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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - CADERNO PROVA 1 - MAURÍCIO REQUIÃO

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Leonardo David – Direito das Obrigações – Maurício Requião – T4A – 2019.2 
 
PRIMEIRA UNIDADE 
 AULA – 08 DE AGOSTO 
INTRODUÇÃO 
A obrigação, em uma linha mais clássica, costuma ser definida como uma 
“relação jurídica entre pelo menos dois sujeitos, um credor outro devedor, 
estando o último obrigado a realizar uma prestação em favor do primeiro, sendo 
passível a responsabilização do devedor caso não a realize”. Logo, os sujeitos, o 
objeto e o vínculo jurídico são os elementos da relação obrigacional. 
Importa trazer à baila que esta definição clássica aqui elencada se destaca 
somente no aspecto estático da relação obrigacional. Ou seja, diz respeito ao 
momento da sua criação. 
Dito isto, a obrigação é uma relação jurídica. Contudo, afirmar que a 
obrigação é uma relação jurídica traz muita informação que talvez não fique tão 
clara. Traz uma carga razoavelmente grande de informações, pois relação 
jurídica diz respeito à eficácia. Isto é, é um tipo de efeito. Isso significa que 
quando se diz que a obrigação é uma relação jurídica, implicitamente está se 
dizendo que a obrigação é um efeito de um fato. 
Em outras palavras, tem que acontecer alguma coisa para que então a 
obrigação surja, já que está no plano da eficácia. É muito comum confundir o fato 
que gera a obrigação com a obrigação. Isto é, uma coisa é o contrato, que é o fato, 
outra coisa é a obrigação que surge da celebração desse contrato, que é o efeito. 
Então quando discutimos obrigação, estamos tratando de uma discussão que 
ocorre no plano da eficácia, de modo que, por consequência disso, é equivocado 
uma frase que diz que “a obrigação é nula”. Isso porque, se a obrigação está no 
plano da eficácia, não há como discutir a validade dela. O certo seria falar que o 
contrato que gerou a obrigação é nulo, e não a obrigação é nula. Ou seja, se o 
contrato que foi celebrado é nulo, é óbvio que os efeitos não irão se manifestar. 
ELEMENTOS DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL 
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1. Sujeito 
Além disso, relação jurídica é um tipo específico de efeito, que tem duas 
coisas como característica: primeiro, é subjetiva. Ou seja, no momento que se diz 
que obrigação é uma relação jurídica, isso significa que para termos uma 
obrigação, são necessários dois sujeitos; segundo, que esse efeito, não só precisa 
de dois sujeitos, como esse efeito se projeta na esfera jurídica dos dois. Isto é, se 
a obrigação é uma relação creditória, é preciso que haja um débito 
obrigatoriamente, ou seja, um devedor como sujeito passivo e um credor como 
sujeito ativo. 
É necessário entender credor e devedor como sujeitos que cooperam, do 
que como sujeitos que são antagônicos. Às vezes quando se pensa em credor e 
devedor, parece que eles têm uma relação de inadimplemento, quando, na 
verdade, não é. Essas relações de crédito e débito elas tendem mais a aproximar 
os sujeitos, do que afastar. Por exemplo: um lugar que um sujeito sempre vai 
comprar um lanche. Se chegar na primeira vez de todas e faltar 2 reais, talvez a 
pessoa não deixe pagar depois. Mas se esse sujeito já foi lá várias vezes, a 
probabilidade dele deixar pagar os 2 reais depois é bem maior. 
OBS: Há sempre dois polos, ativo e passivo, mas pode haver vários 
credores e vários devedores de uma mesma obrigação. 
Pode-se ter, numa obrigação, credor ou devedor incapaz? A obrigação está 
no plano da eficácia. Ou seja, não irá se discutir capacidade no plano da eficácia. 
Então não é relevante se o credor ou devedor é incapaz. Mesmo o absolutamente 
incapaz, a pessoa que atua em nome dele é um representante e não um substituto. 
2. Objeto 
A prestação é o objeto da obrigação, são a mesma coisa. Uma primeira 
coisa essencial é compreender que a prestação sempre é uma CONDUTA; um 
agir ou não agir; um fazer ou não fazer. Em um dos tipos de obrigação que existe, 
que é a obrigação de dar, há sempre uma confusão. Por exemplo: contrato de 
compra e venda de celular. Então surge a obrigação de dar o celular a outro 
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sujeito. A prestação, neste caso, não é o celular, mas sim a entrega do celular. Isso 
na obrigação de dar, que é a que mais se confunde. 
OBS: Em relação à prestação, costuma-se exigir os mesmos requisitos do 
objeto do negócio jurídico: lícito, possível, determinado ou determinável. 
Alguns autores, além dessas características, em se tratando do objeto da 
obrigação, falam também que essa prestação tem que ser economicamente 
apreciável, ou dotada de valor econômico. Isso parte muito do fato de que tudo 
que se imagina que é patrimonial, no direito civil, esteja ela vinculada a qualquer 
ramo, ela irá se resolver ou pelas obrigações ou pelo direito das coisas. 
Tem algumas relações que, aparentemente, não há valor patrimonial. 
Exemplo: alguém se compromete a dar uma palestra de graça. Ou seja, o sujeito 
não está valorando o trabalho dele de maneira específica. Mas o fato de não se ter 
um valor específico, não quer dizer que aquilo não tem valor, significa somente 
que o sujeito não cobrou. 
Assim, sempre há a possibilidade de valorar aquilo que foi objeto da 
obrigação economicamente. 
Há outro fator: se a obrigação for descumprida, via de regra, uma das 
soluções é fazer com que o devedor pague para o credor uma indenização 
pecuniária. Então se o sujeito marcou essa palestra de graça e não foi porque não 
quis, irá ter um prejuízo a quem contratou. Esse prejuízo, então, poderá ser 
cobrado do sujeito que não foi palestrar. 
3. Vínculo jurídico 
A ideia de vínculo jurídico é o elemento abstrato da relação obrigacional. 
Ela define o conteúdo dessa relação entre credor e devedor. O que se entende é 
que o vínculo jurídico se constitui por dois fatores, que são: dever e 
responsabilidade. Isso significa que quando se forma uma relação obrigacional 
entre dois sujeitos, a consequência disso, por um lado, é o fato de que um deles 
tem dever para cumprir em relação ao outro e, por outro lado, significa que se ele 
não cumprir, ele será responsabilizado. 
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4. Causa 
Alguns autores (no Brasil muito pouco) colocam, ainda, como elemento da 
relação obrigacional, a ideia de causa. 
OBS: O que diferencia a obrigação jurídica da não jurídica é o poder de 
coação que o Estado tem. Mas mesmo no âmbito jurídico, fala-se a obrigação no 
sentido de dever jurídico. Mas nem todo dever jurídico é uma obrigação, porque 
nem todo dever jurídico atende a todos esses elementos das relações 
obrigacionais. Por exemplo: todos os homens têm que se alistar no serviço militar 
obrigatório. Não há que se dizer que o Estado tem um crédito no seu alistamento. 
Outro exemplo é o dever de votar. É um dever, mas não é uma obrigação, pois o 
Estado não tem um crédito do seu voto. Então, algumas vezes, existem situações 
em que há uma obrigatoriedade dentro do direito, mas, ainda assim, não são 
obrigações nesse sentido de credor e devedor. 
A OBRIGAÇÃO NO SEU ASPECTO DINÂMICO 
Essa definição enxerga a obrigação de um modo muito estático. Esses 
elementos elencados não são os únicos de uma relação obrigacional. Quando fala-
se em obrigação, o grande lance que ocorre é que começa-se a entender algumas 
coisas: a primeira, que se vincula ao fato de a obrigação ser uma cooperação entre 
credor e devedor, é o fato de que esse dever que está aqui com a prestação, não é 
o único dever, porquanto há outros deveres nessa mesma obrigação. E não é só o 
devedor que tem deveres, o credor também tem. Se essa obrigação é algo 
processual, isso também significaque essa obrigação vincula os sujeitos, em 
algum grau, mesmo antes de ela existir. E mesmo depois de cumprida, ela 
continua produzindo deveres para os sujeitos. 
Em outras palavras, a prestação não é o único dever que existe em uma 
obrigação. Isto é, de acordo com Fernando Noronha, a relação obrigacional é, em 
verdade: 
“uma relação complexa ou sistêmica em que se deve considerar o 
conjunto de direitos e deveres que unem as partes intervenientes, em 
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razão dos quais elas são adstritas a cooperarem, para a realização dos 
interesses de que sejam credoras, mas com o devido respeito pelos 
recíprocos interesses do devedor, ou devedores, e tendo em conta 
também a função social desempenhada, que é a razão última de sua 
tutela.” 
Nesse sentido, Clóvis de Couto e Silva afirma que a obrigação deve ser 
entendida considerando “os aspectos dinâmicos que o conceito de dever revela, 
examinando-se a relação obrigacional como algo que se encadeia e se desdobra 
em direção ao adimplemento, à satisfação dos interesses do credor”. 
Uma primeira possibilidade, seria o chamado “dever principal” ou 
“prestação primária”, que é o dever de, no exemplo dado anteriormente, entregar 
o celular para a pessoa. Isto é, seriam justamente aqueles destacados na noção 
simples de obrigação, entendidas como as que satisfazem diretamente o interesse 
do credor. 
