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C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA DOS MATERIAIS ObjETIvOS DE ApRENDIzAgEM A partir do estudo desta unidade o(a) acadêmico(a) estará apto(a) a: conhecer acerca da história e importância do estudo da ciência dos materiais e sua aplicação no desenvolvimento tecnológico da sociedade moderna; entender os conceitos e características fundamentais dos materiais, os quais são de suma importância para o discernimento e análise de suas propriedades, a serem abordados nas unidades posteriores; compreender a influência das forças de ligação, arranjo dos átomos e presença de defeitos estruturais na classificação e propriedades específicas dos materiais; interpretar diagramas de fases, de forma a prever a microestrutura e propriedades resultantes de composições comerciais de aços e ferros fundidos; obter conhecimento básico acerca dos sistemas ternários e aplicação no desenvolvimento dos materiais cerâmicos. conhecer acerca da história e importância do estudo da ciência dos materiais e sua aplicação no desenvolvimento tecnológico da sociedade moderna; entender os conceitos e características fundamentais dos materiais, os quais são de suma importância para o discernimento e análise de suas propriedades, a serem abordados nas unidades posteriores; compreender a influência das forças de ligação, arranjo dos átomos e presença de defeitos estruturais na classificação e propriedades específicas dos materiais; interpretar diagramas de fases, de forma a prever a microestrutura e propriedades resultantes de composições comerciais de aços e ferros fundidos; obter conhecimento básico acerca dos sistemas ternários e aplicação no desenvolvimento dos materiais cerâmicos. TÓPICO 1 – COnCeITOs fundAmenTAIs TÓPICO 2 – LIgAções químICAs TÓPICO 3 – TIPOs de esTRuTuRA CRIsTALInA TÓPICO 4 – CRIsTALInIdAde dOs mATeRIAIs TÓPICO 5 – defeITOs dA esTRuTuRA CRIsTALInA TÓPICO 6 – dIAgRAmAs de fAses pLANO DE ESTUDOS esta unidade está dividida em seis tópicos que contribuirão na compreensão dos fundamentos da ciência e propriedades dos materiais. Além disso, em cada um dos tópicos você encontrará atividades que o ajudarão a consolidar os conceitos apresentados. C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S COnCeITOs fundAmenTAIs 1 InTROduçÃO TÓPICO 1 unIdAde 1 Para o completo entendimento das propriedades e aplicações dos diversos materiais disponíveis comercialmente, bem como entender as ferramentas de análise e desenvolvimento de materiais, é necessário inicialmente que possamos compreender a real importância do estudo que estaremos desenvolvendo neste tópico. Dessa forma, estaremos inicialmente conversando um pouco a respeito da história do desenvolvimento dos materiais ao longo do tempo, e sua integração com o desenvolvimento da sociedade. Da mesma forma, é de suma importância compreender alguns mecanismos de origem atômica, os quais serão apresentados nesse tópico, que invariavelmente explicam boa parte das características e propriedades de cada tipologia de material. Para realmente termos um conhecimento sólido da ciência e das propriedades dos materiais, precisaremos ter a capacidade de correlacionar essas características elementares com os resultados e propriedades que estaremos estudando nos capítulos posteriores. Neste tópico também estaremos discutindo e fixando conceitos básicos e essenciais, bem como a apresentação de algumas aplicações típicas de materiais, para que vocês possam se familiarizar com os diferentes tipos de materiais, visualizando as aplicações no dia a dia, em situações práticas, facilitando o entendimento. É natural que muitos conceitos apresentados nesse tópico lhe sejam completamente novos. É importante que, durante a leitura desse primeiro tópico, sejam anotados os termos e conceitos que não são familiares. Esses conceitos serão detalhados nos tópicos e unidades posteriores. UNIDADE 1TÓPICO 14 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S 2 PeRsPeCTIVA HIsTÓRICA A escolha de materiais adequados para determinadas aplicações, mesmo em uma análise desprovida de conhecimentos específicos, nos remete aos mais remotos momentos da existência da humanidade. A necessidade da caça, da pesca, da construção de abrigos, da criação de vestimentas, e a elaboração de utensílios para as diversas atividades do homem primitivo, podem ser tomadas como exemplo de uma seleção de materiais com características mais adequadas para cada caso. Convenhamos que, nesse contexto inicial, as opções de materiais disponíveis eram de relativa escassez: madeira, barro, pedra, couro, fibras naturais. Qual material ou combinação destes vocês utilizariam para a confecção de uma lança para caça? O desenvolvimento de utensílios e recipientes de cerâmica pode ser considerado um dos primeiros avanços da humanidade na direção da criação de materiais que atendam a necessidades específicas de forma mais adequada do que os materiais naturais disponíveis. A invenção nos parece simples, levando em conta o nosso estado atual de desenvolvimento tecnológico: moldar utensílios em barro úmido, e cozermos os mesmos em fogo para que estes adquiram resistência. No entanto, ainda utilizamos esses princípios antiquíssimos para a fabricação de muitos produtos cerâmicos, como, por exemplo, as telhas e tijolos que compõem as nossas casas. O desenvolvimento de novas técnicas de fabricação desses materiais permitiu produzi-los em grande escala e com poucas perdas. O posterior conhecimento do processamento de ligas metálicas, como o ferro e o bronze, propiciou a elaboração de utensílios de diversas naturezas e utilidades. Os avanços que se seguiram permitiram à sociedade a criação de inúmeras utilidades, culminando no desenvolvimento tecnológico moderno. O desenvolvimento de materiais poliméricos, os quais nós conhecemos também por plásticos, tendo como matéria-prima base o petróleo, permitiu a produção de materiais mais leves, processados em baixa temperatura e com características mecânicas adequadas a muitas aplicações, inclusive, por exemplo, substituindo partes metálicas em veículos, permitindo assim a economia de peso e combustível. A rápida troca de informações propiciada pelo desenvolvimento tecnológico atual na área eletrônica não seria possível sem o desenvolvimento e aprimoramento constante dos materiais semicondutores, os quais permitiram o desenvolvimento dos circuitos integrados. Grandes avanços da medicina estão condicionados ao crescente estudo de biomateriais, resistentes e compatíveis com o organismo onde são implantados. A nanotecnologia nos mostra que é possível obter materiais com características especiais, abrindo um leque enorme para o desenvolvimento de materiais inteligentes e de tecnologias mais limpas. UNIDADE 1 TÓPICO 1 5 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S Podemos concluir então que, tanto para o homem que habitava as cavernas até o homem que habita as modernas estações espaciais, o conhecimento das propriedades dos materiais disponíveis e a engenharia ou desenvolvimento de novos materiais criados e constantemente aprimorados são fundamentais para a manutenção de condições em que este possa viver de forma adequada às suas necessidades, em um mundo moderno cada vez mais dinâmico. 3 APLICAçÃO de LIgAs meTÁLICAs, CeRÂmICAs, POLímeROs e COmPÓsITOs Diferentes tipos de materiais podem ser utilizados na fabricação de um produto ou parte de um produto industrializado. Normalmentea decisão de se utilizar determinado material passa pela análise de diversos critérios, desde as propriedades necessárias ao desempenho do componente até o seu valor final. 3.1 METAIS E SUAS LIGAS As ligas metálicas são normalmente compostas majoritariamente de elementos metálicos. Os átomos dos metais sólidos são ligados entre si por ligações metálicas. Nesse tipo de ligação, uma parte dos elétrons desses átomos deixa de pertencer a átomos definidos, formando uma nuvem de elétrons, que são chamados de elétrons livres, os quais são responsáveis pelas suas propriedades elétricas particulares. A sua estrutura ordenada e as características de suas ligações fazem como que estes materiais apresentem alta resistência mecânica, no entanto podem ser conformados em diferentes formas sem apresentar ruptura. Além disso, suas propriedades podem ser drasticamente alteradas pela deformação mecânica ou tratamentos térmicos, de acordo com a necessidade. Essas características fazem dos metais e suas ligas uma escolha bastante usual para a fabricação de componentes mecânicos, desde automóveis até estruturas de edifícios. Um aspecto bastante importante da maioria das ligas metálicas é o seu caráter de “aviso de falha”: Quando um componente ultrapassa o seu limite de carga (nesse caso trata-se do limite de escoamento, como veremos com mais detalhes na Unidade 2), ocorre uma deformação irreversível do componente, ou seja, ao retirar a carga, o componente permanece deformado. Essa deformação pode ser detectada por inspeções antes que esta peça venha a se romper, causando uma falha mais grave. Essa propriedade é bastante importante quando trabalhamos com produtos onde existe a necessidade de um nível de segurança, como em partes mecânicas de automóveis, aviões, ou de estruturas de guindastes. A ruptura da peça nesse caso pode ser catastrófica. A figura a seguir apresenta o aspecto de fratura de um material metálico dúctil e de um material frágil. A fratura do material dúctil apresenta deformação localizada. UNIDADE 1TÓPICO 16 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S FIGURA 1 – FRATURA DE MATERIAL DÚCTIL (À ESQUERDA) E FRÁGIL (À DIREITA) FONTE: Callister (2007) EST UDO S F UTU RO S! � O que é um material dúctil? O que se entende por material frágil? Não se preocupe em responder esses questionamentos agora. Anote esse termos. Eles serão detalhados e exemplificados nos próximos tópicos e unidades. 