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1 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 2ª SEMANA LUZIANE KLITZEKE DE OLIVEIRA 2 OS MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO Quando uma professora quer alfabetizar seus alunos alcançando seus objetivos, ela precisa de um método com o qual possa trabalhar dentro da realidade em que seus alunos se encontram, fazendo um trabalho lúdico e criativo. Mas, afinal o que seria um método? Método seria a forma ou maneira de um professor direcionar suas aulas. A palavra método tem sua origem no grego méthodos e diz respeito a caminho para chegar a um objetivo. Num sentido mais geral, refere-se a modo de agir, maneira de proceder, meio; em sentido mais específico, refere-se a planejamento de uma série de operações que se devem efetivar, prevendo inclusive erros estáveis, para se chegar a determinado fim. Ao pensar em alfabetizar é normal que venha a seguinte preocupação: qual é o melhor método para se trabalhar e alcançar os objetivos de uma alfabetização de qualidade? A alfabetização não possui receita pronta em relação ao método, pois a forma de aprendizagem de uma criança pode ser diferente da outra. O método aplicado em uma turma pode não ter o mesmo resultado em outra. É importante lembrar que a criança 3 não é só mais uma peça feita por uma empresa que possui um molde e produz todas as peças iguaizinhas. É necessário utilizar um método, porém não se pode definir um como o melhor, ou mesmo único, pois o que pode ser bom para aprendizagem de uma criança pode ser ruim para outra, lembrando que quando se utiliza um método e ele não traz bons resultados, deve-se partir para outro. Com relação ao pensamento de que o processo de alfabetização não possui um único método realmente eficaz ou uma receita pronta. “Quem se propõe a alfabetizar baseado ou não no construtivismo, deve ter um conhecimento básico sobre os princípios teórico-metodológico da alfabetização, para não ter que inventar a roda. Já não se espera que um método milagroso seja plenamente eficaz para todos. Tal receita não existe”. (CARVALHO, 2008, p. 17). Quando as crianças iniciam o processo de alfabetização inicial, estão repletas de curiosidade e disposição para se apropriar da leitura e escrita. Esse é o momento de estimulá-las mesmas para o hábito da leitura e contato com a escrita, e uma das maneiras é o professor ler em voz alta para elas todos os dias histórias, 4 poemas, letras de música, textos, notícias de revista e jornais entre outros recursos. É de grande importância que o agente alfabetizador tenha realmente um compromisso para com o processo de alfabetização, dedicando-se e aprofundando se em conhecimentos metodológicos da alfabetização. Os métodos de alfabetização existentes podem ser classificados como métodos sintéticos e os métodos globais. Mas, para a aplicação dos mesmos, Carvalho (2008, p. 46) afirma que: Para a professora, seja qual for o método escolhido, o conhecimento das suas bases teóricas é condição essencial, importantíssima, mas não suficiente. A boa aplicação técnica de um método exige prática, tempo e atenção para observar as reações das crianças, registrar os resultados, ver o que acontece no dia-a-dia e procurar soluções para os problemas dos alunos que não acompanham. Como existem vários métodos, cabe ao professor conhecê-los e escolher qual é a melhor forma de trabalhar esse processo de alfabetização inicial com seus alunos. É importante que antes da escolha do método, o professor conheça seus alunos. Pois, caso 5 contrário, este pode ser um dos motivos para o insucesso do processo. O QUE SÃO OS MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO ? "As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos." "Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido!" Rubem Alves Os métodos são caminhos, etapas, princípios, procedimentos baseados em teorias que organizam e sugerem a prática do professor com a intenção de desenvolver e possibilitar a aprendizagem da linguagem escrita e da leitura. Alfabetizar ensinar ler e escrever. Vem do grego ALFA (primeira letra do alfabeto) BETA (segunda letra do alfabeto) e IZAR (tornar, fazer com que). A prática da alfabetização no Brasil, até hoje, baila em uma música cheia de ritmos buscando encontrar seus pares perfeitos para assim desfrutar de uma valsa tranquila e arquitetonicamente executada transformando a vida de todos os participantes dessa festa uma dança mais harmônica e brilhante. 6 Enquanto não se consegue chegar a um consenso sobre o melhor para nossas crianças participamos de altos índices de analfabetismo, exclusão escolar e o analfabetismo funcional sendo tolerado como aceito. O leque de sistemas de aprendizagem, métodos e teorias acerca da alfabetização são inúmeros. As vezes as mudanças são ínfimas, outras usa-se uma mistura de várias propostas, outras vezes as crianças participam de aulas sem nenhum preparo prévio pelos adultos responsáveis pela aprendizagem. O importante é identificar o melhor trabalho a ser desenvolvido para que a aprendizagem seja funcional, proveitosa e enriquecedora para o maior interessado, o educando. O ESTUDO DA LÍNGUA E CONTRIBUIÇÕES AOS MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO A linguística é a ciência que investiga a linguagem e os fenômenos relacionados a ela, buscando entender a forma, princípios, características e estruturas da linguagem verbal 7 humana. Aos linguistas cabe o estudo e desenvolvimento de modos de entendermos a linguagem. A relação da linguística com a alfabetização é estreita e direta, seja pelo educador, que precisa entender os diversos tipos de estruturação da língua, seja pelos teóricos que estudam a ciência da aprendizagem. Como a escrita e a leitura são mais um instrumento de comunicação a aprendizagem está ligada a linguagem oral. Um dos primeiros meios de comunicação com o mundo é a fala e ela é uma aprendizagem de relações sociais. A criança aprende a falar comunicando-se com os que estão ao seu redor. Portanto, a fala é uma soma entre a racionalidade humana e da socialização do indivíduo, uma necessidade. No ambiente familiar a fala é uma simples maneira que a criança encontra de satisfazer seus desejos e necessidades. É com ela que começa a selecionar o que deseja, sente e necessita. No ambiente escolar a criança começa a perceber que sua linguagem não serve mais apenas para comunicação, mas que ela também é avaliada. O que a princípio era um instrumento de comunicação passa a ser corrigido e conduzido a um padrão 8 formal do que se espera de um indivíduo que tem acesso à informação e à aprendizagem. A alfabetização é um somatório de estudos da linguagem, da língua e dos signos (grafia e fonema) que formam a comunicação e expressão do educando. Por isso é importante o educador, principalmente em um país de grandes dimensões como o Brasil, que entenda e perceba as peculiaridades da aprendizagem da alfabetização. A aprendizagem da escrita é um processo longo e repleto de ansiedades e expectativas, seja por parte das famílias, políticas públicas, comunidade educacional e pelas próprias crianças. Se levarmos em consideração todos os aspectos e pessoas envolvidas nesse processo, deveríamos ter em mente que não há como determinar tempo. A progressão precisaria ser de acordo com o que o maior interessado,o aluno, compreende como aprendizagem. Mas sabemos que o real trabalho desenvolvido em boa parte das instituições de ensino brasileira é acelerado de acordo com o que determina o calendário escolar, as equipes de profissionais da escola e o que a família almeja. 9 Aos interessados na aprendizagem, sob o aspecto alfabetização, cabe discernir, compreender, estudar sistematicamente com eficácia os problemas, buscando soluções viáveis, capacitações, intervenções aprimorando o desenvolvimento e aprendizagem do aluno. Aprender a ler não é um ato mecânico, nem automático, decorar não é aprendizagem e saber ler e escrever é conhecer o mundo. O conceito de alfabetização como decodificação já não cabe mais em nossas escolas. Precisamos de seres letrados, que entendem a leitura em diferentes contextos, situações. Sabem usar a leitura e a escrita a seu favor para transformação e cidadania. Assim, precisamos de uma série de fatores para contribuírem com essa aprendizagem, independente de metodologia. A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES Enquanto tínhamos classes de crianças doutrinadas e não educadas, em que o professor era o transmissor de conhecimentos, que o papel social da família não interferia na 10 aprendizagem, o que se exigia de formação do educador era simplesmente que ela precisava saber mais que seus alunos. Uma formação básica assegurava a aprendizagem, não havia necessidade de formação continuada e capacitação permanente. Com as mudanças sociais do que se espera da escola e da educação, o professor também precisou rever e se adaptar ao novo modelo de um profissional qualificado, caso contrário não há lugar no mercado de trabalho. Ou seja, para responder aos interesses e desafios das demandas do mercado, a docência criou um novo aspecto