Uma segunda categoria são os deveres secundários, que ainda não muda 
muita coisa. A diferença é que eles são dependentes do dever principal. Por 
exemplo: um boleto vence tal dia, e se a pessoa não pagar o boleto até o 
vencimento, ela vai pagar uma multa de 10%. Essa multa é um dever secundário, 
pois só existe essa multa, por conta do dever principal. 
A coisa muda quando se começa a discutir a terceira categoria, que são os 
“deveres anexos”. Esses deveres anexos surgem na obrigação como uma 
manifestação, como uma consequência da boa-fé objetiva, isto é, boa-fé enquanto 
princípio. Ou seja, quando se fala em boa-fé objetiva está se trabalhando com a 
ideia de que há um padrão ideal de conduta. Em outras palavras, quando se diz 
que a obrigação deve atender à boa-fé objetiva, se está afirmando que existe um 
modo adequado de agir com a relação obrigacional. Existe um padrão ético, um 
padrão de adequação, que deve ser observado quando se faz uma obrigação. 
Esta espécie de deveres tem como característica comum gerar a incidência 
de deveres às partes que vão para além daqueles expressamente acordados por 
elas no momento da formação da relação obrigacional. Ou seja, a sua aplicação e 
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incidência independem de qualquer convenção entre elas, com a verificação de 
aplicabilidade ocorrendo somente diante do caso concreto, decorrendo, via de 
regra, da boa-fé objetiva. 
A consequência disso é que essa boa-fé objetiva que atua no sistema 
contratual, principalmente, os autores costumam atribuir a ela três funções 
diferentes: 
(a) função corretiva ou função de coibir o abuso de direito, de modo que 
se há um contrato com cláusula abusiva, a boa-fé objetiva vai poder ser utilizada 
para retirar essa cláusula do contrato; 
(b) função interpretativa ou boa-fé atuando com cânone hermenêutico-
integrativo: a ideia é que a boa-fé vai servir como padrão de interpretação, ou 
seja, imagine que no contrato há uma cláusula ambígua, com duas possibilidades 
de interpretação. A ideia da boa-fé significa que, na dúvida, você sempre vai dar 
para essa cláusula a interpretação que melhor aproxime à boa-fé, que seria o 
padrão ideal de conduta; 
(c) função supletiva ou de criação de deveres jurídicos: aqui que muda 
toda a lógica da obrigação. Se pensar, no âmbito contratual, naquele paradigma 
do liberalismo clássico, de autonomia, tem-se uma perspectiva de que a 
obrigação entre as partes surge porque a obrigação foi pactuada. Tem que 
entregar o celular, porque, de alguma forma, pactuou-se essa entrega. O que, por 
conseguinte, também implica que se não foi pactuado, logo não há a obrigação. 
Só que a boa-fé termina partindo dessas duas afirmações, pois se o que pactuou 
foi abusivo, pode ser retirado, segundo porque se houver omissões indevidas 
nessa pactuação, ainda assim o sujeito estará obrigado a cumprir. 
De outro modo, isso significa que há na obrigação deveres decorrentes da 
boa-fé e que são exigíveis, devem ser cumpridos, independentemente de 
pactuação das partes nesse sentido. Então são deveres que estão presentes na 
obrigação independentemente de as partes terem acordado sobre a sua presença. 
São deveres que dizem respeito a coisas que são tão óbvias, tão adequadas, que 
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às vezes as partes não pactuaram simplesmente porque aquilo já é tido como um 
pressuposto. Por exemplo: na hora de comprar um apartamento, o sujeito não vai 
checar se no contrato tem uma cláusula afirmando que o prédio não vai desabar, 
pois isso é o básico que se espera. 
Então eles podem se manifestar mesmo antes da obrigação existir. No 
aspecto, no momento em que há a conversa para definir se irá realizar o contrato, 
já existem deveres entre as partes. Bem como o fato de ter cumprido com a 
prestação principal não significa que o vínculo com a outra parte tenha, neste 
momento, se dissolvido totalmente. 
Em suma, a existência dos deveres anexos demonstra que a obrigação não 
se trata de apenas dois momentos estanques, formação e adimplemento, mas sim 
um processo contínuo que se inicia ainda nas tratativas pré-negociais, e perdura 
até posteriormente ao adimplemento da obrigação, não tendo a sua vida limitada 
pelo cumprimento e extinção da prestação principal. 
Nesta senda, Requião: 
“É verdade que o pagamento é um momento de destacada importância 
tanto na concepção estática, como na concepção dinâmica da obrigação. 
Entretanto, enquanto na primeira ele apresenta-se como um momento 
isolado de liberação do devedor e satisfação do credor, na visão dinâmica 
da obrigação ele se apresenta ainda como uma meta, um objetivo, que 
polariza todo o encadeamento de atos realizados no decorrer da 
obrigação. E não apenas isso. Na visão dinâmica da obrigação, o 
pagamento não se resume ao cumprimento da prestação principal, mas 
sim ao cumprimento de todos os deveres oriundos da relação 
obrigacional.” 
Então essa explicação da obrigação processual, partindo da perspectiva 
dos deveres anexos, muda totalmente a lógica do que é uma obrigação, pois deixa 
de se enxergar a obrigação como simplesmente uma relação mais pontual, e passa 
a enxergar a obrigação como realmente uma série de atos. Portanto, a obrigação 
não é somente cumprir com a prestação acordada. 
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AULA – 15 DE AGOSTO 
DEVERES ANEXOS 
Noronha faz a classificação com quatro tipos de deveres anexos diferentes: 
dever de informação, de cuidado, de assistência e de lealdade. 
Dever de informação: se manifesta na ideia de que cada um dos sujeitos 
tem que fornecer ao outro as informações necessárias para aquela obrigação que 
se está desenvolvendo. Então é a ideia de que as partes devem clarificar tudo em 
relação àquela obrigação. Esse dever anexo vai incidir antes mesmo da obrigação 
existir. Por exemplo: consumidor vai comprar um computador, e o vendedor 
apresenta alguns dentro das especificações do consumidor. Contudo, quando o 
sujeito chega em casa, ele nota que o computador não tem todas as especificações 
que o consumidor requereu. Ou seja, o dever anexo foi descumpridoantes 
mesmo da obrigação existir. 
OBS: O descumprimento do dever de informação também é uma espécie 
de inadimplemento. 
Dever de cuidado: aqui é a ideia de que as partes devem agir de modo de 
não causar dano à parte contrária. Seja dano no aspecto patrimonial, mas também 
dano de ordem pessoal. Por exemplo: construtora vende prédio residencial na 
planta e, nas vésperas da entrega dos apartamentos, o prédio ruiu. Descobriu-se 
que a empresa não havia realizado o estudo de solo. 
Dever de assistência e lealdade: funcionam mais ou menos da mesma 
maneira. Neste sentido, o de assistência vai dizer respeito às condutas positivas 
(ações), enquanto o de lealdade diz respeito às condutas negativas (inações). Por 
exemplo (assistência): comprar um carro zero e a construtora decide no dia 
seguinte tirar de linha aquele modelo de carro. Isso ela pode. O que ela não pode 
é parar de fabricar também peças de reposição para esse carro. Ou seja, a 
obrigação principal já foi cumprida, mas para um adequado fluir desse bem que 
foi adquirido, é necessário que a construtora continue fornecendo as peças para 
que ao longo do tempo elas sejam repostas. Exemplo (lealdade): alguma empresa 
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fala para um sujeito, dizendo para ele fazer alguns esboços de marcas e, se a 
empresa gostasse de alguma, ela o contraria. O sujeito apresente, contudo a 
empresa diz que não gosta e não contrata. Todavia, a empresa aparece com uma 
marca extremamente similar com um dos esboços apresentados, o que fere o 
dever anexo de lealdade. Nota-se aqui que não houve, sequer, a existência da 
obrigação principal. 
Então esses deveres anexos funcionam numa ótica bem diferente da ótica 
tradicional da prestação principal, porquanto terão deveres que podem existir 
antes da prestação principal existir, depois dela ter sido paga, ou mesmo sem 
nunca ter existido. Então a obrigação não pode ser entendida somente a partir da 
criação e do adimplemento da prestação principal. É realmente algo dinâmico, 
ou seja, uma série de atos que vão se encadeando, para que possa, enfim, se dar 
o adimplemento. 
NORMAS DE TEXTURA ABERTA 
Por vezes, haverá normas ditas de textura aberta. Isso se dá quando há 
normas, por conta de alguns recursos, criadas de uma maneira que tem pretensão 
de ter uma maior possibilidade de adaptação ao caso concreto e, portanto, uma 
maior longevidade e que propicie decisões mais justas. 
Parte-se do pressuposto de que não há conflitos entre elas, pois elas se 
situam em planos diferentes. Cláusula geral em um plano, princípio em outro e 
conceito indeterminado em outro, tendo uma relação muito mais de 
complementariedade do que de conflito. Isto é, poderá haver duas coisas ao 
mesmo tempo, justamente por estarem em planos distintos. 
Quando falamos em conceitos indeterminados, está se falando do plano 
da linguagem ou da semântica. Conceito indeterminado quer dizer que é uma 
palavra ou expressão dotada de elevado grau de vagueza. 
OBS: Não se pode confundir a ideia de vagueza com ambiguidade, pois 
esta quer dizer que não se sabe o sentido daquilo, isto é, há dúvidas sobre o 
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sentido daquilo que se está falando. Na vagueza sabe-se o sentido, mas há uma 
possibilidade de preenchimento desse sentido de modos diferentes. 