3.2 MATERIAIS CERÂMICOS Os materiais cerâmicos são, em sua maioria, constituídos de óxidos metálicos. As ligações químicas desses materiais podem ser iônicas ou covalentes (estaremos estudando as características dessas ligações no tópico 2 dessa unidade). Diferente dos metais, as cerâmicas normalmente apresentam estruturas mais complexas e menos simétricas. Esse fato, aliado ao tipo de ligação, faz com que a deformação da peça antes da ruptura seja praticamente nula: o componente rompe rapidamente ao atingir seu limite de resistência. A situação descrita acima é crítica quando pensamos em aplicações mecânicas com restrições de segurança. Outra característica importante dos materiais cerâmicos é que estes apresentam uma sensibilidade maior a defeitos de fabricação. A presença de trincas, muitas vezes não detectáveis, torna o limite de resistência mais baixo do que o calculado no projeto do componente sem falhas. Por esse motivo, em alguns casos, testes mecânicos prévios desses componentes são necessários para garantir uma resistência mecânica mínima exigida pela aplicação. Por outro lado, algumas características dos materiais cerâmicos os tornam a melhor escolha para determinadas aplicações: UNIDADE 1 TÓPICO 1 7 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S • ausência de elétrons livres, culminando em elevada rigidez dielétrica e baixa condutividade elétrica, o que os torna excelentes isolantes elétricos; • a baixa condutividade térmica permite a aplicação como material refratário, isolando o calor de um processo do ambiente, protegendo os materiais metálicos que revestem determinados equipamentos; • a característica de rigidez de suas ligações químicas culmina em materiais com elevada dureza, tornando-os excelentes materiais abrasivos, de usinagem de materiais metálicos, ou para aplicações onde se deseja diminuir o desgaste mecânico; • a combinação entre suas características estéticas e resistência ao desgaste os torna uma escolha interessante no desenvolvimento de biomateriais, como próteses dentárias; • as translucides dos vidros e suas propriedades de refração da luz permitem a fabricação de diversos objetos decorativos e técnicos, incluindo lentes para aplicações diversas; • as características de pega hidráulica e propriedades mecânicas após cura, isolamento térmico e baixo custo permitem a utilização de gesso e cimentos em larga escala para construção e revestimento de edificações. Os materiais cerâmicos são utilizados atualmente em diversos setores, seja como isoladores em linhas de transmissão de energia, como blocos estruturais para edifícios, cimentos, vidros para janelas, frascos, vitrocerâmicos para fogões, substratos para catalisadores, e próteses biocompatíveis. FIGURA 2 – COMPONENTE CERÂMICO: SUBSTRATO DE CATALISADOR, DE CORDIERITA FONTE: INESCAP. Disponível em: <http://www.inescap.com.br/eng/prod_doc.html>. Acesso em: 25 fev. 2012. UNIDADE 1TÓPICO 18 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S 3.3 POLÍMEROS Os materiais poliméricos são de base orgânica (contêm carbono, C). Esses materiais, assim como os metais e cerâmicas, podem ser caracterizados por um agrupamento de átomos que formam uma estrutura, que se repete indefinidamente no material. No caso dos polímeros, essa estrutura é chamada de mero. Um polímero pode ser definido, então, como um conjunto de meros. As ligações químicas nesse tipo de material são normalmente de caráter covalente. Apesar de a ligação química do tipo covalente ser forte, os polímeros apresentam como uma das suas principais características a elevada maleabilidade. Esse comportamento, em primeira análise, nos parece contraditório, porém é explicado pela presença de ligações secundárias. Um polímero consiste em várias cadeias poliméricas, normalmente de longo tamanho, que mantêm interações de coesão entre si por forças secundárias, como pontes de hidrogênio. Estas ligações, mais fracas, explicam a facilidade de deformação desses materiais, pois a deformação ocorre pelo deslocamento das cadeias poliméricas. Uma das características principais dos polímeros é a sua facilidade de processamento em baixas temperaturas (da ordem de 200°C), bem como a sua boa relação entre densidade e propriedades mecânicas. Para muitos casos, os polímeros podem ter resistência mecânica suficiente para substituir partes metálicas, com diminuição do peso do componente e também do produto. Esse fato normalmente implica em menores custos de transporte e economia de combustível, dentre outros, e é a tendência que observamos nas últimas décadas no desenvolvimento dos automóveis. Assim como nos metais, as propriedades dos polímeros podem ser alteradas, nesse caso essencialmente pelo tamanho das cadeias poliméricas e seu grau de cristalinidade. Os polímeros apresentam diversas propriedades que os tornam interessantes para determinadas aplicações, embora também apresentem limitações intrínsecas. Normalmente apresentam baixa resistência ao calor e podem sofrer degradação quando expostos a intempéries. Essa degradação consiste na quebra de ligações pela presença de raios UV provenientes da luz solar. As aplicações dos polímeros são das mais diversas: desde recipientese utensílios domésticos em polipropileno (PP) e polietileno (PE), até componentes automotivos em Nylon®, ABS ou borrachas. Os polímeros também podem ser reforçados por outros tipos de materiais, sendo então classificados como compósitos, os quais serão discutidos no item a seguir. UNIDADE 1 TÓPICO 1 9 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S FIGURA 3 – ENGRENAGENS DE NYLON® FONTE: MECÂNICA OURINHENSE. Disponível em: <http://www. mecanicaourinhense.com.br/engrenagem-de-corrente-transportadora. php>. Acesso em: 25 fev. 2012. 3.4 COMPÓSITOS Vimos nos itens anteriores que os diferentes tipos de materiais apresentam características que os tornam interessantes para determinadas aplicações, porém, apresentam também limitações. A busca de propriedades ótimas para aplicações específicas motivou o estudo dos materiais compósitos. Um material compósito consiste na junção em um mesmo material de duas ou mais classes de materiais (metais, polímeros ou cerâmicas) para o desenvolvimento de um novo material com propriedades muitas vezes superiores às apresentadas pelos componentes separadamente, ou seja, ocorre uma sinergia entre os componentes utilizados. É possível, por exemplo, melhorar as propriedades mecânicas de um material polimérico (resina epóxi, poliuretano) adicionando certa quantidade de fibras de vidro (material cerâmico), de tamanho e características controladas. Chamamos esse tipo de material de fibra de vidro, sendo bastante empregado na indústria naval, reservatórios de água e piscinas, dentre outros. A melhora na resistência mecânica do componente, nesse caso, se dá pela transferência da carga mecânica do polímero para a fibra, que é mais rígida que a matriz polimérica. No entanto, um fator importante é a qualidade da interface entre a fibra de vidro e o polímero: a adesão de dois materiais com características físico-químicas tão distintas muitas vezes precisa UNIDADE 1TÓPICO 110 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S ser auxiliada por um tratamento superficial da superfície das fibras. Ou seja, precisamos compatibilizar a fibra para que esta fique aderida corretamente ao polímero. Quando desejamos unir a resistência à abrasão elevada, mantendo a resistência a impactos e deformações, podemos utilizar um material compósito que seja capaz de suprir essa necessidade. É o caso do metal duro (na indústria comumente chamado de “Widea”). O metal duro consiste em uma matriz metálica (Co, Ni) com partículas cerâmicas (WC, carbeto de tungstênio). A fase cerâmica é responsável pela elevada dureza e resistência a abrasão, enquanto a matriz metálica dissipa o calor gerado e absorve impacto e trepidação. Pastilhas de usinagem confeccionadas nesse tipo de material apresentam propriedades adequadas para usinagem de metais com dureza elevada, bem como para usinagem a seco de materiais cerâmicos. Compósitos de base polimérica com adição de metais são utilizados para desenvolvimento de propriedades de semicondutividade: a concentração e interpolação das partículas do metal condutor na matriz polimérica irão definir a condutividade desse material, sendo interessante nos casos onde se deseja obter condutividades controladas para determinadas aplicações, bem como onde as propriedades do polímero são adequadas. FIGURA 4 – OS COMPÓSITOS DE FIBRA DE VIDRO SÃO UTILIZADOS NA FABRICAÇÃO DE BARCOS E LANCHAS FONTE: VALE NÁUTICO. Disponível em: <http://www.valenautico.com.br/site/?key=81>. Acesso em: 25 fev. 2012. 