de adquirir, manter e renovar competências profissionais através de um conjunto de saberes e informações adquiridos não só na teoria, mas na prática e na atualidade. O professor alfabetizador precisa também ter competência, conhecimento a entendimento sobre a linguística, afinal ela é a base da aprendizagem alfabetizadora. Precisa entender o processo de aquisição da linguagem oral, da leitura e da escrita, capacidades essas que não são inatas, mas sim apreendidas e influenciadas socialmente, o que muitas vezes gera regionalismos e que são refletidas na aprendizagem da 11 língua escrita. O professor como um auxiliar na formação da cidadania não basta ser um mero reprodutor de metodologias e exercícios programados para um padrão pré-determinado de aluno, mas precisa entender, avaliar e buscar alternativas que se encaixem melhor as necessidades de seus educandos. Para assegurar aos alunos seu direito de aprender a ler e escrever, é indispensável que os professores tenham assegurado seu direito de aprender a ensiná-los. Cabe às instituições formadoras a responsabilidade de preparar todo professor que alfabetiza crianças, jovens e adultos para: • encarar os alunos como pessoas que precisam ter sucesso em suas aprendizagens para se desenvolverem pessoalmente e para terem uma imagem positiva de si mesmos, orientando-se por esse pressuposto; • desenvolver um trabalho de alfabetização adequado às necessidades de aprendizagem dos alunos, acreditando que todos são capazes de aprender; • reconhecer-se como modelo de referência para os alunos: como leitor, como usuário da escrita e como parceiro durante as atividades; • utilizar o conhecimento disponível sobre os processos de aprendizagem dos quais depende a alfabetização, para planejar as atividades de leitura e escrita; 12 • observar o desempenho dos alunos durante as atividades, bem como as suas interações nas situações de parceria, para fazer intervenções pedagógicas adequadas; • planejar atividades de alfabetização desafiadoras, considerando o nível de conhecimento real dos alunos; • formar agrupamentos produtivos de alunos, considerando seus conhecimentos e suas características pessoais; • selecionar diferentes tipos de texto, que sejam apropriados para o trabalho; • utilizar instrumentos funcionais de registro do desempenho e da evolução dos alunos, de planejamento e de documentação do trabalho pedagógico; • responsabilizar-se pelos resultados obtidos em relação às aprendizagens dos alunos. O desenvolvimento dessas competências profissionais é condição para que os professores alfabetizadores ensinem todos os seus alunos a ler e escrever. Não é possível ensinar a todos quando se sabe ensinar apenas àqueles que iriam aprender de qualquer forma, por viverem em um contexto que provê condições e favorece suas aprendizagens. (PROFA, MEC) Entretanto, vivemos em uma sociedade que valoriza títulos. Esta é a nossa realidade. Com este tipo de comportamento social, é bastante comum, conhecermos professores alfabetizadores que, apesar de não terem um título, são 13 extremamente competentes, aprenderam com suas experiências na vida e em estudos particulares. Portanto, um título de universidade, por exemplo: graduado em Pedagogia, por si só não é uma garantia de que o profissional é competente. Ser um bom profissional requer estudo e dedicação constante, não apenas até a colação de grau. MÉTODOS SINTÉTICOS Entre os métodos chamados sintéticos encontramos os alfabéticos, fonéticos e silábicos. O processo de alfabetização sintético parte dos elementos menores que as palavras como letras e sílabas. Iniciam a correspondência entre sons e letras, oral e escrito. As unidades sonoras são transcritas em unidades gráficas. Assim sendo as percepções auditivas e visuais e controle motor são essenciais para que ocorra aprendizagem. Seu pressuposto baseia-se na “junção” de elementos menores aos maiores compondo um todo. 14 A leitura é a decodificação de sons e a audição é sentido mais estimulado no curso da aprendizagem. A alfabetização através desses métodos parte de pequenas palavras e durante esse processo o professor pode escolher se vai fazer uso de cartilhas ou não. Em relação a esse método, Cagliari (1998 p. 25) afirma que: “partia-se do alfabeto para soletração e silabação, seguindo uma ordem hierárquica crescente de dificuldades, desde a letra até o texto”. São métodos sintéticos: ● Soletração; ● Silabação; ● Método Fônico; ● Método Da Abelhinha e o ● Da Casinha Feliz. todos eles quando aplicados pelo professor, partem ensinando da soletração para a consciência fonológica. Mas, para a aplicação desses métodos sintéticos é necessário cuidado, visto que o fonema, ou seja, o som de algumas letras quando junto de outras podem ter sons diferentes, sendo 15 necessário então, trabalhar isso durante o processo de alfabetização. Carvalho (2008, p. 28) afirma que: Um cuidado que deve ser observado na aplicação dos métodos fônicos decorre da própria natureza do Português, língua alfabética na qual uma letra pode representar diferentes sons conforme a posição que ocupa na palavra, assim como um som pode ser representado por mais de uma letra, segundo a posição. Assim, não basta ensinar o som da letra em posição inicial da palavra, mas é preciso mostrar os sons que as letras têm em posição inicial, medial (no meio) ou final da sílaba. A aplicação desse método de alfabetização exige conhecimento da parte do professor para que não aconteçam falhas como acima foi citado. É importante lembrar que nem todas as crianças aprendem da mesma forma, esse método pode ser bom para umas criançase ruim para outras, já que não se pode classificar esse método como a melhor e a única forma de se alfabetizar um aluno. 16 ALFABÉTICOS Usado na Grécia antiga é um dos métodos mais antigos que se tem registro. O processo consiste em iniciar o processo memorizando as letras e seus nomes. Unindo a representação gráfica com o som. B + A = BA Posteriormente a representação da família fonética, inicialmente monossilábicas, dissílabas e assim por diante, até formar frases e por fim textos segmentados. BA – BE – BI – BO – BU BEBÊ – BOBO – BABA O BEBÊ BOBO BABA. O BOI BABA. 17 E as memoriza através de inúmeros exercícios, para em uma próxima etapa iniciar o processo com outra letra. A prática da caligrafia já surge no início do processo de alfabetização. O desenho da letra é tão importante quanto a escrita. A leitura por sua vez também discorre silabada e desconexa com o contexto. Em geral somente depois de soletrar a palavra é que, através da memorização, a criança decodifica o que leu. Muito utilizado, ainda, em diversas regiões brasileiras, no momento da leitura surgem algumas dificuldades, como: BE + A = BA ENE + A = NA ENE + A = NA BANANA A abstração necessária no que diz respeito ao nome da letra, no momento da leitura, fez surgir em determinadas regiões brasileiras, um novo tipo de alfabeto, carregado de brasilidade, como: A, Bê, Cê, Dê, Ê, Fê, .... Lê, Mê.... “Meu fá, minha fã 18 A massa e a maçã Minha diva, meu divã Minha manha, meu amanhã Meu lá, minha lã Minha paga, minha pagã Meu velar, meu avelã Amor em Roma, aroma de romã” Lenine – Meu amanhã O método alfabético certamente quem foi alfabetizado nos anos 70 lembra de brincadeiras que surgiam com o uso do nome das letras do alfabeto que eram formas de as próprias crianças criavam na tentativa de decorar os nomes da letras, como pular corda recitando a ordem alfabética “qual a letra do nome do seu namorado? “, ou o jogo do a, b , c com as mãos onde em dupla se batia na mão do colega e quando eram as vogais o cumprimento era cruzado. NOTA: lembrando que esses métodos são os que nos remetem a escolarização formal. Durante muito tempo a prática do ensino ocorria informalmente em igrejas, em casa realizado por pessoas que soubessem um pouco mais sobre o mundo 19 letrado. Assim, não havia uma “obrigação “no que diz respeito a sistematização ou formalização da alfabetização. JUNTANDO AS LETRAS: SOLETRAÇÃO A Carta do ABC (sem indicação de autor ou data): o livrinho apresenta primeiro os alfabetos de letras maiúsculas e minúsculas de imprensa e de letras cursivas. A ideia é ensinar os três tipos mais comuns de sílabas existentes em português, como consoante-vogal (ba, na, ma ), vogal-consoante (al, ar, na ), consoante-consoante-vogal (fla, bla, tra ). O objetivo maior da soletração é ensinar a combinatória de letras e sons, partindo de unidades simples, as letras, o professor tenta mostrar que essas, quando se juntam, representam sons, as sílabas, que por sua vez formam palavras. O método baseia-se na associação de estímulos visuais e auditivos, valendo-se apenas da memorização como recurso didático – o nome da letra é associado à forma visual, as sílabas são aprendidas de cor, e com elas se formam palavras isoladas fora do contexto. Quanto daria por um daqueles duros bancos onde me sentava, nas mãos a Carta do ABC, a cartilha de soletrar, separar vogais e consoantes. Repassar folha por folha, 20 gaguejando as lições num aprendizado demorado e tardio. Afinal vencer e mudar de livro. Excerto do poema Voltei de Cora