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O HOMEM DOS RATOS

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FACULDADE DE PATO BRANCO- FADEP 
BRUNA CARDOZO MEIRA 
JESSICA BARBOSA 
KANANDA ZATTA 
STEPHANIE CADORIN 
VERONICA TAKAHARA 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRABALHO DE PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE 
 
 Trabalho acadêmico apresentado na 
disciplina de Psicologia da 
Personalidade do 5° período do curso de 
Psicologia da Faculdade de Pato Branco 
- FADEP. 
 Professora: Ms Juliane Varaschim. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PATO BRANCO – PR 
MAIO DE 2019 
O HOMEM DOS RATOS 
 Este resumo é uma leitura do caso de Freud “O Homem dos Ratos”. Em 
psicanálise, todo pensamento obsessivo que de lugar a alguma construção, 
não importando a quão louca ela seja, será sempre ligada a sexualidade, a 
neurose obsessiva comporta uma erotização do pensamento. 
 Freud começa a análise do paciente que vem a ser chamado de “O 
Homem dos Ratos“ Em outubro de 1907. Ele vem ao seu encontro por diversos 
problemas, principalmente por sintomas obsessivos. Ele é obcecado pelo 
pensamento de que acontecerá alguma coisa de desagradável, alguma coisa 
de dolorosa, às duas pessoas que ele ama - seu pai e uma dama. Freud 
observa isso bem, principalmente nas notas que existem correspondentes aos 
três primeiros meses e vinte dias, até o dia 20 de janeiro de 1908, naquilo que 
Freud chama “diário de uma análise”, onde ele, todas as noites, anotava o que 
era dito em cada sessão. 
 O paciente fala desde a primeira vez de sua vida sexual. Seus primeiros 
impulsos remontam aos quatro ou cinco anos de idade quando tocou a 
Senhorita Robert. Ela tinha “órgãos genitais curiosos”, segundo ele. Esta 
experiência deixou nele um rastro que não pode ser apagado: a curiosidade de 
ver mulheres nuas. Mais tarde, a mesma coisa lhe aconteceu com a Senhorita 
Rosa. Suas lembranças remontam à idade de seis anos e são muito nítidas: 
“eu sofria de ereções”, ele nota. Podemos supor que até aí ele ainda não tinha 
subjetivado suas primeiras experiências sexuais. Estas primeiras ereções 
fazem furo no nível do sentido e ele se queixa à mãe, pois alguma coisa, vivida 
como estranha, lhe escapa. É o encontro com a realidade sexual que se mostra 
traumático. 
 Ernst Lehrs suspeitava de que o fenômeno bizarro das ereções teria 
uma relação com seus pensamentos e sua curiosidade sexual, isto é, com sua 
fantasia de ver mulheres nuas, fantasia que sustentava seu desejo de voyeur, 
mas também seu desejo de saber. Ele temia que seu pai morresse se 
pensasse em coisas sexuais, portanto procurava afastar estes pensamentos. 
Ele supunha que pronunciava seus pensamentos em voz alta, pois tinha a 
impressão de que seus pais os conheciam, sensação esta, que se origina no 
sentimento de exterioridade à linguagem que todos nós conhecemos muito 
bem. 
 Freud considera que tudo isso não é o início da doença e, sim, a doença 
propriamente dita. Toda a neurose obsessiva está aí na neurose infantil, que 
comporta, a título de sintoma, o eixo da neurose posterior. 
 Seguem duas sessões sobre o pai, morto quando Ernst tinha vinte e um 
anos, em relação ao qual ele se sente culpado de negligência. Após sua morte, 
ele se sente invadido por um sentimento de descrença: ele imagina 
constantemente que seu pai está vivo. Um ano e meio mais tarde, em seguida 
à morte de uma tia, ele se lembra de sua negligência e está se torna uma fonte 
infindável de culpabilidade e de recriminações: ele se toma por um criminoso. A 
consequência é uma grave inibição intelectual. Freud emite a hipótese de um 
fantasma em relação com a morte do pai que se prolonga no além, mas 
encontra os afetos ligados às recriminações desproporcionais em relação ao 
conteúdo: estas recriminações e está culpabilidade não combinam. Existe um 
desacordo entre as representações e os afetos; o afeto deve corresponder a 
um outro conteúdo; 
 Freud pesquisa então um desejo infantil: o desejo da morte do pai. O 
Homem dos ratos se insurge, se defende, afirma que adora seu pai, que o ama 
acima de tudo. Freud lhe explica que este amor tão intenso é a condição de 
recalque do ódio, cuja fonte reside nestes desejos sexuais infantis para os 
quais o pai era um obstáculo. A despeito de sua recusa da hipótese de Freud, 
Ernst reconhece que, mesmo depois da morte do pai, ele vai muito mal. Freud 
tenta então reconstituir a causa contingente do desencadeamento da neurose. 