3.5 SEMICONDUTORES Os materiais semicondutores apresentam condutividade elétrica intermediária entre metais condutores e materiais intrinsecamente isolantes, como é o caso da maioria das UNIDADE 1 TÓPICO 1 11 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S cerâmicas. Normalmente o nível dessa condutividade é afetado por variações pequenas na quantidade de determinadas impurezas, sendo esse um ponto chave no desenvolvimento desses materiais. Com o advento dos semicondutores puderam ser desenvolvidos transistores e diodos, os quais são fundamentais para o campo da eletrônica. Esses dispositivos têm, além da capacidade de amplificar um sinal elétrico, a propriedade de atuarem como interruptores. Isto é particularmente importante, visto que a tecnologia digital opera em sistemas binários (algumas vezes designados por 0 e 1), que podem corresponder a “ligado” e “desligado” para cada transistor. Assim, dados e equações podem ser armazenados em chips de silício nos computadores, calculadoras, celulares, e inúmeros equipamentos. 3.6 BIOMATERIAIS A função dos biomateriais, como o nome indica, é a de substituir partes do corpo danificadas ou doentes. Podemos produzir biomateriais utilizando cerâmicas, polímeros, metais, semicondutores ou compósitos. Uma das principais características desses materiais é a não liberação de produtos tóxicos e biocompatibilidade, ou seja, não devem sofrer rejeição por parte do organismo receptor. Próteses dentárias, ósseas, estéticas (próteses de silicone) e marca-passos são exemplos de biomateriais. 4 esTRuTuRA ATÔmICA A explicação para o comportamento macroscópico dos materiais tem sua origem em suas características atômicas: tipos de átomos e arranjo entre eles, no que chamamos de estrutura. No entanto, para compreendermos as características de arranjo entre os átomos, é necessário relembrarmos alguns conceitos de química e física, os quais você já estudou nas respectivas disciplinas. Os átomos são unidades compostas por partículas subatômicas que se diferem pela sua carga e massa: prótons, elétrons e nêutrons. Os átomos possuem um núcleo, e esse núcleo é composto por prótons e nêutrons, que são unidades muito pequenas. Prótons e nêutrons apresentam massa semelhante entre si (1,67 x 10-27 Kg). A principal diferença entre prótons e nêutrons é que os prótons apresentam carga positiva (1,60 x 10-19 C), enquanto os nêutrons não apresentam carga. UNIDADE 1TÓPICO 112 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S Os elétrons apresentam carga de mesma magnitude dos prótons (1,60 x 10-19C), porém, negativa. Outra diferença fundamental entre os elétrons e prótons é a sua massa (9,11 x 10-31 Kg), ou seja, os elétrons são cerca de 10000 vezes mais leves. O átomo, composto de prótons e nêutrons, partículas mais pesadas, fica agrupado em um núcleo, enquanto os elétrons, partículas mais leves, circulam ao redor deste núcleo. Podemos concluir também que o núcleo apresenta carga positiva, pela presença dos prótons. FIGURA 5 – O ÁTOMO FONTE: O autor A quantidade de prótons do núcleo do átomo irá determinar o número atômico (Z) e o tipo de átomo. Essa informação, consequentemente, caracteriza um elemento químico. Cada elemento apresenta um número específico de prótons. Se o átomo estiver em seu estado neutro, o número de elétrons será igual ao número de prótons (lembre-se de que a magnitude da carga do elétron e do próton é a mesma, porém de sinal contrário). A massa atômica (A) é a massa de um átomo do elemento. Essa massa é caracterizada pela soma das massas de cada próton e cada nêutron do elemento. Nessa conta se exclui a massa dos elétrons, pois neste caso esta é praticamente desprezível. Um mesmo elemento pode ter diferentes quantidades de nêutrons, e apresentará massas ligeiramente diferentes. Eles são chamados de isótopos. Podemos imaginar então, a partir das premissas descritas acima, que algumas propriedades físicas, como a densidade e a massa dos materiais, apresentam alguma relação com a quantidade de prótons e nêutrons dos núcleos dos seus elementos. Vamos analisareste exemplo: UNIDADE 1 TÓPICO 1 13 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S Da observação da tabela periódica podemos constatar que o alumínio (Al) apresenta número atômico Z=13 e massa atômica A=26,982, enquanto o chumbo (Pb) apresenta Z=82 e A=207,19. Portanto, podemos esperar que 1m3 de chumbo metálico apresente maior massa quando comparado a 1m3 de alumínio metálico. No entanto, é importante observar que a densidade destes metais no estado sólido em temperatura ambiente não depende somente da massa atômica, mas também de outros fatores, como o seu arranjo atômico, ou seja, de sua estrutura. Assim, para calcularmos a densidade e posteriormente a massa de 1m3 dos materiais citados, precisaremos de informações a respeito de como estes átomos ficam arranjados no sólido, e quantidade de vazios em cada estrutura. ATE NÇà O! A forma como os átomos se agrupam no material sólido não é totalmente densa. Existem vazios entre os átomos, e a densidade do sólido irá depender dessa quantidade de vazios. No tópico 3 iremos calcular a densidade do chumbo a partir da massa atômica e seu arranjo cristalino! Portanto, não somente o conhecimento das características dos átomos, como, por exemplo, a sua massa atômica (A), é suficiente para explicar os diferentes comportamentos macroscópicos dos materiais. Além da forma como os átomos são arranjados, tanto a magnitude como o tipo de ligação entre os átomos no material sólido se relacionam com algumas propriedades desses sólidos. É do estudo dessas forças que estaremos tratando no próximo tópico. UNIDADE 1TÓPICO 114 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S ResumO dO TÓPICO 1 neste tópico estudamos alguns conceitos fundamentais da ciência dos materiais. A seguir apresentamos um resumo dos principais pontos abordados: • Apresentamos uma perspectiva histórica do desenvolvimento dos materiais, enfatizando a sua importância no desenvolvimento tecnológico. • Foram discutidos alguns dos aspectos principais relativos às diferentes classes de materiais e suas aplicações em função de suas propriedades. • Compreendemos que o conhecimento da estrutura do átomo é insuficiente para entendermos as propriedades macroscópicas dos materiais, sendo necessário obter informações a respeito de suas ligações e arranjo desses átomos no material. UNIDADE 1 TÓPICO 1 15 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S AUT OAT IVID ADE � Caro(a) acadêmico(a), para melhor fixar o conteúdo da unidade, sugerimos que desenvolva as seguintes atividades: 1 Descreva com suas palavras a importância da ciência dos materiais para a sociedade moderna. 2 Defina quais são as principais características que diferenciam metais, polímeros, cerâmicas e compósitos. 3 Defina as características de cada partícula subatômica: prótons, elétrons e nêutrons. UNIDADE 1TÓPICO 116 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S LIgAções químICAs 1 InTROduçÃO TÓPICO 2 unIdAde 1 As características das ligações químicas dos materiais estão relacionadas diretamente com as suas propriedades. Por esse motivo torna-se muito importante conhecermos os princípios que governam essas ligações nos sólidos. Quando analisamos o comportamento mecânico ou térmico de um material, o conhecimento da origem do comportamento macroscópico observado é importante para interpretarmos os resultados obtidos. Neste tópico estudaremos os princípios de equilíbrio das forças das ligações químicas, bem como os tipos de ligação e suas características relacionadas às propriedades de cada classe de material. 2 LIgAções ATÔmICAs nOs mATeRIAIs Sabemos que um material sólido é composto por um número muito grande de átomos e que, conforme estudamos anteriormente, estes átomos são compostos por elétrons, prótons e nêutrons. A própria estrutura do átomo é resultante do equilíbrio das forças de atração e repulsão entre o núcleo positivo e os elétrons, que apresentam carga negativa. Para facilitar a nossa incursão na análise das ligações atômicas, vamos imaginar a unidade mais simples possível: a ligação entre apenas dois átomos. Quais fenômenos físicos vocês esperam observar ao aproximarmos dois átomos? UNIDADE 1TÓPICO 218 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S FIGURA 6 – ÁTOMOS SEPARADOS POR UMA DISTÂNCIA D FONTE: O autor Considerando que, em um estado inicial que promovemos, existe uma grande distância entre os dois átomos (d). Nesse caso, as forças entre estes dois átomos podem ser consideradas desprezíveis. No entanto, ao aproximarmos os dois átomos, surgem dois tipos de forças: uma atrativa e outra repulsiva, cujas magnitudes irão depender das características de ligação entre estes átomos. Ao aproximarmos os dois átomos a ponto de suas camadas de elétrons se sobreporem, ocorre um aumento na força de repulsão. A força líquida (FL) entre dois átomos é a soma entre a força de repulsão e a força de atração e, como podemos imaginar, irá depender da distância entre os dois átomos. FL = FA + FR Se ao aproximarmos dois átomos existem duas forças concorrentes (atração e repulsão), podemos supor que, a uma determinada distância entre estes átomos, a força resultante entre estes é nula, ou seja: FA + FR = 0 De fato esse estado de