Coralina (2001), poeta goiana, nascida em 1889. BA-BE-BI-BO-BU: SILABAÇÃO O método tem os mesmos defeitos da soletração: ênfase excessiva nos mecanismos de codificação e decodificação, apelo excessivo à memória e não à compreensão, pouca capacidade de motivar os alunos para a leitura e a escrita. Cartilha da Infância (Thomaz Galhardo, 1979): depois de mostrar as vogais e os ditongos, apresenta as sílabas va-ve-vi-vo-vu, embaralhando-as nas duas linhas seguintes. Seguem-se palavras formadas de três letras (vai-viu-vou) e finalmente onze vocábulos contendo as sílabas estudadas; cada lição se completa com algumas frases sem ligação entre si, escritas sem a maiúscula na palavra inicial e sem pontuação: “vovó viu a ave”, “a ave vive e voa”, “vovô vê o ovo” e outras do gênero. A ordem de apresentação: primeiro, as cinco letras que representam as vogais, depois os ditongos, em seguida as sílabas 21 formadas com as letras v, p, b, f, d, t, l, j, m, n. As chamadas “dificuldades ortográficas” aparecem do meio para o fim da cartilha, incluindo os dígrafos, as sílabas travadas (terminadas por consoantes), as letras g, c, z, s, e x. MÉTODOS FÔNICOS Caiu em desuso após a implementação dos métodos chamados construtivistas, final dos anos 70, porém hoje volta à tona sendo considerado por alguns especialistas em educação como a melhor escolha para alfabetização na língua portuguesa. As políticas públicas, inicialmente tinham como preocupação garantir a ocupar o espaço escolar. Atender a demanda de colocar a população na escola, aumentando os índices de pessoas atendidas. Depois desse espaço ocupado e as crianças frequentando a escola passa ser necessária uma avaliação do andamento desse processo., pois frequentar a escola não garante aprendizagem. Cria-se então SAEB1 que como avaliava as escolas como um todo, 1 O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) tem como principal objetivo avaliar a Educação Básica brasileira e contribuir para a melhoria de sua qualidade e para a universalização do acesso à escola, oferecendo subsídios concretos para a formulação, reformulação e o monitoramento das políticas públicas voltadas para a Educação Básica. Além 22 precisou de um apoio avaliativo mais específico para que os gestores de cada escola pudessem mensurar os problemas de aprendizagem que enfrentavam. Inicia-se a aplicação da Provinha Brasil.2 Ao longo da aplicação dessas avaliações percebeu-se que havia sido instaurada uma crise no que diz respeito aos níveis de aprendizagem brasileira elevando as críticas aos métodos construtivistas, implementados nesses períodos como sugestões de diversos materiais do MEC, retomando a confiabilidade e aplicabilidade do método fônico. Lógico que a metodologia aplicada provavelmente é a apenas umas das causas dessa significativa baixa de rendimento dos educandos. Falta de preparo dos professores, baixos salários disso, procura também oferecer dados e indicadores que possibilitem maior compreensão dos fatores que influenciam o desempenho dos alunos nas áreas e anos avaliados. (INEP). 2 As Matrizes de Referência da Avaliação da Provinha Brasil elencam o que se pretende avaliar com estes instrumentos, ou seja, os conhecimentos que se espera que os alunos tenham adquirido após o início do processo de alfabetização. Como nem todas as habilidades a serem desenvolvidas durante o processo de alfabetização e letramento, como a oralidade, são passíveis de verificação em uma prova objetiva, foram selecionadas as habilidades consideradas essenciais para a alfabetização e letramento para a elaboração daMatriz de Referência. A matriz é apenas uma referência para a construção do instrumento de avaliação. É, portanto, diferente de uma proposta curricular ou de programas de ensino, que são mais amplos e complexos. (INEP) 23 e condições desfavoráveis de trabalho são outras causas. Com uma nova roupagem e com uma maior interação aluno/professor/aprendizagem o método volta a ser alvo de novos estudos e aplicações em escolas de todo país como o mais apropriado no processo de alfabetização, segundo uma parte dos estudiosos. Como a alfabetização não é um ato inato, é necessário a construção da aprendizagem, a solidariedade entre os envolvidos no processo, o desejo, a frequência, a habilidade e a disponibilidade de aprender e de ensinar. Aprender é refletir, imergir e transpor barreiras, é ressignificar e interpretar o mundo sob um novo olhar, configurando também o método, a apropriação dele pelo educador e a aplicabilidade. Ao longo do tempo houve uma variedade de nomenclaturas que têm como base a metodologia fônica. Método Abelhinha, Casinha Feliz, Campovilla, Boquinhas. Mas todos usam a mesma base da linha sintética que privilegia a correspondência grafofônica, tendo como princípio a relação direta fonema/grafema, ou seja, o som da fala e a escrita. Há 24 uma sequência de implementação do processo, sendo letras, sílabas, palavras, frases e por fim, textos. Ensina-se o aluno a produzir oralmente os sons representados pelas letras e a uni-los para formar as palavras. Parte-se de palavras curtas, formadas por apenas dois sons representados por duas letras, para depois estudar de três letras ou mais. A ênfase é ensinar a decodificar os sons da língua, na leitura, e a codificá-la, na escrita. Atualmente, os métodos fônicos tendem a apresentar pequenas frases, a partir da 2ª ou 3ª folha, para que os alunos desenvolvam gradativamente habilidades de leitura mais complexas. Este recurso visa a habituar o aluno a extrair o conteúdo significativo da palavra lida e superar uma deficiência ainda comum no método (Rizzo apud Carvalho, 2005: 25). SEQUÊNCIA DA INTRODUÇÃO DE FONEMAS ➢ Inicia-se o processo inserindo as vogais. A - E - I - O - U - ÃO ➢ Posteriormente as consoantes com sons facilmente pronunciáveis de forma isolada sem uma vogal (consoantes prolongáveis e reguláveis) 25 F – J - M – N – V – Z ➢ Depois as consoantes facilmente pronunciáveis de forma isolada e irregulares, ou seja, que podem possuir mais de um som. L – S – R – X ➢ Os sons irregulares são os próximos. As consoantes com os sons mais difíceis de serem pronunciados de forma isolada. B – C – P – D – T – G – Q ➢ Em seguida vem o H que possui sua particularidade de não possuir som. ➢ Agora é a vez de serem introduzidos os sons irregulares das letras C – G – R – S – L – M – X Ce – ci Ge – gi Gua – guo Qua – quo S intervocálico S no final da palavra 26 R intervocálico R no fim da sílaba L com som de u M no final da sílaba X com som de z ➢ As letras que não são usadas em nosso língua, entram nessa etapa do processo. K – W – Y ➢ Por fim introduz-se a cedilha e os encontros consonantais Ç – CH - NH – LH – RR – SS – GU – BR – CR – TR - BL CL – FR – GR – GL – VR – DR – NS A forma como cada um dos fonemas é introduzida varia de acordo com o método adotado pelo educador ou instituição, dentro da perspectiva fônica. MÉTODO CASINHA FELIZ (criado pela pedagoga Iracema Meireles na década de 1950): acredita na aprendizagem por meio do jogo, propondo que a sala de aula fosse um espaço para a criatividade e a livre expressão das crianças. Método: associar a forma da letra a um 27 personagem, o qual, por sua vez, representava determinado som. O essencial é que conduza à figura-fonema capaz de fazer sempre, se for consoante, o imprescindível barulhinho. Tudo mais é jogo, é dramatização, atividade criadora. Utiliza uma outra historinha para introduzir os fonemas. Fonte:www.acasinhafeliz.com.br/indexFrameset.htm Esse método foi criado pela educadora Iracema Furtado Soares de Meireles que ao dar aulas para André, um menino analfabeto aos 12 anos, sentiu a necessidade de criar uma forma interessante e lúdica. Ao longo do trabalho com André, Iracema identificou uma dislexia que foi amenizada com o trabalho desenvolvido através do interesse dele. O desafio das dificuldades de aprendizagens que ela sabia que eram existentes nas salas de aula, apaixonou-se pelo tema e 28 começou a desenvolver pesquisas em torno do que poderia dar certo como metodologia aplicada a alfabetização. Surge então o método que consiste em um teatrinho de fantoches onde as letras são os personagens. As vogais princesas que ficam em seus tronos à espera das consoantes que ao movimentar-se e juntar-se umas às outras que vão formando as sílabas. A historinha completa está na sugestão da atividade. MÉTODO DA ABELHINHA Criado pelas professoras Alzira Sampaio Brasil da Silva, Lúcia Marques Pinheiro e Risoleta Ferreira Cardoso, na cidade do Rio de Janeiro em 1965. Foi assim denominado por utilizar uma história como recurso de aprendizagem a ser realizada em sete capítulos, a abelha é quem direciona todo o enredo. São três as etapas sugeridas no guia do professor: Período Preparatório ou Integração da Criança, História ou Início da Alfabetização (essa etapa é o ponto central do método, onde entra a História da Abelhinha apresentando os personagens associando-os a sons e letras) e Completando a Alfabetização. 