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MÓDULO 1 CURSO E TRABALHO NO PODER JUDICIÁRIO SAÚDE MENTAL CONTEXTUALIZAÇÃO DA SAÚDE MENTAL CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA Presidente: Ministro José Antonio Dias Toffoli Corregedor Nacional de Justiça: Ministro Humberto Eustáquio Soares Martins Conselheiros: Aloysio Corrêa da Veiga Maria Iracema Martins do Vale Márcio Schiefler Fontes Daldice Maria Santana de Almeida Fernando César Baptista de Mattos Valtércio Ronaldo de Oliveira Francisco Luciano de Azevedo Frota Maria Cristiana Simões Amorim Ziouva Arnaldo Hossepian Salles Lima Junior André Luis Guimarães Godinho Valdetário Andrade Monteiro Maria Tereza Uille Gomes Henrique de Almeida Ávila Secretário-Geral: Carlos Vieira von Adamek Diretor-Geral: Johaness Eck Secretário Especial de Programas, Pesquisas e Gestão Estratégica: Richard Pae Kim SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Secretário de Comunicação Social: Rodrigo Farhat Projeto gráfico: Eron Castro Revisão: Carmem Menezes 2019 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA SEPN Quadra 514 norte, lote 9, Bloco D, Brasília-DF Endereço eletrônico: www.cnj.jus.br Conteúdos deste módulo 4 Objetivos de aprendizagem 5 Apresentação Unidade I 6 Introdução: o que é saúde mental? Unidade II 10 Saúde Mental nas Diversas Fases do Desenvolvimento Humano Unidade III 14 Relações Humanas e Ética 16 Referências bibliográficas 3 Objetivos de aprendizagem » Compreender o contexto da saúde mental nas suas diversas formas; » Conhecer os tipos de transtornos que mais afetam as pessoas em suas relações, bem como as táticas para prevenção e tratamento para melhoria da qualidade de vida; » Conhecer os principais marcos na saúde mental no Brasil e no mundo; » Obter um resumo sobre a saúde mental nas diversas fases do desenvolvimento humano. 4 Apresentação Bem-vindo ao módulo 1 do curso! É muito bom contar com a sua colaboração! Iniciaremos nossos estudos mostrando como a saúde mental tem sido objeto de estudo nas mais diversas áreas, uma vez que o cenário atual no Brasil e no mundo mostra crescimento considerável de casos de doenças mentais, em todas as classes sociais, e em qualquer idade. Veremos que ao longo dos anos o tema” saúde mental” foi ganhando destaque, tanto nos estudos, na atenção e no acolhimento ao portador de doenças mentais quanto na legislação. Na antiguidade, as pessoas com transtornos mentais eram vistas como loucas e tratadas de forma desumana; hoje, portanto, a saúde mental está amparada por leis, decretos e portarias que buscam trazer dignidade e acolhimento aos portadores e familiares. Vamos, ainda, esclarecer os tipos de transtornos que mais afetam as pessoas em suas relações, bem como as táticas para prevenção e tratamento para melhoria da qualidade de vida. 5 Unidade I Introdução: o que é saúde mental? Uma vez que a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma não existir definição “oficial” de saúde mental, e o Dicionário Aurélio defini-la como “expressão utilizada para descrever a qua- lidade cognitiva e emocional de um indivíduo ou, ainda, para designar a inexistência de alguma doença mental”, essa pode ser entendida de forma bem mais ampla, como a capacidade de alcance de um bem-estar cognitivo, comporta- mental e emocional, no qual o indivíduo é capaz de usar as próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com sua comunidade, sendo capaz inclusive de apro- veitar a vida e alcançar um equilíbrio entre as atividades pessoais, laborais e suas emoções, visto que diferenças culturais, julgamentos sub- jetivos e teorias relacionadas concorrentes afe- tam o modo como a “saúde mental” é definida. O termo Saúde Mental se justifica, assim, por ser uma área de conhecimento que, mais do que diagnosticar e tratar, liga-se à prevenção e à promoção de saúde, preocupando-se em reabi- litar e reincluir o paciente em seu contexto social. No decorrer da vida, os problemas de saúde mental podem