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inteligência e do afeto. O ato volitivo envolve quatro etapas: intenção ou propósito – inclinações e tendência que fazem com que surja interesse em determinado objeto; deliberação – na qual ponderamos os motivos (razões intelectuais) e os móveis (atração ou repulsão, vindas do plano afetivo); decisão – demarca o começo da ação, inibindo os móveis e motivos vencidos; execução – há os movimentos físicos. Teorias da Aprendizagem 88 Vamos, adiante, citar alguns dos quadros encontrados no campo das alterações de psicomo- tricidade: Estupor (ou acinesia) é a perda da atividade espontânea englobando, simultaneamente, a fala, a mímica, os gestos, a marcha etc. Vem e vai bruscamente em crises de agitação psicomotora. É o caso do estupor catatônico (nos esquizofrênicos) e o depressivo (na depressão). Na neurologia, este mesmo termo – estupor – é utilizado para designar redução do nível de consciência, que na psiquiatria designamos como “torpor” ou “entorpecimento”. Agitação e inibição psicomotora são graus de determinado estado psicomotor. Quando há pequeno aumento ou diminuição dos movimentos, são designados como inquietação e lentificação psicomotoras, respectivamente. Quando são alterações mais acentuadas, representam a agitação e inibição motora propriamente ditos. Podem ocorrer alterações da psicomotricidade em indivíduos normais, como, por exemplo, após experimentar forte tensão emocional ou preocupações que levam à vontade de andar ou levam à imobilidade. A agitação patológica pode ocorrer com caráter uniforme e estruturado – como na mania –, ou desordenadamente e de forma improdutiva – como na catatonia esquizofrênica, na epilepsia e em psicoses infecciosas e tóxicas (delirium tremens). A inibição ocorre, por exemplo, na depressão, estupor, estados confusionais e amenciais. Um grau ainda mais elevado de agitação é o furor, que se caracteriza por uma extrema agitação, necessitando intervenção imediata para impedir danos aos outros ou ao próprio paciente. Maneirismos ocorrem em esquizofrênicos, oligofrênicos e histéricos. São caracterizados por gestos artificiais ou linguagem e escrita rebuscada, com uso de preciosismo verbal, floreados estilísticos e caligráficos, entre outros. Ecopraxia também ocorre em esquizofrênicos, oligofrênicos e histéricos (principalmente nos primeiros), onde há imitação de um comportamento, sem propósito (gestos, atitudes etc.). Pode haver ecolalia (sons), ecomimia (mímica) e ecografia (escrita). Estereotipias são características do catatonismo em que há repetição automática de movimentos, frases e palavras (verbigeração), ou busca de posições e atitudes, sem nenhum propósito. As estereotipias cinéticas são confundidas com os tiques nervosos, porém esses são elementares, de fundo neurótico. É mais difícil de distingui-las dos cerimoniais compulsivos, porém estes são atos complicados que servem para aliviar a tensão nervosa da pessoa que a realiza. Alguns acham que as estereotipias cinéticas são atos que eram compreensíveis e motivados, que perderam sua causa. Negativismo é a oposição ativa ou passiva às solicitações externas. Na passiva, a pessoa simplesmente deixa de fazer o que se pede. Na ativa, a pessoa faz tudo ao contrário do que se pediu e, às vezes, quando desistimos eles o fazem sendo isso a “reação de último momento”. O negativismo verbal pode se apresentar na forma das pararrespostas (ou seja, o paciente entende a pergunta do entrevistador, porém não responde algo compatível com a pergunta, e sim algo “ao lado”, ou próximo). O negativismo faz parte da série catatônica e representa ação imotivada e não-deliberada. A obediência automática é o oposto do negativismo, em que o paciente tem extrema sugestionabilidade e faz tudo o que é mandado. Ocorre na esquizofrenia e em quadros demenciais. Catalepsia, pseudoflexibilidade cérea ocorre devido à hipertonia do tônus postural. Ocorre na histeria, esquizofrenia e parkinsonismo. A flexibilidade cérea é a conservação de uma posição, ocorrendo no parkinsonismo, enquanto que nos esquizofrênicos e histéricos há pseudo flexibilidade cérea, devido à influência de fatores psicogênicos. A teoria de Henri Wallon: emoção, movimento e cognição 89 Extravagâncias cinéticas, comuns à conduta esquizofrênica. Pode ser descrito como a perda da gracilidade, ou seja, da naturalidade, espontaneidade, proporcionalidade dos gestos e atitudes; como a rigidez facial (o pregueamento da testa em “M” é característico da catatonia); paratimias (a mímica não está em concordância com o pensamento verbalizado); focinho catatônico (protusão permanente dos lábios); interceptações cinéticas (interrupção brusca de um gesto apenas esboçado) etc. Há ainda as dicinesias, que são movimentos involuntários e repetitivos anormais. Pode ocorrer em quadros catatônicos ou após o uso de neurolépticos (em 20% dos pacientes) por longo tempo, dando a dicinesia tardia (principalmente a síndrome bucolingomastigatória). Fiquem atentos aos momentos de maior emoção experimentados por cada um de vocês durante a semana. Observem se nesses momentos há sobreposição da emoção sobre a razão (sensação de ter perdido a razão) e procurem relatar de que forma tais emoções interferiram na aprendizagem de vocês. Sobre o assunto tratado, sugerimos o seguinte livro: GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes, 2003. Emília Ferreiro e a Psicogênese da língua escrita Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: reduzimo-la a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons. Emília Ferreiro História pessoal E mília Ferreiro nasceu na Argentina, onde se formou em Psicologia, e desenvolveu seus estudos sobre linguagem, doutorando-se na Universidade de Genebra sob a orientação de Jean Piaget. Em sua tese, propôs um novo olhar sobre a alfabetização baseada no que chamou de psicogênese da língua escrita. Em 1974, dá início às pesquisas em torno do desenvolvimento da linguagem infantil, baseando-se nos princípios piagetianos da psicogênese. Apesar de basear-se nos estudos anteriores já realizados por Piaget, Emília Ferreiro avança em relação ao seu mestre, uma vez que Piaget não havia ainda considerado a psicogênese da língua escrita em suas análises. Deste modo, os estudos de Emília Ferreiro vieram a se tornar um marco na transformação do conceito de aprendizagem da escrita pela criança. Suas pesquisas foram motivadas, segundo Rodrigues e Pariz (2005, p. 96), pelos altos índices de fracasso escolar observados nas escolas mexicanas (país onde se radicou). Junto com Ana Teberosky, também pesquisadora argentina, investigou de que maneira as crianças constroem hipóteses lingüísticas sobre o sistema de escrita. Para tanto, utilizou-se de conhecimentos de psicologia, psicolingüística e psicogenética, procurando compreender de que maneira construímos aprendizagens em torno do sistema escrito. Assim, é praticamente impossível abordar o tema do processo de iniciação da escrita em crianças sem utilizarmos os referenciais de Emília Ferreiro e Ana Teberosky. Apesar disso, precisamos ter em mente que os estudos de Emília Ferreiro não postularam uma metodologia de ensino-aprendizagem para as classes de alfabetização, mas sim buscou, como Piaget, compreender de que maneira a construção do conhecimento da criança sobre os processos de leitura e escrita vão sendo realizados ao longo do seu desenvolvimento. Portanto, podemos afirmar que os estudos de Emília Ferreiro eram de cunho psicológico e não pedagógico. Teorias da Aprendizagem 92 No entanto, muitos educadores, ao se apropriarem da teoria formulada por Emília Ferreiro, interpretam erroneamente suas análises como sendo um método de ensino para as classes de alfabetização.