Enquanto na histérica, a causa ocasional cai no esquecimento, no obsessivo 
ela é conservada na memória, mas destituída de sua carga afetiva. A 
contingência veio movimentar os significantes de sua história e, em particular, 
antes de seu nascimento, aqueles relativos à escolha de parceiras de seu pai. 
Este era apaixonado pela filha de um açougueiro, à qual renunciou para casar-
se com a filha de um industrial do qual se tornou empregado, o que lhe permitiu 
constituir fortuna. Isto coloca para seu filho a questão da causa do desejo que 
une um homem a uma mulher, dos antecedentes lógicos do objeto a naquilo 
que uniu sua mãe e seu pai. Após a morte de seu pai, sua mãe, um pouco 
alcoviteira, procura fazê-lo se casar com uma mulher rica, mesmo ele amando 
uma mulher pobre, a dama à qual seu pai não gostaria de que ele se 
associasse de forma duradoura. Se ele persistir em seu amor, Ernst 
desagradará ao pai; a questão para ele é, então, a de contrariar ou não a 
vontade paterna. 
 Foi então que a transferência veio ajudar a decifrar o enigma: na escada 
que leva ao consultório de Freud, o homem dos ratos cruza com uma jovem; 
ele imagina que é a filha de Freud e que este quer obrigá-lo a casar-se com 
ela. Segue um sonho, no qual uma jovem tem fezes no lugar dos olhos: é 
questão de se casar com uma jovem não pelos seus belos olhos, mas pelo seu 
dinheiro. Temos aí dois objetos causa do desejo: o olhar e o dinheiro. A causa 
do desejo do pai é o dinheiro. 
 No momento em que Freud lhe faz esta interpretação, Ernst se enfurece: 
em um acesso de intenso desespero, ele lança injúrias a Freud. Tomado de 
assustadora angústia, ele protege sua cabeça contra os golpes que Freud 
deveria lhe dar. Foi então que ele elucidou um ritual do qual nunca tinha falado. 
Na época em que fez seus exames, ele gostava de imaginar que seu pai 
estava vivo. Ele estudava até tarde da noite. Entre meia noite e uma da manhã, 
ele abria a porta de entrada e se contemplava diante do espelho com o pênis 
ereto, sob o olhar do pai morto. Ele satisfazia seu pai ao estudar até tarde, mas 
ao mesmo tempo se entregava a um ato de subversão fálica diante desse. 
 Freud insiste com ele no fato de que ele provavelmente se masturbava 
quando tinha seus seis anos e que provavelmente foi severamente castigado 
pelo seu pai. Nesse momento, Ernst encontra a seguinte lembrança: muito 
pequeno, no momento da morte de sua irmã, ele cometeu um ato grave pelo 
qual seu pai lhe bateu. Em resposta, ficou furioso e resolveu injuriar seu pai. 
Por não conhecer nenhuma palavra ofensiva, ele lhe deu todos os nomes de 
objetos que lhe passavam pela cabeça: “Você lâmpada! Você toalha! Você 
prato! ” Ao que o pai declara: “Esse pequeno ou se tornará um grande homem 
ou um grande criminoso. ” É neste momento que seu caráter se modifica: de 
colérico que era, ele se torna covarde. As ofensas sujas dirigidas a Freud 
assim como o ritual fazem o sujeito admitir seu ódio inconsciente do pai; se 
esclarece o enigma da obsessão pelos ratos. 
 O tratamento permite encontrar o erro do pai, um pecado de juventude 
ocorrido quando este estava no serviço militar. Era um jogador, um Spielrat. 
Tinha perdido no jogo os fundos de seu regimento, só foi salvo porque um de 
seus colegas emprestou-lhe a soma a ser reembolsada. Quando se tornou rico,
foi procurar, aquele que lhe emprestou o dinheiro; não tendo podido encontrá-
lo, nunca reembolsou a dívida. 