afetar o pensamento, humor e comportamentos. Muitos fatores contribuem para esse problema, incluindo fatores biológicos, como genes ou química cerebral; experiências de vida, como trauma ou abuso, ou até herança familiar de problemas mentais. Existem vários tipos de transtornos mentais, entre eles estão a depressão, o transtorno afe- tivo bipolar, a esquizofrenia e outras psicoses, demência, deficiência intelectual e transtornos de desenvolvimento, incluindo o autismo e o estresse. Geralmente são caracterizados por combinação de pensamentos, percepções, emo- ções e comportamento anormais, que também podem afetar as relações com outras pessoas. Algumas táticas podem ser importantes e bené- ficas para prevenção e até mesmo depois da 6 doença instalada, são elas: melhoria da quali- dade de vida pelo lazer e socialização, melho- ria da estrutura do serviço para o atendimento tanto para os casos com risco potencial como os pacientes em tratamento, aumento os níveis de conhecimento dos riscos envolvidos nos trans- tornos mentais e seus medicamentos, processo de trabalho mais bem estruturado, sem contar o acesso aos cuidados de saúde e aos serviços sociais capazes de proporcionar tratamento e apoio social que também é fundamental. O número de transtornos mentais continua crescendo, com impactos significativos sobre a saúde e sendo fator importante nas principais consequências sociais, de direitos humanos e econômicas em todos os países do mundo. A partir de dados levantados em 2017 pelo Insti- tuto Nacional do Seguro Social (INSS), concluiu- -se que a depressão e o estresse ocupacional estão entre as cinco principais causas de afas- tamento do trabalho no Brasil. A OMS alerta que, até 2020, a depressão será a doença mais inca- pacitante do mundo. Já a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) estima que entre 20% e 25% da população tiveram, têm ou terão um quadro de depressão em algum momento da vida. Ainda segundo dados da organização, em todo o mundo, uma em cada quatro pessoas vai sofrer com algum transtorno mental em algum momento da vida. O risco de certas perturbações, inclusive a doença de Alzheimer, aumenta com a idade. Para os especialistas, o preconceito e o estigma relacionados a essas doenças mentais ainda são os grandes entraves para a busca de tratamento. Outro dado interessante é que populações de países das Américas são mais acometidos por transtornos de ansiedade, enquanto o leste europeu tem maior prevalência de transtornos por uso de álcool. O Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão. Segundo esti- mativas da OMS, 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população. Pesam nesse cenário, fatores socioeconômicos, como pobreza e desemprego, e ambientais, como o estilo de vida em grandes cidades. PRINCIPAIS MARCOS DA SAÚDE MENTAL NO BRASIL E NO MUNDO 1912: A Psiquiatria torna-se uma especialidade médica autônoma. 1921: Inaugurado o famigerado Manicômio Judi- ciário, órgão que se encarrega dos doentes men- tais que cometem delitos. 1955: Usada, pela primeira vez no Brasil, a clor- promazina, medicamento que inaugura a cate- goria dos neurolépticos. Entre as várias iniciativas legais e normativas instituídas para a concretização do modelo de atenção psicossocial, destacam-se: Declaração de Caracas – 11/11/1990: Marca as reformas na atenção em saúde mental nas Américas, enfatizando a reestruturação da assis- tência psiquiátrica e a vigilância e defesa dos direitos humanos das pessoas e em sofrimento psíquico. A Declaração de Caracas tinha como CURSO SAÚDE MENTAL E TRABALHO NO PODER JUDICIÁRIO CONTEXTUALIZAÇÃODA SAÚDE MENTAL Módulo 1 7 finalidade transformar os pacientes de doenças mentais em cidadãos, visto que muitos não pos- suíam direitos legais nem mesmo documentos. Apesar de o Brasil ser signatário da Declaração de Caracas em 1990, as mudanças efetivas ocor- rem muitos anos depois. Portaria/GM n. 106, de 11/2/2000: Cria os serviços de residências terapêuticas, que