29 A cada novo fonema é realizado um intenso trabalho de exercícios de fixação como: leitura oral, cópia de sons, identificação do som inicial, união de consoantes e vogais, ditado, identificação das vogais e consoantes maiúsculas e minúsculas e a utilização dos cartazes e código de sons. Outro material fundamental no ambiente alfabetizador que utiliza o método, são os cartazes com as letras integradas aos desenhos dos personagens. Apresenta o método misto do tipo fonético. Os sons são apresentados como "barulhos" que ocorrem, o mesmo acontecendo com a reunião de dois sons em sílabas. (Alzira S. Brasil, Lúcia Marques Pinheiro e Risoleta Ferreira Cardoso criaram o método em 1965). Da reunião de dois sons, a criança passa a três, e vai lendo palavras cada vez mais extensas, depois expressões, sentenças e historinhas. Duas recomendações das autoras: não dizer o nome das letras, pois seria cair na soletração; e não fazer a união de fonemas com todas as vogais, pois seria a silabação, prejudicando a leitura mais tarde. A personagem abelhinha, que dá nome ao método, tem o corpo em forma de um a (em letra cursiva) e apresenta o 30 som /aaaaaaa/ (a vogal é prolongada para facilitar o reconhecimento); a letra i é representada pelo tronco de um índio, outro personagem de histórias e assim por diante. Os personagens são desenhados para sugerir o todo ou partes das formas estilizadas das letras. Há, portanto, uma associação de três elementos – personagem – forma da letra – som da letra (fonema). A alfabetização se faz por síntese ou fusão dos sons para formar a palavra. MÉTODO SILÁBICO O método silábico surgiu como uma oposição a soletração, no século XVIII, iniciando então, a aprendizagem através das sílabas. Assim como os demais métodos sintéticos, segue uma sequência progressiva: o acesso direto é por meio da sílaba consideradas asmais fácies de serem apreendidas. Em geral o método utiliza cartilhas que possuem palavras-chave para que sejam retiradas as sílabas a serem estudadas. Após serem trabalhadas sistematicamente até serem memorizadas, são recompostas até formarem novas palavras e, 31 posteriormente formarem frases, apenas utilizando as sílabas já trabalhadas anteriormente. É o método que utiliza as famosas famílias silábicas. Que podem possuir diversas denominações. Familinhas, pedacinhos mágicos, famílias fantásticas. A Cartilha da Infância de Thomaz Paulo do Bom Sucesso Galhardo, professor formado pela Escola Normal de São Paulo, publicada em início da década de 1880, foi modificada e ampliada por Romão Puiggari, atingiu em 1992 a 233ª edição. Durante muito tempo foi adotada em São Paulo e diversas outras regiões do Brasil. A cartilha dividida em 33 lições. Inicia com vogais, ditongos, vogais acentuadas, consoantes, famílias silábicas, vocábulos e exercícios. A lição inicia com a apresentação com a letra no alto da página seguida de sua classificação fonética F (fê labial sibilante). Depois vem a família fonética, um conjunto de sílabas referentes a letra apresentada em três ordens diferentes. Essa estrutura permanece inalterada por todo o livro. Ao final de cada lição apresentam-se exercícios para leitura. 32 No manual da cartilha aparece a informação de “não consentir que a criança soletre, mas que não pronunciem sílabas” e que não se deve “ensinar vozes e modos das palavras”. CUIDADOS A CONSIDERAR NA APLICAÇÃO DOS MÉTODOS FÔNICOS Os dois métodos apresentados propõem associações visuais e auditivas com a forma e os sons das letras e têm o mérito de recomendar a utilização e recursos expressivos de voz, gesticulação, desenho, teatro, etc. para despertar o interesse infantil. Ambos giram em torno de histórias contadas oralmente e o material escrito é rigorosamente controlado para apresentar apenas as palavras cuja decodificação já foi, ou está sendo, ensinada. Um aspecto discutível dos métodos é que as histórias dos manuais, criadas com o objetivo de apresentar as relações letrasom numa determinada seqüência, são muito artificiais. É preciso professores experientes, com bons recursos narrativos, para dar vida a histórias didáticas, em que os sons ora são associados à forma das letras, ora aos nomes dos personagens, ora a um “barulhinho” produzido por eles. Na aplicação dos métodos fônicos, a maior dificuldade técnica é tentar articular os sons das consoantes isoladas, pois de fato elas só ganham sons 33 quando estão acompanhadas de uma vogal. Existem algumas consoantes, como o /f/ e o /v/, que podem ser prolongadas com certa facilidade, dando a impressão que se fundem com as vogais que as acompanham. Mas não é o caso da maioria das outras que só são ouvidas claramente quando acompanhadas das vogais. CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA é a capacidade de distinguir e manipular os sons constitutivos da língua e consiste na capacidade para focalizar os sons da fala, independentemente do sentido. Para reconhecer o grau de consciência fonológica da criança, alguns indicadores são a habilidade de identificar o número de sílabas das palavras e de reconhecer rimas e aliterações (sílabas que se repetem no início de uma série de palavras). Cada palavra falada é formada por uma série de fonemas, representados na escrita pelas letras do alfabeto e a percepção destes é desenvolvida no processo de alfabetização. 34 AS CARTILHAS E A ALFABETIZAÇÃO Conhecer e respeitar as necessidades e interesses da criança; partir da realidade do aluno e estabelecer relações entre a escola e a vida social são diretrizes do pensamento escolanovista. Métodos ativos – aprender fazendo –, liberdade para criar e participação da criança no planejamento do ensino são algumas das estratégias recomendadas. A Escola Nova valorizava a leitura, as bibliotecas, o gosto pelos livros, e trouxe uma inovação importante para os alfabetizadores: a defesa dos métodos globais com a fundamentação teórica da crença segundo a qual a criança tem uma visão sincrética (ou globalizada) da realidade, ou seja, tende a perceber o todo, o conjunto, antes de captar os detalhes. Decroly (1929) enfatizava a compreensão do significado desde a etapa inicial da alfabetização e não a capacidade de decodificar ou de dizer o texto em voz alta. A alfabetização deveria começar por unidades amplas, como histórias ou frases, para chegar em nível de letra e de som, mas sem perder de vista o texto original e seu significado. 35 MÉTODOS ANALÍTICOS OU GLOBAIS Outros métodos de alfabetização são conhecidos como analíticos ou globais. Sua aplicação visa alfabetizar a criança a partir de histórias ou orações. Quando essa nova forma de se alfabetizar chegou ao Brasil exigiu uma grande mudança por parte dos professores, por serem muito diferentes dos métodos sintéticos, os globais possuem como objetivo alfabetizar a criança da parte maior para a menor, ou seja, dos textos ou orações para as letras. É o caminho inverso. Não há uma unanimidade em que momento os métodos analíticos iniciam suas atividades na educação brasileira, mas novas ideias surgem no Brasil no momento em que a escolarização passa a demandar mais atendimento em massa devido as mudanças políticas que se instauram no país. A industrialização rompe com um modelo de sociedade onde a criança passa a frequentar mais a escola e a família, inclusive a mulher, passa a ser inserida no mercado de trabalho. São Paulo vem como um modelo de transformação para que posteriormente o trabalho fosse implementado nas demais 36 regiões brasileiras. Essa mudança inicia-se na Escola Normal em 1896, criando-se um Jardim de Infância, onde as normalistas poderiam práticas de alfabetização seguindo o novo e “revolucionário” método analítico. Esse modelo foi divulgado e ampliado através desses professores como a melhor opção, tornando-se, inclusive, obrigatório nas escolas públicas paulistas, até por volta de 1920. No Brasil os métodos analíticos se inserem na educação como métodos globais de ensino. Baseado nas ideias de Decroly tem como ponto de partida um texto de interesse infantil. O método global de contos e historietas é o marco inicial desse princípio. O texto memorizado e “lido”, reconhece-se sentenças, expressões, palavras e, por fim, sílabas. A metodologia analítica aplica o conhecimento em 3 partes: o sincretismo (visão geral e confusa do todo), a análise (visão distinta e analítica das partes) e a síntese (recomposição do todo com o conhecimento que se tem das partes). Considerado, no momento, como uma inovação e a solução para todos os possíveis problemas advindos da alfabetização 37 sintética, foi aplaudido por alguns e visto com reservas por outros. Como qualquer outra inovação que se insere no que já encontra-se na zona de conforto. A principal característica dos métodos analíticos é que a leitura não é um ato estanque, mas sim global e audiovisual, partindo de unidade complexas a unidades menores. Entre os métodos analíticos podemos destacar a sentenciarão, palavração e o global. Um dos métodos analíticos é o chamado Palavração, onde a ênfase se dá na palavra e não no texto propriamente dito. Como precursor pode ser entendido o filósofo Comênio, um tcheco, que considerava a instrução e o trabalho como a diferenciação do homem, é apontado como o difusor da ideia porvolta do século XVII. Um dos primeiros pensadores que visualizou a criança como um ser dotado de inteligência, limites e sentimentos. Também considerava o professor como um profissional e não, como comumente na época um missionário, assim pode ser considerado por muitos o pai da didática moderna. 