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Hogan, 1991 - A relação entre população e ambiente: desafios para a demografia

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n.do. hdtm.donalo dt C.t.Io;!I.Ç'o ... PubUuç'o (CIP) 
(Cim .... Brasild ... do Uno, SP, BruU) 
Popula~l" e meio ambiente. debateI e deufiol Harold .. 
Torrei a. Heh.i.a C".la (orlaniladorcs) - Slo raulo 
Editora SENAC Slo P.ul .. , 2000 
Váriol autorCll 
BihliolJafill 
ISDN 15-1359-104·1 
L Demolrlfi. 2. Ecolosia humana 3. Populaçlo -
.. \J.pech>s ambientai. I Torre., Har"ld ... li C ... ta, Hd"iu 
99-4712 CDD-)04.6 
Indien p.ra uCilolO .blemUleo: 
I. r"pula~l" c meiu .mbiente Dcmov.fi. 
Soáolu,i. 304.6 
A relação entre população e 
ambiente: desafios para a demografial 
DANIEL JOSEPH HOGAN 
INTRODUÇÃO 
A relação entre dinâmica demográfica e mudança ambiental c uma di-
mensão do pensamento humano desde as origens da palavra escrita_ Os gn::-
gos C romanos, a IHbJia, Confúcio: população e ambiente.: não passaram 
despercebidos por ninguém. Quanto ii. ciência demogrâfic3, ela nasceu sob 
esse signo, c um dos seus mais ilustres fundadorcs virou adJctivo - quanuo não 
epíteto - cm nome dessa questão. Mas até há pouco tempo, a demografia se 
contentou em confirmar ou refutar Malthus , sem colocar todo o seu arsenal 
teórico c analitico a serviço da prob1t.-mática ambiental 
Quando eclodiu 3 "crise ambientar' em décadas recentes, a demografia 
foi pega dcsprcparada. Sua resposta 3 esse desafio foi - h:m sido - parcial e 
desarticulada . A urgência dos problemas ambientais não admitiu o ritmo eon-
fortân:l da e\'olução do pensamento científico c aqueles que responderam â 
b tc If ,b.lh" r"i el.bm.do no ,,,nlnh) <k !ri. pwje"" de pc-.qui .... . "-<> I" .. ,,, dQ. u)lim~ ln" •. 
finln<;i~do. pc), Fund.'Õ ... de: Ap."" .i Pe.qui .. cio I::.lldo de: S.I<. Paulo: PADCT. suhproVam.a 
<': 1,,~IH ', e I'r .... u . CNp"iFin<p ." Mini.tér;o da <.:.tnci. c T...:nulur:i • . 
li 
D"'~IEl JOSEI'H HOGAN 
chamada de "mãos ii. obra" valeram-se de um variado elenco de abordagens ,: 
Em pouco mais de uma década. os demógrafos têm produzido uma respeit.hel 
contribuição ao debate ambientaL E começam, hoj e, a receber o retomo desse 
investimento na forma de novos questionamentos de seus conceitos e 
metodologias. Este ensaio procura fazer um balanço desse trabalho e apontar 
alguns caminhos promissores . 
Um dos primeiros desafios dos demógrafos, quando identificaram um 
espaço no df.-b<lte ambiental que não fosse limitado ã pol(mica ncomalthusiana, 
foi confrontar a unanimidade dos ambientalistas c estudiosos ambientais quan-
to ii. ';explosão demográfica". Porque os demógrafos estavam tào tranqüilos e 
outros cientistas tão preocupados frente ao crescimento populacional'! Ao res-
ponder a essa pergunta , este texto procura atualizar a discussão sobre os de-
safios que a relaçã o L-nlre dinâmica demográfica c mudança ambiental col~ 
para os investigadores , Sem ignorar a questão da pressão dos números sobre 
os recursos. é preciso ver os nexos mais especiflcos dl.'ssa relação para for-
mular as perguntas que podem orientar a pesquisa e a fonnulação de políticas 
públicas, Embora a prinu.:iT3 questão seja importante, oenfoque exclusi, 'o que 
tem recebido deixou os especialistas cm população à margem do debate Ven-
do ° seu papel tcenieo limitado ao de certi(Íçar ° tamanho c a taxa f.k: cresci-
mento da população, o demógrafo deixou de analisar os impactos reciprocas 
entre fatores ambientais c saúde, por exemplo. ou entre uso de recursos e 
processos de distribuição populacionaL e principalmente deixou de ver no seu 
objeto de estudo motivo de questionar suas teorias C tecnicas de inl"estigação. 
O presente texto l"isa estimular o deb:ue rntrc os demógrafos e os demais 
cientistas sociais sobre essas questões , 
PopuuçÃO E AMBIENTF. NOS ANOS 90: liMA NOVA AGF.NDA 
Os anos no\'cnla trouxeram uma urg~-ncia no\'a - C diferente - ii. questão 
populaçào-ambiente no país . Solidarios com posiçõcs do Terceiro Mundo nos 
EflC.C I>utl&' obras , iudu na Nbli<lsrarn, \'cr u , ,,Icebu. r.auOfinad .. put orlaniamo. iOI"'. 
nu; .. oail Que colimul,ra," cole Irab. lho (flUIC cun, , fUfl da \·.a" ~luArthur e " Cnmilc 
1nlernll;onll de Coopéral ;"n dano lu Rc~hcrchCl )úl innalu cn Oém"ITlJlhic _ Cicred). cm 
LPurdcs Arizpe; :\1 rr is.;illa SI....,c, J).I\id C MIJ'''- (0fJ1 I, J'Op" IUli"" ,(. E""INm"c,lI: Rdlt'"k'''1 
lhe Dcbalc (8ouldcr : WUh'ie ... Pall, 1994) c John I, C la, k" A Lé<ln Tablb. l'''p"laIiM' , 
r.",·/TO",., .. ,II,Dnel<>p"'e", / lt/cr .... I'o'" (Pari.: Cicrcd, 1995) 
.anos setcnta c oitenta, tanto o go\'cmo quanto a academia expressaram sua 
resistência a uma identificação de taxas de crescimento demográfico ou de 
degradação ambiental como os principais obstáculos ao desenvolyimento_ Es-
S3S foram conseqüências - não causas ou obstáculos - do subdeseOl'olvimen-
to, cujas raizes seriam encontradas nas relações cconômicas desiguais entTe 
Brasil c o mundo desenvolvido, Em Estocolmo, em 1972, O delegado brasileiro 
na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano de-darou que a 
poluição foi um sinal de progresso c:: que o ambientalismo foi um luxo para os 
paises desenvolvidos . Em 1914, cm Bucareste, na Conferência Mundial de 
População, " 0 melhor contraccpti\'o era o dc::scnvol\'imento". Em contraste, o 
chcfe da delegação brasileira na Terceira Sessão do Comitê Preparatório para 
3 Conferência Internaeion3l sobre População e Desem'olyimento (Cairo 94) 
declarou: 
() plam::jlrnc:nto famlhar nlo t unIa pAnKéia para a!.:ançar o dClÇnH,l . im~n tu 50<;;.1 . 
cqullibrio ambiental e <;leKimc:nlo económico. I~ 5 .. um J us meios, e"''''lrQ ,,'" d<u 
",Q;J i"'pocIQ"/~J , I pafl interromper a transmiuJn intefgera.ci(mal de: pobre.ll . JUor· 
tieularmente quando çomhinado com a' polititu apropriadas de desen" o! \-imento 
w<:ia! I __ ·] É im('lln1Í\'c1acle:ditar que a !-rl\'idez de uma tMnin. de 16 ano, é realmente 
descJada , Um objeti\'o principal de\'e sef e\'ilar Ioda gra"ide/, anle, de 19 anos [, .. ] 
Medidas imediatu de\'e:m ser lomadu p.ra diminuir a gfl\"idc:z nlo dcsejada e para 
garantir aceno uni,'crnla scn'irras de: saúde reproduli", 
Hoje, nenhum dos principais atares que resistiram aos program3s de pla-
ncjarncnto familiar - os militares. a-Igreja C.atólica e a esquerda - ficou imune 
ii mudanÇ3 de condiçõcs sociais c ii e,'olução de yalores c comportamentos_ O 
meio ambiente. por sua vez, mudou de uma não-questão par3 um lugar garan-
tido na 3genda da opinião pública . A mesma declaração citada acima diz que: 
" Desenvolvimento sustentál'el é central a qualquer estrattgia viável dirigida 
para o melhoramento da qualidade de vida e o comb.ate ii. pobreza, Níveis de 
população, padrõcs de consumo e sistemas de produç.ão são diretamente vin-
culados ii qualidade ambiental " , Essas mudanças no pensamento social repr~­
sentam transformações fund.amcntais na ,ida nacional e exigem atenção quando 
O país 'procura se definir - e Se redefinir - em preparação para o sCculo XXI . 
Mas por que os assuntos considerados como parte da modema 3genda 
progressista cncontraram antes tanta rcsistência no país? Como e por que 
, Grifo mcu 
lJAN! EL JOSlil'H HOO At; 
evoluiu essa posição'! Como é que esses processos moldaram programas de 
população e de meio ambiente, separadamente, e como foram afemdas 3S 
persJX,.-cti,'as sobre as rdaçÕ!..-s enfre população e meio ambiente? Não são 
perguntas s!mples e sua..; respostas exigirão uma análise mais aprofundada que 
este texto p<nnil ir3 , Mas é passi\'eI identificar os principais assuntos e formu~ 
lar a pergunta com mais clareza. Chegamos, de fato, a uma di\'isão de águas 
em Icnnos de posiçõc;:s brasileiras sobre essas questõcs . Ao lidar mais di reta-
mente com elas. c ao le"antar a discussão em OUltos foros , seroi útil esclarecer 
os temas centrais em'oh·idos. 
População. meio ambiente e desenvolvimento: de setenta para 
noventa 
O descn\'ol\'imcntismo que marcou o período dcpois da SegundaGuer-
ra Mundial, notadamcnte no final dos anos sessenta e inicio dos anos setenta 
- os anos do "milagrc" - não deixou muito espaço para preocupações 
ambientais . Em 1972, na Conferencia da ONU sobrc o Ambiente Humano a 
delegação brasi leira navegou contra a corrente de um;t nO\'3 consc iêndia 
ambiental. A conferênc ia, junto com a publicação do relatóri o do Clube de 
Roma, L,mj/t:.~ ao crt:.fcimento, foi um marco importante ao ligar o deSL'll-
"oh imento cconêmico do Terceiro Mundo a preocupaçõcs com a base de 
recursos naturais . Mas essas preocupaç()cs não ti\'eram ressonância no Brasil 
As posiçõc;:s oficia is , como mencionado acima. descartaram açõcs en~rsi ~ 
cas, insistindo nos objcti \"os desem'ol\'imentistas e defendendo relaçõcs co~ 
merciais mais eqü itatí\·as . 
As opiniOt..-s acadêmicas c cientifi~s não foram muito diferentc:s _ espe-
cialmente nOlS ciências sociais. As \'ozes progressistas nas unh'crsidades du-
rante esse periodo foram dirigidas ao restabelecimento da democracia , e essa 
prioridade foi vista como uma condição necessoiria para o desen\'olvimento 
económico com justiça social. Para muitos, as preocupações ambientais foram 
um cpifenômeno de problemas mais fundamentais e uma moda passageira dos 
países desenvol\'idos 
Atitudes parecidas marcaram a visão acadêmica sobre população. Foi o 
período de mais r3pido crescimento demográfico do país e o seu tamanho 
tomou o Brasil um 41"'0 da preocupação internacional. Embora as t.lxas come-
çassem a declinar em meados da década de sessenta, esse fato não foi clara-
mente pcr«bido Jl.l época, nL'm em 1972 quando a Conferência de Estocolmo 
foi o p.tlco para o r~play dos debates Marx l'eHII.f Maltht.ls. O falo de que o 
crescimento demográfico produziu apelos internacionais para o controle de 
nascimentos, de que o crescimc:nto cconômico rapido beneficiou uma "'lnona 
da população (abrindo a possibilidade de alcançar mais justiça social sem limi-
tar o crescim(.'11to populacional) c de que a ditadu ra limitou sen~r3mente o 
debate sobre todas essas qucstõcs significou que a redução da fecundidade foi 
vista como uma alternam", inaceil<h"el para a diminuição de desigualdades 
sociais e não como um comptJnente desse processo. 