têm como finali- dade dar a garantia de um lar para os indivíduos que não possuem referência familiar ou social Lei n. 10.216, de 6/4/2001: Primeira lei oficial que inicia o amparo aos doentes mentais. Dis- põe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. A reforma psiquiátrica e o modelo de atenção psicossocial não se constituem apenas pelo con- junto de mudanças políticas, mas pela mudança de paradigmas. Só se efetiva a partir de trans- formações de práticas, saberes, valores culturais e sociais associados à saúde mental. Portanto, são orientados para um modelo de atenção comunitário, com rede de atenção substitutiva à internação hospitalar e redução progressiva dos leitos psiquiátricos. Os leitos hospitalares ainda existem e não podem ser erradicados, pois muitos pacientes precisam de internação por conta de outras complicações físicas ou sur- tos. Portanto, a reforma psiquiátrica presa pela diminuição dos leitos, e não pela erradicação. Portaria/GM n. 336, de 19/2/2002: Estabelece diretrizes para o funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial. Estes serviços passam a ser categorizados por porte e clientela, recebendo as denominações de CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPSi e CAPSad. Os CAPS I, CAPS II e CAPS III têm a finali- dade e objetivo de atender qualquer demanda psiquiátrica onde não possuam CAPSi e CAPSad. O CAPS I é destinado para cidades de pequeno porte ou de até 50.000 habitantes; CAPS II atende cidades de médio porte ou de até 100.000 habi- tantes, e ambos funcionam em horários de aten- ção básica de saúde (7 às 17 horas); e o CAPS III é destinado para cidades com mais de 100.000 habitantes e é o único CAPS que funciona 24 horas 7 dias por semana. Contudo, muitas uni- dades não possuem planejamento e estrutura adequados para atender esses pacientes. O CAPSi é específico para atender crianças e ado- lescentes, juntamente com suas famílias, e o CAPSad é exclusivo para tratamento de usuários de álcool e outras drogas. Já existem hoje CAPS especializados em outras necessidades, como o CAPSiad, que é destinado ao tratamento de crian- ças e adolescentes dependentes de substâncias entorpecentes, e o CAPSadIII, voltado para usu- ários e álcool e drogas que funciona 24 horas. Cada estado tem autonomia de implantar esse serviço de acordo com suas necessidades locais. Lei n. 10.708, de 31/7/2003: Institui o auxílio-rea- bilitação psicossocial para pacientes acometidos de transtornos mentais egressos de internações. Parte integrante de um programa de ressocializa- ção de pacientes internados em hospitais ou uni- dades psiquiátricas, denominado “De Volta para Casa”, sob coordenação do Ministério da Saúde. Com a reforma psiquiátrica, os pacientes foram reinseridos em suas famílias, uma vez que os leitos de grandes manicômios foram fechados. A assistência financeira para os doentes mentais tem o objeto de ampliar e dar suporte às neces- sidades desses cidadãos, devido à falta de con- CURSO SAÚDE MENTAL E TRABALHO NO PODER JUDICIÁRIO CONTEXTUALIZAÇÃO DA SAÚDE MENTAL Módulo 1 8 dição financeira de muitas famílias. Porém, mui- tas famílias não possuíam instrução adequada para lidar com as condições desses pacientes, e outras praticavam maus-tratos. Portaria GM n. 52/04: Instituiu o Programa Anual de Reestruturação da Assistência Hospitalar Psi- quiátrica no SUS, visando a uma nova pactuação na redução gradual de leitos, com uma recompo- sição da diária hospitalar em psiquiatria. Reconhecimento em 2009, pela OMS, do modelo de atenção à saúde mental brasileiro, e convite ao Brasil para participar, em um grupo de 10 paí- ses, de esforço internacional para diminuição da lacuna de tratamento em saúde mental no mundo. IV Conferência Nacional de Saúde Mental – Inter- setorial: Realizada em 2010, em Brasília, com o tema “Saúde Mental direito e compromisso de todos: consolidar avanços e enfrentar desafios”. CURSO SAÚDE MENTAL E TRABALHO NO PODER JUDICIÁRIO CONTEXTUALIZAÇÃO