A segunda categoria, que é das cláusulas gerais, em termos de suporte 
fático, ela funciona parecida com o do conceito indeterminado, mas acrescenta-
se que a consequência também está em aberto. Por exemplo: quando o CC diz 
que os contratantes têm que se guiar pelo princípio de boa-fé, há duas coisas: (1) 
ele não explica o que é boa-fé; (2) e ele não diz o que acontece se a pessoa não agir 
de acordo com a boa-fé. Ou seja, a parte da consequência também fica em aberto. 
Por fim, a terceira categoria se encontra no plano normativo. A ideia de 
que toda norma ou é uma regra ou é um princípio. Enquanto as regras trazem 
comandos mais diretos, os princípios precisam de maior preenchimento, embora 
já tenham um consenso de orientação de agir. 
Quando há o conflito entre regras, esse conflito é em abstrato, porquanto 
não há como ter duas regras conflitantes dentro de um mesmo ordenamento. Já 
o conflito entre princípios não se dá em abstrato, se dá em concreto. Isto é, se 
houver um conflito, ele aparecerá em concreto e não em abstrato, pois aqui é a 
ideia do mandado de otimização, ou seja, se vê, no caso concreto, qual princípio 
terá a maior prevalência. 
PRINCÍPIOS DOS DIREITOS DA OBRIGAÇÕES 
Boa-fé: já discutido. 
Autonomia: Aparece principalmente nas obrigações negociais, ou seja, 
onde o surgimento acontece perante um ato de vontade. 
Autonomia da vontade x autonomia privada 
É uma distinção histórica. A autonomia da vontade é uma expressão mais 
consagrada no período do liberalismo clássico, em que se teve um movimento de 
conquista de liberdades individuais, contra o que era o poder monárquico 
absolutista. 
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Por outro lado, contudo, se a autonomia não for regrada, vai se 
transformar em uma espécie da lei do mais forte. Então ela é essencial, mas 
precisa ser dialogada com outros princípios para ser utilizada da forma correta. 
Essa é o sentido da autonomia privada. 
Função social: a ideia de função social está relacionada com a ideia de 
superação dos interesses egoísticos. Não é uma ideia de não existirem interesses 
individuais, mas uma ideia de que na busca da realização desses interesses, não 
se pode trazer prejuízo à sociedade. 
AULA – 22 DE AGOSTO 
FONTES 
Quando vai para o direito romano, inicialmente tem-se duas figuras que 
são apontadas como sendo apontada as fontes das obrigações: (1) contractos, que 
não é exatamente a mesma ideia de contrato nossa, que tem mais requisitos, mas 
que está sim relacionado com a ideia negocial; (2) delictum, que não é exatamente 
a ideia de ato ilícito ou delito hoje, mas está relacionado com a ideia de ilicitude. 
À medida que isso vai se desenvolvendo, se conclui que existem 
obrigações que surgem, mas que não dava para enquadrar essas obrigações, nem 
como contracto, nem como delictum. Assim, tiveram que criar outra categoria 
que é a “varia causa figura”. Aqui não foi uma solução muito conteudista, 
pensado a partir das semelhanças e diferenças, foi muito mais por exclusão, isto 
é, tudo que gerasse obrigação e não se enquadrasse como contracto ou delictum, 
se enquadrava nesse terceiro. Exemplo: gestão de negócios, que é quando uma 
pessoa age de forma correlata a que um mandatário agiria, mas sem ser 
mandatário. Quando essa pessoa age assim, surge obrigações dele e da pessoa de 
quem ele agiu, em nome de, embora sem autorização, etc. Contudo, essas 
obrigações não são configuráveis como contracto. 
Tem as classificações bipartidas, tripartidas e, ao final do direito romano, 
tem-se a quadripartida. Eles pegam a figura do contracto e delictum e cria 
categorias assimiladas, isto é, “contrato ou quase contrato” e “delito e quase 
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delito”. Os autores dizem que os romanos tem uma apreciação muito grande da 
simetria e essa classificação atendia mais ao padrão romano. 
E o que seria esse quase contrato? Vai se encaixar tudo aquilo que é ato de 
vontade e gera obrigação, mas não é o contrato. Então qualquer coisa que não 
alcance status de contractos, fica sendo um “quase contrato”. 
O “quase delito” é correspondente ao que hoje trabalhamos com a ideia de 
delito doloso e culposo.Quando vai para o Código de Napoleão, ele reconhece essas fontes, só que 
acresce mais uma possibilidade: lá vai se falar da lei como fonte direta ou 
imediata das obrigações. Exemplo: pai que precisa pagar alimentos para o filho. 
No direito brasileiro, seja no CC 16 ou 2002, não houve uma 
regulamentação sobre fontes. Então o que se tem sobre fontes no direito brasileiro 
é discussão da doutrina. 
A maior parte das classificações sobre fontes que são apresentadas, são 
classificações que, de um modo ou de outro, repetem isso que foi exposto. Há 
uma crítica neste sentido: 
Obrigação é uma relação jurídica. Assim, ela é um efeito; nasce de um fato. 
Quando Fernando Noronha fala que a lei não é fonte, é no sentido de que a lei, 
por si só, não gera obrigação nenhuma. Isso porque as obrigações não nascem da 
lei (relação de crédito e débito), a obrigação nasce do fato jurídico. Então quando 
ele fala que lei não é fonte é para indicar que a lei, por si só, é suporte fático. O 
fato de existir uma lei dizendo que “se algo acontecer, vai ter uma consequência”, 
a existência da lei por si só não gera o fato, e sem surgir o fato, não gera a 
obrigação. 
Assim, ele propõe um outro modo de classificação: ele prefere seguir uma 
análise mais em conta do que tem de diferente, do que tem de parecido com cada 
uma delas. Partindo dessa premissa de que lei não é fonte, então pode-se 
classificar as obrigações em obrigações negociais (qualquer obrigação que tenha 
a vontade como elemento para gerar o fato que lhe dá origem); obrigações de 
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responsabilidade civil, que aqui inclui, porém é mais abrangente do que falar “as 
obrigações vinculadas a atos ilícitos”, porque temos também fatos lícitos que 
podem gerar o dever de indenizar; por fim, as obrigações relacionadas ao 
enriquecimento sem causa. 
DISTINÇÃO ENTRE O DIREITO DAS COISAS E O DIREITO DAS 
OBRIGAÇÕES 
Quando estamos falando de conteúdo patrimonial no direito civil, isso 
sempre vai estar regulamentado ou no direito das obrigações ou no direito das 
coisas. 
O direito obrigacional termina levantando essas relações de crédito e 
débito. Portanto, ele vai regulamentar essa questão patrimonial mais no aspecto 
dinâmico (crédito/débito), ou seja, o patrimônio está fluindo de um sujeito para 
outro. Já o direito das coisas está num aspecto mais estático, como, por exemplo, 
a posse e a propriedade. 
Partindo disso, o modo que se resolvem conflitos no direito das obrigações 
segue um conjunto de regras e princípios bem diferente do direito das coisas, daí 
a importância da distinção. 
Quanto ao objeto: o objeto do direito das obrigações é a prestação. A 
existência dessa conduta que deve ser feito de um sujeito em favor do outro. No 
direito das coisas, como são múltiplas situações diferentes, que vão se 
regulamentar de formas diferentes, então vão ter diferentes tipos de objetos para 
cada tipo de situação. Mas a ideia é que está tratando do domínio ou uma posição 
ocupada de um sujeito quanto a uma coisa. 
Quanto ao sujeito: em toda e qualquer obrigação tem, pelo menos, dois 
sujeitos, porquanto obrigação é uma relação jurídica. Então se é uma relação de 
crédito e débito, isso significa, necessariamente, que é preciso de dois sujeitos. Já 
quando se pensa nas situações regulamentadas pelo direito das coisas, não é bem 
assim, pois, por exemplo, no caso da propriedade, ser proprietário de um 
notebook não envolve uma relação jurídica. É muito mais uma situação jurídica. 
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Ou seja, não é proprietário por conta de se relacionar com outro sujeito de alguma 
maneira, isto é, não se tem, necessariamente, mais do que um sujeito envolvido 
(mas pode ter). 
Quanto à duração: a obrigação é criada com a ideia de que seja cumprida. 
E quando é cumprida, por consequência, se extingue. Então a obrigação tende a 
ter um caráter transitório, limitada, pois quando ela é cumprida, normalmente 
há a sua extinção – sempre tem exceções. Já no direito das coisas é o contrário: o 
mais normal é que aquilo tenda a se perpetuar. Por exemplo: o sujeito é dono do 
notebook até quando ele quiser, isto é, não há um momento no tempo em que irá 
se encerrar a propriedade do notebook. 
Quanto ao exercício do direito: se relaciona tanto com a duração, quanto 
com os sujeitos. Pode-se analisar por dois caminhos. O primeiro, relacionado com 
a duração, é que quando se fala de direito das obrigações, o normal é que o 
exercício do direito gere a sua extinção, porquanto se há um crédito de 100 reais 
e o sujeito cobra e o devedor paga, o direito de cobrar se extinguiu. Já no direito 
das coisas não acontece assim. Exemplo: o fato de usar o notebook não faz com 
que o direito sobre o notebook se desgaste. 
Em relação aos sujeitos, na situação do direito das obrigações, o exercício 
do direito sempre depende de uma conduta do outro. Exemplo: se o direito é um 
crédito, só vai satisfazer esse direito se o devedor pagar. Já no direito das coisas 
não. Tem-se uma propriedade e utiliza-se o direito à propriedade independente 
de ter outro sujeito. 