Tanto a população quanto o meio ambiente foram temas subordinados a 
esse debate ideológico sobre o modelo de desen,'oh'imento. IXpois. quando os 
controlistas de paises desenvolvidos adotaram o ambientalismo como um argu-
mento mais moderno e aceit<i\'c1, a consideração mais tranqüila. da questão no 
pais foi adiada . A atualtau de fecundidade total- próxima ii taX3 de reposi-
ção - foi alcanÇólda s(.'Tt'1 nenhum programa nacional de planejamento familiar 
alrás do declinio', tirando muito do gãs do debate, e ambas as questões - con-
sideradas j untas ou (.'Tt'1 separado - são discutidas cm uma atmosfera menos 
carregada . 
No caso da exper1t~ncia brasileira, então, o crescimento t..-conómico ace-
lerado dos anos cinqüenta e sessenta, em paralelo com o crescimento 
dt.."11lOgráfico acelerado, e o declínio rapido de fcçundidade nos anos setenta e 
olteRt3 sem qualquer politica gO"emamental explicita, esvaziou os deb,ltes an-
tigos . Nem o diagnOstico ncm a receita dos neomalthusianistas foram susten-
tados pela histôria brasildra recente. 
Esse clima foi rcflet ido nos preparativos e no j ollf"J'H'-up referente ii Con-
ferencia Internacional sobre População e Des(.'zl\'olvimcnto . Os d(.-m.6grafos 
brasileiros foram participantes ati,'os no processo, individualmente como con-
sultores do Ministêrio das Relaçõcs Extcriort..-S e institucionalmente atr3ves da 
Associação Bras ileira de Estudos Populacionais. Seminarios preparatórios. um 
video sobre população c participação fonnal na delegação nacion .. ) foram 
marcados por um diálogo muito mais ameno do que em anos anteriores. Embo-
ra os ecos de \'c1hos confrontos entre progressistas e eontrolistas ainda pos-
sam ser registrados nos encontros dos seus representantes, as propostas de 
ação não são mais Ião distantes cntre si, Na Conferencia Regional no México, 
cm J 993, por exemplo. o documento final foi batizado "Um consenso latino-
americano sobre população e descnvolvimento" , Embora nem sempre tão 
consensual, o encontro refletiu a com'crgência de posições sobre a necessida-
de c os mccanismos para assegurar acesso a metodos eontraC\.-pti\'os (atra\'es 
de progriUllas intcgr3dos de saúde), sobre a urgência de problemas urbanos de 
saúde e distribuiçl.o populacional e sobrc o contexto de sustcntabilidade em 
que essas questões terio que ser tratadas . Esse consenso ainda não inclui 
DANIEL JOSEf'I-I HO<iAN 
Questões como o locur da regulação de fecundidade (a mulher - ou homem -
como individuo versus a familia). aborto e sexualidade dos adolcscc:nh."S , Mas 
ê importante no13r que os agrupamentos "progressistas" e "3J1tiprogn:ssistas" 
não do mais automáticos nem prcvisiveis , 
Em fóruns intcrnacionais. por excmplo, muitos países desenvolvidos de· 
fendem posiçõcs mais pró:otimas as causas feministas, enquanto opiniões mais 
consen'adoras são e:otprcssas por outros países não desen\'olvidos (especial· 
mentc isJàmicos e latino·americanos), Nesse novo contexto, os imperialistas 
de ontem são freqüentemente os aliados de hoje na defesa da atenç10 a saude 
reprodutiva da mulher, A ideia de que a contracepção deve ser tratada no 
contesto de atcnção integrada a saúde - uma causa hã muito tempo defcndida 
por progressistas brasileiros e de outros paises em desen\'olvimcnto - foi 
absorvida por agências internacionais como o Fundo de População das Na· 
çõcs Unidas , Embora ainda não seja uma realidade no pais, a discussão publi-
ca desses programas revela um consenso crescente. 
Essa situação na América Latina representa a herança de um longo 
período, quando o planejamento familiar (e o assunto foi quase sinónimo de 
poP"Jaçil(1) foi visto como um compló imperialista para diminuir o numero 
de consumidores no lugar de aumentar o tamanho do bolo e redistribui-lo. O 
conlroJe populacional foi visto como uma alternali\'a e não um componente 
de deseD\'olvimento, em termos abrangentes . Oe falO, esse foi o caso cm 
muitas instãncias: atividades de planejamento familiar (oram frequentemente 
promo\'idas como alternativas menos dispendiosas c mais viáveis, compara-
das com programas de educação, saneamento e saúde para uma população 
erescente c com os desafios de corrigir a distribuição de terra e de renda . 
Consideraçõcs sobre direitos indi\'iduais e bem-estar pessoal foram relegadas 
a segundo lugar, depois das estratégias económicas para desenvolvimento 
com justiça social. 
Uma das questões que nunca foram adequadamente consideradas no 
pais foi a posição dos progressistas de países desenvolvidos sobre população. 
Os benefieios do controle de fecundidade foram aceitos por eles como óbvios, 
sem negar as desigualdades sociais béisicas entre países desenvolvidos c não-
desenvolvidos, e dentro dos países não-descnvolvidos (de fato, frcqüentementc 
chamando a atenção para elas). A necessidade de corrigir essas desigu31dades 
nIo foi uma idéia limitada a países pobres. Mas os acadêmicos de países de-
senvolvidos foram vistos como representantes ingênuos de ideologias domi-
nantcs. Suas análi5C$ não superaram os limites do contexto ideológico do seu 
trabalho c a defesa do planejamento populacional foi a C\-idência disso. 
Ambientalismo e o novo clima acad6mico 
Nesse contexto, a questão ambiental e um dos novos assunlOS que pro-
põem redefinir o descn\'oh'imento t , assim, redefinir o papel da população no 
dcscnvoh'imcnto. Especialmente, ela contribui para diminuir a imponãncia do 
debate Marx \'CTSII.f Malthus, Não e mais questionado que o crescimento 
populacional diminuira o seu ritmo e eventualmente tenninarâ . A questão de 
como o creseimmto populacional promove ou inibe O crescimento económico 
não e mais, ncssaperspectiva, a quc."Stão central (National Rcscarch Council , 
1986). O debatc ambiental coloca os limites absolutos de recursos (apesar do 
papel dôl tecnologia em redefinir, substituir ou ampliar as rcscr .. as de n .. "'Cur-
sos) , a qualidade de \i da e considerações sobre ôlS gerações futuras numa 
agenda mais complexa, 
A emergência da questão ambiental no plano internacional ocorreu para-
lela ii e\'olução desse pensamento. A degradação c a escassez de recursos 
naturais, hoje idcntific;adas como consequências dramáticas do crescimento 
demográfico rapido em países em dC'SCn\'olvimento, seriam manifestadas an-
Ics cm paises de crescimento dcmogrãfico lento. Episódios críticos de in\"Cr· 
sões lermicas cm Donora. Pensilyânia em 1948, e cm Londres , em 1952 
(quando 2 mil pessoas morreram), inspiraram a legislação sobre a poluição do 
ar nos Estados Unidos e na Inglaterra nos anos sessenta, O cn\"en~mento 
da baía de Minamata , no Japão, por mercúrio, chocou o mundo em 1956 e 
contribuiu para o controle mais rigido de residuos industriais . A pr;ntC1'Vera 
silencioso chegou primeiro ao nordeste dos Estados Unidos .. c O alôlrme levan-
tado pela bióloga Rachel Carson, cm 1962, sobre os efeitos de DOT na (auna 
da região foi um precursor de outros alannes que alimentariam o movimento 
ambicnuI naquele pais . E nos anos setenta e oitenta, mais importantc.-s do quI.': 
cenas de fome cm Biafra ou a seca no Sahel para a sustentação da nova 
consciência a.mbiental, foram as nuvens tóxicas sobre Sc\'eso, na lIália, em 
1917; as conseqüincias dos residuos tóxicos de Lo,'e Canal. nos Estados Uni-
dos , no mesmo ano; c a e:otplosão da usina nuclear de Chernobyl , nôl Ucrânia, 
cm 1986, ESS.1S conseqüências do modo industriôll de vida de paises ricos ins-
piraram as primeiras manifestações da consciência ambiental contemporânea. 
A extensão d.1 quest10 ambiental nos países pobres , na foona de uma 
preocupaç,3.o com o crescimento populacional rápido, apareceu primeiro I.':nul.': 
os ncomalthusianistas, que logo colocaram O ôlmbientalismo a sen'iço de sua 
causa. Uma \'ez que a questão ambiental chegou a sensibilizar a opinião publi-
ca, ela virou urna boa candidata â lista de argumentos a fnor do controle 
populacional. No Brasil, como numa grande pane do Terceiro Mundo, esse 
DANIEL JOSEI'H H()(lAN 
primeiro vinculo de população c meio ambiente não foi bem recebido nos 
círculos governamentais nem nos acadêmicos e depois de algumas criticas 
iniciais a qucsl;\o foi deixada de Jado. 
Na medida em que a gHI\idadc de limih:S ambientais foi melhor compre-
endida. porêm, suas relações com a dinâmica demográfica "oluram a ser 00-
jeto de atcnçlo, agora de uma outra perspecti\"a . Consid:rando o tamanho do 
território nacional e o estágio atual da transição demográfica, essa no\"a aten-
ção não surge cm tennos do "olume ou taxa de crescimento da população, 
rn.as dirigida a questõcs de distribuição populacional . As relações entre mudan-
ça ambiental e outros componentes da dinâmica demografica (fecundidade c 
morbidade/mortalidadc) são identificadas como importantes, mas ainda não se 
tom~\ram objeto de pesquisa intensa. Essa mudança dc ênfase ocorreu paralc-
13men!c 3 mencionada mudança no pensamento sobre população e desen\"ol-
vimento em ni\"el internacional. Todos os segmentos da ';comunidade de 
populaç5o" não absorveram essa e\'oluçãoporém, e hoje a \'ers3o m.lis simplista 
sobre\'il"c nas declarações de contralistas c ambientalistas . Cada um usa a 
relação a $C.."U modo e para seus próprios fins , sem aprofundar os possi\"eis 
mecanismos en\"ol,·idos . 
O que nós vimos ao longo dessas dCc.adas, é, entlo, que a idéia da pres-
5.30 de nUr1lI!ros sobre recursos primeiro cresceu c depois diminuiu entre espe-
cialistas internacionais em populaç;io; deitou raizes entre os ncorn.althusianistas 
c foi apropriada aeritic.amente pelos ambientalistas . Muitos estudos c a expe-
riência concreta de paises em desenvolvimento serYen). para transfonnar a 
questão de "crescimento populacional como o maior obstãculo ao rlesen\"ol\'i-
mento", para "crescimento rápido como um entre outros fatores que d~/h,'ul­
Iam o desen"ol \"imcnto". ESS41 diferença de ênfase é acompanhada por esforços 
para detcrminar os mecanismos pelos quais o crescimento afda o desenvolvi-
mento . ~ A atenuação de antigas posiçôcs dicotomizadas sugeriu a Sawyer que a 
A ,', .. demi .. N .. ~iM.I de Ci~nci,. dOI EJ1.do$ Unidol publiçou. rm 19.6. um •• HJi.çl" d,. 