DA SAÚDE MENTAL Módulo 1 9 Unidade II Saúde Mental nas Diversas Fases do Desenvolvimento Humano As doenças mentais mais prevalentes, de modo geral, são a depressão, a ansiedade, a depen- dência química e o transtorno bipolar. Além de fatores genéticos e biológicos, o momento da vida – infância, adolescência, vida adulta ou terceira idade – pode influenciar na incidência de doenças específicas. Fatores gené- ticos, associados a alterações neuroquímicas e estressores ambientais, são os principais respon- sáveis pela ocorrência dos quadros psiquiátricos. Um fator que explica as diferentes doenças, recorrentes em cada faixa etária, é a própria maturidade mental da pessoa. Esses males pre- cisam que o “arquivo de dados”, dentro da nossa cabeça, esteja organizado de forma propícia para se manifestarem, o que só acontece com a matu- ridade do intelecto. Outra explicação seria a própria rotina da pes- soa, que pode exercer influência para instalação da saúde mental. Dependendo de qual fase se esteja vivendo, das exigências enfrentadas e da pressão a qual se está exposto, as doenças podem, ou não, se manifestar. O tipo de trans- torno também muda com a idade, assim como as obrigações e preocupações. A psicopatologia infantil é diferente da do adulto, mesmo porque a criança está em formação, em amadureci- mento de seus recursos e funções. 10 Os transtornos do neurodesenvolvimento, como o transtorno do espectro autista e déficit de atenção, tendem a ser diagnosticados pela pri- meira vez na infância, mas não necessariamente desaparecem na vida adulta. A esquizofrenia, por exemplo, raramente ocorre pela primeira vez antes dos 10 anos ou após os 50, embora avance até a terceira idade. Quando não são tratados, os males psiquiátricos tendem a piorar. As consequências para a vida de um indivíduo não diagnosticado e que não tenha recebido o acompanhamento adequado são perigosíssimas e podem envolver, inclusive, o surgimento de outros transtornos. O risco é de agravamento e de cronicidade. ADULTO JOVEM A fase adulta jovem compreende um período da vida que vai dos 20 aos 40 anos de idade, carac- terizando-se como uma etapa de muita força e vitalidade do ser humano. Porém, o indivíduo adulto jovem se encontra em um processo de afirmação e testagem de seu potencial, diante dos enfrentamentos sociais e pessoais. A maio- ria dos transtornos mentais emerge durante a adolescência e o começo da faixa dos 20 anos. A adolescência e a vida adulta jovem caracteri- zam-se por mudanças físicas, psíquicas e sociais. Nessa fase, há uma predisposição ao desenvol- vimento de alguns transtornos psicopatológicos como a depressão, a ansiedade e alguns com- portamentos de risco à saúde como uso de dro- gas e álcool. Estudos populacionais no Brasil demonstram uma prevalência de Transtornos Mentais Comuns (TMC) que variam de 17% a 35%. Em estudos inter- nacionais, a prevalência varia de 15,4% a 30,5%. TMC foram conceituados por Goldberg e Huxley, incluindo depressão não psicótica, ansiedade e sintomas somatoformes. Os TMC abrangem sintomas como: insônia, fadiga, esquecimento, irritabilidade, dificuldades de concentração, quei- xas somáticas e sentimento de inutilidade. Esses são comumente encontrados em indivíduos com baixa classe socioeconômica, mulheres e pessoasque passaram por processo de separação. Usu- ários de tabaco e álcool, assim como comporta- mento sedentário, também mostraram associa- ções com TMC. Estudos encontraram relações de TMC com vulnerabilidade social, tais como baixa escolaridade, menor número de bens, condições precárias de moradia, baixa renda e desemprego, que podem refletir na baixa qualidade de vida dos jovens, justificando então a necessidade de estudos que avaliem tal relação, já que a percep- ção de saúde geral do indivíduo está diretamente relacionada ao bem-estar físico e psicológico. Durante a adolescência, e no início da vida adulta, a manifestação de diagnósticos como depressão, transtorno bipolar e ansiedade são