Quanto à formação: quando se fala de obrigações, especialmente nas 
obrigações negociais, o modo como essas obrigações vão surgir é um modo quase 
que ilimitado. Não há uma predeterminação legal, basta se pensar que o nosso 
código admite a figura do contrato atípico, ou seja, se pensar num contrato que o 
código não regulamenta, desde que esse contrato não fira nenhuma proibição 
trazida pelo CC, pode-se fazer o contrato e ele vai gerar obrigações do mesmo 
modo que qualquer contrato previsto no CC geraria. Então é mais livre. Já o modo 
de formação e surgimento e a própria enunciação dos direitos reais são 
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predeterminados legalmente. Nãos e pode inventar um direito real ou um direito 
das coisas que a lei já não diga que existe. 
PONTOS DE CONTATO ENTRE O DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E O 
DIREITO DAS COISAS 
Obrigações em razão da coisa (propter rem): aqui a obrigação surge, o 
sujeito se torna devedor, em virtude dele ser propriedade da coisa. Não porque 
ele fez algo com alguém, mas a condição de propriedade o torna devedor dessa 
obrigação. Exemplo: taxa de condomínio. O fato de ser dono de um apartamento, 
faz com que tenha o dever de pagar a taxa condominial. 
Ônus reais: em origem, a lógica é a mesma da propter rem, isto é, surge 
em virtude da condição de proprietário. Mas o que costumam colocar – quando 
há distinção – é que nos ônus reais tem-se que pagar e que vai se reverter em prol 
da propriedade. Nas obrigações propter rem, está se pagando aquilo para ter o 
gozo pleno da coisa. Além disso, outra distinção, é em razão aos efeitos. Na 
obrigação propter rem, embora o sujeito se torne devedor em virtude da 
propriedade, quando há a transmissão da propriedade, a dívida não acompanha 
a propriedade, mas se mantém com o sujeito de quando ela foi gerada. Enquanto 
nos ônus reais, a dívida acompanharia a propriedade. 
OBS: O condomínio é a exceção a essa regra do propter rem, pois a dívida 
acompanha a propriedade. 
No propter rem, se o locatário não pagar o condomínio, ainda que o 
contrato diga que ele tem que pagar, quem vira devedor perante o condomínio é 
o locador e não o locatário. 
Já essa obrigação na eficácia real, vai seguir uma lógica oposta. Em virtude 
de uma relação obrigacional, surge um direito real (o contrário). Por exemplo: o 
direito de preferência é um direito real. Isto é, se durante o contrato de locação, o 
locador resolver que quer vendero imóvel, ele primeiro tem que ofertar ao 
locatário para depois ofertar aos terceiros. Se o locador não atender isso e vender 
ao terceiro sem comunicar ao locatário, este, pagando o preço, pode tomar o 
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imóvel para si, pois esse é um direito real. E esse direito real surgiu a partir de 
um contrato de locação (relação obrigacional). 
Direitos reais de garantia: são direitos reais, mas que só surgem como 
garantia numa relação obrigacional. Isto é, há uma relação obrigacional e, assim, 
se cria um direito real para garantir a relação obrigacional. No CC há a previsão 
de três: penhor, hipoteca e anticrese. 
CLASSIFICAÇÕES 
Quanto ao objeto, há três subcritérios diferentes. O primeiro, que divide 
de obrigação de dar, de fazer e de não fazer, é uma classificação que leva em conta 
a natureza da prestação. Essa classificação, que analisa a própria conduta, é talvez 
uma das classificações mais comuns em termos de ordenamentos jurídicos 
(raramente encontra-se um ordenamento que não tem). 
• Quando se fala em obrigação de dar, estamos falando de uma 
obrigação em que a prestação envolve a entrega de alguma coisa. 
Exemplo: qualquer contrato de compra e venda terá a obrigação de 
dar. 
• Já obrigação de fazer, assim como obrigação de dar, a conduta é 
ativa. É a prestação positiva. Só que na de fazer essa ação não 
envolve entrega de coisa. Os contratos de prestação de serviço, em 
essência, envolvem a obrigação de fazer. 
• Por fim, a de não fazer, ao contrário das outras duas, tem uma 
conduta que envolve uma inação. Exemplo: dois vizinhos que se 
obrigam a não construir um muro entre os seus terrenos. 
O segundo critério, ainda quanto ao objeto, leva em conta a quantidade de 
prestações. Aí pode ser obrigação simples, cumulativa ou alternativa. 
Quando se fala que a obrigação é simples, é porque há uma única 
prestação. Já quando se fala que é cumulativa, é porque o adimplemento dessa 
obrigação envolve o cumprimento de mais de uma prestação. Por fim, a 
alternativa, na formação da obrigação, tem a existência de mais de uma prestação, 
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mas essas prestações se colocam como possibilidade para o adimplemento. 
Exemplo: a prestação é entregar o notebook ou o celular. Qualquer um dos dois 
serve. 
Ainda quanto ao objeto, há a distinção em divisíveis e indivisíveis, no qual 
o critério é a divisibilidade da prestação. Se a prestação for divisível, a obrigação 
é divisível, se a prestação é indivisível, a obrigação é indivisível. A 
indivisibilidade nem sempre está relacionado com a essência da coisa. Pode ser 
divisível por acordo das partes, porque a lei diz, etc. 
Quanto ao sujeito, há a obrigação única e múltipla. Única quando se tem 
um sujeito em cada polo e múltipla quando tem dois ou mais sujeitos em 
qualquer polo. 
Uma obrigação ser única ou múltipla, termina influenciando na 
indivisibilidade. Por exemplo: se tem só um credor ou devedor, a obrigação ser 
divisível ou indivisível, a priori, não faz diferença, pois se deve um celular ou se 
deve 100 reais, tendo só um devedor e um credor, tem que pagar tudo para uma 
só pessoa, e não muda nada. Por outro lado, se há uma multiplicidade de sujeitos, 
muda bastante, pois se deve 100 reais para dois credores, como 100 reais é 
divisível, vai tratar como se fossem duas obrigações diferentes: 50 para cada. Se 
deve um celular, aí teria que reunir os dois, etc. 
Além disso, a múltipla é pré-requisito pra solidária. Então toda obrigação 
solidária é múltipla, mas nem sempre a recíproca é verdadeira. Isso porque na 
solidariedade, isso muda o modo como se dá a relação entre os sujeitos daquele 
polo. O normal, com duas credoras de 100 reais, irá pagar 50 para um e 50 para 
outro. Cada um só pode cobrar 50. Mas se forem credores solidárias, ainda que o 
crédito de cada um seja 50, como elas são solidárias perante o devedor, é como 
se qualquer deles fosse credor do todo. Do mesmo modo no polo passivo. Se as 
duas tiverem devendo 100 reais, normalmente, em sendo não solidárias, só se 
pode cobrar 50 de um e 50 de outro. No caso de devedoras solidárias, pode cobrar 
de qualquer uma delas o todo. 
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Quanto à liquidez: pode ser líquida e ilíquida. Na primeira, o conteúdo 
da prestação já está determinado. Já na obrigação ilíquida, ainda depende da 
ocorrência de algum evento para que se possa determinar o conteúdo dessa 
prestação. Exemplo: uma pessoa atropelou a outra e o motorista é o culpado. A 
pessoa que foi atropelada quebrou a perna, vai ter que fazer uma cirurgia, 
fisioterapia, comprar medicamento. Essa pessoa entra com ação contra o 
motorista. Por um lado, ela vai dizer os gastos com remédio, fisioterapia, cirurgia, 
e vai pedir a restituição. Nesses casos a prestação é líquida. Mas pode ser que 
quando essa pessoa entre com a ação, ela não saiba ainda a extensão do dano que 
ela sofreu, então no pedido dela, ela indica que quer a indenização por qualquer 
outro prejuízo que ela venha a ter em virtude do dano. 
Quanto ao conteúdo do adimplemento: obrigações de meio e obrigações 
de resultado. 
Quando se cria uma obrigação, há um resultado sempre que quer ser 
alcançado. Nesse sentido, tem obrigações que só vai dizer que ela foi adimplida 
se esse resultado que você quer for alcançado. Nesse caso, tem a obrigação de 
resultado. Mas outras vezes, embora também tenhamos um resultado 
pretendido, o que interessa para dizer se foi adimplida ou não a obrigação, não é 
se o resultado foi alcançado, mas sim se o sujeito agiu de modo adequado para 
atingir esse resultado. Nesse caso, a obrigação é de meio. 
Quanto à eficácia: simples, condicional, modal e termo. A regra é quando 
a obrigação é criada, ela já é exigível. O normal é que não tenha nada barrando a 
sua eficácia. Mas pode se ter uma obrigação que seja vinculada a uma condição 
ou a um termo. 
Principal e acessório: obrigação principal tem existência independente; 
acessória tem uma obrigação acessória à principal. 
OBS: Não confundir a ideia de prestação e contraprestação. As duas são 
obrigações principais. Na fiança, por exemplo, uma obrigação só existe em razão 
da outra. 
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Quanto à exigibilidade em civil e natural: a obrigação civil, que é a 
obrigação “anormal”, tem-se o dever e a responsabilidade. No outro polo 
extremo, a obrigação “não-civil”, não tem nem dever, nem responsabilidade. 