IC"~.:k-1 ent.c P"l'uJ.~lo. dcocnH,l\-immlo c .mbiente que replco,nh tl .b.nduno de \ 'iIÕCI de 
(>ll1If>. IC1IIPI" C"m .. I'.rticip.çlu de ~unhe~idol utudif>K>1 0.1" ,.'"hl"h""It' ~ienllrl~ O .me,i. 
""O, O W<If\r; ;n, G,OUI' "" Popo\.ti,," .nd Ec,,"omic Dcnl .. pmcnl )Ilhoutuiu ff> lmu\.çllc. 
linc .. ru com um nr .. rç" • ruminar 0$ "'UUltÜ"W' en\·,,\,·io,u . Ao or,.niu ! .u •• n'lue cm 
101""0 de pH,unl .. 'Iue idcnlifie.nm • !tu, d. !d.~10 , • N AS pcr, unt. O crucimcnl" 
popul.cional m.i. lenlo .umcnlari • lU, de Clucimenlo d .. fend.~, ~{l.p'fu .lfI\·il .te Um 
.IImUlIO da dilponibdida4c I"U ~Q.pifo o:k r«o,_ CI& ... i\"CiI1 O cre"ilnC"flto PI>puI • .;i ...... 1 m .. i. 
}nuo lumcr.tlli • I."" Oe Clcwimmfo da rmd.a f"ff cof't'u .tr.,·~. de um .umento da d"p"""ibi. 
lio.de pc' , QP"Q ok ICe",r.a1 ren.,,·h"eis" O cuuimcnlu po>pubci9flal m.i. lenlo .Ií,·i"i a 
Conferencia Intcrnacional sobre População c Desen\'oh'imento " pod~ria ",;co-
nhecer explicitamente que o ambiente natural coloca limites sobre o cr..:sci-
mento populacional , que afc...1a a capacidade da natureza t:m oferecer condiçõcs 
sustentávcis de produção e de , ·ieia .. . !> Que essa posição podia ser ;l\'ançada 
no Brasil S"-"fT1 levantar a antiga polêmica confirma a no\"a fase cm que essas 
relações são discutidas . 
Duas qualiflcaçõcs precisam ser acrescidas a essas considerações Em 
primei ro lugar, a desaceleração do ritmo de crcscimento t:m ni\"d de reposição 
"ai l"'ar um certo tempo para traduzir-sc cm crescimento zerO. Considerando 
o ritmo da desaceleração atual c o periodo recente de crescimento rápido, com 
o consequente aho númerO de mulheres em idade reprodutiva , O pais sõ chega-
rá 3 estàbilização populacio~l em tomo de 2USO .... Esse resultado não tem 
paralelo na história dos paises descn\·olvidos. Acelerá-lo ainda mais exigiria 
uma taxa de fecundidade total de menos de doi s filhos por mulhcr. Embora 
exista UIl\3 organização nortc-americana que promove a ideia de um cresci-
mento negati\"o (considerando que a população ideal para os Estados Unidos 
seria aquela que Ce\"C na década de 40), a unica experiênci3 histórica nesse 
senlido é a chinesa . Parece pouco pro\'á\"el que eSS3 cxpericncia encontre «:0 
no Brasil. Sendo assim. a preocupação ie desloca da qucsLio do crescimento 
em si para as condições nas quais a desaceleração ocorrer3 e para como 
serão distribuidos os seus beneficios . 
Em segundo lugar, cabe cautela quanto ;l generalizaç.lo da cxpcriencia 
brasileira . Um pais do tamanho dos Estados Unidos, com metade da sua popu-
lação, e com o fim da transição demográfica ;l \"is1.3, rcpccSl."tlla uma situação 
incomum no mundo . Descartar 3. necessidade de estabelecer meta s 
demogr:lfic.ls que incluam a redução da fecundidade, tendo como paradigma o 
1' ... lui~l .. c • deC"daçl" 0.111 ambiente nalulIl"! O crc~imcnl" p"'pulaciun.1 mail Icn1n lel'u; a 
m.i . Clpilll pur lub.lhad"f . • umcnt.ond". IIlim . .. OUfput , (> ~"n.lUm<l d<> II.h.lh.d ... "! Dem ;' 
dallu de ..... ,..i r;~ .. 1 menutu leum a rendu pu cop'''' fT\C""''' \ ia um ullmul " rcdulido .i. 
; n"l'a~l" Ic~",.h;liu e vi. rcd"1iJa. (~ .,nom iu nplou4u!u de c..,,1a cm ".."du,10 C cm infu· 
csl rulu.,? O ~fe .. ' ;mcnl .. pupubd ,,".1 m.jl Icnlu .umcnlará ni\'c,s de cdu.;.,i .. c Ilude pc, 
."p.,,,? O ~'u .. imenlo I' ''pul " ional mail le"l" facilllu ••• h ..... ~ '" de ,u .... lha d< .. " n .. leI", 
c..:"n;'mic(>m .. derna c alh·i.,. ".-"hl, n' lI de c:rn ~; rnc: nl .. " ,han .. ? O çnmp<'rt:amcnlo .cprttd .. ",· .. 
Oe um nul fI'><k impor CUI" " .i .... :lcd.de cm lenl? (W,,,king (jf""I' , 19111.) 
cr n.'u ld R. S,".,.c, . ··I' .. " ulI . ln. mc;o .mhicnlc c cSClcn",h,mcnIU n .. U,,,il" '. Semi,.., i" de 
Polil ie" p .. bliell. Alen'es Sucia is C Du el\\'ol" imc"to SU"enl í " d ~I i " i .,i rio d .. kcl~ Ii>lc 1 
F._,tCILL"CI <k, R,uil . Bclu H"' ;I.<>fl'c . J.4 .JS Oe junho dc 1993 
\'u J-c Albcrlu ~h.n" de C",'.lbu. " Dcmop.pbic D).,..m.CI in Rn-..: rl· Rcccl\l T,cnd$ and 
"'u~cl ; '·CI ··. cm 8 '0:",olt 1m..,It,,1 of 1'''fIII/o/lOlt S'lIdru, n I. 1997. pp '·l). 
caso brasileiro, seria desprezar a realidade de situaçõcs onde o balanço de 
números e recursos não e Ião fa\'or.hel , 
CONClUSÁO 
A evolução de perspectivas sobre população e meio ambiente no Brasil , 
então, foi man:ada pela história politica recente, pelo debate sobre modelos de 
desenvolvimento econômico e pelas relações algo ambíguas, c freqüentCtnente 
tensas, entre intelectuais brasileiros e aqueles de paíscs dcscn\'ol\'idos . Jnde-
pendentemente disso, as mulheres tomaram conta do assunto e surprecnde-
ram tanto os politicos quanto os demógrafos com um dos dec1inios de 
fecundidade mais rápidos do mundo. E o movimento ambientalista ganhou for-
ç.l a um ritmo inesperado, mesmo para os militantes mais dediC.ldos . 
O papel do pensamento, pressão e experiências internacionais nessas 
áreas foi importante, mas não resultou na absorção automática de teoria ou 
pril.tica . Na medida cm que o volume do debate for diminu indo , mais inter-
câmbio frutifero ocorrerá . A questão é posta para' os futuros sociólogos e 
historiadores do pensamento social , mas as perspecti,'as para um dlâ.logo 
mais tranqüilo e produti,'o no país, cntrc as tradiçôcs brasileiras e interna-
cionais, têm aumentado, 
PF.RSPE(,1WAS j'ARA A PESQUISA S08RE POPULAç,i,o E MEIO AMBIENTF. 
Nos poucos anos de vida do Grupo de Trabalho cm População e Meio 
Ambienle da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, il produção aca-
démica nesse campo cresceu em ritmo acelcrado. Já não c mais possivel con-
cluir que na, demografia "não temos muitos resultados para dois séculos de 
trabillho", r A entrada da disciplina na questão ambiental (como de outras ciên-
ciassociais) foi tardia, mas a produção já c substancial . O próprio grupo produ-
ziu ,'arias a,'aliaçõcs sobre o estado da arte.' A bibliografia citada neste texto 
CI. D~n.d J .... cph H." .. n , "Crete imen! .. popul.e; ... ~l c dcscnmh'imcnl" .u!enUul·', cm L .. " 
.'I:(Jt,"O. 510 Pa .. lo, ri :11 , I ~H, p M , 
Akm _ H ..... n. ··C-mçbc. de , .. doa c de ~e mi l'ub.tJo", craA_i, du 11 F.tte(!#t/, .. ,VIK.nIIQ' 
dt F.""JOJ l 'cp"tdÚDrtOll (Oliruh : Abcp, 1911i. ~'ol , 2. pt. lU.'''; ~ Pl>p .. Ia~lo c ,"ci .. 
confirma o numero de artigos, finos , conferências e seminil.rios dooicados ao 
tema e a presença constante nos programas dos congressos de demografia , 
Um primeiro obstáculo para os danógrafos foi o entulho ru:omaIthusianista 
que cobria o tema . Eril necessário mostrar que a pressão de nurncr05 sobre 
recursos não resumia a problem.itica ambiental do ponto de vista demográfico 
e examinar os diferentes recortcs possívcis para uma wlise menos partid.1.ria 
e mais conseqüente, para poder voltar a considerar a questão da "pressão 
demográfica" , agora sob uma. ótica menos determinista e menos dogmil.tic.l , 
Um marco importante das ciências sociais contemporãnc.:as C a inter-
penetração da ciência com outros segmentos da sociedade. Hoje, cm qualquer 
congresso acadêmico se encontra a presença de políticos, militantes de ONGs~ 
e técnicos de órgãos governamentais. O re,'erso da moeda tambem c verda-
deiro: hil. uma participação cada vez maior de acadêmicos em outras esferas 
da vida pública . Uma das conseqüências disso é que embora nas rcvistas 
especializadas (o último reduto da reserva de mercado científico) essa postura 
não seja encontrada, nas conferências e nas publicações resultantes delas con-
tinua presente a visão neomahhusianista . O que é novo nesse quadro, ('nl3.o, é 
que essas revistas tratam regulanncnte, hoje, do tema ambiental c o tom do 
debate entre os não-cspccialistas se tomou moderado. A vcrsão da rclaç.ão 
populaç.ãolmeio ambiente identificada como "mais moderada, que reconhece 
outros fatores na equação população/meio ambienteldescm'olvimcnto, que vê 
.mhie-nle·', mi TU lm ,1.,',1"', n 16 , 1919; c " Tbc Impact ui Populal ion Gn:"'1h "n 1M \'hp i ~ .. 1 
En\"ir tl nment " , cm E""'pn". )""'''1>1 "f P"p"luf;"", n. II, 1992 , pp. I 09,2 ~. ~'U I.mbirn 
Ueorle M.r1i~ , " P"ptl! .~I" , mei .. . mbiente e deKn\'oh'imcnto : o cmário ,l oh.1 c n. ~it)fl .. l ·, 
cm P"P"/Qfd ,,, ".eio uNb/,,,,,, d,u"""}..,,,.,,,lo (Ç.mpina. Editora d. Unk .mp, 199.\) . pp 
11-41 ; "Tl'1e Hel.lion. I3cl .. 'ce-n I'''ptll.ti<>n .nd F.n\'ironment in the Contul or Ulob.l;ulÍon 
Prelimin.r)' (;otIJ;dc,.tú.t\II", cm 1 I CI.r]"e It. t T.h.h, P"p"t"""",t.''''',,,,,,,ntM.L>c'TlnpM'''' 
/nler,,"i,,",. cil " pp, 95-11$: e D.",.1d R S ... ·)'er. "r"ptll.~l". me;" .mhiente e deull\'c>l\"i -
ment .. " .. R,"il", di 
A •• til'idade- d .. ONG. nooe c .. mp", cm nÍ\'e1 intern.oc;on.I, lio inten.u ,'Sicru Çlub, J"" 
ncmp\u. tem 11m. " Pupulltic>n Dircc;tC>r)'" que public ... Pop"}"I;",, R~p"rl bimntfllmeo!c, 
.lnn de Ii\"f ... ~""'u /lu .. ' U",,)' ..1"''''1'<1'''', pclM dem"cr.ro. I.e"n 8<,tI,'in c Liodoc)' UrM! 