mais frequen- tes. O uso de álcool e de drogas, geralmente, se inicia nessa fase da vida. Aqueles que vão além da experimentação podem desenvolver proble- mas mais tarde, em outra fase da vida. ADULTO INTERMEDIÁRIO Na vida adulta, fase denominada adulto inter- mediário, é compreendida entre os 45 a 60 anos de idade. Junto com essa fase, vem a demanda aumentada por trabalho excessivo, busca por dinheiro e estabilidade. As exigências sociais e CURSO SAÚDE MENTAL E TRABALHO NO PODER JUDICIÁRIO CONTEXTUALIZAÇÃO DA SAÚDE MENTAL Módulo 1 11 familiares, a vida na cidade grande, por exemplo, favorece o surgimento de sintomas ansiosos. Os níveis de ansiedade atingem seu ponto máximo entre os 40 e os 60 anos de idade, indicam novas estatísticas, provando que a “crise da meia-idade” pode ser mais real do que muita gente imagina. Um novo estudo do governo britânico sobre bem- -estar apontou que, falando em termos gerais, as pessoas têm níveis relativamente altos de satisfação com a vida e de felicidade entre 16 e 19 anos de idade e entre 65 e 79 mostram os índices mais elevados. As pessoas entre 45 e 54 anos, entretanto, rela- taram índices mais baixos, o que coincidiu com aumento notável nos níveis de ansiedade. Os níveis caem depois dos 60 anos de idade, coincidindo com aumento do nível de satisfação com a vida e de felicidade. Pode haver várias razões para isso, mas o cená- rio típico envolve pacientes com um ou mais empregos, demandas dos filhos e de adminis- trar a casa e a preocupação extra de cuidar de parentes mais velhos. Acrescente a isso preocupações financeiras, e a pressão fica muito grande, o que pode causar depressão e ansiedade. Fatores como divórcio e luto também podem compor o problema. VELHICE A terceira idade – a partir dos 60 anos de idade – é um período de muitas mudanças na vida de uma pessoa; aprender a lidar com essas mudan- ças é fundamental para que esse período flua de maneira natural e não prejudique as relações interpessoais do idoso. A saúde mental do idoso é um ponto que merece muita atenção, em espe- cial pela vulnerabilidade desse grupo a determi- nados transtornos psicológicos causados pelas alterações biológicas e sociais. Apesar da aparente vulnerabilidade dos idosos a determinados tipos de transtornos mentais, é importante destacar que algumas práticas podem evitar ou até mesmo reverter determi- nados quadros de transtorno. Para isso, é fun- damental que exista acompanhamento médico especializado que permita sinalizar quaisquer propensões que o indivíduo possa ter, seja por histórico familiar, aspectos psicossociais, grau de instrução ou comorbidades. Algumas características presentes nessa faixa etária tendem a influenciar no surgimento dos transtornos mentais. Os mais comuns são: » Isolamento social; » Problemas financeiros; » Diminuição das capacidades cognitivas; » Transtornos mentais mais comuns em idosos; » Perda das funções sociais; » Demências; » Alzheimer; » Demência vascular; » Esquizofrenias; » Depressão; » Bipolaridade; » Perda de autonomia (financeira ou motora); » Morte de familiares ou colegas próximos; CURSO SAÚDE MENTAL E TRABALHO NO PODER JUDICIÁRIO CONTEXTUALIZAÇÃO DA SAÚDE MENTAL Módulo 1 12 » Comprometimento da saúde; » Delírios; » Ansiedade; » Utilização de álcool ou substâncias psicoa- tivas. Evidentemente que a idade acaba contribuindo para o desenvolvimento de determinados trans- tornos, porém é importante que o idoso e sua família se conscientizem sobre a necessidade de levar a vida normalmente nessa fase da vida. Praticar atividades que estimulem a atividade cerebral como palavras cruzadas, xadrez, leitura, jogo de videogame, são métodos caseiros para driblar a degeneração dos processos cognitivos pois o cérebro irá estar sempre sendo estimulado. É importante que a família participe ativamente desse caminho de readequação do cotidiano, para que ele ocorra da maneira mais natural possível. Na terceira idade, o diagnóstico das demências é mais comum. Nessa