equilíbrio existe, e pode ser representado pela figura a seguir. Para facilitar o nosso entendimento, vamos considerar a energia resultante dessas forças ao invés de analisarmos as forças envolvidas. A energia pode ser obtida a partir da equação a seguir. E = ∫ F dr A figura a seguir mostra um gráfico esquemático da soma das energias de atração e repulsão entre dois átomos. UNIDADE 1 TÓPICO 2 19 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S FIGURA 7 – ENERGIA POTENCIAL EM FUNÇÃO DA SEPARAÇÃO INTERATÔMICA FONTE: Callister (2007) Vamos imaginar que a curva descrita na figura funciona como uma rampa, e que depositamos uma esfera no ponto A. A esfera está em equilíbrio no ponto A, e não irá se movimentar, a menos que coloquemos alguma energia mecânica que a faça se movimentar para o lado direito ou esquerdo. Ao movimentarmos a esfera para o lado direito por um curto percurso, e ao liberarmos a esfera, a mesma retornará ao ponto A. O mesmo acontece ao movimentarmos a esfera para a esquerda: a esfera retorna ao ponto A, que é o de menor energia. FIGURA 8 – CURVA DE ENERGIA DE LIGAÇÃO APLICANDO EXEMPLO DAS ESFERAS FONTE: O autor Se entendermos esse fenômeno, poderemos compreender que existe uma distância entre os dois átomos onde o valor da soma entre a energia repulsiva e atrativa é nula, que consiste em um ponto de equilíbrio, e que coincide com o valor da energia de ligação (E0). Portanto, chegamos a um ponto muito importante: em um material sólido, se um átomo se liga a diferentes átomos por ligações químicas, existe uma força de coesão entre esses átomos, e um estado de equilíbrio. Dessa forma, diferentes tipos de ligações e as magnitudes dessas UNIDADE 1TÓPICO 220 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S energias, no equilíbrio, irão resultar em materiais de diferentes propriedades, como dureza, resistência mecânica, ponto de fusão, dentre outras, governadas por esta energia de ligação. Na prática, diferentes materiais apresentam curvas de energia de ligação diferentes, o que gera valores de energia deligação e distância interatômica diferentes. ATE NÇà O! A energia de ligação E0 é diferente para cada tipo de material. Um material mais rígido tem maior energia de ligação, e um material mais maleável apresenta menor energia de ligação. A seguir estudaremos os tipos de ligações predominantes nos materiais sólidos. 3 LIgAções PRImÁRIAs 3.1 LIGAÇÕES IÔNICAS Aprendemos nas disciplinas de química que os átomos tendem, através de ligação química com outros átomos, a adquirir a configuração eletrônica dos gases inertes (estáveis). A ligação do tipo iônica sempre envolve átomos metálicos e não metálicos, sendo que o metal nesse tipo de ligação perde seu elétron de valência, e o átomo não metálico o recebe. No entanto, essa permuta tem como consequência a geração de uma carga elétrica, tornando-os íons, o que caracteriza a ligação iônica. Os átomos isoladamente apresentavam uma estrutura neutra de carga, porém, após ligação, apresentam carga positiva (o que doou o elétron) e negativa (o que recebeu elétron). No entanto, no material sólido não existem apenas dois átomos, mas uma infinidade destes. O que ocorre neste caso é uma atração entre átomos vizinhos de carga positiva e negativa, e a essa energia de atração damos o nome de energia de ligação iônica. As forças de atração são chamadas de Forças de Coulomb. A figura a seguir mostra um exemplo esquemático desse tipo de ligação. UNIDADE 1 TÓPICO 2 21 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S FIGURA 9 – ESQUEMA DAS LIGAÇÕES QUÍMICAS DO TIPO IÔNICA NO CLORETO DE SÓDIO (SAL DE COZINHA) FONTE: Callister (2007) 3.2 LIGAÇÕES COVALENTES Nesse tipo de ligação, um ou mais elétrons são compartilhados entre os átomos, ou seja, os elétrons compartilhados não pertencem a um átomo específico. Da mesma forma que na ligação iônica, os átomos adquirem dessa forma a estrutura eletrônica estável. A ligação covalente tende a ocorrer quando a diferença de eletronegatividade entre os átomos envolvidos é pequena. As ligações covalentes podem apresentar energia de ligação bastante elevada, como também relativamente baixas, dependendo dos tipos de átomos envolvidos. A figura a seguir mostra uma molécula de metano (CH4). Observe que a ligação entre os átomos de C e H apresenta compartilhamento de elétrons. FIGURA 10 – LIGAÇÕES QUÍMICAS DO CH4 FONTE: Callister (2007) UNIDADE 1TÓPICO 222 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S 3.3 LIGAÇÕES METÁLICAS As ligações metálicas apresentam uma característica bastante interessante, nque as distingue das ligações de caráter iônica e covalente. Os átomos de um metal apresentam geralmente de um a três elétrons na camada de valência. No sólido metálico, estes elétrons não pertencem a nenhum átomo específico, mas formam uma nuvem de elétrons, ao que chamamos de elétrons livres (já havíamos citado esse termo no tópico anterior). Os elétrons das camadas interiores, juntamente com os núcleos positivos, formam uma estrutura iônica que é eletricamente estabilizada pela nuvem de elétrons. A figura a seguir mostra esquematicamente a estrutura dos átomos em um material metálico. ATE NÇà O! Observem que quando tratamos de características dos átomos e ligações químicas, um aspecto comum é a existência de um equilíbrio entre as forças de atração e repulsão entre cargas negativas e positivas de prótons, elétrons e íons. FIGURA 11 – LIGAÇÃO METÁLICA FONTE: Callister (2007) UNIDADE 1 TÓPICO 2 23 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S 4 LIgAções seCundÁRIAs Vimos anteriormente que nas ligações iônicas, os átomos doadores e receptores de elétrons adquirem caráter positivo e negativo. Se considerarmos uma molécula, como, por exemplo, a do HF (fluoreto de hidrogênio), cuja ligação é de caráter iônico, podemos constatar que a extremidade que contém o H apresenta caráter positivo, enquanto a extremidade de F apresenta caráter negativo. Quando aproximamos duas moléculas de HF, o H positivo de uma das moléculas é atraído pelo F negativo da outra molécula. Temos nesse caso um exemplo de força de ligação secundária, do tipo ponte de hidrogênio (conforme a figura a seguir). As ligações secundárias surgem quando existe uma separação entre a parte positiva e negativa das moléculas ou átomos, gerando uma atração entre as partes de carga contrária. Normalmente esse tipo de ligação apresenta energia de ligação bem inferior ao das ligações primárias. FIGURA 12 – LIGAÇÃO SECUNDÁRIA DO TIPO PONTE DE HIDROGÊNIO FONTE: Callister (2007) 5 TIPOs de LIgAções PRedOmInAnTes em meTAIs, CeRÂmICAs e POLímeROs Como abordamos nos itens anteriores, podem existir nos materiais sólidos ligações primárias, mais fortes, e secundárias, mais fracas. As ligações primárias são classificadas em iônica, covalente ou metálica, e as secundárias podem ser de vários tipos, sendo mais comuns nos materiais sólidos as do tipo ponte de hidrogênio e de Van der Waals. As ligações iônicas são predominantes em materiais cerâmicos, como, por exemplo, nas cerâmicas óxidas (vidro, porcelana, alumina, dentre outras). A alumina (Al2O3), por exemplo, é composta por átomos metálicos (Al) e não metálicos (O), combinação que é característica desse tipo de ligação. A energia de ligação iônica, e por consequência da maioria dos materiais cerâmicos, tende a ser bastante elevada. Portanto, podemos imaginar que é necessária uma elevada energia para separar esses átomos. UNIDADE 1TÓPICO 224 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S Se compararmos a energia de ligação desses átomos com o ponto de fusão desses materiais, constataremos que, como podemos ver no quadro a seguir, existe uma relação interessante: energias de ligação mais elevada implicam em ponto de fusão mais elevado. Não é coincidência que os materiais cerâmicos apresentam normalmente elevado ponto de fusão, e são, em alguns casos, utilizados para revestir fornos onde são fundidas ligas metálicas, cuja temperatura de fusão é menor. Tipo de ligação substância energia de ligação Temperatura de fusão (ºC)kJ/mol eV/átomo, Ìon, molécula Iônica naCl 640 3,3 801 Covalente C (diamante) 713 7,4 >3550 metálica fe 406 4,2 1538 Van der Waals Cl2 31 0,32 -101 Hidrogênio H2O 51 0,52 0 QUADRO 1 – PONTO DE FUSÃO E ENERGIA DE LIGAÇÃO FONTE: Callister (2007) A elevada energia de ligação nas cerâmicas também implica em uma elevada rigidez do material, ou seja, é necessário aplicar forças elevadas para deformar esses tipos de materiais. De fato, os materiais cerâmicos poderiam ser referência em termos de resistência mecânica, porém outros fatores acabam por limitar a sua confiabilidade em aplicações mecânicas, como será abordado nos tópicos posteriores. Os materiais poliméricos apresentam como base ligações químicas do tipo C-H e C=C, que são do tipo covalente. Essas são ligações primárias, porém, nesse caso, não conseguimos obter uma correlação direta desses valores com a temperatura de fusão dos materiais poliméricos. Os polímeros em geral são processados em baixas temperaturas, em processos como o de injeção, onde as temperaturas são geralmente em torno de 200°C. Para entendermos essa discrepância, precisamos entender que a estrutura de arranjo dos átomos nos polímeros é em forma de longas cadeias. Os átomos nessas cadeias