38 Comênio, foi quem primeiro concluiu que a aprendizagem precisa está ligada a percepção de mundo, onde o início do processo de conhecimento está diretamente ligado a experimentação. Esse método de alfabetização é muito importante, pois, ensinando a criança a ler e escrever a partir de histórias, ela está estimulando o aluno a criar gosto pela leitura. Este é um dos pontos positivos para a aplicação desse método. São considerados globais os seguintes métodos: ● Métodos de conto; ● Método ideovisual de Decroly; ● Método natural Freinet; ● A metodologia de base linguística ou psicolinguística; ● Etapas de uma unidade; ● Alfabetização a partir de palavra-chave; ● Método natural; ● Síntese dos passos de aplicação e o ● Método Paulo Freire. Em todos esses métodos o professor deverá partir de textos ou orações até chegar às letras, ou seja, do maior para o menor. 39 Mas, afinal qual é o melhor método? Não há uma resposta pronta e acabada. Cabe ao professor conhecer seus alunos e tomar a decisão de qual método adotar em sala de aula. Caso o professor não tenha resultado com nenhum dos dois métodos apresentados acima ainda tem a opção de trabalhar os métodos analítico-sintéticos, ou seja, a mistura do global ou analítico com o sintético, no qual o professor ensina a consciência fonológica junto com o processo de ensinar a ler e escrever a partir de história ou orações. É então necessário muito estudo e dedicação por parte do professor quando assumir a responsabilidade de alfabetizar uma turma, visto que as crianças possuem formas de aprendizagem diferentes e o melhor método para uma criança pode ser ruim para outra. Não existe uma receita pronta de como alfabetizar, nem estudos que comprovem que um método mais seja mais eficiente que outro. Cabe ao professor à responsabilidade de fazer o melhor para obter sucesso no processo de alfabetização de sua turma. 40 MÉTODO DE CONTOS Um dos métodos mais antigos – o de contos – começou a ser aplicado nos Estados Unidos no fim do século XIX. Consiste em iniciar o ensino da leitura a partir de pequenas histórias, adaptadas ou especialmente criadas pelo professor. Apresentada a história completa, o texto é desmembrado em frases ou orações, que a criança aprende a reconhecer globalmente e a repetir, numa espécie de pré-leitura. A seguir, vem a etapa de reconhecimento das palavras. Depois disso é que se alcança a etapa de divisão das palavras em sílabas e finalmente a composição de novas palavras com as sílabas estudadas. O processo envolve análise das partes maiores (o texto, as frases) para chegar às partes menores (palavras, sílabas), por isso o método global é também chamado analítico. A professora Lúcia Casasanta (apud Carvalho, 2005) assim descreveu as etapas do método: 1) fase do conto; 2) fase da sentenciação; 3) fase das porções de sentido; 41 4) fase da palavração; 5) fase da silabação ou dos elementos fônicos. O método não previa a utilização de livro didático, o que constituía uma dificuldade para os professores, que deviam criar textos e preparar materiais didáticos. TRABALHO COM OS CONTOS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO Justificativa Os contos de fadas mexem com os sentimentos mais primitivos do indivíduo. Neles, o bem e o mal aparecem claramente esboçados, auxiliando as crianças a identificar seus problemas, suas emoções, suas limitações e suas possibilidades de resolução das dificuldades. Objetivos > Reconhecer obras e autores consagrados. > Apropriar-se da linguagem escrita própria desse gênero literário. > Ter procedimento de sentar para ouvir contos. > Ampliar o repertório linguístico. 42 > Fazer reconto e reescrita dos contos trabalhados. > Identificar marcas linguísticas. Conhecimento prévio > Organização de uma biblioteca literária em sala de aula. > Seleção do conto a ser trabalhado com a turma. > Leitura pelo educador do conto escolhido, 2 ou 3 vezes antes de ler para os educandos. > Observação e manuseio do livro pelas crianças: tamanho, capa, ilustrações, o que ele nos sugere, quantidade de letras etc. > Análise biográfica do autor. > Antecipação do conteúdo: tema, personagens, hipóteses da trama, cenários etc. Orientações didáticas > Leitura do título: o que será que quer dizer? > Leitura da história pelo educador. > Provocar os educandos a fazerem leitura por imitação ou leitura virtual. 43 > Trabalhar a estrutura textual do conto (ambientação, desenvolvimento da trama e finalização). > Chamar a atenção para o tempo em que se desenrola a história: cronologia. > Reconto da história pelo educador, aproximando-se o máximo possível da linguagem do autor. > Estimular as crianças para o reconto (trecho de que mais gostaram; ambientação; início ou final da história; todo o texto; continuando a fala do educador). > Reescrita do educador no quadro, a partir do reconto oral dos educandos. > Cópia pelos educandos da reescrita coletiva de trechos da história. > Distribuir a história com trechos em lacunas, para o educando completar as palavras que faltam. > Reescrita em dupla de trechos ou de todo o texto trabalhado. > Transformar a história em outro tipo de linguagem: carta, bilhete, mensagem, desenhos etc. > Escrita pelos educandos do título da história, nomes dos personagens, de expressões típicas imutáveis etc. 44 > Reescrita pelos educandos de alguns fragmentos previamente memorizados. MÉTODO IDEOVISUAL DE DECROLY Um dos mais conhecidos métodos globais, o ideovisual, foi criado no início do século XX por Ovide Decroly (1871-1932). As bases de sua filosofia de educação eram: respeito à personalidade da criança, a seus interesses, a seu ritmo natural e modos peculiares de ver o mundo. Pregava a importância da atividade, da ação e da cooperação. Decroly propôs que o ensino se desenvolvesse por centros de interesse e, em princípio, o programa escolar deveria incluir conhecimentos imediatamente ligados à criança: suas necessidades básicas no meio em que vive. Experimentou um método de aprendizagem de leitura que punha em jogo o que chamava “função de globalização”. Função que explicava a capacidade da criança de captar as formas globalmente, justificaria começar a aprendizagem por frases 45 (unidades de sentido) em lugar de letras (elementos gráficos isolados sem significação). Seu método: o aluno reconhecia a forma, o desenho total, a imagem gráfica da frase. Em seguida, aprendia a distinguir as palavras, por meio da observação de semelhanças e diferenças entre elas; em seguida as sílabas, depois as letras. MÉTODO NATURAL FREINET Célestin Freinet (1896-1966) acreditava que a inteligência, o gesto, a sensibilidade desenvolvem-se através da livre expressão, do trabalho manual, da experimentação. Sua pedagogia consiste em estimular a reflexão, a criatividade, o trabalho, a cooperação e a solidariedade. Seu Método Natural de aprendizagem da língua parte do pressuposto que: a criança lerá e escreverá com interesse textos relacionados com suas experiências. Dessa forma,seu método natural não comporta fases ou etapas, como acontece com outras propostas, a criança aprende a ler lendo, a escrever, escrevendo. Para ele a escrita e a leitura têm um significado social, existem para servir ao homem em suas lutas, no seu trabalho, na 46 expressão de suas ideias. Em lugar de atividades puramente formais, propunha que os alunos, desde tenra idade, escrevessem e lessem para ser compreendidos e para entrar em relação com os outros. A METODOLOGIA DE BASE LINGUÍSTICA OU PSICOLINGUÍSTICA A chamada Metodologia de base linguística propõe ensinar a ler a partir de orações. Foi elaborado na década de 1970 por um grupo de professores coordenado pela professora Helena Gryner. As premissas do método são: respeitar a fase de desenvolvimento cognitivo e afetivo em que a criança se encontra e tornar o aluno sujeito do processo, cabendo sempre a ele a iniciativa e a descoberta. O processo de alfabetização deve começar pela produção e reconhecimento de frases sugeridas pelas próprias crianças. Para dar início à alfabetização propriamente dita, a professora escolhe uma ou duas orações produzidas pelas crianças, que devem 47 conter palavras cuidadosamente escolhidas para atender a três critérios: 1) Critério de dificuldade: começar pelo mais fácil em matéria de relações letra-som e de padrões silábicos. As primeiras palavras chave apresentadas devem ser formadas de fonemas como /b/, /p/, /d/, /v/ e /f/, representados pelas letras b, p, d, v e f, que têm o mesmo som, independentemente da posição na palavra. São os casos em que há uma relação biunívoca entre os fonemas e os grafemas. Quanto ao tipo de sílaba, o mais fácil é o mais comum, ou seja, consoante vogal (como em pa, da, va, etc.); padrões silábicos mais complexos virão pouco a pouco. 