'" J::: .. c dur tl li\"!" eum;n ... dClflcU~ln .mb;ent.1 inC\'i\;Í\'cl '1ue fClULtlfá se .. " "" ,menln 
populacion .. 1 empurrar o. Iimitu d. n011l j' prusion.da cap.dd.de .mhiental de .uporte ·' 
Nel.t;\·e popul.tion (ju, .. 1h, IrIC . J'f0m""c .. ideia de redtll.ir o I .. m.nho d .. popul.;lo norlc , 
'RKriun., cm nome de ul\"ll ... mbienle . .... Feder.ti"" (cn- "mede.n Immilfltion }tc(otm 
tFA1R) Ir.balh. par. Um..l rnut.!ôti. til imilP"l'ilo par .. , mire _Ir ... fInS • • n1 ... r UI imp .... t ... de 
imilP"~ c f;fC"kimento popul.ci ...... l M>bte o ambienle. O ambicm.,~t.I Bill Mdi.bkn _fC'Odc 
• famíli. ~ 11m unic .. fIIb .. cm nomc de \'I1 .... e. InIbicnt .. i" cm At",."" O" .. · 01 P .. uOfWI t .. uI 
E .. vtM<t ....... '"t Arz ...... e4 /M S ... ,Ic·C'ilJ Fil"";';" (No," \ ·orlr. : Simon .. nO 5dll,llI". ' ' 'I, 
D .. \NIU. JOS EPH HO(J ,\I' 
a prcssão demografic.:J. não como íl determinante de problemas ambicnlais. 
l1l3S como um fator agravantc",IO é que predomina. A conclusão mais repetida 
n:u analises desse campo é que as relações cm questa-o são complexas c 
exigcm 31enção a eSludos locais e a \"ariã\"cis intermediârias.lI Essa posiçãO ê 
rcfletlda , por exemplo, no Programa de Ação aprovado na Conferência Inter-
nacional de População e Iksenvohimcnto, no Cairo, em setembro de 199 ... . 1: 
Tambem é renetida nas a.nãlises contundentcs de GoodJilnd, Dah·1;) EI Saran.· I' 
que, ao identificarem os fatores que mais diretamentc afctam o 'potencial p;~a 
a sustentabilidadc como população, tecnologia e consumo ("'lifeslyle'"), afir-
mam que de nada adiantarã modificar o primeiro Sem profundas alterações 
nos outros fatores 
A formulação de Ehrlich,:4 pela quaJ o estresse ambiental pode ser ca-
racterizado como produto de população, afluência e tecnologia, sc tomou um 
Jugou-comum, embora sem a preponderância do tam3nho da população, 
enfatizad3 pelo autor. Podemos entender a equação I = PAT (Impacto ambit..'Otal 
"" População x Afluência x Tecnologia) não como uma rcl3çâo simplesmente 
multiplicati\'.], mas como uma síntese dos principais f3tores em'oh·idos . Assim, 
os multiplicadores para cada região, período de tempo ou recurso ambicnt31 
seriam d~"terminados caso por caso. Não ê muito diferente do paradigm3 da 
«ologia humana, onde as vari3vcis Population , Organiution, Environmcnt, 
T~ology (POET) rcpresentam os recursos com os quais qu..lqucr sistema 
soetal conta pararesolver suas ncwssidadcs. C·Organizaç30·' pode ser enten-
dido como produção c consumo - sintctiZ3ndo Afluência n3 equ3ção de 
Ehrlich) . I .~ A vantagem do paradigma dos "ccólogos humanos" e que eham3 a 
alcnçlo para as inter-relaÇ-Õcs eX cada um dos fatores com os outros . 
lO Cf. Daniel S .. wph Ho,an, "Cr(SÇimcnt~ PopulK.ional e dCMm'Ohimmlo lurtnn!'·cl"·, clr .. I' 6 .1 
" ' ·cr Calhcflne M. ~hrqueUc A Richard E Blhborrow, Popw!"If(", "nJ Iloe En,·"r..,n",c"f j" 
Dt.'C/upin8 C"unt,iCl· Lllc,ahlrc Surwy "nd Rcstarclo Bibli<1lroploy CUn,lrd Nationl ES A' l' i 
\\'1'. 11 .\ . 1994); Paul !larri."n, TlLc TIo,,,i Rcvo/"t'''n· P"p"/,,liCln. E:, .. 'i"''' '''cIII ,."tI II 
-".'lu/naMc 11 (0, /<1 ((..nndru: penguin Bo ........ 1991) 
" \'tt Muque1lc • lJil.bnrr<>w, op. C/I 
" Cr. Rnba-I Ooodland ti alll, P"pu/"ti"", Teclo""lu&.r anJ Lifnl)w · Iloe T'""M''''' '" .0; ... , .. ,,,,,10;/'1) . 
(\\'1I1'I1nlloll r.land Pre .. , 1991) 
.. \'CT 1'11.11 R. f.hrtich , Tlle r"p"I"/,,,n 80",10 (Nn,"," '1or],; : Balh.nlinc !l<lOk •. 196.) 
" Ver Amo, H Ha .. ·lcy. H"'_n Ecnlnv· (N .. , ·. '1<>fk: R ..... ld Pr~ ... 19)0): Ot i, Tludlc)" Ouncan, 
··H"m.a,. F.,nlc'I)' ... 01 P ....... htiD .. Sludiu- . up XXVIII . • m P M Hau.c,. () D. Ounun 
( .. " .). rloc -""'~' '" I'l>f"tl4fion (ChieiS": lJni\"C,"'Y uf ChiCle<> Prcu. 19j') : M.du,cl M.d.hn 
(011 ). 1',.,...1"'10", E .. ..;.u~"'e"' .. nJ $oc.i.' O'''''.':al;",. (H,,.,dalc: Dr}.,. 1',,, .. , 191.\) 
Lutz é: outro que critica as tentativas de descrcver as rclaçCcs popula-
ção/ambiente como muito genéricas, c defende urna abord3gem mais comple-
xa e nuançada . A soluç.lo ê manter uma verdadeira pcrspcctin interdisciplinar 
e estreitar o foco geográfico da análise para um lugar especifico, com limites 
claramente definidos. Assim, 3S interações podem ser melhor compreendidas 
c algumas liç.ôcs mais gencricas podem ser tornadas no estudo de um caso 
especifico. li> 
Capacidade de suporte populacional 
A fascinação com a pergunta sobre os limites 3bsolutos do crescimento 
populaciortal çontinua produzindo estudos sobre a capacidade de suporte. Ehrlieh 
e outros consideram que: 
Se. exp,anslo d. prnduçJo de .limenlos pode acompanhar o crescimenlo populac:;on.1 
no longo prazo, conlinu. sendo o ponto ccnlult do deb.le sohre suslen lahilidade, 
precipitado JKlr Malthus quue dois seeulos .Irasn 
Concluem, como era de esperar, que 
pareee pt"o,'ável que um. populaçlo sustenlbel , confortavelmente in(e,j(Jf i eapaei. 
dadc: nUlrieion •• de suporte da Terr. , será bem menor que os 5.5 bilhões de ~uoa.s de 
hoje: qu.nt .. peuoa, I menos de~nderi em parte de quJo seriamente. (.epeciüde 
de IUporteda Ten. lcri sidodc,radada no proccuode .tender o ell;ccsJO poput.cionaJ II 
Smil tambem retoma ao assunto, atravcs da alimentação - seu eixo m.3.is 
comum - , c pergunta: "Quantas pessoas 3 Terra pode alimentar?" .19 Depois 
de submeter os dados sobre produção agrícola a uma análise crítica, e princi-
palmente depois de argumentar a favor de uma visão mais compleX.3 do 3ssun-
to, conclui que nl.o C: o limite à produção de alimentos que vai fixar a capacidade 
" Cf. Wol r,aoa Luu. '·World Popul,Üon Trend, Gl<>bal and Re,i .. nal Inleu~li ... nl Bd ... n 
Popul.al ion and Envirotuncnt"", cm L Arilpc ~ M PriS(;illa Slonc; Dl\id C Majoc (orp .). Pop'" 
I"fion" E"Vlro .. ,.~nl: f1~,Io,nlti,.~ ,Io~ D~b"", ,ii .. pp. ".7 . 
I' Yer Paul R. Ehrlich ~I .. li,. ·' Food SccurilY, Population and Environrnoml·'. em r.,.UJiUJII tUfa 
~wlop,..,nl R~~i~., , ... 1. 1, 111. . 19, mato 1993 , p . I. 
"'&id, p 11. 
.. er. "Klav Smil. " How MUly Pcople Can lhe Earth Fud1-, cm ,.,.,,_ .ttd tHv.Jott-,., 
R~Vf~., n, lO, 1 jWl 1"4, pp lH·'l. 
de suporte . .)) Zaba e Scoones, depois de uma nova avaliação das metodologias 
empregadas, concluem: 
Me~mo se exislem limitcs glooais últim()~ lOS ni\'cis de usu de reI:Ur5()5, lai~ tetu~ de 
"l:apóKldnde ecoluglu de suporte" du enormemcnle diJicei~ dc mensufar, e com mai~ 
trcquêncla () debale en[oca o nil'cl de capacidade de sup('rle "el:unúmil:l ,. ou relaciu-
nada I ni\ci~ de oem-estaf. Aqui nlo há padrões absulutos que podem ser apliudo~ 
I Iodas as populaçõCS.11 
Essa posição já foi defendida por Hogan' 
o \'alor do conccito de capacidade de suporte é que ele de\'e direcionar a Oo~~a 
alençlu I ec()~~i!temn e~pecilic(),. explorado! cum tel:nologias cspe,íliça~, plrl 
pruduzlf um padrão específico de úda. I.,,] estudos cuidado~05 e localizados da 
dlOãrOlca populacIOnal e o ambiente lhico uo rawsz, 
JolI)" e Torre)", resumindo um seminário da NationalAcademv ofSciences 
afirm~m que a tentativa de definir limites nào é um caminho f~tifero para ~ 
pesqUIsa: 
!. ,,] conduzir pesquisa suore os efeitos de crescimento populacional nu U5(J da \erra 
em termos du dinimicas e interaçÕçs de fatores foi mais ulil que discutir a relaçJo em 
lermos de hmlles fillóOS. 1 ' 
A matriz complexa que resulta da analise de todos os fatores e dinâmicas 
relacionados à qualidade de vida em uma região específica pode nos mostrar 
• ~en mosua que a pf(ldu~lo de alimento. acompanhou o r&pido crncimento populacional d.u 
ul!,mu deÇldas "0. maiore. aumenl<,. na pmduçlo de alimento. _ nlo so no asrelado ma. 
tambem ptr CQPI/Q - nUo o,"'rrendo no T~rceiro Mundo, eopecialmenle na rcSilo que coI& 
pruduundo o. Ifande. aumenlo. ab.olulol da popula~lo mundial, ioto é, na !\aia. O. muil". 
mllhõeo de peuou aH~.cenladu .b popula~/IC1 da lndia C da China podem e,tar con5tanle_ 
mente Ciladas pc!. •• defcn.ore. - aterrorizado. e atenorilanle. _ da \'i.lo apocalíptica, mas c 
preClurnente ne-un pai5C1 que ao mail I&pidu tuu de- produ~lo alimentar do ob.n\"ldas" 
(Amartya Sen, "Population, Delu.i"n and RcaJity", em Tloe Xe .. · )"r.l: Re,"""" of 8(x.ks. n. 22 
leI 1994, p. 66) , 
CC Bu.ia Zaba A lan. Scoonn. "h Carr)'inl Capaçitr a Vleful Conccpl to Appl}' lo Human 
P"I'ulahonJ:", cm BUla Zaba ii: John I Clarke, E,wiron",enl gnd 1'0p"IQrion Clounge (Lié c 
ardina EdlhoN, 1994). p. 21S S 
II CC Daniel JOlCph Hosan, '"The Impact of populatiun GroWlh 00 lhe Phvtiul En\'irnnmcnt"' 
cII, p. 116, " 
II Ver C.rol L. Solly ii: Barbara Boyle Torrey (orSI.). l'0p"/Qlion und L<lnd /)J<! ú, Deve/oplng 
COl/n/rro (W .. hmJlon: Nahonal Academy Pre ... , 199,l). p. 12 
u 
1 .. ·1 () c.mpo de rclaçõcl em que a ali\'idade humana ('PCra em !\Cu cs(mçu cunlmu" de 
cquilibrar numero, e recursos . A Inálise:: do \;onjullto de: ecossistemas permitiria ia 
Sll(; ict!Ade Cltahelcccr os /rQde-().ff., ncccu.i.ri o~ para () desen\'oh'lmen lo suslent.he! 