apresentam uma energia de ligação elevada (ligações primárias), porém, a energia que inibe a deformação dessas cadeias é originada das forças secundárias existentes entre estas cadeias, que são de baixa magnitude. Esse comportamento também explica a relativa facilidade de deformarmos esse tipode material. UNIDADE 1 TÓPICO 2 25 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S UNI A título de visualização, podemos imaginar a estrutura de cadeias dos materiais poliméricos de forma semelhante à de um prato de espaguete. Considere que cada fio do macarrão corresponde a uma cadeia do polímero que, por conseguinte, é composta de inúmeras ligações químicas contendo C e H, primárias, covalentes, e relativamente rígidas. Para quebrarmos um fio de macarrão é necessária determinada força. Porém, para movimentarmos os fios de macarrão entre si, a força necessária é bem menor. Na maioria dos polímeros (nesse caso, mais especificamente tratamos dos termopláticos), o agrupamento dessas cadeias é mantido pelas forças secundárias. Nos metais temos predominantemente ligações metálicas, onde os elétrons de valência não estão ligados a átomos específicos, formando uma nuvem eletrônica chamada de elétrons livres. Os metais apresentam pontos de fusão variados, dependendo da sua energia de ligação. Os elétrons livres são responsáveis pela capacidade de conduzir elétrons, característica importante dos materiais metálicos, enquanto a falta de mobilidade dos elétrons nos materiais poliméricos e cerâmicos os torna intrinsecamente isolantes. Outras propriedades dos materiais metálicos irão se relacionar com a energia de ligação e o tipo de ligação, embora a estrutura de arranjo atômico seja, em grande parcela, determinante dessas características, como veremos no tópico a seguir. UNIDADE 1TÓPICO 226 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S ResumO dO TÓPICO 2 neste tópico estudamos as ligações químicas dos materiais. A seguir apresentamos um resumo dos principais pontos abordados: • A ligação entre os átomos no material é função do equilíbrio entre as energias de atração e repulsão. • Em função dos átomos envolvidos, diferentes tipos de ligação primária podem ocorrer: metálica, iônica ou covalente. Essas ligações apresentam características e energia de ligações específicas, que determinam as propriedades das diferentes classes dos materiais. • As propriedades físicas dos materiais poliméricos dependem fortemente das características das suas ligações secundárias. UNIDADE 1 TÓPICO 2 27 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S AUT OAT IVID ADE � Caro(a) acadêmico(a), para melhor fixar o conteúdo da unidade, sugerimos que desenvolva as seguintes atividades: 1 Descreva com suas palavras a origem da energia de ligação entre os átomos. 2 Descreva quais são os tipos de ligação entre átomos. 3 Quais os tipos de ligação predominantes em cada classe de materiais? 4 Qual a relação entre o ponto de fusão e a magnitude da energia de ligação? UNIDADE 1TÓPICO 228 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S TIPOs de esTRuTuRA CRIsTALInA 1 InTROduçÃO TÓPICO 3 unIdAde 1 Compreendemos no tópico anterior que o tipo de ligação dos átomos e a energia de ligação química são características importantes para classificarmos e entendermos o comportamento dos materiais. No entanto, essas informações são insuficientes para entendermos completamente as suas propriedades macroscópicas. Nesse tópico estudaremos como os átomos se arranjam na estrutura dos sólidos, e como esse arranjo atômico pode ser determinante no comportamento dos mesmos. 2 esTRuTuRAs TíPICAs dOs meTAIs Os metais, caracterizados pela ligação metálica, apresentam, na maioria dos casos, estruturas de arranjo atômico relativamente simples e de elevada simetria. Esse comportamento se deve ao fato de a ligação metálica ser não direcional, o que implica em elevado número de átomos vizinhos. Esse elevado número de átomos vizinhos resulta em um grande empacotamento de átomos, o que culmina nos altos valores de densidade observados na prática nos materiais metálicos, quando comparados aos polímeros e cerâmicas. Um material metálico apresenta inúmeros átomos ligados entre si. Se analisarmos essa estrutura mais de perto, poderemos constatar que ela consiste em um arranjo de átomos que se repete indefinidamente pelo material. A essa pequena porção ou agrupamento de átomos, que representa o arranjo atômico do material, dá-se o nome de célula unitária. Na prática, o material é constituído pelo agrupamento desses pequenos “tijolos”. UNIDADE 1TÓPICO 330 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S Como sabemos, os diferentes átomos metálicos apresentam raios iônicos e distâncias interatômicas diferentes. O número de átomos vizinhos também será função do número de ligações necessárias para formar uma estrutura estável. Dessa forma, temos células unitárias diferentes, cujos tamanhos e densidades também irão depender desses fatores. A seguir estudaremos os tipos de célula unitárias mais comuns nos metais. 2.1 CÚBICA DE FACES CENTRADAS A estrutura cúbica de faces centradas (CFC) é apresentada na figura a seguir. Essa estrutura é típica de muitos metais comerciais, como, por exemplo, o alumínio, o chumbo e o ouro. As estruturas cúbicas, obviamente, contêm arestas de igual comprimento. No caso da estrutura CFC, quatro átomos ocupam as arestas, e seis átomos ficam localizados em cada face do cubo. Se pensarmos somente na fração dos átomos que ocupam o interior do cubo, podemos fazer algumas observações importantes a respeito dessa estrutura: • O número de coordenação, ou seja, o número de átomos que estão ligados a cada um dos átomos, é 12. Para visualizarmos isso, basta observarmos o átomo da face frontal: ele faz ligação com os quatro átomos dos vértices de sua respectiva face, com quatro átomos que estão nas faces de sua célula unitária, e mais quatro átomos das faces da célula unitária que se posiciona à frente da célula unitária mostrada na figura. • Se conhecermos o raio atômico do átomo que estamos estudando, podemos geometricamente calcular o comprimento da aresta do cubo (a). De posse desse valor, podemos calcular o volume da célula unitária (a3). • Podemos obter o número de átomos contidos em uma célula unitária. Cada átomo da face pertence a duas outras células unitárias adjacentes, e cada átomo da aresta pertence a quatro outras células unitárias. Assim, cada átomo da face contribui com ½ átomo, e cada átomo da aresta contribui com ¼ de átomo por célula. De posse dessa informação é simples calcularmos quantos átomos há em cada célula unitária CFC. • Se soubermos quantos átomos existem em cada célula e a massa de cada átomo de um determinado material, podemos calcular a massa de uma célula unitária; • Se calcularmos o volume da célula unitária e sua massa, podemos obter a sua densidade. Podemos obter também o percentual de ocupação dos átomos nessa célula, ou fator de empacotamento atômico (FEA). UNIDADE 1 TÓPICO 3 31 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S FIGURA 13 – CÉLULA UNITÁRIA DO TIPO CFC FONTE: Callister (2007) Exemplo: Tomemos como exemplo a célula unitária do chumbo (Pb), que apresenta raio atômico de 0,175 x 10-9 m. a) Cálculo do comprimento da aresta (a). ● Observe a face frontal da célula unitária do tipo CFC (figura 14, a seguir). Podemos traçar um triângulo retângulo que compreende duas arestas; ● Podemos constatar que a hipotenusa desse triângulo tem o comprimento de 4 raios iônicos (r). Ou seja, temos que h2=a2+a2. onde h é a hipotenusa e a é a corresponde a aresta do cubo. ● Seh=4r, temos: UNIDADE 1TÓPICO 332 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S FIGURA 14 – CÉLULA UNITÁRIA CFC, INDICANDO AS RELAÇÕES GEOMÉTRICAS FONTE: Callister (2007) b) Cálculo do volume da célula unitária: c) Cálculo da massa da célula unitária: Onde: Mc = Massa dos átomos por célula unitária (g) A = Massa atômica (g/mol) n = Número de átomos no interior da célula unitária A = Número de Avogadro (6,023 X 1023 átomos/mol) Assim, para o caso do chumbo temos: UNIDADE 1 TÓPICO 3 33 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S d) Cálculo da densidade da célula unitária: Onde: ρ = Densidade da célula unitária (g/cm3) Mc= Massa da célula unitária (g) V = Volume da célula unitária (cm3) Para o chumbo, temos: A densidade do chumbo comercial é de 11,34 g/cm3. Portanto, podemos ter uma boa aproximação da densidade do material a partir de dados de sua estrutura cristalina e das características de seus átomos. e) Cálculo do fator de empacotamento: O fator de empacotamento atômico (FEA) é calculado pela razão entre o volume dos átomos que ocupam a célula unitária e o volume da célula. Para o caso da CFC, temos: O que na prática indica que 74% da célula unitária é ocupada por átomos, e 26% são vazios. 