Exemplo: a obrigação de uma pessoa cumprimentar a outra. O nosso 
ordenamento reconhece uma outra categoria de obrigação, que é a obrigação 
natural. Nesta, o ordenamento reconhece o dever, mas não atribui a 
responsabilidade. Ou seja, são obrigações em que o ordenamento reconhece a 
dívida; juridicamente falando, há um débito. Porém, mesmo o ordenamento 
dizendo que há o débito, se o devedor não pagar voluntariamente, o devedor não 
pode fazer nada. Exemplo: dívida de jogo ou aposta, dívidas prescritas (essa tem 
divergências). 
OBS: Qualquer obrigação que se diga, há como classificar de acordo com 
todos esses critérios falados. 
AULA – 29 DE AGOSTO 
Existem as obrigações de dar, que envolvem a entrega de alguma coisa. 
Uma primeira divisão que tem nessa obrigação de dar, é a obrigação de dar coisa 
certa e de dar coisa incerta. O detalhe é que quando se diz que tem a obrigação 
de dar a coisa certa, a coisa que vai ser entregue já se encontra concretamente 
individualizada. Ou seja, algo preciso. 
Há situações que irá se trabalharmuito mais com coisa certa. Exemplo: 
venda de apartamento. Ou seja, a coisa que vai ser entregue já está 
completamente individualizada, especificada, de modo que possa distinguir ela 
de outras da mesma espécie. Exemplo: vender o carro tal, cor tal, modelo tal, de 
placa tal. Essa é uma obrigação de dar coisa certa. Agora vender um carro tal, de 
modelo tal é algo em abstrato, logo uma obrigação de dar coisa incerta. 
Na obrigação de dar coisa certa, pode se dividir em duas espécies: 
obrigação de dar coisa certa propriamente dita; e obrigação de restituir. 
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A diferença é, basicamente, analisar quem é o dono da coisa, no momento 
em que a obrigação foi firmada. Se o dono é devedor ou o credor (tem a exceção 
de ser um terceiro). 
Obrigação de dar coisa certa propriamente dita: o que se vai ter é uma 
situação em que o devedor é o dono da coisa. Então o cumprimento dessa 
obrigação vai implicar numa transferência de domínio. Por exemplo: o dono 
realiza um contrato de compra e venda. Ele é o dono da coisa e o devedor de dar 
aquela coisa. Igualmente em uma doação. Mas uma coisa que é quase certa é que 
o credor não é o dono. 
Obrigação de restituir: aqui o quadro é inverso. Quem é o dono da coisa, 
em regra, é o credor. Por exemplo, situação de empréstimo. Emprestou algo e, 
em algum momento, o devedor irá devolver a coisa. 
O regramento do código sobre a obrigação de dar coisa certa, é 
basicamente para analisar o que vai acontecer se, entre o momento que a 
obrigação foi criada e o momento do adimplemento, essa coisa se modificar de 
alguma maneira. Seja para pior (algo que foi destruído ou sofreu um dano), seja 
para melhor. E é justamente por isso que importa saber quem é o dono. 
• Primeira hipótese: se a coisa sofreu um dano, e o devedor foi o 
culpado, quem vai arcar com o prejuízo é o devedor. Ou seja, tem 
que verificar primeiro se houve a culpa. Então se houve culpa, a 
responsabilidade vai ser do devedor. 
• Segunda hipótese: uma coisa sofreu um dano, mas não foi culpa de 
ninguém ou de nenhum dos envolvidos. Quem vai ficar com o 
prejuízo é o dono da coisa. 
PERDA 
Perda, na propriamente dita. Tanto o caso com culpa ou sem culpa está 
no artigo 234, do Código Civil. “Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se 
perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição 
suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes [...]” 
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Sujeito havia se obrigado a transferir o notebook a alguém. Mas antes de 
entregar o notebook foi roubado, a obrigação se resolve. 
OBS: Não está se falando aqui do contrato, mas sim da obrigação. Se a 
pessoa já pagou pelo notebook e o notebook foi roubado, o valor terá que ser 
restituído. Mas a obrigação de entregar o notebook foi resolvida. 
“[...] se a perda resultar culpa do devedor, responderá este pelo 
equivalente e mais perdas e danos”. 
A noção de equivalente, em regra, vai ser o valor pecuniário daquele bem. 
Até porque como é coisa certa, é difícil pensar a substituição por outra igual. As 
perdas e danos, nesse caso, é a indenização a ser paga por qualquer prejuízo que 
resulte o adimplemento. Exemplo: vendeu o carro para um sujeito, mas antes de 
entregar dirigiu ultrapassando o limite de velocidade, e deu perda total no carro. 
Nesse caso vai ter que pagar o equivalente ao preço do carro e perdas e danos. 
Digamos que o comprador iria trabalhar com aquele carro como Uber. Nesse 
caso, o sujeito culpado terá que pagar o equivalente e esse prejuízo. 
Perda no caso de restituir: as soluções são bem parecidas, com uma 
pequena diferença. Art. 238: “Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, 
sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a 
obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda.” 
O que se quer dizer é, exemplo: empresa o notebook a um colega e ele é 
roubado, a pessoa não tem que dar um notebook novo, pois ela não tem culpa. A 
única diferença em relação a propriamente dita é que no final se diz “ressalvados 
os direitos do credor até o dia da perda”. Exemplo: o sujeito fez uma locação por 
tempo indeterminado, e a cada dia rodado, seria 150 reais. Aí a pessoa rodou por 
quatro dias e depois o carro foi roubado. Não tem que dar outro carro, mas o 
valor dos quatro dias que foram rodados tem que pagar, porque os direitos do 
credor até o dia da perda continuam protegidos. 
Já com culpa é igual à propriamente dita. Art. 239: “se a coisa se perder 
por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos”. 
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DETERIORAÇÃO 
Aqui continua dentro de uma ideia de piora da coisa. Mas para que haja 
uma deterioração, a coisa sofre um dano, mas a coisa continua existindo. Não é 
como no caso da perda. Então a diferença prática é que aqui ainda há a 
possibilidade de cumprir a obrigação, embora seja um cumprimento que não é 
perfeito. 
Deterioração na propriamente dita: dois artigos regem: 235 e 236. Sem 
culpa é o 235: “deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor 
resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu”. 
No caso de sem culpa, o sujeito tem duas opções: ele pode ou resolver a 
obrigação, como acontece no caso da perda, ou pode resolver a coisa no estado 
em que se encontra, abatendo do valor que se perdeu com a deterioração. 
No caso de com culpa, o art 236 diz: “sendo culpado o devedor, poderá o 
credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com 
direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos”. 
Há, também, duas possibilidades: receber o equivalente mais perdas e 
danos (como o anterior), ou recebe a coisa no estado em que se encontra mais 
perdas e danos. Ou seja, qualquer das duas opções tem perdas e danos. 
Deterioração na de restituir: se encontra no art. 240, que diz 
“se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o 
credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; [...]” 
Exemplo: se emprestou o carro para alguém, alguma pessoa bate no 
fundo, há uma deterioração sem culpa, ou seja, a pessoa que tava com o carro vai 
devolver sem pagar conserto. 
“[...] se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239”. 
O 239 é o que trata da perda com culpa de restituir, e só dar a solução do 
equivalente mais perdas e danos. Mas se ela foi deteriorada, essa não é a única 
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solução a ser tomada, pois tem como receber a coisa no estado que se encontra, 
mais perdas e danos. 
TÓPICO 
Propriamente dita: como normalmente o devedor é o dono, ele está com 
a coisa. Então quem pode ter feito alguma melhoria é ele próprio. Não há o 
cenário de o sujeito fazendo a melhoria na coisa que é do outro. 
“Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus 
melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o 
credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação. 
Aqui, se a coisa houve uma melhoria ou acréscimo, se antes, quando 
piorava, o devedor ficava com o prejuízo, agora que melhora, fica com o lucro. 
Então o melhoramento autoriza a aumentar o preço da coisa. Mas por outro lado, 
se resguardou também a questão contratual. O credo da coisa não fez o contrato 
sobre essa coisa melhorada, fez sobre a coisa original. Então, embora você possa 
alegar esse aumento do preço, mas o credornão é obrigado a aceitar, e o devedor 
resolve a obrigação, pois também não seria razoável exigir um preço que não foi 
o combinado. 
Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor 
os pendentes.” 
Sujeito vende um apartamento que está locado para um terceiro, o que for 
de aluguel até quando for entregar é seu, o que for de aluguel para frente não é 
mais seu, é do outro, porque são frutos pendentes. O sujeito não pode pedir o 
adiantamento do aluguel. 
Restituir: quem está com a posse da coisa não é o dono. E ele vai fazer 
essas modificações na coisa que é do outro. Se a coisa teve uma melhoria ou 
acréscimo, mas não foi fruto de uma ação do devedor, assim como antes quando 
tinha o prejuízo o dono ficava com o prejuízo, agora que é ganho, o dono vai ficar 
com o ganho, sem pagar nada para o devedor. 
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Mas se essa melhoria ou acréscimo decorreu de trabalho ou dispêndio do 
devedor, nesse caso, o código diz que vai ser regulamentado pelas benfeitorias 
feitas pelo possuidor de boa-fé e de má-fé. Então o devedor vai ser indenizado 
conforme o tipo de benfeitoria e conforme ele seja possuidor de boa-fé ou de má-
fé. 
Há três tipos de benfeitorias: voluptuária, necessária e útil. Necessária é 
quando foi feito para evitar o deterioramento de um bem; a útil é quando foi feito 
para melhorar o bem, uma facilitação no uso do bem; e voluptuária é um mero 
prazer. 