O uhjeli",. n.lo e nenhum numerO) m:igicude tamanho út imo de populi1\"io mas condl-
çi"lcs ma~ çJara~ pari' tomada de dc:ci s ÕC"~ . Como todul os "'I]clfe5 nlu pudem ~er 
ma.\im i14d()~ cm lodo~ O! e.:uni5temu, a ~()cieJaJe c seus pl.nej3Jure~ p/ecium 
poder pesar eues traJe-o.U$. H 
Começam a aparecer esses estudos localizados. Dois estudos sobre ba-
cias hidrogrMicas, conduidos peJa Uni"ersid3dc Fedcr31 de Minas Gerais::" e 
pela Uni"crsidadc Estadual de.: Campinas,::(, são exemplos, como também os 
trabalhos de Franco em Sah'adorY 
Novas abordagens 
Como uma temâtica nova na demografia , meio ambiente e tratado de 
maneira multifacetada, ainda com uma abordagem difusa . A \'clha qucstão. 
abstrata , da pressão de numeras sobre recursos, continua recebendo alguma 
alcnçlo.::' Mas lambem emerge um conjunto de questõcs dirigidas a situaçõcs 
concretas e, em conSl:qüencia disso, uma serie de considerações metodológicas. 
Na continuação, tratamos desses dois aspectos. 
Componentes da dinâmica demográ.li ca 
Talvez a abordagem mais tradicional da demografia seja a decomposição 
do crescimento populacional em seus componenles: fecundidade, mortalidade 
e migração. Em \'ez de perguntar "qual ê o número de pessoas ou a ta:lt;3 de 
crescimento compatível com o desenvoh-imento sustentável?", pergunta-se 
•Cf Daniel JOlcph H"san. " Crc .. ,imcntu pupulaeiunal e de,en~'"h' iment<' .u.tenr,h'et". ~ II 
.. "ct" Jua" Antonio de Paula ("rs.), 8"~I\·erJI"ude. p<>pllloçifo e uon"",iQ' U"'O regl4() de .H;oIQ 
Allã"f!t u (8<1 ... H"ri1.onle : UFMGiCcdeplaril::CMVS , 1997). 
• Cc. Daniel J".c-pn H0a.an. '" Mutoi lidade pupuJacioaal c meio .amhientc·· , ( m R~I'tl /o IIrUJi !.' j ' lI de 
F.'udIH de l 'oplI /lJ( 4Q. \ 'u!. 2 . n. 15, 1991 
r Yer o trabalho de JoIo ,'olon;o de r.ul .. c Robert" M ... nte.M, .... --Bi .. dil·enid .. de. P<'P'Ita~l .. c 
c,"IO"mia ' um.a urcr;~n.;il intçrdi,cirlínar'", Ile.le liHO 
cr. \'acla\' Smil, " PopulatioIl liro\\1h .and Nitr"Ie Il ' a" E~rl"Uli ()n nf a Crili~ al F.\i.l,n ~ ill 
Link" , cm J'Qf'!4/0/llHl tl"" D CI't'Iop""",,/ Rnlc ... ·, n. 17, 1991. fIP. %9-601 : ··H ...... Many Pc,,,,I, 
C.an lhe Earth Fe~d ·t", cm l'opJl IQlim' <ln" Dt .'t!op",e", R.·\·ie,"'. , iI: lluia Zab.a a lan Scoo!X'. 
""h Carr)"inl Cal'a,il )" I Useful Concept tI' APl'ly ln Human P"pulalí"ru1"·. cm Duia Zaba a 
John I Ctarkc, E",;m"",cnl and /'0Pl'lof ;nn CIoQ"!e, cil ., pp 197,21 9; r.ul R EJvlich eI 0/11, 
" Forn:l Scellf it)!. Pupul.l;on .nd F.n\·;,onrncnl", cm Pop" I. Ii"" u"d De,'tlop",t,,/ Rtl'itw, cit , 
pp. 1-12 
DANIEl. JOSEPH HOGAS 
"como ê O impacto para os padrõcs de fecundidade, ou de morbidade/mortali-
dade ou de migraçJo, da degradação ambiental, da escassez de recursos ou 
dos aspectos ccolôgico-ambientais de uma dc1enninada situaçloT'. E como é 
que cada um desses processos influencia a qualidade ambiental? O debate se 
desloca do reino do abslrato e dos nivcis agregados para o exame de como 
cada processo demográfico. considerado cm separado, se relaciona com a 
mudança ambiental . 
Nessa linha, a atenção tem sido dirigida principalmente as relaçõcs am-
bientclsaude, de um lado, e à questão do impacto dos padrões de distribuição 
populacional para a qualidade ambiental. do outro. 
MOrlalidade e murhidade 
O mais dramático e inegável aspecto dos impactos da degradação 
ambienlal e na saudc humana. Não é irrelevante considerar os impactos das 
mudanças globais sobre a saude, c o Human Dimensions of Global 
En\'ironrnental Change Program~J incorpora esse aspecto. mas c a soma das 
agressões ambientais localizadas que hoje demanda mais atenç.:io. A rdação 
saudc/ambientc abrange quase a totalidade do campo da saude. Atê os proble-
mas genéticos podem ser estudados em funçlo da sua e"oluçlo c:k.'fltro dc 
determinadas condições ambientais . A preocupação contemporânea com as 
conseqüencias da degradação ambiental no organismo, então. não sinaliza ne-
nhuma ruptura para a epidemiologia. O dedinio histórico da mortalídadc na 
Europa ocidental por meio de melhorias na nutrição e no saneamento não dei-
xa de ser reflexo de um controle ambiental. e esse fator esti prescnte desde as 
primeiras tentativas de se entender a saudc do organismo humano. 
A nova preocupação, fruto c fonte do moderno ambicntalismo, se alia a 
uma \'isão holística da questão. Não é tão-somente uma questão de identificar 
os elementos ambientais na etiologia de uma determinada doença. A preocu-
pação hoje coloca cm questão todo ° nosso modo de vida, e pergunta sc o 
padrJo "desenvolvido" de "ida só será atingido com o nosso auto-cnvcoena-
mento. Sustentar-sc-á todo o complexo agroindustrial contemporâneo scm es-
• Ver John I- Clarkc .II: Dnid W. Rhind, Pop .. I,,',ofl DtJIQ 1m" O/ob,, / Cfl";'_"6f1'U/ CItQflK~ 
("rit: ISSCiUnuco. 1992); A. J. McMichul, P/""611"" O~" O<I". Olob41 CflV;''''''''6f1101 
C .... " #Ad,'" H,lIulo ofllt, HIII_ Sp6c~J ,CambriO.c : Cambrid,c Uninnity PruI. 1993); 
F. LaadU. MacKcllar "' flll;, - PopullfiOll anel Climal~ çh.an,c". «II S. Ih)'1IC'f .II: E L. ~hlon.c 
( ...... ). H .. _,. CJooicc fl/lll Cli-m, C"",.'C (Columbu.: BaUcllc Pr_. I"'). ,..,1. ... pp. 19-
19) . 
gotar os recursos n3turais~ Sem comprometer a qualidade do ar, dos rios . do 
mar, dos solos'! Sem expor a população no local de trabalho ou çm casa a um 
scm-numcro de substâncias nocivas à saúde'! A questão ecológica, no fundo. c 
da viabilidade da manutenção e exh.-nsão do nosso modo de \'ida 
Assim, quando analisamos as deficiências nutricionais de populações 
sahclianas, castigadas pela desertificação provocada pelo homem, não é só a 
rela~o entre alterações na composição de nutrientes na dieta e estados mór-
bidos que está em ques~o. Quando trabalhadores de estaleiros e suas familias 
desenvolvem altas taxas de asbestosc e câncer do pulmão, mesmo décadas 
depois de sair dos estaleiros, não é só a confirmação dos perigos de exposição 
a asbesto (c medidas de controle dessa exposição) que está em jogo. Há uma 
nO\'3 consciência, embora polêmica, de comprometimentos irreversiveis quan-
to ã saude do homem (c da natureza) . O interesse científico na ques~o, hoje" 
se situa num contexto ideologizado, onde a saúde e um elemento a mais num 
quadro de perspecti\'a,s sombrias. Assim, não é possÍ\'e! examinar uma doença 
ou condição qualquer, no que se refere às suas relaçõcs com mudanças 
ambientais, sem reportar de imediato à questão maior. 
Esses comentários se fazem necessários para delimitar corretamente a 
abrangência dessa temâtica. Uma avaliação rigorosa das ameaças ambientais 
à saúde examinaria a quantidade e qualidade de alimentos, incluindo as con-
centraçõcs de metais pesados, os aditivos . corantes e resíduos de agrotóxicos 
dos produtos alimentícios industrializados; a qualidade de água: as exposiçõcs 
diárias ao arsenal da indústria química contemporânea, dos inseticidas aos pro-
dutos de limpeza . 
O Banco Mundial estima que problemas associados 30 ambiente domés-
tico (densidade, saneamento, lixo e poluição de ambienles internos) são res-
ponsá"eis por 30% do ónus total de doença cm paises pobres.)U O JJbrld 
Developmenl Rl!porl/993 identificou a poluição de ambientes internos como 
um dos quatro problemns ambientais mais criticos. Além disso, em todo o mun-
do, "3% do ónus global de doença e causado anualmente por mortes c aciden-
tes cm ocupaçÕC$ de aHo risco e por doenças crónicas rc.."Sultantes de exposição 
a quimicos tóxicos , ruído. cstresse e padrõcs de trabalho fisicamente 
debilitantes". ) 1 
• aanco Mundial . l4'otlJ Dt .. tfop~c"t Rel'orl 1991: '"v6J11"1 ;,. 1/,,,/,,, (WllhinCICWI : Banco 
Uundill. 199J). P 90. 
II I.ül., p. 95. Pari ilu.trar I intpoftlnl:" ct- falorel. ti 6srl«lhko" ck rnmaur~Ao I II laC\IAU 
de conhc, iftM'nlo "UII o in\'illli,ad..r ,n(fenll, HO'&n uaminou I polu i~ lo I lmcurcriu 
D,\NlEL JOSEPH }tO,lA},' 
o indicc sintc.:tico apresentado pelo Banco Mundial \'isa superar os limi-
tes dos estudos c..-pidcmiológicos. Esses identificam relaçõcs de causa e efeito, 
de forma cstatistica, fundamentando a criação de nol'Tnas de exposição a de-
terminadas substâncias, à interrupção do seu uso ou à substilUiçãodc m3teriais 
ou de procedimentos prejudiciais à saüde. Não possibilitam, porém, atribuir, a 
uma determinada morte, uma determinada causa. Conseqüentemente, os da-
dos de C3usa de morte, registrados nos atestados de óbito, permitem uma 
a\ ali:ação d3S C3usas próximas mas não :as caus:as últimas de morte. Até re-
cl!"ntcmentc, 3 tentativa de avaliar o impacto global de fatores ambientais na 
saüde c n3 mortalidade não superou esse dilema . Embor:a o no\'o índice do 
B:anco Mundial não capte todos os fatores importantes e todas :as doenças, ele 
nos aproxima de urna perspectiva comparativa. Em teonos de Disability-
Adjusted Life Ycars (DALYs), por ex.emplo, cânccres ocupacionais produzem 
um ônus de 79 e a atmosfera urbana, de 170. Em comparaç.io, morte e 
incapacitação resultando de acidentes de trânsito produzem um ônus de 32. 