2) Critério de alternância entre o fácil e o difícil: o método recomenda que não se deixe para a etapa final do processo de alfabetização as chamadas dificuldades ortográficas. As letras que podem representar mais um som, conforme o contexto – como s, m, l, x e outras – devem ser alternadas com aquelas consideradas mais fáceis. 48 3) Critério de produtividade: selecionar palavras-chave que depois de desmembradas em sílabas permitam formar um bom número de palavras novas. ALFABETIZAÇÃO A PARTIR DE PALAVRAS-CHAVE O método da palavração propõe o ensino das primeiras letras a partir de palavras-chave, destacadas de uma frase ou texto mais extenso. As palavras destacadas são desmembradas em sílabas, as quais, recombinadas entre si, formam novos vocábulos. MÉTODO NATURAL DE HELOÍSA MARINHO A atribuição da nomenclatura NATURAL, é usada para os princípios de aprendizagem baseados na teoria desenvolvida por uma aprendizagem sem mediações ou motivações externas, mas sim uma metodologia que respeita a natureza fisiológica do indivíduo, suas construções e suas transformações sociais. Para que o desejo e a responsabilidade da aprendizagem sejam divididos com o aluno, o movimento de uma aula na 49 metodologia natural tem uma série de propostas que impulsionam a liberdade na aprendizagem. O conteúdo é ministrado a partir de conhecimentos que o grupo possui, através de troca de informações entre os alunos e o professor, materiais de pesquisa e leituras compartilhadas de diferentes portadores de texto. As rodas de conversa são o marco inicial de todas as aulas. Esse é o espaço onde a criança tem oportunidade de expressar suas ideias, conhecimentos, dúvidas. A roda é um instrumento de participação, de comunicação dinâmica e produtiva. Outras dinâmicas que envolvem o trabalho são: o não uso de lugares fixos, o grupo gira em torno de um propósito. A sala é disposta com mesas em grupos com trabalhos diversificados, onde a criança tem a possibilidade de fazer escolhas por onde e como desenvolver suas produções do dia. O que não inviabiliza o cumprimento de todas as atividades, porém o aluno escolhe por onde quer começar e qual caminho vai percorrer no dia. Os trabalhos de coleta de informações sobre os assuntos estudados são transformados em textos coletivos que ficam expostos no ambiente de aprendizagem, assim elas têm a 50 possibilidade de acesso a leitura de algo que pertence ao seu conhecimento. Diferentemente do que possa se pensar o método natural possui regras a serem cumpridas e disciplina a ser mantida, porém como espaço democrático, o professor é um líder que sabe ouvir e usar a fala do grupo em discussões e conhecimentos pertinentes as necessidades do grupo, sob o aspecto emocional ou cognitivo. Para o método as relações sociais são fundamentais na construção de conhecimento sólido e significativo. Em geral, as atividades são desenvolvidas da seguinte maneira: seguindo os pressupostos do tema abordado na roda, a professora incentiva e orienta os trabalhos a serem realizados. Todos os dias há um grupo que desenvolve atividades de artes, que podem ser propostas de livre escolha, com a utilização de diferentes materiais, texturas, combinações, técnicas, ou alguma proposta que envolva também um tema abordado, como a confecção de um mural. Os outros grupos possuem atividades de linguagem que pode ser uma atividade em folha, uma leitura, um livro, uma leitura ou uma atividade de cópia de quadro. Um grupo com 51 atividade de linguagem matemática, um grupo com jogos e um grupo com uma atividade que envolva os outros componentes curriculares. Como é um ambiente que proporciona a atividade diversificada, também existe a possibilidade de trabalho nos cantinhos, de jogos, leitura ou ciências. Na alfabetização pelo método de Gilda Rizzo e Heloisa Marinho, alguns trabalhos são desenvolvidos ao longo do ano sempre com a orientação do professor. São eles: O vocabulário de apoio que contém as palavras escolhidas pelo grupo para estudo. São todas ilustradas pelos alunos. Assim, há a possibilidade deles mesmos identificarem e retomarem a leitura sempre que acharem necessário. Esse vocabulário vai crescendo à medida que os sons e letras do alfabeto vão sendo estudadas. Cada nova palavra escolhida vai para o sentenciador, formando frases completas que o aluno vai ler. A composição e a leitura de frases no sentenciador é um trabalho diário, onde figuras devem substituir palavras 52 desconhecidas a fim de não limitar a expressão de ideias do aluno às palavras já memorizadas. Livrinhos de Ação: Onde a interpretação textual ganha notoriedade. Onde a compreensão da leitura de frases e fixam as ações estudadas no vocabulário da turma. A Caçada é uma outra estratégia usada pela metodologia que propõe uma análise fonética das palavras, segundo a semelhança do som inicial com o de outra palavra já conhecida visualmente pelas crianças. Como, por exemplo, o (Dd) DINOSSAURO. Com recortes de palavras e gravuras em revistas que iniciem com o mesmo som são colados em uma folha grande, e colada na parede. A professora juntamente com os alunos escreve as palavras das gravuras e leem, juntos, as palavras coladas. Depois os alunos leem as palavras e escreve na “preguiçinha”. Numa segunda leitura, a criança destaca o som que está sendo trabalhado, “caçando-o”. Depois copia o som estudado. Por fim, os Jogos de Leitura: que compõem o trabalho de memorização das palavras trabalhadas do vocabulário escolhido, pode ser um jogo da memória, uma sequência de histórias, 53 adedonha....Esses jogos são desenvolvidos dentro do trabalho diversificado de sala de aula. Assim, o método desenvolve a parceria entre a criança e o professor transformando através da ludicidade e da criatividade a aprendizagem em algo rico, prazeroso, e realmente significativo. Os passos de aplicação são os seguintes: 1) A professora usa abundantemente a escrita. Registra, à vista dos alunos, fatos ocorridos na sala de aula, ou algo dito pelas crianças. Escreve bilhetes, convites, avisos destinados aos pais. 2) Estimula a percepção dos sons iniciais e finais de palavras ditas oralmente, utilizando técnicas e materiais que permitam descobrir semelhanças e diferenças entre sons, através da comparação. 3) Forma um vocabulário básico de 35 a 40 palavras (apenas substantivos e verbos) que a criança deve aprender a reconhecer globalmente, em sentenças e pequenos textos, qualquer que seja sua posição nos textos. 54 4) Leva a criança a descobrir o som dentro da palavra e a associar o som à letra. 5) Estimula a criança a ler e a escrever palavras novas com compreensão e rapidez, incentiva a leitura como fonte de informação e de prazer, e a escrita como instrumento de registro de ideias e de comunicação. MÉTODO PAULO FREIRE Hoje um dos mais conhecidos adeptos a proposta, seria Paulo Freire, educador brasileiro (1921-1997) autor de inúmeros livros, entre eles, Pedagogia do Oprimido. A maior proposta de Freire é a democratização e humanização do ensino. Em sua obra aponta a educação como fonte de transformação social. A proposta de Paulo Freire segue os passos da palavração, porém como ele mesmo dizia, a aprendizagem indo muito além do Ba, be, bi, bo, bu. Embora ele nunca tenha aceitado a percepção de sua proposta como um método, as pessoas 55 envolvidas no processo de educação o assim denominaram por seguir uma sequência de ações. Embora seu foco fora a Alfabetização de Adultos, a metodologia pode ser facilmente aplicada a criança. O processo inicia-se através de uma palavra do universo do aprendiz. Chamadas por Freire de palavras geradoras. Através de uma pesquisa sociológica, escolhem-se palavras do universo vocabular daquele grupo. Essa perspectiva também é associada a um tema de trabalho que promoverá uma perspectiva holística de aprendizagem promovendo a globalidade da aprendizagem. A seleção dessas palavras deve levar em consideração a riqueza e dificuldades fonéticas, numa sequência gradativa dessas dificuldades, seu teor pragmático, ou seja, na pluralidade de engajamento da palavra numa dada realidade social, cultural, política. Os procedimentos técnicos do método são: 1) Ao planejar um trabalho de alfabetização em determinada área, deve-se fazer um levantamento do universo vocabular da população, selecionando um grupo de 17 a 20 palavras de uso 56 frequente, relevantes para a população e que apresentam as combinações básicas dos fonemas e padrões silábicos. São estas as palavras geradoras, que constituirão pontos de partida dos debates entre os participantes dos círculos de cultura. 2) Para dar início à alfabetização, o coordenador do círculo de cultura deve apresentar algumas imagens (em slides ou cartazes) que propiciem o debate sobre as noções de cultura e de trabalho. Estas imagens representam o produto do trabalho dos homens sobre a matéria da natureza: suas ferramentas, utensílios de uso diário, suas moradias. O objetivo é fazer com que os alunos reconheçam a si próprios como criadores de cultura. 