 Ernst diz a Freud que vai lhe relatar o evento que o estimulou a procurá-
lo, acontecido dois meses antes de sua vinda, no mês de agosto, num 
momento em que ele deveria cumprir obrigações militares. Dois eventos de 
pura contingência ocorreram: de um lado, a perda de seus óculos durante uma 
manobra, e a comunicação por telégrafo ao seu oculista, em Viena, solicitando 
a reposição; de outro, e o encontro com o “capitão cruel”. Quando ele chega ao 
momento em que de fato deve relatar a história que ouviu, seu discurso se 
torna confuso, se expressa de forma muito obscura. Ele não consegue 
pronunciar o termo “ânus” e é Freud que o nomeia em seu lugar. 
 Ernest conta que durante o seu serviço militar, ele ouvira a descrição de 
uma tortura, que consistia em colocar ratos famintos em um balde sob qual a 
pessoa que seria torturada tinha as nádegas acopladas. Com a pessoa 
amarrada, o balde era aquecido e os ratos tentavam fugir, penetrando o ânus e 
comendo a carne do torturado. Ernst passou então a imaginar que essa tortura 
aconteceria ao seu pai, falecido, e à sua dama, caso ele não obedecesse 
determinadas circunstâncias rígidas, às quais era responsável. 
 Além de sofrer por causa deste perigo fantasmático que ameaçava 
quem ele amava. Nesta mesma ocasião, ele perdeu seus óculos e os 
encomendou a seu oculista, o qual os enviou pelo correio. Este mesmo capitão 
que havia lhe contado o fato disse-lhe, então, que ele deveria enviar o dinheiro 
do pagamento dos óculos para reembolsar o tenente “A”, que os havia pago 
por ele. Após um impulso inicial de não pagar, a questão do reembolso ao 
tenente “A” impôs-se de uma forma imperativa para o paciente, como um 
juramento. Contudo, o paciente notou que o capitão devia ter se enganado 
porque era o tenente “B” o responsável pelos assuntos de correio, não o 
tenente “A”. Angustiado, pensa que, se não o fizesse, algo ruim poderia 
acontecer às pessoas que ele amava, mais especificamente, a tortura dos ratos 
seria aplicada à mulher desejada e ao pai morto. Sua obsessão o levou a 
montar o seguinte esquema para resolver o impasse da devolução do dinheiro: 
ele deveria enviá-lo ao tenente “A”, que o entregaria para a senhora do correio, 
a qual, na frente do tenente “A”, o entregaria ao tenente “B”, que, por fim, o 
devolveria ao tenente “A”. 
 Ernst relata que sofria com pensamentos obsessivos, tais como a 
ocasião em que aguardava sua amada e viu uma pedra na rua onde ela e seu 
primo parariam com a carruagem. Ele começa a ter o pensamento obsessivo 
de que a carruagem ia bater na pedra, virar e ferir os dois. Assim, a retira e 
coloca embaixo de seu banco, ao que começa outros pensamentos de que isso 
era irracional e absurdo. Ernst permanece então com o ato obsessivo de tirar a 
pedra do local e colocá-la novamente, o que reflete, além da característica de 
ideias de morte, sua dúvida. 
 Com o desenvolvimento das sessões, Freud percebe na fala de Ernst 
que ele repete varias a palavra “rato”, demonstradas nas suas obsessões 
relacionadas à pagamento, casamento, prestação e ‘rato de jogo’. Assim, 
existe a interpretação de Freud de que Ernst realizou uma substituição de 
objeto, atribuindo o rato e suas respectivas associações às ideias obsessivas. 
Era impensável e moralmente inaceitável que Ernst odiasse seu pai ou tivesse 
sentimentos ruins e agressivos aos seus semelhantes, assim, recalca esse 
conteúdo que volta como um sintoma substituto. 
 Cabe lembrar que, apesar do recalque ter sido feito pelo inconsciente, a 
ideia substitutiva também causa desprazer e angústia. O rato, então, é a 
expressão dos sentimentos hostis, agressividade e tudo enquanto moralmente 
inaceitável para Ernst. Por outro lado, há uma ambivalência, característica da 
neurose obsessiva. Apesar de o rato ser o simbólico de repulsa, também 
estava presente nas fantasias sexuais de Ersnt, que desejava tanto ser 
castigado do modo como o general lhe contou, como de castigar alguém assim. 
 O tratamento do Homem dos Ratos levou onze meses e a solução dada 
a obsessão por ratos faz com que ela desapareça. Descobriu-se, portanto, que 
na neurose obsessiva o recalque não está ligado ao esquecimento, como na 
histeria, mas à separação da relação de causalidade que se dá em função de 
um deslocamento de afeto. Assim o resultado são deformações que buscam 
mascarar o pensamento proveniente da censura.

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