(Esses numeros são expressos em milhõcs de DALYs por ano.)l: 
A mensuração e analise comparativa do impacto ambiental na saude, 
visando identificar as suas coordenadas espaciais e temporais, é bast3nte com-plic:ad3 pela inexistcncia de um sistema de infonnações sobre ULUle. Quando, 
cm outubro de 19-18. um incidente de io\·Crs30 térmica deixou \'inte mortes no 
centro siderúrgico de Danora, Pensilvânia, gerando a primeira iO\·estigação 
cientifica sobre as conseqüências na saude da poluição atmosférica, os pesqui-
sadorcs podi3m lançar mão dos dados do National HC.1.1th Sur"\'cy. Assim, com. 
parando os índices de bronquite, pneumonia c outras doenças com o padrão 
nacional. era possivel identificar um qU3dro sensivelmente pior na cidade de 
Donora )J QU3se meio século depois, nem o Brasil nem o estado de São Paulo 
(apesar do $Cu exemplar sistc..ma estatístico) contam com uma base de dados 
semelhante. 
Por csse motivo, e porque a demografia tem desenvolvido os conceitos e 
as tecnica.s apropriados, os dados de mortalidade, especialmente mortalidade 
por causa, continuam sendo um caminho para a apreensão do impacto ambiental 
na saude. A poluição, por exemplo, raramente mata uma pessoa diretamcnte . 
E quando mata, a compro\'ação e o conscqü'-"T1IC registro s30 dificeis. Hã al-
guns anos, quando um médico inglês assinou um atestado de óbito, dando como 
• Ilanco Mundial . 11""111 1h''C''''p_"'I<~,..,,, I'JU.- t " " l:Jti,,/t '" 1I~.,/IIo. ~ il , P 95" '"Ann .. 1·'. 
• el. H. H. SdU"lI1'Ck '" e/tl. W Air roUuli ... in Do .. , ...... Pa. F.riokmi"lo,y uf 1M Unu,., .. 1 Snw, 
Epiaode o( Odobn- nu". mi I'ttlolic 11",1/1, SltUl:I,,,, n . .lO6, WuhinflOll . 1' -49 . 
A RELAÇÃO ENTRE l'úJ>l;LII.Ç.l.O E oMWIESTE. DESAFI0.s PAItA A OBI()I.;ItAFIA 
causa "fumar cigano", O magistr3do local o multou e mandou corrigir o atesta· 
do. No caso de um pôlo petroquímico como Cub3tão, por exemplo. existem 
casos mais e\'identc:s como leucopc:nia , C3Usada pela exposição ao benzeno.)1 
Mas esses, c outros parecidos, são casos ex.tremos. e não esgotam as conse-
qüénciJS pJra a s3ude. 
A estrutura de mort31 idade por causa oferece informações que captam 
melhor 3 dimensão ambiental. As doenças diarréicas , por exemplo, sào rela-
cionadas às condiç.ôcs sociocconômicas das famílias, mas também à qualidack: 
da agua, c o seu declínio nos anos 70 c 80 está ligado a melhori3s no S3neJ-
mento básico J ) O câncer e 35 doenças cardiacas são relacionados à exposi-
ção a um s.em-numero ck substâncias quimicas, naturais c artifici3is , atran:s 
da alim,,-ntação, dos processos produtivos no Jugar de trabalho c dOI poluiç.io da 
água , do ar e do solo . O sistema rcspiratôrio, finalmente. é particulanncnte 
sensível a poluiç.3o 3tmosferica e o seu estudo revela as dificuld:ades de tr3ba-
lnar com l."Ssa questão. 
Distribuição populacional 
Vista principalmente como uma causa de mudança ambiental. a migração 
é ° outro componente & ... mográfico mais estudado nos últimos anos. Como lem-
brilm Z1ba e Clarke: ·'Mlgração, no seu sentido mais amplo. inclui processos 
comourbanizaçlo, turismo c migração pendular, e todos eles po(k:m mudar radi· 
ca.lm..-nte a relação enlre a população nati\":l ou residente e $Cu ambit=nte ... .Y> 
Sempre prcsente na diseuss.io dos processos de distribuiç.3o populacional , 
a questão dos recursos naturais só recentemente ocupa o centro de atenção 
em projetos sobre regiões especificasY 
Mas a migr:lção também pode ser consequência de mudança ambiental. 
lzazola c Marque"e" estudaram mulheres de classe média cujas famílias sai-
.. Daniel J""rh Ho,an, '·c.:oodiçMf de _ .. doa" dc mor1e cm C.,b.l10··, cm "'''GiJ de n /::" tt.Mlro 
.\ '" Ó""GI d, EIIIIII", l 'Op"/M/O""i, . eil . 
.. Caflu. f.uctmu 4e Car"alhu Ferreira, '"Sanumenlo e m<lf1all .bdc ;nranlil" ', cm !;~{j 1'"" 1,, c m 
I',,"pul"-I1, fundoli'O Sudc. "0' ... . n 6. oul .«Z. 1991, pp. 61 ·9 . 
.. Ruia Zaba .. John 1. c.:lu1.:.c . 1:.·"""O" ... ~"f ""J P""" I"ho" Ch,,"ge, ,iI . P IJ 
o: el. l)Ulid J .. nph lIoJ&n. '" )I,lobilid.Wc P<'P\lla<:iun..ol e meio ambienlc". nn Jte'~ I/Q R,,,,rI,,,,,, .k 
IÚllIJuJ J" 1'<Jl'fllurdu, "II 
• \'..r Ha) <ka h .a/.o" • Calheru", MIf'fUirl1", " Micration ln RC1IpuftU 1.<> 1M Illban [a'lfUDmC"n1 
Oul · MiCral i<lfl b y "hddl,,·çla •• Women ,114 Ihrir Familin (10m Mui~c> City Af'tn 19"", CIII 
N ina .... IJlk_-,k ... John I C"l.aItc ("'P ). l'uptolol'()fI """ !." ... r __ ttt ' " I..wJfriIIk"J #Ut><)ltl . 
(ftngrllp"i<l /' •• /,)." t(1. n. 6-4 t \".rw,ia. Poli.b Acad.cmy or ScielKu. 1?95,. pp. 225-56. 
DANIEL JOSEPH HOGAN 
ram.m Cidade do México para cidades menores no interior, para uma melhor 
quahdade de vida, onde a poluição atmosférica foi um fator importante. A di-
mcn~ão desse fenômeno no Brasil não é conhecida, embora a qualidade 
ambientai certamente figure entre os motivos daqueles que trocaram a cidade 
grandc.pel~ vida mais tranqüila cm cidades menores. Uma parte desse movi-
mento Implica um padrão de ntigração pendular, as vezes de grande volume.)') 
A erosão e o esgotamento da fertilidade de solos também provocam a mi-
gração do campo, um movimento pouco estudado dessa perspectiva. Costa 
anah.sou a relação entre a flexibilização das demandas de mão-de-obra, a ins-
tabilidade do emprego e o consequente padrão de urbanização periférica 
fragmentada - com sua precária infra-estrutura ambiental.-t:) 
. O padrão espacial de investimento, a rede de transportes e comunicação 
e a mfra-estrutura urbana não só são respostas a distribuição de recursos (e de 
população), mas também - uma vez instalados - motivam o adensamcnto da 
população e a pressão sobre ecossistemas especificos.4! 
Segmentos populacionais 
Uma segunda abordagem para uma análise demográfica é o estudo de 
detenninados segmentos populacionais, por sexo e idade. Os recém-nascidos 
e ~ crianças p~quenas, junto com os idosos, sofrem de fonna mais aguda os 
efeitos da polUição atmosférica e as doenças diarréicas agravadas pela falta 
de saneamento básico; adolescentes e jovens adultos (especialmente os ho-
mens) respondem ao estresse urbano com violência (homicídio, suicídio aci-
dentes de trânsito); a população trabalhadora responde com sintoma; mal 
definidos, enchendo os postos de saúde;·~ mulheres grávidas são particular-
mente .vulneráveis a uma grande quantidade de contaminantes químicos; mu-
lheres Idosas sofrem mais a osteoporose, cuja etiologia inclui fatores ambientais. 
lO cr. O.niel Jouph HOian, "Crelcimento popubeional o dcaon\'olvimonto IUltentá ... c!"' , 
pp. 57-77. ' CI, 
• \'or o trabalho .de Bcloi .. Coda, "Indú.tria, produIj'lg dg elpa'ig c CU.tOI Igeigambicntais 
ronClttla a partir do ucmplo do Valo do ""'0, Minu OerailN nato livro 
.. Eat.a.s . . ' 
. quuttla. nl.lo lendo mvnl1cada. no 'mbito do proj~to Redi.tribui'ilo pgpulacional c 
Me.lo ~blcnte SJo Paula.Cenlto.oesto. cm Mdarnento no Núcleo de Estudo. de Popula~Jo da 
UmYcnldack Eat&duII de Ca. mplnu {ProncltiCNPqfFinq)/Mini.thio da Ciotnci. c Tccnolo,i., 
4 Ver S6ni R . do 
a qma Cal SeUt .. G. lhrbou, QwQlltJQdc <h Yir/Q c JUllI mclá/grQs' umQ rcflcx40 
IOCI-._b""tQ{ TeI, de doutoudc.l cm Ci"nci .... Soeiail, Campin ... Univenidade Eltadual de 
CamplllU, 1996 
A 1I.f.!-AÇ.\O f.NTRE POPUlAÇÃO E ""'IDIENTE ' DESAFIOS PARAADEMOOkAFIA 
Populaçl1es em situaç40 de risco 
Uma abordagem promissora para captar as relações população/meio 
ambiente e o conceito de populaçõcs cm situação de risco. Como as canse-
qüéncias da deterioração ambiental não são sentidas de forma igual entre gru-
pos sociais nem uniformemente através do território, as categorias usuais para 
a analise demográfica nem sempre sllo capazes de revelar essas conseqüên-
cias. Taschncr c: Torres e Cunha estudaram populações fa\'eladas, cuja 10C31i-
zaçAo as sujeitaram às inundaçõcs sazonais . o Populações que ocupam várzeas 
de rios ou tcrrc.,'nOS ingremes são outros exemplos .oH Os desastres considera-
dos naturais têm sido estudados de várias perspccti\'as durante muito tempo, c 
oferecem elementos importantes par .. a análise da vulnerabilidadede popula-
ções especificas. Blaikie c outros-41 invcstigam as maneiras com as qUOlis as 
populações conseguem acc:sso a rc:cursos em situações de risco . 