3) Para ensinar as relações entre letras e sons, o ponto de partida é a palavra geradora, que é decomposta em sílabas. Em seguida, apresenta se a ficha descoberta, em que aparecem as famílias silábicas correspondentes. Para a professora, seja qual for o método escolhido, o conhecimento das suas bases teóricas é condição essencial, importantíssima, mas não suficiente. A boa aplicação técnica de um método exige prática, tempo e atenção para observar as 57 reações das crianças, registrar os resultados, ver o que acontece no dia-a-dia e procurar solução para os problemas dos alunos que não acompanham. Além de conhecer o método em si, é preciso que o professor se pergunte: ➢ O que realmente tenho em vista ao ensinar a ler? ➢ O que estou buscando? ➢ Que usos da leitura e da escrita pretendo que o aluno venha a praticar? ➢ De que materiais disponho ou estou disposto a criar? ➢ Como as crianças se relacionam com a escrita, o que sabem sobre o assunto? ➢ Como eu próprio me relaciono com a leitura, a escrita e o método? A associação com a imagem possibilita a codificação através de uma representação da realidade do educando. Essas palavras (vocábulo), são decodificadas coletivamente e posteriormente desdobradas em sílabas que possibilitem o estudo de novas situações de leitura e escrita. TIJOLO 58 Para cada uma dessas sílabas são realizadas diversas atividades, como recortes em revistas e identificação em um grupo de palavras. Todos registram essas “famílias fonéticas” e elaboram pequenas fichas com elas. São as chamadas “fichas de descoberta”. TA TE TI TO TU JA JE JI JO JU LA LE LI LO LU De posse dessas fichas o grupo, sob orientação do educador, inicia o processo de reconstrução, ou seja, buscar novas palavras com as sílabas já trabalhadas. Jato Lote Lata Leite Tela Assim é desenvolvido o processo de conscientização de acerca do conhecimento. Em posse desses vocábulos, o orientador inicia o processo de inserir as palavras em sentenças. E aí o desenvolvimento integral do processo de aprendizagem e como configurava Freire, absorvendo a cidadania. 59 CRIAÇÃO DE SETENÇAS Para Adams, aprender a ler e escrever precisa ser um ato significativo, sem ser complexo ou mesmo abstrato. Para ele, como a criança aprende a falar, ouvindo frases inteiras, por que então promover uma aprendizagem baseada em partes? Assim, seu método seguia a teoria de partir do todo para partes e, por fim, as sílabas. Obviamente esse trabalho não é realizado todo no mesmo dia, nem mesmo com uma só atividade. É aos poucos, significando e ressignificando cada um dos momentos que a criança inicia o processo de aprendizagem. Alice comeu bombom com cereja. Cereja Ce –re – ja MÉTODO GLOBAL A última gama dos métodos analíticos são os globais. Aqueles que partem de um contexto maior para as menores partes. 60 Os livros e a literatura infantil ganharam notoriedade quando os métodos globais passaram a ser difundidos, pois passaram a ser essenciais a aprendizagem como um apoio ou mesmo como fonte de propulsão para os passos seguintes da alfabetização. A essência desse método é partir de textos para sentenças, palavras e por fim, as sílabas. O que irá variar entre os diversos métodos de ensino, é o ordenamento de ensino, instrução e instrumentos de organização de aprendizagem. Até a intervenção do mediador, seja ele professor ou não, varia de acordo com a metodologia aplicada. Outra premissa da abordagem global é a contextualização da prática de ensino. O centro do ensino é o próprio aluno e suas construções de aprendizagem. O saber é uma construção interdisciplinar, ativa, complexa e que envolve as situações afetivas e sociais. O que o aluno é, de onde vem e suas condições de aprendizagem, vão muito além do aspecto cognitivo. 61 A ludicidade, prazer, contexto, psicológico, afeto, interdisciplinar,são vocábulos invariavelmente presentes nas teorias de abordagem global. Aqui vale ressaltar que os métodos de perspectiva sintética não possuam ou não construam suas bases nas mesmas perspectivas, mas até os dias de hoje ainda se tem uma discussão acirrada sobre o que são os métodos tradicionais e os modernos. Sendo os métodos sintéticos classificados como tradicionais o que não precisa necessariamente seguir essa perspectiva. Também não podemos classificá-los como melhores ou não, mas sim como mais adequados ou não para aquela criança ou para aquele momento de aprendizagem. Nesse caminho entre as escolhas de metodologias a serem aplicadas, surgiram também os métodos chamados mistos que inserem em sua prática conduções das perspectivas analíticas e sintéticas. Entre os métodos globais estão os métodos construtivistas. Os métodos globais pregam que aprender a ler e escrever acontece de forma natural, desde que a criança esteja inserida 62 em um ambiente alfabetizador, com diferentes portadores de texto, estímulos visuais e incentivo a escrita por um mediador. Mas estar apenas dentro desse espaço que contempla a leitura não contempla a aprendizagem, é necessário que haja estímulo. A mediação do professor é de fundamental importância para o desenvolvimento da aprendizagem. O que segue o conceito de zona de desenvolvimento proximal3 relacionado nos estudos de Vigotsky. Em suma, o método global, segue a premissa de que aprendizagem da língua escrita, segue a da língua falada. Com a observação e acesso ao sistema de escrita a criança dimensiona sua capacidade de envolver-se com suas descobertas e curiosidade projetando com a ajuda de um mediador a sua aprendizagem. TEORIAS SÓCIO-CONSTRUTIVISTAS As teorias sócio construtivistas são um apanhado de vários estudos de pessoas de diversas áreas que contemplaram a aprendizagem como um dos objetos de estudo. 3 63 Os principais precursores dessa teoria são Jean Piaget e Lev Vigotsky. Piaget como biólogo dirigiu suas pesquisas para descobertas sobre o processo que o cérebro humano realiza para que ocorra aprendizagem. Esses estudos proporcionaram a facilidade do entendimento do processo de aprendizagem infantil e suas etapas de desenvolvimento. Já Vigotsky contribui com a relação que fez entre aprendizagem e as relações sociais, culturais e históricas do indivíduo. Outros estudiosos contribuíram com suas pesquisas na construção de uma proposta sócio interacionista. Como Wallon que inclui na perspectiva de aprendizagem as relações entre o psicológico, motor, afetivo e cognitivo. Enfim, os estudos que vieram a dar vida a essa nova proposta de aprendizagem incluíram outros aspectos até então não tão considerados como prováveis ligações com uma aprendizagem consistente e determinante. Por isso, passaram a ser considerados métodos revolucionários, modernos e não tradicionais. 64 Através deles criou-se uma proposta de aprendizagem, depois chamada de metodologia. Mas que na verdade são estudos que revolucionaram os caminhos que o professor pode percorrer para desenvolver a aprendizagem, foram portas que se abriram para entender o processo de transformação entre o educando e o objeto de estudo, são instrumentos de trabalho para que se entenda que aprender está muito além da capacidade intelectual da criança. Com base nesses estudos e sendo uma colaboradora de Piaget, Emilia Ferreiro deu prosseguimento aos estudos sobre o processo de aprendizagem, porém ela focou no processo de alfabetização de crianças e conseguiu, dentro suas pesquisas, documentar todo o caminho que percorre a aprendizagem nessa fase. Todos esses teóricos nos proporcionaram entender que a criança não é um ser passivo, mas que é ativo, possui conhecimentos prévios e que sua aprendizagem não se dispõe a apenas conhecimentos externos, mas sim de mecanismos internos que integram-se ao volume de informações adquiridas que, juntos, contribuem para a aprendizagem. 65 O termo construtivismo foi divulgado no Brasil em meados dos anos 80. A princípio em seminários e simpósios relacionados a educação. A sua amplitude para as políticas públicas e para as salas de aula foram muito rápidas o que ocasionou uma série de interpretações ruins e distorcidas. O que em alguns momentos fez a proposta cair no descrédito como algo não produtivo e insuficiente para aprendizagem. Muitas escolas, brasileiras especialmente, transformaram da noite para o dia suas propostas para o “método construtivista”, sem estudos prévios, organização do ambiente ou preparação das família e educadores para a inovação. É sempre importante ressaltar que o construtivismo não é um método, mas sim uma abordagem que inclui a criança no processo de aprendizagem, que leva em consideração suas conquistas pré e pós alfabetização, que o sucesso da aprendizagem perpassa pelo seu meio, afetividade, caminhos de condução do conhecimento, seus mediadores e suas medições, instrumentos e veículos de comunicação entre o que sei e ainda tenho para saber, a valorização de cada descoberta. Enfim, a criança como um ser pensante e não como alguns teóricos se referem, “tábua rasa”. 