fase da vida, o risco de demência aumenta de 1% a 2% aos 65 anos de idade; e para cerca de 30% aos 85. Algumas pecu- liaridades devem ser levadas em consideração quando se fala em tratamento de pessoas mais velhas. As medicações já ingeridas por conta de outras doenças, como diabetes e hipertensão, podem interagir com os medicamentos para os transtornos mentais (ou vice-versa). Nesses indi- víduos deve-se ter o cuidado de escolher medica- mentos que não diminuam ou aumente o efeito quando misturados a outras drogas. Outro ponto que merece atenção é o perfil de efeitos colate- rais. Medicamentos que possam causar queda de pressão, por exemplo, são perigosos para os idosos, o que poderia causar quedas, que são outro fator muito relevante na terceira idade. Enfim, não só os idosos, como também as outras faixas etárias devem manter uma saúde mental positiva como alternativa para evitar essas con- dições mentais durante o processo de envelhe- cimento, desempenhando todo o seu potencial, enfrentando as tensões do cotidiano, sendo pro- dutivas no trabalho (incluindo o serviço voluntá- rio) e fazendo contribuições significativas para as suas comunidades. CURSO SAÚDE MENTAL E TRABALHO NO PODER JUDICIÁRIO CONTEXTUALIZAÇÃO DA SAÚDE MENTAL Módulo 1 13 Unidade III Relações Humanas e Ética A ética é um elemento fundamental nas rela- ções humanas, que, apesar de ter um conceito dicionarizado – “Segmento da filosofia que se dedica à análise das razões que ocasionam, alteram ou orientam a maneira de agir do ser humano, geralmente tendo em conta seus valo- res morais” (Aurélio) – tem um conceito que, de modo geral, vai muito além do conceito formal, uma vez que não pode ser empregada como um protocolo fixo, um conjunto de valores, ela está diretamente ligada a liberdade. A liberdade está diretamente ligada a escolhas; a vida não tem uma resposta certa; a mesma res- posta pode ter várias vertentes e o que é certo para uma pessoa pode ser errado para outra. Nesse caso, passa a vigorar os juízos de valores, que muitas vezes é fator de sabotagem para uma conduta ética. O modelo de uma sociedade ética é a forma como as pessoas deveriam conviver, é inteligência cole- tiva, compartilhada, porquanto viver em conjunto requer mudança de hábitos, pensar não em si próprio, mas no grupo, para melhorar a relação das pessoas em sociedade, é preciso respeitar as relações interpessoais no convívio coletivo, na disposição inicial de submeter as vontades pessoais ao crivo da convivência, e satisfazê-lo somente se não ferir o patrimônio coletivo, pois, em uma sociedade eticamente desenvolvida, as pessoas devem abrir mão das suas pretensões em nome da convivência coletiva. A mutação da sociedade é constante, está sem- pre buscando evolução tecnológica, e muitas vezes confronta com a capacidade humana de administrar, refletir, e estabelecer diretrizes para a proteção e defesa de si próprios, sem deixar de lado a premissa que a éticadeve ser vista como uma espécie de alicerce na construção da socie- dade visto que ela é contemporânea, mutante, em cada lugar, em cada tempo, em cada cultura. Na sociedade contemporânea, o individualismo tem forte presença nas relações interpessoais, fruto de uma evolução sociológica e econômica 14 dentro do capitalismo. As pessoas se encon- tram na situação de obrigação de acompanhar a tecnologia, senão acabam sendo excluídas do contexto de sociedade; os sentimentos, as emo- ções, vão sendo manipuladas por medicações, não se pode ter momentos de tristeza, que já é associada à doença e combatida com remédios, sendo que muitas vezes é um caso isolado, um dia difícil, com aquele sentimento de que a tris- teza é razão para crescimento pessoal. A ética pode ser vista de forma moral ou racional; a ética moral diz respeito à conduta religiosa. São as leis que regem a sociedade, muitas com o intuito de reprimir maus comportamentos indivi- duais e coletivos, como as placas de trânsito, os radares que impõem uma obrigação, cujo