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Análise estilística do poema "O relógio", Vinícius de Moraes

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Análise estilística do poema "O relógio", Vinícius de Moraes.
INTRODUÇÃO
Este Artigo tem por finalidade mostrar a importância da interpretação para que melhor se possa compreender um texto poético. Segundo Alfredo Bosi,
"Se os sinais gráficos que desenham a superfície do texto literário fossem transparentes, se o olho que neles batesse visse de chofre o sentido ali presente, então não haveria forma simbólica, nem se faria necessário esse trabalho tenaz que se chama interpretação". (2003:461)
É de grande importância que se façam estudos das diversas partes que compõem um texto. Usar informações acerca da poesia, como a linguagem usada pelo autor e o contexto histórico-cultural, é necessário para que tenhamos uma análise mais completa. O que diferencia um autor do outro é justamente a maneira com que escreve, esse estilo torna-se a sua marca registrada.
Na Língua Portuguesa, por exemplo, alguns desses aspectos estilísticos disponíveis são: Estilística fônica ou do som que trata dos valores expressivos de natureza sonora observáveis nas palavras e nos enunciados; Estilística lexical ou da palavra que estuda os aspectos expressivos das palavras ligados aos seus componentes semânticos e morfológicos; Estilística da sintaxe que combina as palavras na frase, pertencendo tanto ao domínio gramatical como ao do estilo e, a Estilística mórfica que explora a camada morfológica da língua.
Para exemplificarmos esses aspectos estilísticos, analisaremos o poema infantil, O relógio, do poeta Vinícius de Moraes.
O Relógio
Passa, tempo, tic-tac
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu ti-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Tic-tac...
O Relógio é um dos poemas de Vinícius de Moraes que faz parte da "A arca de Noé", lançado em 1970 pela José Olympio. O livro, com poemas infantis, foi dedicado a seus filhos. Vinícius, poeta do amor e da sensualidade mais profunda, talvez não fosse o mais adequado para falar às crianças, porém, ao fazê-lo, reencontrou a ingenuidade e deixou ser levado pelo lúdico, combinação indispensável para o sucesso. A poesia Infantil é feita de ludicidade, simplicidade e ritmo, fazendo com que a criança volte ao seu mundo próprio. É o que observamos numa primeira leitura do poema.
O poeta usa a Onomatopéia (tic-tac) para dar ritmo e efeito sonoro ao poema. Essa repetição ao longo do texto acaba fazendo da sonoridade uma grande brincadeira. O (tic-tac) reproduz o mais próximo possível o som do relógio, por isso classificamos esse som como uma Onomatopéia pura. Esse é um dos recursos expressivo mais usado nas poesias infantis, pois concentram a melodia, a harmonia e o ritmo da frase, servindo para produzir esse efeito especial. O que difere uma Onomatopéia da Aliteração é que essa sugere um som e a Onomatopéia imita. Ainda falando de ritmo o autor, para marcar o compasso do poema, usa as vírgulas. Elas servem, neste caso, para marcar as pausas no texto, o que nos faz lembrar o ponteiro dos segundos deslocando-se.
Quanto à escolha lexical, podemos observar que o autor procurou usar palavras que ao longo do texto vão se relacionando ao próprio título do poema, O Relógio. Por exemplo: tempo, hora, atrasa, dia, noite. Essa escolha quase sempre é feita propositalmente. Observamos ainda um forte sentido de oposição quanto ao emprego das palavras. Começamos pela própria Onomatopéia (tic-tac). Os fonemas /i/ e /a/ se opõem uma vez que o /i/ é fechado e o /a/ é aberto. Outras palavras contrastantes são: “Chega logo tic-tac” “Tic-tac, e vai-te embora” “Bem depressa” “Não demora” “Dia e noite” “Noite e dia”. Esse contraste é próprio do tempo que está sempre em movimento. A estrutura do poema nos leva a pensar que o tempo vai chegando ao fim, pois as métricas dos versos vão diminuindo. Começa com versos heptassílabos e acaba com versos trissílabos, porém, o autor finaliza o poema usando as reticências para dar um tom de algo inacabável, cabível ao tempo que não para.
Deixando de lado o ar infantil que temos no poema, usando a psicanálise, é possível notarmos, por meio de algumas palavras, certa tristeza do poeta como, por exemplo, no verso “Já perdi toda alegria”; ou no verso “Não atrasa, não demora” o poeta parece ter pressa, pois “(...) está muito cansado”. Este último parece traduzir o próprio cansaço de Vinícius. Para a Psicologia existe uma fase da vida em que a pessoa entra em crise, conhecida popularmente como crise dos 40, essa idade pode variar de pessoa para pessoa. Para o psicólogo Diego G. Rodriguez essa fase da vida tem a ver muito com tempo. A pessoa vê que seus filhos já cresceram e seus pais se foram; então, sente certo desconforto e medo. Vinícius escreveu esse poema por volta de 1970 aos 57 anos. Seus pais já eram falecidos e apesar do quinto filho ter nascido nesse mesmo ano, o primeiro já estava com 30 anos de idade.
Essa análise psicológica é muito subjetiva, pois a principal ferramenta do autor, além das palavras, é a imaginação. E essa é impossível de ser analisada com total credibilidade, mesmo porque o que mais importa para a Estilística da Língua não é “o que” se diz, mas “como” se diz.
BIBLIOGRAFIA E SITES CONSULTADOS
BOSI, Alfredo. “Céu, Inferno: ensaios de crítica literária e ideológica”. Alfredo Bosi. Ed.34, São Paulo: Duas Cidades, 2003.
MORAES, Vinícius de. “A arca de Noé: Poemas infantis”. Vinícius de Moraes; ilustrações Laurabeatriz - 4ª reimpressão, São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
Aspectos da Estilística Portuguesa.
http://www.filologia.org.br/ixcnlf/5/08.htm
A Estilística do Som.
http://www.filologia.org.br/vcnlf/anais%20v/civ2_05.htm
Estilística da Palavra.
http://www.filologia.org.br/vcnlf/anais%20v/civ2_04.htm
Estilística da Frase e da Enunciação.
http://www.filologia.org.br/vcnlf/anais%20v/civ2_03.htm
Autor: Alexandre Idalgo
Graduado em Letras e Especialista em Estudos Literários

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