66 A aprendizagem proposta por Maria Montessori e Rudolf Steiner são consideradas propostas construtivistas. O grande desafio, hoje, do construtivismo, é desmistificar que a aprendizagem construtivista segue a trilha do “pode tudo”, ou que a criança aprende sozinha. EMÍLIA FERREIRO A autora dividiu a aprendizagem da alfabetização em níveis o que facilitaria ao professor na expectativa de aprendizagem, no planejamento, avaliação e concepção de estratégias para evoluir no trabalho de alfabetização. Emília Ferreiro marcou um passo importante na trajetória da alfabetização do mundo. Suas pesquisas permitiram aos educadores a refletir com um novo olhar sobre o processo de ensino-aprendizagem. Lógico que algumas leituras geraram interpretações não tão bem-sucedidas, informações distorcidas acerca do estudo, mas a intenção e a pesquisa têm seu valor qualitativo sobre mudanças possíveis e realizáveis. O principal foco do seu trabalho é o olhar além da codificação e decodificação do objeto. Mas sim a poesia do processo e da construção que assim como uma parede de 67 alvenaria, precisa de medidas certas de areia, cimento e água para formar uma massa que seja forte o suficiente para colar os tijolos. Para Ferreiro, o professor mantém sua função como fundamental no equilíbrio da aprendizagem, sendo que ele passa a ser um facilitador do processo e não somente o superior. O alfabetizando leva consigo uma bagagem de conhecimentos para a sala de aula e o professor pode e DEVE utilizar isso como um suporte para desenvolver o seu trabalho. O livro didático não é mais o norteador e a mola propulsora do planejamento, mas sim o conhecimento, o desejo e a curiosidade infantil que comanda o que vem pela frente. O Ministério da Educação e Cultura nos últimos anos vêm publicando muitos materiais e documentos baseado nas propostas do construtivismo. Dentre esses inúmeros documentos insere-se o papel do educador, a valorização de cada passo que a criança dá rumo a aprendizagem, o ambiente alfabetizador e os aspectos teóricos existentes nesse processo ensino/aprendizagem. 68 NÍVEIS DE EVOLUÇÃO DA ESCRITA, SEGUNDO EMÍLIA FERREIRO NÍVEL PRÉ-SILÁBICO Inicialmenteo desenho e escrita não possuem grandes diferenças. O desenho representa o objeto. Depois começa a produzir rabiscos ou riscos para representar a escrita. Pseudoletras (sinais arbitrários que representam letras), números podem aparecer nessa fase da escrita. Observa-se que aos poucos ela começa a ter ciência que as letras representam a palavra, mas usa as mesmas para representar qualquer palavra. Posteriormente percebe que precisamos de letras diferentes para escrever palavras diferentes. Eixo quantitativo: A criança, de um modo geral, exige um mínimo de três letras para ser uma palavra. As palavras como pé, sol, rua, lar etc., segundo ela, não poderão ser lidas porque têm “poucas letras”. São rejeitadas, em função do critério interno de quantidade. Eixo qualitativo: Para que se possa ler ou escrever uma palavra, torna-se necessário, também, uma variedade de caracteres gráficos. As palavras que possuem letras iguais são também rejeitadas. (MEC, 2010, p.8) 69 Nesse momento, observa-se que as crianças costumam usar em geral letras do seu “mundo letrado”, como as letras que compõem seu nome. Usam realismo nominal, onde coisas grandes e pesadas, usa-se letras grandes e voluptuosas, nomes pequenos letras miúdas. É importante salientar que sentimentos como: amor, dor, alegria e tristeza as crianças que encontram-se nessa fase de hipóteses de escrita, acreditam que não é possível se fazer registro, já que o realismo nominal se faz presente, ou seja, só é possível escrever aquilo que se vê, como se vê. O papel de mediação do professor nessa fase é de estimular a percepção que a escrita é a representação dos sons da fala. Para isso a análise fonológica torna-se o veículo condutor. Essa análise pode ser realizada através de atividades que estimulem a exploração oral de palavras que começam ou terminam com os mesmos sons, como as rimas. Os melhores veículos para essa fase são os trava-línguas, os poemas rimados, parlendas. NÍVEL SILÁBICO Inicia o uso de hipóteses de escrita/som da fala. Onde cada letra representa uma sílaba. O primeiro conflito que surge nessa 70 fase é quando escrevem uma letra para cada sílaba é que quando escrevem uma monossílaba ou dissílaba, não aceitam que haja menos que três letras e passam a acrescentar outras letras. Nessa fase também há a ideia de que não é possível a repetição de letras em uma mesma palavra. O papel do professor nessa fase é auxilia-los a reconstruir suas hipóteses, para que avancem para escrita convencional. NÍVEL SILÁBICO-ALFABÉTICO Transição entre a fase silábica para alfabética. A hipótese de uma letra para cada sílaba começa a incomodar. Começa a acrescentar letras as palavras. Não se trata de omitir letras, mas um processo de aprendizagem. É importante que o adulto compreenda e incentive-o a progressão. Uma grafia aproximada do que pode ser considerado alfabético, mas ainda com alguns ajustes em palavras fora ou não tão comumente utilizadas em seu cotidiano de escrita. É importante salientar que a passagem de uma fase para outra é sutil e não marcada com grandes interrupções. É um processo que pode ir e voltar até estabilizar e passar para uma próxima fase. 71 NÍVEL ALFABÉTICO A criança venceu as barreiras de hipóteses de representação da linguagem escrita e evoluiu para o que é socialmente aceito fazendo uma análise sonora dos fonemas que escreve. Nesse momento inicia-se o processo de compreensão das dificuldades ortográficas. Como isso vai acontecer? Nesse momento inicia-se o processo conclusão do letramento propriamente dito onde o uso das práticas sociais de leitura e escrita começam a ser mais intensas. A prática da leitura e escrita através da diversidade de textos contribui e redimensiona a aprendizagem, criando desafios, formulando questionamentos e motivando conquistas. O educador precisa estar atento ao que seu aluno já conhece, as possibilidades que compõem o universo dele, a consciência fonológica em que ele se encontra para criar estratégias que possam estimular e proporcionar novas conquistas. Precisa conhecer as fases do processo de aprendizagem, onde seu aluno se encontra e desenvolver 72 atividades que possam formular novas hipóteses, experimentar e evoluir alfabeticamente falando. O trabalho da escrita alfabética deve ter em foco o reconhecimento e a reflexão das relações entre a língua escrita e a falada. O aluno precisa perceber que há uma convenção na escrita e não uma transposição simples da fala. As atividades de elaboração de texto nessa fase são muito importantes para que as crianças que ainda se encontram silábicas alfabéticas possam avançar seu nível de escrita. O AMBIENTE ALFABETIZADOR E O PAPEL DO EDUCADOR SÓCIO- CONSTRUTIVISTA Percebe-se através dos processos de aquisição de leitura e escrita descritos acima que é um grande desafio para todos os envolvidos nessa aprendizagem. É um conjunto de fatores que colaboram com o avanço ou não do aprendiz. O que já traz com ele não pode de forma alguma ser descartado como se não houvesse história ou aprendizagem antes do contexto escolar. O educador precisa ser perspicaz, observador, conhecedor do aspecto teórico e fazer associações entre teoria e prática de 73 aprendizagem. Precisa ter seu roteiro de trabalho bem elaborado, conectado com informações e materiais necessários para que sua aula torne-se algo atrativo, que componha um trabalho com qualidade e que atenda as demandas e necessidades dos educandos, mas que, principalmente, garanta a formação de leitores e produtores de texto, que as hipóteses de alfabetização sejam elaboradas e reestruturadas avançando etapas. Precisa entender o processo e fazer as intervenções didáticas necessárias para que os caminhos sejam percorridos de modo claro, consciente e que façam a diferença na aquisição de conhecimento e aprendizagem pedagógica. O ambiente escolar precisa, também, ser acolhedor e apropriado para que a aprendizagem seja aproveitada de modo positivo, que supra as necessidades de retomada de conteúdo, compartilhamento de dúvidas, inserção de questionamentos, busca de informações, interação entre os colegas, exercício de criatividade. Um lugar onde possa acontecer, simultaneamente, atividades que proporcionem autonomia nas propostas que já estão seguros e que o professor possa apoiar aqueles que ainda precisam de seu apoio para avançar sua aprendizagem. 74 O mais importante em todas as fases ou etapas, é que esse trabalho seja lúdico, prático e que respeite os limites de cada uma das crianças, necessidades e expectativas. O professor deve refletir sua prática e rever cada uma das suas ações, e com seriedade alternar aquilo que não fluiu bem e o que precisa de ajustes, o que foi motivador ou o que não surtiu o efeito desejado, assim poderá no próximo planejamento Essa comunhão de elementos conspira em prol de uma educação promissora e de qualidade. Inserindo cada um dos educandos a seu tempo a garantia de aprendizagem contextualizada e lúdica. METODOLOGIA MONTESSORIANA Maria Montessori nasceu na Itália em 1870 e foi a primeira mulher a formar-se em medicina pela Universidade de Roma dedicando seus estudos para as crianças tidas, à época, como anormais. Nesses estudos percebeu que parte do insucesso de aprendizagens dessas crianças advinha das práticas pedagógicas. O principal foco de Montessori foi entender que a educação era uma conquista da criança, pois se tivermos condições e
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