des- respeito leva à punição das pessoas. A ética racional é um processo que vai sendo adquirido no decorrer da vida, quando se aprende o que é certo e errado e se tem consciên- cia do limite do outro; é um processo construtivo, é aprendizado, de educação, de responsabili- dade, para todas as pessoas, de todas as idades em qualquer cultura, fomentando e explorando o diálogo entre as comunidades, buscando o bem comum em detrimento do bem individual, cen- trada na noção do dever e da civilidade. O ambiente de trabalho também tem suas par- ticularidades. Esse local se torna um universo propício para o exercício da ética, uma vez que a pessoa mantém convivência ativa com outras culturas diferentes, que, em muitos casos, não têm vínculos familiares, trabalhando com a diferença, alteridade, diversidade de gênero, de formação, de origens sociais, participando ativa- mente da rotina de outras pessoas, respeitando a hierarquia, exercendo suas funções, delimitações, em busca da felicidade, credibilidade. A acredi- tação, entre outras características de um bom empregado, qualidades que não são adquiridas da noite para o dia, leva tempo, meses, anos. A ética só existe se ela for cultivada; a todo ins- tante temos de fazer reflexões para percebermos como estamos exercitando a cultura da ética, pois somos pessoas perfectíveis, não perfeitas. A ética não é nata, como diz Aristóteles: todos nascemos sem ética, e somos aprimorados, por meio de códigos de ética, de leis, de debates, de avaliações constantes, buscando esse aprimora- mento com estudos, reflexões, para combater o egoísmo, o pensar em si próprio, melhorando a cada dia as nossas relações, produzindo o senso mortal, que é pensar no outro, e isso trará uma fusão positiva entre o eu e o próximo e traz resul- tados positivos comuns e a premissa que ética está relacionada a felicidade. Como complemento do conteúdo, segue o link da palestra “Ética e Valores” do Professor Clóvis de Barros Filho. Vídeo 1: https://www.youtube.com/watch?v=- c6Uux6_FCk4 (início da palestra 9:14). Vídeo 2: https://www.youtube.com/watch?v=O- xqPyO4FePw Vídeo 3: https://www.youtube.com/watch?v=1N- -_4Q2OHxg Vídeo 4: https://www.youtube.com/watch?v=- FgwXNlSPe3I Vídeo 5: https://www.youtube.com/watch?- v=LekxspEGcIs Vídeo 6: https://www.youtube.com/watch?v=- 1vYhDPRUZls CURSO SAÚDE MENTAL E TRABALHO NO PODER JUDICIÁRIO CONTEXTUALIZAÇÃO DA SAÚDE MENTAL Módulo 1 15 Referências bibliográficas Blog IPOG – Home Saúde-. 19 de junho de 2018. Transtornos mentais estão entre as principais causas de afastamento do trabalho. Disponível em: <https://blog.ipog.edu.br/saude/afastamento-do-tra- balho-transtornos-mentais/>. BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica n. 34. Saúde Mental. BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno Humaniza SUS, vol. 5, saúde mental. Brasília, 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Coordenação de Saúde Mental. Reforma Psiquiátrica e Saúde mental no Brasil. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Relatorio15_anos_Caracas.pdf>. MEMÓRIA da Loucura: retratos da história – cronologia. Disponível em: <http://www.ccs.saude.gov.br/ memoria%20da%20loucura/mostra/retratos06.html>. RESENDE, T. I. M. Saúde Mental. [s.l.]: Juruá. 2016. TUCHLINSKI, Camila. Depressão será a doença mental mais incapacitante do mundo até 2020. O ESTADO DE S. PAULO, 10 out. 2018. Disponível em: <https://emais.estadao.com.br/noticias/bem-estar,depres- sao-sera-a-doenca-mental-mais-incapacitantes-do-mundo-ate-2020,70002542030>. Saúde mental. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%BAde_mental>. CURSO SAÚDE MENTAL E TRABALHO NO PODER JUDICIÁRIO CONTEXTUALIZAÇÃO DA SAÚDE MENTAL Módulo 1 16 Objetivos de aprendizagem Apresentação Unidade I Introdução: o que é saúde mental? Unidade II Saúde Mental nas Diversas Fases do Desenvolvimento Humano Unidade III Relações Humanas e Ética Referências bibliográficas
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