio Senado da Câmara. No entanto, e na 
grande maioria dos casos, as câmaras possuíam poucos recursos, sendo os 
colonos de tal forma escassos, que só a custo constituíam o quórum 
necessário ao seu funcionamento. De qualquer dos modos, seria errado 
subestimar o contributo das câmaras na institucionalização do poder das 
famílias afro-portuguesas. 
Em termos nominais, os governadores dos assentamentos possuíam tropas 
sob o seu comando, podendo ainda contar com o apoio de um juiz 
ordinário para a resolução das questões judiciais, e de um secretário. Os 
contactos com os habitantes africanos ficavam a cargo de um potentado 
local, que acabava sempre por receber o título de capitão-mor, ou então, 
em alternativa, de um colono influente a quem eram dados poderes para 
recrutar soldados africanos, barqueiros, carregadores e simples 
trabalhadores, proceder ao julgamento de diferentes casos consoante a lei 
“nativa” e tratar das questões diplomáticas com os chefes vizinhos que se 
consideravam independentes em relação ao governo português. Na Ilha de 
Moçambique, este funcionário recebia o título de “Capitão-mor das Terras 
 
 
44 
 
Firmes”, enquanto, nos Rios, era chamado “Capitão-mor das Terras da 
Coroa” (Newitt, 1997).Auto-avaliação 
 
1. O capitão de Moçambique tinha poder, mas ao mesmo tempo 
não o tinha. Concorda? Justifique a tua resposta. 
2. A Zambézia, agorachamada Rios de Sena, acabava por 
funcionar como um governo à parte. Com o fim do monopólio do 
capitão, as nomeações para o posto de capitão-mor dos Rios 
passaram a ser da competência do vice-rei, criando-se o título de 
“tenente geral dos Rios”. 
a) Refira-se às competências de tenente geral dos Rios. 
3. Identifique os funcionários que coadjuvavam o tenente-general 
nas suas actividades. 
4. Comente a frase: “Até 1752, territórios controlados pelos 
Portugueses continuaram a ser administrados de um modo muito 
pessoal, quase medieval”(Newitt, 1997). 
5. Refira-se às actividades de capitão-mor. 
 
 
Resumo da Lição 
 
Nesta lição, você aprendeu que a partir de 1675 assiste-se uma 
sobreposição de poder em Moçambique, resultante de nomeação de 
um novo corpo de funcionários por vice-rei de Goa. Esta realidade 
viria a terminar em 1752 quando Moçambique passa a ser 
administrado por Portugal. 
 
 
 
 
45 
 
 
Leitura Complementar 
 
Departamento de História da UEM: História de Moçambique, vol. I, 2ª 
edição, Maputo: Tempo, 1988. 
NEWITT, Malyn; História de Moçambique. Mira Sintra: Publicações 
Europa América, 1997. 
SENGULANE, Hipólito. História das Instituições do Poder Político 
em Moçambique. Maputo: Autor, 2013. 
 
 
46 
 
 
Lição n° 8 
"O comércio de marfim, no século XVII e XVIII" 
 
Introdução 
A partir do século XV, os portugueses descobriram a importância 
estratégica de Moçambique para a realização do comércio da costa 
oriental africana, mas também como base de apoio do comércio com a 
Índia e para a navegação de longo curso. Na primeira fase, século XVI, o 
interesse dos mercadores portugueses era fundamentalmente o ouro do 
Monomotapa que saia por Sofala e era capturado pelos mercadores 
árabes. Ao lado do ouro, resgatavam também outros géneros como 
marfim, cera, escravos, etc. Mas, no final do século XVII a meados do 
século XVIII, o marfim constituiu em volume e valor, a mercadoria mais 
importante que se tirava da costa africana para alimentar o comércio 
indiano. 
 
Tempo 
 
 
 
Você vai precisar de 10 horas para estudar esta lição. 
 
 
Ao completar esta lição, você deve ser capaz de: 
 Localizar no tempo o desenvolvimento do comércio do 
marfim; 
 Identificar os intervenientes no comércio de marfim; 
 
 
47 
 
Objectivos  Caracterizar o comércio de marfim; 
 Descrever o papel dos chefes locais no comércio de 
marfim; 
 Explicar o incremento do comércio do marfim no sul de 
Moçambique a partir do século XVIII. 
 
 
Actividade 1 
Actividade: 
Leia a introdução da unidade e retira as modalidades pelas quais 
era desenvolvido o comércio de marfim. 
 
 
 
Comentários da feedback 
Meu caro, volte ao texto introdutório desta unidade para melhor 
perceber que o comércio de marfim foi desenvolvido em duas 
modalidades. 
 