Por sua vez, a identificação e estudo de ambientes cm situação de risco, 
ou as regiôcs eeologic3mente frágeis (terras semi-âridas, montanhosas, áreas 
tropicais úmidas), também seriam um caminho para analisar as .conseqüências 
socioambientais de mo\'imentos populacionais .- Luehiari , ·~ por exemplo, es-
tudou as alterações provocadas pelo crescimento demográfico e econômico 
no litoral norte paulista Hogan" chamou a atenção para o fato dt: que essa 
região te \'e as mais Olltas taxas de migração em São Paulo nas últimas déca-
das . O turismo, como um tipo de movimento populacional com conseqüências 
socioambicntais muitas vezes de\'astadoras, merece estudos mais aprofun-
.. Ver os t .. halhos de BiI.f"ldo TOfTU ... " dcmoparla do r i s~ .. ambienta!"', c de SUl.na Tasehne., 
"Depadaçl" ambiental nu ra\.,I .. cm Si .. PlIul,," , neste li'Tu 
.. Foram fccí.trado". cm Janeiro de 1996, 46 c .......... Ipcit ... de 1cptospir<KC, c na primein urru.n.a 
de fevn-cuo, do meNtlo ano, 16 peuo .... moru:ram. na Gr.ndc SIo Paulo, ,ilimu de dcdiz.unentOl 
pron,.;ad .... pd ... ehu" ... Um utudo pi......, iro que examina as "it\lalj'ões e~ .. hi,ic ..... de residencias 
.reladu pur inund.~~es e a clauc social d ... m"radUfu roi .ulil.Sd" pur Har<>ld" T"rTCI, 
/)c';~IlQIJDJc Qfrth i""fdl lia ciJoúe J~ $40 Paul" . Tele de doutnradn cm C;~nc iu S~iai • 
Campin.a., Uni\"Cui4adc E.I.du.' de C.mpinu. 1991. 
.. \,Cf" Pi~ 81aikie CI Qlri. AI Rut: ,r.,·QlllrQIII~DrJJ. I't"Opfc i lut""rQbiMy 13"'" DUQJI .. " (U>ndrCl 
RO\lII,d,c, 1994 ). 
.. Cf. hanne X ,",upuson ct flli. , Reg'/J 'u QI Rlrt . CO'"PQ" ' /JII' 0fTIo,uII(IfCÚ F.II yjwll mCIfIJ 
(Tóquio ' tlnitcd N.!iOfl' lini\'enil)' Pren, 1!W5) 
,> Cf. M.ri. Torna D. P. Lu,hiati . CQ;çarat " IInu,"o cm ).tO' .. ';D' : /'DIU!O"flQçi'" In _ 
cioQ_h"IIfQi, fiO lito,ol "01'/ .. ptl~Ii"Q (1969-1990) . "Cle de mCluado, C.mpin .. , Unicamp. 
1992 . 
• Oaniol Jo.cph Ho,.n, "Cre.e imcnlo popul.cionat c duen\'oh'imento lu ttenlhel "', eil 
dados . .tl Estudos de árc::as ecologicamente frágeis mostrarão que: "Há imensa 
variação geografica em pressão populacional. que pode ter pouca relação com 
densidade populacional" ...., 
A abordagem "problema" 
Finalmente, tem surgido uma sc:rie de estudos motivados por problemas 
ambÍl;ntais cSIX"Cíficos . O desflorestamenlo, 'I por exemplo. e objcto de diver-
sos estudos que procuram esclarecer o papel do ritmo e dos padrõcs de asscn. 
tamento,5: da composição dos grupos migrantes'" e dos fatores de saudc no 
processo.51 Da mesma. forma. a desenificação~·1 e a poluição industrial .... fo. 
ram estudados da perspc.'Ctiva demográfica. . Muitos desses estudos têm como 
objetivo demonstrar um quadro mais complexo das multiplas causas dos pro-
blemas ambientais . Assim, não é o crescimento demográfico nem os movi-
mentos migratórios cm si que promcam o desmalamento ou a desertificação, 
mas ii falta de oportunidades c de justiç.a social nos lugares de origem, a fall3 
de acesso 3 credito agrícola e ii assistência têcnica. e (no <:Jso do Brasil) um 
perverso sistema de incentil'os fiscais que premia o dli!'smatamcnto . 
Rcctlr.\·o,Ç Me/riem 
Um dos a\'anços na compreensão da questJ.o ambiental é a conceituaçlo 
do que é recurso n:nO"á\'cl e não-renovân:1. Se a tecnologia responde ao 
esgotamento de determinados recursos com subst itutos, alguns recursos não 
• Ver t:dmil . .. n """PC' JonlOJ .. " ("", .. " .. (do Jono/ do ttJ:JJc do p,,,:<r.- '''''I''' ;:u(40 'o/;",("Q. 
c .. " .. , ,, e "'cm D ... I"enle ~", ."'·olo/-H,\'. Tcoc de d .. ol ..... d .. cm Ci': nci". Soe i,i. . C,mr ini.<. 
Un,ump. 1997. Maria Tc.,,-a U. P. Luchi". i. O I~g 'u "I> "' .. .. da c""'c1flJ>(l , dn~,. , I~"",,,, ( 
~,bQ"i:"fdi, e1fl Ut>"I~bo-.'\4() P""lo. Tcoc: de d, .... t"'ad .. cm C,rn.: '1I So.:iai., Campina<. Uni~"mr . 
1999 
• CC Buia Za!>a k Joh .. I. Clarkc E",·i,m.1fIe"f ,,,,d ""p"tilIlOf! Ch"'.gc, ,ii, p. 20 
" cr Ri,hard F. . BII, b •• l"n ..... A Uanid jo.cph 1I .. ,an ("' V .). 1'0p .. I"',,,n QnJ Dr/"r ... '"li"" ,n /I". 
1/ .. ",i" Tmpia ( lif lc- : ltiSSP, \999) 
II \"C"f Philip ~I Feanuidc. ··Hum.en Carr)"inl Capleil )' F.IIl imalion in lJtu .il". ,\malnnian Senlemenh 
u. Guidc I" 1)nd "f"'Ien l P"hc)"·'. cm Richud F. B,\obnl,,, .. · a: r). nicl 1"K"pn H .. ,.n (u'g. ). 
"0,...1",,_ " .. J ~[(HCIf"ft(>" i " f/oc lIu",jJ T",,,.o . , iI 
.. cr John M S)"dcMl ickn. "C_I"ccplion ia F'''flhcr RCli .... ln Vncxp« lcd rielo. c··. TUI .. 
'p.ucf\t .. do no Se",õni ,io Popul.ahon Ind pc r' >fClulioll in the Humid T,opiCi CI"'pinu, 
IUSSPlAbepINcpo. 1992. 
" cr. 1>Ollllld R. SI'oV)"CT, "lhfuruI.t ioo .00 ~hllri. ln R,,"dóni~ ", nn Richard [ . 9i"I><",,,,,,· A 
Daniel 1,,"ph HOI." (01" .). Pop .. hJllon """ DC[o'tlf" tioJ" "' Ihc 1I',,"i" T"'rio, cil 
.. Ver John Clvkc .. O.nid Noin. P01"'I"lio" u"d F.",·I",n",tn, ln AriJ RtK'onJ (hril Unc ..... . 
1991). 
• Vtt Mina Potr)·k_ ....... John I. CLarkc ("'I" )' op. cU 
prometem essa solução. Falkenmark~) discute as reservas li!' o uso de água 
como limitante das alividades humanas . Em escala global , a circulação da água 
entre o oceano, a atmosfera e os continentes constitui O mais fundamental de 
todos os sistemas que sustentam 3 vida . Como conscqücncia c:bs suas funda-
mentais funçõcs. a capacidade de suporte endógeno de uma região ~ depen-
dente da água . Assim, a biomassa tolal de uma determinada área e maior nos 
trópicos umidos do que nos trópicos ~"COS , não só porque M muita \.:ncrgia (por 
ser mais ensolarado), mas também porque há mu ita água . Por isso. para a 
autora, a disponibilidade de água delermina qU3ntos individuos podem ser sus-
tentados por uma biomassa localmente produzida' "Critêrios de sustenubilidadli!' 
podem. nesse sentido, ser \';SIOS como equivalentes a limitaçõcs à capacidade 
de suporte . por defini rem a populaçlo que pode ser suportada de mant:i ra 
saud:i\"CI " . ~ A autora mostra que mesmo se adolando a opção pelos rescn'a-
tórios/rcpresas (criticada pelos ambientalistas), o nível de água apro\'citáre1 
ficaria abaixo da pressão populaciollJl da maioria dos p<lises em descm'olvímen-
to no prestmtc . Em 1990. 3tX) milhões de pessoas moravam em países com nu is 
de seiscentas pesSOô1Slunidade de fluxo de ;ígua . ~' Estima-se que cm 2025 esse 
n~ro subir.i para 3.C)4() mi lhões (ou seja, mais de dez vezes) . Assim. as repre-
sas não resolwm O probkma a longo prazo. sendo apellJS paliativos, e ainda 
provocam grandes custos ambientais . Essa perspectiva encontra eco nos traba~ 
lhos de Engclmannl1 c Postel / 1 que chamam a atenção para o potencial conflito 
que a crescente esCôlSSCz de água provoca . Sa.nc:hcZ/o! examina os conflitos em 
tomo de recursos hidricos entre o México e os Estados Un idos . 
\ 
,. Ve r ~lahn Falkenm.rk. ",\ W~ICf I' c r.~~l i \·e .. n P.'pulal io ll. En\i r .. nme1'1 I nd ~\c"'pmcnl ", 
cm F.\crt \"ln Imhulr Ao I::lIfn Thcmmcnc Fun. Wi lldanl (1'1'&' ). l 'of " !J I"",. E, ... i"' ..... rn' 
.... .:J Ck.·c/",. ... c .. , (Am. te.di · S"eh I nd Zcilhnllcr. 1 9' ~ ). pr .H ·~6 
" IMd",,.. . 
.. o 1\.'lIul S~itn~C kUcaHh C"" ncil .11 SlIi.:il ddill~ "paiou <k ""t.cue hidri. o·· ,,,mn a'lllelu 
onde n ...... lm ~;J que u;.~ .... I,", PC""'U P'" unid.>dc de nu~n <k i gu. dio!'<'nl\'cl (um milbl .. de 
mdwl ( "t-ic<» r'" ." .. ) R .. \w.tn Luil. do Carmo ino·clh, •• h.almenle a quc'li ... 0. .. It~U .... 1 
hid'; ~ ... cm rc laçl " .i dlnim'~1 dc",,,,,Hic .. no nlad .. dc Sl o riu ln. P"r .. 1uf<]". u ... /,,( .. ,< c 
., .... I,IIudO' Jc ..,do ; " C"HI dlJ c,'"dfJ dc $do }'" .. f /. P",jcl" dc d" ut .... .t" em dcmo&"r; • . 
C.mpin .... Unic .. mp. 1'9' 
• Ver Rnhcn Engelm. n. ·· " Of!'tII .. " .. n and lhe Folurc ,,( l((n''Aa'' lc F. u h W .. lct Sorrliu··. Tllbl . 
lho> arr ue ntado no Scmi .. ir iu r .. puhtj .. n!En\·jronmcnl Equ., jnn· hn l, li.: .' j" ,u fo r FutY, e 
Se~o,it)". R ... t .. n. ) 1 de ml i .. I -+ de j unho> de 199-1 
.. Cf. S .. nd, .. 1' ... Ie l. 1 .... / U".u F"c /"R 1."", S" ,,( ,,)" tNuu Y",k : N .. rte>n, ) 'PJ2 ) 
.. Ver M.obcrto Sinchu. " W.'e, C"nnic t..< lJe1 .. ecn Mc~;c" Ind lhe- U S : T ..... u<b a T ...... b.>tIndü) 
Me,i .. ".' W.I« Markcl "!" ' Tn h.lhn . prumllo:!., lU> Scminád" PClpol.,in"tf.n\"ll\>nmenl t:qYlli"" 
Imphcaliun. f .. r Fulou Sccoril)·. ~.I 
DANIEL 105EI'II <lOOA" 
~lguns aspectos metodológicos que esscs esforços levantaram já foram 
mencionados ~ parágrafos antcriorcs . Um problema que chama a atenção c 
a ques~o ~ umdade de análisc. Os dados sobre populaç,jo s.ão raramente 
comparav~s aos ambientais, em lermos da unidade gcogrâfic.a usada Há uma 
g~andc \'aTledade de unidades políticas no mundo, sendo de tamanhos muito 
dlferentcs a menor unidade csUllíslica em cada país ou região. Em São Paulo 
por exemplo, com 248.808.800 km:, são 6 I 5 municípios, enquanto no Amazo~ 
IUS, com 1.577.820.200 km:, são 62 municípios. A possibilidade de: correlacionar 
as duas ordens de fenômenos é muito maior na primeira siluaçlo. 