2.2 CÚBICA DE CORPO CENTRADO A estrutura do tipo cúbica de corpo centrado (CCC) é típica dos materiais ferrosos (aços, ferros fundidos) em temperatura ambiente. Diferentemente da estrutura CFC, os átomos das faces UNIDADE 1TÓPICO 334 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S do cubo são substituídos por um átomo do centro do cubo. Dessa forma, em cada célula unitária temos dois átomos, um no centro, e ¼ de átomo em cada aresta (vejam a figura a seguir). FIGURA 15 – CÉLULA UNITÁRIA DO TIPO CÚBICA DO CORPO CENTRADO (CCC) FONTE: Callister (2007) O número de coordenação para a estrutura CCC é 8, que é inferior ao da CFC. Dessa forma o fator de empacotamento é menor: 0,68. A aresta da célula CCC é obtida a partir do raio atômico pela equação: UNI A aresta da face do cubo de uma célula CCC, volume da célula e fator de empacotamento podem ser deduzidos de forma semelhante ao apresentado anteriormente para a célula do tipo CFC. Para isso precisamos compreender que, na estrutura CCC, existe um triângulo retângulo onde a hipotenusa é uma das diagonais internas do cubo, e que esta apresenta comprimento igual a 4r. 2.3 HEXAGONAL COMPACTA Alguns metais, como o zinco, cádmio, magnésio e titânio, apresentam estrutura do tipo hexagonal compacta (figura a seguir). A estrutura hexagonal compacta é composta por três planos: dois conjuntos de seis UNIDADE 1 TÓPICO 3 35 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S átomos que se arranjam na forma de um hexágono, apresentando um átomo adicional no centro deste, e um plano contendo três átomos, que se localiza entre os dos conjuntos hexagonais. No interior dessa estrutura se concentra o equivalente a seis átomos: • 1/6 de átomo em cada um dos 12 vértices da estrutura; • Cada um dos dois átomos nos centros dos hexágonos contribui com ½ átomo; • Os três átomos do plano intermediário estão completamente inseridos na estrutura, contabilizando três átomos para o nosso cálculo. Como a estrutura não é cúbica, neste caso se caracteriza a sua relação geométrica pela razão c/a (conforme figura a seguir). Essa razão é adimensional e corresponde a 1,633, no entanto, para alguns materiais, a estrutura apresenta diferenças nesse valor. O número de coordenação é 12 e o fator de empacotamento atômico (FEA) é 0,74, de forma idêntica ao apresentado pela estrutura do tipo CFC. Estes valores podem também ser geometricamente calculados. FIGURA 16 – CÉLULA UNITÁRIA DO TIPO HEXAGONAL COMPACTA FONTE: Callister (2007) 3 esTRuTuRAs CRIsTALInAs de mATeRIAIs CeRÂmICOs Diferentemente dos metais, o materiais cerâmicos, com poucas exceções, são compostos por dois ou mais elementos químicos. Esses átomos apresentam raios atômicos muitas vezes bastante diferentes entre si, resultando em estruturas mais complexas que as dos metais. Devemos lembrar também que nas ligações iônicas os átomos devem ser considerados como cátions e ânions, com carga positiva e negativa. As magnitudes dessas cargas e tamanho dos ânions envolvidos irão determinar a forma como estes átomos irão se arranjar no sólido. UNIDADE 1TÓPICO 336 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S O número de coordenação irá depender da razão entre os raios iônicos do cátion e do ânion (rc/ra). Quanto menor a diferença entre os raios dos íons (ou seja, para razões rc/ra mais próximas de 1), maior tende a ser o número de coordenação para a formação de uma estrutura estável. Os materiais cerâmicos apresentam tipicamente número de coordenação de 4, 6 e 8. Isso acontece porque, para que a estrutura seja estável, é necessário que haja contato entre o cátion e os ânions (figura a seguir). Se a diferença entre os raios for muito grande, a única forma que permite que os átomos estejam em contato é de número de coordenação 2. Diferenças menores entre esses raios permitem que mais átomos possam ser agrupados, mantendo a condição de que estes estejam em contato, e a estrutura seja estável. FIGURA 17 – COORDENAÇÃO ÂNIONS E CÁTIONS FONTE: Callister (2007) UNI Podemos fazer um contraponto interessante ao que foi abordado no item anterior: Nos metais puros, a relação entre os raios dos átomos vizinhos é igual a 1 (o raio dos átomos é igual). Por esse motivo, as estruturas dos metais tendem a ser mais compactas. Estas estruturas apresentam maior número de coordenação e, consequentemente, maior fator de empacotamento. Nos materiais cerâmicos temos átomos com raios iônicos diferentes, o que restringe o empacotamento. Essa restrição é tão maior quanto maior for a diferença entre os raios iônicos. Embora alguns materiais cerâmicos possam ser caracterizados em estruturas cúbicas semelhantes à CFC (NaCl, MgO, MnS, dentre outros), os materiais mais comuns utilizados na engenharia de produtos são à base de silicato. Os silicatos apresentam arranjos pouco densos, mais complexos que os apresentados pelos metais. A sílica (SiO2), estrutura mais simples dos silicatos, pode se apresentar em três formas polimórficas diferentes: quartzo, tridimita e cristobalita, e é composta por tetraedros contendo um átomo de Si cercado por 4 átomos de O. Esses tetraedros apresentam carga negativa -4. UNIDADE 1 TÓPICO 3 37 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S FIGURA 18 – CÉLULA UNITÁRIA DA TRIDIMITA FONTE: Callister (2007) Os tetraedros SiO4 -4 podem formar redes unidimensionais, bidimensionais e tridimensionais. Essas estruturas apresentam elevada energia de ligação, em função das fortes ligações Si-O, o que justifica a sua elevada temperatura de fusão (1710°C). A maioria das cerâmicas tradicionais é composta por silicatos, tais como o quartzo (SiO2) e as argilas (xAl2O3.ySiO2.zH2O), estas últimas apresentando estruturas mais complexas. 4 esTRuTuRAs mOLeCuLARes de POLímeROs Quando tratamos de arranjo atômico de polímeros, é mais comum analisarmos a sua estrutura molecular. De fato, assim como nos metais e cerâmicas, esse arranjo também pode ser descrito por uma unidade que se repete no material, o mero. O mero é caracterizado por um conjunto de átomos ligados entre si, que representam a menor unidade que se repete dentro do material, formando o polímero. A união de uma grande quantidade de meros formaa molécula do polímero, que é muito mais longa quando comparada a uma célula unitária de um material metálico, por exemplo. As características dos polímeros irão depender fortemente da forma como estão ligados e arranjados os átomos no mero (C e H) e da presença de outros tipos de átomos e suas quantidades (Cl, O, S, F). UNIDADE 1TÓPICO 338 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S FIGURA 19 – ESTRUTURA MOLECULAR DE UM POLÍMERO FONTE: Newell (2010) A figura a seguir mostra alguns meros que caracterizam alguns polímeros comerciais. FIGURA 20 – MEROS DE POLÍMEROS COMERCIAIS UNIDADE 1 TÓPICO 3 39 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S FONTE: Callister (2007) É interessante observar que a presença de átomos como o Cl e o F alteram significativamente as propriedades do polímero, embora a estrutura base do monômero seja semelhante. Tomemos como exemplo o caso do polietileno (embalagens e recipientes domésticos), que é obtido pela polimerização do etileno, que está no estado gasoso em temperatura ambiente e pressão atmosférica. A substituição de um dos H por um átomo de Cl gera o monômero do cloreto de polivinila (PVC), que apresenta propriedades mecânicas e de resistência a intempéries bastante diferenciadas, sendo muito utilizado em tubulações hidráulicas. Já a substituição dos átomos de H por F gera o politetrafluoretileno, PTFE, ou ainda comumente tratado pelo seu nome comercial (Teflon®), que apresenta resistência à temperatura, abrasão e características autolimpantes que permitem que possamos, por exemplo, revestir panelas e frigideiras de forma a facilitar a sua limpeza. UNIDADE 1TÓPICO 340 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S neste tópico estudamos os tipos de estrutura cristalina dos materiais. A seguir apresentamos um resumo dos principais pontos abordados: • Nos materiais cristalinos (que apresentam ordenação de átomos de longo alcance), essa ordenação pode ser descrita por uma unidade da estrutura cristalina, chamada de célula unitária. • Muitos materiais metálicos podem apresentar estruturas cristalinas do tipo cúbica do tipo CCC, CFC, e menos frequentemente, HC. • A partir do conhecimento do raio atômico e tipo de estrutura cristalina, algumas propriedades macroscópicas dos materiais podem ser obtidas. • Em materiais cerâmicos, a estrutura e número de coordenação irão depender fortemente da relação entre os raios iônicos do íon e do cátion. Esses materiais geralmente apresentam estruturas menos simétricas que os metais. • Os materiais poliméricos, que apresentam cadeias de longo comprimento, são melhores descritos pela sua unidade de repetição, chamada de mero. ResumO dO TÓPICO 3 UNIDADE 1 TÓPICO 3 41 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S AUT OAT IVID ADE � Caro(a) acadêmico(a), para melhor fixar o conteúdo da unidade, sugerimos que desenvolva as seguintes atividades: 1 Defina célula unitária. 2 Determine o parâmetro de rede a de uma célula unitária do tipo CCC em função do raio atômico. UNIDADE 1TÓPICO 342 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S CRIsTALInIdAde dOs mATeRIAIs 1 InTROduçÃO TÓPICO 4 unIdAde 1 Vimos nos tópicos anteriores que algumas propriedades dos materiais têm relação direta com as características das ligações químicas. Constatamos também que somente estas características não são suficientes para explicar as propriedades macroscópicas desses materiais: o tipo de estrutura cristalina ou arranjo espacial destes átomos está ligado às diferentes propriedades de um sólido. Neste tópico serão abordados alguns aspectos relacionados à cristalinidade dos materiais, ou seja, como as células unitárias ou moléculas são organizadas, e como esse nível de organização pode afetar as propriedades de um determinado material. 