Se for possuidor de boa-fé, o sujeito vai receber indenização pelas 
benfeitorias necessárias e úteis, sendo que em relação a essas, é chamado direito 
de retenção, ou seja, enquanto o credor não pagar a indenização, o devedor pode 
reter a coisa consigo. E as voluptuárias também pode ser indenizado, mas o dono 
da coisa não é obrigado a querer. Se quiser manter, tem que ser indenizado, se 
não, tem que mandar o devedor levantar as benfeitorias. 
Se for possuidor de má-fé, este só tem direito a benfeitorias necessárias e 
não tem direito de retenção. Então a pessoa pode pegar o bem, mesmo sem ter 
pago a benfeitoria. 
Mesma coisa nos frutos. Ou seja, o possuidor de boa-fé tem direito aos 
frutos percebidos, não aos pendentes. E possuidor de má-fé não tem direito a 
fruto nenhum, ele tem que indenizar os frutos, mesmo se ele não aproveitar esses 
frutos, pois a posse dele impediu o proprietário de utilizar esses frutos. 
OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA 
Na coisa incerta só tem gênero e quantidade. Enquanto estiver no abstrato, 
será obrigação de dar coisa incerta. Isso decorre algumas consequências que 
geram distinções importantes entre os dois tipos. 
Na obrigação de dar coisa certa há a perda e a deterioração. Essa distinção, 
quando se fala de coisa incerta, não tem sentido, porquanto se não há coisa em 
concreto, não há como essa coisa sofrer um dano, se deteriorar ou se perder. 
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Então, antes da escolha da coisa, não há como se falar de perda ou deterioração, 
justamente porque se parte da premissa que o gênero não perece. Então se há a 
obrigação de pagar um celular de uma marca e um modelo, e o sujeito arranja 
um, pretende pagar com ele, mas ele se destrói, o sujeito pode conseguir outro 
da mesma marca e modelo. 
Contudo, se cientificado da escolha o credor, passará a vigorar as normas 
da coisa certa. 
A discussão em coisa incerta, portanto, são basicamente sobre a escolha. O 
Código traz, de início, um regramento supletivo em que a regra geral é que a 
escolha é do devedor. Todavia, o Código diz que em regra a escolha é do devedor, 
porém ele cria parâmetros para essa escolha, não é uma escolha livre. Ele diz que, 
em regra, a escolha vai ser do devedor, só que esse devedor, para escolher, não 
pode escolher a pior das coisas, nem estar obrigado a escolher a melhor. Isto é, é 
proibido pegar a pior das coisas, mas não é limitado a escolher a melhor; não há, 
contudo, uma obrigação. 
Essa questão da escolha, enseja outras: 
A primeira, é que esse regramento traz para o devedor. O código não fala 
nada sobre a escolha do credor. Assim, se a escolha for do credor, ele deve seguir 
a mesma regra do devedor? Entende-se que ele pode escolher livremente. 
Quando há um acordo para se deferir o direito de escolha ao credor, na 
normalidade, parte-se do pressuposto que ele vai escolher a melhor das coisas. 
Outro ponto é a questão de universo geral e universo específico. No 
exemplo do boi, quando faz um contrato de comprar um boi de tal idade e tal 
raça, já parte do pressuposto de quanto aquele boi pesa. E essa pressuposição 
parte da generalidade das coisas, de que o boi em condições normais, pesa tanto. 
Contudo, ocorre que certas coisas, tem-se a obrigação de dar coisa incerta, mas 
não num universo geral, mas sim de um universo específico. Por exemplo: sujeito 
vai até a fazenda, vê os 20 bois, e acerta para comprar um dos bois. O ponto aqui 
é que se esses bois estão ali todos magros, se o sujeito teve essa informação e fez 
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o contrato pensando num boi daquele universo, o meio termo aqui – se a escolha 
for do devedor – vai ser um meio termo daquele universo. Não se pode, na 
obrigação de dar coisa incerta, dele entregar o melhor boi. 
Outro ponto que se coloca é uma ressalva que se faz na doutrina sobre a 
questão do gênero limitado. A obrigação de dar coisa incerta não se fala de perda 
ou deterioração porque o gênero não perece: se perder aquela coisa, se substitui 
por outra. Mas tem situações em que pode haver o perecimento do gênero. 
Assim, nesses casos, a doutrina fala que seria melhor se guiar pela regra de dar 
coisa certa, do que pela regra de dar coisa incerta. Por exemplo: um sujeito tem 
as 5 últimas garrafas do vinho de certo vinho (todas iguais). Ele vende todas para 
alguém. Contudo, antes de entregar, tem uma enchente e destrói toda a adega. 
Aqui, embora haja obrigação de dar coisa incerta, a premissa que impedia o 
sujeito de resolver a obrigação, é uma premissa que não mais existe, que é a 
premissa de que o gênero não perece, mas o gênero pereceu. Num caso como 
esses, não parece razoável que fosse imputada a responsabilidade de pagar por 
perdas e danos, já que não houve a culpa do sujeito pelo adimplemento, e não 
tem mais como ele adimplir. Então nesses casos de gênero limitado não haveria 
responsabilidade, justamente porque houve mudança nessa premissa de que o 
gênero não perece. 
Uma última coisa é a questão da cientificação do credor. Em algum 
momento, essa obrigação vai deixar de se guiar pelas regras da obrigação de dar 
coisa incerta, e vai se guiar pelas regras da obrigação de dar coisa certa. O art. 245 
do CC fala que cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na sessão 
antecedente (ou seja, de dar coisa certa). Isso já esclarece que não é simplesmente 
a escolha, o fato de o devedor escolher não faz com que, automaticamente, passa 
a se guiar pelas regras de dar a coisa certa, pois se fala da ciência do credor quanto 
a escolha. Então é a escolha + a ciência. Mas quando se fala da ciência do credor, 
pode-se interpretar por duas maneiras diferentes: 
No sentido mais estrito, cientificar o credor é comunicar o credor. É uma 
opção que não parece ser a mais adequada; 
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A segunda é de já ter fornecido ao credor elementos suficientes para que 
ele possa também identificar qual é a coisa. Ou seja, tem que ser comunicado ao 
credor a própria individualização da coisa, e não simplesmente avisado que já 
individualizou.Então a obrigação de dar coisa incerta, toda a regulamentação é, 
basicamente, em relação à escolha e suas consequências. 
OBRIGAÇÃO PECUNIÁRIA 
A obrigação pecuniária não tem uma sessão específica no código civil. Tem 
regramentos, mas não tem uma sessão. Desse modo, fica uma discussão sobre a 
classificação da obrigação de dar coisa certa e coisa incerta da obrigação 
pecuniária. 
Contudo, a obrigação pecuniária não é coisa incerta, porque na coisa 
incerta o grande fator de estudo é a escolha. Na obrigação pecuniária, a coisa, que 
é o papel ou a moeda, não tem nenhuma importância. O papel-moeda é pura fé, 
crença e um sistema. Não tem sentido falar de escolha na obrigação pecuniária, 
pois todas as notas, por exemplo, de 50 reais, cumprem exatamente a mesma 
função. Então a coisa não tem nenhuma importância, ela é mero suporte para um 
valor (no caso, o valor de 50 reais). Então o que importa não é o papel, mas sim o 
valor. 
Não há regulamentações específicas, embora essa obrigação pecuniária é, 
talvez, a mais comum de todas. Toda compra e venda tem obrigação pecuniária. 
Toda indenização tem obrigação pecuniária. 
AULA 05 DE SETEMBRO 
OBRIGAÇÃO DE FAZER X OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER X 
OBRIGAÇÃO DE DAR 
O que diferencia a obrigação de dar da obrigação de fazer, é que na 
primeira há a entrega de uma coisa, e na segunda não tem. Por outro lado, nas 
duas há uma conduta positiva, ou seja, uma ação. Já na de fazer e não fazer, o que 
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se tem em comum, é que não tem uma entrega de coisa em relação a dar. Mas na 
de fazer tem-se uma ação, na de não fazer, uma inação. 
Exemplo: uma pessoa contratou uma costureira para fazer uma roupa. 
Isso seria obrigação de dar ou de fazer? O mais indicado é obrigação de fazer. É 
compreensível que seja obrigação de dar, porque, no final das contas, a obrigação 
envolve entregar a roupa. Mas a entrega, na verdade, é vista como sendo um 
acessório do que é o principal, que é o costurar a roupa. Você contrata a pessoa 
para que ela costure a roupa para você, de modo que entregar a roupa é só o 
produto final. Na prática, o que se precisa observar o que é que está sendo 
descumprido. Isto é, se a pessoa nem costurou a roupa ainda – descumpriu – vai 
entrar com uma ação alegando o cumprimento de obrigação de fazer. Mas se ela 
costurou a roupa e se recusa a te entregar, você não vai entrar com a ação de 
obrigação de fazer, mas sim de dar. 
No caso do serviço de iFood, por exemplo, é o contrário: a obrigação de 
fazer a comida é um mero acessório, de modo que a obrigação principal é a de 
dar. 
OBRIGAÇÃO DE FAZER 
Tem-se uma obrigação de fazer quando a natureza da prestação envolve 
uma ação, com a resolva de que é uma ação que não envolva a entrega de coisa. 
Todos os atos que são serviços, em sentido amplo, são obrigações de fazer. 
Exemplo: contratar um advogado, uma consulta com médico, uma diarista, etc. 