"O comércio de marfim, no século XVII e XVIII" 
 
Leia o texto que se segue e encontre a priori o contexto do 
desenvolvimento do comércio do marfim, o monopólio do comércio pela 
Índia, os intervenientes no comércio, os locais de troca entre outros 
aspectos. 
O levantamento de 1693 no império de Mutapa constituiu a primeira 
forma sistemática de resistência em Moçambique. A insurreição levou 
muitos portugueses a refugiarem-se em Tete, Sena e Quelimane e ao 
alargamento do sistema de prazos para o norte de Zambeze, 
nomeadamente para o território do Estado Cheua dos Undi onde foram 
 
 
48 
 
abertos campos de mineração, mas produziam ouro em quantidade ínfima. 
Com este levantamento, a produção e comercialização do ouro e marfim 
passou a ser o produto mais procurado pelos mercadores. 
Nos territórios situados entre o rio luangua e Quelimane fazia-se bastante 
comércio de marfim e a sua produção, bem como a sua comercialização 
era organizada em regime de monopólio pelos Maraves. O marfim 
representava para os Phiri uma das suas principais fontes de reprodução. 
Eram frequentes as rivalidades entre os Caronga e Lundu para obtenção 
de panos e de missanga, bens de prestígios que garantiam lealdade política 
e uma corte de aderentes numerosas. 
Como é que os portugueses começam a ter hegemonia no comércio 
substituindo os swahilis? 
O controlo efectuado pelos portugueses do tráfico Swahili e árabe, através 
do Zambeze, partindo de Angoxe, terá bloqueado consideravelmente o 
afluxo aos Phiri dos produtos trazidos por aqueles mercadores. Embora a 
base de partida fosse Angoxe, muitos mercadores vinham de Quíloa, de 
Mombaça e por vezes de mais longe, das cidades portuáriasSwahili que 
pontilhavam a costa oriental africana desde, provavelmente, o século VIII 
da nossa era, por um lado, por outro lado, a situação estratégica dos 
Estado dos Lundu, no Chire, tornava possível a estes interceptar as 
mercadorias destinadas aos Phiri. A situação era um tanto idênticaàquela 
que permitia ao inhamunda do Quiteve e de Sedanda interceptar as 
mercadorias que saiam deSofala para Mwenemutapa e para o Changamira 
entre 1505 e 1530. 
Em 1622, os Caronga fizeram uma aliança militar com os portugueses e 
os Lundus foram derrotados, passando os phiri Caronga a controlar o 
comércio. A aliança obtida deu aos portugueses uma margem de manobra 
política substancial a norte de Zambeze. 
Os portugueses desde a sua fixação em Moçambique possuíam duas 
fontes de rendimento: os direitos aduaneiros e o comércio. Todo o aparato 
administrativo e militar português se destinava a apoiarem essas duas 
fontes de rendimentos. 
 
 
49 
 
Será que Portugal teve rendimento no comércio que desenvolvia em 
Moçambique até a primeira metade do século XVII? Leia, encontre 
evidências e conclua. 
No tocante ao comércio régio, os portugueses usam no século XVII, o 
sistema de arrendar terras a capitas que tomavam a seu cargo o monopólio 
de compra e venda de produto e pagavam a fazenda real uma determinada 
percentagem dos lucros. Esses arrendamentos eram intervalados com 
tentativas de nacionalização da actividade comercial, a qual ficava então a 
cargo da fazenda ou das juntas de comércios. Tudo isso se mostrava na 
prática ineficaz do ponto de vista da coroa, pois a maior parte da riqueza 
acumulada era simplesmente drenada para a Índia, onde uma elite colonial 
se estabelecera faustosamente em Goa, Diu e Damão ou, ia para Lisboa 
nos baús dos nobres para ser sistematicamente investida em bens de raiz o 
que chegava a Portugal como reduto estrito da coroa saía quase logo a 
seguir para outros países como pagamento dos cereais importados cuja 
falta era crónica naquele pequeno país europeu. 
O grosso da riqueza acumulada em Moçambique ia para Goa, pois era 
através da Goa que a coroa portuguesa administrava Moçambique. O 
capitão general de Moçambique que servia a modo de governador estava 
subordinado ao vice-rei de Goa. Por isso, No século XVII, a Índia tornou-
se quase virtualmente a verdadeira “metrópole” mercantil de 
Moçambique. 
Em 1686 foi formada em Diu, pelo vice-rei português a companhia dos 
Mazanes, composta por ricos armadores e mercadores Indianos, a qual 
obteve o monopólio do comércio entre Diu e Moçambique, bem como 
extensos privilégios comerciais em termos de Fretes, apoio logístico, 
ajuda oficial portuguesa. 
A formação de uma companhia desse género não foi programada em 
Lisboa, mas em Goa. Por outras palavras, erado interesse da nobreza 
portuguesa, na Índia,que o capital mercantil indiano penetrasseem 
Moçambique.

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