2 mATeRIAIs mOnOCRIsTALInOs Quando falamos anteriormente sobre a estrutura dos materiais, verificamos que alguns apresentam um arranjo atômico, os quais caracterizaram pela célula unitária, que é a menor unidade que se repete indefinidamente no material. Suponham que estamos em um estado inicial onde a temperatura de um determinado material está acima da sua temperatura de fusão, e temos um líquido de composição química homogênea. Nessa condição os átomos não estão ligados por forças primárias. Ao resfriarmos esse material lentamente, um núcleo de material sólido começa a se formar. Nesse núcleo os átomos estão se ligando entre si de forma ordenada, de acordo com o arranjo descrito em sua célula unitária. Várias células unitárias vão sendo formadas nesse núcleo, de forma ordenada, até a solidificação de todo o líquido. Dessa forma, teremos ao final UNIDADE 1TÓPICO 444 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S do processo um único cristal, que é composto por inúmeras células unitárias ordenadas, ou seja, um monocristal. No caso descrito, como acontece naturalmente na formação de algumas pedras preciosas, a forma do cristal apresenta características geométricas que estão ligadas à geometria da própria célula unitária. Ao fraturarmos esse material, a ruptura irá ocorrer de acordo com determinado plano das células unitárias alinhadas, gerando uma superfície bastante regular. Um monocristal pode ser obtido artificialmente, embora as condições de processamento sejam extremamente importantes, e devem ser cuidadosamente controladas. É o caso dos monocristais de silício, que apresentam propriedades semicondutoras específicas, e são empregados na indústria eletrônica. FIGURA 21 – MONOCRISTAL DE GRANADA FONTE: Callister (2007) 3 mATeRIAIs POLICRIsTALInOs A grande maioria dos materiais cristalinos é composta por um grande número de cristais, sendo chamados de policristalinos. Quando resfriamos um material a partir do líquido, normalmente ocorre a formação de diversos núcleos de material sólido, que crescem de forma ordenada, formados a partir de várias células unitárias (conforme figura 22A). Em um determinado estágio da solidificação, esses cristais irão se tocar (figura 22B). No entanto, a interface entre os dois cristais ou grãos não é perfeita, em função das orientações diferentes das células unitárias de cada cristal, devido ao seu crescimento independente. A interface entre esses cristais é denominada contorno de grão (Figuras 22C e 22D). UNIDADE 1 TÓPICO 4 45 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S FIGURA 22 – SOLIDIFICAÇÃO POLICRISTALINA FONTE: Callister (2007) Os contornos de grão podem ser considerados defeitos, pois nesses pontos existem ligações incompletas. UNI Se hipoteticamente pudéssemos construir duas vigas: uma de alumínio monocristalino e outra de alumínio policristalino, qual delas vocês esperam que seja mais resistente? 4 mATeRIAIs AmORfOs Um material cristalino (monocristalino ou policristalino) é aquele que apresenta uma ordenação atômica de longo alcance. No caso dos materiais cerâmicos e metálicos, por exemplo, essa condição é preenchida pela ordenação de células unitárias em cristais de grande tamanho quando comparados a essas células. UNIDADE 1TÓPICO 446 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S Porém, em muitos materiais sólidos, a estrutura não apresenta uma ordenação característica e de longo alcance. Vimosanteriormente que a sílica (SiO2) pode se apresentar em três formas cristalinas: quartzo, tridimita e cristobalita. Além das formas cristalinas citadas, a sílica também pode existir no estado amorfo. A figura a seguir mostra um esquema bidimensional da sílica cristalina e da sílica amorfa. Os tetraedros da sílica amorfa formam uma estrutura irregular, enquanto a estrutura da sílica cristalina se apresenta mais ordenada. FIGURA 23 – SÍLICA CRISTALINA (À ESQUERDA) E AMORFA (À DIREITA) FONTE: Callister (2007) Alguns materiais, em função das suas características químicas, têm maior dificuldade em apresentar uma ordenação atômica de longo alcance, resultando em materiais amorfos em condições de processamento usuais. Além disso, a velocidade de resfriamento de um material a partir do estado líquido tem grande influência na sua cristalinidade: se um material sólido tipicamente cristalino (por exemplo, o Fe) for resfriado a partir do estado líquido de forma muito brusca, pode não haver tempo para o arranjo dos átomos de forma ordenada, resultando em um material não cristalino ou amorfo. É possível obter materiais amorfos a partir da solidificação controlada de materiais tipicamente cristalinos. 5 mATeRIAIs semICRIsTALInOs Alguns materiais apresentam características tanto de materiais cristalinos como de materiais amorfos. É o caso de vários tipos de polímeros. Os materiais semicristalinos são caracterizados por regiões bem definidas, contendo uma ordenação atômica ou molecular, caracterizando uma fração cristalina, e uma fração amorfa. Os materiais poliméricos, que são constituídos por moléculas grandes, irão naturalmente apresentar restrições para o arranjo ordenado dessas moléculas. Nesses casos normalmente UNIDADE 1 TÓPICO 4 47 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S encontramos uma estrutura mista, parte cristalina e parte amorfa. Polímeros que são obtidos a partir da conformação de uma massa fundida, como é o caso do polietileno, polipropileno, PVC, dentre outros, tendem a ser constituídos por cristalitos. Os cristalitos são compostos por regiões cristalinas intercaladas por regiões amorfas, que podem ser comparadas aos contornos de grão presentes nos materiais metálicos. A figura a seguir mostra um esquema de um cristalito. FIGURA 24 – CRISTALITO FONTE: Callister (2007) IMP OR TAN TE! � Alguns materiais tendem a adquirir uma configuração cristalina, enquanto outros se apresentam normalmente amorfos, em função de características de ligação química, tamanho das moléculas envolvidas, o que dita a dificuldade ou facilidade em gerar arranjos ordenados de longo alcance. Materiais tipicamente cristalinos podem se tornar amorfos se a velocidade de resfriamento a partir do líquido for suficientemente elevada. UNIDADE 1TÓPICO 448 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S neste tópico estudamos a cristalinidade dos materiais. A seguir apresentamos um resumo dos principais pontos abordados: • Os materiais podem ser classificados como cristalinos (policristalinos ou monocristalinos), amorfos ou semicristalinos. • Os materiais semicristalinos apresentam regiões cristalinas intercaladas com regiões amorfas. Este é o caso de alguns polímeros e materiais vitrocerâmicos. • Os materiais monocristalinos ocorrem em situações específicas e podem ser obtidos sob estreito controle do processo de fabricação. Esses materiais têm aplicações eletrônicas. • Um material pode ser intrinsecamente amorfo. Alguns materiais cristalinos podem se apresentar amorfos, sendo que para isto faz-se necessário um resfriamento rápido o suficiente para inibir o arranjo ordenado dos átomos na solidificação. ResumO dO TÓPICO 4 UNIDADE 1 TÓPICO 4 49 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S AUT OAT IVID ADE � Caro(a) acadêmico(a), para melhor fixar o conteúdo da unidade, sugerimos que desenvolva as seguintes atividades: 1 O que é um monocristal? Qual a utilidade de materiais monocristalinos? 2 Diferencie um material monocristalino de um material policristalino. 3 Defina material amorfo. UNIDADE 1TÓPICO 450 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S defeITOs dA esTRuTuRA CRIsTALInA 1 InTROduçÃO TÓPICO 5 unIdAde 1 Nos tópicos anteriores compreendemos que os átomos em um material sólido tendem a se organizar em padrões que se repetem, em forma de células unitárias ou moléculas. Os materiais apresentam, no entanto, imperfeições de diversas naturezas, as quais podem ser originadas no processo de cristalização ou pela deformação do componente. De fato, a grande maioria dos materiais apresenta algum tipo de imperfeição, em maior ou menor quantidade, sendo estas responsáveis pela diferença de propriedades dos mesmos em relação ao que poderíamos calcular a partir de suas características atômicas e arranjo geométrico. Neste tópico vamos discutir os principais tipos de defeitos, os seus mecanismos de surgimento, deslocamento no material sólido e sua implicação nas propriedades. 