Mas as obrigações de fazer não se restringem a isso, porquanto, por exemplo, se 
pensar num contrato de promessa de compra e venda, neste caso o contrato de 
promessa é fazer uma obrigação principal. 
Um ponto importante também é que na doutrina costuma-se encontrar 
duas espécies de obrigação de fazer: de um lado, as fungíveis, de outro, as 
infungíveis ou personalíssimas. 
É uma análise sobre qual é a abrangência do conteúdo dessa prestação. 
Quando se fala em fungível, o que importa para que se possa dizer que houve 
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adimplemento é que aquela ação tenha sido realizada. Então o que não importa 
(e vai importar no infungível) é quem realizou, pois na infungível, para que haja 
o cumprimento da obrigação, não basta somente que a ação tenha sido realizada; 
é preciso que a ação tenha sido realizada especificamente por uma pessoa. 
Na contratação da obrigação de fazer fungível, o que se analisa, para 
verificar se houve adimplemento, é se aquela ação foi ou não foi desempenhada 
como deveria ser, pouco importando quem a realizou. De outro lado, não basta 
que a ação tenha sido realizada, ainda que ela tenha sido realizada 
adequadamente, pois o adimplemento depende, também, da ação ser realizada 
especificamente por aquele sujeito. 
Exemplo: imagine-se que uma pessoa contrata um cirurgião plástico 
renomado para fazer uma cirurgia. No dia da cirurgia, o cirurgião manda o 
assistente fazer no lugar dele. A pessoa alcança exatamente o resultado que ela 
queria, mas nesse ponto não se pode dizer que a obrigação foi cumprida, pois a 
obrigação não era simplesmente realizar a cirurgia, mas sim o médico-cirurgião 
específico realizar a cirurgia. 
Então o ponto é que aquele sujeito tem características que, na contratação, 
foram muito levadas em consideração. A contratação foi feita também em virtude 
daquilo. 
Por outro lado, os professores de uma faculdade, por exemplo, são 
fungíveis. Isto é, você não está pagando por esse ou aquele professor. Vai ser o 
professor que está contratado naquele momento, de modo que a faculdade pode, 
por exemplo, demitir o professor no meio do curso e ele ser substituído. 
Dito isto, se fungível ou infungível tem diferença no adimplemento, vai 
ter diferença, portanto, quando houver inadimplemento. 
O art. 247 diz que “incorre na obrigação de indenizar perdas e danos, o 
devedor que recusar a prestação, a ele só imposta ou só por ele exequível.” 
Este artigo fala sobre a infungibilidade, pois é só por ele exequível. A 
solução do artigo é pagar perdas e danos. Isso porque não há uma possibilidade 
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de, fisicamente, obrigar a pessoa a ter a conduta. Então é diferente da obrigação 
de dar, pois nesta, se a pessoa não quer entregar, é possível um oficial de justiça 
pegar o bem e entregar ao credor. Aqui, não há como pegar a pessoa e obrigar a 
desempenhar tal conduta. Só que, quando se fala de obrigações, há um intuito de 
se buscar, sempre que possível, a tutela específica das obrigações. Ou seja, 
quando você contratou para que fulano fizesse para você o serviço “x”, o seu 
objetivo final não era receber uma indenização, mas sim o fazer do outro. Então 
quando você, simplesmente, coloca o foco na indenização, está dando uma 
solução que não é aquela que melhor satisfaz o credor. 
Nesse caso, há algumas soluções possíveis, quando é uma obrigação de 
fazer personalíssima. 
Há a figura dos astreintes. Exemplo: na obrigação de fazer do plano de 
saúde, que é proporcionar a autorização do médico atender o segurado. Contudo, 
quando o plano de saúde diz que não vai cumprir, a sua pretensão primária não 
é ser indenizado, mas sim conseguir acesso àquilo. Aí entra com ação de 
obrigação de fazer, pedindo uma liminar para que seja concedido em sede de 
tutela de urgência. Quando o juiz concede essa liminar, há sempre uma pena de 
multa diária pecuniária em caso de descumprimento da liminar, que é a figura 
das astreintes. 
Já o art. 249, evoca, mais claramente, a ideia da obrigação de fazer fungível. 
Diz ele que “se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor 
mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem 
prejuízo da indenização cabível”. O parágrafo único ainda diz que “em caso de 
urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou 
mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.” 
Se não houvesse esse parágrafo único, se poderia ter uma impressão 
equivocada do comando do caput, pois ele não está abrindo espaço para uma 
autotutela. Você pode mandar fazer o terceiro, às custasdo devedor, e ainda 
receber uma indenização de qualquer prejuízo para além disso, a partir de uma 
decisão do juiz. Então, em regra, se o devedor foi inadimplente, você tem que 
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entrar com uma ação judicial e pedir que aquilo que ia ser feito por “x”, seja feito 
por “y”, e que “x” pague o serviço além de te indenizar por qualquer prejuízo. 
Então o normal é que isso aconteça a partir de uma ação judicial. Só se pode fazer 
isso, independentemente de ação judicial, em caso de urgência. Por exemplo: 
imagine que o fazer que foi ali contratado foi contratar uma firma de engenharia 
para fazer um reparo num prédio que está com risco de ruir. 
OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER 
No código é extremamente simples, pois tem, basicamente, o mesmo 
regramento que obrigação de fazer. Mas enquanto uma diz fazer, a outra diz não 
fazer. 
Neste ínterim, o foco é mostrar o campo de aplicação das obrigações de 
não fazer, pois das três (dar, fazer e não fazer), é a que se tem mais dificuldade 
de visualizar situações concretas. 
Toda situação de um contrato em que exista uma cláusula de 
exclusividade, há uma obrigação de não fazer. Por exemplo: atriz que tem 
contrato de exclusividade com a Globo. Por um lado, há uma obrigação de fazer, 
que é só atuar na Globo, mas há uma obrigação de não fazer, que é não poder 
aparecer em nenhum outro canal de televisão. 
Assim, se descumpriu sem culpa, resolve-se a obrigação. Se fez aquilo que 
não deveria fazer, há soluções bem parecidas: se não há como desfazer, a solução 
é perdas e danos. Mas quando for possível desfazer, segue a mesma lógica da 
obrigação de fazer, de quando é possível mandar fazer por terceiro. Então 
quando é possível desfazer, pode exigir que a pessoa desfaça, ou se ela não 
desfazer, mandar desfazer por terceiro, às custas do devedor, sem prejuízo de 
perdas e danos. Exemplo: a pessoa abriu loja no raio de que ela era obrigada a 
não abrir. Pode-se entrar com uma ação, exigindo que ela feche. 
OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS 
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São aquelas que tem por objeto duas ou mais prestações, que podem ter 
naturezas distintas e são excludentes entre si. Ou seja, pode-se ter uma obrigação 
com prestação de dar, por um lado, e de outro, uma prestação de não fazer, por 
exemplo. Isto é: ou dar uma aula, ou dar um Código Civil. Essas prestações são 
sempre relacionadas pela partícula disjuntiva “ou”. Ou seja, sempre que haja 
uma prestação que seja possível essa ou aquela, estar-se sob uma obrigação 
alternativa. 
OBS: É uma obrigação com duas possíveis prestações, não duas 
obrigações. 
Elas são excludentes entre si, pois só vai haver uma prestação. O devedor 
só vai realizar uma daquelas condutas. 
A prestação precisa ser determinada. O devedor que, via de regra, é quem 
escolhe qual a prestação ele irá cumprir, é preciso que haja essa escolha para que 
se chegue ao adimplemento depois. A doutrina normalmente fala que o fim 
esperado de toda obrigação alternativa é que ela se torne uma obrigação simples. 
Isso porque quando o devedor escolhe a prestação, a obrigação se torna simples, 
e aí passa a ser aplicado todas as outras regras comuns. 
Existem três correntes que abordam sobre quem a obrigação estaria 
favorecendo. A primeira, mais antiga, diz que as obrigações alternativas, quando 
possível a escolha ao credor, favorecia o credor, pois é do interesse dele escolher 
a que ele quer. Uma segunda corrente, diz que se a escolha pertence ao devedor, 
é a ele que a obrigação favorece, pois fica mais fácil o adimplemento. Por fim, a 
terceira corrente mais atual, diz que não há que se falar em favorecimento, pois 
no fim o que se visa é o adimplemento, que é algo que beneficia ambas as partes. 
É a corrente que atualmente prevalece. 
Necessário fazer uma distinção entre obrigação alternativa e obrigação de 
dar coisa incerta, pois ambas existem a figura da escolha. Mas na primeira, a 
escolha é em relação à prestação. E na obrigação de dar coisa incerta, já se tem a 
prestação escolhida; é uma prestação única, mas a coisa, que é incerta, vai ser 
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escolhida. Então na obrigação alternativa se fala em ato de concentração; já na 
obrigação de dar coisa incerta, é uma ação de concretização, pois irá 
individualizar aquele bem. 
Escolha: ato de concentração. Via de regra, a escolha cabe ao devedor, mas 
é possível que se estipule o contrário. Então, no silêncio das partes, quem escolhe 
é o devedor. 
Via de regra, também, a escolha é um ato irrevogável. Ou seja, se escolheu 
fazer aquela prestação, em detrimento de outra, em regra, não se pode voltar 
atrás, salvo em caso de vício devidamente comprovado ou nos casos em que a 
prestação é periódica. Exemplo: tem-se um contrato de seis em seis meses o 
sujeito dar ou uma safra de tomate ou de grãos de arroz. Então de seis em seis 
meses, pode-se escolher essa ou aquela safra. 