A solução é aproximar as unidades de analise à organizaçlo da própria 
natureza. . Se ~r~tendemos capUlr as relações entre essas duas ordens de fenó-
~e~os e ~x~ml.zar as relações interdisciplinares, teremos que abrir mio dos 
hmll~ mU~lclpaIs, estaduais ou nacionais. Unidades como a bacia hidrográfica, 
: r~glãO htor~1 ou a floresta não .só favorecem a percepção das multiplas 
tcraçôcs ~Jogo, mas fazem sentIdo para os especialistas de Oulras discipli-
nas nas equipes de pesquisa. A conceituação dessas unidades como ecos-
Slst~mas, ~isagens ou uorregiiJes pode variar de acordo com O problema a 
ser 1R\~esllgado . Esscs. diferentes conceitos que emergiram ao longo das ulti-
mas decad.1~ do um sinaI de que o problema é sentido por diferentes discipli-
n.u, na medjda em que procuram incorporar outros elementos em suas análises. 
A~ compara~s internacionais 510 dificuhadas pela grande diversidadc 
demogr.afica e ambientaI de paises muito extensos, "dados populacionais nào 
são factlment~ relacionáveis a regiões ambientais, e conseqüentemente houve 
~u~~ tentativas de ~1c~lar a distribuição da população mund~1 por zonas 
cll~~lIcas ou "cgetaclonals, ou por altitude ou distância do mar ..... ' Para Lutz 
a un~ca solu~o ,iável para tratar esse problema em nivel macro c parar d~ 
consldcra~ entidades nacionais ou regionais c definir um certo numero de gru-
pos globaiS q~e são homogéneos em termos de Ulxas de crescimento e do 
problema ambientai sob análise.t>4 
U.W da terra e mudanças na cobertura vegetal 
Surgiu, nos anos 90, como parte do mo\'imento cientifico internacional 
em tomo das dimensões humanas de mudanças ambientais globais, o campo 
I 
I , 
'" K I"II ."I."" I r.", I<r. "11""'."1"."" r. NllPlt."" II : ...... " ..... ' U 3 rAI< A " u " .. ' vv ....... ~, .... 
de estudos conhecido como LUCe (Land Use and Land Cover Cbange). As 
contribuições da demografia ainda são escassas, mas as imagens de satclitc c 
os sistemas de:: informações geograficas - SIG - começam a Ser cmprcg;tdos 
na analise populacional. Wood e Skole" juntam imagens de satélite, dados 
ccnsilários c levantamentos por amostragem para estudar o desmatamento na 
Amazônia. Entwistle e outros66 fuem um esforço par31elo para ;I; Tailândia. 
Hogan e outros'" mobilizam esses recursos metodológicos para examinar a 
relação entre uso de terra e vulnerabilidades socioambicntais cm uma situação 
urbana. Esse é um campo de grande potencial: permitirá aos demógrafos inte-
grarem abordagens macm e micro, numa perspecti\'a que promo' ·e um diálo-
go entre os estudiosos dc mudanças globais e locais . 
São as mudanças locais que tem ocupado mais a atenção dos cstudiosos 
de população. Blaikie,6a por exemplo, discute esses problemas no contexto das 
pressões que as práticas agricolas exercem sobre o ambiente, elaborando uma 
reflexão metodológica que a ... ança nossa capacidade de refletir sobrc cssas 
questõcs. Para ele, são dois grupos de dificuldades . Primeiro, existem ques-
tões tccnico-científicas de definição c mensuração da degradação ambiental. 
Segundo, do assuntos de explicaç.ã.o dentro das ciências sociais, particular-
mente complexidade , fronteiras (houndary) , escala geográfica, inca/eIa 
e " Iag elftc/s". 
A definição e mensuração da degradação encontram criticas quanto aos 
terrenos usados pelos cientistas e quanto ao fato de que muitos trabalhos sobre 
degradação se limitam a considerar os sintomas cm "cz dos prôprios proces-
sos de degradação. Assim, ~r t:xemplo: 
• \'no Ch.lIlC1 \1.'004. Oa,,4 I'ko"- ·· Linkill' SltC"lIilc, CmJI,Il an4 !>un·,,}· D.I. lo S.ud)· Dcr ....... ct.liun 
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C"att,~, ci l. 
I·· ) agricultnres itinerantes podem '.(1 a noresl:r. tfUpiçal eomll "'"Ia rvnle 1',",1ellcial 
Jo;: nUl,ientes p.ua ~ua, hOr1.n , que pu .. .!c.sc:r rulizlda pd:r. con'·crs!\1 Jc made;,a \.;, a 
cm Ilul,icnle5 dlSpnnh·ci~ 31';1\·':5 da qucim:r.da. Um f'!lCa l 111"0:1111 poJe \ CI 1 mcSlna 
i1(>fe~11 ( .. m\~ um '1InIUM> '«ursO:;t ser enn.sc:f\·I~' em.sc:u ul.do original." 
A sr:gunda ordem de probkmas advcm da tenlativa dr: ligar variá\"eis 
sociocconômicas ou demográficas c o gerenciamento e mudança ambientais . 
Blaikic ick:ntifica quatro problelT'..1s 
I) problema dM limites (boundary problcm): "Quando se modelam as 
rdaçõcs população-recursos em grandes agregados (o mundo intt:iro, rcgiõt:s, 
rCCursos florestais globais ou continentais), supõc-se que os recursos sâo fmitos, 
que não existem importaçõcs/exportaçõcs do sistema. c que quem ganha o que 
r: uma questão de jogo de soma zero".'o 
Nesse sentido, quanto menor a escala tomada para a explicação. menos 
ela Se toma umjogo de soma zero. Assim: "os agricultores . quando confrontam 
a degradação dos seus recursos, migram para a cidade ou encontram emprego 
alternati\'o (e usam) ou criam recursos cm outros lugares", ;1 
2) problema de (!u'olo : "A tarefa de explicação pode ser eomparad3 a 
uma 'cadei3 de explicação' em que assuntos de nivel mais alto, mais gener .. .!i-
Uldo c geralmente de uma maior escala geográfica encapsulam e medeiam 
explicaçõcs "O nh·eI mais baixo".!: Um" tipica hierarquia de ni\'t~is é: indhíduo, 
casa. família. comunidade, esudoe nível internacional . An.ilisC"S quc ,·inculam 
a probk.-m.ltica social com a ambiental podem ser realizad3s utilizando·sC" difc.-
rcntes ni\·cis simultaneamente. 
3) incate=o e complexidade: Blaikic, considerando a di\'crgêltcia de 
a\'aliaçõcs das relaçõcs população/meio ambiente enlre especialistas , dcvido a 
complexidade e ii. incerteza, defende a necessidade de serem as pesquisas e as 
elaboraçõcs de politicas mais participantes c sujeitas a definições plurais . vin-
culadas 3S realídadr.:s locais. Definiçô(,.'S padronizadaspor instituições extralocais 
precisam ser usadas com cautela 
4) tempo: De um lado, "o tempo que os impactos. passin:is de obsen'a-
çào. do crescimento populacional e de outras variáveis independentes. levam 
para rcpercutir na gestão ambiental r: geralmente longo". 7.\ A demografia tem 
.. IblJ .. P 611 
.. lbiJ. p. (,'1> . 
l , llo"ü'" 
" U ... ",,.. 
,. IMá" 10, 
uma ecrta vantagcm em relação a outras ciências sociais, na medida cm que 
conceitos como estrutura elaria , coorte e transferências intergcraeionais jil. 3 
colocam na análise do longo prazo no seu cotidiano. Mesmo assim. a eSC313 
temporal é hu~, e as ahcraçõcs ambientais mais graves se refen .. -m 3 uma 
temporalidade geológica. Para qut: a serra do Mar rep roduza a camada de 
solos crodidos cm consequência dos danos produzidos na floresta pela polui-
ção atmosférica levara sêçulos , Talvez por essa razão. também a prest:nça 
dos cientistas sociais nos debates sobre mudanças globais h.:n.h.3 sido tímida . O 
curto prazo para as ciências sociais significa hoje ou amanhã. A ele\ a"ão do 
nivd do mar, pr(,."\;sta para trinta 3:OOs no futuro. pertence a um tempo omdliano: 
para os cientistas da atmosfera, porém. um aquecimento global dessa magnitu-
de. em tão curto período de tempo. traz o cvcnto para o presente . 
Para o obsen'ador parado no $Cu tempo, as alterações do ambiente cau-
sadas pelo homem no passado parecem parte da ordem natural . Contrariando 
a noção de que os homens da antiguidade viveram em hannonia com seu 
ambiente, Runncls H aprcsenta a crescente evidência arqueológica para episó-
dios - pro\'ocados pc.:la agricultura - de desflorestamento e erosão caLlstrófi-
ca dc solos na Grécia ao longo de K mil anos , SituaçÕl.."S semelhantes foram 
superadas na história por avanços tecnológicos ou pelo deslocilm(.'nto da ati\·i-
dadc cconômica para novas terras . Os demógrafos tem traçado os movimcn· 
tos que tcnninaram com as fronteiras . estud3ndo os seus determinantes e 
conseqüências sociais. económicas. politicas e ate ambientais . Mas a fronteira 
foi o referente tcmporal--cspacial que justificou uma atitude acomodada em 
relação à degradação dos reGurws naturais . Que o fim da fronteira requer um 
no\'O equacionamento da relaçã~ entre população e meio 3mbicnte. e que essa 
é uma mudança historiQ para 3. humanidadc, ainda não foi totalmente absor.'i· 
do pt:la dt:mografia , Temos tratado a ocupação das últimas fronteiras com o 
mcsmo quadro tcmporal-cspacial usado para analisar outras fronteiras . 
Zab::a e ClarkeH acrescentam a ncccssidade de investigaçõcs inlerdis· 
ciplinares para dar conta das interaçõcs complexas. Ê preciso considerar, ain-
da, outros fatores que. cm princípio, têm pouca conexão com o ambiente natural , 
mas que exercem forte inOuéncia sobre fecundidade e mortalidade 
... \'er c. N Runnd . ... En'it .... mcnlal l>cll'lclation in Am"iefll GTCc~e·'. cm SciCl"'Jk "''''''''( '''' , 
n n -n , mil 19"" 
" c.:r. lJuil Z-Iha ,. John I Clar"c. F.", .. _,.n., ""J P()""/"f'O" CIr."." ... (ii 
DANI!;!. JOSEPH H!.)(õAS 
Conclusão 
O campo dos estudos sobre população e meio ambiente, então, c consi-
deravelmente mais complexo atualmente do que há poucos anos. Os desafios 
s.ão muitos : refinar conceitos "guarda-chuva" como qualidade ambiental, qua-
lidade de \"Ida e sustentabilidade; repensar as unidades de análise para captar 
as dinâmicas ecológicas, junto com as sociodemográficas; incorporar 00\'05 
recursos léCniccs PAra abordar aspcclOS globais às suas análises; redimensionar 
o a.lcancc do fenômeno ecológico. Os estudiosos de população compartem 
mUitos desses desafios com outros especialistas . Para alguns aspectos , os 
demógrafos .têm uma , 'antagem, com o tratamento de escalas temporais, por 
exemplo. AJulgar pela resposta do Grupo de Trabalho da Abep sobre o assun-
to, os demógrafos aceitam esse desafio . 
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