2 defeITOs POnTuAIs Os átomos em um material sólido encontram-se, em temperatura ambiente, em movimento vibracional de elevada frequência (da ordem de 1013 vibrações por segundo) e amplitude de poucos milésimos de nanômetro. O aumento da temperatura de um material implica no aumento da vibração desses átomos. Na temperatura de fusão essas vibrações são tão elevadas que culminam na ruptura das ligações. As lacunas são um tipo de defeito pontual que consiste na ausência de um átomo na estrutura. Na prática, os materiais sempre irão apresentar lacunas, visto que a presença de lacunas aumenta a entropia (aleatoriedade do cristal), e este é um dos princípios da UNIDADE 1TÓPICO 552 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S termodinâmica. Conforme aumentamos a temperatura, o número de lacunas aumenta exponencialmente, de acordo com a expressão: N é o número total de sítios atômicos, Qv é a energia total para a formação de uma lacuna, k é constante de Boltzmann e T a temperatura absoluta em Kelvin (K). Para um material onde a temperatura está muito próxima da temperatura de fusão, a razão Nv/N é de 10 -4, o que na prática indica que existe uma lacuna para cada 10000 sítios preenchidos por átomos. Além das lacunas, existem aleatoriamente no material defeitos chamados de autointersticiais. Nesse tipo de defeito, um átomo se encontra comprimido em um espaço intersticial dentro da estrutura cristalina, gerando uma distorção da rede na vizinhança do defeito. A figura a seguir mostra esquematicamente um defeito do tipo autointersticial e um defeito do tipo lacuna. FIGURA 25 – AUTOINTERSTICIAL E LACUNA FONTE: Callister (2007) 3 ImPuReZAs Assim como a presença de lacunas, em materiais sólidos sempre existe uma quantidade de impurezas ou átomos estranhos na rede cristalina. De fato, a maioria dos UNIDADE 1 TÓPICO 5 53 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S metais comerciais apresenta quantidades consideráveis de átomos diferentes de impureza, muitas vezes adicionados de forma proposital, com o intuito de se obter propriedades específicas. Existem dois tipos de impureza: substitucional e intersticial, que se caracterizam pela diferença entre o raio atômico do material solvente (aquele que se apresenta em maior quantidade). Quando a diferença entre o raio atômico do solvente e do soluto é pequena, a impurezatende a ser substitucional. Nesse caso, parte dos átomos do solvente é substituída pelo átomo do soluto, criando uma solução sólida. Além da diferença entre os raios atômicos, a quantidade de soluto que pode ser incorporada na solução irá depender de alguns fatores: equivalência de estrutura cristalina e eletronegatividade. Se as propriedades dos dois átomos forem próximas, em alguns casos a solubilidade pode ser de até 100%. O cobre e o níquel são exemplos de átomos que formam soluções sólidas substitucionais totais. Os seus raios atômicos são, respectivamente, 0,128 e 0,125 nm; ambos possuem estrutura cristalina CFC, o que implica no mesmo formato de arranjo dos átomos e mesmo número de coordenação; suas eletronegatividades são, respectivamente, 1,9 e 1,8. As impurezas do tipo intersticial ocorrem quando átomos são solubilizados na estrutura do solvente, não por substituição, mas pelo alojamento desses átomos estranhos nos interstícios da rede cristalina. Sabemos que a estrutura cristalina do ferro (Fe) é do tipo CCC em temperatura ambiente, e que entre os átomos de ferro existem pequenos vazios que podem ser preenchidos por átomos menores, como é o caso do carbono (C). No entanto, a solubilidade do tipo intersticial é mais limitada que a do tipo substitucional, pois as estruturas dos metais tendem a apresentar um elevado empacotamento, resultando em espaços intersticiais reduzidos, normalmente menores do que o raio atômico dos átomos do soluto. Essa solubilidade geralmente é da ordem de 10%. Como o raio do interstício é geralmente menor que o raio atômico do soluto, a presença destes átomos tende a distorcer a rede, alterando a propriedade do material. Este é o caso dos aços e ferros fundidos, onde existem concentrações de C no Fe, bem como outros elementos de liga em solução sólida intersticial, que modificam a dureza, resistência mecânica e demais propriedades, conforme será discutido no próximo tópico. A figura a seguir mostra esquematicamente a presença de impureza substitucional e intersticial. UNIDADE 1TÓPICO 554 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S FIGURA 26 – TIPOS DE IMPUREZA FONTE: Callister (2007) 4 dIsCORdÂnCIAs Uma discordância consiste em um defeito onde localmente alguns dos átomos estão fora de alinhamento. As discordâncias podem ser de três tipos: linear, espiral ou mista (combinação de linear com espiral). A figura a seguir mostra esquematicamente uma discordância do tipo linear. FIGURA 27 – DISCORDÂNCIA DO TIPO LINEAR FONTE: Callister (2007) UNIDADE 1 TÓPICO 5 55 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S Uma discordância do tipo linear consiste na presença de um semiplano extra na rede. A linha que se estende ao longo deste semiplano é chamada de linha da discordância. Uma discordância em hélice consiste em um corte e um deslocamento da rede em uma distância correspondente a um espaçamento atômico. Já uma discordância mista ocorre quando temos os dois tipos de discordância citados em uma região onde não é possível fazer distinção entre ambas. As discordâncias podem se movimentar dentro do material na presença de uma energia mecânica. De fato, isso ocorre nos materiais metálicos, onde as características da rede cristalina permitem essa movimentação e, como veremos a seguir, são responsáveis por algumas características típicas desse tipo de material. 5 sIsTemAs de esCORRegAmenTO Para que haja a movimentação de uma discordância dentro do material, algumas características devem ser observadas: • Proximidade dos átomos: Para a movimentação das discordâncias deve haver o rompimento das ligações de um conjunto de átomos e a formação de nova ligação desses átomos que se movimentaram. Portanto, quanto maior a distância entre os planos de átomos, maior a barreira energética a ser vencida para o deslocamento da discordância. • Ligações covalentes: Como o movimento da discordância requer ruptura de ligações, o tipo de ligação e sua energia influenciam na facilidade ou dificuldade do movimento da discordância no material. Nos materiais poliméricos, as fortes ligações de carbono, covalentes, impedem a movimentação das discordâncias. • Ligações iônicas: Nos materiais cerâmicos, a diferença de carga entre os cátions e ânions faz com que haja uma repulsão e restrição ao movimento dos átomos quando átomos de mesma carga tendem a se aproximar. O movimento das discordâncias tende a ocorrer de acordo com sistemas de escorregamento específicos, diferentes para cada tipo de estrutura cristalina. Como vimos anteriormente, a movimentação das discordâncias é facilitada pela proximidade dos átomos. Nas diferentes estruturas cristalinas (CFC, CCC, HC), temos determinados planos que apresentam maior densidade de átomos. Da mesma forma, esses planos apresentam direções onde, linearmente, existe maior concentração de átomos. A combinação entre planos compactos e direções compactas gera sistemas de escorregamento, que indicam direções preferenciais para a movimentação das discordâncias, onde a energia gasta para essa movimentação é menor. UNIDADE 1TÓPICO 556 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S Quando tracionamos uma barra de aço, em temperatura ambiente, existe uma tensão aplicada na qual o material se deforma e, mesmo se retirarmos essa carga, o material permanece deformado permanentemente. A essa tensão damos o nome de limite de escoamento (σy), que é um parâmetro muito utilizado no cálculo de engenharia de componentes mecânicos. Em termos de discordâncias, essa tensão corresponde ao início da sua movimentação. De fato, a barra não irá se deformar somente quando houver a ruptura das ligações químicas, mas sim quando houver o movimento das discordâncias, o que implica em uma tensão mecânica muito mais baixa. Se essa barra de aço fosse um monocristal, as discordâncias poderiam se movimentar por todo o material, e a direção do movimento se daria de acordo com os sistemas de escorregamento da estrutura CCC. O movimento das discordâncias geraria o deslizamento paralelo dos planos compactos (veja figura a seguir). Um material pode ter vários sistemas de escorregamento, cada um com uma tensão crítica para o movimento das discordâncias. À medida que vamos aumentando a tensão aplicada no material, os sistemas de escorregamento vão sendo ativados, e as discordâncias nos respectivos planos vão sendo movimentadas. FIGURA 28 – TRAÇÃO DE UMA BARRA DE MONOCRISTAL FONTE: Newell (2010) UNIDADE 1 TÓPICO 5 57 C I Ê N C I A E P R O P R I E D A D E D O S M A T E R I A I S O quadro a seguir mostra os planos e direções de escorregamento para as estruturas cristalinas mais comuns entre os materiais metálicos. Tipo de rede Planos de deslizamento direção de deslizamento CCC (1 1 0) (1 1 1) (1 1 2) (1 2 3) CfC (1 1 1) (1 1 0) HC (0 0 0 1) (1 0 0) QUADRO 2 – PLANOS E DIREÇÕES DE ESCORREGAMENTO FONTE: Newell (2010) UNI Uma apresentação sobre a identificação dos planos e direções nas estruturas cristalinas pode ser encontrada no item 3.8, p. 26 do livro Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução (CALLISTER, 2002). 6 COnTORnOs de gRÃOs Vimos anteriormente que, em um monocristal, o movimento das discordâncias ocorre em todo o material. No entanto, os materiais comerciais são policristalinos, ou seja, são compostos por vários cristais que nuclearam e cresceram a partir de um líquido resfriado. É válido então supormos que os planos e direções compactas estão orientados de forma diferente em cada cristal. No local onde os cristais se tocam, existem ligações químicas incompletas, consistindo em
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