OBS: Não confundir essa situação com o caso de um pagamento parcelado. 
Neste, não há como escolher duas vezes, pois não há periodicidade. O que vai 
haver é um fracionamento, isto é, em um caso de contrato de 100 sacas de arroz, 
vai pagar 50 sacas de arroz agora, 50 sacas de arroz depois. 
O parágrafo segundo do artigo 252 confirma falando que “quando a 
obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida 
em cada período”. 
O parágrafo terceiro trata da possibilidade de havendo pluralidade de 
devedores. “No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime 
entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação”. 
Então existe um prazo para que a escolha seja feita, para que não haja essa 
insegurança ao credor. Quem dá esse prazo é o NCPC, o prazo de 10 dias. 
É possível também que essa escolha seja deferida a um terceiro, ou seja, 
nem credor ou devedor. Mas para que isso seja possível, o terceiro terá que 
aceitar. 
Outrossim, é possível que a escolha seja feita pelo próprio juiz, como diz 
o código. O juiz também escolherá em caso de o terceiro não quiser escolher. É o 
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que diz o parágrafo quarto: “se o título deferir a opção a terceiro, e este não 
quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo 
entre as partes”. 
OBS: A pluralidade de optantes não é necessariamente de devedores, mas 
como a escolha é, em regra, do devedor, é mais comum que sejam devedores. 
Impossibilidade da prestação: a consequência jurídica vai sempre 
depender de três fatores: houve ou não houve culpa da impossibilidade? (O 
Código sempre pressupõe a possibilidade de culpa do devedor); se a 
impossibilidade foi total ou parcial (total = nenhuma mais pode ser prestada; 
parcial = quando apenas uma delas não é possível mais de ser realizada); por fim, 
a quem cabe a escolha. 
Parcial e escolha do devedor: Quando o devedor deu causa à 
impossibilidade de uma das prestações, haverá sempre um fenômeno chamado 
de concentração automática. Não havendo culpa, ele deve realizar, portanto, a 
prestação que subsistiu. Se for com culpa, a solução é igual a sem culpa. Então o 
fato de A ter sido impossibilitado, não vai ter por reflexo ter que pagar perdas e 
danos, vai ter que pagar com B. Então se a escolha é do devedor, tanto faz se for 
com culpa ou sem. 
Parcial e escolha do credor: Se for por culpa do devedor, ele poderá 
escolher a prestação que se tornou impossível (recebendo o valor equivalente, 
mais perdas e danos), oua outra prestação. É o que diz o art. 255 “quando a 
escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do 
devedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da 
outra, com perdas e danos; [...]” 
OBS: Se ele escolher a que subsistiu, não haverá pagamento de perdas e 
danos. Só haverá isso se ele escolher a que se impossibilitou. 
OBS: Não existe escolha de má-fé, pois é discricionário, ele pode escolher 
a que quiser, mesmo que ele vá receber perdas e danos. Estas só existem se ele 
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provar que houve prejuízo. E o credor não vai querer se prejudicar, se ele tem a 
opção de escolher a outra prestação. 
Total e escolha do credor: é a segunda parte do art. 255, isto é “[...] se, por 
culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexequíveis, poderá o credor 
reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos”. 
Total e escolha do devedor: aqui tem que analisar se há ou não culpa do 
devedor. Se não houver, não há que se falar em indenização, apenas resolve-se a 
obrigação, de acordo com o art. 256 “se todas as prestações se tornarem 
impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação”. Mas se houver 
culpa, ele vai escolher qual que vai restituir no valor equivalente, mais perdas e 
danos. 
OBS: Necessário saber qual a prestação que por último se impossibilitou. 
Diz o art. 254 que “se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das 
prestações, não competindo ao credor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o 
valor da que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso 
determinar. Isso porque incide a máxima da concentração automática. Todavia, 
se forem impossibilitadas ao mesmo tempo, o devedor escolherá (por força 
doutrinária). 
OBRIGAÇÕES FACULTATIVAS 
O Código não disciplina esta matéria, o que significa é que é sempre algo 
vindo da vontade das partes. 
Se nas alternativas o objeto é múltiplo, aqui o objeto é único, porém existe 
a prestação secundária ou subsidiária, que não se confunde com a prestação 
alternativa. Isso porque, a obrigação principal, do ponto de vista do credor, é uma 
mera obrigação simples. Ou seja, se a obrigação principal se perder, se o culpado 
foi o devedor, o credor não tem dinheiro de escolha, não pode exigir a secundária. 
Da perspectiva do credor é sempre uma obrigação simples. O devedor pode 
adimplir a obrigação com a prestação secundária, mas o credor não pode exigir 
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que o débito subsista em relação a essa outra, justamente porque não há 
alternatividade. 
OBS: A obrigação facultativa não surge, necessariamente, da vontade das 
partes. Há o artigo, por exemplo, 1234, do Código Civil. É o exemplo de quando 
acha uma coisa de um terceiro, e devolve, esse terceiro tem que indenizar as 
despesas que teve com a conservação e transporte da coisa, e tem que pagar uma 
recompensa não inferior a 5% do valor da coisa. Mas isso só ocorre se o dano não 
preferir abandonar a coisa. 
AULA 12 DE SETEMBRO 
OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS 
A explicação é próxima daquela em bens. Uma obrigação ser divisível ou 
indivisível decorre da prestação, ou seja, a partir de se a prestação é divisível ou 
indivisível. 
A primeira noção sempre é uma noção levando em conta a natureza da 
prestação. Por exemplo: se tem uma obrigação que envolve entregar um 
notebook, obviamente é indivisível, pois não há como partir o notebook em dois 
e dar metade num dia, metade no outro. Por outro lado, se for pecuniária, na sua 
essência, é divisível. 
Só que o código ressalva que a obrigação pode ser indivisível em virtude 
de outras circunstâncias, por exemplo, o art. 258: “a obrigação é indivisível 
quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de 
divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão 
determinante do negócio jurídico”. Então pode-se ter uma situação em que algo 
que, embora pela natureza seja divisível, mas que por questão de ordem 
econômica, ou razão determinante do negócio jurídico, não vai ser. Exemplo: se 
uma pessoa se obriga a entregar um diamante para outra, ainda que o diamante 
seja um bem, em si, fracionável, esses pequenos diamantes fracionados não 
alcançam o valor do diamante íntegro, ou seja, questão de ordem econômica. 
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OBS: Só dá para fazer isso de divisível para indivisível, mas não o 
contrário. 
Alguns autores, equivocadamente, classificam indivisibilidade como se a 
causa não fosse o objeto, mas sim os sujeitos. O Código Civil tem o art. 314, que 
traz uma regra sobre o pagamento. “Ainda que a obrigação tenha por objeto 
prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a 
pagar, por partes, se assim não se ajustou”. Ou seja, se não houver disposição em 
contrário, pouco importa se a obrigação é divisível ou indivisível, porque a regra 
geral é que se vai pagar em um único ato. 
O regramento divisível ou indivisível não decorre da quantidade de 
sujeitos, mas sim da prestação: ser ou não ser passível de fracionamento. 
Ganha mais importância quando se tem uma obrigação divisível e há 
pluralidade de sujeitos, pois o regramento vai ser um pouco diferente. Quando 
há uma obrigação divisível, com pluralidade de sujeitos, seja no polo passivo ou 
no polo ativo, a regra do Código é que deve-se considerar a obrigação dividida 
em tantos quantos sejam os sujeitos envolvidos. Ou seja, se tem uma obrigação 
de pagar mil reais para dois credores, para todos os fins, tem que se tratar como 
se fosse duas obrigações que tem que pagar 500 para um, 500 para outro. 
OBRIGAÇÃO INDIVISÍVEL 
Já na indivisível, há outras coisas a se considerar. Se tem dois devedores, 
não tem como cada um pagar só o seu. Ou paga-se o todo, ou não se paga nada. 
Do mesmo modo, se há vários credores, não tem como um credor receber só sua 
parte; qualquer credor que receba, ele receberá o todo. 
Em relação ao adimplemento, se há uma pluralidade de devedores, em 
tese, sendo a obrigação indivisível, cada um só deve uma fração ideal daquela 
prestação. Mas como não há como pagar só a fração, o credor pode chegar para 
qualquer dos devedores e exigir que entregue o todo. Porém, esse devedor 
quando paga o todo, ele vai se sub-rogar nos direitos do credor. Sub-rogação, em 
direito, tem sempre a ideia de substituição, de passar a ocupar o lugar de, então 
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quando o Código fala isso ele tá dizendo que no momento em que um devedor 
pagou, ele vai deixar de ser devedor, e vai passar a ser credor dos outros 
devedores, correspondente às outras frações daquela prestação indivisível. 
Então quando há essa pluralidade, tem dois momentos: o momento de 
pagamento da prestação, onde o credor pode exigir de qualquer devedor o 
cumprimento; por outro lado, um momento posterior em que o devedor que 
pagou vai poder cobrar dos outros devedores a fração de cada um deles (aqui já 
vira divisível). 
Por outro lado, quando há pluralidade de credores, o Código diz que “se 
a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas 
o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: I – a todos conjuntamente; II 
– a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.” Então aqui o 
credor cobra o todo, por que ele é credor do todo? Não. Ele cobra o todo, porque 
a prestação é indivisível e não tem como ele sobrar só a parte dele

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